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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE 1

9ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DOS DIREITOS DO CIDADÃO


ESPECIALIZADA NA DEFESA DOS DIREITOS À SAÚDE

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA __ VARA CÍVEL DA


COMARCA DE ARACAJU – ESTADO DE SERGIPE

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE, por seus presentantes


em exercício na 9ª Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos do Cidadão e no Grupo de
Combate à Improbidade Administrativa - GCIA, vêm, perante V. Exa., no uso de suas atribuições
legais e com base nos artigos 127, 129, III e 37, caput e incisos II, III e IV da Constituição Federal,

art. 25, IV, “a” e “b” da Lei n.° 8.625/93, art. 46, VI, “b”, da Lei Complementar n. º 25/98 e na Lei
n.° 7.347/85, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA PELA PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA em desfavor de JOSÉ ALMEIDA LIMA, brasileiro, advogado, casado,
natural de Santa Rosa de Lima/SE, nascido em 28/09/1953, OAB/SE 851, CPF 102.237.385-49,
residente e domiciliado na Praça Theodorico do Prado Montes, nº 28, Farolândia, Aracaju/SE; e,
JACKSON BARRETO DE LIMA, brasileiro, advogado, solteiro, natural de Santa Rosa de Lima/
SE, nascido em 06/05/1944, RG 111.219, SSP/SE, CPF 038.622.325-49, residente e domiciliado na
Rua Gervásio de Araújo Souza, nº 613, Atalaia, Aracaju/SE, pelos substratos fáticos e jurídicos a
seguir expostos.
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I- DELINEAMENTO FÁTICO. PANORAMA GERAL DOS ATOS DE IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA QUE ACARRETARAM OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.

Lastreia-se esta ação no procedimento preparatório de inquérito civil n.º


54.18.01.0064 instaurado nesta Promotoria Especializada a partir de notícias veiculadas na
imprensa dando conta de suposta simulação na inauguração do “Centro de Nefrologia e
Hemodiálise” do Hospital de Urgência de Sergipe – HUSE, ocorrida em 05 de abril de 2018 e
promovida pelos requeridos, à época Secretário de Estado da Saúde e Governador do Estado,
respectivamente. A solenidade, ressalte-se, foi um dos últimos atos do então Governador que, no dia
seguinte, deixou o cargo para, conforme legislação vigente, desincompatibilizar-se e, assim,
concorrer a uma vaga para o Senado, fato público e notório.

Quando da inauguração, anunciada, coberta e divulgada pela imprensa local e pelo


governo do Estado, por meio da página da Secretaria de Estado da Saúde na rede mundial de
computadores, foram prometidas melhorias na capacidade de atendimento aos pacientes do hospital
que necessitam de hemodiálise, passando-se a atender o dobro de pacientes do que até então a
capacidade instalada permitia.

Ocorre que no dia seguinte à inauguração, membros do Conselho Estadual de Saúde


e a Presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe
compareceram à unidade hospitalar e se depararam com o recém-inaugurado “Centro de
Nefrologia” “totalmente desmontado”. Segundo relatório de fiscalização que consta dos autos do
procedimento (fls. 92/104), a “obra inaugurada, ainda por concluir, fiação exposta, louças
sanitárias ainda por instalar, aparelhos de ar-condicionado sendo montados”.

O fato teve imediata repercussão, o que motivou visita de inspeção por parte do
MPSE, realizada no dia 09 de abril de 2018, estando o respectivo Relatório de Visita encartado às
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fls. 53/54 dos autos do procedimento, sendo oportuno destacar das constatações que: a) o local não
estava funcionando, vez que ainda estava em obras, lá não havia nenhum equipamento de
hemodiálise e não era possível a utilização do espaço para o fim a que se destinava; b) os
equipamentos que estavam no local no momento da inauguração foram colocados para a
apresentação; c) a obra seria concluída em prazo estimado de 10 (dez) dias; os elevadores que
possuíam ligação com o espaço que em funcionaria o “Centro de Nefrologia” não estavam em
funcionamento; d) a quantidade de equipamentos de ar-condicionado instalados no local era
insuficiente para o funcionamento do setor. Foram retiradas fotografias no local, consoante mídia
acostada aos autos (fl. 20), que demonstram que o local, que dias antes fora inaugurado e entregue
como pronto, era um canteiro de obras. A título exemplificativo, algumas das fotografias tiradas na
data da inspeção, alguns dias depois da inauguração, que retratam realidade diversa da exibida no
dia da inauguração e que pode ser vista nos vídeos anexos:
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Os fatos mereceram atenção da sociedade civil organizada e da população em geral,


como asseguram os documentos que constam às fls. 42 e 51 dos autos do procedimento. Ademais,
houve ampla divulgação na imprensa local, conforme vídeos contidos nas mídias de fls. 19, 76 e
109, especialmente porque o anterior ato de inauguração foi amplamente coberto. Na véspera do
evento, em programa exibido pela TV Atalaia (mídia à fl. 109), o primeiro requerido definiu o
Centro de Nefrologia como uma “grande novidade” e informou a “instalação, a partir de amanhã,
de 35 novos leitos nesse Centro de Nefrologia”.

No dia da solenidade, após descerramento de faixa e exibição de fotografia do


homenageado que deu nome ao local, o segundo requerido afirmou que inaugurava o local e que
estavam entregando dois grandes serviços (o Centro de Nefrologia e o aparelho de radioterapia
inaugurado minutos antes).

Durante o procedimento extrajudicial foi apurado que o serviço de hemodiálise no


HUSE é prestado pela SENEFRO/DIAVERUM, contratada pela Fundação Hospitalar de Saúde. O
contrato de prestação de serviços envolve o fornecimento de equipamentos e a realização das
sessões de hemodiálise, incluído o pessoal de enfermagem. Representantes da SENEFRO
esclareceram em depoimentos prestados nos autos do procedimento que havia no hospital 16
máquinas de hemodiálise, das quais 13 eram fixos e 03 portáteis e que o “Centro de Nefrologia”
recém-inaugurado nada mais seria do que um novo espaço para acomodação de todas as máquinas
em um único lugar, o que permite a realização simultânea de mais atendimentos em cada turno com
a mesma logística já existente no local. Pontuaram, ademais, que o novo local não poderia ser
chamado de “Centro de Nefrologia”, tratando-se somente de uma nova sala onde passaria a ser feita
a hemodiálise de que necessitam pacientes do HUSE. Centro de Nefrologia traz a percepção de que
seria local para prestação de atendimento ambulatorial para o paciente renal crônico, serviço que
não é prestado pelo Hospital de Urgências.

Nesse sentido, as declarações de LÍGIA DE CÁSSIA BARBOSA DO


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NASCIMENTO (mídia à fl. 36) que, indagada se o local poderia ser considerado um Centro de
Nefrologia, disse:

“para a gente não, para o prestador é uma sala onde vai ser feita a hemodiálise. O
nome centro de nefrologia fica transparecendo que é um serviço ambulatorial, que é
para o renal crônico, que é como existe em outras clínicas aqui dentro de Aracaju,
tem outras clínicas que são para atendimento do renal crônico, que não é o objetivo
e não é a função do hospital. O hospital recebe o paciente renal agudo, ou seja, que
ele chega no hospital, ele as vezes nem sabe que ele tem um problema renal, por uma
cirurgia ou alguma coisa e tal, que precise fazer hemodiálise porque o rim não está
suportando, enfim, uma série de questões médicas que eu não sei. Mas enfim é para
atender a hemodiálise intra hospitalar, para atender ao paciente renal agudo, que
chega no HUSE e precisa fazer hemodiálise, não necessariamente por problema renal.
Esses pacientes geralmente vêm daí ou alguma intercorrência que gerou uma
necessidade de se fazer hemodiálise. (...) Então quando se coloca o nome centro de
nefrologia, deixou transparecer, foi uma surpresa para gente quando chegamos lá e
vimos esse nome 'centro de nefrologia', 'gente, não é um centro de nefrologia, é uma
sala de fazer diálise'. Aí houve esse trocadilho em que criou toda essa, toda essa, essa
celeuma, mas enfim nós tínhamos avisado para, quando vimos o nome lá centro de
nefrologia, nós avisamos para o pessoal que aquilo ali deveria ter ao menos um
complemento, botar 'centro de nefrologia intra hospitalar'. (...) Que quando vocês
chegaram lá, nos encontraram lá no hospital, lá na sala, com o pessoal, com a direção
do hospital já pontuando o que era que faltava para que a gente pudesse entrar ali. E
foi, aí foi que a gente comentou sobre esse nome do centro de nefrologia, 'olhe, vocês
deveriam colocar intra hospitalar, para não dar a impressão de que é um centro, que é
porta aberta, que todo mundo que é crônico pode chegar aqui e fazer a hemodiálise,
porque não é'. Até porque o HUSE tem uma fila lá, o último conhecimento meu, acho
que tinham, acho que eram 21 pacientes, que estavam morando lá no HUSE, porque
não tem renais crônicos, porque não tem vaga dentro de Aracaju para esses pacientes.
Eles são atendidos porque estão no HUSE, porque eles não recebem alta porque não
tem onde fazer. Mas não é uma pessoa que recebe alta e voltar para lá e fazer, não,
porque não é o objetivo nosso e não é o que está contratualizado e o hospital também
não pode oferecer esse tipo de serviço porque ele não é contratualizado para isso. Ele
tem um contrato e no rol de procedimento deles está que ele tem que prestar diálise
para paciente agudo e não para paciente crônico.(...)"

