Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2016/2017
1º Semestre
09/01/1997
1
Índice
Introdução 2
Thomas Tallis 3
Primeiros anos 3
Spem in Alium 10
Conclusão 13
Bibliografia 14
Webgrafia 14
2
Introdução
3
- Descobrir a personalidade de Tallis; situar o compositor no tempo e no espaço; estudar
o seu estilo de composição, através de livros e gravações, assim como as suas obras
musicais; por último, ajudar a divulgar a obra do compositor.
Thomas Tallis
Primeiros anos
Não é conhecida a sua origem familiar e a sua data de nascimento não é exata, embora os
musicólogos tenham apontado para cerca de 1505. Apesar de não se conhecer a sua
educação musical, Harley (2015) afirma que Tallis terá sido um menino de coro, porque,
dessa forma, se teria familiarizado com as devoções diárias e cíclicas da Igreja, bem como,
com os Cânticos a elas associados. À medida que progrediu, aprendeu a tocar órgão, e talvez
viola da gamba.
A primeira data de que há registo é 1531, quando Tallis foi nomeado organista do
Priorado Beneditino de Dover, o que marca o início da sua carreira musical. Em 1537 tornou-
se organista na Igreja Anglicana de St Mary-at-Hil, em Londres, e em 1538, mudou-se para a
4
Abadia de Waltham até à sua extinção, em 1540. Ficando desempregado, conseguiu
trabalho na Catedral de Canterbury como Lay Clerk, em 1541.
5
Segundo Harley (2015), neste tempo, há sinais de que Tallis se tivesse tornado uma figura
importante entre os Cavalheiros da Capela Real, tanto que seria muito improvável que até à
nomeação de John Sheppard no final do reinado, alguém partilhasse a sua responsabilidade
como Diretor do Coro, assim como a sua proficiência como compositor
e organista. Se Tallis era realmente o responsável pela música da
Capela, a sua tarefa foi complicada pelas várias mudanças ocorridas. O
arcebispo Cranmer, de Canterbury, que tinha trabalhado em silêncio
para uma reforma, no tempo de Henrique VIII, na cerimónia de
coroação do rei Eduardo, pressiona-o, no seu discurso, para que a
idolatria acabe e as imagens dos santos sejam removidas. Outra indicação de intenção foi
dada quando, na Abadia de Westminster, em 4 de novembro, a abertura do Parlamento foi
marcada pelo canto em inglês do Ordinário da Missa, excluindo o Kyrie.
6
have provided the kind of help needed by as gifted a pupil as Byrd undoubtedly was.
(Harley, 2015: 90).
No entanto, a única referência contemporânea aos estudos de Byrd com Tallis está no
poema latino de Ferdinando Heybourne, que integra o prefácio de “Cantiones, quae ab
argumento sacrae vocantur”, publicadas por Tallis e Byrd, em 1575.
Na altura em que a rainha Maria se casou com Filipe II de Espanha, houve uma mudança
na vida pessoal de Tallis. Este foi testemunha do testamento do seu amigo Thomas Bury,
também Cavalheiro da Capela Real, que morreu em 1554. O testamento menciona a esposa
de Bury, Joan e autoriza que após a sua morte, a sua viúva se pudesse casar com Tallis.
7
Tallis morreu no dia 23 novembro de 1585, de acordo com o registo da Capela Real. Foi
enterrado perto do altar-mor da igreja paroquial de S. Alfege, em East Greenwich, o que
sugere a sua importância dentro da congregação.
William Byrd homenageou-o com uma elegia profundamente sentida, Ye sacred muses,
para ser executada por um contratenor e quatro violas da gamba, que afirma que a música
morre com a morte de Tallis.
O estilo de composição de Tallis mudou ao longo da sua vida, de forma a agradar aos
diversos monarcas para quem trabalhou. Desta maneira, compôs tanto música protestante,
como católica, com textos em inglês e em latim. Segundo Grout e Palisca (1994), Tallis “faz a
ponte entre os estilos musicais ingleses do início e do fim do século”. Tallis não seguiu o
caminho dos madrigais ou de outro tipo de música secular, mas sim o religioso. A sua música
demonstra mais contenção do que exuberância e grande parte do seu trabalho possui um
carácter melancólico e reflexivo (por exemplo, “The Lamentations of Jeremiah the
Prophet”), mas também, evidencia habilidade técnica suprema. O melhor exemplo é o
motete “Spem in Alium” com a sua impressionante tapeçaria de vozes. Compôs, também,
algumas peças complexas para teclado, como as duas variações virtuosas” Felix Namque”.
