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Cadernos de Pesquisa
PULSAÇÕES
AUDIOVISUAIS
n. 2
Universidade Federal da Bahia
Reitor
Dora Leal Rosa
Vice-Reitor
Luiz Rogério Bastos Leal
Ecus
Cadernos de Pesquisa
PULSAÇÕES
AUDIOVISUAIS
n. 2
Editoração
Caio Sá Telles
Revisão
Andréa Hack
ISBN 978-85-60667-60-4
ISSN 2176-8641
CDD - 302.23
RESUMOS/ ABSTRaCTS 12
PULSAÇÕES AUDIOVISUAIS
Escuta Ubíqua 34
Anahid Kassabian
Compassos chave e experiência sensorial plena 56
Peter Ludes
Chaves audíveis 76
Leonardo Boccia
iPods e Anti-flânerie: estetizando a cidade no século XXI 112
Michael Bull
A sala audível: introdução a uma antropologia histórica
do som na arquitetura 122
Holger Schulze
A nova forma de comunidade online: o exemplo das
comunidades de fãs de música independente sueca 132
Nancy K. Baym
APRESENTaÇÃO
Leonardo Boccia e Natalia Coimbra de Sá
• Pulsações Audiovisuais •
• 8 •
• Pulsações Audiovisuais •
• 10 •
Pulsações audiovisUAis:
som e imagens em movimento
Anahid Kassabian1
Escuta Ubíqua
Resumo
O objeto deste ensaio é analisar as mudanças na escuta que foram e
estão sendo condicionadas pelas evoluções tecnológicas de todos os
tipos, desde a internet aos projetos de “casa do futuro”. Eu sugiro que
essas mudanças são parte de uma mudança generalizada no lugar da
música e, em particular, na escuta, na vida cotidiana da maioria das
pessoas que vivem em países industrializados. Em particular, quero
propor que estas mudanças devem ocasionar evoluções paralelas e
substanciais na maneira em que pensamos sobre a música como aca-
dêmicos, através das disciplinas.
Palavras-chave: Escuta, música ubíqua, novas mídias, gênero.
Abstract
The object of this essay is to consider the changes to listening that
have been and are being conditioned by technological developments
of all kinds, from the Internet to designs of the ‘home of the future’.
I suggest that these changes are part of a widespread shift in the place
of music, and in particular, listening, in the routine everyday lives of
most people living in industrialised countries. In particular, I want
to suggest that these changes should occasion parallel and substantial
changes in the way we think about music as scholars across the dis-
ciplines.
Keywords: Listening, Ubiquitous Music, New Media, Genre.
Peter Ludes2
Compassos Chave e experiência sensorial plena
Resumo
Imagens Chave emolduram e ordenam narrativas e os Compassos
Chave lhes emprestam a melodia: “grandes narrativas audiovisuais”
no Brasil, Alemanha e Estados Unidos durante a primeira década do
século XXI. O significado especial do YouTube para a (auto) apre-
sentação audiovisual está aqui, entre outras coisas, em uma nova
redução e consolidação, internacionalização e desprofissionalização.
Habermas concentrou-se em atividades expressas em palavras, que são
feitas com palavras. Em sua teoria, experiências completas de ações
dramáticas são as mais próximas. Elas são expressivas e solicitam ver-
dades existenciais ou autenticidade nas relações pessoais. Mas cada
discurso exige o reconhecimento do Outro aceitar ele/ela para ouvi-
lo (a), para ele ou ela possa ser considerado (a) confiável. Verdades
existenciais oferecem uma oportunidade para fazer contato com os
discursos de experiências, a ação comunicativa com os testes intra-
subjetivos. A integração dos diferentes chips de comunicação é cada
vez mais importante, porque os custos do terrorismo e os ambientais,
ou ecológicos, bem como a exclusão de grandes grupos de pessoas se
torna impagável, porque os direitos humanos e as obrigações em ge-
ral devem ser apoiados.
2
Professor Doutor da Escola de Humanidades e Ciências Sociais da Jacobs University Bremen; coor-
denador do projeto de pesquisa Key-visuals. E-mail: p.ludes@jacobs-university.de
• Resumos / Abstracts •
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Abstract
Key-visuals frame and order narratives and Key-measures lend them
the tune: “great audiovisual narratives” in Brazil, Germany and the
United States during the first decade of the 21st century. The spe-
cial significance of YouTube for the (auto) audiovisual presentation
is here among other things in a further reduction and consolidation,
internationalization and de-professionalization. Habermas focused
on activities expressed in words, which are made with words. In his
theory, complete experiences of dramatic actions are the closest. They
are expressive and seek existential truths or authenticity in personal
relationships. But every speech requires the recognition of the Other
to accept him / her to hear it, for he or she to be considered relia-
ble. Existential truths offer an opportunity to make contact with the
speeches of experience, the communicative action with the intra-
subjective tests. The integration of different communications chips
is becoming increasingly important, because the costs of terrorism,
environmental or ecological costs, the exclusion of large groups of
people is priceless because human rights and obligations in general
must be supported.
Keywords: Key-measures, full sensory experience, Michael Tomasello,
national anthems, YouTube, Juergen Habermas, existential truths,
global homeland.
Leonardo Boccia3
Chaves Audíveis
Resumo
Programas, noticiários e vídeos transmitidos pela mídia de tela são
compostos por sequências de cortes — fragmentos de imagens, mú-
sica e sons — finalizados em processo de pós-produção. Na produ-
ção dinâmica dessa programação, a filmagem de uma ação contínua
tornar-se-ia muito extensa. O exíguo espaço-tempo disponível para
transmitir fatos e notícias do mundo através das múltiplas plataformas
de mídia volta-se para o que é considerado proeminente; solução para
uma comunicação ágil e sintética dos acontecimentos, mas também
resultado de interesses particulares. Com isso, os fragmentos de mú-
sicas e imagens utilizados para esses tipos de composição audiovisual
são aqui definidos como Compassos e Imagens Chave. No presente
ensaio, respondendo às questões que emergem dessa fragmentação
estético-semântica musical da composição audiovisual, descrevo os
principais tipos de Compassos Chave.
Palavras-chave: Compassos Chave, enredos audiovisuais, comunica-
ção chave, mídias de tela.
Abstract
Programs, news and video transmitted by the screen media consist
of sequences of cuts —fragments of images, music and sounds —
completed in post-production processes. In this dynamic production
scheduling, the full recording of a continuous action would become
too extensive. The short space-time available to transmit facts and
news from the world through multiple media platforms turns to
what is considered prominent: solution for an agile communication
3
Professor Associado do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC) e Professor Pesquisador
do Programa Multidisciplinar de Pós-graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da
Bahia (UFBA). E-mail: lvboccia@ufba.br
• Resumos / Abstracts •
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and quick summary of events, but also the result of private interests.
Thus, fragments of music and visuals used for these kinds of audio-
visual composition are defined herein as Key Measures Visuals. In
this essay, answering to the questions that emerge from this musical
aesthetic-semantic fragmentation of the audiovisual composition, I
describe the main types and genres of Key Measures.
Keywords: Key Measures; audiovisual plots; key-communication,
screen media.
Michael Bull4
iPods e Anti-Flânerie: Estetizando a cidade no século
XXI
Resumo
Este capítulo discute o potencial de estetização do uso do iPod na
cidade. Ao fazer isso, argumenta que os usuários vivem em uma
esfera tecnológica totalmente mediada enquanto usam seus iPods.
Epistemologias urbanas têm dado primazia ao papel do flâneur na
cidade, enfocando em uma estética visual. Defendo que a estética
do iPod – uma estética audiovisual – é exatamente o contrário do
flaneurism – incorporando práticas que fazem com que a cidade
mimetize o desejo estético do usuário em relação ao flâneur, que
imagina-se como o “outro”. Ao descrever as práticas estéticas dos
usuários de iPod, também questiono a tese do “fim da estética ur-
bana” personificada nos trabalhos de teóricos que pressupõem a
cidade como um lugar de trânsito rápido e “não-lugares”, argu-
mentando que as práticas de estetização são centrais para a com-
preensão do uso de iPod e que, de fato, seus usuários são capazes
4
Dr. Michael Bull é professor de Mídia na Universidade de Sussex (Reino Unido). E-mail: M.Bull@
sussex.ac.uk
Abstract
This chapter discusses the aestheticizing potential of iPod use in the city.
In doing so it argues that users live in a totally mediated technological
sphere whilst using their iPods. Urban epistemologies have given pri-
macy to the role of the flaneur in the city focussing upon a visual aes-
thetics. I argue that iPod aesthetics – an audio-visual aesthetics – is the
exact reverse of flaneurism – embodying practices, which make the city
mimic the aesthetic desire of the user as against the flaneur who ima-
gines themselves as the ‘other’. In describing the aesthetic practices of
iPod users I also dispute the ‘end of urban aesthetics’ thesis embodied
in the work of theorists who forefront the city as a place of swift transit
and ‘non-places’ arguing that aestheticizing practices are central to an
understanding of iPod use and that indeed iPod users are able to endow
any urban space with their own individual meaning.
Keywords: iPod, flaneur, aesthetics, mediation, urban.
Holger Schulze5
A sala audível: Introdução a uma Antropologia
Histórica do Som na Arquitetura
Resumo
Este artigo oferece uma introdução ao campo da Arquitetura Aural
(Blesser), sob a perspectiva de uma Antropologia Histórica do Som
(Schulze). As duas primeiras partes: O que é o som de uma construção?
5
Dr. Holger Schulze trabalha como professor adjunto de Antropologia Histórica do Som na Univer-
sidade das Artes de Berlim. Ele é diretor da rede internacional de pesquisa Som na Cultura de Mídia:
Aspectos da História Cultural do Som (2010-2013), financiado pela Fundação de Pesquisa da Alema-
nha (DFG). É editor e autor de diversas publicações. E-mail: schulze@udk-berlin.de
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Nancy K. Baym6
A nova forma de comunidade online: O exemplo das
comunidades de fãs de música independente sueca
Resumo
Grupos online estão tomando novas formas à medida em que os
participantes se espalham entre múltiplas plataformas, na internet e
off-line. A comunidade online multinacional de fãs de música inde-
pendente sueca exemplifica esta tendência. A presente análise, feita
através da observação participante deste tipo de fandom mostra como
os sites são interligados em diversos níveis, e identifica várias impli-
cações para os teóricos, pesquisadores, desenvolvedores, profissionais
independentes e ligados à indústria e os participantes.
Palavras-chave: comunidade online, música independente, blogs de
mp3, fandom.
