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Psicologia Jurídica
De acordo com Jesus (2001), foi no século XVIII que surgiram os primeiros
sinais da psicologia jurídica. Ele afirma que o tema que estabeleceu a relação
entre a psicologia e o direito foi “... o sentimento jurídico do estabelecimento de
normas para o convívio comum conforme as regras e normas de conduta”
(JESUS, 2001, p. 27).
Sobre a psicologia jurídica é complexo delimitar o seu inicio, pois não
existe um único marco histórico que define esse momento (LAGO, 2009). Para
Leal (2008), foi em 1868, que a psicologia surgiu auxiliando a justiça com a
publicação do livro “Psychologie Naturelle” de autoria do médico francês
Prosper Despine, onde o mesmo apresentou estudos de casos dos grandes
criminosos daquela época. Despine dividiu os casos em grupos de acordo com
o motivo desencadeador do crime e investigou cada membro, visando suas
particularidades psicológicas.
O saber que viria dar conta do estudo da relação crime/criminoso surge no
cenário das ciências humanas em 1875, fundada por Despine, a chamada
Psicologia Criminal “denominação dada naquela época às práticas psicológicas
voltadas para o estudo dos aspectos psicológicos do criminoso” (LEAL, 2008,
p.173). Esta área da psicologia fica sendo um referencial importante para todos
os profissionais de Direito Penal.
Bonger (1943 apud LEAL, 2008) cita alguns autores que fazem parte da
pré-história da Psicologia Criminal: Pitaval, na França em 1734; Richer em
1772; Schaumann, na Alémanha em 1792, entre outros. Para ele, os autores
citados acima pecaram em não terem se preocupado em construir uma teoria
sobre os dados encontrados como também não usaram métodos rigorosos nas
escolhas dos casos.
De acordo com Lago (2009), a psicologia jurídica no Brasil teve seu inicio
em 1960, ano que a profissão foi reconhecida, porém a atuação do psicólogo
nessa área vinha bem antes dessa data, através de trabalhos informais e
voluntários. Os primeiros trabalhos foram realizados na área criminal, com a
avaliação do criminoso, prática realizada bem antes ao século XX.
O desenvolvimento da psicologia criminal se deu quando os psicólogos
clínicos começaram a colaborar nos exames psicológicos legais e em distintos
aspectos com os sistemas de justiça juvenil, nos laudos psicológicos (JESUS,
2001). É através da área criminal, da importância dada a avaliação psicológica
e a preocupação com a conduta humana que se deu a aproximação do Direito
com a Psicologia (LAGO, 2009).
A obra de Rossi, “Psicologia Coletiva”, mostra a idéia de que o direito
surgiu a partir da consciência coletiva dos povos, expandindo a discussão pelo
século XIX. No final do mesmo século, surgiram algumas reflexões sobre o
Direito e sua função na vida social, tendo como partida a psicologia e as
ciências próximas a ela, sendo exemplos a obra de Fichte (1796),
“Fundamentos do Direito Natural segundo os princípios da doutrina da ciência“,
em que formula as relações do Direito com o Estado; em 1893, Émile Durkheim
lança o conceito de anomia e Mead publica em 1917, “The psychology of
punitive justice”. Mas as grandes quantidades de trabalhos literários
relacionando o Estado, a Sociedade e a Legislação surgiram no século XX
(JESUS, 2001).
A preocupação da necessidade de conhecimentos psicológicos na Justiça
vem antes do século XX, os próprios juristas contestavam essa necessidade e
já havia publicações a respeito como a de Eckardts Hausen, “A necessidade de
conhecimento psicológico para julgar os delitos” no ano de 1792. Também no
ano de 1792, J. Schaumann escreveu sobre “A idéia de uma psicologia
criminal”, Munch, em 1799, publica “influência da psicologia criminal sobre um
sistema de direito penal” (GARZON apud JESUS, 2001).
Em 1835, foi que pela primeira vez apareceu o termo Psicologia Judicial,
através da publicação do “Manual Sistemático de Psicologia Judicial”. Nessa
obra o autor destacava a importância da Antropologia e da Psicologia
auxiliando a atividade judicial corretamente. Para Jesus (2001), a necessidade
de o juiz compreender os conceitos psicológicos fica totalmente evidenciada
com a publicação da obra: “o erro e a relação jurídica: uma investigação
jurídica- psicológica” do autor Zitelman.