8
cantá-las, que foram concebidas, não como uma inter-relação de linhas melódicas abstratas,
mas como uma interligação de vozes-tal a precisão com que a curva melódica desposa a
cadência natural das palavras, tamanha a imaginação com que projeta o conteúdo destas e
tal a naturalidade com que se apresenta ao cantor.” (Grout e Palisca, 1994: 232)
Tallis já compunha antes de entrar na Capela Real. A “Missa Salve Intemerata”, por
exemplo, foi escrita entre o final da década de 1520 e o início de 1530. Harley (2015) afirma
que, apenas, algumas das suas primeiras obras sobreviveram, devido à perda de fontes, mas
podemos ter a certeza que estudou as obras de Fayrfax e Taverner, que deram um grande
contributo para a música litúrgica inglesa. As primeiras obras em Latim, escritas antes e
depois da Reforma, mostram como Tallis conjugou os aspetos conservadores da polifonia
sacra, com as técnicas avançadas do continente. Exemplo disso são “Ave Rosa Sine Spinis” e
“Ave Dei Patris Filia”, antífonas devocionais à Virgem Maria.
A rutura de Henrique VIII com o catolicismo romano, em 1534 e a ascensão de Thomas
Cranmer, como arcebispo de Canterbury, influenciou a música. Cranmer recomendou um
estilo silábico como está definido na Litania Inglesa de 1544. Como consequência, a escrita
de Tallis e seus contemporâneos tornou-se menos florida.
No reinado de Eduardo VI, Tallis foi um dos primeiros músicos a escrever hinos em inglês,
embora o latim continuasse a ser usado.
Harley (2015) informa que em meados do século XVI, três fontes musicais compilam a
música em Inglês para grupos de cantores e incluem obras de Tallis em cada um deles. O
livro Lumley (1547-1552) é uma coleção de música do reinado do rei Eduardo, que contem
duas peças de Tallis: “ Remember not” e “Benedictus”. No entanto, o maior número de
peças sagradas eduardinas está contido no livro Wanley (1548-50). Tallis é representado por
duas peças: “Hear the voice and prayer” e “If ye love me”. O terceiro livro, “Mornyng and
euenyng prayer and communion”, foi impresso em 1565 e dele fazem parte, apenas, obras
do reinado de Eduardo VI, incluindo quatro peças de Tallis: duas que já constavam do livro
‘Wanley, e “Lord in thee is all my trust” e “Remember not”.
Parece que pouco foi exigido a Tallis, durante os anos que passou na Capela Real de
Henrique VIII e na de Eduardo VI. No entanto, não podemos ter a certeza de quanto foi
destruído, quando um monarca sucedeu a outro, de uma convicção religiosa diferente,
afetando, dessa forma, a conservação dos manuscritos.
9
A católica Maria I começou a destruir algumas das reformas religiosas das décadas
precedentes. Acredita-se que duas das principais obras de Tallis, “Gaude Gloriosa Dei Mater”
e a Missa de Natal, “Puer natus est nobis” são dessa altura. Como era prática corrente, essas
peças foram destinadas a exaltar a imagem da Rainha e a louvar a Virgem.
As autoridades religiosas, no início do reinado de Isabel I, inclinaram-se para o calvinismo,
que tendia a desencorajar a polifonia na igreja, a menos que as palavras fossem claramente
audíveis e compreendidas como se fossem lidas sem cantar. Tallis escreveu nove salmos,
para quatro vozes, para o Saltério do Arcebispo Parker, publicado em 1567. Uma das nove
músicas, a "Third Mode Melody", inspirou a composição de “Fantasia sobre um tema de
Thomas Tallis” por Ralph Vaughan Williams, em 1910; o “Salmo 67” ficou conhecido como
"Canon de Tallis" e foi adaptado por Thomas Ken, em 1709, ao hino "All praise to thee, my
God, this night". As obras mais conhecidas de Tallis, desta
época, incluem “The Lamentations of Jeremiah the
Prophet” para os ofícios da Semana Santa e o motete “
Spem in Alium”.