Abstract
Online groups are taking new forms as participants spread themselves
amongst multiple Internet and offline platforms. The multinational
online community of Swedish independent music fans exemplifies
this trend. This participant–observation analysis of this fandom sho-
ws how sites are interlinked at multiple levels, and identifies several
6
Dra. Nancy Baym é professora de Comunicação na University of Kansas (Estados Unidos) onde
ensina comunicação na internet, comunicação interpessoal, comunicação não-verbal e métodos qua-
litativos. Sua pesquisa etnográfica sobre comunidades online e fãs de televisão foi publicada no livro
de sua autoria, Tune in, log on: Soaps, fandom, and online community, assim como em diversos ar-
tigos, periódicos e coletâneas. Foi fundadora e presidente da Association of Internet Researchers e é
membro dos conselhos editoriais do Journal of Communication, New Media & Society, Information
Society, Critical Studies in Media Communication e Research on Language and Social Interaction. E-
mail: nbaym@ku.edu
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Resumo
O artigo fala da memória social compartilhada no ciberespaço, a par-
tir da media clássica: o museu, que de presencial, passou também para
a sua versão digital, à qual todos têm acesso. Reflete sobre a memória
histórica, seja ela individual, coletiva ou de representações de lugares,
casas, praças, enfim do patrimônio cultural. O acesso a essa memória
é hoje facilitado informacionalmente pelas mídias locativas que me-
diatizam dados de lugares, objetos e monumentos com informações
do passado e do presente, constituindo-se em fontes comunicacionais
que refletem a identidade local ou simplesmente curiosidades sobre
as histórias e estórias do patrimônio cultural.
Palavras-chave: Memória social, cibercultura, ciberespaço, tecnolo-
gias, informação.
Abstract
The article speaks of social memory shared in cyberspace, from the
7
Professor permanente do PPG - Cultura e Sociedade da UFBA. Pesquisador do CNPq. E-mail: clau-
dius@pesquisador.cnpq.br
classical media, the museum, that of presence, now also for its di-
gital version, where everyone has access. Reflects on the historical
memory, whether individual or collective representations of places,
houses, squares, and finally the cultural heritage today facilitated in-
formationally with locative media to mediate data places, objects and
monuments with information from past and present sources com-
munication that reflects the local identity or just curious about the
histories and stories of cultural heritage.
Keywords: Social memory, cyberculture, cyberspace, technologies,
information.
Flávia Rosa8
Mecanismos e perspectivas para a disseminação da
produção científica em meio digital
Resumo
As transformações tecnológicas ocorridas no século XX foram mar-
cantes e decisivas para a denominada Sociedade da Informação (SI)
alterando, inclusive as relações sociais. O mundo interligado numa
grande rede, graças à internet, possibilitou que a disseminação da
produção científica alterasse os fluxos de informação e a forma de
acesso, ampliando o espiral do conhecimento. O objetivo deste tex-
to é, a partir de uma revisão de literatura, refletir sobre as mudanças
ocorridas no âmbito acadêmico e as perspectivas da disseminação da
produção científica, tendo como lastro as tecnologias da informação
e comunicação (TIC) e o Movimento de Acesso Livre.
8
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade da Facom/
UFBA, professora da UFBA e diretora da Editora da UFBA. E-mail: flaviagr@ufba.br
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9
Doutoranda no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da Universi-
dade Federal da Bahia – UFBA. Membro do Grupo de Pesquisa ECUS/CNPq e bolsista da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia – FAPESB. E-mail: natalia.coimbra@gmail.com
10
Graduanda no Curso Tecnologia de Eventos da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo.
Produtora de Eventos. E-mail: mariscd@hotmail.com
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Resumo
Os integrantes da cultura hip hop nacional fazem com frequên-
cia o uso do termo tradição, mas ao mesmo tempo, as mudanças e
inovações não são condenadas, pelo contrário, são estímulos rele-
vantes para seus produtores culturais. As visibilidades decorrentes
desses amálgamas entre tradição e inovação por artistas da cultura
hip hop são mecanismos de (re) construção de formas de identifica-
ção processual, a partir dos processos de recepção e transformação
de fenômenos musicais e juvenis. No caso aqui estudado, na apro-
priação do elemento rap em contextos diferentes, na relação esta-
belecida entre expressões artísticas, cultura, identidade e o acesso a
informações possibilitado em grande medida pelos novos aparatos
tecnológicos. A contemporaneidade, considerada como caracterís-
tica de uma ‘elasticidade cultural’ (MARTÍN-BARBERO, 2002),
tem propiciado no campo das artes, marcadamente na produção
musical, possibilidades de fusões - a diversidade de sonoridades,
fricções, arranhões, ‘cacos’ de músicas – ao primar pela diversidade
de referenciais culturais múltiplos no trânsito pertinente ao univer-
so afro-americano através da mídia e da indústria cultural.
11
Valfrido Moraes Neto atualmente é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Cultura e So-
ciedade pela Universidade Federal da Bahia. E-mail: valfrido33@yahoo.com.br.
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Resumo
Esse artigo tem o objetivo de elucidar algumas questões em relação
à música criada para a propaganda do governo da Bahia intitulada
“É bom e agora tem” e, ao mesmo tempo, abrir novas discussões
acerca da temática no que concerne à criação para dar sentido a um
espetáculo de imagens com a finalidade do convencimento das ações
políticas. Em nenhum momento será discutido questões estéticas dos
vídeos, porém estarão em constantes questionamentos os elementos
musicais tramados para despertar emoções nos telespectadores atra-
vés da música e imagem. Outro ponto de grande relevância e que
terá abordagem cuidadosa nesse trabalho se concentra no poder da
música, como é criada, quais os elementos culturais desta e quem
são os agentes responsáveis pelo processo criativo.
Palavras-chave: Música, retórica, política, publicidade.
Abstract
This article aims to clarify some points regarding the music crea-
ted for the government of Bahia’s propaganda, which is entitled “É
13
Publicitário, músico e arranjador formado em Comunicação Social; mestrando do Programa Multi-
disciplinar em Cultura e Sociedade (UFBA) e membro do grupo de pesquisa ECUS (Espetáculos Cul-
turais e Sociedade). E-mail: joseraimundorios@msn.com
• Resumos / Abstracts •
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bom e agora tem”. The paper also opens new discussions on how
this musical creation gives sense to an imagery spectacle that has
the purpose of convincing the audiences about political actions.
The videos’ aesthetic aspects will not be discussed at this moment.
Nevertheless, the musical elements plotted to create emotions in
the viewers through the mix of music and image will be constantly
questioned. Another relevant question that will be approached in
this work is the power of music, the way it is created, which are its
cultural elements, and who are the agents responsible for the cre-
ative process.
Keywords: music, rhetoric, politics, advertising.
Resumo
Segundo o dicionário Aurélio: “música é a arte de combinar sons,
expressão através do som”. O presente artigo busca, através da análi-
se desses “sons”, tentar entender quais são as estratégias usadas pelas
maiores redes de televisão do mundo. Esta tentativa de compreensão
é feita através da escolha dos fatos jornalísticos exibidos durante os
programas de telejornal; como objeto de estudo foram selecionados
os programas de retrospectivas de fim de ano de duas das principais
redes de TV dos EUA e da Alemanha. O objetivo é entender de que
forma essa arte pode ser uma arma poderosa quando usada como fer-
ramenta de manipulação.
14
Janos Ian Abreu Schettini (Yann Schettini) é compositor, instrumentista e arranjador. Atua na área
de concertos e trilha sonoras. Estudante do Bacharelado em Instrumentos de Cordas da Universidade
Federal da Bahia. E-mail: yann_schettini@hotmail.com
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PULSAÇÕES
AUDIOVISUAIS
Anahid Kassabian
ESCUTA UBÍQUA1
1
Versões anteriores desse ensaio foram apresentadas no Departamento de Música da Universidade da
Califórnia em Los Angeles em março de 2001 e no Centro para Análise Cultural do Carnegie Mellon,
em abril de 2001. No texto original, a autora agradece profundamente aos seus estudantes de pós-
graduação e aos seus colegas professores que a convidaram e envolveram em discussões maravilhosas e
provocativas sobre esse material, e à Fundação Ames da Universidade Fordham, por apoiar a pesquisa.
Este artigo foi cedido pela autora para publicação no Brasil no ECUS – Cadernos de Pesquisa. A versão
original em inglês foi publicada originalmente no livro Popular Music Studies, organizado por David
Hesmondhalgh e Keith Negus e publicado pela editora Arnold em 2002. Traduzido para o português
por Natalia Coimbra de Sá com a contribuição de José Raimundo Rios.
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Música de Elevador (Nota do Tradutor).
Anahid Kassabian
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Modos Adequados de Ouvir (N. T.)
• Escuta Ubíqua •
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Palavra que combina os significados de hear (ouvir) e away (distante). Dishearkening foi o termo
criado por Kassabian e escolhido por Stockfelt a partir do seu texto original em sueco e que significa o
polo oposto de uma escuta completamente autônoma e continuamente concentrada. Significa: “escu-
tar de forma distanciada, desconcentrada” (N. T.). (STOCKFELT, 1997).
Anahid Kassabian
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Corpo de Comunicações (N.T.)
6
Eles estão tocando nossas músicas (N.T.)
• Escuta Ubíqua •
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Disponível em <http://music.hyperreal.org/epsilon/info/humes_notes.html>
Anahid Kassabian
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8
Versão online disponível em <http://www.websters-online-dictionary.org> (N.T.)
Anahid Kassabian
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ouvir vt
ouvir vi
ser capaz de perceber um som; como, ele é surdo, ele não pode ouvir.
escutar; atender; como, ele ouve com solicitude. ser dito; rece-
ber por relatório; como, assim eu ouço. (WEBSTER, 1983, p.
836).
escutar vt
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Anahid Kassabian
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Um gênero ubíquo?
Gênero vem de Aristóteles e é um termo da teoria literária para clas-
sificação de tipos de textos. “Membros de um gênero têm caracterís-
ticas de estilo e organização comuns e são encontrados em contextos
culturais semelhantes” (BOTHAMLEY, 1993, p. 228). Por estas ca-
racterísticas comuns, então, membros de um gênero podem ser re-
conhecidos. Através da mídia, gênero se tornou um princípio geral
organizador tanto da produção quanto do consumo; como John Har-
tley coloca: “gêneros são agentes de encerramento ideológico – eles
limitam o significado potencial de um dado texto, e eles limitam o
risco comercial das produtoras corporativas” (HARTLEY, 1994, p.
128). Nesse sentido, gênero pode ser entendido como um mecanis-
mo para disciplinar a recepção.
Anahid Kassabian
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Músicas do Mundo (N. T)
12
Do termo, em inglês, E-entertainment (N. T.)
Anahid Kassabian
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Auto-Afetos: O Pensamento Inconsciente na Era da Tele-Tecnologia (N. T.)
• Escuta Ubíqua •
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Televisão: Uma Máquina Sagrada (N. T.)
Anahid Kassabian
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Compondo para os Filmes (N. T.)
