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Uso da tecnologia da informação na gestão da cadeia de suprimentos em São Luís

do Maranhão e oportunidades para o desenvolvimento de fornecedores locais


Use of information technology in supply chain management in São Luís do
Maranhão and opportunities to the development of local suppliers
Utilisation des technologies de d’information sur la gestion de la chaine
d’approvisionnement à São Luís do Maranhão et opportunites pour le
developpement des fournisseurs locaux
Uso de la tecnología de la información sobre la gestión de la cadena de suministro en São Luís
do Maranhão y oportunidades para el desarrollo de proveedores locales

Káty Maria Nogueira Morais*


Elaine Tavares**
Recebido em 8/9/2010; revisado e aprovado em 18/12/2010; aceito em 4/2/2011

Resumo: A pesquisa descrita neste artigo teve como objetivo analisar como a tecnologia da informação (TI) vem
sendo utilizada para auxiliar a gestão da cadeia de suprimentos (GCS) na cidade de São Luís do Maranhão. Os
resultados retratam quais tecnologias são mais empregadas e quais são pouco utilizadas, assim como benefícios e
barreiras para esta adoção. Revela-se um cenário de oportunidades para o uso efetivo da TI, que poderá contribuir
para o desenvolvimento local, por meio da mudança de realidade de seus fornecedores.
Palavras-chave: Tecnologia da informação. Gestão da cadeia de suprimentos. Maranhão.
Abstract: The research described in this article aims to examine how information technology (IT) has been applied
in supply chain management (SCM) in the city of São Luís do Maranhão. Results indicate which technologies are
most used and which are not widely applied, as well as benefits and barriers to this adoption. It reveals a scenario
of opportunities for the effective use of IT, which could contribute to local development, through the changing
reality of its suppliers.
Key words: Information technology. Supply chain management. Maranhão.
Résumé: La recherche décrite dans cet article vise à examiner comment les technologies de l’information (TI) a
été utilisé sur la gestion de la chaîne d’approvisionnement à São Luís do Maranhão. Les résultats indiquent que
technologies sont les plus utilisés et qui ne sont pas largement utilisé, ainsi que les avantages et les obstacles à cette
adoption. Il se révèle un scénario de possibilités pour l’utilisation efficace des TI, ce qui pourrait contribuer au
développement local, à travers la réalité changeante de ses fournisseurs.
Mots-clés : Technologies de l’information. Gestion de la chaîne d’approvisionnement. Maranhão.
Resumen: La investigación descrita en este artículo tiene por objeto analizar cómo la tecnología de la información
(TI) se ha utilizado em la gestión de la cadena de suministro en São Luís do Maranhão. Los resultados indican las
tecnologías más utilizadas y que casi no se usan, así como los beneficios y los obstáculos para su adopción. Se revela
un escenario de oportunidades para el uso eficaz de las TI, que pueden contribuir al desarrollo local, a través de la
cambiante realidad de sus proveedores.
Palabras clave: Tecnología de la información. Gestión de la cadena de suministro. Maranhão.

Introdução Na busca de melhor desempenho ou para


aquisição de vantagens competitivas, as orga-
A tecnologia da informação (TI) tem nizações necessitam ter grande capacidade de
exercido grande influência sobre a vida das adequação às novas exigências do mercado.
pessoas, promovendo significativas mudan- Em diferentes áreas, isto se torna verdade.
ças em aspectos, como relações sociais, de Entretanto, quando se pensa em tecnologia da
trabalho e nos processos organizacionais. informação, área em que as mudanças aconte-
No âmbito das organizações, o impacto cem mais velozmente, faz-se necessária uma
da TI demanda especial atenção. Para Motta atenção ainda maior. Isso tendo em vista que
(2005), “[...] a empresa se tornará cada vez mais ela passa de uma área de suporte ao negócio
fragmentada, localizada, descentralizada, flexi- da empresa para uma área que estabelece a es-
bilizada e capaz de múltiplas configurações”. truturação dos processos internos e operações.

* Mestre em Gestão Empresarial pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio
Vargas (EBAPE/FGV). Professora da Universidade do Estado do Maranhão (UEMA). E-mail: katymaria@hotmail.com.
**
Doutora em Administração pela EBAPE/FGV. Professora da EBAPE/FGV. Pós-Doutoranda do Centre d’Etude et
de Recherche en Gestion Aix Marseille - Université Aix-Marseille. E-mail: elaine.tavares@fgv.br.

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Uma dessas operações é a gestão da relação ao acesso à internet no Maranhão, con-


