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Implicitação não verbal (contextual)

Escrito por:

Steve Andreas

Publicado em:

seg, 02/02/2015

Num artigo anterior, eu descrevi a Implicitação Verbal como: uma afirmação feita que é o oposto
do resultado desejado. Essa afirmação é feita sobre um contexto diferente, que é parte de uma
categoria “um ou o outro” que divide o espaço, o tempo ou os eventos em duas categorias. O
resultado é que o ouvinte (normalmente) pressupõe o objetivo desejado no contexto atual. Por
exemplo, “a sua mente consciente ficará muito confusa com o que eu estou dizendo” implicita em
que “a sua mente inconsciente irá entender perfeitamente”.

As implicitações não verbais funcionam de um modo diferente, pois criam um contexto não verbal
que elicia a reação desejada. Aqui estão alguns exemplos extraídos do trabalho de Erickson:

Com diversas mulheres que estavam com incontinência por razões físicas, ele as colocou em
transe, e as fez experimentar sentar num vaso sanitário, e então imaginar a porta do banheiro
sendo aberta e aparecendo o rosto de um homem estranho (“Homem estranho” é um contexto
para não urinar, eliciando uma reação independente de constrição.)

Uma mulher estava com dores devido a um câncer que não podia ser operado, e nem remédios
nem cirurgia ajudavam. Depois de considerável acompanhamento, Erickson perguntou a ela:
“Agora me diga, senhora, se você visse um tigre faminto na sala ao lado, caminhando
vagarosamente para entrar nessa sala, olhando para você e lambendo os beiços, quanta dor você
sentiria?” (Perigo extremo é um contexto para não sentir dor.)

Uma mãe sempre falava em voz alta e respondia no lugar da sua filha anoréxica quando Erickson
fazia perguntas para a filha. Erickson pediu para a mãe pegar seu batom e segurá-lo bem perto dos
lábios e notar como os lábios dela tendiam a se mover quando ele fazia perguntas para a filha.
(Colocar batom é um contexto no qual os lábios são mantidos imóveis – e por isso, a pessoa é
incapaz de falar.)

A um homem que não conseguia dirigir além dos limites da cidade sem passar mal e vomitar, foi
dito para colocar seu melhor terno, dirigir até os limites da cidade e parar no último poste
telefônico que conseguisse chegar. Então deveria ligar o carro, e depois de acelerar, colocá-lo em
ponto morto porque assim o carro iria andar devagar até parar quando ele passasse mal. Se ele se
sentisse fraco, devia parar o carro, sair e se deitar na valeta da estrada até se recuperar. (Seu
melhor terno implicita em não vomitar nem se deitar na valeta, porque isso iria sujar seu terno.
Ter que colocar o carro em ponto morto implicita em algum controle, ou pelo menos uma demora
em passar mal, e passar mal implicita numa demora em dirigir além dos limites da cidade, em vez
de impossibilidade.) Ele passava mal no carro repetidamente, mas o relatório de Erickson não faz
menção dele ter vomitado ou deitado na valeta. (Uma implicitação adicional nas instruções de
Erickson é que passar mal se torna o início da direção para fora da cidade, não o final.)

Uma moça “horrivelmente feia e gorda”, circunspecta e melindrosa, entrou e disse que mesmo
depois de ter perdido peso, ela ainda era a garota mais feia de todo a criação. Na primeira sessão,
Erickson passou a maior parte do tempo mexendo e olhando um peso de papel, lançando olhares
ocasionais para ela. No final da sessão, ele disse para ela: Eu espero que você me perdoe pelo que
eu fiz. Eu não consegui lhe encarar. Eu sei que fui muito grosseiro. Eu brinquei com o peso de
papel, é muito difícil olhar para você. Eu não devia lhe dizer, mas como é uma situação
terapêutica, eu realmente tenho que falar. Talvez você possa encontrar a explicação. Mas na
realidade, eu tenho a forte sensação de que quando você emagrecer, pelo menos por tudo que eu
vejo em você, é por isso que eu evito olhar para você, indica que quando você emagrecer, você vai
ficar ainda mais atraente sexualmente, o que é algo que não deve ser discutido entre eu e você.” *
(Ela é sexualmente atraente - implicitação não verbal suportada pela pressuposição verbal.) Uma
vez no contexto da terapia, Erickson não devia perceber ou falar sobre a atração sexual dela, mas
o fato é que ele falou, junto com sua rudeza em não olhar para ela, e em vez disso brincando com
o peso de papel, etc. Tudo que ele disse induz para a verdade.

Implicitação Não Verbal

1. É fornecido pelo contexto não verbal, ou algum(ns) elemento(s) dele.

2. Esse contexto pode ser tanto real como imaginado ou alucinado, mas deve ser irresistível.

3. O contexto elicia a reação ou a compreensão desejada.

4. É o que Erickson descreveu muitas vezes como “O que você sabe, mas não sabe que sabe” –
uma reação involuntária dependente a um contexto específico ao qual você não está
conscientemente cônscio.
Criando Implicitação Não Verbal (Algoritmo)

1. Selecione a reação/resultado que você quer eliciar no cliente.

2. Descubra um contexto que iria eliciar natural e intensamente essa reação/resultado.

3. Crie esse contexto, tanto:

a. de um modo cheio de vida e irresistível na imaginação (em ou fora do transe).

b. por uma “tarefa”, instruindo o cliente a fazer uma série de ações num contexto específico do
mundo real.

c. de um modo comportamental, pelas suas próprias ações no presente.

Resumo

Esses diferentes aspectos da implicitação não verbal, ou que pode ser melhor chamado de
implicitação contextual, foi apresentado separadamente para clareza de entendimento, mas
evidentemente podem ser usados juntos. Eles também podem ser combinados com a implicitação
verbal e a pressuposição, para eliciar uma reação mais sólida, e isso será habitualmente o caso
com a eliciação comportamental, como no último exemplo acima.

A implicitação contextual será, na realidade, um fator em cada momento da terapia, desde o


consultório do terapeuta, suas roupas, e especialmente o comportamento não verbal – a fala,
pausas, padrões tonais, postura, gestos, etc. – tudo fornecendo um contexto para o sentido do
que o terapeuta fala.

Existe ainda um outro aspecto da implicitação: como criar intensidade na reação a uma
implicitação através do drama ou suspense. Vamos dar mais uma olhada no último exemplo.
Erickson se desculpa por não olhar para ela, o que ela certamente interpretará como uma reação à
feiura dela. Ele então segue com mais cinco afirmações que ela, sem dúvida, vai interpretar da
mesma maneira – cada uma confirma e intensifica a reação desagradável nela. Aí ele sugere que
ela faça o que já está fazendo, “Talvez você possa encontrar a explicação”, confirmando a
interpretação dela mais uma vez, seguida por uma divagação de mais cinco mais frases que
parecem confirmar a feiura dela. Somente depois de todo esse desenvolvimento e suspense, é que
ele solta a sua explicação alternativa, que se apresenta como uma surpresa para ela, e uma
maneira muito mais gentil de reinterpretar toda a situação.

Se Erickson tivesse dito algo sobre ela ser sexualmente atraente sem esse longo desenvolvimento
e suspense, isso teria tido um impacto muito pequeno, e provavelmente seria entendido como
outra confirmação da feiura dela: “Ah, ele só está fazendo isso para me fazer sentir melhor porque
eu sou tão feia.”

O artigo original sob o título “Nonverbal (Contextual) Implication” está no site


www.steveandreas.com e foi publicado originalmente pela Milton H. Erickson Foundation
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