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REFERÊNCIAS
Anahid Kassabian
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Anahid Kassabian
Peter Ludes
Peter Ludes
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Peter Ludes
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Peter Ludes
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Peter Ludes
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Peter Ludes
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Peter Ludes
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Peter Ludes
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Pátria global
Sentir por dentro, e dentro de um período de nove filhos se
alegrar
Arrastar medos, sentir a natureza da água, chupar brotos
Morder caminhos e deixá-los ativos secretamente
E pode cheirá-los - smell it out
Assim chega-se ao sabor
Compreendes depois e vês antes, ouves em breve além da es-
quina
Dê um sentido aos sentidos em conjunto
Compreender partes vagamente
(este é o primeiro dia...)
REFERÊNCIAS
Peter Ludes
• 73 •
GAROFALO, Reebee (Ed.). Rockin’ the Boat: mass music & mass
movements. Cambridge: South End Press, 1992.
HABERMAS, Jürgen. Theorie des kommunikativen Handelns: 2
Bände. Frankfurt; Main: Suhrkamp, 1981.
______. Vom sinnlichen Eindruck zum symbolischen Ausdruck.
Frankfurt, Main: Suhrkamp, 1997.
______. Die Einbeziehung des Anderen. Frankfurt; Main: Suhrkamp,
1999.
______. Glauben und Wissen. Frankfurt; Main: Suhrkamp, 2001a.
______. Die Zukunft der menschlichen Natur. Frankfurt; Main:
Suhrkamp, 2001b.
HÖRISCH, Jochen. Der Sinn der Sinne: Einleitung zu Peter Ludes:
Einführung in die Medienwissenschaft. Berlin: Erich Schmidt, 1999.
KRAMER, Stefan; LUDES, Peter (Eds.). Networks of culture: the
world language of key visuals. Munster: Lit, 2010. v. 2.
KRAMER, Lawrence. Critical musicology and the responsibility of
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KUMAR, Keval. Mass communication in india, 3: vollständig
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Ludes, Peter (Ed.). Sozialwissenschaften als Kunst. Originalbeiträge
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______. Die vertriebene Frankfurter Schule der Soziologie. In: Markus
Behmer et al. (Hrsg.). Medienentwicklung und gesellschaftlicher
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LUDES, Peter (Ed.). Visual hegemonies: an outline: volume 1 of the
Peter Ludes
Leonardo Boccia
CHAVES AUDÍVEIS
Introdução
Na Biosfera, a relação Imagem-som e as sensações de ver-ouvir são
uma constante que não conhece longas interrupções, pois o silên-
cio não existe e raras vezes é possível provocar a escuridão absoluta.
Contudo, para as mídias de tela, as produções audiovisuais são com-
postas por imagens em movimento e “Imagens-Chave”, (em alguns
casos imagens estáticas), recortadas para descrever acontecimentos
mundiais, e por sonidos que as acompanham em intensidade de vo-
lume diversa, recuando e avançando nos planos da audiosfera virtual
segundo as conveniências dos que decidem quais os arquivos finais a
serem divulgados (editores-chefes e/ou diretores).
Cada experiência acústica na Biosfera depende do espaço no qual um
ouvinte esteja situado. Em geral, a audiosfera na Natureza é composta
• Chaves Audíveis •
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Para uma lista dos ruídos mais intensos ver: <http://listverse.com/2007/11/30/top-10-loudest-noi-
ses/> Acesso em: set. 2010.
Leonardo Boccia
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Leonardo Boccia
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Leonardo Boccia
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Leonardo Boccia
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Leonardo Boccia
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Preâmbulo
Adorno e Eisler, em seu famoso livro sobre a composição para o fil-
me publicado pela primeira vez em 1947, consideram o clichê como
Leonardo Boccia
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6
“Mass production of motion pictures has led to the elaboration of typical situations, ever-recurring
emotional crises, and standardized methods of arousing suspense. They correspond to cliché effects in
music. But music is often brought into play at the very point where particularly characteristic effects are
sought for sake of ‘atmosphere’ or suspense. The powerful effect intended does not come off, because
the listener has been made familiar with the stimulus by innumerable analogous passages”.
• Chaves Audíveis •
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7
O SMPTE time code é um método para marcar a fita de gravação com contínuos impulsos de tem-
po (...) Agora que estão disponíveis sistemas digitais de alta qualidade, esses se tornaram formatos de-
cisivos para lidar com o áudio para vídeo. A edição com base em computadores é particularmente útil
para a árdua tarefa de definição do áudio em pós-produção. Entretanto, a maioria dos sistemas digitais
tem suas próprias restrições quanto ao tempo e não funciona bem como servidores de equipamentos
de vídeo. Aparelhos DAT que podem ser acoplados ao SMPTE estão disponíveis, contudo, são extre-
mamente caros. Ver:
<http://artsites.ucsc.edu/EMS/music/equipment/video/smpte/smpte.html>. Acesso em: 10 de março
de 2010.
Leonardo Boccia
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Ver: <http://www.mpi-inf.mpg.de/~mmueller/index_publications.html> Acesso em: 10 de março
de 2010.
• Chaves Audíveis •
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É um pacote de softwares que permite diversas operações de síntese sonora e composição musical.
10
“Csound é um poderoso e versátil software de síntese. Composto por um conjunto de ferramentas
de mais de 450 módulos processadores de sinais, o Csound pode ser usado para reproduzir virtualmen-
te qualquer sintetizador comercial ou processador multiefeito.”
Leonardo Boccia
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13
Este estudo é parte de uma pesquisa de longo prazo que reúne estudiosos da Escola de Humanidades
e Ciências Sociais da Jacobs University Bremen e do grupo ECUS de pesquisa da Universidade Fede-
ral da Bahia. Desde 2005, analisam-se arquivos gravados de programas e noticiários transmitidos por
influentes redes de televisão na Alemanha, Brasil, China e nos Estados Unidos codificando arquivos
que apresentam maior incidência do uso da música e de efeitos sonoros. Notou-se, por exemplo, que
na década passada, a emissora CBS intensificou o uso de partes musicais na composição audiovisual
de noticiários e em retrospectivas de fim de ano, enquanto no mesmo período (1999-2009), a NBC
reduziu o uso de acompanhamento musical em noticiários e retrospectivas. Contudo, para influentes
emissoras de TV, como Rede Globo e Rede Record do Brasil, o uso da música em noticiários e retros-
pectivas de fim de ano continua sendo prioritário, sendo que, em alguns casos, música e efeitos sonoros
são usados ao longo de toda a retrospectiva.
Leonardo Boccia
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Leonardo Boccia
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14
Obras que são isentas de pagamentos de direitos autorais.
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Considerações finais
Em busca de respostas para decifrar o sempre maior e mais com-
plexo sistema de mídia, seus dispositivos, equipamentos e múltiplas
plataformas convergentes, várias teorias propõem ideias contraditó-
rias que partem de observações, em muitos dos casos de inspiração
disciplinar. A própria expansão do sistema surge da convergência de
disciplinas diversas e do número de ciências envolvidas nas intensas
midiamorfoses ocorridas em tempos recentes. A permanência neste
eclético mercado, que vai desde os conhecimentos abstratos e exatos
• Chaves Audíveis •
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Leonardo Boccia
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REFERÊNCIAS
Leonardo Boccia
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Leonardo Boccia
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Michael Bull
1
Este artigo foi cedido pelo autor para publicação no Brasil no ECUS – Cadernos de Pesquisa. Tra-
dução por Natalia Coimbra de Sá.
• 113 •
2
A maioria desses usuários possuem telefones celulares com capacidade de MP3. Baudrillard esta-
va à frente do seu tempo, afirmando que “cada um em sua própria bolha; esta é a lei hoje.” (BAU-
DRILLARD, 1988, p.39). In: The Ecstasy of Communication. Trans. Bernard and Caroline Schutze.
Ed. Sylvère Lotringer. New York: Semiotext(e), 1988.
3
Para mais detalhes ver Bull, 2007.
Michael Bull
• 115 •
A cidade fílmica
Os usuários de iPod muitas vezes descrevem a cidade em termos fíl-
micos4 – apesar de que esta estética visual não é uma forma de flâ-
nerie. O mundo vivenciado como um roteiro de cinema, do qual o
usuário assume o comando, é uma descrição comum dos usuários
de iPod. O mundo, e a experiência do usuário dentro deste, ganha
significado através do seu envolvente e privatizado espaço sonoro.
Usuários de iPod invariavelmente preferem ouvir sua música em vo-
lume alto, o que lhes proporciona uma enorme sensação de presen-
ça, ao mesmo tempo que bloqueia qualquer som do ambiente que
possa prejudicar o intensificado e poderoso prazer de utilização.
O mundo parece mais amigável, mais feliz e ensolarado quando
eu ando na rua com meu iPod ligado. Sinto como se eu esti-
vesse em um filme, às vezes. Como se minha vida tivesse uma
trilha sonora agora. Ele também tira um pouco do barulho das
ruas então, de alguma forma, tudo ao meu redor se torna mais
calmo. Ele me separa do meu ambiente, como se eu fosse uma
observadora invisível, flutuando. (Berkley)
4
No decorrer do texto o autor apresenta diversos depoimentos de usuários de iPod.
Cosmopolitismo no iPod
O flâneur foi interpretado como parte integrante da cidade cosmo-
polita. A imagem cosmopolita da vida na cidade é, pelo menos par-
cialmente, uma função da vida na rua (SIMMEL, 1997). Através da
Michael Bull
• 117 •
não é mais um lugar para andar a pé, mas um lugar para dirigir ou
de trânsito. Grandes áreas da cidade estão entregues a sistemas de
transporte relegando o pedestre a uma pequena parte da vida da ci-
dade. A própria natureza do dirigir é facilitada em relação à flânerie,
pois o motorista foca apenas na pista à sua frente qualitativamente,
desvalorizando o trajeto para a atingir a meta fundamental, que é
chegar ao seu destino (YOUNG, 2006).
A velocidade das cidades modernas é também pensada como
destruidora das condições para caminhar sem rumo, um elemento-
chave da flânerie. Na melhor das hipóteses, tudo o que resta são os
flâneurs turistas em seus “itinerários de três dias” (WHITE, 2001).
Adicionada a estas condições urbanas adversas está a própria natu-
reza da arquitetura da cidade moderna. Essencial para o flâneur, ar-
gumenta-se, é a estranheza e a singularidade da cidade. As cidades
modernas, em contraste a isso, são definidas pela sua essencial seme-
lhança – uma arquitetura insossa e internacionalmente homogênea
– que, acoplada à suburbanização da cidade, resulta na proliferação
de não-lugares que trabalham contra a estetização (AUGE, 1995).
Augé, em sua análise do espaço urbano, usou o termo “não-lugar”
para descrever uma cultura urbana de espaços semiologicamente
desnudos: shopping centers, aeroportos, auto-estradas e similares.
