Você está na página 1de 4

domingo, 7 de setembro de 2014

18:40

Getúlio | Crítica
Filme de intriga palaciana faz a ponte com um Brasil mais contemporâneo
Marcelo Hessel
30 de Abril de 2014

Getúlio
Brasil , 2014 - 100 minutos
Biografia / Drama
Direção:
João Jardim
Roteiro:
George Moura, João Jardim
Elenco:
Tony Ramos, Alexandre Borges, Drica Moraes, Thiago Justino, Adriano Garib, Michel Bercovitch, Alexandre Nero, Marcelo
Médici, Leonardo Medeiros
Bom

"Gosto mais de ser interpretado do que me explicar", dizTony Ramos no papel de Getúlio Vargas
em Getúlio, filme que reconta os últimos dias do ex-presidente da República. A fala é uma das
pistas de que o trabalho do diretor João Jardim busca o subtexto - no caso, uma interpretação
específica, que faça a ponte entre a crise que antecedeu o suicídio de Getúlio com a crise

Página 1 de Getúlio
específica, que faça a ponte entre a crise que antecedeu o suicídio de Getúlio com a crise
institucional do Brasil de hoje.
Funciona como um thriller de intriga palaciana a trama que sucede o atentado a Carlos Lacerda
(Alexandre Borges) em agosto de 1954, que coloca o governo de Getúlio em dúvida e cria uma
instabilidade entre militares e civis. A intervenção do exército é incentivada por muitos e parece
iminente. Não seria o primeiro nem o último golpe militar a vitimar uma Constituição federal, e o
filme trata a morte do presidente como um martírio em nome do legalismo.
Evidentemente a relação imediata é com o golpe militar e com a ditadura de fato, que completou 50
anos em 2014, e enquanto filme que mistura a Solidão do Poder com os fantasmas da história (os
planos do lustre do Catete, os militares pintados na parede, os pesadelos de Getúlio com a tropa
invadindo o palácio, e as algemas, esse símbolo de maus-tratos), Getúlio funciona bem
como cautionary tale, como assombração.
São os nomes e as situações que ecoam até hoje, porém - como a Petrobras encarada como
tesouro nacional em perigo, ou o fato de Getúlio não-saber-de-nada (mensalão, alguém?) -, que
acabam dando à museologia de Getúlio um outro peso, mais grave. Embora hoje, em tempos de
pragmatismo político, pareça muito teatral toda a rixa Getúlio-Lacerda e mesmo o sacrifício do
presidente, é inegável que a responsabilidade da presidência da República continua a mesma, e é
esse o peso que o filme consegue medir.

Colado de <http://omelete.uol.com.br/cinema/getulio-critica/>

Página 2 de Getúlio
domingo, 7 de setembro de 2014
18:40

Crítica: Cinebiografia 'Getúlio' é filme


persuasivo, apesar de didático
OTAVIO FRIAS FILHO
DIRETOR DE REDAÇÃO
30/04/2014 02h04
Antigamente, o perigo que o espectador de um filme brasileiro corria era o de ser
submetido à idiossincrasia verborrágica do diretor, cuja autenticidade pretendia
desculpar as carências da produção e o amadorismo do roteiro.
Hoje o risco é oposto, pois o cinema se profissionalizou à custa de imitar o padrão
televisivo —o didatismo rasteiro das novelas— e de vampirizar a audiência de suas
celebridades.
"Getúlio", de João Jardim, pertence a esse modelo, embora evite seus cacoetes. Logo
que Tony Ramos aparece com uma pança imensa, remotamente parecido com o
original, uma cascata de heróis de telenovela (junto com o garoto-propaganda do
anúncio de carne) despenca entre o espectador e a tela.
Divulgação

Ramos, com roupa especial para imitar a barriga de Vargas


Mas esse ator competente aos poucos os dispersa e impõe um Getúlio que, sem ser
empolgante, é persuasivo. O filme compartilha essas qualidades. Os últimos dias do
presidente são narrados em chave documental, com veracidade e ritmo.
É comum que filmes históricos brasileiros focalizem seu tema sob a distorção de uma
caricatura histriônica. Neste, até mesmo o tradicional maniqueísmo que liga Getúlio
Vargas ao "bem" e seus adversários ao "mal" fica matizado.
O ponto de vista adotado é o do protagonista e seu círculo íntimo. Grande, demasiada
parte do filme acontece no próprio palácio do Catete, no Rio. A fotografia é solene sem
deixar de ser elegante, mas se torna cansativa quando a câmera passeia pela enésima
vez entre lustres e cristais.
O problema do didatismo, desafio em todo filme histórico, é resolvido apenas em parte
no roteiro de George Moura. O ideal é que as informações estejam de tal forma
entremeadas nos diálogos que sua presença soe natural, despercebida.
Não é o que ocorre quando, por exemplo, dois colegas de ministério se referem, numa

Página 3 de Getúlio
Não é o que ocorre quando, por exemplo, dois colegas de ministério se referem, numa
conversa, a um terceiro pelo nome inteiro e pelo cargo, que ambos estão cansados de
saber qual é.
Tancredo Neves (Michel Bercovitch) era firme, mas é difícil imaginá-lo ríspido.
Benjamin Vargas (Fernando Luis), irmão do presidente, parece às vezes ter sotaque
português. Não é verossímil que Getúlio tenha dormido nas horas que antecederam o
amanhecer, quando se suicidou.
Mas o conjunto sobrevive bem a esses percalços, com a ajuda luminosa de Drica
Moraes como a secretária diligente e a filha amorosa que Alzira Vargas foi, refrescando
a cena cada vez que aparece entre tantos homens carrancudos.
GETÚLIO
DIREÇÃO João Jardim
PRODUÇÃO Brasil, 2014
ONDE Cinépolis JK Iguatemi, Cinemark Cidade Jardim, Cinemark Pátio Higienópolis,
Espaço Itaú - Pompeia, Kinoplex Itaim, UCI Jardim Sul e circuito; estreia amanhã
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom
Colado de <http://tools.folha.com.br/print?site=emcimadahora&url=http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/04/1447498-
critica-cinebiografia-getulio-e-filme-persuasivo-apesar-de-didatico.shtml>

Página 4 de Getúlio

Você também pode gostar