Em 1575, a Rainha Isabel concedeu a Tallis e a William
Byrd um monopólio, de vinte e um anos, para produção de música polifónica, e uma patente
para imprimir e publicar música, que foi uma das primeiras concessões desse género, no
país. Tallis passou a ter direitos exclusivos para imprimir qualquer música, em qualquer
idioma. Tallis e Byrd usaram este monopólio para produzir “Cantiones quae ab argumento
sacrae vocantur”, no mesmo ano.
Segundo Harley (2015), a coleção foi dedicada à rainha, e talvez tenha sido apresentada
no dia da celebração da coroação, a 17 de novembro de 1575. “Cantiones” contém
dezassete peças de cada compositor. A obra de Tallis, “Miserere Nostri”, para sete vozes,
com o primeiro baixo a cantar uma melodia de dezassete notas, foi a décima sétima das suas
obras na coleção. Todavia, nem todas as contribuições de Tallis para a publicação eram
novas, e algumas delas baseavam-se em obras escritas cerca de vinte anos antes.
No final de sua vida, Tallis resistiu à inovação musical dos seus contemporâneos mais
jovens, como William Byrd, que abraçou a complexidade composicional e adotou textos
construídos pela combinação de diferentes extratos bíblicos. Tallis contentou-se em compor
sobre os textos da Liturgia para os cultos da Capela Real.
10
Spem in Alium
“Spem in alium”) é um motete renascentista composto por Tallis com cerca de setenta
anos de idade. É uma das suas composições mais famosas e mais apresentadas.
A origem da obra é contada no “Commonplace BooK” de Thomas Wateridge, onde
este relata uma história de natureza quase anedótica, o que pode justificar algum
ceticismo sobre a sua veracidade:
In Queene Elizabeths time yere was à songe sent into England of 30 parts (whence
ye Italians obteyned ye name to be called ye Apices of ye world) wch beeinge Songe
made a heavenly Harmony. The Duke of [blank] bearinge à great love to Musicke
asked whether none of our English men could sett as good à songe, and Tallice
beeinge very skillfull was felt to try whether he would under take ye Matter wch he
did & made one of 40 partes wch was songe in ye longe gallery at Arundell house
wch so farre surpassed ye other yt the Duke hearinge of yt songe tooke his chayne of
gold from of his necke & putt yt about Tallice his necke & gave yt him(…) wch songe
was againe songe at yePrinces coronation. (Harley, 2015: 148)
Harley (2015) explicita que há razões para pensar que a obra enviada para Inglaterra
tinha, no entanto, 40 vozes, e tratava-se de uma missa de Alessandro Striggio, “Ecce beatum
lautam”, que visitou aquele país em 1567, conhecendo a rainha Isabel I, que elogiou o seu
madrigal “D'ogni gratia et d'amor”. Durante a sua visita, Striggio pode ter mostrado a sua
Missa a músicos ingleses. A casa de Arundel era a casa de Londres de Henry Fitzalan, conde
de Arundel. Este serviu como camareiro, sob Henrique VIII e Edwardo VI. Com Maria I e
Isabel I tornou-se Alto-Comissário. A Casa de Arundel era abastada e de grande dimensão,
pelo que é de esperar ser cenário de importante atividade musical e ter Tallis entre os
convivas habituais. O duque que terá tirado uma corrente de ouro do seu pescoço e
colocado no de Tallis, seria, provavelmente, um dos genros de Arundel, Thomas Howard, o
quarto duque de Norfolk. Assim sendo, a composição de “Spem in Alium” teria sido escrita
entre meados de 1567 e outubro de 1569, altura em que Howard foi preso, devido a uma
conspiração contra a Rainha, sendo julgado e posteriormente executado.
Se esta narrativa for verdadeira, Tallis poderá ter respondido ao desafio para defender a
honra criativa da Inglaterra ou para provar como um idoso ainda era capaz de criar uma
grande obra. Outra hipótese seria a vontade de se eternizar com uma obra-prima.
O texto latino original do motete é um responsorial (“Matinas, para a 3ª Lição”, durante a
quinta semana de setembro), no “Uso Sarum”, adaptado do “Livro de Judite”. Hoje o
11
responsorial aparece no rito latino, no “Ofício de Leituras”, na primeira lição da terça-feira
da 29ª semana do ano.