Sobre a inauguração, informou que:

“(…) foi solicitado para gente que se nós poderíamos descer com os equipamentos
para botar lá, para tirar umas fotos e porque o Governador iria lá e aí a gente
colocou; não se falou claramente que seria uma inauguração para sair assim como se
ia, que ia já funcionar. Eles pediram para gente, que o Governador iria para fazer
uma inauguração de todo o espaço, a palavra inauguração foi dita assim para fazer a
inauguração de todo o espaço e que eles gostariam que a gente descesse as máquinas
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e posicionasse lá, pronto. Foram todas as máquinas. Logo depois que terminou a
solenidade nós retiramos, que aí tinham que fazer. As máquinas ficaram lá de manhã,
houve a solenidade de manhã, acho que tipo assim, 10 hs, 11 hs, que terminou a
solenidade, nós retiramos a máquina, até porque precisávamos continuar o serviço,
para não deixar nenhum paciente dialisar. Não importou nenhum prejuízo para os
pacientes, de jeito nenhum, porque já tinha, é como eu lhe disse, a gente fica
esperando que o médico, a prescrição. Foi pedido isso para fazer, que era para descer,
se a gente poderia descer os equipamentos para deixar lá na sala porque o
Governador iria fazer uma solenidade, tirar umas fotos para divulgar, para fazer uma
solenidade de inauguração do espaço. (...) O espaço não estava pronto para funcionar.
Tanto que a gente não desceu com essa intenção e não foi nos passado isso. Tanto que
nós temos uma correspondência do dia 28 de março, que nós passamos para, para eles
colocando o que era que faltava no espaço para que a gente pudesse funcionar. (…)
Ainda faltava a questão de descer a osmose, como eu te falei, a gente precisa para
descer a osmose, nós precisamos de 02 dias e nós já fizemos todos, já avisamos ao
HUSE que no momento de descer, que nós vamos parar 02 dias, mas assim sem
prejuízo para o paciente (...) Mas enfim não dava para mudar, para mudar, ainda não
estava em condições de mudar, porque a osmose ainda também não tinha sido
mudada.(...) E aí logo após a inauguração, nós tivemos uma reunião pontuando
mais uma vez todas as coisas que nós precisávamos para mudar e que prazo, na
verdade o prazo quem teria que nos dar era ele e não nós, porque precisava ter uma
estrutura já adequada, dado o ok, para que a gente pudesse mudar."

Outra pessoa ouvida, SOPHIA DA FONSECA BARBOZA (mídia à fl. 36),


enfermeira da SENEFRO que desempenha suas funções no HUSE, sobre a obra no local, disse que:

“algumas vezes a gente foi procurado para dar uma orientação em relação a nossa
necessidade, porque como era algo específico, algo especializado, então na verdade
eles queriam saber da gente, o que a gente precisaria naquele espaço, e, para que
funcionasse de forma mais adequada. E aí a gente foi orientando. A gente viu o projeto
com o arquiteto algumas vezes, mas assim a obra é do hospital, a gente só fez dar um
auxílio mesmo. E aí passaram para gente que eles iam inaugurar, apresentar a
estrutura física, a gente passou para eles que a gente não tinha como funcionar na
situação que estava. (...)A osmose da gente é uma estação de tratamento de água, que
é uma estação fixa. Então para a gente poder descer esse equipamento da sala atual
para essa sala nova, a gente precisa de uma série de ajustes, tipo, eu preciso paralisar
o serviço por um prazo de 48 horas, né que a gente até comentou no dia da visita, é, eu
preciso fazer teste da água, então não é uma coisa terminou a obra agora, a gente vai
descer, né. A sala ainda não estava com ar-condicionado e o equipamento da gente
não pode rodar sem ar-condicionado, por conta de esquentar a fonte, ter
complicações com o equipamento. Então eles estavam cientes de que a gente não iria
funcionar. Que na verdade não teria condição operacional para isso. Então, pediram
apenas para gente ceder as máquinas que a gente já têm, que foi o que a gente viu,
para mostrar, que já existem os equipamentos, a sala, enfim.(…) na verdade não foi
uma montagem, a gente só desceu os equipamentos, no mesmo dia, porque, esses
equipamentos, é o que a gente utiliza no hospital (…) o pedido foi feito na mesma
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semana da inauguração, precisariam para mostrar, mas que seria informado que não
ia funcionar, que era para mostrar os equipamentos, como ficaria o layout da sala.
(...)a gente colocou alguns pontos também para eles que a gente precisa para iniciar o
atendimento, que a gente informou em CI e tudo, que é a liberação de uma linha
telefônica porque a gente usa internet para questão de controle de material, essas
coisas, que isso já está resolvido. Existe uma questão do elevador também, para
movimentação do paciente, por ser um ambiente mais afastado, a gente solicitou a
questão do elevador, mas que a gente sabe que não é algo que vai resolver amanhã,
nem na próxima semana. Se eles entregarem a obra, a gente se organiza até lá,
questão da logística dos pacientes (...). Então se eles entregarem hoje, por exemplo, eu
não sei como é que está o andamento, porque hoje eu ainda não fui lá para ver. Mas se
eles entregarem hoje a gente pode mudar, começar a mudança amanhã à noite, porque
eu dialiso todo mundo amanhã, que precisar, e aí à noite a gente começa a fazer esse
processo de mudança, para voltar a funcionar na terça(...)”

No tocante ao nome inicialmente dado ao local, ressaltou que:

“(…) então, na verdade, a denominação do nome é que não condiz. Na verdade eu não
sei se foi questão de assessoria, eu não sei do que foi colocado como centro de
nefrologia. O entendimento que a gente tem, para quem trabalha com nefrologia, é que
centro de nefrologia é algo ambulatorial, e que não é o que a gente faz, diálise de
paciente agudo, que está internado. Então talvez o centro de nefrologia não seja o
mais adequado, talvez você pode colocar unidade intra hospitalar de nefrologia, mas,
na verdade, o que a gente vai fazer lá é o que a gente já faz, que é a diálise de paciente
internado e, de preferência, voltado para paciente agudo (...)”

Assim, os depoimentos prestados pelas funcionárias da SENEFRO, confirmaram as


informações e constatações de que no dia da inauguração do “Centro de Nefrologia” as obras da
sala ainda não estavam concluídas e, consequentemente, não havia a possibilidade de
funcionamento do serviço de nefrologia no local, já que inviável o início do processo de instalação
da central de osmose, a cargo da SENEFRO. Vale dizer, o serviço não começou a ser prestado no
local a partir da data da inauguração porque as obras de responsabilidade da Secretaria de Estado da
Saúde/Fundação Hospitalar de Saúde não estavam concluídas, e não porque estaria em curso o
processo de instalação da central de osmose.

