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18ª RPU – REUNIÃO DE PAVIMENTAÇÃO URBANA

São Luís, MA - 18 a 20 de junho de 2012

PERSPECTIVAS DE UTILIZAÇÃO DE MATERIAL FRESADO EM PAVIMENTOS


URBANOS DE SÃO LUÍS-MA

Anderson Nascimento Silva1 ; Alysson Penha de Jesus2 ; Alexandre Costa Pereira3 & Walter
Canales Sant’Ana4

RES UMO

Nos últimos anos a capital maranhense, São Luis, passa por obras de restauração em suas principais avenidas,
compreendendo, basicamente, fresagem do revestimento, nova camada de CAUQ de até 5 cm e sobre esta, um
micro rrevestimento asfáltico. No entanto, o material fresado não é reutilizado na confecção de novas misturas asfálticas,
sendo espalhado, sem qualquer controle em páteos ou vias internas de empresas que solicitam o material descartado. O
presente trabalho objetiva estudar as propriedades volumétricas e mecân icas d e misturas asfálticas que contenham o
material fresado, para assim, incentivar empresas privadas e a administração pública na adoção de medidas sustentáveis
nas obras de pavimentação. Além dos ensaios laboratoriais para caracterização de materiais granulares e asfált icos,
foram analisadas as propriedades volumétricas e mecânicas das misturas asfálticas obtidas com o fresado . As misturas
asfálticas, recicladas com o fresado, de melhor desempenho em laboratório, foram utilizadas em aplicações
experimentais em tapa-buracos, de forma que se avaliasse seu comportamento em campo. Os resultados apontam para a
viabilização do material fresado utilizado neste trabalho em misturas de CAUQ, apesar de não contribuir,
significativamente, na redução da taxa de ligante asfáltico, porém proporcionando redução de custos e dos impactos
causados ao meio amb iente.

PALAVRAS-CHAVE: Material fresado, pavimentos, misturas asfálticas.

ABSTRACT

In recent years the capital of Maranhão, São Luis, has been rehabilitating its main avenues, basically milling the
wearing course, laying an up 5cm concrete asphalt and a cold micro surfacing. Ho wever, the milling material is not
reused on the manufacture of new asphaltic mixture , it is spread without any control on patios or internal pathways of
companies seeking the discarded material. This work aims to study the mechanical and volumetric properties of asphalt
mixtu res that include the milled material to therefore encourage private companies and public ad ministration to adopt
sustainable measures in the paving works. Beside the laboratory tests for the characterization of granular and asphaltic
materials, the volumetric and mechanical properties of asphalt mixtures obtained with the milled material were also
analyzed. The recycled asphalt mixtures of better performance in the laboratory, were used in experimental applications
in potholes, for evaluate its behavior in the field. The results indicate the feasibility of the milled material used in this
work as part of CAUQ, although the contribution is not significant to the reduction of asphalt binder content, it provides
less costs and impacts to environment.
KEY-WORDS: Milling, paving, asphaltic mixtures .

1
Acadêmico do Curso de Engenharia Ci vil- UEMA, São Luis, MA, andersonnascimentosilva@hotmail.com
2
Acadêmico do Curso de Engenhari a Ci vil- UEMA, São Luis, MA, alysson_royal@hotmail.com
3
Acadêmico do Curso de Engenharia Ci vil- UEMA, São Luis, MA, mil_alexandre@hotmail.com
4
Prof. Dr. do Depto de Expressões Gráfica e Trans portes - UEMA, S ão Luis, MA, canalessantana@uol.com.br

INTRODUÇÃO

O aquecimento do setor da construção civil, e também da pavimentação, acelera a exploração de


materiais granulares ou aumenta as distâncias de transporte dos mesmos. Isto torna cada vez mais
interessante a busca de novos materiais e técnicas, destacando-se entre eles a reciclagem de
pavimentos, uma solução viável porque reutiliza o material granular removido do antigo pavimento
para produção de novas misturas asfálticas. Assim consegue-se redução de tempo, energia e custos
de aquisição e transportes de novos agregados, mitigando o impacto ambiental gerado pela extração
destes.

A restauração das vias urbanas da capital maranhense se procedia por meio de recapeamento ou
retirada com bota- fora da camada de revestimento. As duas conseqüências imediatas eram as
espessuras elevadas resultantes perceptíveis, principalmente, nas vias com presença de meios- fios e
calçadas, ou a agressão ao meio ambiente aliado ao desperdício de materiais com possibilidade de
reaproveitamento. Porém, dependendo do grau de deterioramento do revestimento existente ou para
evitar a elevação do desnível com a calçada torna-se necessária a utilização da fresagem, que no
presente estudo é complementada por nova camada asfáltica (até 5 cm) e microrrevestimento
asfáltico. Esse processo gera enorme quantidade de resíduos constituídos de areia, filler, brita e
CAP (Cimento Asfáltico de Petróleo), matérias nobres da pavimentação que devem ter um destino
diferente do descarte.

