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OS PROSCRITOS
Autor
WILLIAM VOLTZ
Tradução
AYRES CARLOS DE SOUZA
Revisão
ARLINDO_SAN
(De acordo, dentro do possível, com o Acordo Ortográfico válido desde 01/01/2009)
Setembro do ano 3.441, tempo terrano, aproxima-se do
seu final. Com isso passaram-se cerca de 10 meses, desde 29
de novembro de 3.440, o dia em que a catástrofe atingiu
quase todos os seres inteligentes da galáxia.
Continua reinando a miséria e o caos na maioria dos
planetas e das bases de apoio planetárias, e ainda chegam
pedidos de socorro do Cosmo. As poucas criaturas humanas
não atingidas pelas radiações imbecilizantes, do Império
Solar e de outros povos estelares, continuam realizando
coisas sobre-humanas, para dominar o caos e para prover as
massas de seus concidadãos imbecilizados com o necessário
para que a vida prossiga.
Perry Rhodan, Atlan, Gucky e muitos outros velhos
conhecidos, na verdade se colocaram uma tarefa ainda mais
difícil, praticamente insolúvel. Apoiado pela Intersolar, a
nave capitânia de Reginald Bell, o Administrador-Geral
procura investigar o ““Enxame”” misterioso, que penetra
cada vez mais e inexoravelmente na galáxia, e cujos
misteriosos condutores são responsáveis pela modificação da
constante gravitacional, e com isso, com a onda de
retardamento da inteligência que afeta toda a galáxia.
Depois de uma escala na Terra, onde os “Bandidos de
Terrânia” puderam ser vencidos ou aprisionados, Perry
Rhodan encontra-se novamente nas proximidades do
“Enxame”, com a Good Hope II, um pequeno cruzador
espacial, especialmente equipado.
Parece que os terranos chegaram ainda em tempo —
eles descobrem “Os Proscritos”...
Alaska Saedelaere estava acostumado a ser olhado fixamente pelas pessoas, e até
mesmo que elas se voltassem para olhá-lo novamente, mas ele simplesmente as ignorava.
Porém neste dia, quando pela quarta vez o moço alto, na cantina da Good Hope, o
observou de maneira a chamar a atenção, ele não se dirigiu ao seu lugar comum, mas foi
diretamente até a mesa do jovem. Nem mesmo agora o rapaz deixou de fixá-lo. Alaska
viu que se tratava de um dos técnicos, que antes da catástrofe não pertencia à Frota Solar.
O rapaz tinha vindo para bordo, numa das últimas escalas que haviam feito na Terra.
Saedelaere parecia lembrar-se de que ele trabalhava como radioperador na Good Hope II.
O lesado por transmissor puxou uma cadeira e sentou-se à mesa do jovem. O rosto
do rapaz ainda jovem, à sua frente, parecia amistoso.
— Eu tinha esperanças de que o senhor prestaria atenção em mim — disse o rapaz
repentinamente, e estendeu a mão. — O meu nome é Whiilcont. Eu estou a bordo faz
apenas alguns dias.
Instintivamente Saedelaere tocou a máscara de plástico, sob a qual ele escondia o
fragmento cappin do seu rosto,
— O que é que o senhor quer? — perguntou ele.
— Eu me interesso pelo seu caso — declarou Whiilcont. Ele continuou
desembaraçado, apesar de notar que todos os olhavam, das outras mesas. — Eu queria
escrever-lhe, mas então me disseram que a Marco Polo estava desaparecida. Quando
depois os senhores voltaram, já tinha acontecido a catástrofe, de modo que não havia
mais oportunidade para uma troca de correspondência. O acaso quis que eu viesse para
bordo desta nave, como mentalmente estabilizado que sou.
Saedelaere avaliou que Whiilcont era solícito, honesto e talvez um pouco
oportunista.
— Está bem — disse ele. — E o que mais?
O dedo de Whiilcont apontou para a máscara facial de Saedelaere.
— Eu quero livrá-lo disso.
— Quem é o senhor? — perguntou Alaska, calmamente. — Ou, melhor ainda, o
que é que o senhor faz?
— Antigamente, de vez em quando trabalhei na CE-Solar. Como cirurgião plástico,
especializado em operações faciais. Eu sou um talento. Eu não quero...
Alaska ergueu um braço.
— O senhor não precisa continuar falando, meu jovem. — Ele levantou-se, um
homem muito alto e magro, cujo uniforme praticamente ficava dependurado no seu
corpo. — Eu não carrego esta máscara de plástico para meu divertimento, mas para
proteção das pessoas, com as quais eu me associo. Quem precisasse olhar diretamente no
meu rosto deformado, perderia a razão, o juízo. Todas as experiências com biomoplástico
e outras máscaras celulares malograram. O fragmento cappin rejeita tudo, a não ser esta
máscara de plástico. E quem poderia querer tratar do meu rosto, sem olhar para ele?
Whiilcont respirou fundo. O seu cabelo comprido estava enrolado em trancinhas
compridas. Saedelaere olhou para as mãos de Whiilcont. Elas lhe pareceram grandes e
desajeitadas. Whiilcont notou o olhar e sorriu.
— Todo mundo acha que eu não consigo manejar nada com elas — disse ele,
calmamente. — Mas eu tenho mãos muito calmas, e eu sou habilidoso. — Quando
Alaska se levantou, Whiilcont também se ergueu curvando-se por cima da mesa. —
Espere! Eu conheço as dificuldades! Mas até agora ninguém tentou efetuar uma operação
com imagem reflexa — com espelhos, para remover o fragmento cappin.
Saedelaere sentou-se novamente.
— O senhor é maluco ou boca grande?
Whiilcont retrucou, tranquilo:
— Pense de mim o que quiser. Só uma coisa peço-lhe que acredite: que eu farei
tudo para libertá-lo desta máscara de plástico. E daquilo que lhe fica por baixo.
Ele começou a explicar detalhadamente a Saedelaere, como ele procederia. O lesado
por transmissor escutou-o, muito curioso.
— Naturalmente que uma operação por imagem reflexa, com espelhos, é difícil —
concedeu Whiilcont. — Mas eu já fiz experiências, e confio que poderei cortar essa coisa
do seu rosto, sem ter que olhar para ela diretamente.
— Eu vou pensar nisso — disse Alaska.
— Eu não poderei fazê-lo aqui a bordo, mas apenas na Terra, na minha clínica. Lá
tudo está preparado.
Saedelaere sacudiu a cabeça, como que atordoado. Tudo isso veio tão
repentinamente. Além do mais, ele estava cético. Inúmeros médicos e cientistas
conhecidos já tinham se ocupado com o seu problema, sem terem encontrado uma
solução. E agora aparecia um homem ainda jovem, que parecia despreocupado, e que
afirmava que podia retirar o fragmento cappin do rosto de Alaska, se lhe dessem
oportunidade para isso.
— Eu tenho fotos de minha clínica e suas instalações em minha cabine. E também
tenho minhas anotações. — Whiilcont se comportava como se a operação já tivesse
começado. — Eu noto que o senhor se interessa por isso. Eu gostaria de mostrar-lhe tudo,
pois então o senhor mesmo verificará que estou falando a verdade.
Quando Alaska quis responder, ele foi interrompido pela instalação de alarme da
Good Hope II.
— Preciso ir à central. Deve ter acontecido alguma coisa.
Whiilcont veio correndo ao seu lado até o corredor.
— Eu poderei falar mais uma vez com o senhor, a esse respeito?
— O senhor é terrivelmente obstinado!
— E decidido! — disse Whiilcont. — Eu corto essa coisa do seu rosto, e então o
senhor não precisará mais andar por aí com essa máscara.
“E logo agora que eu comecei a me acostumar com ela!” — pensou Saedelaere,
sarcástico.
Ele jogou-se dentro de um elevador antigravitacional. Whiilcont ficou parado na
plataforma, olhando atrás dele.
Quando Alaska pôs os pés na central, ele já esquecera novamente aquele jovem.
Na galeria panorâmica de vídeo podia ver-se uma estranha formação. Era um disco
de cerca de vinte quilômetros de diâmetro, por cima do qual, de um dos lados, estendia-se
um escudo energético em formato hemisférico. Na parte “inferior” o disco era liso e
envolto em escuridão. Por baixo do escudo energético, diversos sóis atômicos pareciam
brilhar. Vagamente podia-se reconhecer os contornos de montanhas (ou edifícios).
Saedelaere aproximou-se mais dos
controles. Ele sabia que este complexo
disparara o alarme.
Sem ter falado com alguém, Alaska
pressentia que essa coisa vinha de dentro
do “Enxame”. Com exceção dos Manips,
até agora eles não tinham visto nada ainda
que tivesse saído de dentro do “Enxame”,
por isso esse encontro era tanto mais
excitante.
Alaska avaliou que a Good Hope no
momento estava distante meio ano-luz da
região marginal do “Enxame”. Nas telas
de vídeo o “Enxame” podia ser visto
claramente.
Perry Rhodan estava sentado na
poltrona do piloto, com Icho Tolot parado atrás dele. O halutense usava o colar que o
protegia contra as radiações de imbecilização.
Do outro lado dos controles, estavam sentados Fellmer Lloyd e Merkosh. O Vítreo
tinha sucumbido na sua poltrona e parecia dormir. Saedelaere, entretanto, sabia que esta
posição indicava que ele estava pensando profundamente.
Saedelaere colocou-se atrás da poltrona de Lorde Zwiebus.
— Já descobriram alguma coisa? — murmurou Saedelaere.
Zwiebus passou a mão pelos cabelos escuros.
— Essa coisa vem do “Enxame”.
Saedelaere deu um assobio. Ele já o imaginara!
— Perry Rhodan supõe que eles foram expulsos de lá.
— Por quê?
Lorde Zwiebus resmungou para si mesmo.
— Fale mais claramente — pediu-lhe Alaska.