Ele pensou nesses espaços como se tivessem sido soltos sobre a pai-
sagem urbana de forma aleatória, formas arquitetônicas invariavel-
mente insossas; quem sabe diferenciar um shopping center de outro,
por exemplo? Espaços urbanos, a partir dessa perspectiva, cada vez
mais funcionam como zonas de trânsito intermináveis da cultura
urbana – emblemas de sua natureza cada vez mais móvel
Contudo, com o uso do iPod, qualquer espaço urbano pode tor-
nar-se um não-lugar que pode ser estetizado. A característica que
define a nossa relação com o espaço urbano não é, necessariamen-
te, a maneira como ele é culturalmente situado. Para os usuários de
iPod, qualquer espaço urbano pode se tornar um “não-espaço”. Isso
Michael Bull
• 119 •
REFERÊNCIAS
Michael Bull
• 121 •
Introdução
O espaço no qual você lê este ensaio, um espaço no qual você talvez
tente imaginar minha voz neste momento – o seu espaço é completa-
mente desconhecido para mim. Eu nunca estive aí. Esse ensaio é uma
tradução da transcrição de uma palestra minha que foi gravada para
uma exibição em Maracaíbo, Venezuela, curada pelo artista sonoro
Marco Montiel-Soto em março de 2010. Agora você começa a con-
centrar sua atenção cada vez mais nestas palavras e enquanto começo
a contar sobre a pequena história deste ensaio você percebe: este pe-
queno começo, estas poucas palavras servem como uma desculpa para
encontrar minha voz escrita, minhas palavras em inglês – que não é a
minha língua nativa, o alemão – e que foram traduzidas por Natalia
Coimbra de Sá para o português, que eu mal compreendo, e muito
menos falo. Como qualquer introdução, essas palavras são um tipo de
tempo de ataque, Einschwingzeit2 para todos nós – para mim, autor,
e para você, leitor. O ensaio começou; talvez nós estabelecemos um
tipo de relacionamento, um contato, um fluxo de comunicação entre
nós – e agora, a parte principal do meu ensaio pode começar.
1
O presente texto foi cedido pelo autor para publicação no Brasil no ECUS – Cadernos de Pesquisa,
e consiste na transcrição da palestra “The Audile Room: Introduction to a Historical Anthropology of
Sound in Architecture” proferida durante o evento (((ESTA CASA ESTA SONADA))) organizado por
Marco Montiel-Soto e realizado no Bairro de Santa Lucía, Maracaibo (Venezuela), durante os dias 5 e
6 de março de 2010. Traduzido por Natalia Coimbra de Sá.
2
Einschwingzeit pode significar “tempo de assentamento” ou “tempo de ajuste” e aqui quer dizer aqui-
lo que sai da oscilação e volta para uma posição de equilíbrio (N. T.).
• 123 •
Holger Schulze
• 125 •
fazem para nós e como nos fazem sentir. Nós estamos perdidos
em uma tempestade de ruídos sem linguagem para discussão
(AUINGER; ODLAND, 2007).
Arquitetura aural
Uma proposta para responder essa questão foi publicada em 2006
por Barry Blesser, o famoso engenheiro e programador do primeiro
algoritmo digital de reverberação no final dos anos 1970. Seu am-
plamente reconhecido trabalho na MIT-Press, sobre os aspectos au-
ditivos da arquitetura (que ele escreveu juntamente com sua esposa
Linda Ruth-Salter) se chama: Space speak – Are you listening? Expe-
riencing Aural Architecture. Este volume é, ao meu ver, o principal e
essencial trabalho para o ensino e aprendizado, pesquisas e projetos
que relacionam arquitetura e som: projetar arquitetura com um sen-
so auditivo. Blesser desdobra aspectos antropológicos e tecnológicos,
históricos, psicológicos e, até mesmo, sociológicos da arquitetura so-
nora. E ele propõe e cunha novos termos para tratar do projeto so-
noro em construções. Nos posicionamos, de acordo com Blesser, em
uma arena auricular em qualquer momento de nossas vidas; a escuta
Holger Schulze
• 127 •
3
Encyclopaedia Britannica, 2003 A.D.
A sala audível
Então, como podemos projetar espaços, salas, estruturas arquitetôni-
cas que podem tentar seguir na busca de ser um apoio auditivo, ade-
quadas para experiências sonoras específicas – que não sejam definidas
por institutos de padronização? Por exemplo, o Instituto Alemão de
Padronização se envolve em experiências auditivas, obviamente relati-
vas ao campo amplamente profissional e de tecnologias para consumo
de áudio, mas também no campo da acústica de ambientes, relativo
à adequação para experiências auditivas definidas.
Não é necessário dizer que os padrões da DIN 18041 Hörsamkeit
in kleinen bis mittelgroßen Räumen4 não são leis – eles são apenas
para orientação, e talvez para o bom senso dos legisladores e planeja-
dores urbanos. Mas: é útil seguir estes padrões? Pode ser útil apenas
construir salas que seguem o padrão mais baixo de adequação auditiva.
Mas devemos mirar mais alto. Por que não há modelos para projetar
espaços privados em um sentido auditivo – que não seja de acordo
com alguma lei ou padrão ou apenas com os orçamentos disponí-
veis? Mas, de acordo com as necessidades e os desejos individuais das
pessoas que lá estão relaxando, ou trabalhando, ou comprando (este
é um tipo de trabalho, por sinal), ou apenas vivendo lá.
Então, a questão não é como conceituamos uma sala, como uma
idéia abstrata, talvez um conceito esteticamente satisfatório ou um
padrão de design inovador. A questão é: como vivenciamos uma sala
– e como podemos projetar um ambiente que proporcione um pano
de fundo adequado ou fundamental para as principais ações que es-
tarão acontecendo numa construção ou estrutura arquitetônica.
Para este fim, eu quero propor o termo sala audível. Uma sala
audível não é apenas uma sala na qual podemos ouvir. Qualquer
sala é assim: até a mais terrível sala de conferências, feita de placas
4
Um tipo de norma padrão alemã para certificação de qualidade acústica em salas pequenas a mé-
dias (N. T.)
Holger Schulze
• 129 •
REFERÊNCIAS
Holger Schulze
Nancy K. Baym
Introdução
A ascensão das redes sociais é muitas vezes utilizada para exemplificar
um deslocamento das comunidades online com base em interesses
presentes na primeiras versões da Web para uma nova “Web 2.0”,
na qual os indivíduos são a unidade básica, ao invés das comunida-
des. Em um artigo publicado na First Monday, por exemplo, Boyd
(2006) afirma que “as redes egocêntricas substituem grupos.”
Defendo que os grupos online não tenham sido “substituídos”.
Mesmo que seus membros criem perfis pessoais e redes egocêntricas
através do MySpace, Facebook, BlackPlanet, Orkut, Bebo e inúme-
ros outros sites emergentes de redes sociais, os grupos online con-
tinuam a prosperar em fóruns de mensagens, jogos de computador
interativos e, até mesmo, na ainda não esquecida Usenet.
No entanto, as comunidades online também estão adotando uma
nova forma intermediária entre os grupos baseados em web sites e
as redes egocêntricas, distribuindo-se através de uma variedade de
sites em formas quase coerentes de conexões. Esta nova forma de
comunidades distribuídas coloca problemas específicos para os seus
membros, desenvolvedores e analistas.
Este artigo, baseado em mais de dois anos de observação parti-
cipante, descreve esta nova forma de comunidade online através de
1
Este artigo foi cedido pela autora para publicação no Brasil no ECUS – Cadernos de Pesquisa. A
versão original em inglês foi publicada originalmente na First Monday, v. 12, n. 8 (ago. 2007). A
autora agradece a Avi Roig, Craig Bonell e os autores da Absolute Noise e Hello!Surprise! por com-
partilharem suas estatísticas. E também a Roig e Stacey Shackford pela ajuda com a análise, Robert
Burnett pelas correções, Marc Smith e Microsoft Research pelo apoio a este trabalho. Traduzido por
Natalia Coimbra de Sá.
• 133 •
Fandom
Aqueles que estudam “fandom” discordam sobre sua definição. No
mínimo, a maioria concordaria que envolve um coletivo de pesso-
as organizadas socialmente em torno de sua apreciação partilhada
de um objeto (ou objetos) de cultura pop (p. ex. JENKINS, 1992,
2006; BAYM, 2000; HILLS, 2002; O’REILLY E DOHERTY, 2006).
Desde meados da década de 1990, estudos sobre fandom têm cres-
cido cada vez mais, focados na internet como um locus de ativida-
de dos fãs.
Os Fandoms agrupam e geram inteligência coletiva e afeto. Indi-
víduos criam autoconceitos e auto-representações dentro dos grupos
de fãs. Alguns tornam-se conhecidos para outros fãs através do fan-
dom. Esses grupos também desenvolvem um senso de identidade
compartilhada. Relações pessoais são formadas entre alguns mem-
bros do grupo de fãs. Fandoms particulares pode ter um ethos com-
partilhado, mas divergências dentro das comunidades de fãs são um
tanto comuns e, muitas vezes, desejáveis. Em geral, os fandoms são
altamente criativos, um fenômeno que a internet trouxe à tona e ao
qual possibilitou novas formas de fandom.
Fandom é um prenúncio de fenômenos culturais futuros. Entre
os primeiros criadores, defensores e usuários da internet estavam
os fãs de Star Trek e Grateful Dead2, ansiosos para usar seu novo
sistema para discutir esses temas de forma comunitária. Músicos e
seus fãs foram, em grande parte, os responsáveis por conduzirem
o desenvolvimento do MySpace. Comunidades online de fãs estão
2
John Perry Barlow, um dos pensadores e usuários pioneiros da internet, não era apenas um fã da
banda, mas também um de seus letristas.
3
Frase de Henry Jenkins.
Nancy K. Baym
• 135 •
4
Normalmente são componentes de uma interface gráfica que podem receber dados de uma conta
de usuário e gerar algum tipo de registro (N. T.).
5 Termo utilizado na internet para denominar palavras-chaves que funcionam como marcadores de
conteúdo (N. T.).
6 Quando o arquivo é aberto ele é carregado e aberto aos poucos até o final, como um fluxo de da-
dos através do sistema computacional. Esse tipo de transmissão é comum em sites de músicas e ví-
deos (N. T.).
7
Os leitores não familiarizados com os blogs de MP3 são incentivados a navegar pelo site agregador
de blogs de MP3 The Hype Machine (http://hypem.com/), que indexa centenas deles.
8
Para mais detalhes sobre este assunto, ver: http://www.onlinefandom.com/archives/interview-wi-
th-an-mp3-blogger/
Nancy K. Baym
• 137 •
9
Burnett e Wikström (2006) abordam este assunto.
10
No contexto do presente artigo optamos por traduzir o termo label como gravadora (ou selo) in-
dependente; estes termos são usados no decorrer do texto com o mesmo significado (N. T.).
11
Por exemplo, Factory Records na Inglaterra estava indissoluvelmente ligada à cena musical de Man-
chester. Outros exemplos nos Estados Unidos incluem SubPop, ligado a Seattle, Washington; Rough
Trade em São Francisco, Califórnia e Saddle Creek em Omaha, Nebraska.