cadeia de suprimentos (GCS), que também vém ressaltar que o percentual de pessoas que
passou por significativas alterações e hoje utilizaram a rede na população de 10 anos ou
sofre expressiva influência de TI. Empresas mais de idade foi 20,2%, em 2008 - a penúltima
modernas vêm utilizando-se da ampliação posição, quando comparado aos demais esta-
da capacidade logística para a implementação dos do Nordeste (IBGE, 2008). Pelo exposto,
de suas estratégias competitivas. Nesse con- sabe-se da importância do desenvolvimento
texto, a busca pela melhoria dos processos e de suas organizações. Fica evidente também
aumento da eficiência operacional na gestão a necessidade de expansão da utilização de
da cadeia de suprimentos é constante. TI entre os fornecedores locais.
Com a estabilização da economia brasi- Este artigo apresenta inicialmente o
leira a partir da segunda metade da década referencial teórico que deu suporte à pesqui-
de 1990, as empresas começaram a melhor sa. Tratou-se nesta seção das tecnologias da
gerenciar e integrar suas atividades de informação utilizadas na GCS, dos benefícios
abastecimento e distribuição. Resulta dessa que elas proporcionam, do compartilhamento
assertiva a necessidade de as organizações de informação na GCS e das barreiras para
buscarem instrumentos que favoreçam a o uso da TI na GCS. O método utilizado e
gestão e integração das atividades, dentre a análise dos dados são descritos na conti-
os quais se destacam os sistemas de gestão. nuação. Apresenta-se a utilização da TI na
A tecnologia voltada para a GCS tornou-se, GCS no contexto investigado, as razões da
portanto, relevante para a competitividade não utilização destes recursos, os benefícios
das organizações (BARAT, 2007). apontados por quem usa TI na GCS, o tipo,
A TI passou assim a ser usada como a frequência e a forma de compartilhamento
uma ferramenta estratégica para a GCS, tendo de informação na GCS, as tecnologias que se
o compartilhamento ágil de informações com pretende implantar em breve e os inibidores
os fornecedores como um dos aspectos mais do uso da TI na GCS identificados. As consi-
importantes no processo de GCS, ao produzir derações finais discutem a incipiência do uso
efeitos na redução de custos de transação e da TI na GCS em São Luís e trazem sugestões
de negociação com os fornecedores (COSTA; de pesquisas futuras.
MAÇADA, 2006; CUNHA; ZWICKER, 2009;
MAÇADA; FELDENS; SANTOS, 2007). Referencial teórico
Tal fato pode estar consolidado em
grandes centros. Contudo, a aplicação de A tecnologia da informação na gestão da
ferramentas de TI na GCS em contextos locais cadeia de suprimentos
ainda é pouco conhecida. Mediante este
cenário, este artigo apresenta uma pesquisa A recente evolução da tecnologia da
realizada com o objetivo de analisar como a informação teve reflexo na cadeia de supri-
tecnologia da informação vem sendo utilizada mentos, área que tinha grande parte de suas
para auxiliar a gestão da cadeia de suprimen- atividades gerenciadas através de anotações
tos na cidade de São Luís do Maranhão. manuais, implicando alto índice de ineficiên-
Parte-se da ideia de que estudos desta cia (TURBAN; MCLEAN; WETHERBE, 2004).
natureza podem favorecer o desenvolvimento A TI hoje sustenta operações de empresas,
dos fornecedores locais e, por consequência, une elos distantes de cadeias de fornecimen-
colaborar para o desenvolvimento do estado to e, cada vez mais, liga empresas a clientes
maranhense. O Maranhão é um estado reco- (CARR, 2003).
nhecidamente pobre e com indicadores de Na fase inicial da inserção da TI na
desenvolvimento muito inferiores aos demais gestão da cadeia de suprimentos, a busca de
estados do país. O estado padece de baixos um desempenho superior motivou as orga-
índices socioeconômicos, que o remetem à úl- nizações a implementar alguns softwares,
tima posição entre as unidades da Federação que davam suporte a segmentos isolados da
brasileira em renda per capita, além de con- cadeia e tinham como benefícios a redução de
tar com o baixo Índice de Desenvolvimento custos, agilidade nos processos e diminuição
Humano (IDH) de 0,683, medido em 2008. Em do número de erros. Podem ser citados como

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exemplo os sistemas de gestão de estoque, SCM, como código de barras, desenho assis-
cronograma de produção e faturamento tido por computador (CAD), intercâmbio
(TURBAN; MCLEAN; WETHERBE, 2004). eletrônico de dados (EDI), intranet/extranet,
A etapa seguinte teve como demanda rastreamento de frotas, sistema de execução
principal a necessidade de atender à interde- de manufatura (MES), sistema de gerencia-
pendência existente entre algumas atividades mento de transporte (TMS), sistema de gestão
da cadeia de suprimentos, como por exemplo, de armazém (WMS), sistema de gestão de
fazer a interligação da área de programação relacionamento com clientes (CRM), sistema
de produção com a gestão de estoques e de identificação por radio frequência (RFID)
o planejamento das compras. O modelo e sistema de planejamento da cadeia de supri-
criado foi chamado de planejamento das mentos (SCP) (COSTA, 2005; FELDENS, 2005).
necessidades de materiais (MRP – Material Em resumo, os sistemas de informação
Resource Planning), que consiste num um da cadeia de suprimentos iniciam atividades
método mecânico formal de programação e rastreiam informações sobre processos, fa-
de suprimentos no qual o tempo de compras cilitam o compartilhamento de informações,
ou de saída da produção é sincronizado para tanto dentro da empresa como entre parceiros
satisfazer necessidades operacionais período da cadeia de suprimentos, e auxiliam a toma-
a período, ao equilibrar a requisição de su- da de decisão gerencial (BOWERSOX; CLOSS;
primento para as necessidades pela duração COOPER, 2007).
do tempo de reabastecimento (BALLOU, São os sistemas de informação da cadeia
2001). Posteriormente, surgiu o MRP II, cujo de suprimentos (SCIS) que formam o laço que
modelo é acrescentado com variáveis como une as atividades logísticas a um processo
recursos de trabalho e planejamento financei- integrado. Um SCIS abrangente inicia, moni-
ro (TURBAN; MCLEAN; WETHERBE, 2004). tora, subsidia a tomada de decisões e descreve
A evolução contínua proporcionou a as atividades necessárias para realizar opera-
integração cada vez mais intensa entre os ções e planejamento logístico. Para Bowersox,
sistemas funcionais. Prova disso são os cha- Closs e Cooper (2007, p. 111)
mados sistemas integrados de gestão (ERP) [...] os principais componentes do SCIS são
que possibilitam às empresas a substituição os seguintes: (1) planejamento de recursos
de sistemas isolados, que vão sendo instala- empresariais (ERP); (2) sistemas de co-
dos com o passar dos anos, por um sistema de municação; (3) sistemas de execução; e (4)
gestão integrado, que seja capaz de planejar e sistemas de planejamento.
administrar os recursos de toda a organização Para fins desta pesquisa, foram conside-
(TURBAN; MCLEAN; WETHERBE, 2004). radas algumas das tecnologias que apóiam a
No contexto de crescente desenvolvi- gestão na cadeia de suprimentos, detalhadas
mento, surgem as tecnologias que apóiam a no quadro 1.