Também foi inquirido LUIZ EDUARDO PRADO CORREIA (mídia à fl. 36),
Superintendente do HUSE à época dos fatos que, além de deixar claro que as determinações para a
inauguração partiram da Secretaria de Estado da Saúde, disse:
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“(…) na verdade, primeiro os equipamentos já existiam, são os equipamentos que


funcionam para os pacientes, na verdade o que pode ter havido é uma falha de
comunicação, porque tem o próprio áudio da inauguração, o Secretário citando ao
Governador, porque estava todo mundo com muito calor, eu realmente estava todo
molhado e só tinha dois ar-condicionado funcionando, que ali é inviável dois ar-
condicionado e deveria ter só 18 leitos. Dos 36 só tinham os 18. E eu me lembro
claramente o próprio Secretário de Saúde avisando ao Governador e a mídia
presente, aos funcionários, às pessoas que estavam presentes 'Governador, eu estou
avisando que nesse momento, vocês se contarem aí não tem os 36 leitos, tem os 35
com o isolamento 36, por quê? Ainda vai ser feito uma bancada de MDF aqui no
meio, que vão ficar de 10 a 12 leitos, nessa bancada, ao redor da bancada e como
também a instalação dos ares-condicionados restantes. Eu peço mais alguns dias
para os pacientes começarem a ser atendidos aqui'. Ou seja, um pedido foi, veio da
Secretaria realmente, para quê? Para mostrar como ficaria o espaço quando
estivesse totalmente pronto. Pedimos, na verdade, foi via diretor operacional, para
colocar, entendeu, para mostrar na inauguração como ficará o espaço novo. O que
pode ter havido realmente uma comunicação melhor, avisar naquele momento
quantos dias mais precisaria efetivamente para os pacientes serem transferidos para
aquele setor.(...)pode ter havido uma falha de comunicação, o que? Avisar na
inauguração quantos dias mais ia precisar para os pacientes serem atendidos. Na
inauguração tem, na inauguração tem o áudio. Na inauguração tem o áudio que o
Secretário separou o áudio para mostrar ao Governador e a imprensa. O áudio ele
falando que precisaria de mais alguns dias para os ar-condicionados e mais alguns
dias para colocar o MDF no meio, uma bancada, mais 10 ou 12 leitos, que não tinha
um número suficiente de leitos ainda. Isso foi informado naquele ato. A gente
continuou, por quê? O Governador ia sair, eu acho, naquela semana realmente. E a
gente queria fazer, a Secretaria, junto da radioterapia. Fizemos a da radioterapia e já
estava funcionando realmente com pacientes e a nefro já ia fazer avisando quando é
que começaria a funcionar efetivamente. É isso que eu acredito, entendeu? Possa ter
havido realmente uma falha da comunicação. Isso poderia ter sido mais reforçado,
vamos dizer assim, para a sociedade. Agora os equipamentos têm, os equipamentos
são os mesmos que a empresa usa hoje.

O primeiro requerido, antigo Secretário de Estado da Saúde, afirmou em depoimento


(mídia à fl. 64) que foi sua a decisão sobre a data da inauguração e que o segundo requerido, então
Governador do Estado, não tinha ciência quanto à situação das obras. No mais, tentou justificar o
não início do serviço com o fato de que seria necessária a instalação da central de osmose por parte
da SENEFRO, e se contradisse quanto a fato da sala estar pronta ou não:

“(…) Primeiro que você não inaugura um centro hospitalar com os pacientes dentro,
do ponto de vista da saúde e da infectologia, isso não é nem permitido. Você faz uma
inauguração para depois funcionar. Você faz a inauguração, depois vai fazer a
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limpeza, desinfecção, todo um trabalho que normalmente se faz, para depois botar
para funcionar. E uma estrutura como aquela, que estava pronta, e colocamos
pacientes lá dentro 07 dias úteis depois, só Deus que fez o mundo em 07 dias. Eu não
tenho essa capacidade de pegar uma obra daquela do zero e 07 dias úteis depois
entregar funcionando, sendo uma unidade referência no país em nefrologia,
hemodiálise intra-hospitalar.(…) Eu tinha dito: 'pessoal, não está concluído', até
porque naquela primeira sala, que é a hemodiálise, e eu já estava na segunda, dos
leitos, nós falamos que são 35 leitos, e aqui vocês podem verificar, com a imprensa
presente, essa mesma imprensa, essa mesma imprensa calhorda presente, ouviram eu
dizer: são 35 leitos, eu disse lá que são 35 leitos, mas vocês não vão encontrar 35
leitos. Por que razão? Porque aqui na parte central ainda eu preciso colocar uma
divisória de MDF, ainda cheguei ao detalhe de MDF dessa altura, porque de um lado
aqui e de outro vamos completar com os leitos e estaremos colocando no correr da
semana, exatamente, porque iremos funcionar daqui a 8, 10 dias, que era exatamente
quando o planejamento iria permitir, que estava feito com a empresa SENEFRO, que
estava lá acompanhando pari passu (...)”

O segundo requerido, quando ouvido (mídia à fl. 78), consignou:

“(…) como Governador de Estado eu fui ao HUSE fazer a inauguração da


radioterapia e no mesmo momento o Secretário da Saúde nos informava que a
nefrologia estava pronta, todos os equipamentos estavam prontos e depois da
unidade da radioterapia nós fomos a essa unidade de nefrologia para fazer a sua
entrega e lá nós encontramos as máquinas, os equipamentos, as camas (…) Então
nós inauguramos a unidade de radioterapia, que sempre foi um grande objetivo do
nosso governo para o tratamento oncológico e depois da unidade de radioterapia nós
fomos entregar o centro de nefrologia. Lá nós encontramos as máquinas, nós
encontramos as camas, nós encontramos as informações e naquele momento foi
informado que as máquinas ainda não estavam ligadas, os equipamentos que
precisavam de um tempo. Eu estava saindo do governo e logo em seguida eu viajei.
(…) No dia que fui lá para entregar, as máquinas estavam, os equipamentos, as camas,
eu não entendo tecnicamente da ligação dos aparelhos e fiz a entrega que graças a
Deus hoje está funcionando. Durou apenas 08 dias para complementação dos
trabalhos, a ligação dos aparelhos, equipamentos e a informação que eu obtive é que
08 dias após o ato da entrega os equipamentos e as máquinas estavam funcionando
(…) Eu sabia que nós íamos fazer essa entrega da nefrologia, o que eu não sabia é
que as máquinas e equipamentos não estavam ligadas porque eu não entendo essa
parte, é uma parte mais técnica, a informação que eu tinha é de que estava lá e eu
fui fazer a entrega, mas esse detalhe da ligação das máquinas, dos equipamentos
funcionando, eu não tinha essas informações. A unidade de radioterapia nós vimos
com os nossos próprios olhos o seu funcionamento, já na unidade, na nova unidade de
nefrologia nós encontramos lá as máquinas e os equipamentos já colocados na nova
área. E como era um sonho de todos nós entregar uma área mais humanizada, eu fui lá
conhecer a área mas eu já sabia de antemão que essa área ia funcionar a nefrologia e
que já estava com os equipamentos. Eu fui para entrega desses equipamentos mas não
sabia essa parte técnica de que depois tinha que fazer essa ligação das máquinas, que
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seu funcionamento não era feito de forma automática, até porque não podia transferir
os pacientes de forma automática, que tinha ainda alguns procedimentos de ordem
técnica, essa parte eu não sabia, não sei, porque também não me competia e como
Governador do Estado eu não tinha que saber esses detalhes.(…) E então eu fui lá
para entregar o centro de nefrologia. Agora não tinha a informação técnica de que
logo, logo, após a inauguração a entrega não seria, não estaria funcionando, as
máquinas tinham que ter um prazo aí para fazer a ligação desse aparelho de
equipamento. Então eu não sabia que teria uma demanda de tempo maior(...)” .

Além disso, disse que notou o não funcionamento do sistema de ar-condicionado,


que placa de identificação do setor deve ter sido confeccionada por determinação do então
Secretário de Saúde com a direção do hospital e que a propaganda do governo que antecedeu a
inauguração deve ter sido feita pela própria Secretaria de Estado da Saúde. Esclareceu que quando
da inauguração não havia nenhum aspecto de obra, destacando que “tinha sido lavado, estava tudo
arrumado”. Acrescentou que é primo do primeiro requerido e, indagado se levaria adiante a
inauguração se soubesse de que a parte da obra que competia ao Estado não estava pronta afirmou
que não, já que “não poderia entregar uma obra sem que ela estivesse em funcionamento”.

O serviço de hemodiálise intra hospitalar no novo local foi iniciado no dia


17/04/2018, 12 (doze) dias após a “inauguração”, sendo que até aquele momento o elevador de
acesso ao local não estava em funcionamento, como consta de relatório da Vigilância Sanitária (fls.
71/73 dos autos do procedimento)

II- DO DIREITO. DA APLICABILIDADE DA LEI 8.429/92 (LEI DE IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA). DA OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:

O Ministério Público busca com a presente lide a condenação dos requeridos nas
penas previstas no artigo 12, inciso III da Lei de Improbidade, ante a constatação de que praticaram
ato de improbidade administrativa tipificado no artigo 11 da Lei 8.429/92.