Jesus (2001) cita várias publicações feitas no final do século XIX sobre o
Direito e a sua função na vida social a partir de ciências próximas da
Psicologia, mencionando o surgimento da real necessidade da aplicação da
Psicologia no Direito nesse século; cita obras como “A psicologia em suas
principais aplicações à administração da justiça” de Hoffbauer em 1808, dentre
outras.
Além das várias obras publicadas sobre a importância da psicologia no
âmbito da justiça, vários fatores estabeleceram a definitiva relação da
Psicologia com o Direito, Psicologia Jurídica, entre elas a aproximação das
ciências médicas com a psicologia e a fisiologia, tornando a psicopatologia o
tema central. Assim a psicologia criminal se destaca como uma ciência de
suma importância para a contribuição da compreensão da conduta e da
personalidade do criminoso e o crime começa a ser visto como um problema
“do Juiz, do advogado, do psiquiatra, do psicólogo, do sociólogo,” não apenas
do criminoso (DOURADO, 1965 apud LEAL, 2008, p.173).
De acordo com Vilela (2000), foi a partir do estudo experimental dos
processos psicológicos que a psicologia inicia sua trajetória cientifica, sendo as
técnicas dos testes psicológicos instrumentos importantes que aproximaram a
Psicologia do Direito. A autora ressalta a importância, por exemplo, da
veracidade de um testemunho “[...] questão para a qual é importante o
conhecimento da percepção, da motivação e emoção, do funcionamento da
memória, do mecanismo de aquisição de hábitos, do papel da repressão”
(VILELA, 2000, p.16).
Segundo Jesus (2001), no inicio do século XX, trabalhos empíricos-
experimentais foram realizados por psicólogos alemães e franceses, sobre o
testemunho e sua participação nos processos judiciais. J. M. Catttel (1895)
desenvolveu vários trabalhos sobre memória e testemunho, seus estudos
foram considerados por alguns psicólogos como ponto de partida da psicologia
no campo jurídico, pois os mesmos indicavam a importância que a psicologia
possui no campo legal. A publicação do livro de Hugo Munsternberg “on the
witness stand” 1907, “... que lançou a idéia da utilização de um teste de
associação de palavras para ajudar a estabelecer a culpabilidade ou a
inocência de acusados, tendo sido atacado duramente pelos juristas da época”
(JESUS, 2001, p.30), também teve um papel relevante.
A psicologia abriu ainda mais os aspectos de investigação, sendo eles o
“sistema de interrogatório, os tipos de fatos delitivos, a detecção de falsos
testemunhos, as amnésias simuladas, os testemunhos de criança, as rodas de
investigação etc” (GARRIDO,1994 apud JESUS, 2001, p.31), desenvolvendo
assim a psicologia do testemunho.
Em 1955, o psicólogo Clark participou como perito judicial em uma
audiência, onde apresentou dados empíricos e psicológicos que foram aceitos
pelo tribunal Supremo dos Estados Unidos da América, afirmando assim a
necessidade de fundamentação psicológica não somente no direito, mas na
prática jurista (JESUS, 2001).
De acordo com parágrafo anterior algumas publicações podem ser citadas
como The American Jury, 1966, de Kalven (jurista) e Zeisel (sociólogo) que
escreveram um projeto de análise do comportamento dos juristas. Em 1975,
Thimbaut e Walker, terminaram o programa de investigação psicológica
experimental, obra que deu impulso ao surgimento de outra muito importante,
The Social Psychology of Procedural Justice, publicada por Lindy-Tyler em
1988 (JESUS, 2001).
Sobre a atuação do psicólogo jurídico, podemos afirmar que é um trabalho
recente no Brasil. Em 1978, em São Paulo, aconteceu um concurso para
Psicólogo no Instituto Oscar Freire, Departamento de Medicina Legal, Ética
Médica e Medicina Social e do Trabalho da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (FMUSP). Em 1980, em São Paulo, psicólogos já
atuavam como voluntários, porém, só em 1981 pelo Tribunal de Justiça do
estado de São Paulo que foi realizada a primeira contratação (MARTINS,
2000).