— Os Manips apareciam em bandos, mas esta coisa veio sozinha. Além disso, todas
as manobras que pudemos observar até agora, parecem mais ou menos desajeitadas, com
o que se pode concluir por um desnorteamento da tripulação.
Saedelaere viu que as imagens, na galeria panorâmica, agora eram transmitidas pelo
telerrastreamento. Portanto o disco ainda estava muito distante da Good Hope II.
— Desta vez tivemos sorte — observou Fellmer Lloyd. — Nós podíamos muito
bem ter estado do outro lado do “Enxame”, e então jamais teríamos descoberto esse
disco.
— Talvez não seja um acaso — retrucou Rhodan.
Os outros o olharam, interrogativamente.
Rhodan sorriu. Apesar de estar usando o seu ativador celular, as estafas das últimas
semanas não tinham passado por ele sem deixar vestígios. Linhas profundas haviam-se
gravado no seu rosto. Os olhos pareciam maiores, e em volta dos lábios haviam-se
formado muitas ruguinhas. Saedelaere perguntou-se o que devia estar acontecendo com
este homem, que agora tinha que olhar, quase que passivamente, como o Império Solar
estava ruindo.
— Talvez — continuou Perry Rhodan, tranquilo — os Senhores do “Enxame”
expulsaram esta coisa premeditadamente aqui e agora.
— Nisso eu não creio — trovejou a voz de Tolot, através da central da Good Hope
II. — Até agora, os estranhos não deram qualquer demonstração de que querem contato
conosco. Por que isso, de repente, deveria ser diferente?
— Qualquer um pode modificar a sua opinião — disse Lloyd. — Também os
desconhecidos.
Na central da Good Hope II fez-se um momento de silêncio.
“Good Hope II!”, pensou Alaska Saedelaere, irônico. Quem a bordo ainda tinha
esperanças de que a situação poderia se modificar? Eles trabalhavam aferradamente e
com decisão, mas o desespero quanto a inutilidade de seus esforços podia ser sentido
nitidamente.
Os últimos dias e semanas tinham sido um turbilhão de acontecimentos, que
dificilmente se podiam ainda coordenar.
Lorde Zwiebus ergueu os olhos para o lesado por transmissor.
— Talvez seja uma armadilha!
— Uma armadilha? — repetiu Saedelaere. — O senhor acredita realmente que
dentro do “Enxame” eles se incomodam com uma nave tão pequena? Certamente não se
dariam a tanto trabalho, se quisessem destruir a Good Hope II.
— Isso é certo! — concedeu Lorde Zwiebus. — Mesmo assim, pode ser uma
armadilha.
— Zwiebus tem razão! — concordou Rhodan. — Portanto vamos ficar longe do
disco com a Good Hope II.
— Mas é uma chance única, para finalmente ficarmos sabendo alguma coisa acerca
do “Enxame” — disse Ras Tschubai, excitado. — Se Gucky e eu...
— Não! — recusou Rhodan. — Eu sei o que quer dizer, Ras.
— Você não nota que não vamos conseguir nada dele, desse jeito? — perguntou
Gucky, que estava sentado no colo de Tschubai. — Ele precisa de nós para tarefas muito
mais importantes. Pelo menos é isso que ele acredita.
— Fique quieto, baixinho! — ordenou Rhodan.
Ninguém a bordo da Good Hope II sabia que perigos existiam nas proximidades do
disco. Por isso seria irresponsável pôr em perigo a vida dos dois teleportadores. Rhodan
somente queria utilizar Gucky e Ras, quando eles conseguissem penetrar no “Enxame”.
Porém nisso, agora, ainda não se podia nem pensar.
— Vamos tentá-lo, com um space-jet — decidiu Rhodan. — O jato pode
aproximar-se cautelosamente do disco. Alaska e Fellmer estarão a bordo. Alaska, o
senhor concorda?
— Naturalmente! — retrucou o homem com a máscara, surpreso. Ele olhou
interrogativamente para Lloyd. Podia imaginar por que Rhodan escolhera o telepata para
seu acompanhante. Com suas capacidades psíquicas, Lloyd podia determinar, com mais
facilidade, se alguém vivia por baixo do escudo energético acima do disco.
— Levem ainda um terceiro homem! — sugeriu Rhodan.
Saedelaere viu que Lloyd queria fazer uma sugestão, e disse, rápido:
— Eu tenho um pedido!
— Fale! — pediu Rhodan.
— Eu gostaria que Whiilcont nos acompanhasse! — disse Saedelaere, com a voz
agitada.
— Whiilcont? — repetiu Rhodan, sem entender.
— O jovem mentalmente estabilizado, que se juntou a nós, durante nossa última
escala na Terra, para reforçar os radioperadores.
— Sim — opinou Rhodan. — Eu agora sei de quem está falando. Mas por que o
senhor quer que justamente um homem totalmente inexperiente os acompanhe?
— São razões particulares — respondeu Saedelaere, esquivando-se.
Rhodan olhou-o seriamente.
— O senhor acha que agora é hora de pensarmos em interesses particulares,
Alaska?
O fragmento cappin sob a máscara de Saedelaere atirava radiações claras das fendas
da boca e dos olhos. Isso demonstrava claramente o quanto Saedelaere estava agitado.
— Parece que é muito importante para o senhor que Whiilcont participe da missão?
— perguntou Rhodan.
— Sim, Sir!
Saedelaere imaginou que Rhodan recusaria. Isso seria lastimável, mas inteiramente
compreensível. Uma missão importante era iminente. Quanto mais experientes fossem os
homens, mais garantido seria o sucesso.
— Chame este jovem aqui para a central! — ordenou Rhodan.
Alguns minutos mais tarde Whiilcont apareceu. Ele sorriu para Saedelaere.
— Alaska Saedelaere demonstra um interesse excepcional no senhor — observou
Rhodan, sem rodeios. — O senhor é jovem e forte; além do mais, mentalmente
estabilizado. E também já trabalhou para a CE-Solar.
— Somente ocasionalmente e apenas no serviço interno, Sir. — Também, agora
Whiilcont dava a impressão de estar inteiramente à vontade. A situação em que se
encontrava toda a Humanidade parecia não pesar sobre ele. Talvez, raciocinou
Saedelaere, Whiilcont apenas pensava na sua clínica, que ele possuía na Terra.
— O senhor é cirurgião-plástico, especializado em operações faciais! — verificou
Rhodan. — O senhor tem experiência de combate?
— Absolutamente não, Sir! — retrucou Whiilcont, despreocupado. — Para ser
honesto, eu não sei sequer manejar uma arma.
— O senhor se acha valente?
Whiilcont fez um bico com os lábios. Ele parecia refletir. Depois ele sorriu, outra
vez.
— Eu não sou especialmente corajoso. Aliás, eu nunca tive oportunidade para
descobri-lo.
Rhodan olhou significativamente para Saedelaere. O lesado por transmissor falou:
— Sinto muito, Sir! Foi somente uma ideia maluca.
Sem se importar com Rhodan, Whiilcont dirigiu-se para Saedelaere:
— Trata-se da operação?
— Tolice! — disse Alaska, cortante. — Para isto agora não temos tempo. Trata-se
do objeto que nós rastreamos e que continuamos observando. Lloyd e eu vamos voar até
lá com um terceiro homem,
Whiilcont olhou em volta, para cada um dos membros da tripulação reunidos na
central.
— E este terceiro homem, de acordo com a ideia de Alaska Saedelaere deveria ser
eu. — Ele baixou a cabeça, e continuou a falar em voz baixa. — Eu também sei por quê.
Mr. Saedelaere queria descobrir que tipo de homem eu sou. Ele queria descobrir se pode
confiar em mim. — Ele jogou a cabeça para trás. — Eu vou livrar Saedelaere dessa coisa
por baixo de sua máscara. Eu posso fazê-lo.
— Não tão impetuoso, meu jovem! — disse Rhodan.
— Como é que quer saber se lá fora eu me comportarei mal, como um experiente
astronauta? — perguntou Whiilcont. — O objeto que nós queremos examinar é
totalmente exótico. Neste contexto não existem valores de experiências.
Rhodan teve que rir.
— Experiência é a capacidade de poder rapidamente se ajustar a novas situações e
perigos. É a capacidade da reação certa no momento certo.
Para Whiilcont, com isso o assunto estava concluído.
— De qualquer maneira eu lhe agradeço muito — disse ele para Saedelaere.
Quando ele tinha abandonado a central, Tschubai disse:
— Esse rapaz me impressionou. Talvez os senhores devessem mesmo levá-lo.
— Sua intercessão foi decisiva — disse Rhodan. — Whiilcont vai acompanhar
Alaska e Fellmer Lloyd.
Saedelaere de há muito já tinha se arrependido de sua precipitação. Entretanto ele se
envergonhava de mudar, em público, a decisão que havia tomado. Com isto ele apenas
revelara Whiilcont. Sem dúvida Whiilcont era um idealista despreocupado. Exatamente o
tipo de homem que tropeçava cegamente para dentro de todos os perigos.
Saedelaere praguejou mudamente. Rhodan, com suas observações, nem estava tão
sem razão. Eles não teriam trabalho apenas com um disco exótico, mas ainda teriam que
tomar cuidado com Whiilcont. Naturalmente também havia a possibilidade de que
Whiilcont aprendesse rapidamente e se ajustasse à realidade dos fatos.
Os pensamentos de Saedelaere foram desviados, quando, do disco ainda muito
distante, novos impulsos de rastreamento foram captados.
— Alguma coisa está acontecendo por lá! — verificou Rhodan. — É pena que não
estejamos mais próximos, então talvez pudéssemos verificar as coisas detalhadamente.
Os técnicos do rastreamento se esforçaram, mas não se conseguia verificar
exatamente o que estava acontecendo nas proximidades do disco. O golpe energético
rastreado, entretanto, parecia indicar que determinadas instalações energéticas do objeto
tinham começado a trabalhar.