No presente tópico, procuraremos ressaltar que as condutas do acionado deixaram


um enorme e impagável passivo de ordem imaterial.
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A Lei de Improbidade Administrativa elenca em seu art. 11 uma espécie de “tipo


subsidiário”, aplicável ainda que os atos de improbidade administrativa não importem
enriquecimento ilícito ou prejuízo ao erário.

A norma em exame é residual em relação às que tratam das duas outras modalidades
de atos de improbidade, pois a afronta a legalidade faz parte de sua contextura. Em síntese, pode
dizer-se que a norma do art. 11 constitui soldado de reserva, configurando-se pelo resíduo na
hipótese da conduta ilegal do agente público não se enquadrar nas duas outras categorias de
improbidade.

Nesse contexto, independentemente do reconhecimento de qualquer lesão ao erário,


tem-se que ato que implique ofensa a princípios retores da administração pública pode receber a
pecha de ato de improbidade. Não é outra a dicção do art. 11, da Lei 8.429/92.

A moralidade significa ética da conduta administrativa, a pauta de valores morais a


que a Administração Pública, segundo o corpo social, deve submeter-se para a consecução do
interesse coletivo.

Nessa pauta de valores insere-se o ideário vigente no grupo social sobre, v. g.,
honestidade, boa conduta, bons costumes, equidade e justiça. Em outras palavras, a decisão do
agente público deve atender àquilo que a sociedade, em determinado momento, considera
eticamente adequado e moralmente aceito.

Com efeito, são indissociáveis da ideia de moralidade os mandamentos de probidade,


retidão, ética e boa-fé.

No caso dos autos, a atuação dos demandados, consistente a inauguração de obra


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inacabada passou ao largo dos princípios da impessoalidade e da moralidade já que o ato teve por
objetivo satisfazer interesse de promoção pessoal, sobretudo do segundo demandado que pretende
concorrer a uma vaga para o Senado no próximo pleito, aproveitando do capital político advindo de
inauguração de mais uma obra dentro do maior hospital do Estado.

A Constituição Federal, em seu artigo 37, caput, estabelece que a administração


pública direta e indireta, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados e dos Municípios
obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Discorrendo sobre os princípios a que devem se submeter a Administração,


notadamente os princípios da impessoalidade, da moralidade e da publicidade, JOSÉ DOS
SANTOS CARVALHO FILHO leciona:

“(…) para que haja verdadeira impessoalidade, deve a Administração voltar-se


exclusivamente para o interesse público, e não o privado, vedando-se, em
consequência, sejam favorecidos alguns indivíduos em detrimento de outros e
prejudicados alguns para favorecimento de outros. Aqui reflete a aplicação do
conhecido princípio da finalidade, sempre estampado na obra dos tratadistas da
matéria, segundo o qual o alvo a ser alcançado pela Administração é somente o
interesse público, e não se alcança o interesse público se for perseguido o interesse
particular, porquanto haverá nesse caso sempre uma atuação discriminatória.
Não se pode deixar de fora a relação que a finalidade da conduta administrativa tem
com a lei. 'Uma atividade e um fim supõem uma norma que lhes estabeleça, entre
ambos, o nexo necessário' na feliz síntese de CIRNE LIMA. Como a lei em si mesma
deve respeitar a isonomia, porque a isso a Constituição obriga (art. 5º, caput e inciso
I), a função administrativa nela baseada também deverá fazê-lo, sob pena de cometer-
se desvio de finalidade, que ocorre quando o administrador se afasta do escopo que
lhe deve nortear o comportamento – o interesse público.
(…)
O princípio da moralidade impõe que o administrador público não dispense os
preceitos éticos que devem estar presentes em sua conduta. Deve não só averiguar os
critérios de conveniência, oportunidade e justiça em suas ações, mas também
distinguir o que é honesto do que é desonesto. Acrescentamos que tal forma de
conduta deve existir não só nas relações entre a Administração e os administrados em
geral, como também internamente, ou seja, na relação entre a Administração e os
agentes públicos que a integram.
O art. 37 da Constituição Federal também a ele se referiu expressamente, e pode-se
dizer, sem receio de errar, que foi bem aceito no seio da coletividade, já sufocada pela
obrigação de ter assistido aos desmandos de maus administradores, frequentemente na
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9ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DOS DIREITOS DO CIDADÃO
ESPECIALIZADA NA DEFESA DOS DIREITOS À SAÚDE

busca de seus próprios interesses ou de interesses inconfessáveis, relegando para


último plano os preceitos morais de que não deveriam afastar-se.
(…)
Por oportuno, cabe ainda dar destaque ao fato de que a publicidade não pode ser
empregada como instrumento de propaganda pessoal de agentes públicos. De acordo
com o artigo 37, § 1º, da CF, a publicidade de atos, programas, serviços e campanhas
dos órgãos públicos tem por objetivo somente educar, informar e orientar. É vedado às
autoridades que se valham do sistema de divulgação de atos e fatos para promoção
pessoal, muito embora seja comum referido desvio, numa demonstração de
egocentrismo incompatível com o regime democrático. Vulnerar aquele mandamento
representa, ao mesmo tempo, ofensa aos princípios da impessoalidade e da
moralidade, como já têm decidido os nossos Tribunais, exigindo rigorosa necessidade
de coibir semelhantes práticas” (Manual de Direito Administrativo. 27 ed. São Paulo:
Atlas, 2014. p. 26-30.)

Referindo-se à redação do art. 11, caput, da Lei 8.429/92, colhe-se o seguinte excerto
doutrinário:

“Embora a redação do dispositivo não tenha sido a mais apropriada, pois seria de
maior rigor ou precisão reiterar os princípios constitucionais basilares que informam
a atuação pública elencados no art. 37, caput, da Carta Magna (legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência), a circunstância de constar dele
a expressão violação da legalidade elucida, sem dúvidas, que o preceito compreende a
transgressão dos demais princípios constitucionais que instruem, condicionam,
limitam e vinculam a atuação dos agentes públicos, posto que, como já afirmado no
Capítulo I, por ocasião do exame dos princípios constitucionais da Administração
Pública, estes ‘servem para esclarecer e explicitar o conteúdo do princípio maior ou
primário da legalidade’” (FILHO, MARINO PAZZAGLINI, op. cit., p. 112).

Não há dúvida de que os acionados cometeram ato de improbidade administrativa


que atentou contra os princípios da Administração Pública, nos termos do art. 11, caput, da Lei n°
8.429/92, ao inaugurar obra inacabada na maior unidade hospitalar do Estado, na medida em que
violaram os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições e à
população como um todo.

Uma cena foi criada com o intuito de levar a população a crer que um novo serviço
seria prestado a partir de então. Na prática, porém, nem se tratava de um novo serviço, já que o
atendimento nefrológico já era prestado a pacientes da unidade, e nem começou a ser prestado no
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9ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DOS DIREITOS DO CIDADÃO
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novo local, já que as obras não estavam concluídas.

O ato encerra em si alto grau de reprovabilidade na medida não houve inauguração


para a finalidade de atendimento a um interesse público, qual seja, o efetivo início do serviço no
novo local, mas apenas para promoção pessoal dos requeridos, autoridades envolvidas e
beneficiadas pelo ato. Esse distanciamento do interesse público é ato que, além de causar repulsa no
corpo social, se qualifica como ímprobo por violar aos princípios que regem a Administração
Pública.

