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(Consulplan – Promotor de Justiça – MG/2012) Referente à tutela dos bens públicos para o

escorreito controle do patrimônio público, indique a alternativa INCORRETA:

A) No Código Civil, lei de caráter eminentemente privatista, radica o conceito jurídico de bens
públicos (natureza subjetiva), bem como a classificação dos bens de acordo com a respectiva
destinação.
B) A venda de bens públicos imóveis é permitida pelo ordenamento, desde sejam observados
os seguintes requisitos: interesse público, avaliação justa, autorização legislativa, licitação na
modalidade concorrência, escritura pública (ou outra forma efetiva publicidade do ato), além
daqueles indicados em legislação específica.
C) Afetação é a atribuição de finalidade específica ao bem público, funcionalizando-o a
determinada destinação pública a bem da coletividade, enquanto desafetação é a modificação
do destino dos bens públicos de uso comum, especial ou dominicais.
D) Os bens públicos podem ser classificados em bens de domínio público, bens do patrimônio
administrativo (bens patrimoniais indisponíveis) e bens do patrimônio fiscal (bens patrimoniais
disponíveis).

COMENTÁRIOS:
Alternativa correta “c”. A questão está correta na parte em que traz o conceito de
“afetação”. Entretanto, o conceito de “desafetação”, ao contrário do quanto colocado, não
consiste na “modificação do destino dos bens públicos”, mas sim na perda da destinação
pública de um bem de uso comum ou de uso especial para caracterizá-lo como bem dominical.
Nesse sentido, o doutrinador Celso Antonio Bandeira de Melo: “A afetação é a preposição de
um bem a um dado destino categorial de uso comum ou especial, assim como a desafetação é
a sua retirada do referido destino. Os bens dominicais são bens não afetados a qualquer
destino público”. (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, 17ª ed.,
ver. e atual. – São Paulo: Malheiros Editores, 2004., p. 805).

Alternativa “a”. Pode-se afirmar que a distinção entre “bens públicos” e “bens particulares”
é de natureza subjetiva, pois o legislador leva em consideração o sujeito proprietário do bem,
ou seja, são públicos os bens que pertencem às pessoas jurídicas de Direito Público (União,
Estado, Distrito Federal, Territórios, Município, Autarquias e Fundações – art. 41 do CC) e são
privados os bens que pertencem a particulares. O Código Civil traz, em seu artigo 98, a
definição jurídica do que são os bens públicos. O artigo 99 e seus respectivos incisos
classificam os bens públicos em “de uso comum do povo”, “de uso especial” e “dominicais”,
sendo que essa divisão é feita de acordo com a destinação que é dada a cada bem.

Alternativa “b”. O Código Civil, em seu artigo 100, estabeleceu como regra geral a
inalienabilidade dos bens públicos. Entretanto, o artigo 101 do mesmo diploma legal prevê a
possibilidade de alienação dos bens públicos dominicais, desde que observadas as exigências
legais. Ou seja, o legislador determina que os bens públicos são inalienáveis enquanto tiverem
afetação pública. Uma vez que tais bens forem desafetados, passando, portanto, para a
categoria de bens dominicais, poderão ser objeto de alienação, desde que a Administração
atenda aos requisitos para a transferência de tal bem. A lei 8.666/93, em seu artigo 17, inciso I,
traz os requisitos específicos para a venda de bens públicos imóveis, que são: existência de
interesse público devidamente justificado, autorização legislativa, existência de avaliação prévia
e de licitação na modalidade de concorrência.

Alternativa “d”. A classificação dos bens públicos encontra-se expressa no artigo 99 do


Código Civil e seus incisos, que os divide em: (i) Inciso I: bens de uso comum do povo ou do
domínio público, sendo esses todos os locais abertos à utilização pública, de uso coletivo e de
fruição do povo; (ii) Inciso II: bens de uso especial ou do patrimônio administrativo, também
denominados de bens patrimoniais indisponíveis, sendo esses os bens que se destinam
especialmente à execução de serviços públicos, constituindo um aparelhamento administrativo;
(iii) Inciso III: bens dominicais ou do patrimônio disponível, também denominados bens do
patrimônio fiscal, sendo esses aqueles bens que, embora integram o domínio público, podem
ser utilizados para qualquer fim e alienados pela Administração, motivo pelo qual também
podem ser chamados de bens patrimoniais disponíveis. Tais bens não são destinados ao povo
em geral, tampouco empregados no serviço público e permanecem à disposição da
Administração para qualquer uso ou alienação, na forma da lei.

