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PROCESSO Nº: 0802059-17.2014.4.05.

8000 - APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO


APELANTE: FAZENDA NACIONAL
APELADO: CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF (e outro)
ADVOGADO: JEFERSON LUIZ DE BARROS COSTA (e outro)
RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL EDILSON PEREIRA NOBRE JUNIOR - 4ª
TURMA

RELATÓRIO

O Exmº. Sr. Desembargador Federal EDILSON NOBRE PEREIRA JUNIOR (Relator):

Cuida-se de recurso de apelação interposto pela UNIÃO (Fazenda Nacional) contra


sentença que julgou procedente a ação, para declarar a nulidade das NDFC's nºs 200.097.521,
200.174.797 e 200.175.661, lavradas pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em
Alagoas - SRTE/AL, por falta de recolhimento do FGTS.

Às suas razões, alega a recorrente, em suma, que a autuação proveniente das


Notificações de Débito do Fundo de Garantia e da Contribuição Social - NDFC questionadas foi
realizada levando-se em conta que, a anulação do contrato de servidor público, à luz do que
determina o art. 37 da Constituição Federal, o art. 19 do ADCT, o art. 19-A da Lei nº 8.036/90 e a
Súmula 363 do TST, não afasta os efeitos sobre o salário e a contribuição para o FGTS.

Contrarrazões apresentadas.

É o relatório.

PROCESSO Nº: 0802059-17.2014.4.05.8000 - APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO


APELANTE: FAZENDA NACIONAL
APELADO: CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF (e outro)
ADVOGADO: JEFERSON LUIZ DE BARROS COSTA (e outro)
RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL EDILSON PEREIRA NOBRE JUNIOR - 4ª
TURMA

VOTO

O Exmº. Sr. Desembargador Federal EDILSON NOBRE PEREIRA JUNIOR (Relator):

A questão versada nos autos, conforme ensaiado no relatório, orbita em torno da


necessidade de recolhimento do FGTS, em favor de trabalhador admitido sob o regime de
contrato de trabalho temporário, que teve sua contratação declarada nula, à vista da
inobservância das regras próprias do concurso público.

Registro, de início, que é pacífico no Supremo Tribunal Federal o entendimento de que


não constitui ausência de fundamentação e, portanto, violação ao art. 93, inciso IX, da
Constituição Federal, o colégio recursal fazer remissão aos fundamentos adotados na sentença
(STF, Pleno, RE 635729 - Repercussão Geral, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, julgado em 30/06/2011,
DJe 24.08.2011).

Nesse passo, ao desatar a controvérsia, o douto sentenciante assim se manifestou:

"13. Conforme restou consignado na decisão que deferiu a tutela antecipada, nos
termos da Lei n.º 8.745/93, que regulamentou a norma constante do art. 37, IX, da
Constituição Federal, dispondo sobre a contratação por tempo determinado para
atender à necessidade temporária de excepcional interesse público, o funcionário
contratado temporariamente vincula-se ao regime jurídico administrativo, de forma
que não pode ser equiparado ao trabalhador conceituado na CLT, e na verdade se
assemelha ao servidor estatutário, como, aliás, se observa do art. 11 da própria Lei
nº 8.745/93, quando prevê a aplicação de disposições da Lei 8.112/90 para esse tipo
de contrato que possui tempo determinado.

Lei nº 8.745/93: ....

Art. 11. Aplica-se ao pessoal contratado nos termos desta Lei o disposto nos arts. 53
e 54; 57 a 59; 63 a 80; 97; 104 a 109; 110, incisos, I, in fine, e II, parágrafo único, a
115; 116, incisos I a V, alíneas a e c, VI a XII e parágrafo único; 117, incisos I a VI e
IX a XVIII; 118 a 126; 127, incisos I, II e III, a 132, incisos I a VII, e IX a XIII; 136 a
142, incisos I, primeira parte, a III, e §§ 1º a 4º; 236; 238 a 242, da Lei nº 8.112, de
11 de dezembro de 1990.

14. A Lei nº 8.036/90, que dispõe sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço,
por sua vez, no § 2º do art. 15, exclui a obrigatoriedade de recolhimento de FGTS
quanto aos eventuais, os autônomos e os servidores públicos civis e militares
sujeitos a regime jurídico próprio.

15. Como se vê, há legislação específica determinando que os contratados em


regime excepcional temporário da Lei nº 8.745/93, por ser regime especial, estão
excluídos do FGTS, assim como os servidores públicos civis regidos pela Lei nº
8.112/90.

16. Filio-me aos inúmeros precedentes em nossos Tribunais, no sentido de que o


servidor em exercício de função pública, contratado em caráter temporário, nos
moldes do art. 37, IX, da CF/88, não está submetido às normas da CLT, conferindo-
se abaixo os entendimentos a esse respeito:

EMENTA: ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. AGRAVO REGIMENTAL.


