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EDUCAÇÃO E LEITURA
2003-2004
Promoção da Leitura
Prof. Doutor Fernando Martinho
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ANTÓNIO JOSÉ FORTE
1931-1988
Proposta de leitura amarrotada e ruminante
ou
Imitação dos bois sem ferro de engomar
1. INTRODUÇÃO
“Francamente, falar de surrealismo num ambiente de capacidade
crítica subdesenvolvida e de chuva miudinha, apetece pouco. Como
apetece pouco, outrossim, repetir afirmações já muito bem
atropeladas pelos profissionais da nossa esperteza literária. O
ferro-de-engomar do talento continua de serviço e quente.”
Como comunicar?
Uma faca nos dentes (2003), p. 113
Os bois e os livros
Uma faca nos dentes (2003), p. 124
Conhecia mal António José Forte, e desde já me considero muito grata pela
oportunidade de o descobrir, e de por mim fazer chegar a outros o seu humor
corrosivo e libertador, os poemas e as histórias. Propus-me, afinal, e de forma
muito simples, ler, ler bem (o melhor possível), e daí desenhar algumas
estratégias de promoção da leitura.
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2. CONTEXTOS
2.1. BIOGRAFIA
António José Forte nasce a 6 de Fevereiro de 1931 na Póvoa de Santa Iria, filho
de ferroviário. Na infância, reside em instalações da Companhia dos Caminhos de
Ferro, nesta localidade e em Vila Franca de Xira. Nos anos 50, integrou o Grupo
do Café Gelo, em Lisboa Foi funcionário da Fundação Calouste Gulbenkian,
trabalhando, durante mais de 20 anos, em bibliotecas itinerantes em regiões tão
diversas como o Vieira do Minho, Portalegre, Santarém, Loures e a periferia de
Lisboa.
Publica desde 1958 (40 noites de insónia de fogo de dentes numa girândola
implacável e outros poemas). Surge igualmente, desde 1959, (Quase três
discursos quase veementes), em publicações peródicas e antologias.
Do primeiro casamento, com Amélia, tem uma filha, Gisela, a quem dedica o
livro Uma rosa na tromba do elefante (1971). Casará em meados doa anos 70
com Aldina, que ilustra a 2ª edição deste título (2001), entre outros. Morre em
Lisboa, a 15 de Dezembro de 1988.
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A aventura, para António Maria Lisboa , é o conhecimento poético. Para Forte, é
antes acção poética, identificada com a Liberdade, a Revolta, o Desespero que a
justificam e instauram como fundamento maior da posição abjeccionista. Para
ambos, fundamental, pois “seria irrelevante qualquer actividade intelectual que
não fosse antes de mais uma aventura [no modo] de viver” (Fernando B.
Martinho :1985, p.90)
Cinco anos depois, como continua esta genealogia? Uma rápida pesquisa na Web
devolve-me um razoável número de poemas de António José Forte, poeta à
margem das selectas escolares de quase sempre. Retirados de Uma faca nos
dentes, mostram bem a sua actualidade, na mesma frente de combate em que
florescem novas ironias destruidoras / propiciadoras de reinvenção do mundo. A
morte que aqui surge em negro trapézio de ironia seria bem confrontada com a
que nos trazem outros autores mais recentes, como Mia Couto e José Peixoto.
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3. LINHAS DE LEITURA
Todas as linhas de leitura foram desenvolvidas a partir dos livros Uma rosa na
tromba do elefante (2001) e Uma faca nos dentes (2003).
O princípio geral que experimento nestas propostas é o de exercer, até onde for
possível, uma espécie de leitura pelo avesso, lendo e relendo os textos como
gritos, de forma cordata e também em posições adversas, de forma a multiplicar
as modalidades de ruminação, ou seja, de apropriação activa, mais ou menos
consciente do próprio processo, do lido pelo leitor.
1. Leitura das páginas dos poemas As bicicletas (in Uma rosa....): jogos de
observação do espaço, das imagens, dos sons e das palavras
2. Jogos de leitura oral como gritos / em surdina / com tristeza / com
entusiasmo (todo o livro o permite / o incita)
3. Associações livres a partir dos poemas. Novos poemas: contados/falados,
cantados, pintados/desenhados/caligrafados
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Título Primeiros versos 1 2 3 4 5
Poema Alguma coisa onde tu parada X X X X X
fosses depois das lágrimas uma ilha
Libertação Descerão por paredes sangrentas X X X X X
e subirão do asfalto
ganindo com um prego na língua
com os pulsos atados às patas
O Poeta em Lisboa Quatro horas da tarde. X X
O poeta sai de casa com uma aranha nos cabelos.