OBJETIVO

O objetivo do presente trabalho é analisar as características físicas dos materiais e propriedades


mecânicas de misturas asfálticas do tipo CAUQ compostas com 85% de material fresado sendo este
complementado com 15% de areia e CAP de maneira que seja atendida a especificação DNIT
033/05. A nova mistura será empregada experimentalmente em tapa-buracos de vias de baixo
volume de tráfego.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Segundo Bonfim (2007) a fresagem de pavimentos é classificada pelos critérios da espessura da


camada desbastada e pela rugosidade resultante na pista.
Classificam-se os tipos de fresagem quanto à espessura de corte, em:
(i) Superficial;
(ii) Rasa;
(iii) Profunda.

Quanto à rugosidade resultante na pista pode-se distribuir em:


(i) Padrão;
(ii) Fresagem Fina;
(iii) Microfresagem.

Ainda segundo Bonfim (2007), os tipos de reciclagem distinguem-se entre si conforme o local e
temperatura de produção da mistura, pelo tipo do ligante introduzido complementarmente e pelas
características do material a reciclar. Os tipos de reciclagem são:
(i) Reciclagem em usina a quente de camadas de misturas betuminosas envelhecidas;
(ii) Reciclagem em usina semi-quente de camadas de misturas betuminosas;
(iii) Reciclagem in situ a quente com betume espuma;
(iv) Reciclagem in situ a frio com emulsão betuminosa;
(v) Reciclagem in situ a frio com cimento de camadas de pavimentos.

MATERIAIS E MÉTODOS

A fresagem do revestimento asfáltico é uma realidade na capital maranhense (Figuras 1 e 2), sem
contudo, reaproveitar o material fresado. A camada asfáltica posteriormente lançada é produzida
com materiais novos sendo ainda complementada com camada de microrrevestimento asfáltico.

Figura 1: Ativ idade de fresagem em via urbana. Figura 2: Detalhe da superfície fresada

O material fresado a partir de um revestimento de CAUQ foi coletado pela equipe de autores após
fresagem de avenida realizada no período noturno em São Luis, identificado e enviado ao
laboratório. Posteriormente, deu-se início ao processo de preparação das amostras com secagem
prévia ao ar e preparação das mesmas para os ensaios (Figuras 3 e 4). A caracterização física do
material fresado deu-se por meio de granulometria (DNER–ME 083/98), índice de forma (ABNT
NBR 7809/05) e densidade real (DNER–ME 084/95). Determinou-se ainda o teor de asfalto
residual do fresado.
Figura 3 e 4. Espalhamento do material fresado em laboratório.

Para a correção granulométrica do agregado fresado, utilizou-se uma areia de graduação média
derivada da Jazida Porto Grande nas proximidades de São Luis. Para este material foram adotados
os procedimentos da norma NBR 6457/86, seguidos dos ensaios de granulometria (DNER–ME
083/98), massa especifica densidade real (DNER-ME 043-95), equivalente de areia (DNER- ME
054/97) e teor umidade (NBR 6457/86).

O ligante utilizado na composição foi o CAP 50/70 produzido pela LUBNOR (Lubrificantes e
Derivados de Petróleo do Nordeste). Os ensaios de caracterização do ligante foram Ponto de
Amolecimento (ABNT NBR6560/00), Viscosidade Saybolt-Furol (DNER-ME004/94) e Penetração
(DNER-ME 003/99).

O método Marshall (DNER-ME 043-95) foi adotado para a produção dos corpos-de-prova nos
teores de betume: 0%, 0,5%; 1%; 1,5%; 2%; 2,5%; 3%; 3,5%; 4%; 4,5% e 5% de CAP. Para cada
teor foram confeccionados 4 corpos-de-prova (Figuras 5 e 6). A compactação deu-se com 75 golpes
por face para a obtenção dos parâmetros volumétricos e mecânicos das misturas. O grande número
de teores de asfalto em estudo foi ocasionado pela não ocorrência de fusão do CAP residual
presente no fresado em estudo.

Figura 5. CP’s fabricados Figura 6.Pesagem hidrostática.


A granulometria do fresado foi procedida com e sem a presença do asfalto residual envolvente. O
agregado sem asfalto foi aquele remanescente do ensaio de extração do betume (DNER –ME
053/94).

O ensaio de índice de forma (ABNT NBR 7809/05) foi utilizado para a definição da forma dos
agregados envoltos pela película de CAP.

O ensaio de extração de betume foi realizado com a finalidade de determinar a porcentagem de


betume extraída do material fresado, além de preparar o material fresado sem betume para o ensaio
de granulometria e densidade real. Para este ensaio empregou-se a norma DNER 053/94, no qual se
faz uso do equipamento extrator tipo Rotarex que promove a separação do agregado do betume
diluído num solvente apropriado (tetra cloreto ou benzol) usando altas rotações.

Em fase posterior aos trabalhos laboratoriais buscou-se aplicar as misturas asfálticas de melhor
desempenho em remendos de vias do Campus Universitário. Foram escolhidas 12 panelas, tomadas
suas dimensões, sendo adotados os procedimentos executivos de recorte em forma retangular,
preenchimento com laterita e brita graduada, conforme a espessura. Estes materiais foram
compactados e imprimados com emulsão asfáltica do tipo RL-1C. Em cada remendo foi aplicada
camada de 4 a 5cm de mistura reciclada do tipo CAUQ, em seguida compactados com 30 a 45
golpes de um soquete manual, conforme sua dimensão (Figuras 7 e 8).