Alguma coisa tinha vindo de dentro do “Enxame” — ou, conforme Rhodan
acreditava, tinha sido expulso dele.
Se era correta a teoria de que o “Enxame” vinha de distâncias incalculáveis, talvez
também este disco se originava nesta região. De uma outra galáxia ou talvez até de um
outro Universo.
Novamente Saedelaere tomou consciência da total exoticidade do invasor. Na Terra
havia um grupo de cientistas que discutiam seriamente, se o “Enxame” talvez não seria
um fenômeno da Natureza. Eles apontavam para o fato de que justamente na ocasião do
surgimento do “Enxame”, também o Homo superior aparecera em cena. O Homo
superior, argumentavam os cientistas, era uma medida de proteção da Natureza, que tinha
incluído em seus cálculos o aparecimento do “Enxame”. Isso, entretanto, apenas podia
significar que o “Enxame” ou algo semelhante já tinha passado uma vez por esta galáxia.
Esta teoria parecia a Saedelaere tão certa ou tão errada, como todas as outras, que se
ocupavam com o “Enxame”. Qualquer explicação podia ser a certa. O seu próprio destino
deixava claro a Saedelaere que às vezes aconteciam coisas inimagináveis.
— Venha, Alaska — insistiu a voz de Lloyd, nos seus pensamentos. — Vamos nos
preparar e informar ao nosso bebê.
Saedelaere estremeceu. Ele olhou interrogativamente para Lloyd. O telepata tinha
lido seus pensamentos? O rosto liso de Lloyd não revelava nada. Saedelaere reconheceu
que seria indiferente se Lloyd conhecia seus pensamentos ou não. Há um milênio e meio
Lloyd lia os pensamentos de outras pessoas. Certamente ele já deixara de ver neles algo
de especial. Para ele, pensamentos não eram nada mais que frases pronunciadas.
— O senhor me parece inquieto — disse Lloyd. — Espero que isso nada tenha a ver
com nossa missão iminente.
— Naturalmente que não — garantiu Saedelaere. — Sempre que alguém se
interessa, intensamente demais, pelo meu lindo rosto, eu fico nervoso.
Ambos entraram no elevador antigravitacional e pairaram para o hangar que ficava
mais abaixo.
***
Juniper Whiilcont tinha perdido a sua mulher, durante a catástrofe. Ela estivera a
caminho de casa, num planador, quando a onda de imbecilização a atingiu. Depois de
dias de procura, Juniper Whiilcont tinha encontrado os destroços do planador. Sua
mulher não estivera mais ali, mas Whiilcont não acreditava que ela ainda estivesse com
vida. Talvez tivesse sido removida por um comando robotizado de sepultamento.
Whiilcont tinha se casado com sua mulher somente pelo dinheiro. Com este
dinheiro ele pudera abrir a sua clínica. Logo depois da abertura da clínica, Whiilcont
arranjara uma amante, e praticamente não se incomodou mais com sua mulher. Ela
parecia saber que estava sendo enganada, mas jamais falara sobre o assunto.
Certa vez ela aparecera em sua clínica e se sentara diante do espelho em 3-D.
— Eu gostaria de ter um rosto novo! — Ele parecia ainda ouvir agora as palavras
dela.
— Para que, minha querida? Você já é deslumbrante!
— Um rosto que pudesse agradar a você, Juniper — ela respondera.
Ele ficara um tanto desconcertado. Mais do que esta alusão, ela jamais dera de si.
Muitas vezes ele se perguntara como um ser humano podia ser tão paciente.
Porém tudo isso já fazia muito tempo. Juniper Whiilcont precisava esforçar-se para
conquistar novamente um lugar no mundo em que agora tinha que viver. Um lugar que
lhe permitisse levar a vida que ele amava.
Na verdade, depois da catástrofe, nunca mais seria como antigamente. Whiilcont
estava contente, por ter concordado com a operação que lhe haviam sugerido, há três anos
atrás, na CE-Solar. Os responsáveis pela CE-Solar o haviam mandado operar, para que
ele não pudesse revelar, em eventuais interrogatórios, quais os rostos que ele tinha
modificado. Através desta operação, Whiilcont se transformara num mentalmente
estabilizado. Ele saíra ileso da onda de imbecilização.
Whiilcont estava deitado na cama de sua pequena cabine, com os braços cruzados
atrás da cabeça. Ele sempre tivera sorte. Sabia que na maioria das pessoas ele despertava
simpatia. Seu rosto aberto e o seu sorriso juvenil o tornavam querido. E ele sempre
aprendera a tirar proveito disso. Juniper Whiilcont certamente não se teria designado
como um homem ruim, se lhe tivessem pedido sua opinião a respeito.
Ele se considerava um sujeito de sorte, e não sentia escrúpulos, ao fazer uso dos
sentimentos das outras pessoas.
— Saedelaere! — disse ele, baixinho.
Alaska Saedelaere era a chave para seus novos êxitos. O lesado por transmissor era
um dos mais íntimos colaboradores de Perry Rhodan. Whiilcont esperava conseguir
conquistar a confiança de Saedelaere.
Afinal ele já se encontrava a bordo da Good Hope II, junto com outros cinquenta e
oito membros da tripulação. Whiilcont não estava por acaso a bordo desta nave, mas
tinha procurado conseguir isso sistematicamente. Há alguns dias, ele ainda estivera
trabalhando no “Imperium-Alfa”, da central de Terrânia City. Ele chamara a atenção de
Galbraith Deighton. Conseguira até convencer Deighton, de quanto seria útil um homem
com sua capacidade a bordo da Good Hope II.
Depois disso, tudo fora fácil. Ele olhara Saedelaere fixamente e começara uma
conversa com ele. O interesse de Saedelaere estava, sem dúvida alguma, despertado,
agora era importante aprofundar ainda mais este interesse.
Whiilcont lastimou não poder acompanhar o lesado por transmissor na missão
planejada. Essa oportunidade ele teria aproveitado para conseguir um contato ainda
melhor com o homem da máscara.
Whiilcont só se interessava em segunda linha pelos acontecimentos nas
proximidades do “Enxame”.
Ele continuou deitado na cama, refletindo intensamente.
***
— Posso revelar-lhe uma coisa? — Fellmer Lloyd acabara de fechar o gancho de
seu traje de proteção e olhou para Saedelaere, que estava de pé ao lado do space-jet,
inspecionando os objetos do equipamento que foram reunidos diante da eclusa.
Saedelaere ergueu a cabeça, interrogativamente.
— O bebê não me agrada!
— Whiilcont? — perguntou Saedelaere, admirado. — O senhor encontrou alguma
coisa desvantajosa em seus pensamentos?
— Ele é mentalmente estabilizado! Além do mais eu só faço uso de meus dons
telepáticos quando não é possível evitá-lo.
Saedelaere sentiu que o mutante ficara chateado e desculpou-se.
— Está bem! — disse Lloyd. — Talvez eu esteja enganado, no que concerne ao
bebê.
— Com certeza! — afirmou o lesado por transmissor. Ele pegou o seu capacete e
apontou para o elevador antigravitacional, na outra extremidade do hangar. — Eu agora
vou buscar Whiilcont.
Lloyd apontou para a aparelhagem do intercomunicador na parede.
— Por que não deste modo?
Depois de ligeira hesitação, Saedelaere sacudiu a cabeça.
— Acho melhor eu mesmo falar com ele antes.
Ele deixou Lloyd no hangar e pairou pelo elevador antigravitacional para o convés
dos tripulantes, mais acima. A Good Hope II parecia abandonada. Todos os membros da
tripulação permaneciam nos seus postos ou então estavam em suas cabines.
Saedelaere estava admirado que Atlan não protestara contra a sua missão planejada.
O arcônida, durante uma discussão, algumas horas antes do rastreamento do estranho
disco, tinha dito claramente que queria comandar pessoalmente uma missão que se
tomasse eventualmente necessária.
Saedelaere entretanto aprendera a não tomar sempre ao pé da letra o que Atlan
dizia. Às vezes as observações do arcônida eram lances de um xadrez psicológico, com
os quais ele perseguia determinadas metas. Talvez desta vez Atlan apenas quisera
alcançar que Perry Rhodan não participasse pessoalmente numa missão.
O lesado por transmissor notou como se mexia o fragmento cappin no seu rosto.
Isso não era excepcional. Saedelaere perguntava-se se esta formação teria algum
sentimento. Desde a sua conversa com Whiilcont ele pensava novamente com mais
frequência nesta coisa debaixo de sua máscara.
Talvez o fragmento cappin ansiava por uma separação. Porém então ele teria que
possuir inteligência, ou pelo menos instinto.
Diante da cabine de Whiilcont Saedelaere parou. Whiilcont agora não estava de
serviço; mesmo assim, em vista da situação, teria sido mais compreensível que ele se
encontrasse no seu posto.
Saedelaere bateu na porta.
Poucos instantes depois a mesma foi aberta.
— Alaska Saedelaere! — disse Whiilcont, surpreso. — O senhor veio se despedir?
Como é que Whiilcont podia ter a ideia de que ele queria despedir-se dele?
Saedelaere olhou o jovem atentamente, porém Whiilcont não desviou o olhar.
— Eu vim para buscá-lo! — disse Alaska.
— O quê? — A boca de Whiilcont se abriu.
— O senhor vai participar de nossa missão!
Whiilcont sorriu, deu um passo para trás, para dentro da cabine e abriu o armário
embutido. Ele tirou de lá alguma coisa que Saedelaere não pôde ver, depois saiu para o
corredor.
— Eu lhe agradeço!
Saedelaere ergueu ambos os braços.
— Só me agradeça depois que voltarmos desta missão. Talvez o senhor ainda venha
a lastimar que eu o recomendei.
— Certamente que não! — Os olhos de Whiilcont brilhavam.
O seu entusiasmo teve um efeito quase contagiante em Saedelaere.
— No hangar tudo está pronto para o senhor, Whiilcont.