Nancy K. Baym
• 139 •
12
Termo de origem inglesa popularizado no meio musical no cenário rock e pop para referir-se a uma
música de estilo independente ou alternativo. Existem muitas disputas em torno do que a classificação
“indie” (muito utilizada pelos jovens a partir do final dos anos 1980 e intensificada a partir da década
de 1990) representa na indústria fonográfica atual, mas estas fogem ao escopo da discussão presente
neste artigo. Aqui optamos por traduzir indie como independente (N. T.).
13
Literalmente: fãs de música independente sueca.com (N. T.).
Nancy K. Baym
• 141 •
14
Distribuidores de informação, blogueiros ou canais de notícias normalmente disponibilizam um
feed (serviço de alimentação de notícias que são postadas no blog ou site) no qual usuários interes-
sados podem se inscrever para serem atualizados de tudo que é disponibilizado pelo autor sem que
precisem visitar o site ou blog periodicamente. (N.T.)
15
É UMA ARMADILHA! (N. T.).
16
Nos sábados de 2007, ele posta uma música de The Bear Quartet.
17
Eu tenho sido uma das contribuidoras do IAT desde o início de 2006.
Nancy K. Baym
• 143 •
18
Termo genérico para classificar o gosto de uma corrente dominante, mais popular e/ou massiva,
associado normalmente a produtos culturais que circulam nos meios de comunicação de massa.
19
Par a par ou ponto a ponto. Sistema de troca de arquivos de forma descentralizada, entre usuá-
rios (N. T.)
Nancy K. Baym
• 145 •
20
“Sons da Suécia” (N. T.).
Discussões
O fandom indie sueco exemplifica uma nova forma de organização
social online no qual os membros se movem entre um ecossistema
complexo de sites, construindo conexões entre si e seus sites en-
quanto o fazem. Eles recorrem a múltiplas plataformas de comuni-
cação através da internet: blogs, redes sociais, comentários, fóruns
de discussão, mensagens privadas, quadros de mensagens públicos,
arquivos de MP3 e vídeos.
Apenas alguns se mostram visíveis nos sites dedicados ao tema do
seu fandom, mas muitos fazem a sua identificação com o fandom
visível através de perfis no MySpace, Last.fm e outras redes sociais.
Os fãs usam esses variados sites e plataformas para se animarem mu-
tuamente sobre músicas novas relativamente desconhecidas, para
compartilhar notícias, para comparar perspectivas através de rese-
nhas e discussões, criar identidades públicas como membros desse
fandom e estabelecer relações pessoais com outros fãs.
Os artistas e gravadoras estão ativamente engajados nessas co-
munidades, gerando streams constantes de músicas para livre dis-
tribuição legal, adicionando seus fãs em seus perfis, e muitas vezes
agindo também como fãs. Este artigo buscou focar nos fãs, ao invés
Nancy K. Baym
• 147 •
Conclusão
Alguns poderiam argumentar que a formação social que descrevi não
deve ser rotulada como “comunidade”, um desafio que remonta aos
antigos debates sobre definições. Eu tenho sido intencionalmente
vaga no uso desse termo. Em última análise, importa menos como
nós chamamos do quão bem nós o entendemos.
Quer seja chamada de comunidade ou não, esta é uma impor-
tante nova formação social online, que levanta muitos problemas
teóricos, metodológicos e práticos. Como são organizados e nave-
gados estes ecossistemas? Quais são as consequências para a coesão
social se os grupos estão espalhados por vários locais, dos quais ape-
nas alguns são explicitamente ligados uns aos outros?
Barry Wellman e seus colegas (p. ex. WELLMAN, 2001) têm es-
crito sobre “individualismo em rede”, postulando que a organização
Nancy K. Baym
• 149 •
REFERÊNCIAS
BAYM, Nancy. Tune in, log on: Soaps, fandom, and online
community. Thousand Oaks. Calif.: Sage, 2000.
BOYD, Danah. Friends, Friendsters, and Fop 8: Writing community
into being on social network sites.” First Monday, [S. l.], v. 11, n. 12,
dez. 2006. Disponível em: <http://firstmonday.org/issues/issue11_12/
boyd/>. Acesso em: 1 abril 2006.
Nancy K. Baym
PULSAÇÕES
MULTIMÍDIA E
CULTURA
José Cláudio Alves de Oliveira
A CIBERCULTURA, A LOCATIVIDADE E O
COMPARTILHAMENTO DA MEMÓRIA SOCIAL1
1
Parte deste texto foi enviada para o XI ENANCIB, Encontro Nacional das Ciências da Informação
e Biblioteconomia, em agosto de 2010. Evento no Rio de Janeiro.
• 155 •
2
Algo “realizado ou formulado depois de certo fato e com ação retroativa”. (DICIONÁRIO..., 2010).
O termo aplicado aqui referencia também ao tipo de pesquisa que leva o mesmo nome, cuja técnica é
entrevistar pessoas (testemunhas) que possam descrever as mudanças ocorridas em determinados espa-
ços, como ruas, jardins, bairros etc.. Método utilizado pela Sociologia, Turismo e Antropologia, que
visa verificar as transformações ocorridas em espaços e ambientes físicos.
3
“No espaço do saber, cada descoberta é uma criação”. (LÉVY, 1999a, p.175).
4
Aqui, os cibermuseus (CMs) referenciam os ambientes museológicos, sistematizados, criados para
funcionar somente no ciberespaço. Já os Museus Digitais (MDs) são ambientes com interface na ar-
quitetura tradicional (presencial).
REFERÊNCIAS
Introdução
A evolução da comunicação da produção científica está atrelada ao
desenvolvimento das tecnologias de comunicação e informação que
tem seus primórdios na Grécia Antiga, através da oralidade dos dis-
cursos que foram transmitidos de geração a geração, atingindo neste
século a hipertextualidade.
As transformações ocorridas na segunda metade do século XX
trouxeram uma série de alterações pautadas no desenvolvimento de
instrumentos e sistemas de informação e comunicação, com aplicação
na economia, política e cultura. Há um deslocamento do regime de
acumulação, baseado na grande indústria, para as atividades imate-
riais, deslocamento esse imposto pela globalização do mercado com
relação à produção intelectual.
Os sistemas de informação e comunicação daí decorrentes são res-
ponsáveis por alterações nas relações sociais. Os avanços tecnológicos
da comunicação e da informação permitiram o surgimento de redes
de comunicação eletrônica, revolucionando os fluxos de informação
e a forma de acesso, ampliando o espiral do conhecimento. Produzir
saberes e transmitir conhecimentos são palavras-chave dessa Era, cujo
símbolo para estas transformações é o computador como equipamen-
to e a internet como meio, os quais introduziram um novo parâmetro
de espaço-tempo para a sociedade moderna. A transmissão de dados
quase instantaneamente entre todas as regiões do mundo tornou-se
possível graças à convergência tecnológica com as telecomunicações e
com a microeletrônica. Esses são os instrumentos considerados como
• 171 •
Contextualização
Ao longo da história, tecnologias outras foram surgindo e contribuí-
ram para que os novos saberes eruditos, acadêmicos, científicos, artís-
ticos, dentre outros, chegassem a um público mais amplo. O século
XX foi marcante, pois imprimiu uma revolução tecnológica a partir
das guerras mundiais, motivando o desenvolvimento científico e tec-
nológico e a necessidade de se ampliar o acesso ao conhecimento.
Destaca-se nesse período a atuação de Vannevar Bush, autor do
famoso texto As We May Think, publicado em julho de 1945, na
The Atlantic Review (BUSH, 1945). Ele descreveu uma máquina que
denominou de Memex – MEMory EXtension, que traduzido sig-
nifica memória extensiva. Bush acreditava que esta seria a biblioteca
universal do futuro (PROCÓPIO, 2005), com a finalidade de me-
lhorar a “memória humana”, em função do volume de informação
disponível e a dificuldade de se localizar e estabelecer relações entre
textos e pesquisas publicadas. Essa máquina permitiria que o usuário
armazenasse e recuperasse documentos. Seu nome está vinculado ao
período ao qual se atribui a “explosão da informação”. A essência de
seu trabalho, no entanto, não era o volume da informação, e sim, a
necessidade de uma mudança na qualidade do tratamento da infor-
mação, pois para ele os métodos de transmitir e analisar os resultados
das pesquisas eram inadequados diante da nova realidade.
O surgimento da internet e da www, em fins dos anos de 1980,
acelerou as mudanças na forma de publicação da produção científica,
Flávia Rosa
• 173 •
1
“With the online age, it has at last become possible to free the literature from this unwelcome impe-
diment. Authors need only deposit their refereed articles in ‘eprint’ archives at their own institutions;
Flávia Rosa
• 175 •
these interoperable archives can then all be harvested into a global virtual archive, its full contents fre-
ely searchable and accessible online by everyone.”
2
“[…] una fuerte reacción por parte de investigadores, académicos, bibliotecarios y gestores de in-
formación en el ámbito internacional […]”
3
O termo faz um trocadilho com o tipo de notação em informática que indica a versão de um softwa-
re, e foi popularizado pela O’Reilly Media e pela MediaLive International como denominação de uma
série de conferências que tiveram início em outubro de 2004. (PRIMO, 2006)
Flávia Rosa
• 177 •
Repositórios institucionais
No ano de 2002, foram criados os primeiros Repositórios Institucio-
nais (RI), e em junho de 2010 o Registry of Open Access Repository
(ROAR), referência à existência de 1.594 RI pertencentes a univer-
sidades e centros de pesquisa, distribuídos em todos os continentes,
sendo que quase 50% destes localizam-se na Europa. Ampla pesquisa
vem se desenvolvendo sobre o tema, sobretudo com relação à confi-
guração técnica e operacional (WILLIAMS; LAWTON, 2005), além
da motivação e demandas para desenvolvimento de Repositórios Ins-
titucionais. Para alguns autores, mesmo após quase uma década dos
primeiros RI no Reino Unido e nos Estados Unidos (SHEEREVES;
CRAGIN, 2008), não existe unanimidade sobre o que levou deter-
minada instituição a implantar seu repositório. Há demandas que va-
4
http://repositories.webometrics.info/ - Ranking Web of World Repositories.
5
“La sustentabilidad y desarrollo de un RI se basa, principalmente, en el convencimiento de la comu-
nidad académica para preservar y difundir su producción intelectual mediante este tipo de plataforma.
No existe una metodología única y los mecanismos de alimentación de información no son universales,
ya que se fundamentan en esquemas culturales y costumbres institucionales.”
Flávia Rosa
• 179 •
Flávia Rosa
• 181 •
De olho no futuro
O conceito de arquivos abertos tem pouco mais de dez anos. Seu
marco foi consolidado em outubro de 1999 durante a Convenção
de Santa Fé , realizada no Novo México, sob os auspícios da Asso-
ciation of Research Libraries (ARL), do Council on Library and In-
formation Resources (CLIR), da Digital Library Federation (DLF),
da Scholarly Publishing & Academic Resources Coalition (SPARC),
e do Los Alamos National Laboratory (LANL). Esse movimento, a
cada dia, se fortalece, no mundo todo. As IES e instituições de pes-
quisa têm sido responsáveis por grande parte do conteúdo que é dis-
ponibilizado.