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Tecnologia Descrição e Benefícios Fontes


Código legível por computadores em itens, caixas,
contêiners, paletas e até vagões de cargas.
Benefícios: BOWERSOX; CLOSS;
COOPER, 2007
- Substitui o processo de coleta e troca de infor-
Código de barras mações em papel, com riscos de erro e retrabalho FRANCISCHINI, 2004
constantes.
GRAEML; GRAEML;
- Rápida implantação,
CSILLAG, 2005
- Fácil utilização
- Equipamentos compactos
Permite fazer desenhos no computador, que poste-
riormente podem ser armazenados, manipulados e
atualizados eletronicamente.
Benefícios:
- Criação de movimentos no desenho, permitindo
realizar testes antes da produção. MALHOTRA; HEINE;
Desenho assisti- GROVER, 2001
- Redução do tempo para desenvolvimento de
do por computa-
produtos TURBAN; MCLEAN;
dor (CAD)
- Criação de desenhos de melhor qualidade para WETHERBE, 2004
facilitar a comunicação com os parceiros
- Maior flexibilidade e respostas mais rápidas nas
modificações de design
- Oferta de dados de entrada para a manufatura
computadorizada
Movimentação eletrônica de documentos comer- GRAEML; GRAEML;
ciais padronizados, como pedidos, faturas e confir- CSILLAG, 2005
Intercâmbio mações, entre parceiros comerciais.
LAUDON; LAUDON,
eletrônico de Benefício:
1999
dados (EDI) - Possibilidade de integração entre organizações
em aplicações como contas a pagar, controle de TURBAN; MCLEAN;
estoque, remessa e planejamento de produção. WETHERBE, 2004
Intranet: Rede interna da organização, baseada na
Internet
Benefícios:
- Rede segura
- Fácil e barata de ser desenvolvida
GRAEML; GRAEML;
- Redução dos custos de distribuição da infor-
CSILLAG, 2005
mação
Intranet/Extranet
- Facilidade de uso LAUDON; LAUDON,
- Possibilidade de interação 1999
Extranet: extensão do acesso da rede interna a O’BRIEN, 2001
parceiros de negócios.
Benefícios:
- Os mesmos da Intranet, com ênfase para a
redução de custos no compartilhamento das infor-
mações
Mecanismos tecnológicos de localização e monito-
ramento de cargas em trânsito.
Rastreamento de Benefícios: BOWERSOX; CLOSS;
frota - Contribuem para a gestão da frota e da carga e COOPER, 2007
para o controle das horas de serviços dos mo-
toristas
(Continua)

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Tecnologia Descrição e Benefícios Fontes


Monitoram, acompanham e controlam os cinco
componentes essenciais envolvidos no processo
Sistema de ex- de produção: matéria-prima, equipamento, pes-
ecução de manu- soal, instruções e especificações e instalações de
fatura (MES) produção. O’BRIEN, 2001
Benefícios:
- Processo de manufatura flexível e de alta quali-
dade.
Sistema que controla o transporte de cargas. Calcu-
la melhor rota, identifica o modal mais econômico,
faz o rastreamento de carga pela Internet e geren-
Sistema de ger- cia reclamações. GILMORE; TOMPKINS,
enciamento de Benefícios: 2000
transporte (TMS)
- Redução de custos.
- Gestão eficiente dos fretes e coordenação dos
esforços de transporte.
Utilizado para o controle de movimentação de
Sistema de gestão
itens de estoque no depósito, tem como principais
de armazém usos a coordenação e separação de pedidos. BOWERSOX; CLOSS;
(WMS) COOPER, 2007
Benefício:
- Melhoria do processo de distribuição.
O CRM possibilita a interface entre áreas distintas,
como, marketing e logística, abrangendo o con-
ceito de serviço ao cliente por toda a organização.
Sistema de rela- O seu particular desenvolvimento na gestão da FRANCO JÚNIOR, 2001
cionamento com cadeia de suprimentos contribui para disseminar
cliente (CRM) a informação relacionada à distribuição física, que WOUTERS, 2001
favorece o atendimento ao consumidor.
Benefício:
- Satisfação e fidelidade do cliente
Um tag com chip pode identificar o fabricante, o
tipo de produto e até mesmo um número de série BOWERSOX; CLOSS;
Sistema de para a marca, permitindo que os itens individuais COOPER, 2007
identificação por sejam identificados. Permite que o conjunto de
produtos seja identificado coletivamente. GRAEML; GRAEML;
rádio frequência
Benefícios: CSILLAG, 2005
(RFID)
- Redução das despesas com armazéns de dis- SANTOS; SMITH, 2008
tribuição, manuseio no varejo e faltas de estoque.
Componentes de planejamento e coordenação do
sistema da cadeia de suprimentos, que são úteis
Sistema de para orientar a alocação de recursos empresariais BOWERSOX; CLOSS;
planejamento da e o desempenho de compras até a entrega do
COOPER, 2007
cadeia de supri- produto.
mentos (SCP) Benefício: WANG; WEI, 2007
- Obtenção de dados reais de demanda, tempo e
inventário.
Módulos que disponibilizam informações de dif-
erentes áreas, com a pretensão de suportar todas
as necessidades de informação para a tomada de CORRÊA; CORRÊA, 2001
Sistema inte- decisão das empresas. Há situações de interligação
grado de gestão entre diferentes empresas. RANGANATHAN;
(ERP) Benefícios: DHALIWAL; TEO, 2004
- Integração e eficiência no fluxo de informação na
organização e/ou entre ela e seus parceiros.

Quadro 1 - Tecnologias da Informação que auxiliam a GCS.

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Benefícios da tecnologia da informação na Compartilhamento da informação na gestão