(Consulplan – Promotor de Justiça – MG/2012) A passagem da história econômica na


sociedade divide- se em três grandes etapas: a troca imediata, a moeda e o crédito. Esse
último, prevalente na sociedade pós- moderna, vai além do valor, contemplando prazo, volume
de operações e expansão nos setores de produção. Contudo, a utilização desenfreada do
crédito pode gerar o flagelo do superendividamento. Aponte a alternativa incorreta sobre o
tema:

A) A boa-fé objetiva amolda-se como ferramenta jurídica essencial para a prevenção do


superendividamento, pois exige a partir do empreendedor os deveres de informação, lealdade
e veracidade quanto ao compromisso assumido pelo devedor.
B) Para evitar a crise da efetividade do processo de execução e ao mesmo tempo proteger o
patrimônio mínimo do consumidor endividado, o legislador brasileiro permitiu, através do art.
655-A do CPC, penhora na modalidade dinheiro caso em que o juiz poderá requisitar
informações da autoridade supervisora do sistema bancário determinando indisponibilidade
parcial em conta-corrente, respeitado o percentual de trinta por cento nas hipóteses de
vencimento, subsídio, soldo ou aposentadoria;
C) O superendividamento passivo decorre de fatos inesperados que oneram excessivamente a
situação econômica do devedor observado certos acidentes da vida (desemprego, morte,
divórcio etc.); o superendividamento ativo decorre de abusos intencionais do consumidor
(conscientemente) ou porque iludido pelo sistema de marketing que o leva a contratar de forma
reiterada (inconscientemente);
D) Os titulares de benefícios de aposentadoria e pensão do Regime Geral de Previdência
Social poderão autorizar o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS a proceder aos descontos
em seus estipêndios, bem como autorizar, de forma irrevogável e irretratável, que a instituição
financeira na qual recebam seus benefícios retenha, para fins de amortização, valores
referentes ao pagamento mensal de empréstimos, financiamentos e operações de
arrendamento mercantil por ela concedidos, quando previstos em contrato, sendo vedado ao
titular de benefício que realizar qualquer das operações referidas solicitar a alteração da
instituição financeira pagadora, enquanto houver saldo devedor em amortização.

COMENTÁRIOS:
Alternativa correta “b”. A intenção do legislador ao incluir o artigo 655-A no CPC/1973 foi
dar efetividade no processo de execução, entretanto, não há previsão para proteção do
patrimônio mínimo do consumidor endividado. O legislador não previu o resguardo do
percentual de trinta por cento nas hipóteses de indisponibilidade de vencimento, subsídio, soldo
ou aposentadoria. Caso ocorra a indisponibilidade de valores do devedor que se enquadrem
nessa categoria, caracterizadas como impenhoráveis, de acordo com a redação do artigo 649 e
incisos do CPC/1973, compete ao devedor comprovar que os valores indisponibilizados
caracterizam-se como impenhoráveis e pleitear seu desbloqueio. Após a entrada em vigor do
Código Civil de 2015, a redação do antigo artigo 655-A do CPC/1973, atualmente encontra-se
no artigo 854 do CPC/2015, e a redação do antigo artigo 649 do CPC/1973, atualmente
encontra-se no artigo 833 do CPC/2015. Apenas nas hipóteses de descontos de empréstimos
diretamente em conta corrente ou em folha de pagamento, doutrina e jurisprudência tem
entendido que tais descontos não devem ultrapassar o percentual de 30% dos rendimentos
líquidos, em função da natureza alimentar dos vencimentos e em observância ao princípio da
razoabilidade e da dignidade da pessoa humana.