No âmbito das bibliotecas há um movimento de apoio ao acesso
aberto no sentido de dotá-las da tecnologia adequada para abrigar
coleções que estejam de acordo com esses princípios. Além disso, é
importante adotar políticas cooperativas de repositórios de documen-
tos eletrônicos e cooperar na criação de recursos informacionais que
integrem a busca de documentos de livre acesso.
6
StatisticsAddOn, disponível em: http://wiki.dspace.org/index.php/StatisticsAddOn.
Flávia Rosa
• 183 •
REFERÊNCIAS
Flávia Rosa
• 185 •
Flávia Rosa
• 187 •
1
Para uma discussão mais ampla sobre o contexto histórico do surgimento dos grandes eventos internacio-
nais e a respeito dos diversos tipos de espetáculos, festivais e mega-eventos ver Gold & Gold (2005).
2
Conforme discutido anteriormente em Sá (2009), os estudos de festivais se inserem em um contex-
to mais amplo da preocupação com o simbólico que vem ganhando espaço nos mais diversos campos
do conhecimento e com a compreensão da vida cotidiana como sendo desta forma mediada. Espaços,
momentos e memórias pertencentes ao extraordinário e ao espetacular passam a ser percebidos pelos
seus potenciais em termos de ganhos econômicos, significados culturais, momentos de sociabilidade
ou disputas políticas.
• 189 •
3 Espetáculos, aqui, serão considerados como performances e eventos realizados em grande escala, orien-
tados para o entretenimento de um público específico e numeroso e mediados por processos comuni-
cacionais. Assim como diversas palavras que são utilizadas como termos “guarda-chuva”, espetáculo é
uma denominação amplamente utilizada em diversos contextos e bastante contestada, representando
um território de disputas em diversos campos do conhecimento e correntes do pensamento que dela se
apropriam e a ressignificam. O presente artigo pretende apresentar estudos de caso e não se aprofundar
numa discussão teórica sobre espetáculos. Portanto, para uma discussão mais ampla sobre este assunto
ver Gold & Gold (2005, p. 14-19).
4 Festival é um termo que deriva do Latim festum e que significa dia festivo ou feriado observado em
honra a um deus, com rituais solenes. Para uma análise sobre como os rituais se aproximam do mun-
do cotidiano e são momentos de celebração e diversão, ver os trabalhos de Amaral (1998) e Sá (2007),
a partir das contribuições de Durkheim (1968) e DaMatta (1997). Trata-se de um expressão cultural
importante e amplamente disseminada no mundo antigo, que continua mantendo um papel central
em diversas culturas contemporâneas. Sobre isso ver: Bauman et al. (1992), Manning (1983), Falassi
(1987) e Handelman (1990). No presente artigo consideramos festival como sendo um evento público,
temático, que acontece num período determinado e tendo objetivos específicos. Os temas principais
deste tipo de celebração normalmente são: artes, festas, carnavais, jogos e marcos históricos. Gold &
Gold (2005), Getz (1991) e Hall (1992) discutem a analisam diversos tipos de festivais.
5 Ver Canclini (2003) para uma ampla discussão sobre hibridismos e a nova perspectiva de análise do
tradicional-popular levando em conta suas interações com a cultura de elite e com as indústrias culturais.
Apesar de que, nas ciências sociais, há certo consenso em relação a esta discussão, ainda hoje, no senso
comum e na linguagem cotidiana, existe alguma confusão em relação aos termos “folclore”, “cultura
popular”, “alta cultura” e “cultura de massa” (e suas variações), como destaca Garofalo (1992).
6
No entanto, Garofalo (1992) destaca que foi exatamente Woodstock que deslanchou a relação comercial
entre música popular e negócios na contemporaneidade. Ao tentar conciliar uma aparente incoerente
relação entre valores folk (termo aqui utilizado para fazer referência a uma cultura tradicional-popular,
de origens rurais) e os imperativos da cultura popular massiva (urbana), muitos estudos buscam refú-
gio nas relações sociais de um passado idealizado.
7
Woodstock Preservation Archives (2002); BBC (2008); Times Herald-Record (2009).
8
Todas as citações de obras originais em inglês incluídas nas referências foram traduzidas pelas au-
toras.
9
Para uma discussão ampla e atual sobre o assunto ver St. John (2008). O autor apresenta novas pers-
pectivas para a compreensão das características festivas e carnavalescas do ativismo contemporâneo a
partir deste período.
10
Consideramos aqui, como vemos em Jenkins (2008), a idéia de consumidores ativos (ou prosumers)
que vem sendo utilizada para explicar os processos pelos quais os públicos (audiências) – anteriormen-
te considerados (equivocadamente) receptores passivos de conteúdos de mídia – são atualmente vistos
como ativos (re)produtores, (re)significadores e (re)distribuidores culturais através de diversos canais
de comunicação.
11
O autor analisa os seguintes festivais: Live Aid (1985), Mandela Tributes (1988 e 1990), Amnesty
International’s Conspiracy of Hope/Human Rights Now! (1988), assim como os projetos: Sun City
(1985); Greenpeace’s Rainbow Warriors (1989); e Red, Hot & Blue (1990). Ele utiliza quatro cate-
gorias (artistas, audiências, produtos musicais e papel econômico e político das estruturas de poder da
indústria musical) para apresentar suas similaridades e diferenças, e analisando tensões históricas, aber-
turas, disputas por empoderamento, cooptação e rebeldia.
12
Destacamos como principais as seguintes questões: problemas com distribuição e efetiva utilização
do dinheiro arrecadado, compromisso dos artistas com as causas defendidas ou utilização destes even-
tos apenas para marketing, distinção entre objetivos de caridade ou oportunidade de se criar mudanças
efetivas. Para uma série de artigos sobre a relação entre música popular e movimentos políticos e sociais
em diversos países, ver: GAROFALO, R. (Ed.). Rockin’ the boat: mass music and mass movements.
Cambridge: South End Press, 1992.
13
É importante destacar a distinção que Jenkins faz entre interatividade e participação. A interatividade
refere-se às maneiras que as novas tecnologias foram concebidas para serem mais sensíveis ao feedback
dos consumidores. As restrições, na interatividade, são tecnológicas. Em quase todos os casos, o que se
pode fazer em um ambiente interativo é pré-estruturado pelo designer. A participação, por outro lado,
é moldada por protocolos culturais e sociais. Esta é mais aberta, está menos sob o controle de produto-
res de mídia e muito mais sob o controle dos consumidores (JENKINS, 2008, p. 137).
14
Em português (P2P): comunicação par a par, ou ponto a ponto. (N. T).
15 Em português: comunicação de um para muitos. (N. T.).
16
BENNETT, W. L. Changing citizenship in a digital age. In: BENNETT, W. L. (Ed.). Civic life on-
line: learning how digital media can engage youth. Cambridge: MIT Press, 2008.
17
O festival brasileiro Starts With You (SWU) foi escolhido por ser o único mega-festival a ser reali-
zado no Brasil atualmente que segue a lógica dos festivais internacionais. Outro exemplo é o Rock In
Rio (que foi realizado no Rio de Janeiro em 1985, 1991, 2001, exportado como modelo para Lisboa
e Madrid e que, conforme foi anunciado na imprensa, será novamente realizado no Brasil em 2011).
Outros festivais de pop, rock e música eletrônica (e que contam com alguns artistas e bandas interna-
cionais) acontecem em diversos estados brasileiros, no entanto, não seguem o mesmo modelo e escala
dos festivais aqui analisados.
18
DUNCOMBE, S. Dream: re-imagining progressive politics in an age of fantasy. New York: New
Press, 2007, p. 16.
19
Para detalhes sobre todas as manifestações artísticas e atividades que acontecem durante o festival
em suas diversas áreas, ver: <http://www.glastonburyfestivals.co.uk/areas>.
20 Ele foi o pioneiro ao verificar o potencial local para a realização de festivais, criando ali um primei-
ro evento (Pilton Pop, Blues & Folk Festival), em 1970. Depois de algumas edições organizadas por
outras pessoas, Eavis assumiu novamente a organização do evento em 1981. Desde então, assumiu a
coordenação juntamente com sua esposa Jean até a morte dela, em 1999. Atualmente, é assessorado
por sua filha, Emily Eavis. Para uma descrição mais detalhada da história do evento, comentando os
diversos nomes, edições, atrações e organizadores, ver também, além do site oficial do evento citado
acima: <http://en.wikipedia.org/wiki/Glastonbury_Festival>.
21
O Isle of Wight é um festival de música que acontece anualmente no Reino Unido. Originalmente foi
realizado de 1968 a 1970. O evento de 1970 foi um dos primeiros e mais famosos festivais na Europa.
Na época, foi considerado uma das maiores reuniões de pessoas no mundo, com estimativas de mais de
600 mil, sendo assim superior a Woodstock. Contou com a presença de mais de 50 artistas, entre eles:
The Who, Jimi Hendrix, Miles Davis, The Doors, Joni Mitchell, Leonard Cohen, Jethro Tull, etc. De-
vido ao excesso de público, em 1971 o parlamento britânico exigiu que eventos a serem realizados na
ilha e que reunissem mais de 5.000 pessoas solicitassem uma licença especial. O evento foi retomado em
2002 no Seaclose Park, um espaço de lazer nos arredores de Newport, e tem sido realizado anualmente
desde então. Para mais informações, ver: <http://en.wikipedia.org/wiki/Isle_of_wight_festival>.
22
Para maiores informações ver: <http://www.imdb.com/title/tt0810001/> e <http://en.wikipedia.
org/wiki/Glastonbury_Fayre>.
23
Campanha para o Desarmamento Nuclear é uma organização antinuclear e pró-desarmamento do
Reino Unido. (N. T.).
24
Para mais informações ver: <http://www.myspace.com/glastonburythemovie>, <http://www.imdb.
com/title/tt0113178/> e <http://en.wikipedia.org/wiki/Glastonbury_the_Movie>.
25
Companhia de mídia e música digital fundada em 2000 no Reino Unido. Atualmente não se encontra
mais em operação neste formato. Mais informações: <http://playlouder.com/> e <http://en.wikipedia.
org/wiki/Playlouder>.
26
Neste ano cerca de 250 mil pessoas compareceram ao evento, contudo, apenas 100 mil ingressos fo-
ram vendidos e os demais participantes invadiram o local. Isso causou preocupação ao poder público,
que se recusou a conceder futuras licenças até que o problema fosse resolvido. Em 2001 os organizadores
utilizaram o ano de descanso para conceber medidas que evitassem a entrada dos invasores.
27
Ver: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/entertainment/1407152.stm>.