Whiilcont parou e segurou Saedelaere pelo braço.
— Posso pedir-lhe uma coisa?
— Naturalmente!
— Me chame pelo meu primeiro nome. Eu me chamo Juniper. Os meus amigos
também me chamam de Sommer. Não apenas devido ao meu prenome mas também
porque acham que eu tenho um ânimo ensolarado.
Saedelaere sorriu, irônico.
— Então boa sorte, que tudo dê certo, Sommer!
Eles se deram as mãos. Quando alcançaram o hangar, Fellmer Lloyd já concluíra
todos os preparativos. Ele os esperava na escada do space-jet. Aos seus pés estava o traje
de proteção destinado a Whiilcont.
Saedelaere apontou para Whiilcont.
— Nós podemos chamá-lo de Sommer! (Verão). Ele vai nos dar sorte.
— Hum — fez Lloyd, cético. — Venha para bordo, Sommer.
A formação expulsa de dentro do “Enxame” tinha modificado a sua posição só
muito pouco. Os impulsos de rastreamento continuavam oscilando. Se alguém vivia
dentro ou em cima do disco, não parecia ter muita certeza do que deveria fazer agora.
Esta indecisão naturalmente também podia ser uma ilusão.
Senco Ahrat, Primeiro Emocionauta a bordo da Good Hope II, tirou o capacete-
SERT da cabeça. Ele foi substituído por Mentro Kosum.
Joak Cascal, que observara o processo, disse para Icho Tolot, que estava parado do
seu lado.
— No mínimo o terceiro melhor piloto deveria ter participado desta missão.
— E o senhor acha que é isso aí? — perguntou o halutense, trovejante.
Cascal sorriu, um pouco torto.
— Foi o que me disseram muitas vezes!
— Não gaste o seu talento com Icho Tolot — disse Toronar Kasom. — Ele não
consegue entender o sentido duplo de suas palavras.
— Nesse caso ele perde realmente muita coisa — opinou Cascal.
— Talvez mais tarde o senhor ainda terá oportunidade de colocar à prova sua
capacidade extraordinária — interveio Atlan.
— Se este disco é tão interessante, como parece ser no monitor do rastreamento, a
visita de Saedelaere certamente será apenas a primeira de uma longa fileira.
Cascal curvou-se com um sorriso.
— Eu fico-lhe grato pelas suas palavras cheias de consolo, Lorde-Almirante.
A conversa emudeceu quando no vídeo apareceu o rosto, coberto por uma máscara,
de Saedelaere.
— Nós pedimos permissão para decolar.
Rhodan olhou para Kosum.
— Tudo em ordem! — declarou o piloto.
— Permissão para decolar está sendo dada! — gritou Perry.
A eclusa do hangar abriu-se. Poucos instantes depois o space-jet em forma de disco-
voador apareceu nas telas de vídeo da central.
— Lá vão eles! — disse Senco Ahrat, sobriamente.
O contato por rádio continuou, mas no momento não havia nada para relatar.
Na central da Good Hope II a tensão crescia.
Agora finalmente se realizaria uma tomada de contato com habitantes do
“Enxame”?
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Juniper Whiilcont tinha assumido o lugar do radioperador, e por isso podia observar
os seus acompanhantes, sem estar, ele mesmo, sentado dentro do campo visual destes.
Em Saedelaere não havia muito que ver, nenhuma pessoa podia imaginar o que -se
passava sob a máscara.
Mas também a expressão facial de Lloyd era tudo, menos significativa. Whiilcont
tinha a desconfiança de que Lloyd não gostava dele. Porém essa era uma suposição que
até agora não havia sido confirmada por nada. Lloyd era (calculado em anos) um homem
muito velho, que não baixaria a guarda dos seus sentimentos com muita facilidade.
Os cantos da boca de Whiilcont tremeram. Ele estava decidido a fazer uso de todo o
seu charme, para também trazer Lloyd para o seu lado. Lloyd e Saedelaere falariam
acerca dele, e então seria importante que também o mutante tivesse urna boa impressão a
seu respeito.
Whiilcont sabia que por enquanto dificilmente haveria oportunidade de executar-se
a operação prometida em Saedelaere. Provavelmente esta operação era impossível, ou ela
terminaria com a morte do paciente.
Porém isso, para Whiilcont, no momento, era indiferente. Ele agora podia prometer
tudo, para alcançar o seu alvo. Mais tarde, certamente pensaria em alguma coisa, para
poder subtrair-se à responsabilidade.
— Sommer!
Era a voz de Saedelaere.
Whiilcont estremeceu. Somente agora ele notou que o aparelho de rádio zunia. Ele
balbuciou uma desculpa e ligou para a recepção. Na tela de vídeo apareceu o rosto do
Lorde-Almirante Atlan. Os lábios do arcônida estavam repuxados num sorriso
zombeteiro.
— O senhor sempre dorme tão profundamente?
— Desculpe-me, Sir! — disse Whiilcont, abatido. Nestes momentos ele sabia como
mostrar-se muito contrito.
— Está bem! — disse Atlan. — Passe-me Alaska!
Saedelaere atendeu. O arcônida passou-lhe novos resultados de avaliações.
Whiilcont mal escutava, a ele interessava exclusivamente Saedelaere. Mesmo assim
precisava prestar atenção. Se ele continuasse desatento, despertaria a desconfiança dos
seus acompanhantes.
Ele concentrou-se nas ordens que Atlan passava, para terminar. O arcônida
ordenava à tripulação do space-jet a se aproximar do disco com o escudo protetor por
cima, somente com a maior cautela, e, em caso de ataque, eles deviam regressar
imediatamente.
Em seguida a comunicação foi interrompida.
Desta vez Whiilcont não cometeu qualquer erro.
Saedelaere perguntou:
— Alguma coisa não está em ordem, Sommer?
— Desculpe-me! Eu estava refletindo.
— Há alguma coisa que o preocupa?
Whiilcont apontou para o monitor de rastreamento, no qual se mostrava o disco.
— Isso eu consigo entender — disse Saedelaere, no seu modo de falar meio
arrastado. — Mas o senhor não deve esquecer-se da sua tarefa, por causa disso.
Whiilcont olhou para Lloyd, mas o mutante estava curvado por cima dos controles.
Ele parecia não se interessar pela conversa.
Whiilcont respirou fundo.
Ele precisava ter cuidado. Os homens com quem viajava faziam parte dos
responsáveis principais da Frota Solar. Eles já mantinham estes postos, quando ainda
ninguém nem pensava na catástrofe. Isso queria dizer que eles faziam parte dos
astronautas mais capazes e inteligentes. A eles não seria tão fácil enganar, como às
pessoas na Terra.
Whiilcont decidiu que, de agora em diante, somente pensaria na missão. Mais tarde
ele poderia novamente preocupar-se com Alaska Saedelaere.
Ele concentrou seus pensamentos naquela formação estranha, da qual eles estavam
se aproximando.
— Vamos pousar, se houver uma possibilidade para isso? — perguntou Saedelaere.
— Isso depende das circunstâncias — retrucou Lloyd, esquivando-se.
Whiilcont olhou de um para o outro.
Era evidente que Fellmer Lloyd era o dirigente da missão. Ele naturalmente se
mantinha discretamente, mas as decisões finais seriam tomadas por ele. Para Whiilcont
teria sido mais interessante se Saedelaere estivesse no comando.
Quando a metade do caminho havia sido deixada para trás, a Good Hope II chamou
novamente pelo rádio. Desta vez apareceu o rosto de Rhodan na tela de vídeo. Whiilcont
prestara atenção, e imediatamente passou a ligação para o assento do piloto, ocupado por
Saedelaere.
— Já podem reconhecer detalhes? — perguntou Rhodan.
— Não mais que de bordo da Good Hope — respondeu o lesado por transmissor. —
Naturalmente tudo parece maior, mas o escudo energético por cima do disco não permite
uma boa observação. Entretanto parece que sob este escudo existe uma paisagem.
Existem, no mínimo, dois sóis artificiais.
— Sóis artificiais nos permitem concluir que haja uma paisagem — declarou
Rhodan. — No mínimo, deve haver uma região habitável. Em favor disso também fala o
escudo energético, que tudo cobre.
Quando o space-jet ainda estava distante do disco 200 milhões de quilômetros,
aconteceu uma coisa incomum. O escudo energético por cima da metade do disco agora
podia ser visto nitidamente. Deste escudo parecia sair um pequeno objeto voador.
— Ali está saindo alguma coisa! — gritou Lloyd, avisando.
Saedelaere fez o disco deslizar para fora do espaço linear e freou o seu voo.
Os três homens a bordo ficaram observando os aparelhos rastreadores.
Eles viram que uma formação serpentina, de cerca de cinquenta metros de diâmetro,
deslizou de dentro do escudo para o cosmo. O escudo fechou-se atrás dela, como se
jamais tivesse havido uma abertura.
— O senhor pode reconhecer uma ruptura estrutural? — voltou-se Saedelaere para
o telepata.
Lloyd sacudiu a cabeça.
— Foi algo diferente, mas essa coisa saiu lá de dentro sem dificuldades. É um
objeto voador.
— Sommer! Mensagem de rádio para a Good Hope! Informe sobre o que estamos
vendo.
Whiilcont apressou-se em executar a ordem de Saedelaere. De bordo da Good Hope
II também tinham observado o acontecimento, apesar de não poderem fazê-lo com a
nitidez que a tripulação do space-jet obtinha.
Rhodan advertiu Saedelaere:
— Preste atenção para não ser atacado!
Whiilcont observou detalhadamente o objeto voador recém-surgido. Aquela coisa
parecia informe. A curva oca da concha parecia cheia de alguma coisa. O objeto voador
afastava-se lentamente do disco, entretanto não tomou a direção do space-jet.
— Eu não creio que esta manobra tem a ver conosco — declarou Saedelaere,
lentamente. — O que acha disso, Lloyd?
O mutante preferiu silenciar.