CONTRATO TEMPORÁRIO DE TRABALHO. EXCEPCIONAL INTERESSE
PÚBLICO. VERBAS RESCISÓRIAS. CLT. INAPLICABILIDADE. REGIME
ESTATUTÁRIO. SÚMULA 83/STJ. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL.
COMPETÊNCIA DO STF. ANÁLISE DE LEGISLAÇÃO LOCAL. SÚMULA 280/STJ.
RECEBIMENTO DE INDENIZAÇÃO. SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO. 1. O servidor em exercício de função
pública, contratado em caráter temporário, nos moldes do art. 37, IX, da CF/88, não
está submetido às normas da CLT. Assim, rescindido o contrato, apenas faz jus às
verbas estatutárias devidas ao servidor público, conforme previsão do art. 7º c/c art.
39, § 3º, da CF/88. Questão decidida em conformidade com a jurisprudência desta
Corte, o que atrai a incidência da Súmula 83/STJ.
2. O Tribunal de origem concluiu pela regularidade do contrato de trabalho firmado
entre as partes com base na análise dos dispositivos constitucionais e da lei local
aplicáveis à espécie. A desconstituição desse entendimento encontra óbice no
disposto no art. 102, III, da CF/88, que trata da competência exclusiva do STF e na
Súmula 280/STF. 3. Inviável a apreciação das questões que demandariam o
reexame do conjunto fático e probatório dos autos, ante o óbice do enunciado da
Súmula 7/STJ. 4. Agravo Regimentalnão provido.

(STJ, AGaREsp 251659, Rel. Castro Meira, DJE 21.03.2013, DTPB).

EMENTA: ADMINISTRATIVO. CONTRATO TEMPORÁRIO DE PRESTAÇÃO DE


SERVIÇOS. ADICIONAL DE FÉRIAS E GRATIFICAÇÃO NATALINA. PERCEPÇÃO.
POSSIBILIDADE. ARTIGO 11 DA LEI 8.745/93.

1. A relação de trabalho por tempo determinado é regida pela Lei 8.745, de


09.12.1993, vigente na data da contratação dos autores, cujo artigo 11 outorga aos
contratados temporariamente os direitos à percepção de remuneração, gratificação
natalina, adicional de periculosidade, adicional de férias, e outras garantias e
vantagens decorrentes dos serviços prestados.

2. Diante da previsão legal, não pode a Administração Pública negar o pagamento


das parcelas devidas aos autores, considerando os princípios da legalidade e da
vedação ao enriquecimento ilícito. Dessa forma, fazem jus à gratificação natalina e
às férias acrescidas de 1/3, nos termos dos artigos 63 a 80, da Lei nº 8.112/90 e 11,
da Lei nº 8.745/93, já que não há prova nos autos de que foram adimplidas.

3. Não há prova de que as atividades de "operador de computação" e "artífice de


aeronáutica na especialidade de eletrônica" para as quais os autores foram
contratados se enquadram como insalubre ou perigosa, não sendo, portanto, devido
o adicional de periculosidade.

4. Indevidas as parcelas a título de férias dobradas, salário-família e FGTS, uma vez


que são verbas originárias da CLT, que não se aplica ao contrato administrativo. 5.
Dá-se parcial provimento ao recurso de apelação.

(TRF1, AC 200239000030040, Rodrigo Navarro de Oliveira, e-DJF1 data


05.02.2013, pg. 511).

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE


EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO. LEI 8.745/93. DECLARAÇÃO DA
ILEGALIDADE NAS SUCESSIVAS PRORROGAÇÕES.

TRANSFORMAÇÃO EM CONTRATO POR PRAZO INDETERMINADO E


APLICAÇÃO DA CLT. IMPOSSIBILIDADE. PEDIDOS DE CONDENAÇÃO DE
HORAS EXTRAS COM BASE NO ART. 11, DA LEI 8.745/93 E DA INDENIZAÇÃO
POR QUEBRA DE CONTRATO, COM FUNDAMENTO NO ART. 12, PARÁGRAFO
2º, DA LEI 8.745/93. INOVAÇÃO RECURSAL.

1. Apelação da sentença que julgou improcedente o pedido de declaração de


ilegalidade nas sucessivas prorrogações do contrato temporário, a teor do art. 451 da
CLT, transformando-o em contrato por tempo indeterminado com o pagamento dos
direitos inerentes às regras celetistas.

2. Resta devidamente comprovado nos autos que o autor foi contratado pelo 3º
Batalhão de Engenharia e Construção, para exercer a função de motorista, sob a
forma temporária, de excepcional interesse público, regido pela Lei 8.745/93, com a
redação dada pela Lei 9.849/99. Resta, ainda, incontroverso que ocorreram
sucessivas contratações.

3. No entanto, a pretensão deduzida cinge-se à declaração da ilegalidade nas


sucessivas prorrogações do contrato temporário, de modo a torná-lo por prazo
indeterminado, com o pagamento dos direitos inerentes ao regime celetista.