Alternativa “a”. O Código Civil, em seu artigo 422 impôs às partes integrantes de qualquer
contrato, tanto na fase da conclusão das negociações, quando na fase de execução, a
obrigatoriedade de observância aos princípios da probidade e da boa-fé. A boa-fé objetiva é um
dos princípios fundamentais do direito privado, cujo objetivo é estabelecer um padrão ético de
conduta para as partes em qualquer relação obrigacional, que devem agir com lealdade,
honestidade e probidade. Assim, a partir do conceito de “boa-fé objetiva” pode-se afirmar que
esta é uma das ferramentas essenciais à prevenção ao superendividamento, pois impõe ao
empreendedor o dever de agir com lealdade, transparência e honestidade em relação à outra
parte (no caso o devedor, contraente da obrigação), informando-lhe, de maneira clara e direta,
sobre a obrigação por ele assumida.

Alternativa “c”. Entende-se por superendividamento passivo é aquele sofrido pelo


consumidor em razão de decorrências externas da vida, que interferem na esfera econômica
do consumidor, tais como desemprego, doenças, divórcio, nascimento de um filho, morte na
família, redução de salário, alta taxa de juros, alta ou baixa da cotação do dólar. Já o
superendividamento ativo é aquele sofrido pelo consumidor que se endivida voluntariamente,
induzido pelas estratégias de marketing de empresas fornecedoras de crédito. O
superendividamento ativo é subdividido em duas categorias: o superendividamento ativo
consciente e o ativo inconsciente. O superendividamentoativo consciente é aquele adquirido de
má-fé pelo consumidor, pois sabe que não terá condições de honrar as obrigações contraídas
e, mesmo assim, contrata. O superendividamentoativo inconsciente é aquele contraído por
impulsão, não com a intenção de não honrar as obrigações, mas sim por inexperiência
ouincapacidade de administrar seu orçamento.

Alternativa “d”. A lei 10.820/2003, prevê, em seu artigo 6º e §3º, com a redação dada pela
lei 10.953/2004, a possibilidade dos titulares de benefícios de aposentadoria e pensão do
Regime Geral da Previdência Social, autorizarem o INSS ou a instituição financeira na qual
recebem seus proventos, procedam aos descontos em folha de pagamento ou na sua
remuneração disponível, para pagamento de empréstimos, financiamentos, cartões de crédito
por eles contraídos. O §3º prevê expressamente a impossibilidade do titular do benefício
solicitar a alteração da instituição financeira pagadora, enquanto houver saldo devedor em
amortização. Importante chamar atenção para a redação do §5º do mesmo artigo 6º da lei
10.820/2003, recentemente alterado pela lei 13.172/2015, que alterou para 35% do valor do
benefício, o limite dos descontos e retenções previstas nessa lei.

(Consulplan – Promotor de Justiça – MG/2012) O adimplemento das obrigações pelos


consumidores nas relações jurídicas de consumo está umbilicalmente ligado ao plano da
eficácia (e efetividade) dos contratos massificados. O cumprimento da 'palavra dada' ganha
status de informação em destaque na sociedade atual, desfrutando de relevante valor
econômico, pois permite ao fornecedor proceder à segura análise de risco no mercado de
consumo nas diversas operações de crédito do dia a dia. Para tanto, regulamentando o acesso
e registro dessas informações, houve estratégia normativa no sentido de criar cadastros
restritivos e cadastros positivos. Quanto aos últimos versados na Lei Federal n° 12.414/2011, é
INCORRETO dizer:

A) o consulente (pessoa natural ou jurídica que conceda crédito ou realize venda a prazo ou
outras transações comerciais e empresariais que lhe impliquem risco financeiro) recolhe os
dados da fonte (pessoa jurídica responsável pela administração de banco de dados, bem como
pela coleta, armazenamento, análise e acesso de terceiros aos dados armazenados) sobre a
vida econômica e creditícia do cadastrado (pessoa natural ou jurídica que tenha autorizado
inclusão de suas informações no banco de dados).
B) são informações excessivas aquelas que não estiverem vinculadas à análise de risco de
crédito ao consumidor.
C) são informações sensíveis aquelas pertinentes à origem social e étnica, à saúde, à
informação genética, à orientação sexual e às convicções políticas, religiosas e filosóficas.
D) dentre os direitos do cadastrado, encontram-se: a obtenção do cancelamento do cadastro
quando solicitado; acesso gratuito às informações sobre ele existentes no banco de dados,
inclusive o seu histórico; solicitação de impugnação de qualquer informação sobre ele
erroneamente anotada em banco de dados e ter, em até 7 (sete) dias, sua correção ou
cancelamento e comunicação aos bancos de dados com os quais ele compartilhou a
informação; conhecimento dos principais elementos e critérios considerados para a análise de
risco, resguardado o segredo empresarial; ter os seus dados pessoais utilizados somente de
acordo com a finalidade para a qual eles foram coletados.