Azuliante Este poema X X
começa com um homem de tronco nu
Um homem De repente X X
como uma flor violenta
Retrato do Artista em Com o focinho entre dois olhos muito grandes X X
Cão Jovem por trás de lágrimas maiores
Reservado ao veneno Hoje é um dia reservado ao veneno X X
e às pequeninas coisas
O bom artífice Entretanto X X
dez séculos mais tarde no local do drama
o diabo
diante do seu fomo
Memorial As tuas mãos que a tua mãe cortou X X
para exemplo duma cidade inteira
Ainda não Ainda não X X
não há dinheiro para partir de vez
Dente por dente Outros antes de nós tentaram o mesmo esforço: dente por dente: X X
não, nunca olhar de soslaio e manter a cabeça escarlate
Declaração Eu de barba branca a tiracolo X X
rodeado de fumo por todos os lados vadios
menos pelo lado do mar
Um poema Deves ter razão X X
e certamente a História não demorará a pôr-te os cornos
um corno vermelho e outro corno negro
grande e delirante cornudo
meninotauro bufando
Pistas Bibliográficas
1. 40 noites de insónias (1960) 4. Antologia da poesia portuguesa : 1940-
2. Uma Faca nos Dentes (1983, 2003) 1977 (1979)
3. O surrealismo na poesia portuguesa 5. Web (2003)
(1973, 2003)
Textos em foco:
Memorial - O que é o surrealismo? - É a morte dos
As tuas mãos que a tua mãe cortou séculos projectando uma sombra muito longa
para exemplo duma cidade inteira debaixo da água do sonho.[...]
o teu nome que os teus irmãos gastaram - O que é o sonho? - É uma chamada
dia a dia e que por fim morreu obscurecida pelo recalcamento do desejo.
atravessado na tua própria garganta
as tuas pernas os teus cabelos percorridos Excerto de «O DIÁLOGO EM 1948» de MÁRIO
rato após rato tantos anos CESARINY
durante tanta alegria que não era tua
os teus olhos mortos eles também
na primeira ocasião do teu amante
assim como as palavras ainda fumegando
docemente
sob as pedras de silêncio que lhes atiraram
para cima
o teu sexo os teus ombros
tudo finalmente soterrado
para descanso de todos
- mesmo dos que estavam ausentes
Uma Faca nos Dentes (1983, 2003)
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3.4. ABC DE ANTÓNIO JOSÉ FORTE
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4. BIBLIOGRAFIA ACTIVA
40 noites de insónia de fogo de dentes numa girândola implacável e outros poemas. Lisboa : A. J.
Forte, 1958. 30, [2] p. : il. ; 19 cm. (A antologia em 1958)
«Os bois e os livros». In: O Apolinário : órgão da Livraria Apolo. - Santarém. - (Maio 1972)
«Breve notícia, breve elogio do Grupo do Café Gelo». In: JL : jornal de letras artes e ideias / propr. e
dir. José Carlos de Vasconcelos. - Lisboa : Dijornal [distrib.], 1981- . - (18-24 fev. 1986)
Caligrafia ardente. Lisboa : Hiena, 1987. 27, [4] p. : 1 des. original ; 21 cm. (Ideias e atitudes ; 7). PT|
16548/87
«Carta à Direcção do Serviço de Bibliotecas Itinerantes». In: Boletim do Sindicato dos Encarregados e
Ajudantes de Bibliotecas de Portugal . - Lisboa. - (Fev. 1991)
«Como comunicar?». In: O templário / Sociedade Editora de Publicações ; dir. Urbano Rei.
- Tomar : S.E.P., 1980- . - Supl. Labareda. - (10 Nov. 1963)
Corpo de ninguém. Lisboa : Hiena, 1989. 111 p. : il. ; 21 cm. (Ideias e atitudes ; 14). PT|26224/89
«Declaração». In:
Notícias de Chaves / dir. e ed. Henrique de Almeida. - Chaves, 1950- . - Supl. Atrium. - Nº 3 (23 Set. 1961).
Correio do Ribatejo. - Santarém. - Supl. Portas do Sol. - Nº 56 (21 Set. 1963)
«Dente por dente». In: Contraponto : cadernos de crítica e arte. - Sertã. - Nº 3 (1962)
«Desobediência civil». In: Corpo de ninguém / António José Forte ; des. Aldina. - Lisboa : Hiena, 1989.