gestão da cadeia de suprimentos da cadeia de suprimentos

Para entender os benefícios da tecno- Há níveis distintos de compartilhamen-


logia da informação na gestão da cadeia to de informações na cadeia de suprimentos.
de suprimentos, busca-se apoio em alguns O primeiro nível vincula-se ao processo tradi-
estudos que se dedicaram a identificá-los cional, onde o fabricante e o varejista são de
e mensurá-los (ALBERTIN; ALBERTIN, organizações diferentes e atuam de forma
2005; DIAS; PITASSI; JOIA, 2003; FELDENS, descentralizada. No nível subsequente, o fa-
2005). bricante e o varejista mantêm suas políticas
Dias, Pitassi e Joia (2003, p. 10) destacam de inventário sob controle coordenado, per-
que os benefícios da implantação de aplicati- mitindo o acesso a determinadas informações
vos baseados na web para a função logística dos clientes, como demanda e as informações
são: (i) compartilhar informações de venda sobre pedidos. No terceiro nível, o fabricante
e de planejamento com os fornecedores de e o varejista cooperam entre si, por exemplo,
modo a assegurar que o produto adequado via EDI. O primeiro estabelece a sua política
estará na hora correta à disposição do cliente de inventário e o segundo disponibiliza infor-
certo; (ii) facilitar a implementação de progra- mações diretamente, o que favorece a ambos
mas conjuntos que aumentem a produtivida- contribuir na decisão de reabastecimento
de, tais como just in time e gestão on line dos (CHENG; WU, 2005).
estoques dos clientes pelos fornecedores; (iii) O fluxo de informações presente na
aumentar a velocidade de desenvolvimento GCS contribui para a redução da incerteza
e lançamento de novos produtos por meio na previsão das ocorrências. Sem esse aviso
de iniciativas de colaboração on line com antecipado, a saída antes encontrada pelas
parceiros externos; (iv) comunicar mudanças companhias contra a variação no suprimento
nos produtos, promoções e níveis de estoque e na demanda era a manutenção de estoque
instantaneamente para os distribuidores, de no nível indicado para atender à demanda e
modo a melhorar a competitividade da rede ao suprimento. Dessa forma, o estoque passa
estratégica; (v) desenvolver novos canais a ser substituído pela informação, alternativa
de venda em nível global para aumentar as menos onerosa (TAYLOR, 2005).
receitas; (vi) aumentar a satisfação do consu- Convém enfatizar também a necessida-
midor pela oferta de serviços on line, como de de entender qual a informação que deve
localização de carga ao longo de toda a cadeia ser compartilhada, na tentativa de perceber
de suprimentos; (vii) automatizar as iniciati- a importância que ela desempenha na GCS.
vas com os fornecedores durante a gestão da São listadas abaixo aquelas selecionadas para
carga do cliente. a pesquisa de campo: (i) custos; (ii) envio de
Percebe-se a atuação efetiva da TI na mercadorias; (iii) estoque; (iv) faturamento;
SCM em processos como níveis de estoque, (v) indicadores de produtividade; (vi) indica-
tempo de ciclo, processos de negócios e ser- dores de qualidade; (vii) informações estraté-
viços ao consumidor, fato corroborado por gicas; (viii) opiniões de clientes; (ix) pesquisa
Turban, McLean e Wetherbe (2004, p. 215). e desenvolvimento; (x) pedidos; (xi) preços; e
O reconhecimento dos benefícios da (xii) programação de frotas e roteiros.
TI na SCM neste estudo será norteado pelos Acrescentou-se ainda que serão conhe-
itens: (i) satisfação do cliente; (ii) aumento da cidas as frequências de compartilhamento,
precisão do prazo de entrega; (iii) aumento sendo ressaltadas as categorias “frequente-
do nível de comunicação e integração; (iv) mente”, “raramente” e “nunca”, para cada
eficiência no planejamento e desenvolvimento tipo de informação exposta acima.
das atividades; (v) eliminação de processos
manuais; (vi) inovação em práticas e proces- Barreiras ao uso da tecnologia da informa-
sos; (vii) redução de custos operacionais; (viii) ção na gestão da cadeia de suprimentos
redução do tempo de ciclos de processos; (ix)
redução de erros e devoluções; e (x) aumento Algumas dificuldades são conhecidas
da flexibilidade. na fase de implementação da GCS, já que,

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do Maranhão e oportunidades para o desenvolvimento de fornecedores locais

na maioria dos casos são necessários altos sa pretenderia implantar em termos de TI nos
investimentos em tecnologia da informação, próximos anos.
tendo em vista a existência de sistemas inde- Os dados foram coletados nos meses
pendentes, que não conversam entre si e que de outubro e novembro de 2009, por meio de
são utilizados nas atividades rotineiras de questionário elaborado no site survey monkey.
operação e de controle (NOVAES, 2001). A investigação foi realizada junto
Outros obstáculos podem surgir no aos fornecedores cadastrados no Programa
momento da utilização, como a resistência de Desenvolvimento de Fornecedores do
ao uso e, ainda, as fragilidades em relação Maranhão que atuam na cidade de São Luís
à segurança e garantia da integridade dos - 350 empresas. Estas empresas forma conhe-
dados presentes no software. cidas através da Secretaria de Indústria e
No que se refere à gestão da cadeia de Comércio, órgão vinculado ao Governo do
suprimentos, a situação não é diferente. Para Estado do Maranhão, mantenedor do Pro-
orientar a pesquisa de campo, foram sele- grama de Desenvolvimento de Fornecedores
cionadas as barreiras listadas a seguir, que do Maranhão, que pretende gerar novas
podem limitar uso da TI na GCS: (i) conflitos oportunidades de negócios e contribuir para
internos; (ii) cultura; (iii) custo; (iv) disponibi- a melhoria da distribuição de renda no Estado
lidade; (v) privacidade e segurança; e (vi) falta (MARANHÃO, 2009).
de necessidade. O questionário foi distribuído para
as 350 empresas, das quais 50 efetivamente
Aspectos metodológicos responderam, representando uma amostra
de 13%.
A pesquisa dividiu-se em três partes Os sujeitos da pesquisa foram os dire-
e cada uma delas subdividiu-se em fases. A tores e gestores que atuam na área de TI das
primeira parte foi teórica, momento em que o empresas fornecedoras cadastradas no Pro-
tema foi definido e delimitado, após revisão grama de Desenvolvimento de Fornecedores
de literatura. Esta fase da pesquisa forneceu do Maranhão. Para a escolha dos sujeitos,
ainda subsídios para a estruturação do instru- observou-se ser fundamental que as pessoas
mento utilizado na fase seguinte, quando foi selecionadas conheçam a estrutura de TI de
construído o questionário para pesquisa de que a empresa dispõe, assim como os planos
campo. Em seguida, na segunda parte, foi de investimento, contemplando as melho-
realizada a pesquisa de campo, com o envio rias em tal estrutura, a preferência era que
do instrumento de coleta de dados via e-mail e o responsável pela área de TI respondesse à
visita a algumas empresas que não responde- pesquisa, mas caso não existisse uma área de
ram por meio eletrônico. Por fim, procedeu-se TI formalizada, o gestor do negócio é quem
à análise dos dados coletados. deveria responder.
Para a construção desse instrumento de Dos participantes pesquisados, 56%
coleta de dados foram seguidos os seguintes compõem o ramo de serviços e indústria, se-
passos: listagem das variáveis que se pretende guido pelo comércio, com 26%. Na sequência,
medir ou descrever; revisão do significado de tem-se 10% para o ramo da construção civil,
cada variável e, finalmente, revisão de como além de engenharia e projetos e fabricação e
cada variável será medida ou descrita. montagem, com 6% e 2%, respectivamente.
O questionário constituiu-se de per- O ramo de atuação que apresenta a
guntas fechadas e abertas. Os respondentes maior faixa de faturamento, bem como o
indicaram preponderantemente o tipo de maior número de empregados, é o de serviço
tecnologia da informação utilizado, a frequên- e indústria, seguido pelo ramo da construção
cia de uso, os benefícios percebidos com essa civil. Já os de comércio e engenharia e projetos
utilização e a forma de compartilhamento da foram enquadrados com as menores faixas de
informação. faturamento e em número de funcionários.
As perguntas abertas relacionaram-se Dentre as empresas pesquisadas, 37%
às razões da não utilização da TI na GCS, não responderam à pergunta sobre o fatura-
assim como ao investimento que poderia ser mento anual. Já 14% preferiram não respon-
feito pela organização, ou seja, o que a empre- der também à questão relacionada ao número