Quando o objeto voador em forma de concha tinha se afastado cerca de cinco mil
quilômetros do disco, ele despejou o seu conteúdo no espaço.
— Uma nave-lixeira! — gritou Saedelaere, surpreendido. — Ela transportou lixo da
região por debaixo do escudo energético para o espaço, e ali esvaziou-se. Provavelmente
agora vai voltar.
— O senhor tem razão — concordou Lloyd. — O surgimento dessa coisa, com toda
certeza nada tem que ver conosco.
— Transmita isso, Sommer! — ordenou-lhe Saedelaere.
Whiilcont hesitou.
— Como é que o senhor tem tanta certeza de que se trata de uma nave de lixo?
— Nós não temos certeza — retrucou Saedelaere, calmo. — Mas no momento esta
é a explicação mais lógica.
Whiilcont transmitiu uma mensagem correspondente para a Good Hope II. Para sua
surpresa ninguém fez qualquer pergunta. Rhodan e Atlan pareciam acreditar
incondicionalmente no relatório.
Conforme Saedelaere dissera antes, o objeto voador em formato de concha
regressou para o disco. Pouco à frente do escudo energético ele diminuiu a sua
velocidade de voo ao mínimo.
— Agora prestem muita atenção! — gritou Saedelaere. — Talvez um de nós possa
identificar se existe alguma espécie de eclusa.
Porém eles não conseguiram verificar nem uma eclusa nem algo semelhante.
Também não houve qualquer ruptura de estrutura. O objeto voador estranho desapareceu
através do escudo como através de uma parede de água.
— Curioso — opinou Saedelaere. — Durante a passagem o escudo fechou-se
completamente em torno do objeto voador. Como é que uma coisa dessas é possível?
— Certamente trata-se de uma forma de energia totalmente desconhecida para nós
— supôs Lloyd.
Saedelaere recostou-se na sua poltrona. Ele parecia relaxar. Das fendas de sua
máscara, o fragmento cappin brilhava.
— O senhor acredita que o escudo deixará passar qualquer objeto voador, desse
modo?
— Isso é de difícil resposta — achou o telepata. — Certamente há uma
possibilidade de defender-se contra visitantes não-desejados.
— Vamos examinar as coisas que os estranhos descarregaram no espaço — sugeriu
Saedelaere.
Lloyd concordou. Whiilcont teve que mandar uma mensagem correspondente à
Good Hope II. Ninguém tinha nada a objetar contra os planos da tripulação do space-jet.
Whiilcont espantou-se com a calma com que os seus acompanhantes se
comportavam na aproximação dessa coisa. Afinal de contas eles não estavam voando
para algum ponto qualquer do espaço, mas na direção de um objeto voador totalmente
estranho, que saíra do “Enxame”.
— Observe o disco! — ordenou Saedelaere ao jovem cirurgião-plástico. — Nós
damos meia-volta, logo que alguma coisa se esgueirar para fora do escudo energético.
Em completo silêncio eles se aproximaram do carregamento que a nave em formato
de concha despejara no espaço cósmico. Tratava-se de torrões disformes.
— Sujeira! — verificou Saedelaere, laconicamente. — Como nós imaginávamos.
Nenhum dos objetos pairando no espaço cósmico tinha qualquer coisa de especial.
Um rápido teste determinou que os torrões também não possuíam radiação própria.
— Realmente, não passa de lixo — observou Fellmer Lloyd, no seu modo lacônico.
— Mais um método para livrar-se do seu lixo!
— A produção de lixo é uma característica quase humana — disse Saedelaere,
pensativo.
O mutante fez um gesto defensivo.
— Todas as possíveis espécies de inteligências produzem materiais de sucata e
depois não sabem como se livrarem deles.
Whiilcont prestava muita atenção à conversa. Às vezes ele não conseguia livrar-se
da impressão de que os dois homens, desde que tinham abandonado a Good Hope II,
utilizavam uma linguagem especial, que somente podia ser entendida por iniciados.
Será que eles faziam isso premeditadamente?
De qualquer maneira ele não perderia a calma. Durante a missão ele certamente
ainda teria oportunidade de ganhar definitivamente a confiança de Saedelaere.
O space-jet agora voava pelo meio do monte de lixo à deriva no espaço. Blocos
isolados passavam bem perto da cúpula de plástico blindado. A luz dos holofotes, eles
pareciam porosos e cinzentos.
— Restos de matéria plástica — disse Saedelaere.
— Eu não estou tão certo — respondeu Lloyd.
Whiilcont desejava também poder dizer alguma coisa, mas quanto mais tempo ele
observava o que era visto pairando no espaço, mais certeza tinha de que não se parecia
com absolutamente nada que ele já tivesse visto. Tratava-se de um lixo completamente
exótico, de matérias estranhas, criado num ambiente estranho.
— Está bem, Sommer! — disse Saedelaere, de repente. — Vamos trazer um desses
troços para bordo.
Whiilcont ergueu-se e correu para a eclusa.
— Devagar! — admoestou Saedelaere. — Deixe que Fellmer e eu façamos isso. O
senhor, entrementes, assume o assento do piloto.
Whiilcont sentou-se na poltrona que Saedelaere abandonara. Lançou um olhar para
o enorme número de controles e esperou que não houvesse qualquer incidente, enquanto
os dois outros estavam ocupados com o recolhimento do agregado de lixo. Naturalmente
Whiilcont tinha feito um hipnotreinamento em navegação e como piloto, mas ele
duvidava que, caso necessário, soubesse pilotar o space-jet.
Quando ele olhou por cima do ombro, Lloyd e Alaska estavam manejando algumas
alavancas.
Saedelaere sorriu-lhe.
— Preste atenção no seu lugar, Sommer!
Aquela admoestação, dada num tom quase paternal, começou a deixar Whiilcont
agitado.
Ele repuxou a cara e abafou uma observação.
Os dois homens não desembarcaram, apesar de Whiilcont ter esperado por isso.
Eles utilizaram uma espécie de vara de pescar magnética, para agarrar um dos objetos
que passava à deriva. Em seguida a linha magnética foi puxada para bordo.
— A coisa pode ficar lá fora, até regressarmos — disse Lloyd.
Isso foi tudo. Whiilcont ficou decepcionado. Se tudo aqui no cosmo acontecia tão
sem qualquer dramaticidade, esta não era a vida que ele desejava.
Saedelaere assumiu novamente o assento do piloto, Whiilcont voltou para a
aparelhagem de rádio. Pelo menos aqui ele sabia fazer tudo.
Whiilcont teve que mandar mensagem à Good Hope II, informando sobre o que
ocorrera nos últimos dez minutos. Esta troca de notícias estava dando-lhe nos nervos. O
que se prometiam Lloyd e Saedelaere se, por causa de qualquer ninharia, falavam com os
responsáveis a bordo da nave-mãe?
Whiilcont executava todas as ordens contra sua vontade, mas nunca esquecia de
mostrar uma atitude amistosa e satisfeita. Ele lastimava que Fellmer Lloyd também
estava com eles a bordo. De algum modo, a presença do mutante tinha para ele um efeito
embaraçoso. Ele não conseguia ter um contato certo com Alaska Saedelaere.
— Isso basta! — opinou Alaska, depois que eles tinham voado uma segunda vez
através daquela lixeira cósmica. — Agora vamos nos interessar pelo disco.
Eles deixaram o lixo, à deriva no cosmo, atrás de si. Whiilcont informou à Good
Hope II que o space-jet agora se aproximava do disco. O mentalmente estabilizado olhou
para fora da cúpula transparente. Ele conseguia reconhecer o disco já agora a olho nu. Era
um ponto luminoso que rapidamente ficava maior. Nas telas de vídeo já podiam
reconhecer-se pormenores. Uma das montanhas (ou seria um edifício?) por baixo do
escudo energético alcançava até os sóis artificiais ao alto. Devia ser um maciço
formidável. Whiilcont notou que aquela visão começava a fasciná-lo.
O space-jet interrompeu o seu voo linear e voltou para o espaço comum.
— Agora vamos ter que ser duplamente cautelosos! — disse Saedelaere. — Logo
que alguma coisa sair do disco, nós recuamos imediatamente.
O jato aproximou-se do disco em diagonal, “de cima”. Conforme já tinha sido
comunicado pelo telerrastreamento da Good Hope II, o disco tinha um diâmetro de cerca
de vinte quilômetros. Ele tinha uma grossura de cerca de quatro quilômetros, e mostrava
irregularidades nas bordas. Whiilcont não conseguia reconhecer exatamente como as
elevações isoladas eram formadas, pois estas ficavam, em sua maior parte, na sombra.
Em contrapartida, ele via bem melhor agora o escudo protetor do disco. E viu
pormenores por baixo do escudo.
***
O space-jet havia se aproximado da estranha formação até poucos quilômetros, e
rodeava lentamente o escudo protetor energético. Era uma manobra arriscada que,
entretanto, era executada com o beneplácito de Perry Rhodan. As câmeras do jato
corriam e transmitiam as imagens tomadas, por hiper-rádio, para a Good Hope II, de
modo que a tripulação da nave-mãe podia observar também, sem perda de tempo.
O escudo protetor impedia uma visão sem problemas da região sobre a qual o
space-jet cruzava. Entretanto, o que os três homens avistavam, através da cúpula de
plástico blindado da nave-disco, era suficientemente fantástico.
O centro da “paisagem” por baixo do escudo protetor era formado por uma
edificação parecida com uma fortaleza, que à primeira vista parecia uma gigantesca
montanha. Ela cobria uma superfície de cerca de trinta quilômetros quadrados e estendia-
se em forma de pirâmide até a ponta. Por toda parte se elevavam torres e edifícios de
dentro do maciço. Em toda a volta da fortaleza, cujas pontas mais altas quase tocavam o
escudo protetor, estendiam-se estradas serpenteantes, curiosamente abauladas, todas elas
terminando em buracos redondos, escuros. O complexo parecia consistir de aço amarelo.