Conjunto de poemas
«Escutai!». In: Notícias de Chaves / dir. e ed. Henrique de Almeida. - Chaves, 1950- . - Supl. Atrium. - Nº6
(10 Fev. 1962)
«Uma faca nos dentes». In: Surrealismo abjeccionismo : antologia de obras em português seleccionadas
por Mário Cesariny de Vasconcelos de acordo com o propósito inicial. - Lisboa : Minotauro, 1963
Uma faca nos dentes. Lisboa : & Etc, imp. 1983. 64, [4] p. : il. ; 18 cm
Uma faca nos dentes. 2ª ed. aumentada. Lisboa : Parceria A M Pereira, 2003. 158 p. : il. ; 21 cm. PT|
192293/03. ISBN 972-8645-14-7
«Libertação». In:
O surrealismo na poesia portuguesa / compil., anot., e pref. de Natália Correia. - 2ª ed. - Lisboa : Frenesi,
2003.- p. 418.
Antologia da poesia portuguesa : 1940-1977 / compil. Maria Alberta Menéres, E. M. de Melo e Castro. -1ª ed.
- Lisboa : Moraes, 1979-. - Vol. 2, p. 131-132
Natal de 1964 [Postal]. Santarém : António José Forte, 1964. Ed. do autor
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Antologia da poesia portuguesa : 1940-1977 / compil. Maria Alberta Menéres, E. M. de Melo e Castro. - 1ª ed.
- Lisboa : Moraes, 1979-. - Vol. 2, p. 132-136
«Poema». In:
O surrealismo na poesia portuguesa / compil., anot., e pref. de Natália Correia. - 2ª ed. - Lisboa : Frenesi,
2003.- p. 93-94.
Antologia da poesia portuguesa : 1940-1977 / compil. Maria Alberta Menéres, E. M. de Melo e Castro. - 1ª ed.
- Lisboa : Moraes, 1979-. - Vol. 2, p. 131
«Prefácio ; Grande écran ; Assinatura ; Mar de Ninguém ; O nome». In: Colóquio Letras / propr. e ed.
Fundação Calouste Gulbenkian ; dir. Hernâni Cidade e Jacinto do Prado Coelho. - Lisboa : F.C.G., 1971-. - Nº
90 (Março 1986). Poemas posteriormente publicados em livro Caligrafia ardente, Lisboa : Hiena, 1987
«Quase três discursos quase veementes». In: Pirâmide : antologia / Carlos Loures e Máximo Lisboa.
- Lisboa : [s.n.], 1959-1960. - Nº 2 (Junho 1959)
«Recital e colóquio sobra a novíssima poesia portuguesa». In: O templário / Sociedade Editora de
Publicações ; dir. Urbano Rei. - Tomar : S.E.P., 1980- . - Supl. Labareda. - (17 Nov. 1963)
«Recordar». In: Boletim cultural / Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas, Fundação Calouste Gulbenkian ;
orientação de David Mourão Ferreira. - Lisboa : F.C.G., 1984- . - VI série, nº 2 (Junho 1984)
Uma rosa na tromba de um elefante. [Lisboa] : Afrodite, 1971. 85, [3] p. : il. ; 21 cm. (Infantil cabra-
cega ; 8)
Uma rosa na tromba de um elefante. 2ª ed. aumentada. Lisboa : Parceria A M Pereira, 2001. [115] p. : il. ;
22 x 32 cm. PT|17379/01. ISBN 972-8645-08-2
«Teses sobre a visita do Papa». In: A Batalha. - Lisboa. - Ano IX, VI série, Nº 90 (Dez. 1982)
Teses sobre a visita do Papa. [S.l. : s.n.], 1982. (Lisboa : Tip. Freitas Brito). [4] p. ; 21 cm
HELDER, Herberto, 1930- - «Nota inútil». In: Uma faca nos dentes / de António José Forte ; pref.
Herberto Helder ; desenhos Aldina. - 2º ed. aumentada. - Lisboa : Parceria A M Pereira, 2003. - p. 9-16.