A questão não é inédita e, em caso análogo, decidiu-se:

“DIREITO ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. SUSPENSÃO


DE OBRA (ESCOLA) E RESCISÃO AMIGÁVEL DE CONTRATO COM
CONSTRUTORA POR AUSÊNCIA DE RECURSOS. RETOMADA INFORMAL DA
OBRA PELA MESMA EMPRESA E CONTINUIDADE DOS PAGAMENTOS. OFENSA
AOS PRINCÍPIOS DA IMPESSOALIDADE E LEGALIDADE. DANO AO ERÁRIO E
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO NÃO DEMONSTRADOS. (…) .2) DIREITO
ADMINISTRATIVO. AFIXAÇÃO DE PLACA DE INAUGURAÇÃO EM OBRA
INACABADA. PROMOÇÃO PESSOAL. OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA
IMPESSOALIDADE E DA MORALIDADE. a) A fixação de placa de 'inauguração',
com menção ao nome do Prefeito, em obra pública parcialmente concluída (88%)
implica em ofensa ao princípio da impessoalidade e da moralidade ante a nítida
intenção de promoção pessoal. b) A afronta à moralidade, pelo inequívoco agir
eleitoreiro, infelizmente, faz parte da cultura política brasileira, fato que, contudo,
por si só, não a isenta da pecha de improbidade. c) A prática da inauguração de
obras inacabadas para a promoção pessoal de candidato - interessado em eleições
imediatas ou futuras - é tão comum quanto a conduta do seu sucessor que, sem
atribuir os créditos, ainda que parciais, a quem de direito, inaugura obras há muito
engendradas e a duras penas iniciadas, como se suas fossem, também para evidente
fim de autopromoção. 3) DIREITO PROCESSUAL CIVIL. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. ART. 11, CAPUT, DA LEI 8429/92.DOSIMETRIA. a)
Considerando as circunstâncias do caso, da conduta, e as consequências sem maior
gravidade, é suficiente a condenação do Réu ao pagamento de multa civil no valor de
R$ 10.000,00 (dez mil reais), corrigido pelo IPCA desde a data da publicação deste
Acórdão, acrescido de juros de mora de 1% ao mês a partir do trânsito em julgado.4)
APELO A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO.” (TJPR - 5ª C.Cível - AC -
1464276-7 - Cândido de Abreu - Rel.: Leonel Cunha - Unânime - J. 20.09.2016) (sem
grifos no original)
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Antes de adentrar no exame da prova, cumpre já fixar que o dolo necessário para a
configuração da conduta ímproba discutida é tão somente a vontade livre e consciente de realizar a
conduta - ou seja, a consciência e deliberação de praticar o ato em contrariedade ao ordenamento.
Ressalte-se que não há necessidade de nenhum dolo específico.

Neste sentido, o STJ tem se pronunciado:

“ADMINISTRATIVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA –IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA


– VIOLAÇÃO A PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – OFENSA AO ART.
11 DA LEI 8.429/1992 – DESNECESSIDADE DE DANO MATERIAL AO ERÁRIO.
VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS – ART. 11 DA LEI 8.429/1992 –
ELEMENTO SUBJETIVO – DOLO GENÉRICO.
A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que o ato de improbidade por
lesão aos princípios administrativos (art. 11 da Lei 8.249/1992), independe de dano ou
lesão material ao erário. 2. Não caracterização do ato de improbidade tipificado no
art. 11 da Lei 8.429/1992, exige-se o dolo lato sensu ou genérico. 3. A utilização de
símbolos e slogans da campanha eleitoral do recorrente, então prefeito, em
substituição ao brasão oficial do ente público municipal encerra grave ofensa aos
princípios da Administração Pública e, nessa medida, configura ato de improbidade
administrativa, nos moldes preconizados pelo art. 11 da Lei 8.429/1992.4. Recurso
especial não provido. (REsp 1182968/RJ, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA
TURMA, julgado em 19/08/2010, Dje 30/08/2010)”

E a própria Corte Superior esclarece que o dolo genérico consiste na

“simples vontade consciente de aderir à conduta, produzindo os resultados vedados


pela norma jurídica, ou, ainda, a simples anuência aos resultados contrários ao
Direito, quando o agente público ou privado deveria saber que a conduta praticada a
eles levaria, sendo despiciendo perquirir acerca de finalidades específicas” (AgRg no
REsp 1.539.929/MG, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe
2/8/2016).

Discorrendo sobre o dever de probidade, Diógenes Gasparini pondera que:

“Esse dever impõe ao agente público o desempenho de suas atribuições sob pautas
que indicam atitudes retas, leais, justas, honestas, notas marcantes da integridade do
caráter do homem. É nesse sentido, do reto, do leal, do justo e do honesto que deve
orientar o desempenho do cargo, função ou emprego junto ao Estado ou entidade por
ele criada, sob pena de ilegitimidade de suas ações.” (Direito Administrativo. 4ª ed.
São Paulo: Saraiva, 1995, p. 51)
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9ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DOS DIREITOS DO CIDADÃO
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Fixadas essas premissas, em relação ao primeiro requerido, extrai-se da narrativa


fática ter o mesmo praticado atos decisórios que conduziram à intempestiva inauguração do “Centro
de Nefrologia” do HUSE, inclusive promovendo pessoalmente divulgação na véspera do evento,
mesmo ciente de que as obras a cargo da Fundação Hospitalar de Saúde, necessárias e
imprescindíveis ao início dos trabalhos por parte da SENEFRO, não estavam concluídas e que
apenas findos os trabalhos de instalação da central de osmose é que teriam início as sessões de
hemodiálise no local.

Quanto ao segundo, a questão merece análise mais detalhada.

Em primeiro lugar, de acordo com a prova oral produzida nos autos do procedimento
extrajudicial, especialmente o depoimento do Superintendente do HUSE à época dos fatos, o ex-
governador tinha ciência de que as obras não estavam concluídas, ao contrário do que afirmou
quando inquirido. Com efeito, em sua inquirição, conforme arquivo audiovisual anexo, destacou
LUIZ EDUARDO PRADO CORREIA:

“(…) E eu me lembro claramente o próprio Secretário de Saúde avisando ao


Governador e a mídia presente, aos funcionários, às pessoas que estavam presentes
'Governador, eu estou avisando que nesse momento, vocês se contarem aí não tem os
36 leitos, tem os 35 com o isolamento 36, por quê? Ainda vai ser feito uma bancada
de MDF aqui no meio, que vão ficar de 10 a 12 leitos, nessa bancada, ao redor da
bancada e como também a instalação dos ar condicionados restantes. Eu peço mais
alguns dias para os pacientes começarem a ser atendidos aqui'(...)”

Essa informação, frise-se, se contrapõe ao dito pelo segundo demandado ao afirmar


que não era de seu conhecimento que as obras não estavam concluídas e que “não poderia entregar
uma obra sem que ela estivesse em funcionamento”.

Ainda que assim não fosse, imprescindível não se perder de mira que cabe ao
Governador do Estado “exercer, com auxílio dos Secretários de Estado, a direção superior da
administração estadual” (Constituição do Estado de Sergipe, artigo 84, inciso III). Ora, não é dado
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE 18
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a Governador alegar ignorância em relação a ato a que se fez presente, na companhia de


Secretários de Estado, já que este é auxiliar daquele, e não o contrário. E no caso em tela, uma
circunstância a mais deve ser considerada, o grau de parentesco entre os demandados, que são
primos, como já informado nos autos. O laço entre eles vai além da relação entre superior e
subordinado, e justifica, com pequena margem de erro, o fato de ter o primeiro requerido praticado
o ato para benefício eleitoral exclusivo para o segundo demandado.

Para além disso, e considerando o fato de que o dolo que constitui elemento
subjetivo do ato improbo é genérico e pode ser direto ou eventual, ganha corpo o entendimento de
que é admissível a aplicação da Teoria da Cegueira Deliberada no exame de ações civis públicas
em que se examinem atos de improbidade administrativa.

Discorrendo sobre a teoria em questão, esclarece VALMIR COSTA MAGALHÃES1:

“A teoria da cegueira deliberada (willful blindness), também conhecida como


doutrina das instruções de avestruz (ostrich intructions), e doutrina da evitação da
consciência (conscious avoindance doctrine), consiste em construção jurisprudencial
assemelhada à formulação do dolo eventual e por meio da qual se afigura possível o
enquadramento, por lavagem de dinheiro, daquele que, mesmo ciente da elevada
probabilidade de procedência ilícita dos recursos, assume o risco de produzir o
resultado ao agir, ainda assim, de modo indiferente a este conhecimento.
Desta forma, embora seja possível checar a natureza dos bens, o indivíduo que detém
o dever de impedir o resultado (ex.: compliance officer ou agente econômico-
financeiro) opta pela ignorância confortável, comportando-se como o avestruz que
enterra a cabeça para não ver a luz do sol. Em bom português, o garante ou quem se
encontre nesta posição faz 'vista grossa' e 'ouvidos de mercador', viabilizando,
dessarte, a ocultação de patrimônio ilícito pelo que responderá por lavagem de
dinheiro, ainda que com base em dolo eventual.