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de empregados que compõem à organização. Análise de dados


Acrescenta-se ainda que o tempo médio de
atuação das empresas respondentes no mer- Os gráficos 1, 2 e 3 apresentam a utili-
cado é de 16 anos, sendo a que a mais antiga zação de TI pela empresas pesquisadas. Tal
tem 59 anos e a mais nova apenas um. divisão foi feita na tentativa de facilitar a
No que se refere às pessoas que respon- leitura e visualização dos resultados.
deram ao questionário, houve concentração O primeiro deles, o gráfico 1, trata dos
maior em outros cargos de gestão (47%), que sistemas de identificação por rádio frequência
incluem gerentes de negócios, de suprimen- (RFID), sistema de execução de manufatura
tos, de controladoria, coordenador adminis- (MES), sistema de gerenciamento de trans-
trativo, entre outros. Os cargos de alta gestão porte (TMS) e rastreamento de frota. Nota-se
foram responsáveis por 28% da participação, uma expressiva participação das tecnologias
enquanto os da área de TI representam 15%
consideradas pelos respondentes como não
da amostra, na terceira posição. Cargos na
adequadas ao seu ramo de atuação, categori-
área de qualidade totalizaram 11% da amos-
zadas como não se aplica, sendo elas: RFID
tra. É possível supor que as empresas, na sua
– 54%; MES – 46%; TMS e rastreamento de
maioria, podem não ter ocupantes de cargos
na área de TI, assim como podem não dispor, frotas – ambos com 45%.
em suas estruturas, de uma área formalmente Pode-se inferir que este resultado indica
constituída voltada à Tecnologia da Informa- uma incidência grande de não utilização das
ção. Esta caracterização dos respondentes tecnologias, entretanto não se pode afirmar
deve ser levada em conta na interpretação que tais tecnologias não se aplicam ao negócio
dos resultados da pesquisa, pois não se sabe da empresa. Este aspecto pode estar vincula-
o grau de conhecimento que eles têm sobre TI. do à avaliação indevida que as empresas
Os dados foram tratados através da podem fazer de que atuam em um ramo que
estatística descritiva, com base nas informa- não necessita destes recursos de TI, uma vez
ções disponibilizadas pelos participantes da que estas são as tecnologias mais avançadas.
amostra sobre à utilização da TI na GCS. Entretanto, destacam-se os percentuais
No que se refere à representação gráfica obtidos na categoria de uso frequente, 23% e
dos dados coletados, a fim de facilitar a inter- 26%, para o TMS e o rastreamento de frotas,
pretação dos resultados, usaram-se gráficos respectivamente. Estas tecnologias têm assim
em colunas e em setores que contribuíram uma relativa aceitação entre os fornecedores
para a exposição dos resultados. locais.

Sistema de identificação
por radio freqüência
45% (RFID)
60% 45%
26% Sistema de execução de
21%
50% Manufatura (MES)
23% 28% 46%
40% 8% 54%
36%
30% 5% Sistema de
gerenciamento de
20% 8% 33% transporte (TMS)
10%
10%
8%
5% Rastreamento de frotas
0%
Uso
frequente Uso
esporádico Não
Não se
utiliza aplica

Gráfico 1 - Tipo de tecnologia utilizada e frequência de utilização

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Uso da tecnologia da informação na gestão da cadeia de suprimentos em SãoLuís 183
do Maranhão e oportunidades para o desenvolvimento de fornecedores locais

O uso dos sistemas de gestão de armazém destacados os relacionados ao uso frequente:


(WMS), de código de barras, de desenho assis- 31% para o WMS e 28% para o SCP. Novamen-
tido por computador (CAD) e de planejamento te, a categoria não utiliza tem uma considerável
da cadeia de suprimentos (SCP) é retratado no expressão: 38%, 33% e 28%, para o SCP, o códi-
gráfico 2. Dos percentuais obtidos, merecem ser go de barras e o WMS, respectivamente.

Sistema de identificação
por radio freqüência
45% (RFID)
60% 45%
26% Sistema de execução de
21%
50% Manufatura (MES)
23% 28% 46%
40% 8% 54%
36%
30% 5% Sistema de
gerenciamento de
20% 8% 33% transporte (TMS)
10%
10%
8%
5% Rastreamento de frotas
0%
Uso
frequente Uso
esporádico Não
Não se
utiliza aplica

Gráfico 2 - Tipo de tecnologia utilizada e frequência de utilização

O gráfico 3 apresenta as tecnologias utilizadas usualmente e, também, menos


de uso frequente no mercado local. São específicas.
elas: intranet/extranet – 80%; sistema inte- Os reduzidos percentuais obtidos na ca-
grado de gestão (ERP) – 66%; intercâmbio tegoria “não se aplica”, de 5% a 13%, indicam
eletrônico de dados (EDI) – 59% e sistema que apesar de não utilizarem as tecnologias
de gestão de relacionamento com cliente indicadas, de 5% a 38%, de acordo com a
(CRM) – 40%. É importante enfatizar que tecnologia, as empresas reconhecem que elas
neste gráfico são apresentadas ferramentas podem se aplicar ao negócio.