Prefácio
MARINHO, Maria de Fátima, 1954- - «Surrealismo». In: História da literatura portuguesa / dir. Óscar
Lopes, Maria de Fátima Marinho. - Lisboa : Alfa, 2002. - Vol. 7, p. 269-302
MARTINHO, Fernando J. B., 1938- - «António José Forte : uma faca nos dentes : ed. & ETC, Lisboa,
1983». In: Colóquio Letras / propr. e ed. Fundação Calouste Gulbenkian ; dir. Hernâni Cidade e Jacinto do
Prado Coelho. - Lisboa : F.C.G., 1971-. - Nº 86 (Julho 1985). - p. 89-90. Recensão crítica
MARTINHO, Fernando J. B., 1938- - «Poesia». In: Colóquio Letras / propr. e ed. Fundação Calouste
Gulbenkian ; dir. Hernâni Cidade e Jacinto do Prado Coelho. - Lisboa : F.C.G., 1971-. - Nº 78 (Março 1984). -
p. 17-29. Recensão crítica
MARTINHO, Fernando J. B., 1938- [et al.] - «Le surrealisme portugais surréalisme periphérique :
catalogue de l'esposition à la Galerie UQUAM, 1983». In: Colóquio Letras / propr. e ed. Fundação
Calouste Gulbenkian ; dir. Hernâni Cidade e Jacinto do Prado Coelho. - Lisboa : F.C.G., 1971-. - Nº 94 (1986).
- p. 131-133
PACHECO, Luís - Mano Forte : dezassete cartas de Luiz Pacheco a António José Forte. Lisboa :
Alexandria, 2002. ISBN 972-98806-0-3
SALVADOR, Marisa João Lopes - Poesia e ficção [Texto policopiado]: António José Forte, Ernesto
Sampaio e Manuel de Castro. Lisboa : [s. n.], 2002. 144 f. ; 30 cm ; 30 cm. Tese de mestrado Literatura
Portuguesa Contemporânea Univ. Lisboa, 2002 . Bibliografia, f. 121-144
CORREIA NATÁLIA, 1923-1993, compil. - O surrealismo na poesia portuguesa. compil., anot., e pref.
de Natália Correia. Mem Martins : Europa-América, 1973. 418, [4] p. ; 19 cm. (Estudos e documentos ; 81)
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CORREIA NATÁLIA, 1923-1993, compil. - O surrealismo na poesia portuguesa. 2ª ed. Lisboa :
Frenesi, 2003. 542 p.. ISBN 972-8351-63-1
Maria Aldina da Costa Neves Forte, nasce em 1939 nas Caldas da Rainha. Nos anos 50,
ainda em Caldas da Rainha, inicia-se como ceramista, sob a orientação de Hansi Satel,
na Fábica de Cerâmica Secla. Frequenta a Escola de Artes Decorativas António Arroio, em
Lisboa, entre 1969 e 1963. Desde 1964, até hoje, lecciona na mesma Escola pintura
cerâmica.
Em 1962, expõe pela primeira vez (exp. colectiva, Estoril). Estuda Pintura na ESBAL,
onde, em 1979, defende uma tese de licenciatura, com Querubim Lapa, sobre o chamado
Grupo do Café Gelo. Está representada no Museu de Arte Contemporânea e em diversas
colecções particulares nacionais e estrangeiras
Colaboração em revistas: & Etc : Magazine das Artes, das Letras e do Espectáculo;
Diário de Lisboa; Abril em Maio
Edições:
Ilustrações e capas
• Jogos de Azar / José Cardoso Pires, 2ª edição, Ulisseia, Lisboa, 1966
• O Servo de Deus e A Casa Roubada / Aquilino Ribeiro, Ed. especial da Bertrand,
Lisboa, 1967, Coisas / volume colectivo, Ed. & etc, Lisboa, 1974
• Uma Faca nos Dentes/ António José Forte ; prefácio de Herberto Helder), &etc,
Lisboa, 1983
• Dia a Dia Amante, "Caligrafia Ardente" e "Corpo de Ninguém" / António José
Forte, Hiena Editora, Lisboa, 1986, 1987 e 1989, respectivamente
• Anunciada Embarcação na Histeria / Sofia Crespo, Ed. &etc, Lisboa, 1997
• Cadeias de Transmissão / Fátima Maldonado, Ed.Frenesi, Lisboa, 1988
• Uma Rosa na Tromba de um Elefante / António José Forte, reeditado pela Parceria
A.M.Pereira, Lisboa, 2001
Teatro
• Comunidade / Luiz Pacheco ; encen. José Carretas; repres. Cândido Ferreira -
Catálogo e exposição que acompanhram a encenação de representação do texto
no Teatro da Cornucópia e, depois, no Ritz Club (Lisboa, 1988)
• Com uma Faca nos Dentes / guião de Vergílio Martinho, a partir da poesia de
António José Forte, pela Companhia de Teatro de Almada, em 1989, e encenação
de Joaquim Benite
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