28
A grande popularidade das transmissões de shows ao vivo pela internet e assistidos através de com-
putadores pessoais foi verificada pela primeira vez no início do mesmo ano, quando o portal MSN do
grupo Microsoft transmitiu uma performance ao vivo de Paul McCartney no Cavern Club, atraindo
três milhões de espectadores online. Esse desempenho foi posteriormente superado com o show de
Madonna na Brixton Academy, também transmitido ao vivo pelo MSN, que foi assistido por mais de
nove milhões de pessoas em todo o mundo.
29
Mais informações: <http://www.imdb.com/title/tt0464022/>.
30
Ver mais: <http://optimistworld.com/Articles.aspx?id=First-winners-of-Greener-Festival-Award-
2008-announced>.
31
Fonte: <http://www.glastonburyfestivals.co.uk/information/what-is-glastonbury/the-festivals-objec-
tives> Acesso em 15 set. 2010 (tradução nossa).
32
<http://www.facebook.com/glastonburyofficial>.
33
<http://twitter.com/glastofest>.
34
<http://www.bbc.co.uk/glastonbury>.
35
<http://www.efestivals.co.uk/festivals/glastonbury/> e <http://www.virtualfestivals.com>.
36
Havia motivos para se questionar a adequação do espaço a este tipo de iniciativa. Trata-se de um
vasto e deserto gramado irrigado localizado em um dos pontos mais quentes e secos da América. As
cidades da região, embora tenham uma tradição em resorts, são pouco populosas e ficam há horas de
carro de vários dos principais centros populacionais regionais (San Diego, Los Angeles, Las Vegas e
Phoenix). O site oficial <http://www.coachella.com/> não traz a história completa do evento e os arqui-
vos do fórum registram informações principalmente a partir de 2004. Para maiores informações sobre
a história: <http://en.wikipedia.org/wiki/Coachella_Valley_Music_and_Arts_Festival>. <http://top40.
about.com/od/concerts/tp/coachellafestival.htm>. <http://www.signonsandiego.com/feature/coachella-
festival/coachella_history.html>.
37
Devido aos incêndios e tumultos do Woodstock 1999, os promotores de Coachella não foram au-
torizados a oferecer camping no local, uma proibição que perdurou até o festival de 2002. Para maio-
res referências e informações sobre o Festival Woodstock 1999, ver <http://en.wikipedia.org/wiki/
Woodstock_1999>.
38
Evento realizado pelos pelos organizadores do Coachella Fest. Mais informações: <http://stagecoa-
chfestival.com/> e <http://en.wikipedia.org/wiki/Stagecoach_Festival>.
39
<http://www.facebook.com/coachella>.
40
<http://twitter.com/coachella>.
41
<http://www.coachella.com/forum/>.
42
<http://blogs.laweekly.com/westcoastsound/off-the-record/veni-vidi-tweetie-coachella-ex/>.
45
<http://www.facebook.com/SWUBrasil>.
46
<http://twitter.com/swubrasil>.
47
<http://www.flickr.com/photos/swubrasil/>.
48
<http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=102758132>.
49
<http://www.youtube.com/swubrasil>.
Considerações finais
Conforme discutido no presente artigo, as lógicas que perpassam a in-
dústria do entretenimento, seja ela relacionada à música ou a grandes
eventos, são muito complexas e suas análises dependem dos variados
temas sobre o qual nos debruçamos. No entanto, parece haver con-
senso de que é possível afirmar que jamais se produziu tanto e com
tanta liberdade. Mas também é preciso considerar que os processos
de distribuição, divulgação e comercialização de repertórios artísticos
estão cada vez mais voltados para um mercado de nichos, ao mesmo
tempo em que exigem estratégias de grande complexidade.
De acordo com Herschmann (2010), são duas as principais ques-
tões para análise destas transformações:
Primeiramente, presenciamos a desvalorização vertiginosa dos
fonogramas (sua transformação em commodity no mercado), a
busca desesperada por novos modelos de negócio para os fono-
gramas, por meio de lojas digitais e telefonia móvel e, ao mesmo
tempo, o crescente interesse e valorização da música ao vivo e
dos concertos realizados nos corredores culturais das cidades (ou
muitas vezes organizados em forma de festivais). Em segundo
lugar, o crescente emprego das novas tecnologias e das redes so-
ciais na web como uma forma importante de reorganização do
mercado: a utilização das tecnologias em rede como uma rele-
vante estratégia de comunicação e circulação de conteúdos, de
gerenciamento de carreiras artísticas, de formação e renovação
de público, de construção de alianças com os consumidores, etc.
(HERSCHMANN, 2010, p. 22).
Outro fato que chama a atenção nos últimos anos é que, apesar
dos grandes festivais e concertos de música ao vivo promovidos pelas
majors com grandes empresas nacionais e transnacionais – como é
o caso dos eventos analisados neste artigo – também vem crescendo
significativamente o número de festivais independentes. Herschmann
(2010) cita que no Brasil, por exemplo, pela iniciativa de coletivos de
artistas e de pequenas gravadoras e produtoras, mobilizam-se apro-
ximadamente 300 mil pessoas em cerca de 40 festivais por ano que,
em geral, são realizados fora das grandes capitais. Ele destaca a ex-
pressiva presença de um conjunto de redes que envolvem artistas e
públicos e que vem crescendo e desenvolvendo – para garantir o êxi-
to ou sustentabilidade – as seguintes estratégias: utilizam recursos de
leis de incentivo à cultura; empregam o potencial interativo das no-
vas tecnologias digitais visando a formação, divulgação e mobilização
de públicos; e praticam intensa militância na área musical. Segundo
o autor, pode-se afirmar que alguns coletivos de música brasileiros
vêm constituindo novos circuitos de produção-distribuição e consu-
mo culturais.
Nesse novo modelo, fomentado e realizado por jovens artistas, a
produção toda é feita via internet e/ou tecnologias digitais (isto
é, desde a divulgação, a distribuição e o convite para shows até
a organização dos festivais em si). Alguns coletivos, inclusive,
chegaram a elaborar uma espécie de moeda própria que permite
a troca de serviços entre si. É um exemplo muito interessante de
‘economia solidária’ e que sugere alternativas à crise da indústria
da música. (HERSCHMANN, 2010, p. 27).
REFERÊNCIAS
1
Traduzido do inglês: “A Geração Hip Hop: Jovens Negros e a Crise na Cultura Afro-Americana”.
2
O autor é jornalista, ativista e analista político.
3
Expressão que ficou conhecida durante os anos 90, na época em que o autor era diretor da revista
“The Source: the magazine of hip hop music culture and politics”
• 219 •
4
A rede Zulu Nation foi fundada no ano de 1974, nos Estados Unidos.
5
Afrika Bambaataa é o pseudônimo de Kevin Donovan. Ele nasceu no dia 19 de abril de 1957 no
bairro do Bronx, Nova York.
6
O termo Hip Hop significa: saltar e quebrar com os quadris.
7
O movimento hip hop é formado por quatro elementos: o break (a dança de passos robóticos e, quan-
do realizada em equipe, sincronizados), o grafite (desenhos realizados nos muros das cidades com spray),
o DJ (o Disc-jóquei) e o rapper (ou MC, mestre de cerimônias, que canta ou declama as letras sobre as
bases eletrônicas criadas e executadas pelo DJ). O rap é a junção dos dois últimos elementos citados e
é a abreviação de rythym and poetry, ritmo e poesia, na tradução do inglês.
8
O filme Beat Street, de Harry Belafonte foi lançado no ano de 1984. Considerado uma referência do
movimento hip hop, foi visto no Brasil por muitos jovens durante os anos 80.
9
A Music Television (MTV) –, emissora fundada em 1º de agosto de 1981 nos Estados Unidos, pro-
duziu novas linguagens audiovisuais, fundindo imagem e música, a partir dos videoclipes destinados
majoritariamente ao público jovem.
10
O álbum “Rapper’s Delight” lançado em 1982 propiciou notoriedade comercial ao rap; a faixa inti-
tulada The Message tornou-se um sucesso nos Estados Unidos.
11
Sobre a situação da juventude negra nos Estados Unidos ver: Tricia Rose “Um estilo que ninguém
segura: Política, estilo e a cidade pós-industrial no hip hop”(1997); Nelson George “Hip Hop Ame-
rica” (1998); Bakari Kitwana “The Hip Hop Generation” (2002); Patricia Hill Collins “From Black
Power to Hip Hop: Racism, Nationalism and Feminism” (2006); Loic Wacquant “Os condenados da
cidade”(2005).
12
Sobre a situação da juventude negra nos Estados Unidos ver: Tricia Rose “Um estilo que ninguém
segura: Política, estilo e a cidade pós-industrial no hip hop”(1997); Nelson George “Hip Hop Ame-
rica” (1998); Bakari Kitwana “The Hip Hop Generation” (2002); Patricia Hill Collins “From Black
Power to Hip Hop: Racism, Nationalism and Feminism” (2006); Loic Wacquant “Os condenados da
cidade”(2005).
13
O gênero musical da Black Music brasileira é citado por muitos rappers paulistanos; entre os desta-
ques estão: Tim Maia, Jorge Ben, Cassiano, Toni Tornado, como suas principais referências. O nome
de um dos principais grupos de rap do país, “Racionais MCs”, faz referência a um disco de Tim Maia,
o álbum duplo Tim Maia Racional, de 1975.
14
A cidade de São Paulo é considerada o centro irradiador da cultura hip hop no país. O primeiro CD
de rap lançado no Brasil, intitulado Hip Hop Cultura de Rua, é uma coletânea com alguns grupos de
rap paulistano, lançado no ano de 1986.
15
Os bailes “Black Bahia” aconteciam todos os domingos no Subúrbio Ferroviário da cidade de Salva-
dor. Ananias do Break, que foi frequentador do “Black Bahia”, atualmente é uma das principais refe-
rências do break na cidade e líder do grupo de break chamado Independentes de Rua.
16 Matéria de Joceval Santana. In: MUITO. Revista Semanal do Grupo A Tarde. 15 de Março de
2009. Com Manchete da capa: “Barulho Negro: o coletivo Blackitude une arte e engajamento e faz
ponte entre centro e periferia”.
17
O grupo de rap Opanijé é formado por Lázaro Erê, Chiba e DumDum. OPANIJÉ também signi-
fica o toque e dança do Orixá Omolú.
18
A página virtual do grupo é www.myspace.com\opanijé. O Myspace.com é um endereço virtual de-
dicado ao universo musical, onde atualmente diversos artistas disponibilizam de forma gratuita suas
produções musicais pela internet. A produção dos sites é uma extensão dos grupos de rap; ao acessar
as páginas virtuais dos grupos de rap é possível obter informações sobre o perfil dos grupos, agenda de
participação em eventos ou realização de shows, filmagens e fotos, redes de amigos (entre a variedade
das comunidades vinculadas aos sites desses grupos, encontra-se ainda outros grupos de rap e\ou de
outros estilos musicais) e mensagens de pessoas que acessam esses portais virtuais. Atualmente a inter-
net tem sido o principal meio de comunicação do hip hop no Brasil.