No Brasil, o primeiro concurso público para o cargo de psicólogo jurídico
aconteceu em 1985 em São Paulo capital. No Rio de Janeiro só veio a
acontecer no ano de 1998, onde foram selecionados os primeiros psicólogos
jurídicos da cidade. (BRITO, 2000).
Os anos seguintes são o resultado de um notável desenvolvimento da
Psicologia Jurídica, especialmente nos paises de língua anglo-saxonica. Nos
paises de língua latina, partiu da Espanha, onde o crescimento e a aplicação
foram notáveis, até os paises da América Latina, que estão iniciando a
regulamentação e aplicação da Psicologia na Justiça (JESUS, 2001, p.32).
Sistema Prisional
Porém, esse modelo criado por Bentham não surtiu o efeito esperado, pois
não se obteve a recuperação das pessoas em cumprimento de pena privativa
de liberdade, fato previsto já naquela época e esperado até os dias atuais
(SILVA, 2007).
Foucault, (apud Silva 2007) afirma que a prisão de alguma forma cola um
rótulo naqueles que ali passam, surgindo uma “[...] patologização do sujeito,
apresentando à sociedade como portador de um vírus imbatível, o vírus da
delinquência” (SILVA, 2007, p. 19).
Os Direitos Humanos
Chaves (2010) descreve alguns projetos realizados por ela no início da sua
atuação dentro da Penitenciária Estadual de Foz do Iguaçu, onde alguns já se
encerraram e outros permanecem ativos até hoje.
Grupo de orientação para liberdade, o objetivo principal é fornecer ao
sujeito em cumprimento de pena restritiva de liberdade um espaço de diálogo,
orientando e informando a respeito da vida em sociedade (CHAVES, 2009).
Nos grupos psicoterapêuticos, em cada encontro é debatido um tema
específico, como família, sociedade, crime, futuro. E são utilizadas dinâmicas
como forma de trabalho. Porém, segundo Chaves (2009), é uma prática
limitada, pois dentro do sistema prisional não há muito espaço e não se pode
tocar um no outro por motivos de segurança e preservação dos membros.
O Grupo resgatando memórias faz com que a pessoas que se encontra
encarcerada tente resgatar aspectos referentes à sua história de vida, sendo
uma oportunidade de “[...] reorganizar sua história e pensar no legado da
família e na sua identidade” (CHAVES, 2009, p. 24).
O grupo resgate da responsabilidade social surgiu do interesse das
próprias pessoas em cumprimento de pena privativa de liberdade em resgatar
a sua cidadania, mostrando a sociedade “[...] algo de sua vivência criminal“
(CHAVES, 2010, p. 24). Como exemplo a autora menciona que em parceria
com o Centro Integrado de atendimento ao Adolescente Infrator, um dos
integrantes do grupo citado acima foi relatar os prejuízos que obteve em sua
vida através do crime.
Já os Grupos de Apoio ao Dependente Químico, têm como objetivo
proporcionar reflexões e apoio diante do problema da drogadição tão presente
dentro da instituição carcerária (CHAVES, 2010).
Nos grupos de Dança de Salão, além de se proporcionar autoestima,
autoimagem e autoconceito para aqueles que estão cumprindo pena privativa
de liberdade, o objetivo é melhorar a relação conjugal, pois o grupo é dirigido
aos casados que recebem com frequência a visita de sua esposa (CHAVES,
2009).
No grupo Re-parar para Re-construir, o foco é o sujeito em cumprimento
de pena privativa de liberdade reincidente, e o objetivo é intervir de forma que
possibilite ao indivíduo reflexão sobre a sua vida colocando em evidencia os
projetos de vida (CHAVES, 2009).
Por fim, a autora descreve os grupos Agente Multiplicadores de Saúde e
Oficina de Sexo Seguro, que ajudam os sujeitos que se encontram
encarcerados a terem mais informações a respeito das doenças focalizando a
prevenção das mesmas (CHAVES, 2009).