O amarelo possuía uma forte força luminosa e refletia a luz dos sóis artificiais. Em volta
das pontas da fortaleza circulavam três gigantescos objetos voadores pretos. Na sua
aparência eles lembravam a Whiilcont de pássaros, mas ele duvidava que por baixo do
escudo energético houvesse animais desse tamanho.
A paisagem em tomo desta edificação consistia de campos ordenados limpamente,
nos quais eram cultivadas plantas parecidas com fetos. Entre os campos isolados
erguiam-se edificações que deviam ser silos. Do outro lado da fortaleza ficava uma
pequena aldeia com diversas casas em formato de cúpula. Estas casas tinham sido
construídas em círculo, em volta de uma grande praça com uma fogueira no centro.
Alaska Saedelaere finalmente quebrou o silêncio.
— O que acham disso?
Apesar da pergunta ter sido dirigida a Lloyd e Whiilcont, somente o mutante
respondeu.
— Eu recebo fracos impulsos de pensamentos, Alaska. Esta terra estranha, portanto,
é povoada.
Mais uma vez Whiilcont sentiu-se excluído. Ele agarrou-se tão fortemente aos
braços de sua poltrona, que os ossinhos de suas mãos sobressaíram, esbranquiçados.
— Eu acredito que estamos vendo diante de nós produtos de duas civilizações —
disse ele, tão calmamente quanto possível. — A fortaleza e as cabanas entre os campos
foram construídas por criaturas diferentes.
— Tudo isso me parece um sistema autárquico — declarou Saedelaere, sem dar
atenção às palavras de Whiilcont. — Eu gostaria de saber por quem foi criado. Pena que
não podemos reconhecer melhor o que se passa lá embaixo.
Whiilcont disse, encarniçado:
— Talvez nas casas menores vivam os escravos dos habitantes da fortaleza.
Lloyd ordenou:
— Quer calar a boca por um instante, Sommer!
Estas palavras foram como uma bofetada no rosto, para o rapaz. Ele abaixou a
cabeça, para que os outros não vissem que ficara vermelho. Mas não lhe davam qualquer
atenção. Eles olhavam através da cúpula e observavam os aparelhos de rastreamento.
Entrementes, conversavam. Whiilcont tremia de raiva.
Somente a muito custo ele se acalmou novamente. Recebeu as palavras de Lloyd
como um ultraje. As vozes dos dois outros pareciam vir de muito longe. Whiilcont
concentrou-se.
— Uma coisa me interessaria — disse Saedelaere, neste momento. — A fortaleza
foi construída em cima do disco, ou o disco construído embaixo da fortaleza.
“Maluco!”, pensou Whiilcont.
Mas Lloyd parecia levar a pergunta realmente a sério, pois refletiu longamente,
antes de responder.
— O complexo é autárquico, mas mesmo assim pode ser parte de uma estrutura
maior.
— A edificação grande consiste de material amarelo, certamente metal. — Ele
sacudiu-se. — Que criatura humana gostaria de morar numa casa amarela?
Tudo isso ele falou no seu modo arrastado de falar, enquanto os seus braços magros
se movimentavam quase suplicantes.
“Ele é tão malditamente mais esperto que eu, que Lloyd só ouve a ele?” — pensou
Whiilcont, chateado.
Tudo que Saedelaere dizia, Whiilcont também poderia ter dito do mesmo modo.
Mas na realidade não importava o que se dizia, mas sim como se dizia aquilo.
Whiilcont pensou, decidido: Eu ainda vou mostrar muita coisa a vocês!
— Sommer! — chamou Alaska, com voz suave. — O aparelho de rádio!
Com uma praga abafada, Whiilcont ligou para recepção. Ele notou que suas mãos
continuavam tremendo.
— O computador positrônico calculou todos os dados — disse Rhodan, sem
rodeios. — Presumivelmente sob o escudo energético haja membros de dois ou mesmo
de três povos.
— Foi o que eu disse! — deixou escapar Whiilcont.
O seu sentimento de triunfo apagou-se rapidamente, quando ele notou os olhares de
Lloyd.
— O possível armamento dos lavradores somente pode ser primitivo — prosseguiu
Rhodan. — Sobre a fortaleza ainda não há nada. Nenhum valor padrão. Também a
conexão entre a fortaleza e as fazendolas ainda não foi esclarecido. — Ele acrescentou
um pouco mais baixo: — No fundo, não há nada que possa ajudar os senhores.
— O escudo protetor — respondeu Alaska, aferrado — impede medições e
observações exatas.
Whiilcont podia ver que Rhodan se virou para o lado. Os lábios do Administrador-
Geral se mexiam, mas Whiilcont não podia ouvir o que Rhodan dizia. Talvez ele
estivesse falando com Atlan.
Quando o som foi novamente ligado, Rhodan perguntou:
— Os senhores acham que podem penetrar no escudo protetor com o space-jet?
— Isso vai depender de uma tentativa — retrucou Lloyd. — Eu não consigo sentir
impulsos inamistosos, apesar de certamente já termos sido rastreados.
— Eu deixo a decisão aos senhores — disse Rhodan. — Podem regressar, e então
primeiramente mandaremos algumas sondas. Mas também podem tentar penetrar no
escudo energético com o space-jet.
— Nós vamos pensar nisso — prometeu Lloyd.
Whiilcont tinha escutado, perplexo.
Ele ficou completamente desconcertado quando Saedelaere se virou para ele e
perguntou:
— O que acha disso?
Whiilcont sorriu, apesar de um sentimento indefinido lhe dizer que um sorriso no
momento estava totalmente fora do lugar. E aquilo era mais para proteger seus
verdadeiros sentimentos.
— O senhor pergunta a mim? — disse ele, espantado.
— O que acha de estranho nisso?
— Bem... — Whiilcont procurou desesperadamente por palavras, depois apontou
para Lloyd. — Ele pediu que eu calasse a boca.
Saedelaere franziu a testa, mas não disse nada. Também Lloyd silenciou. Whiilcont,
que supôs ter cometido grave erro, ficou cada vez mais desconcertado. Como é que ele
não conseguia enfrentar estes dois homens tão desembaraçadamente, como sempre o
fizera com outras pessoas?
Era porque eles voavam a três num space-jet através do espaço cósmico, ou era
devido a proximidade do objeto voador estranho de dentro do “Enxame”?
Alguma coisa, de qualquer modo, estava diferente. — O senhor parece que mal-
entendeu isso completamente — disse Lloyd, e olhou atentamente para Whiilcont. —
Nós não estamos brincando com o senhor. O senhor deverá dar sua opinião, sobre se
devemos ou não penetrar no escudo protetor com o space-jet.
— Isso é decente — Whiilcont tentou colocar uma tonalidade agradecida na sua
voz, mas na realidade ele farejava uma armadilha, para a qual o telepata o estaria
atraindo.
— Ele está um pouco confuso — verificou Saedelaere. — Não é de admirar. Afinal
de contas, esta é a primeira aventura deste tipo para ele. Vamos dar-lhe um pouco de
tempo, para pensar.
— Isso não é necessário! — protestou Whiilcont. Dramaticamente ele acrescentou:
— Eu já tomei minha decisão. Mas faz algum sentido, comunicá-la?
— Agora não faz mais — disse Lloyd, secamente.
Whiilcont imaginou que os dois homens haviam decidido voar através do escudo
protetor. Ele não sabia como eles tinham chegado a esta decisão entre eles, mas ela
certamente existia.
A decisão foi bem-vinda a Whiilcont. Quando eles se encontrassem na região dos
estranhos, ele certamente poderia movimentar-se novamente com mais liberdade, e
comportar-se como tal. O aperto da central do space-jet tinha um efeito deprimente sobre
ele.
— Eu sei que sou um principiante — disse Whiilcont. — Mas eu lhes peço que
sejam um pouco mais pacientes comigo. Eu vou me esforçar.
— Está tudo bem, Sommer! — acalmou-o Saedelaere. Lloyd não disse nada, mas os
cantos de sua boca tremeram. Ele não vai conseguir impedir que eu me torne amigo de
Saedelaere, pensou Whiilcont.
Ele teve que efetuar uma ligação de rádio com a Good Hope II.
Lloyd falou com Perry Rhodan.
— Nós vamos tentá-lo — declarou o mutante, sobriamente.
— Os senhores sabem que precisamos urgentemente de informações a respeito do
“Enxame” — retrucou Rhodan, que evidentemente não esperara por outra decisão. —
Isso não significa que os senhores tenham que incorrer num grande risco.
— Eu avalio que o voo através do escudo protetor é um risco de qualquer modo —
acentuou Lloyd.
— Boa sorte — desejou Rhodan.
Para Whiilcont também esta conversa era um procedimento inacreditável. Perry
Rhodan e estes homens falavam uns com os outros como... Whiilcont não encontrou uma
palavra adequada. Antes de ter vindo para a Good Hope II, ele nunca havia visto Perry
Rhodan pessoalmente. Como para a maioria das pessoas, também para ele Perry Rhodan
era uma espécie de lenda. Mas a maneira como Rhodan e seus colaboradores
conversavam entre si, deixaram aparecer dúvida em Whiilcont, se Rhodan realmente era
aquele homem formidável, como geralmente era apresentado.
Se ele tivesse escutado as mensagens de rádio de olhos fechados e sem
conhecimento da situação, ter-lhe-ia sido difícil dizer quando falava Rhodan e quando um
dos outros dois homens.
Whiilcont ergueu os olhos e esperou até que Saedelaere olhou na sua direção.
— Por que Perry Rhodan não ordena para que nós penetremos no escudo de
proteção? — quis ele saber.
Saedelaere parecia perplexo, pois esperou algum tempo com sua resposta. Mas
também esta foi enigmática.
— Nós nos entendemos também sem ordens!
“Para o diabo com todos vocês!”, pensou Whiilcont. “Eu ainda vou acabar
entendendo o jogo que vocês fazem...”