Conclusão
As linguagens do hip hop são fundamentalmente férteis em solos ur-
banos para os artistas das classes populares nas metrópoles mundiais.
A fragmentação dos espaços urbanos aliada a um crescente desenvol-
vimento das novas tecnologias revela as ‘exclusões’ vivenciadas no co-
tidiano. Ao mesmo tempo denota um processo híbrido, histórico e
humano, ligado aos coletivos, minorias e integrantes da cultura hip
hop nas suas lutas sociais por reconhecimento, no sentido de uma
interculturalidade na produção de saberes\conhecimentos e nas pos-
sibilidades criativas de interação com o ‘outro’, de novas (re)-leituras
das linguagens artísticas, da apropriação da cultura popular através
do olhar crítico e do aumento da autoestima. O processo de homo-
geneização da indústria cultural no capitalismo global não pode ser
confundido com a reprodução imediatamente sequencial dos proces-
sos criativos e da apropriação de que fazem uso os sujeitos das novas
tecnologias. Na contemporaneidade são vários os níveis de significa-
dos e expressões nas linguagens artísticas da cultura hip hop, especial-
mente nas letras de rap, nas inter-relações oriundas dos bens culturais
simbólicos que circulam a nível global e dos seus referenciais locais.
A dinâmica cultural traz com ela toda uma gama de novas possibi-
lidades de processos de identificação, mas se depara com processos
identitários que se ‘cristalizam’, não como significantes definitivos,
mas estratégicos, que funcionam como reivindicações para pautarem
demandas sociais, culturais e também econômicas.
As posições dos sujeitos requerem construções identitárias que
precisam ser negociadas tanto interna quanto externamente, com o
intuito de formarem uma unidade discursiva de lutas políticas. A res-
significação, para muitos grupos de rap nacionais, leva a uma autoi-
dentificação que serve para instrumentalizar reivindicações presentes
no imaginário social referente à negritude e ao passado escravista. A
música tem sido uma das principais expressões artísticas pela qual os
REFERÊNCIAS
Introdução
O desenvolvimento dos medias e sua cada vez mais instigante ten-
dência à virtualidade nos coloca diante de situações que, embora re-
ais, mostram-se mais fluidas a ponto de não ser possível, em alguns
casos, determinar quais são seus limites existenciais e, muito menos,
de onde advêm. Assim, os modos espetaculares de constituir o mundo
passam a ditar as variadas formas de habitar o universo. A busca por
perceber elementos constituintes das performances apresentadas nos
pés-de-parede1 e nos festivais de violeiros torna necessário um breve
levantamento de fatores que parecem ter contribuído para a consoli-
dação da configuração que ora se apresenta.
1
Os pés-de-parede constituem a forma atualmente vista como mais tradicional na cantoria de impro-
viso, cujo nome surge em função do local onde os cantadores ficam, encostados à parede, por vezes
em pé, com o pé encostado a fim de manter o equilíbrio, embora também seja possível que os poetas
fiquem sentados. Nesse contexto, a interação entre o público e os cantadores encontra-se diferenciada
pela possibilidade de sugestão de motes, pela presença da bandeja e de outros elementos que tendem a
manter-se ou metamorfosear-se em outros contextos em função das demandas.
• 235 •
2
Para Sobrinho (2003, p. 50), mote é “a frase metrificada apresentada em até quatro pés de sete ou
dez sílabas.”
3
A bandeja é um recipiente (até um chapéu) onde o público deposita sua colaboração em dinheiro.
4
O desafio consiste num duelo travado entre os cantadores, sendo atualmente mais pacífico, de modo
a manter uma relação amigável entre os parceiros.
Considerações parciais
Visto que o texto apresenta discussões introdutórias e breves acerca
das performances de repentistas, entende-se que embora a voz seja a
responsável por apresentá-los, servindo como veículo para a divulga-
ção de ideias sobre o contemporâneo, ao mesmo tempo em que cria
espaço para uma reflexão sobre o passado, a memória, assim como
a roupa utilizada, a estética da viola e o modo de portá-la, a postura
adotada, a participação do público e também as condições estrutu-
rais locais contribuem para a construção de uma performance que
corresponda às expectativas dos presentes, definindo um modo de
REFERÊNCIAS
O poder da música
Pensar na música enquanto poder simbólico de comunicação abre
uma importante reflexão criando uma teia de significações que po-
dem sofrer variações com base no contexto cultural em que a músi-
ca é produzida, inserida e ouvida. Também implica em trazer à tona
insolúveis discussões acerca da retórica, afetos, gosto, dentre outros
elementos. Trata-se de um campo multidisciplinar que envolve a psi-
cologia, sociologia, antropologia, etc. Seria ingenuidade pensar que
uma criação musical emociona da mesma forma homens, mulhe-
res, crianças ou até mesmo indivíduos de outra nação ou localidade.
Ao longo da história da humanidade a música pode ser concebida
como construtora de relações interpessoais e mobilizadora cultural,
mas convém destacar seu papel social enquanto detentora do poder
de influenciar a moral de um povo. A revolução francesa é um bom
exemplo de normas sociais pretendidas e reforçadas através da músi-
ca em favor dos ideais estipulados por um grupo.
Squeff (1989) abre caminhos para mostrar que as criações musicais,
voltadas principalmente para as massas, tiveram grande representati-
vidade para a transmissão e proliferação de ideias com objetivos bem
definidos. Muitas canções não haviam sido compostas para a revo-
lução, como destaca Squeff, mas uma música intitulada Ça ira teve
sua letra adaptada para os objetivos revolucionários e se tornou um
hino aos que não aceitavam a nova ordem na França. Um dos tre-
chos diz: “Ah ça ira, ça ira, le peuple ce jour sans cesse repete”, que
• 245 •
1
No Estado da Bahia todas as propagandas do Governo são produzidas por Agências de publici-
dade vencedoras de um processo de licitação. As empresas responsáveis pela produção do material
publicitário na Bahia são: Leiaute Propaganda (lote 1), Maianga (lote 2), Tempo Propaganda (lote
3) e Objetiva Comunicação (lote 4). A verba total anual gasta com publicidade na Bahia perfaz R$
129.190.000,00, de acordo com o edital 001/2009 disponível em http://www.comunicacao.ba.gov.
br/paginas/edital-de-publicidade. Acesso em 11/08/2010.
2
Campanha intitulada “É bom e agora tem”, criada pela agência de publicidade baiana chamada
Leiaute. A criação da letra da música é de Raul Rabelo e a música de P.C. Fernandes.
3
O Ijexá é um gênero musical de matiz negra e que foi bastante utilizado nas campanhas de Governo
do Estado da Bahia, inclusive em propagandas do antecessor do atual governador.
Conclusões
Aqui concluímos a produção textual desse artigo e não o tema tra-
tado, pois o objeto possui dimensões que não puderam ser con-
templadas nesse momento e certamente serão observadas em outro
trabalho. Nesse estudo é possível perceber a canção (ou jingle) como
um dos elementos principais da campanha televisiva, pois quase
toda narrativa verbal está na música que caminha paralelamente
com as imagens na TV. Percebemos também toda uma construção
estético-musical para apoiar a mensagem melódica e verbal contida
no “canto” e na tessitura das vozes, com o objetivo de manipular e
convencer. Não foi nosso objetivo discutir ética política nem, tam-
pouco, ideologias.
A observação principal desse trabalho concentrou-se em mostrar
que a criação musical para uma campanha publicitária do governo
do Estado da Bahia não acontece de forma ingênua e nem por sim-
ples inspiração do artista, compositor musical e músico. Existe um
“roteiro” que conduz para uma “trama” marcada por um claro ob-
jetivo de educar a população através da música. Essa educação (ou
catequização) é transmitida através de intervalos musicais, que en-
volvem emocionalmente o ouvinte em torno da comunicação que
REFERÊNCIAS
Materiais e métodos
Para chegar às conclusões que serão apresentadas no decorrer do pre-
sente artigo foram selecionadas para análise duas emissoras de TV:
CBS1 nos Estados Unidos e ARD2 na Alemanha. Foram analisados
alguns programas dessas redes, principalmente as Retrospectivas de
Fim de Ano, sendo que três delas foram selecionadas para uma análise
mais aprofundada para, assim, verificarmos os parâmetros de que tipo
de música utilizam, como utilizam, o momento que essas entram e
saem de cena e, principalmente, a função delas. Procuramos mapear
essas estratégias utilizadas por essas emissoras para prender a atenção
do telespectador, e as tendências culturais de cada uma.
Os materiais selecionados foram os programas de retrospectivas
dos anos de 2006 e 2008 da ARD e o programa de 2008 da CBS.
Com esses programas em mãos, foram dadas as repetições necessá-
rias para a análise aprofundada dos dados sonoros usados por essas
emissoras. Após o recolhimento desses dados, realizamos compara-
ções entre os programas para pontuar as diferentes estratégias usadas
por cada emissora.
1
A sigla representa o nome CBS Broadcasting Inc. que é derivado do seu nome original Columbia
Broadcasting System.
2
A sigla representa o nome Arbeitsgemeinschaft der Öffentlich-Rechtlichen Rundfunkanstalten der
Bundesrepublik Deutschland.
• 259 •
Compassos chave
O presente trabalho é baseado na análise da trilha sonora dessas emis-
soras. Qualquer fragmento sonoro manipulado musicalmente – ou
seja, que não seja um som diegético – nos interessa. Para melhor en-
tender o estudo, precisamos esclarecer alguns termos. Leonardo Boc-
cia afirma que:
Adotamos o termo Compassos Chave para definir partes, motivos
e/ou fragmentos de músicas gravadas, utilizadas para acompanhar
as Imagens Chave de programas - entretenimento, telejornais e
vídeos que reportam fatos e acontecimentos para diversas regi-
ões do mundo. Distribuídos maciçamente por influentes com-
panhias transnacionais visando elicitar a atenção da gigantesca
audiência mundial, os produtos audiovisuais são transmitidos
por meio de múltiplas plataformas de mídia de tela. (BOCCIA,
2010, p. 84)3.
3
A obra de Leonardo Boccia (2010) referida aqui é o artigo “Chaves Audíveis” publicado neste mesmo
volume do ECUS – Cadernos de Pesquisa, v. 2.
Análise
Antes de começar esse trabalho, o núcleo de pesquisa se reuniu para
saber quais seriam os parâmetros de análise, criar um padrão e forta-
lecê-lo, buscando as mesmas inquietações. Pavis (2003) diz que:
A análise-reportagem
A análise-reconstituição
REFERÊNCIAS
Formato 16 x 23 cm
Fontes A Garamond e Handel Gothic BT
Papel Pólem 80 gr
Impressão Setor Reprográfico da EDUFBA
Capa e Acabamento Cian Gráfica
Tiragem 300 exemplares