A estrutura musical de “Spem in Alium” é notável, e ao ser coordenada com a estrutura
do texto latino, o seu significado é reforçado. O motete foi escrito para 40 vozes (oito coros
de cinco vozes: soprano, contralto, tenor, barítono e baixo). Começa com uma única voz do
primeiro coro, ao qual se juntam outras vozes, em imitação, silenciando-se, cada uma, por
sua vez, enquanto a música se move em torno dos oito coros. Todas as quarenta vozes
entram, simultaneamente, em alguns compassos, e então o padrão da abertura é invertido e
a música passa do coro oito para o coro um. Há outra breve seção, após a qual, os coros
cantam em pares antifonais, emitindo o som através do espaço entre eles. Finalmente, todas
as vozes se unem para o culminar da obra.
Embora composta em estilo imitativo e ocasionalmente homofónico, as suas linhas vocais
individuais agem livremente dentro de seu elegante quadro harmónico, permitindo que um
grande número de ideias musicais sejam cantadas, durante o seu tempo de execução, cerca
de dez a doze minutos. “Spem in Alium” apresenta bastantes contrastes: as vozes individuais
cantam e silenciam-se uma de cada vez. As vozes tanto se ouvem sozinhas, como em coro,
outras vezes chamando e respondendo, assim como, também, todas juntas, mas, de tal
modo, que está muito longe de resultar numa confusão de ideias monótonas. Segundo
Harley 2015), “Spem in Alium” depende do efeito mais sobre as suas linhas melódicas do
que sobre mudanças dramáticas na tonalidade. Cada voz tem a oportunidade de seguir o seu
caminho melódico individual. As notas constitutivas de cada acorde tendem a espalhar-se
uniformemente por todas as vozes. Mas, com algumas exceções deliberadas, as vozes
raramente duplicam o som de uma nota, numa determinada oitava. 0Tallis consegue, ao
mesmo tempo, dedicar a atenção aos contornos formados pelas vozes mais altas e mais
baixas. De uma forma resumida, “Spem in Alium” estará certamente no topo das obras
corais do Renascimento, especialmente devido à sua fluidez.
12
Harley (2015) considera que devido a Tallis ter tocado órgão, durante a sua longa vida,
deve ter escrito consideravelmente mais música para o instrumento do que o que chegou
até nós. A sua obra mais antiga para órgão é “Alleluia Per te Dei Genetrix”, composta entre
1530 e meados de 1540.
A maior parte da música de teclado inicial é de natureza simples e está incluída no livro
de Thomas Mulliner, compilado entre o período de 1558 e 1564, mas o conteúdo cobre um
longo tempo e inclui mais música de John Redford do que de qualquer outro compositor
posterior, sendo pouco útil na datação das obras de Tallis.
No entanto, Tallis só escreveu verdadeiras obras virtuosas na era Isabelina, usando
cantus firmus como base para a sua composição. Duas das peças compostas, desta maneira,
“Felix Manque”, datam, a primeira, de 1562 e a segunda, de 1564. Estão ambas incluídas no
“Fitzwilliam Virginal Book”.
Estas obras inserem-se na prática de cantochão, bastante tempo depois do seu
desaparecimento do culto da Igreja Inglesa, derivando de uma tradição em que o organista
deveria executar um solo mais ou menos elaborado, em cantus firmus, no Ofertório da
Missa em honra à Virgem Maria. Ambas as peças parecem ter sido escritas não para órgão,
mas para virginal, um instrumento da família do cravo.
Provavelmente, a maioria das peças para teclado de Tallis não chegou até nós. No
entanto, o pouco que conhecemos, dá para constatar que a sua música instrumental, apesar
de apresentar bastante qualidade, não é comparável com o nível da sua música coral.
Todavia, poderá ter influenciado produções posteriores para teclado, indiretamente, visto
que o seu aluno e amigo William Byd viria a utilizar métodos pioneiros, onde o crescimento
orgânico seria sustentado pela lógica harmónica.
13
Conclusão
14
destinada a ofícios da igreja. Partindo das suas circunstâncias originais, tiveram que assumir
uma nova identidade. Felizmente, a construção musical e conteúdo das peças de Tallis
deu-lhes força para suportar uma transformação frequente em obras de concerto
independentes.
Nos últimos anos, as gravações multiplicaram-se. Esta produção, que abrange mais a
obra latina, proporciona oportunidades infinitas de escuta privada, de forma a se chegar a
um entendimento muito mais aprofundado da obra e do seu autor.
Bibliografia
Webgrafia
15