COMENTÁRIOS:
Alternativa correta “a”. Essa alternativa faz uma grande confusão entre os conceitos de
consulente e fonte. De acordo com o art. 2º, inciso V da lei 12.414/2011, consulente é a
“pessoa natural ou jurídica que acesse informações em bancos de dados para qualquer
finalidade permitida por esta Lei”. Já o conceito de fonte encontra-se expresso no art. 2º, inciso
IV da mencionada lei e corresponde à “pessoa natural ou jurídica que conceda crédito ou
realize venda a prazo ou outras transações comerciais e empresariais que lhe impliquem risco
financeiro”. O responsável pela administração de banco de dados, bem como pela coleta,
armazenamento, análise e acesso de terceiros aos dados armazenados, é o gestor (art. 2º,
inciso II da lei 12.414/2011) e não a fonte, tal como colocado pela alternativa.
O único conceito trazido pela alternativa que está correto é o de cadastrado, que, segundo o
art. 2º, inciso III, da lei em questão é realmente a “pessoa natural ou jurídica que tenha
autorizado inclusão de suas informações no banco de dados”.

Alternativa “b”. O conceito de informações excessivas está correto, correspondendo,


exatamente ao quanto previsto pelo art. 3º, §3º, inciso I da lei 12.414/2011. Leonardo Roscoe
Bessa (Cadastro Positivo: comentários à Lei 12.414/2011. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2011, p. 93/94) comenta a importância da vedação às informações excessivas: “A Lei
12.414/2011 veda o tratamento de informações excessivas. Se pode ser verdadeiro que, sob a
ótica econômica, quanto mais informações melhor pe a avaliação de crédito (more isbetter),
para o direito, para proteção jurídica da privacidade, é fundamental restringir, tanto no tempo,
como na qualidade e quantidade, as informações que circulam pelos bancos de dados de
proteção ao crédito. A primeira forma de limitar a qualidade da informação que circula em
arquivos de consumo é exigir que ela esteja vinculada ao propósito específico do banco de
dados. Os dados coletados devem ser visivelmente úteis para os objetivos específicos do
arquivo. Se não atenderem a esse pressuposto, a coleta e o tratamento da informação devem
ser considerados ilegais, ilegítimos e ofensivos à privacidade (art. 5º, X, da CF). A redação do
inc. I do §3º atende justamente a essa preocupação, pois consideram-se informações
excessivas aquelas que não estiverem vinculadas à análise de risco de crédito ao consumidor”.

Alternativa “c”. A alternativa transcreve o exato conceito de “informações sensíveis”


previsto pelo art. 3º, §3º, inciso II da lei 12.414/2011. Com a imposição da vedação de
informações classificadas como “sensíveis”, buscou o legislador impedir a utilização
discriminatória de informação, a fim de tentar evitar que haja qualquer tipo de discriminação em
função de opções e convicções particulares do consumidor.

Alternativa “d”. A lei 12.414/2011, em seu artigo 5º prevê expressamente quais são os
direitos do cadastrado, lembrando-se que este é a pessoa natural ou jurídica que tenha
autorizado inclusão de suas informações no banco de dados. Além dos direitos transcritos
pelaalternativa, o artigo 5º ainda prevê os seguintes, previstos nos incisos V e VI do
mencionado artigo: “V - ser informado previamente sobre o armazenamento, a identidade do
gestor do banco de dados, o objetivo do tratamento dos dados pessoais e os destinatários dos
dados em caso de compartilhamento;” e “VI - solicitar ao consulente a revisão de decisão
realizada exclusivamente por meios automatizados”.