1 MAGALHÃES, Valmir Costa. Breves notas sobre lavagem de dinheiro: cegueira deliberada e honorários
maculados. Revista Emerj. Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 164-186, jan-abr. 2014. Disponível em:
<http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista64/revista64_164.pdf>. Acesso em 21 de julho de
2018.
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9ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DOS DIREITOS DO CIDADÃO
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Já em tratamento específico quanto à aplicação da teoria na apreciação judicial de


atos de improbidade administrativa, discorrem EVANDRO AUGUSTO DELL AGNELO SANTOS
e DIANE FERNANDES FORNACIARI2:

“(…) Assim, ao se admitir condenações de agentes pela prática de atos de


improbidade administrativa, não só praticado com dolo direto, mas, também mediante
dolo eventual, com apoio na Willful Blindness Doctrine, o caminho a ser percorrido
para demonstração do elemento subjetivo entre a apresentação da ação em Juízo, até
o decreto condenatório, torna-se mais viável.
Isso porque, a teoria em tela, mediante sua linha argumentativa, visa apoiar a
condenação de atos praticados por aqueles que agem, deliberadamente, fingindo não
perceber determinada situação de ilicitude para, a partir daí, alcançar a vantagem
pretendida.
E isso quer dizer que esta teoria poderá extirpar muitos argumentos de agentes
públicos e/ou políticos que auferiram benefícios próprios ou os direcionaram a
terceiros, agindo em desconformidade com o ordenamento jurídico, mas que, antes
do ato ilícito praticado, intencionalmente, criaram barreiras capazes de evitar o
conhecimento de indícios do ilícito.
Destarte, ao se tolerar a aplicação da teoria em tela em sede de ação civil pública por
ato de improbidade administrativa, passar-se-á a responsabilizar tanto os indivíduos
que, manifestamente, praticaram atos ímprobos com pleno conhecimento da ilicitude,
bem como em face de indivíduos outros que tinham consciência da possível ilicitude do
ato praticado, mas, deliberadamente, criaram mecanismos que o impediam de
aperfeiçoar sua representação sobre o tipo objetivo do caso em concreto.
E neste último caso, afirma-se ser mais viável o autor da ação obter a condenação do
polo passivo, pois não se fará necessário perquirir o dolo direto do agente e
demonstrar, exaustivamente, que o transgressor praticou determinada conduta agindo
intencionalmente e querendo alcançar o resultado ilícito. Diferente disto, caberá a
parte autora demonstrar que não obstante inexistir provas do dolo direito do agente,
todas as circunstâncias contidas nos autos demonstram, cabalmente, que o sujeito
ativo evitou tomar conhecimento do ilícito, criando barreiras para aperfeiçoar sua
representação sobre os elementos objetivos do ilícito praticado. Isto é, o transgressor
tapa os olhos para ilegalidade e finge desconhecer a situação de ilicitude, atuando
com indiferença, e, após, aufere benefícios ou os direciona a terceiros.(...)”

Assim, mediante a aplicação dos postulados da teoria da cegueira deliberada, é


possível a punição, nos termos preconizados pela Lei de Improbidade Administrativa, ao agente
público que, não obstante não apareça como o executor do ato e quanto a ele alegue ignorância,
2 SANTOS, Evandro Augusto Dell Agnelo, e FORNACIARI, Diane Fernandes. Da aplicação da teria da cegueira
deliberada nas ações de improbidade administrativa. Revista Jurídica do Ministério Público do Estado do
Paraná. Curitiba, ano 3 – nº 5, p. 121-155, dezembro/2016. Disponível em
<http://www.ceaf.mppr.mp.br/arquivos/File/Biblioteca/RevistaJuridicaMPPR_5.pdf>. Acesso em 21 de julho de
2018.
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tenha participado de sua consecução e dele tenha auferido benefícios. Essa, exatamente, a situação
no tocante ao segundo demandado.

Esse entendimento já foi aplicado judicialmente, como assegura o aresto adiante


ementados:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Ofensa aos Princípios da Administração Pública,


devidamente confirmada pelas provas produzidas – Criação indevida de cargos
comissionados que já havia sido declarada inconstitucional pelo Órgão Especial,
como também em relação a anterior condenação do ex-Prefeito por ato de
improbidade, porém, num desrespeito à Constituição Federal (art. 37, II) e as decisões
judiciais, houve a contratação direta das mesmas pessoas físicas, agora por
intermédio de contratação de EMIs (microempreendedores individuais) ou nova
contratação comissionada, em relação aos cargos que deveriam ser providos por
concurso público – Reincidência do ex-Prefeito na mesma prática ímproba, por
intermédio de subterfúgios - Aplicação da Teoria da Cegueira Deliberada - Ato de
improbidade administrativa devidamente comprovado – Procedência parcial da ação
mantida, porém em maior extensão, agora com a condenação da corré ROSEMARY
GOMES DOS SANTOS, que não pode se escusar de cumprir a Constituição Federal e
as decisões judiciais anteriormente exaradas pelo Poder Judiciário, conforme
considerado pelo art. 3º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro –
Dosimetria das penalidades formuladas individual e proporcionalmente, sem qualquer
abuso, inclusive a multa civil, que não pode ser reputada como inconstitucional –
Apelação do Ministério Público provida em parte, e não provida a do corréu
OSMAR.” (TJSP; Apelação 0001223-11.2014.8.26.0159; Relator (a): Rebouças de
Carvalho; Órgão Julgador: 9ª Câmara de Direito Público; Foro de Cunha - Vara
Única; Data do Julgamento: 27/11/2017; Data de Registro: 27/11/2017)

Do corpo do voto condutor do acórdão acima ementado, fundamentando a aplicação


da teoria aos ilícitos administrativos, se extrai:

“(…) Guardadas as devidas proporções, é evidente, em tempo de exposição pública e


notória pelo julgamento televisionado ao vivo da Ação Penal 470 pelo Plenário do
Supremo Tribunal Federal, em que de forma corajosa e destemida o Poder Judiciário
não se encolheu, frente aos muitos interesses envolvidos, na condenação de criminosos
que estavam a praticar infrações penais (corrupção passiva, ativa, lavagem de
dinheiro) e, nesta ocasião, uma determinada teoria foi suscitada pelo sempre profundo
Ministro Celso de Mello, e que poderá ser agora aventada neste caso concreto, qual
seja TEORIA DA CEGUEIRA DELIBERADA ou DA IGNORÂNCIA DELIBERADA,
também conhecida como DOUTRINA DA CEGUEIRA INTENCIONAL, TEORIA DAS
INSTRUÇÕES DE AVESTRUZ ou DOUTRINA DO ATO DE IGNORÂNCIA
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9ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DOS DIREITOS DO CIDADÃO
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CONSCIENTE, criada pela Suprema Corte Norte Americana (willful blindness


doctrine), cuja síntese diz respeito à tentativa de se afirmar ignorância deliberada e
fingida acerca da situação de ilicitude, com vistas a objetar uma determinada
vantagem.
(…)
Ainda que esta teoria tenha sua incidência e aplicação na prática de ilícitos penais,
mais especificamente em relação ao crime de lavagem de dinheiro, tal como fez o
eminente Ministro CELSO DE MELLO em recente julgamento acima mencionado, já
foi ela também reconhecida em relação aos crimes eleitorais, bem como naquele
famoso caso do furto ao Banco Central em Fortaleza.
Por outro lado, é, em relação ao ilícito administrativo praticado neste caso concreto,
perfeitamente adequada a sua incidência, na medida em que a corré fingiu não
perceber que a assunção de determinados cargos só podem ocorrer mediante
provimento efetivo, e não comissionado ou de forma contratada como pessoa jurídica,
não havendo agora como se beneficiar da própria torpeza. (...)”

Nessa toada, as circunstâncias do caso concreto, especificadas linhas atrás, levam à


conclusão de que o segundo requerido, então Governador do Estado, teve ciência do que se passava
em relação àquela obra, não lhe sendo lícito, agora, alegar ignorância quanto ao ocorrido com o
objetivo de se furtar à aplicação das sanções previstas em lei, sobretudo porque se trata de pessoa
afeta à vida pública há vários anos.

Nessa esteira de argumentação, estão preenchidos, no presente caso, todos os


requisitos caracterizadores dos atos de improbidade que importaram ofensa aos princípios da
Administração Pública, cabendo a imposição, aos requeridos, das sanções previstas no artigo 12,
inciso III, da Lei 8429/92.

III- DO DANO EXTRAPATRIMONIAL COLETIVO. CABIMENTO. VASTO


POSICIONAMENTO DOUTRINÁRIO E PRECEDENTES JUDICIAIS:

Hodiernamente, a indenização por dano moral no Brasil encontra ampla aceitação.