Sistema de identificação
por radio freqüência
45% (RFID)
60% 45%
26% Sistema de execução de
21%
50% Manufatura (MES)
23% 28% 46%
40% 8% 54%
36%
30% 5% Sistema de
gerenciamento de
20% 8% 33% transporte (TMS)
10%
10%
8%
5% Rastreamento de frotas
0%
Uso
frequente Uso
esporádico Não
Não se
utiliza aplica

Gráfico 3 - Tipo de tecnologia utilizada e frequência de utilização

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184 Káty Maria Nogueira Morais; Elaine Tavares

Dentre as razões para a não utilização ainda, aqueles que, apesar de não utilizá-las,
da TI, os dados expostos no gráfico 4 indi- justificaram que pretendem implantar tais
caram que para 69% as ferramentas não se ferramentas na busca de melhorias, principal-
aplicam ao ramo de atuação da empresa, ou mente na gestão, representando apenas 31%
seja, esta parcela acredita que o tipo de TI não da amostra pesquisada.
é relevante para o seu tipo de negócio. Há,

31%
69%
Pretende implantar
na busca de
melhoria

Não se aplica

Gráfico 4 - Razões para não utilizar a tecnologia da informação

O gráfico 5 descreve os benefícios da seguida, “aumento do nível de comunicação


utilização da TI apontados pelos respon- e integração”, com 13%; na sequência, têm-se
dentes. Foi solicitado que eles distribuíssem a “eficiência no planejamento e desenvolvi-
cem pontos proporcionalmente entre esses mento das atividades”, com 12% e em quarto
benefícios. Como resultado, tem-se em lugar, a “redução dos custos operacionais” e
primeiro lugar o benefício “satisfação do “eliminação de processos manuais”, ambos
cliente”, com 17% da pontuação total; em com 11%.

Sistema de identificação
por radio freqüência
45% (RFID)
60% 45%
26% Sistema de execução de
21%
50% Manufatura (MES)
23% 28% 46%
40% 8% 54%
36%
30% 5% Sistema de
gerenciamento de
20% 8% 33% transporte (TMS)
10%
10%
8%
5% Rastreamento de frotas
0%
Uso
frequente Uso
esporádico Não
Não se
utiliza aplica

Gráfico 5 - Benefícios da utilização da tecnologia da informação

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Uso da tecnologia da informação na gestão da cadeia de suprimentos em SãoLuís 185
do Maranhão e oportunidades para o desenvolvimento de fornecedores locais

Buscou-se também identificar quais dificulta a existência efetiva da parceria, no


informações são compartilhadas, a frequência real sentido do termo.
de compartilhamento e com quem ela é com- Já os resultados sobre indicadores de
partilhada; se internamente; se com clientes qualidade indicam que 73% compartilham
ou com fornecedores. O gráfico 6 trata das frequentemente, mas somente no ambiente
informações que são compartilhadas nas cate- interno – 52%, tendo em vista que a comuni-
gorias frequentemente, raramente e nunca. cação com cliente dá-se em 44% e com fornece-
Dados sobre custos são compartilhados fre- dores somente em 4% do universo pesquisa-
quentemente (77%) e predominantemente no do. Tal aspecto relacionado à qualidade do
ambiente interno (93%). Ao que parece não há produto ou do processo teve um cenário mais
compartilhamento de informações relaciona- favorável quando comparado aos indicadores
das a custo entre as empresas pesquisadas e de produtividade.
seus clientes e fornecedores. Tal compartilha- Quanto ao faturamento, notou-se uma
mento com preponderância no âmbito interno considerável comunicação em termos de fre-
restringe a possibilidade de obtenção de me- quência – 70% e ambiente interno – 85%. Já a
lhores resultados organizacionais. Percebe-se divulgação entre empresas e seus fornecedo-
oportunidade de melhoria especialmente no res (4%) e clientes (12%), pode ser considerada
que se refere à interação com fornecedores. tímida e insuficiente, para a gestão da cadeia
Em se tratando de informações sobre de suprimentos integrada.
pedidos, o gráfico 6 retrata também o percen- As informações relacionadas ao estoque
tual de 77% de compartilhamento na categoria são compartilhadas frequentemente – 68%
frequentemente, e mais uma vez o ambiente e internamente – 71%, entretanto quando
interno é onde se tem mais incidência de se fala em comunicação com clientes – 7%
comunicação – 54%. Entretanto, percebe-se e com fornecedores – 21%, os percentuais
certo avanço na comunicação existente entre apresentam expressiva redução. Nesse caso,
empresa e fornecedor – 29% e entre empresa novamente a incidência maior no ambiente
e clientes – 18%. Tais dados sugerem opor- interno não permite que a companhia obtenha
tunidade de melhoria na comunicação com resultados significativos na gestão do estoque,
fornecedores e principalmente com clientes, com a interação entre empresa e fornecedor,
ambos ainda com comunicação incipiente sabendo que a comunicação efetiva com os
e não efetiva, refletindo no atendimento ao fornecedores pode contribuir para reduzir
consumidor. níveis de estoques e, consequentemente, au-
Os preços também são retratados na mentar o lucro.
categoria frequentemente com 77 %. O resul- Em todos os indicadores comentados
tado da comunicação sobre preços indica, tal é visualizada maior incidência na categoria
como a maioria já apresentada, alta frequência frequente e no ambiente interno, o que sina-
e no ambiente interno – 64%, sendo preteridos liza oportunidade de melhoria para o com-
os clientes e fornecedores, ambos com 18%, partilhamento com fornecedores e também
que não têm acesso a tais informações. Isso com clientes.

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 12, n. 2, p. 175-191, jul./dez . 2011.