(Consulplan – Promotor de Justiça – MG/2012) A vigência do Código de Defesa do


Consumidor possibilitou nova estruturação e funcionalização da responsabilidade civil. Atento a
tal colocação observe-se:

I. A dicotomia clássica entre responsabilidade civil contratual e responsabilidade civil


extracontratual não se mostrou apta aos dias atuais, sendo necessário romper esta
summadivisio para a proteção do consumidor, permitindo a responsabilização direta do
fabricante pelo dano ao destinatário final, bem como a proteção do bystander.
II. Acidente, ligado à teoria do vício por inadequação, é todo o fato capaz de atingir a
incolumidade física do consumidor.
III. A função preventiva na responsabilidade civil consumerista prescinde o dano-evento e exige
o dano-prejuízo.
IV. é na ordem pública procedimental - além da ordem pública de proteção à parte débil, ordem
pública de coordenação e ordem pública de direção - que aloca a teoria da qualidade,
ensejando, inclusive, a cobertura contra os vícios aparentes.

Faça a opção:

A) as assertivas I e II são INCORRETAS.


B) as assertivas II e III são CORRETAS.
C) as assertivas III e IV são INCORRETAS.
D) as assertivas I e IV são CORRETAS

COMENTÁRIOS:

Nota do Autor: A doutrina convencionou chamar de bystander, ou consumidor por


equiparação, o terceiro atingido por defeitos na prestação de serviço ou falhas no produto,
independentemente de serem consumidores diretos, equiparando-os à figura de consumidor
pela norma do artigo 17 do CDC.

Alternativa correta “d”. As assertivas I e IV são corretas.

Assertiva I. CORRETA. Pode-se definir a responsabilidade civil contratual como aquela


advinda do inadimplemento ou cumprimento inadequado de uma obrigação estabelecida
contratualmente pelo devedor, em desfavor do credor. Já a responsabilidade civil
extracontratual, também denominada aquiliana, decorre de uma lesão ao direito de alguém,
sem que haja qualquer liame obrigacional anterior entre o agente causador do prejuízo e a
vítima. Assim, é possível concluir-se que em ambas as modalidades de responsabilidade civil,
há elementos comuns, quais sejam, a violação de uma norma, a existência de um dano, a
culpa do agente, a relação de causalidade entre o comportamento do agente e o dano
experimentado pela vítima ou outro contratante e a necessidade de reparação dos danos
causados. O Código Civil nos traz claramente essa distinção, consignando-se que a
responsabilidade civil contratual é disciplinada em seu artigo 389 e a responsabilidade civil
extracontratual é prevista no artigo 186, c.c. 927. Já o Código de Defesa do Consumidor deixa
de lado essa divisão clássica, para impor ao fornecedor a responsabilidade objetiva pela
reparação dos danos causados ao consumidor, independente de se tratar de uma relação
contratual ou não, conforme previsto pelos artigos 12, 14, 19 e 20 da Lei 8.078/90. Isso
significa que, no âmbito das relações de consumo, não existe a necessidade de um contrato
para que haja a responsabilidade do fornecedor em reparar os danos suportados pelo
consumidor.

Assertiva II. INCORRETA. De acordo com a classificação utilizada pelo Código de Defesa
do Consumidor, um produto ou serviço apresentará vício de adequação sempre que não
corresponder à legítima expectativa do consumidor quando à sua utilização ou fruição (art. 18
do CDC). Já o vício de segurança é caracterizando quando o produto, além de não
corresponder à expectativa do consumidor, é capaz de causar riscos à sua incolumidade ou de
terceiros (art. 12 do CDC).A noção de vício de qualidade por insegurança relaciona-se
diretamente com a de acidente de consumo. Portanto, a alternativa está errada porque o “vício
de inadequação” não é capaz de atingir a incolumidade física do consumidor. A respeito da
diferenciação entre esses dois vícios (de insegurança e de adequação, a doutrinadora Cláudia
Lima Marques coloca: “Mister, portanto, diferenciar a disciplina do vício por inadequação do
novo regime da responsabilidade civil pelo fato do produto ou serviço, que está regulado no art.
12 ss do CDC, que pode ser chamado de regime dos vícios por insegurança. Este último é um
regime extracontratual com fundamento na responsabilidade objetiva, visando reparar os danos
extracontratuais ou à saúde sofridos pelo consumidor, enquanto que nos vícios por
inadequação a responsabilidade, no que se refere à reparação, concentra-se no objeto da
relação contratual (produto ou serviço).” (Contratos no Código de Defesa do Consumidor, RT,
5ª ed., 788).