Com o advento da Constituição Federal de 1988 pacificou-se a questão da aceitabilidade da tese de
reparação integral da ofensa moral, pois, de forma expressa, nossa Lei Maior (art. 5º, incisos V e X)
alçou a status constitucional a proteção aos bens imateriais.
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9ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DOS DIREITOS DO CIDADÃO
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Nesse contexto, pode-se afirmar que o fenômeno da globalização, a modernização


da sociedade e os novos valores insculpidos na Carta Maior impuseram uma intensa modificação no
modo de pensar o Direito (fenômeno da repersonalização3), que, por sua vez, passou a dar mais
importância à coletividade que ao indivíduo em si. Em consequência disto, as normas de ordem
pública – que traduzem interesses gerais e comuns na busca do bem social – ganharam relevo e,
dentro desse novo panorama, desenvolveu-se o direito à compensação aos danos morais coletivos4.

Diante destas premissas, é inegável que a ação dos requeridos configura o dano
moral a merecer reparação. O ato de improbidade apontado nesta ação coletiva macula a
respeitabilidade do poder público, estimula a prática de atos divorciados dos princípios da
impessoalidade, da moralidade e da boa-fé, além do dever de lealdade e respeito às regras jurídicos
previstas no ordenamento, em suma, propiciando uma verdadeira desobediência civil, a qual acaba
por sabotar os valorosos propósitos da República previstos no art. 3º de nossa Lei Maior.

A inauguração do inacabado “Centro de Nefrologia”, bem como a propaganda que


antecedeu e sucedeu o ato, causaram grande sentimento de repulsa no meio social, atingindo
sobretudo pacientes em grave situação de saúde que necessitam dos serviços pela rede estadual no
Hospital de Urgências. Uma legítima expectativa foi criada para um grande número de cidadãos
que, pouco tempo depois foram atingidos com a realidade de que o ato não passou de um engodo.

Sustentando a necessidade de reparação pelo dano moral causado ao ente público,


tem-se:

3 “A escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento da República, associada ao objetivo fundamental de
erradicação da pobreza e da marginalização, e de redução das desigualdades sociais, juntamente com a previsão do
parágrafo 2° do art. 5°, no sentido da não-exclusão de quaisquer direitos e garantias, mesmo que não expressos, desde
que decorrentes dos princípios adotados pelo texto maior, configuram uma verdadeira cláusula geral de tutela e
promoção da pessoa humana, tomada como valor máximo do ordenamento” (TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito
Civil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p 48).
4 “Dano moral coletivo é o resultado de toda ação ou omissão lesiva significante, praticada por qualquer pessoa contra
o patrimônio da coletividade, considerada esta as gerações presentes e futuras, que suportam um sentimento de repulsa
por um fato danoso irreversível, de difícil reparação, ou de conseqüências históricas” (PEREIRA, Marco Antônio
Marcondes. Dano moral contra a coletividade: ocorrências na ordem urbanística. Dano Moral e sua Quantificação.
Caxias do Sul: Plenum, 2007.1 CD-ROM. ISBN 978-85-88512-18-4).
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“As pessoas jurídicas de direito público, com maior razão do que as direito privado,
devem ser ressarcidas dos danos morais que venham a sofrer. A Administração
Pública tem por fim a persecução do bem comum e todo ato praticado por seus
agentes deve ter em foco o interesse público. Assim, temos que o ato de improbidade
administrativa pode ferir também um interesse moral do ente público, traduzido na
sua honra objetiva, na confiança e respeito que as pessoas devem devotar-lhe, não
havendo motivo plausível para a recusa de ressarcimento. Nesse sentido, Figueiredo
assinala que, no conceito de lesão ao patrimônio público, ‘por certo, está englobada a
noção de lesão moral, porque no conceito de perda patrimonial, cremos, está
englobada a ideia de prejuízo moral, dano moral. Ademais, a lesão ao patrimônio
moral sempre será dimensionada sob o aspecto econômico. Em suma, não existe
‘perda patrimonial’ apenas sob a ótica econômica, ainda que recomposta a partir
desse critério.”(José Jairo Gomes, Apontamentos sobre a Improbidade Administrativa,
in Improbidade Administrativa – 10 anos da Lei 8.429/92, ed. Del Rey, p. 265).

Com efeito, observe-se ainda que há expressa previsão legal acerca da reparação por
dano moral no artigo 1° da lei n° 7347/85.

Neste ponto, avulta-se necessário enfocar que, originariamente, a Lei 7347/85 (Lei
da Ação Civil Pública) limitava-se a fazer referência à responsabilidade por danos. Todavia, a Lei
8884/94 deu nova redação ao artigo 1º da Lei da Ação Civil Pública, introduzindo os adjetivos
morais e patrimoniais ao mencionado preceptivo.

Como facilmente se nota, esta alteração legislativa guardou perfeita harmonia


normativa com o perfil constitucional relativo ao dano moral, porquanto a Constituição não fez
nenhuma distinção entre danos morais individuais e coletivos, apesar de que, para o intangível
mestre José dos Santos Carvalho Filho, “a redação anterior, referindo-se a danos, já ensejaria a
interpretação de que o termo abrangeria também o dano moral”.

Não obstante, para dirimir eventuais questionamentos, decidiu-se inserir


expressamente no dispositivo a qualificação morais ao substantivo “danos”5.

5 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação Civil Pública – comentários por artigo. 6ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2007, p. 13.
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Prosseguindo seu raciocínio sobre a vexata quaestio, o mencionado jurista ensina:

“(...) que o dano moral se caracteriza pela ofensa a padrões éticos dos
indivíduos, no caso em foco dos indivíduos componentes dos grupos sociais
protegidos. Sendo assim, pode-se afirmar que não apenas o indivíduo,
isoladamente, é dotado de determinado padrão ético. Os grupos sociais,
titulares de direitos transindividuais, também o são. Assim, se for causado
dano moral a um desses grupos pela violação a interesses coletivos ou
difusos, presente estará o interesse de agir para a propositura da ação civil
pública.
Tribunais e doutrinadores (...) têm avançado na aplicação da norma
condenatória que permite a obrigação de indenizar no caso de dano moral
coletivo. Na Justiça do Trabalho, por exemplo, há decisões que adotaram
esse entendimento contra empregadores que se prevaleciam dessa condição
para obter vantagens ilícitas à custa dos empregados6 ou, o que tem sido
mais comum, que mantêm empregados em situação análoga à de escravos –
o trabalho-escravo, que, sem dúvida, causa ofensa à dignidade de toda a
sociedade. Por sua precisão, vale a pena ver os termos da ementa do
seguinte acórdão:
DANO MORAL COLETIVO – POSSIBILIDADE – Uma vez configurado
que a ré violou direito transindividual de ordem coletiva, infringindo
normas de ordem pública que regem a saúde, segurança, higiene e meio
ambiente do trabalho e do trabalhador, é devida a indenização por dano
moral coletivo, pois tal atitude da ré abala o sentimento de dignidade, falta
de apreço e consideração, tendo reflexos na coletividade e causando grandes
prejuízos à sociedade.7
Na doutrina, vários estudiosos têm advogado a necessidade de aplicação
da norma que prevê o dano moral coletivo. Em nosso entender, as
dificuldades na configuração do dano moral quando há ofensa a interesses
coletivos e difusos devem ser cada vez mais mitigadas, de forma a ser
imposta a obrigação indenizatória como verdadeiro fator de exemplaridade
e de respeito aos grupos sociais, sabido que a ofensa à dignidade destes tem
talvez maior gravidade que as agressões individuais. Daí ser correta a
afirmação de que o dano moral coletivo é a injusta lesão na esfera moral de
uma dada comunidade, ou seja, a violação antijurídica de um determinado

6 TRT – 12ª Região, 1ª Turma, RO nº 931/98-SC, Rel. Juiz GILMAR CAVALHERI, julg. em 22/09/98.
7 TRT – 8ª Região, RO 5.309/2002-PA, Rel. Juiz LUÍS DE JOSÉ JESUS RIBEIRO, julg. em 17/12/2002.
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círculo de valores coletivos”.8 9

Perfilham igual pensamento nossos Tribunais, de que é exemplo eloquente o seguinte


julgado do STJ:

“ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. DANO AO


ERÁRIO. MULTA CIVIL. DANO MORAL. POSSIBILIDADE.
PRESCRIÇÃO. 1. Afastada a multa civil com fundamento no princípio da
proporcionalidade, não cabe se alegar violação do artigo 12, II, da LIA por
deficiência de fundamentação, sem que a tese tenha sido anteriormente
suscitada. Ocorrência do óbice das Súmulas 7 e 211/STJ. 2. "A norma
constante do art. 23 da Lei nº 8.429 regulamentou especificamente a
primeira parte do § 5º do art. 37 da Constituição Federal. À segunda parte,
que diz respeito às ações de ressarcimento ao erário, por carecer de
regulamentação, aplica-se a prescrição vintenária preceituada no Código
Civil (art. 177 do CC de 1916)" – REsp 601.961/MG, Rel. Min. João Otávio
de Noronha, DJU de 21.08.07. 3. Não há vedação legal ao entendimento
de que cabem danos morais em ações que discutam improbidade
administrativa seja pela frustração trazida pelo ato ímprobo na
comunidade, seja pelo desprestígio efetivo causado à entidade pública
que dificulte a ação estatal. 4. A aferição de tal dano deve ser feita no
caso concreto com base em análise detida das provas dos autos que
comprovem efetivo dano à coletividade, os quais ultrapassam a mera
insatisfação com a atividade administrativa. 5. Superado o tema da
prescrição, devem os autos retornar à origem para julgamento do mérito da
apelação referente ao recorrido Selmi José Rodrigues e quanto à ocorrência
e mensuração de eventual dano moral causado por ato de improbidade
administrativa. 6. Recurso especial conhecido em parte e provido também
em parte. (REsp 960.926/MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA,
SEGUNDA TURMA, julgado em 18.03.2008, DJe 01.04.2008)” (grifos
nossos)

Em arremate, pode-se invocar como fundamento legal para o ressarcimento do dano


imaterial coletivo as regras previstas no Código de Defesa do Consumidor nos art. 6º, VI e VII,
cuja aplicação à presente lide coletiva decorre da simbiose entre as ações em defesa dos direitos

8 BITTAR FILHO, Carlos Alberto. Do Dano Moral Coletivo no Atual Contexto Jurídico Brasileiro. In: Revista de Direito
do Consumidor nº 12, out/dez/94.
9 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Op. Cit.
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coletivos e difusos ( Lei da Ação Civil Pública, Ação Popular, CDC, ECA, Estatuto do Idoso, dentre
outras ), formando o que se convencionou chamar de microssistema10 de direito processual coletivo.

Em ambos os incisos faz-se menção expressa à tutela inibitória e ressarcitória ao


dano moral coletivo, sem olvidar que o CDC, por conduto de seu art. 117 aplica-se, no que couber,
à Lei da Ação Civil Pública, que, conforme já dito compõe um mosaico a formar o chamado
processo coletivo, de que é parte integrante a Lei de Improbidade Administrativa.

IV – DOS REQUERIMENTOS FINAIS:

Ex positis, e à luz dos argumentos expendidos, o Ministério Público do Estado de


Sergipe requer:

a) A notificação dos requeridos para, querendo e no prazo de Lei previsto no artigo


17, § 7º, da Lei n.º 8.429/92, oferecerem manifestação prévia por escrito;

b) Seja a petição inicial recebida com a citação dos demandados para, querendo, no
prazo de quinze dias, contestarem a presente ação, sob pena de revelia;

c) A notificação do Estado de Sergipe, caso queira, para integrar a lide, nos termos
do artigo 17, § 3º, da Lei Federal 8.429/92;

d) Sejam condenados JOSÉ ALMEIDA LIMA e JACKSON BARRETO DE


LIMA incurso nas penalidades previstas no artigo 12, III da Lei 8.429/92, dentre as quais perda
da função pública, suspensão dos direitos políticos pelo prazo de 3 (três) ao 5 (cinco) anos,

10 Reconhece-se na doutrina, v.g. Emerson Garcia, in Improbidade Administrativa, Nelson Nery, in Código de Processo
Civil Comentado, e em nossos Pretórios, verdadeira simbiose entre as ações de cunho coletivo, as quais nas palavras do
eminente Ministro do STJ Luiz Fux, a partir da normatização constitucional “ criou um microsistema de tutela de
interesses difusos referentes à probidade da administração pública, nele encartando-se a Ação Popular, a Ação Civil
Pública e o Mandado de Segurança Coletivo, como instrumentos concorrentes na defesa desses direitos (...) ( REsp. no.
401.964/RO, un., julgado em 22/10/02).
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pagamento de multa civil de até 100 (cem) vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e
proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
majoritário, pelo prazo de 3 (três) anos;

e) Sejam condenados os demandados, improbus agenti, a indenizar os DANOS


MORAIS COLETIVOS (danos extrapatrimoniais difusos), por força dos arts. 1º, caput, e inciso IV,
da Lei da Ação Civil Pública, e 6º, incisos VI e VII, do Código de Defesa do Consumidor, causados
pela violação aos princípios da Administração Pública, cuja quantificação (quantum debeatur)
deverá ser levantada durante a instrução. Requer-se, ainda, que o valor da indenização seja revertido
em favor do Fundo do artigo 13 da Lei 7347/85;11

g) Condenação dos Demandados ao pagamento das custas e demais despesas


processuais;

Pretende e requer provar o alegado por todos os meios de prova em Direito


admitidos, especialmente, com a documental produzida com a inicial e que faz parte do Inquérito
Civil Público, depoimento pessoal dos Requeridos, audição de testemunhas, juntada de novos
documentos e perícia contábil para dimensionar o dano ao erário.

11 Registre-se o entendimento do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS sobre os DANOS MORAIS


COLETIVOS: “AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MEIO AMBIENTE. DANO PATRIMONIAL E DANO MORAL
COLETIVO. REPARAÇÃO. PROCEDÊNCIA. (...) 3. O advento do novel ordenamento constitucional – no que
concerne à proteção ao dano moral – possibilitou ultrapassar a barreira do indivíduo para abranger o dano
extrapatrimonial à pessoa jurídica e à coletividade. O meio ambiente integra inegavelmente a categoria de interesse
difuso, posto inapropriável uti singuli. Dessa forma, a sua lesão, caracterizada pela diminuição da qualidade de vida da
população, pelo desequilíbrio ecológico, pela lesão a um determinado espaço protegido, acarreta incômodos físicos ou
lesões à saúde da coletividade, revelando lesão ao patrimônio ambiental, constitucionalmente protegido, ensejando a
reparação moral ambiental causada a coletividade, ou seja, os moradores daquela comunidade. 4. Sentença
reformada. Condenação da requerida/apelada a recuperar e compensar os danos ambientais, socioeconômicos e à saúde
pública, bem como em dano moral coletivo. Apelo conhecido e provido.” (TJGO. 5ª Turma Julgadora da 3ª Câmara
Cível – votação unânime. Apelação Cível nº 108156-4/188 (200700552663). Comarca de Itumbiara. Relator Juiz G.
Leandro S. Crispim. J. 28/07/2007). Anote-se, da mesma forma, o teor da SÚMULA nº 03, do Conselho Superior do
Ministério Público do Estado de São Paulo: “O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública
visando à contrapropaganda e responsabilização por danos morais difusos.”
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Por fim, o Ministério Público do Estado de Sergipe ressalta que a presente petição
inicial poderá ser aditada a qualquer momento para nela incluir no polo passivo da demanda novos
requeridos cuja participação seja apurada após a deflagração da presente ação civil pública.

Segue em anexo íntegra do Procedimento Administrativo Preparatório de Inquérito


Civil nº. 54.18.01.0064.

Dá-se à presente causa o valor de R$100.000,00 (duzentos mil reais) em atendimento


ao disposto no artigo 292 do NCPC para os fins legais.

Pede deferimento.

Rol de testemunhas:

1. LUIS EDUARDO PRADO CORREA, qualificado à fl. 28 dos autos do procedimento;


2. LÍGIA DE CASSIA BARBOSA DO NASCIMENTO, qualificada à fl. 29 dos autos do
procedimento;
3. SOPHIA DA FONSECA BARBOZA, qualificada à fl. 32 dos autos do procedimento.

Aracaju/SE, 27 de julho de 2018.

Francisco Ferreira de Lima Júnior Bruno Melo Moura


Promotor de Justiça Promotor de Justiça

Jarbas Adelino Santos Júnior Luciana Duarte Sobral


Promotor de Justiça Promotora de Justiça

Maria Helena Moreira Sanches Lisboa


Promotora de Justiça

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