O space-jet modificou a sua rota. Ele terminou de circular em volta do escudo
protetor e diminuiu sua velocidade. Saedelaere pilotou-o na direção do escudo energético
por cima do grande disco.
— A nave-lixeira penetrou a meia altura — lembrou Lloyd. — Talvez nós também
deveríamos tentá-lo por ali. Mais para cima chegamos muito perto dos sóis atômicos, e
mais para baixo nos encontramos imediatamente no campo visual das criaturas que
provavelmente vivem ali.
Saedelaere anuiu.
Whiilcont notou que o space-jet, agora que estavam longe do escudo protetor só
poucas centenas de metros, quase parara no espaço.
O escudo protetor por cima do disco agora parecia uma parede ardente. A
micronave espacial parecia cair na sua direção. Whiilcont notou a aceleração das batidas
do seu coração. Uma pressão surda apertou-lhe o peito.
“Medo!”, constatou ele.
Timidamente ele olhou para os outros. Não devia revelar os seus sentimentos de
modo algum. Mas talvez Alaska Saedelaere e Fellmer Lloyd também sentissem medo.
Cem metros diante da parede chamejante, o homem da máscara parou a nave-
auxiliar.
— Tudo continua quieto! — disse Lloyd. Sua voz soava abafada.
Apesar de agora estarem bem perto, eles não conseguiam reconhecer nada através
dele. Ele brilhava e ofuscava os três observadores. Somente os contornos da estranha
fortaleza podiam ser vistos.
— Eu sinto impulsos mentais diferenciados — continuou falando Lloyd. — Há
diversos grupos. Eu consigo sentir agitação. Ela nada tem a ver conosco. Algum
acontecimento está ocupando os moradores dentro do escudo protetor. Informações mais
exatas eu não recebo.
— Eu acho que agora podemos arriscá-lo — opinou o lesado por transmissor.
Ele olhou de Lloyd para Whiilcont, não para obter uma confirmação, mas para
sublinhar o significado de sua observação. Suas mãos ossudas estavam firmemente
agarradas ao manche de pilotagem. Os propulsores do space-jet zuniam abafados.
— Sommer, uma última notícia para a Good Hope, dizendo que agora vamos tentar
a penetração! — ordenou Saedelaere. — Se realmente conseguirmos passar, o contato de
rádio deverá ser interrompido.
Da Good Hope II veio apenas uma curta confirmação. A nave-auxiliar retomou o
voo.
Whiilcont olhou através da cúpula.
“Logo vamos bater contra esta parede chamejante de pura energia e
explodiremos!”, pensou ele, alarmado.
Ele notou que mordia fortemente o lábio inferior, mas não ousava erguer-se.
O disco voava tão lentamente, que o movimento, do interior da central, mal era
percebido.
E então a superfície externa tocou o escudo energético. O canto externo da nave
desapareceu. Ele tornou-se invisível para os homens na central. O escudo fechou-se em
torno dele.
— É como se penetrássemos numa nuvem! — disse Saedelaere.
Lentamente toda a nave atravessou o escudo. Não houve nem ruídos adicionais,
nem os aparelhos de rastreamento ligados mostravam alguma reação.
A parede exterior da cúpula tocou o escudo.
Whiilcont fechou os olhos e esperou, retendo a respiração.
Quando ele abriu os olhos novamente, foi ofuscado pela luz clara dos sóis atômicos,
por baixo do escudo energético.
— Chegamos! — disse Saedelaere.
3
O space-jet pairava quatro mil metros acima daquela terra exótica. Logo adiante
deles, a gigantesca fortaleza erguia-se nos ares. Tudo estava banhado pela luz solar muito
clara. Desde o primeiro instante Whiilcont estava certo de que, do lado de fora da nave-
auxiliar, havia uma atmosfera respirável. Uma outra coisa parecia não ser absolutamente
provável.
Os campos, por cima dos quais eles voavam, estavam divididos em quadrados
regulares. Em intervalos de quinze campos, erguiam-se edificações marrom-escuras, de
trinta metros de altura, que certamente serviam como pavilhões de depósitos.
Saedelaere levou o disco na direção da pequena aldeia. Os três homens viram que,
partindo da fortaleza, um largo viaduto elevado levava até as cabanas em forma de
cúpulas. Nas proximidades da aldeia o elevado era bloqueado por nativos. Eram criaturas
atarracadas, com duas pernas e dois braços. Os braços eram exageradamente compridos e
musculosos. A cabeça estava repartida em dois cilindros que divergiam, obliquamente,
em cujas extremidades superiores se encontravam os órgãos dos sentidos. A maior parte
dos nativos estava vestida com saias confeccionadas de folhas secas, os outros estavam
nus. A cor de sua pele era difícil de determinar, ela se alternava num moreno claro para
um verde e azul, em diversas partes do corpo.
A grande fogueira entre as cabanas era vigiada por dois nativos. As edificações
pareciam abandonadas. Todos os nativos haviam se distribuído de ambos os lados da
estrada. Eles pareciam estar esperando por alguma coisa.
— Estranho — disse Saedelaere. — Eles já devem ter nos visto há bastante tempo,
mas não nos dão atenção.
— Eles estão agitados — explicou Lloyd. — Eu só posso compreender os seus
sentimentos, e não os seus pensamentos. Aconteceram diversas coisas imprevistas.
Ele ergueu a cabeça e apontou para os três objetos voadores negros que circulavam
em torno da ponta da fortaleza.
— Essas coisas também vivem. Eu sinto seus impulsos mentais.
Whiilcont olhou, espantado, para o alto da fortaleza. Os três pássaros gigantes
indolentes pareciam nunca mudar a sua rota. Em espaços uniformes eles voavam em
tomo da ponta da fortaleza. O que os mantinha lá em cima? Eles pertenciam a um sistema
de vida determinado, como o dos nativos?
Também Saedelaere observou os três pássaros.
— Eu juraria que se tratava de objetos voadores — confessou ele. — Mas quando
os observamos por mais tempo, reconhecemos que se trata de criaturas vivas.
Whiilcont avaliou que cada pássaro tinha uma envergadura de asas de dez metros.
Por baixo das asas negras, em formato de delta, podia reconhecer-se garras brancas. Não
se podia ver nenhum bico, a cabeça de formato oval era dirigida verticalmente para baixo,
de modo que se podia reconhecer nitidamente um olho parecido com uma lente.
Os três pássaros atraíram definitivamente a atenção de Whiilcont. Era menos por
sua aparência sinistra, e mais por seu comportamento. Como se estivessem atados em
cordéis invisíveis, eles circulavam em torno da torre mais alta da fortaleza.
— Também de dentro da fortaleza vêm impulsos mentais — informou Lloyd. —
Eles se diferenciam daqueles dos nativos e dos pássaros. Eu tenho certeza de que as
criaturas que vivem dentro da fortaleza são mais inteligentes que as duas outras espécies.
Whiilcont olhou para os muros amarelos da fortaleza.
O que se esconderia atrás dele? Histórias de há muito esquecidas, de sua infância,
voltaram à sua memória, velhas sagas, das quais, mais tarde, ele sorrira. Cada uma das
antigas histórias do passado da Humanidade tinha uma ligação determinada com a
realidade.
Mas este disco imenso vinha de uma distância inimaginável. Ele nada devia ter em
comum com a Humanidade.
“Mas ainda assim!”, pensou Whiilcont. — “Cada homem não tinha uma ligação
inescapável com a Criação? Ele não era parte de um Todo maravilhoso, e por isso mesmo
em posição de, pelo menos, imaginar determinadas conexões?”
Instintivamente Whiilcont sacudiu a cabeça. Que ideias eram essas que lhe vinham?
Ele precisava concentrar-se em realidades. Ele estava aqui, com os outros dois, para
descobrir o segredo deste disco imenso. A isso se juntavam seus motivos próprios. Ele
queria ganhar a amizade de um homem tão influente como era Alaska Saedelaere. Então
poderia ter certeza de poder levar unia vida mais ou menos segura, mesmo num meio
ambiente ameaçado por catástrofes.
— Nós continuamos a não receber nenhuma atenção! — verificou Saedelaere. —
Ele virou a cabeça na direção de Whiilcont. — Verifique se conseguimos contato de
rádio com a Good Hope.
Whiilcont tentou-o, porém um rumorejar forte se sobrepunha a todos os ruídos no
receptor. Ele estava convencido de que a bordo da nave-mãe, eles não conseguiriam
receber os seus sinais.
— Está bem! — Saedelaere fez um gesto defensivo. — Não precisamos mais tentá-
lo; enquanto estivermos por baixo do escudo de proteção.
— E agora? — perguntou Lloyd. — Eu não posso ajudar muito, os pensamentos
dos estranhos são difíceis de serem espreitados. Eles possuem instalações defensivas
naturais. E os seus sentimentos são difíceis de entender.
Saedelaere silenciou. Ele levou o space-jet para mais perto da fortaleza. A nave-
auxiliar seguiu as linhas sinuosas de uma estrada. Ela estava abandonada. Agora
Whiilcont verificou que todas as ruas em volta da fortaleza estavam abandonadas. Suas
superfícies brilhavam à luz dos sóis atômicos. Para que serviam, se ninguém as usava
para transportar-se?
O jato desceu algumas centenas de metros. Saedelaere voou bem para perto de uma
das aberturas redondas, na qual desembocava uma rua. Não se podia ver nada, a luz
parecia não poder atravessar a abertura.
Whiilcont não conseguia explicar-se este fenômeno. Os dois outros homens ficaram
em silêncio.
De repente ouviu-se um grito penetrante.
Whiilcont estremeceu e olhou, amedrontado, em volta de si.
Do lado de fora não se podia ver nada de excepcional.
— O que foi isso? — deixou escapar o homem mais jovem.
Saedelaere apontou com o polegar para o alto.
— Um dos três pássaros! Uma potência sonora espantosa!