Assertiva III.Pode-se afirmar que a responsabilidade civil tem função preventiva porque
visa desestimular comportamentos lesivos, que possam causar lesões a terceiros. O dano-
evento é a lesão ao direito subjetivo ou a uma norma protetora de interesses. O dano-evento
está sempre presente quando se tratar de responsabilidade objetiva. Já o dano prejuízo é a
consequência, gerada a partir do dano-evento. O dano prejuízo pode ser moral, individual,
patrimonial e social. Assim, para que a função preventiva da responsabilidade civil
consumerista seja exercida, exige-se o dano-evento (lesão) e dispensa-se o dano prejuízo
(consequência), diante da teoria da responsabilidade objetiva adotada pelo Código
Consumerista.

Assertiva IV. CORRETA. A teoria da qualidade surge como forma de dar um tratamento
mais moderno e mais célere à teoria dos vícios redibitórios. Para sua aplicação, não se exige
que os vícios sejam ocultos, pois sua cobertura se estende até aos vícios aparentes (art. 26 do
CDC). A aplicação da teoria da qualidade dispensa a gravidade do vício, pois pressupõe que
asimples existência do vício em si, já é capaz de macular a legítima expectativa do consumidor.
A teoria da qualidade faz com que o fornecedor, independente de conhecer o vício que inquina
a coisa ou não, seja responsável pela idoneidade material do objeto da prestação, como forma
de proteger a parte débil da relação, que é o consumidor.

(Consulplan – Promotor de Justiça – MG/2012) No princípio da década de 80, a Ação Civil


Pública ingressou no ordenamento jurídico pátrio através da Lei Complementar n° 40/81 que
instituiu a Lei Orgânica do Ministério Público. Dentre as funções dos representantes
ministeriais, foi inserida a promoção da ação civil pública disposta no artigo 3° inciso III.
Naquele mesmo ano, a Política Nacional do meio ambiente foi regulamentada pela Lei 6.938 e
previa como atributo do Ministério Público, da União e dos Estados a propositura de ação de
responsabilidade civil para reparação dos danos causados ao meio ambiente. Porém, somente
em 1985, foi publicada a Lei 7.347 que disciplinou a ação civil pública de responsabilidade por
danos, inserindo no ordenamento jurídico o Inquérito Civil Público. Tratando-se do
procedimento do Inquérito Civil, é CORRETO afirmar que:

A) Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão remetidos, sob
pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 10 (dez) dias, ao Conselho Superior do
Ministério Público.
B) Até 15 (quinze) dias antes da sessão do Conselho Superior do Ministério Público, na qual o
Inquérito Civil seja homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, poderão as
associações legitimadas apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados aos
autos do inquérito ou anexados às peças de informação.
C) A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do Conselho Superior
do Ministério Público.
D) Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento, remeterá os
autos do Inquérito Civil para que o órgão do Ministério Público que o presidiu, a fim de que
ajuíze a ação.

COMENTÁRIOS:

Alternativa correta “c”. A Alternativa encontra-se correta, tendo reproduzido exatamente


os termos do quanto disposto pelo artigo 9º, §3º da lei 7.347/85, consignando-se apenas que
deve ser observado o quanto disposto no Regimento interno do Ministério Público para que o
arquivamento seja realizado.
Alternativa “a”. A Lei 7.347/85, em seu artigo 9º, §1º estipula o prazo de 3 (três) dias
para que os autos do inquérito civil ou das peças de informações arquivadas sejam remetidos
ao Conselho Superior do Ministério Público, sob pena de se incorrer em falta grave, e não 10
(dez) dias como colocado pela alternativa.

