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e colonos
de São Paulo
M
uito pouco se escreveu até hoje sobre a
Inquisição em São Paulo. Tema apaixo-
nante mas pouco pesquisado, malgrado a
existência de documentação substantiva dios envolvendo moradores da Capitania
que nos permite afirmar que este Monstrum de São Paulo – material em sua maior parte
Horribilem, o famigerado Tribunal do San- inédito e que aguarda que algum pesquisa-
to Ofício da Inquisição, teve atuação muito dor da terra lhe dê tratamento mais acurado
mais freqüente e repetida na Capitania de e a divulgação que está por merecer.
São Paulo do que até agora os historiadores Praticamente todos os crimes persegui-
revelaram. dos pela Inquisição foram praticados e de-
Quando se fala da presença do Santo nunciados em São Paulo, destacando-se 16
Ofício da Inquisição no Brasil, imediata- padres solicitantes, oito sodomitas, sete
mente se pensa no Nordeste, posto terem bígamos, sete feiticeiros, três autores de pro-
sido a Bahia e Pernambuco as capitanias posições heréticas, dois cristãos-novos e
mais atingidas pela famigeradas visitações ainda dois episódios envolvendo irregula-
de 1591 e 1618 (1). Embora bem menos ridades no exercício do cargo de Familiar
devassadas, também as capitanias do Sul, do Santo Ofício. Tais números certamente
inclusive São Paulo, padeceram terríveis estão sujeitos a acréscimos – sobretudo
constrangimentos e perseguições por parte quanto à presença dos cripto-judeus, a mi-
do incendiário Monstro Sagrado, tanto que noria religiosa mais perseguida pela sanha
dos 20 moradores do Brasil a serem quei- inquisitorial – sobre os quais o leitor inte-
1 Sônia Siqueira, A Inquisição
mados nos Autos de Fé de Lisboa, quando ressado encontrará maiores informações
Portuguesa e a Sociedade menos dois eram residentes nos planaltos notadamente nas obras de José Gonçalves
Colonial, São Paulo, Ática,
1978. de Piratininga: Teotônio da Costa (1686) e Salvador, Arnold Wiznitzer e Anita
2 Arnold Wiznitzer, Os Judeus no Miguel de Mendonça Valhadolid (1731), Novinsky (3).
Brasil Colonial, São Paulo, Pi- ambos inculpados por praticar a Lei de Moi- Dos residentes na Capitania de São
oneira, 1966, p. 147.
sés (2). Paulo cujos nomes e desvios chegaram ao
3 José G. Salvador, Os Cristãos-
Novos: Povoamento e Conquis- Após prolongadas pesquisas na Torre Tribunal do Santo Ofício, nos concentrare-
ta do Solo Brasileiro, São Pau-
lo, 1976; Cristãos-Novos, Je-
do Tombo, de Lisboa, onde estão arquiva- mos inicialmente nos inculpados em cri-
suítas e Inquisição, São Paulo, dos mais de 40 mil processos inquisitoriais mes da fé: sete acusações de feitiçaria, três
Pioneira, 1969. Anita W.
Novinsky, Inquisição. Inventá- e outro tanto de denúncias e confissões per- denúncias de proposições heréticas e dois
rios de Bens Confiscados a tencentes à alçada do Santo Ofício, locali- casos de livres-pensadores. Numa segunda
Cristãos-Novos , Lisboa, Im-
prensa Nacional, 1977. zamos pessoalmente, até agora, 47 episó- parte deste ensaio analisaremos as histó-
TT
amplo intitulado “Moralidade e Se-
O
xualidade no Brasil Colonial”, e
M
uma versão modificada foi origi-
IZ
nalmente publicada no D.O. Leitu-
LU
ra (SP, 9 (101), outubro de 1990;
10 (120), maio de 1992).
nas garras
da Inquisição
portuguesa LUIZ MOTT é professor
da Universidade Federal
da Bahia.
va muito do coração e que o levasse em sua tanto que “obrigou-a por preceito a só con- 33 Para o clero mineiro, consulte-
se: Luiz Mott, “Modelos de
graça”. Contou mais a virtuosa Marta, que fessar-se com ele!” (34). Santidade para um Clero De-
certa feita, numa dança que se fez na Igreja, Sobre o padre Agostinho Coutinho a vasso”, in Revista do Departa-
mento de História (UFMG), 9
disse-lhe o frade “que antes dançaria com documentação do Caderno dos Solicitantes (1989), pp. 96-120.
ela…”. Tempos barrocos estes, em que nas informa tão somente que este confessor 34 ANTT, CS, no 26 (1746).