4. Sobre a matéria, o TST possui entendimento Sumulado (Súmula n.º 363 do TST),
de seguinte teor: "A contratação de servidor público, após a CF/1988, sem prévia
aprovação em concurso público, encontra óbice no respectivo art. 37, II e parágrafo
2.º, somente lhe conferindo direito ao pagamento da contraprestação pactuada, em
relação ao número de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário
mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do FGTS".

5. O STF reconhece a nulidade da contratação para a investidura em cargo ou


emprego público sem prévia aprovação em concurso público. Precedente: STF, 1.ª
Turma, AI n.º 677.753 AgR/RS, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, DJe
17.09.2009.

6. A contratação de trabalhadores temporários, autorizada pelo art. 37, IX, da CF/88,


é regida pela Lei 8.745/93, que em seu art. 11, estabelece a aplicação subsidiária,
dos artigos que elenca, da Lei 8.112/90. A contratação sob esta modalidade não
comporta aplicação do regime celetista, por evidente incompatibilidade,
considerando a existência de vínculos jurídicos diversos. Neste sentido, inclusive, é o
posicionamento do STJ no AgRg no AREsp 66.285/MG, Rel. Ministro NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 05/02/2013, DJe 21/02/2013.

7. Os pedidos de condenação de horas extras com base no art. 11, da Lei 8.745/93 e
da indenização por quebra de contrato, com fundamento no art. 12, parágrafo 2º, da
Lei 8.745/93, deduzidos no recurso de apelação, compreendem inovação recursal,
vez que não foram objeto de pedido na exordial, tampouco houve discussão nos
autos, razão pela qual não permite a análise por esta Corte, nem mesmo por força
do efeito devolutivo em profundidade.

8. Manutenção da sentença recorrida.

9. Apelação Improvida. (TRF5, AC 559893, Des. Rogério Fialho Moreira, DJE


22.08.2013, 448)"

Irretocável tal entendimento.

Acrescentaria, ainda, aos judiciosos argumentos invocados pelo magistrado de primeiro


grau que, o caso em análise "diverge da hipótese do art. 19-A da Lei nº 8.036/90, pois o vínculo
de trabalho que existiu entre os litigantes não era oriundo de investidura em cargo ou emprego
público posteriormente anulada por descumprimento do princípio do concurso público insculpido
no art. 37, § 2º, da CRFB/88, mas de contratação de servidor temporário sob o regime de
'contratação excepcional' (AgRg nos EDcl no Agravo em REsp nº 45.467/MG).

Destarte, adotando como razão de decidir a fundamentação acima reverenciada, deve ser
mantida na íntegra a sentença ora objurgada.

Com essas considerações, NEGO provimento à apelação.


É como voto.

PROCESSO Nº: 0802059-17.2014.4.05.8000 - APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO


APELANTE: FAZENDA NACIONAL
APELADO: CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF (e outro)
ADVOGADO: JEFERSON LUIZ DE BARROS COSTA (e outro)
RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL EDILSON PEREIRA NOBRE JUNIOR - 4ª
TURMA

EMENTA

TRIBUTÁRIO. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA. NULIDADE DO CONTRATO. RECOLHIMENTO


DO FGTS. IMPOSSIBILIDADE. ADOÇÃO DA FUNDAMENTAÇÃO PER RELATIONEM.
APELAÇÃO IMPROVIDA.

1. A questão versada nos autos trata sobre a necessidade de recolhimento do FGTS, em favor de
trabalhador admitido sob o regime de contrato de trabalho temporário, que teve sua contratação
declarada nula, à vista da inobservância das regras próprias do concurso público.

2. Nos termos da Lei n.º 8.745/93, que regulamentou a norma constante do art. 37, IX, da
Constituição Federal, dispondo sobre a contratação por tempo determinado para atender à
necessidade temporária de excepcional interesse público, o funcionário contratado
temporariamente vincula-se ao regime jurídico administrativo, de forma que não pode ser
equiparado ao trabalhador conceituado na CLT, e na verdade se assemelha ao servidor
estatutário, como, aliás, se observa do art. 11 da própria Lei nº 8.745/93, quando prevê a
aplicação de disposições da Lei 8.112/90 para esse tipo de contrato que possui tempo
determinado.

3. O caso em análise "diverge da hipótese do art. 19-A da Lei nº 8.036/90, pois o vínculo de
trabalho que existiu entre os litigantes não era oriundo de investidura em cargo ou emprego
público posteriormente anulada por descumprimento do princípio do concurso público insculpido
no art. 37, § 2º, da CRFB/88, mas de contratação de servidor temporário sob o regime de
contratação excepcional" (AgRg nos EDcl no Agravo em REsp nº 45.467/MG).

4. Apelação improvida.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos do processo tombado sob o número em epígrafe,
em que são partes as acima identificadas, acordam os Desembargadores Federais da Quarta
Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em sessão realizada nesta data, na
conformidade dos votos e das notas taquigráficas que integram o presente, por unanimidade,
negar provimento à apelação, nos termos do voto do Relator.

Recife (PE), 01 de setembro de 2015 (data do julgamento).

RGA

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