Alternativa “b”. As associações legitimadas a apresentar razões escritas ou


documentos, poderão fazê-lo até que seja homologada ou rejeitada, em sessão do Conselho
Superior do Ministério Público, a promoção de arquivamento (art. 9º, §2º da lei 7.347/85). A
alternativa encontra-se incorreta, pois o prazo para apresentação das razões e documentos é
até que haja a homologação ou rejeição da promoção de arquivamento, na própria sessão do
Conselho superior do Ministério Público e não quinze dias antes.

Alternativa “d”. Na hipótese do Conselho Superior deixar de homologar a promoção


de arquivamento, deverá designar, desde logo, outro órgão do Ministério Público para o
ajuizamento da ação (art. 9º, §4º, Lei 7.347/85) e não remeter os autos do Inquérito civil para
que o órgão do Ministério Público que o presidiu ajuíze a ação.

DICAS:

Julgados do STJ sobre a lei 12.414:

Tal matéria foi pacificada no âmbito do C. Superior Tribunal de Justiça em dois recursos
especiais representativos de controvérsia, julgados sobre a égide do art. 543-C
do Código de Processo Civil de 1973 (correspondente ao art. 1.036 do atual CPC), quais
sejam, os REsps n. 1.457.199/RS e 1.419.697/RS:
“RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA (ART. 543-C DO CPC).
TEMA 710/STJ. DIREITO DO CONSUMIDOR. ARQUIVOS DE CRÉDITO. SISTEMA 'CREDIT
SCORING'. COMPATIBILIDADE COM O DIREITO BRASILEIRO. LIMITES. DANO MORAL. I -
TESES: 1) O sistema 'creditscoring' é um método desenvolvido para avaliação do risco de
concessão de crédito, a partir de modelos estatísticos, considerando diversas variáveis, com
atribuição de uma pontuação ao consumidor avaliado (nota do risco de crédito) 2) Essa prática
comercial é lícita, estando autorizada pelo art. 5º, IV, e pelo art. 7º, I, da Lei n. 12.414/2011 (lei
do cadastro positivo). 3) Na avaliação do risco de crédito, devem ser respeitados os limites
estabelecidos pelo sistema de proteção do consumidor no sentido da tutela da privacidade e da
máxima transparência nas relações negociais, conforme previsão do CDC e da Lei n.
12.414/2011. 4) Apesar de desnecessário o consentimento do consumidor consultado, devem
ser a ele fornecidos esclarecimentos, caso solicitados,acerca das fontes dos dados
considerados (histórico de crédito), bem como as informações pessoais valoradas. 5) O
desrespeito aos limites legais na utilização do sistema 'creditscoring', configurando abuso no
exercício desse direito (art. 187 do CC), pode ensejar a responsabilidade objetiva e solidária do
fornecedor do serviço, do responsável pelo banco de dados, da fonte e do consulente (art. 16
da Lei n. 12.414/2011) pela ocorrência de danos morais nas hipóteses de utilização de
informações excessivas ou sensíveis (art. 3º, § 3º, I e II, da Lei n. 12.414/2011), bem como nos
casos de comprovada recusa indevida de crédito pelo uso de dados incorretos ou
desatualizados.” (REspsns. 1.457.199/RS e 1.419.697/RS, V.U., Rel. Ministro PAULO DE
TARSO SANSEVERINO, j. em 12/11/2014)

Súmulas do STJ sobre a inscrição do nome do consumidor em órgãos restritivos de crédito:

Súmula 323/STJ: A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos serviços de proteção
ao crédito até o prazo máximo de cinco anos, independentemente da prescrição da execução.

Súmula 359/STJ: Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a notificação


do devedor antes de proceder à inscrição.
Súmula 385/STJ: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe
indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao
cancelamento.

Súmula 550/STJ: A utilização de escore de crédito, método estatístico de avaliaçãode risco que
não constitui banco de dados, dispensa o consentimentodo consumidor, que terá o direito de
solicitar esclarecimentos sobreas informações pessoais valoradas e as fontes dos dados
consideradosno respectivo cálculo.

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