Figura 7. Panela recortada e imp rimada. Figura 8. Processo de compactação.

RESULTADOS

Na Tabela 1 são apresentados os resultados dos ensaios de caracterização do material fresado, areia
e CAP.
Tabela1. Resultados de Caracterização
Ensaio Tipo de Amostra Resultado
Equivalente de Areia Areia 34,90%
Densidade Real Areia 2,67g/cm³
Ponto de Amolecimento CAP 49°C
Penetração CAP 51 mm
Densidade Real Fresado com betume 2,53g/cm³
Densidade Real Fresado sem betume 2,69g/cm³
Índice de forma Fresado com betume 2,9
Teor de Betume Fresado com betume 4,23%

Analisando os resultados obtidos por meio do ensaio de granulometria observa-se que o material
fresado com betume fica mais próximo de ser enquadrado na faixa “C” (DNIT 033/05) ao contrário
do agregado derivado da extração de betume (Figura 9).

100
90 Fresado com betume
80
Fresado sem betume
70
% Passante

60 DNIT Faixa "C"


50
40
30
20
10
0
0,0 0,1 1,0 10,0
Diâmetro dos grãos(mm)

Figura 9. Granulo metrias do material fresado com e sem betu me co mparadas a faixa “C” do DNIT.

Para o enquadramento na Faixa C do DNIT foi acrescido ao material fresado, 15% de areia
resultando na curva granulométrica apresentada na Figura 10.
100
90 Material Fresado com
80 betume
Faixa "C" DNIT
70
% Passante

60
50
40
30
20
10
0
0,0 0,1 1,0 10,0
Diâmetro (mm)
Figura 10. A juste do material fresado em relação à faixa “C”.

Para a fabricação dos CP’s, o ligante foi aquecido a temperatura de 150°C, os agregados (incluindo
o fresado) a 165°C e compactados a 140° C, temperaturas essas adquiridas do gráfico “Viscosidade
versus Temperatura” extraídos no ensaio de Viscosidade Saybolt-Furol (DNER-ME 004/94).

Os resultados obtidos através do ensaio Marshall estão apresentados na Tabela 3. Nota-se o bom
desempenho da mistura nos quesitos Estabilidade, Fluência e Volume de Vazios relacionado aos
teores de 2% a 2,5%, e 4% a 4,5% de CAP 50/70 adicionado.

Tabela 3. Parâmetros Mecânicos e Vo lu métricos

Teor de CAP
Es tabili dade DMT Gmb
CP Adicionado Fluência VV(% ) VCB (% ) VAM(% ) RBV(% )
Corrigi da(N) (g/cm³) (g/cm³)
(% )

0,00 0,00 6,18 252,73 2,55 2,21 13,35 0,00 13,35 0,00
0,50 0,57 6,09 312,11 2,53 2,16 14,51 1,06 15,57 6,87
1,00 1,03 4,70 339,73 2,51 2,21 12,20 2,16 14,37 15,07
1,50 1,57 5,77 556,50 2,49 2,26 9,28 3,33 12,60 26,48
2,00 2,08 5,70 460,97 2,48 2,26 8,56 4,44 13,00 34,53
2,50 2,53 4,81 452,38 2,46 2,28 7,11 5,60 12,71 44,05
3,00 3,01 5,49 510,14 2,44 2,34 4,01 6,89 10,90 63,29
3,50 3,60 6,83 483,44 2,42 2,38 1,71 8,17 9,88 82,72
4,00 4,05 4,75 643,07 2,41 2,32 3,71 9,08 12,80 71,34
4,50 4,56 5,82 511,11 2,39 2,34 2,06 10,32 12,38 83,48
5,00 5,09 6,38 398,56 2,37 2,36 0,33 11,59 11,92 97,27
Três meses após a execução do tapa-buraco sob desgaste mecânico causado pela solicitação do
tráfego leve e pela ação das chuvas e das altas temperaturas na região nordeste, os remendos
apresentam-se em bom estado não apresentando trincas (Figura 11 e 12).

Figuras 11 e 12: Remendos após de uso.

CONCLUSÃO

Os resultados mostraram que a mistura que apresente uma composição de 85% de fresado com 15%
de areia de agregados para 3,0% de CAP apresenta propriedades volumétricas e mecânicas
compatíveis às normas brasileiras possibilitando sua utilização na pavimentação de vias públicas.
Apesar de que o CAP residual do fresado não fundiu, o teor de apenas 3% de CAP novo já foi
suficiente para resultados satisfatórios nos ensaios realizados, sendo que há algum tipo de
contribuição da película de CAP para o melhor arranjo e aderência entre os grãos compactados.

A aplicação da mistura na pista, apesar de não observar um controle rígido de execução, mostrou-se
satisfatória após três meses de execução.

Serão realizados outros ensaios para avaliar a deformabilidade da mistura utilizando material
fresado na composição apresentada neste trabalho.

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