186 Káty Maria Nogueira Morais; Elaine Tavares

Gráfico 6 - Informações compartilhadas com frequência

O gráfico 7 apresenta as informações são importantes para o monitoramento do


com percentuais de compartilhamento mais desempenho, apresentaram resultado media-
expressivos na categoria raramente, das quais no na categoria raramente (33%) e com certa
destacam-se as informações estratégicas, os elevação para o ambiente interno – 62%, tendo
Indicadores de produtividade, as opiniões redução ainda maior no ambiente externo,
de clientes e as de envio de mercadorias, que com clientes 23% e fornecedores, 15%.
variam de 57% a 40%. Em se tratando das opiniões de clientes,
O resultado do compartilhamento das
úteis para realimentar o processo de produção
informações estratégicas indica que raramen-
de bens e serviços, também apresentaram um
te as empresas divulgam suas estratégias
cenário de pouca comunicação, por exemplo,
(40%) e, quando o fazem, priorizam a comu-
nicação no âmbito interno – 82%, sendo pre- no ambiente interno obteve-se 74%.
terido o público externo, clientes com 11% e No que se refere à troca de informações
fornecedores, 7%. sobre o envio de mercadorias, obteve-se um
Os dados da troca de informações rela- compartilhamento frequente e internamente,
tivas aos indicadores de produtividade, que em torno de 50%.

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 12, n. 2, p. 175-191, jul./dez. 2011.


Uso da tecnologia da informação na gestão da cadeia de suprimentos em SãoLuís 187
do Maranhão e oportunidades para o desenvolvimento de fornecedores locais

Gráfico 7 - Informações compartilhadas raramente

O gráfico 8 apresenta as informações em relação a custos, ainda merece atenção


que alcançaram maiores percentuais na cate- por parte das organizações. Já a comunicação
goria nunca. Destacam-se aquelas vinculadas com o cliente, 19% apresenta margem para
à programação de frotas e roteiros e pesquisa crescimento considerável.
e desenvolvimento (P&D), atividades especí- O compartilhamento de informações
ficas, com pouca atuação no mercado local. sobre pesquisa e desenvolvimento é pouco
Dados relativos à programação de fro- frequente – 41%, e concentrada no limite de
tas e roteiros indicaram que há interação na atuação da empresa, – 65%, na medida em
categoria frequentemente em 35% do univer- que apresenta pouca interação com clientes e
so pesquisado e internamente teve-se 57%. fornecedores, ambos com 17%, participantes
A interação com fornecedores obteve ativos do processo.
24% de participação, apesar de ter aumentado

Gráfico 8 - Informações nunca compartilhadas

O gráfico 9 retrata as informações que os mais lembrados nesta categoria. Os nú-


são compartilhadas internamente, custos, meros revelam que ainda há uma lacuna
faturamento, informações estratégicas, opi- no compartilhamento das informações com
niões de clientes e estoque surgem como fornecedores.

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 12, n. 2, p. 175-191, jul./dez . 2011.


188 Káty Maria Nogueira Morais; Elaine Tavares

Gráfico 9 - Informações compartilhadas internamente

Foi ponto da investigação também a apesar de influenciarem consideravelmente


identificação relativa aos recursos que as a gestão, foram separados, considerando o
empresas pretendem implantar na gestão da volume de investimentos que estes sistemas
cadeia de suprimentos nos próximos dois anos. atraem na atualidade, e são citados com
Esses resultados são apresentados no gráfico 10% e 8% de participação dos respondentes.
10. Nesse aspecto, 58% dos respondentes afir- Retomando os resultados de utilização do
maram que planejam implantar recursos que sistema integrado de gestão (ERP), com 66%,
favoreçam a gestão, como sistema de controle, e do sistema de gestão de relacionamento
gestão contábil e gestão de recursos humanos. com cliente (CRM), com 40%, não é correto
A internet e extranet aparecem com 16%, na afirmar que a perspectiva de investir nessas
sequência, demonstrando a preocupação dos tecnologias é pequena.
empresários em obter este recurso e, assim, Por fim, foram lembrados com 6% e 2%,
facilitar sua comunicação, tanto interna quanto respectivamente, os recursos de hardware e
externa. código de barras, favorecendo a estrutura da
Sistemas de gestão, como ERP e CRM, gestão da cadeia de suprimentos.

Gráfico 10: Recursos a implantar

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 12, n. 2, p. 175-191, jul./dez. 2011.


Uso da tecnologia da informação na gestão da cadeia de suprimentos em SãoLuís 189
do Maranhão e oportunidades para o desenvolvimento de fornecedores locais

Os fatores inibidores de uso da TI, tam- Adicionalmente, é relevante destacar


bém chamados de barreiras, são apresentados que pode existir uma parcela considerá-
no gráfico 11, quais sejam: custo - 34%; cultura vel da amostra que desconhece as tecnolo-
- 23%; conflitos internos - 14%; disponibilida- gias pesquisadas, fato que se relaciona aos
de - 13%; privacidade e segurança - 10% e falta altos percentuais de não se aplica ou não
de necessidade - 7%. utiliza.

Gráfico 11 - Principais barreiras

Considerações finais gias como SCP, código de barras e WMS, que


obtiveram elevado percentual de não utiliza
A TI na GCS tem sido utilizada como e não se aplica.
possibilidade de obtenção de vantagem Outro indicador que sinaliza a necessi-
competitiva na organização, principalmente dade de dar mais importância à TI pode ser
através da redução de custos e melhoria no retratado, por exemplo, pela ausência de
processo de comunicação entre os agentes. profissionais da área na organização, já que
Sabe-se que os benefícios proporcionados os mesmos não foram identificados dentre
pela TI na gestão das empresas tem sido os que responderam à pesquisa. Ou ainda,
frequentes. pela resposta que apontou o fator custo como
Diante da suspeita de que o uso da TI principal barreira à implantação de solução,
ainda é incipiente na gestão da cadeia de não sendo visualizado como investimento,
suprimentos em São Luís do Maranhão, essa com possibilidade de retorno.
pesquisa consistiu num estudo panorâmico Dentre os benefícios indicados pelos
sobre o tema nesta cidade. Ela confirmou a respondentes como consequência da utili-
suspeita do uso ainda incipiente dos instru- zação da TI, podem ser ressaltados os rela-
mentos específicos de tecnologia da informa- cionados à satisfação do cliente, o aumento
ção entre os fornecedores locais, mostrando do nível de comunicação e integração e a
quais tecnologias são mais ou menos utiliza- eficiência no planejamento e desenvolvimen-
das, os inibidores desta adoção, os benefícios to das atividades. Embora o primeiro esteja
identificados e os compartilhamentos de voltado para o mercado, pode-se afirmar que
informação atualmente existentes. tal resultado representa melhorias na gestão
Os resultados indicaram um uso fre- interna, refletindo-se para o ambiente externo
quente de algumas ferramentas de TI, como e contribuindo para um desempenho superior
intranet/extranet, ERP, EDI e CRM. Porém, da organização.
indicativos de uso incipiente foram encontra- O compartilhamento da informação é
dos, dentre os quais, ressaltam-se as tecnolo- outro aspecto que desperta atenção, tendo

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 12, n. 2, p. 175-191, jul./dez . 2011.