Whiilcont sentiu um arrepio. O grito quase parecera com o grito de uma criatura
humana nos estertores da morte.
— Os nativos não lhe dão importância — verificou Lloyd. — Parece que eles estão
acostumados a essa espécie de barulho.
Como é que alguém podia acostumar-se a esta espécie de gritos? — perguntou-se
Whiilcont, perturbado.
Saedelaere tirou uma lamina de plástico perfurada da saída do computador de
bordo, e olhou-a rapidamente.
— Avaliação automática! — disse ele. — A atmosfera, por baixo do escudo de
proteção, é respirável. A gravidade consiste de quase um gravo.
O space-jet voou rapidamente para baixo, em diagonal, na direção da aldeia de
nativos. Whiilcont achou que Saedelaere queria chamar a atenção dos nativos para eles,
com essa manobra. Mas não conseguiu nada disso, pois toda a atenção dos nativos estava
dirigida para a rua.
Saedelaere praguejou em voz alta.
— Esses sujeitos são estúpidos?
Lloyd não respondeu. Ele parecia concentrar-se. Saedelaere olhou em redor, depois
voou o space-jet na direção de uma das edificações semelhantes a silos. Ele pousou o
disco em cima do telhado. Depois ergueu um escudo protetor em volta da pequena nave.
Ninguém os atacou. Todas as criaturas que viviam em cima daquele disco gigante,
pareciam ignorar os recém-chegados. Isso era mais perturbador que qualquer ataque.
Alguns minutos mais tarde, Saedelaere abriu a eclusa e desligou o escudo protetor.
De fora entrou ar fresco. Era agradavelmente quente.
— Se o senhor sair, eu gostaria de acompanhá-lo — sugeriu Whiilcont.
— Um de nós tem que ficar para trás — declarou o lesado por transmissor. — O
senhor vigiará a nossa nave, enquanto Fellmer e eu damos uma olhada lá fora.
Para surpresa de Whiilcont, o mutante veio em seu auxílio.
— Podemos sair todos os três, Alaska. — Ele fechou o cinturão do seu traje de
proteção. — Durante nossa ausência colocamos o escudo protetor em volta do jato.
Saedelaere hesitou, mas quando ele notou o olhar brilhante de Whiilcont, finalmente
cedeu.
Eles abandonaram, os três juntos, a pequena nave. Do telhado do silo eles podiam
ver os campos e uma parte da aldeia. Da ponta da fortaleza soprava um vento morno.
Também isso era um dos enigmas dessa terra.
Whiilcont viu que entre os campos isolados havia caminhos estreitos, pelos quais
era possível movimentar máquinas e nativos. Os fetos, que eram plantados por toda parte,
tinham mais ou menos metro e meio de altura. Os caules das plantas eram da grossura de
um polegar e transparentes, como se fossem de vidro. Folhas, que pareciam espinhas de
peixe, sobressaíam dos caules, em três direções diferentes. As folhas ficavam mais largas
e mais longas de baixo para cima. O solo, no qual cresciam as plantas, tinha uma
coloração marron-acinzentada.
Whiilcont não conseguiu descobrir nenhum animal por entre as plantas. Ele dirigiu-
se para a beira do telhado, onde Saedelaere e Lloyd estavam parados, observando a
aldeia. Através de uma abertura por entre as cabanas, Whiilcont pôde ver a grande
fogueira. Os nativos queimavam fardos comprimidos, que estavam amontoados perto da
fogueira. A fumaça erguia-se para o alto, praticamente na vertical.
— Tudo parece tão pacífico — disse Saedelaere.
Instintivamente ele abafara a sua voz.
— Pacífico demais! — observou Lloyd. — Eu sinto uma ameaça. E ela vem de
dentro da fortaleza.
De repente, ele pareceu ter ficado estarrecido. Seus olhos se abriram muito.
— Ainda existe uma terceira espécie! — gritou ele, alarmado. — Uma única
criatura, por isso eu ainda não pudera localizá-la até agora. Ela parece ser culpada pela
agitação dos nativos.
De repente, Whiilcont sentiu o desejo de desaparecer deste ambiente sinistro. A
qualquer momento a calamidade podia desabar sobre eles. O que é que eles sabiam sobre
os acontecimentos neste disco gigante? Nenhum dos perigos, que poderiam existir aqui,
eram conhecidos por eles.
— O que mais pode descobrir ainda? — perguntou Whiilcont, agitado.
Lloyd olhou-o bem de frente, mas não disse nada.
Whiilcont sentiu que o sangue lhe subia à cabeça mas teimosamente manteve firme
o seu olhar. Seu embaraço rapidamente passou novamente para a raiva, mas ele
conseguiu sorrir para o mutante.
— Nós devíamos ir até a aldeia — sugeriu Lloyd, depois de algum tempo. — Eu
tenho a sensação de que ali vai acontecer uma coisa interessante.
O rosto mascarado de Saedelaere voltou-se para Whiilcont.
— O senhor sabe voar?
Whiilcont não compreendeu imediatamente. Quando finalmente deu-se conta de
que Saedelaere estava perguntando se ele estava familiarizado com a aparelhagem de voo
do seu traje de combate, ele apertou os lábios e pegou na alavanca de partida do seu
cinturão.
Ele subiu do telhado e pairou acima dos dois homens. Lloyd olhou para ele, no alto,
muito sério.
— Está bem, Sommer! — disse Saedelaere, satisfeito. — Vamos embora!
Bem no alto, muito acima deles, um dos pássaros gigantes gritou.
4
Desde que a ligação por rádio com o space-jet fora interrompida, na central da
Good Hope II reinava uma tensa espera. O disco somente modificara a sua posição muito
pouco. Ele pairava ao longo da borda do “Enxame”. Também o “Enxame” não mostrava
quaisquer reações incomuns. Não haviam surgido outros objetos voadores. Os aparelhos
de rastreamento da Good Hope tateavam pelo Universo. A bordo constantemente se
contava com o surgimento de Manips ou de outros objetos voadores perigosos.
— O senhor acha que aconteceu alguma coisa aos três homens? — perguntou Senco
Ahrat, que depois de uma curta pausa de descanso voltara novamente à central de
comando.
Rhodan sacudiu a cabeça.
— A ligação foi interrompida quando o jato ultrapassou o escudo protetor que fica
por cima do disco gigante. Eu não creio que aconteceu alguma coisa errada.
Gucky, que estava sentado no ombro de Tolot, apontou para a galeria panorâmica
de vídeos.
— Ras e eu poderíamos tentar teleportar para dentro do escudo. — Antes que
Rhodan pudesse dizer que não, ele continuou: — Eu sei que você não vai concordar com
isso, Grande Mestre. Mas, se dentro de algumas horas nós não conseguirmos qualquer
ligação com Alaska, você vai ter que nos mandar até lá.
— Sobre isso ainda podemos falar mais tarde — opinou Perry.
— Também poderíamos mandar um segundo space-jet — sugeriu Cascal. — Ele
poderia rodear o escudo protetor e fazer observações.
— Naturalmente você está pensando em um determinado piloto — adivinhou o
rato-castor, desconfiado.
— No melhor dos três! — disse Cascal, sorrindo.
Gucky saltou, com uma curta teleportação, do ombro de Tolot para o colo de
Rhodan.
— Se você der preferência a esse sujeito cheio de si, eu nunca vou perdoá-lo.
Rhodan sorriu.
— Eu ainda vou pensar nisso.
O radioperador de serviço avisou que todas as tentativas para entrar em contato com
o space-jet lançado, tinham dado em nada. No receptor somente podiam ouvir-se fortes
ruídos de interferências.
— Alaska e Fellmer são dois homens experimentados — disse Atlan. — Não
precisamos nos preocupar por eles. Eles voltarão, logo que as coisas fiquem perigosas.
— Se eles ainda puderem voltar — objetou Merkosh.
Ele fez um enorme esforço para que sua voz não soasse muito estridentemente, pois
cada vez que começava a falar, alguns membros da tripulação tapavam os ouvidos com as
mãos.
— O que quer dizer com isso? — Tolot perguntou ao Vítreo.
A boca em formato de tromba de Merkosh tremia.
— Saindo do espaço, eles conseguiram passar facilmente para dentro do escudo
protetor — declarou ele. — Mas se eles tiverem que fugir, o escudo energético poderá
reagir de modo inteiramente diverso.
Também Rhodan já pensara nessa possibilidade. Ele sabia perfeitamente que não
poderia deixar Saedelaere e os dois outros homens para trás, se depois de algum tempo
eles não voltassem por conta própria.
Ele ainda não tinha nenhum plano definido sobre como deveria agir num caso
desses, mas sobre isso ainda poderia pensar mais tarde.
Rhodan perguntou-se se a expulsão do disco do “Enxame” poderia ser uma tentativa
de contato dos estranhos. Como eles não sabiam nada a respeito da mentalidade dos
habitantes do “Enxame”, eles tinham que contar com todas as possibilidades.
— No que está pensando? — quis saber Atlan.
— No que você acha? — retrucou Rhodan.
O arcônida olhou para as telas de vídeo.
— Todos os nossos problemas têm conexão com o “Enxame” — disse ele. — Se
quisermos eliminar a onda de imbecilização, temos que solucionar o enigma do
“Enxame”.
Rhodan anuiu, aferrado. Os fracassos sofridos até agora não tinham feito esmorecer
sua força de decisão. Junto com seus amigos, ele meditara sobre inúmeras teorias,
mandando avaliá-las. O mais provável era que o “Enxame” atravessaria toda a galáxia e
desapareceria novamente, tão misteriosamente como aparecera. Mas isso poderia durar
séculos. Uma segunda possibilidade era que o “Enxame”, por uma razão qualquer,
estacionaria definitivamente na Via-Láctea. Esse era, visto relativamente, um problema
maior.
Talvez Alaska e Fellmer Lloyd trouxessem as primeiras indicações.
5
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