190 Káty Maria Nogueira Morais; Elaine Tavares

em vista que mesmo internamente, apesar de Referências


ter sido onde se tem mais interação entre os ALBERTIN, A. L.; ALBERTIN, R. M. de M. Tecnologia
agentes, comparado a clientes e fornecedores, de informação e desempenho empresarial: as dimensões de
ainda há pontos que precisam de melhoria. seu uso e sua relação com os benefícios de negócios. São
Paulo: Atlas, 2005.
Tal interação pode se refletir na obtenção de
alguns benefícios, como redução de custos, BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos:
planejamento, organização e logística empresarial. Porto
agilidade e aumento da capacidade de res-
Alegre: Bookman, 2001.
posta às demandas do mercado.
BARAT, J. (Org.). Logística e transporte no processo de
As barreiras relacionadas à utilização da globalização: oportunidades para o Brasil. São Paulo: Ed.
TI identificadas constituem-se principalmente UNESP/IEEI, 2007.
aquelas vinculadas a custo e cultura, o que exige BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D.; COOPER, M. Gestão da
um processo de conscientização e apresentação cadeia de suprimentos e logística. Rio de Janeiro: Elsevier,
dos reais benefícios associados ao processo de 2007.
implementação e uso de tais ferramentas. No CARR, N. G. TI já não importa. Havard Business Review
outro extremo, com percentuais menos expres- Brasil, maio 2003.
sivos, são citadas como barreiras a privacidade CHENG, T.; WU, Y. The impact of information sharing
e segurança e a falta de necessidade. Este últi- in a two-level supply chain with multiple retailers.
mo fator foi mantido como barreira por poder Journal of the Operational Research Society, n. 56, p. 1159-
65, 2005.
traduzir o desconhecimento dos fornecedores
locais respeito dos benefícios que podem ser CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração de produ-
ção e operações: manufatura e serviços: uma abordagem
obtidos com o uso da TI. estratégica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
Acredita-se que este estudo possa ser
COSTA, J. C. Gestão da informação interorganizacional
relevante para que os gestores que atuem na cadeia de suprimentos automotiva. 2005. Dissertação
no mercado local conheçam o panorama (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do
de utilização da tecnologia de informação, Sul, Porto Alegre, 2005.
permitindo que realizem uma avaliação da COSTA, J. C.; MAÇADA, A. C. G. Gestão da informação
estrutura de TI e, assim, decidam sobre como nos elos da cadeia de suprimentos do setor automotivo brasilei-
direcionar investimentos na área. ro. In: EnANPAD, 30., 2006, Salvador, 2006. v. 1. p. 1-15
Percebe-se como principal contribuição CUNHA, V.; ZWICKER, R. Antecedentes do relacio-
namento e da performance em empresas da cadeia de
deste trabalho a visualização de um cenário
suprimentos: estruturação e aplicação de modelos de
de significativas oportunidades, tendo em equações estruturais. Revista de Administração de Empre-
vista a existência de limitações quanto ao sas, v. 49, n. 2, abr./jun. 2009.
uso de ferramentas da TI na GCS, que pode- DIAS, R. M.; PITASSI, C.; JOIA, L. A. Gestão integrada
rão contribuir para a mudança da realidade da cadeia de suprimento: modelo para uma arquitetura de
de fornecedores locais. Tal estudo pode ser tecnologia da informação – o caso CVRD manganês. Rio
útil para o Governo do Estado, à medida de Janeiro: [s.n.], 2003.
que permitirá trazer subsídios para o desen- FELDENS, L. F. Impacto da tecnologia da informação nas
variáveis estratégicas organizacionais na gestão da cadeia de
volvimento de programas de formação de
suprimentos. 2005. Dissertação (Mestrado) − Universi-
fornecedores adequados, no que se refere à dade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.
tecnologia da informação na gestão da cadeia
FRANCISCHINI, G. P. Administração de materiais e do
de suprimentos. patrimônio. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,
Dentre os estudos que podem desdo- 2004.
brar-se do presente estão: (i) análise mais apro- FRANCO JÚNIOR, C. F. E-business: tecnologia da
fundada dos pontos críticos percebidos na informação para a gestão e negócios na internet. São
pesquisa de campo; (ii) replicação da mesma Paulo: Atlas, 2001.
pesquisa em um período futuro para obtenção GILMORE, D.; TOMPKINS, J. Transport plays key role
de uma análise longitudinal, avaliando a evo- in supply strategy. ID Systems, p. 8, 2000.
lução em termos de utilização da TI na gestão GRAEML, A. R.; GRAEML, K. S.; CSILLAG, J. M. A
da cadeia de suprimentos pelos fornecedores internet e a integração da cadeia de suprimentos. In:
SIMPÓSIO DE ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO,
locais; e (iii) aplicação da pesquisa em outras LOGÍSTICA E OPERAÇÕES INDUSTRIAIS, FGV-
cidades do estado e em outros estados, com EAESP. Anais... São Paulo, agosto 2005.
vistas a permitir uma análise comparativa INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesqui-
entre regiões. sa Nacional por Amostra de Domicílios. 2008. Disponível

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 12, n. 2, p. 175-191, jul./dez. 2011.


Uso da tecnologia da informação na gestão da cadeia de suprimentos em SãoLuís 191
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