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Entre os anos 90 e 2000 a depressão passou por um processo de tecnização

por parte da mı́dia, tornando-se uma atualidade jornalı́stica e vinculando-se à


uma governamentalidade construı́da entorno da depressão por parte da mı́dia.
Essa tecnização se dá em termos de comunicação social, ou seja, possui especi-
ficidades relativas à linguagem que possibilitam que a depressão atue como um
dispositivo discursivo.A tecnização começa com a perda da dimensão narrativa
que se dá pelo esquecimento da ideia de comunidade e coletividade, passando
para um discurso individualista. Dois operadores são de suma importância
para compreendermos tanto a tecnização da depressão como a governamental-
idade midiática: “hipótese didática” e hipótese do receptor ideal”. O primeiro
pode ser compreendido como uma simplificação adaptada à lógica jornalı́stica
de uma série de enunciados cientı́ficos, cuja função é ensinar ao leitor como viver
e como lidar com a depressão, quais as caracterı́sticas, como evitá-la e quais cir-
cunstâncias/hábitos podem provocar a mesma. Já a hipótese do receptor ideal
é compreendida como aquele indivı́duo capaz de reconhecer por si mesmo os
hábitos que podem levar a um estado depressão, e a partir dessa análise evitar
tais condutas e por conseguinte a depressão. Esses dois operadores são justifica-
dos em certa medida pela transição da concepção social da depressão, para uma
transcendência técnica capaz de ser apreendida por um saber. Neste processo
de transcendência, a noção de risco borra a concepção de normal e anormal,
permitindo que o indivı́duo em algum momento de sua existência, se reconheça
em alguma categoria de risco, mais que como normal ou anormal estritamente,
mas em gradações. O risco passa a fazer parte da produção midiática acerca
da depressão. Atualmente como a noção de normal e patológico esbarra sempre
em complicações epistemológicas na hora de definir o que é ou não é normal.
À noção de risco ao contrário, não propõe definir esses limites categóricos da
normalidade, ela busca enquadrar o indivı́duo em categorias que estão a todo
momento sofrendo alterações. À falta de uma definição especı́fica por parte dos
saberes instituı́dos, tais como Medicina, Psicologia, Psicanálise e a Psiquiatria
é o que possibilita que à mı́dia produza um discurso que torna à depressão uma
atualidade em nosso momento. À maneira pela qual a depressão se torna uma at-
ualidade midiática, não corresponde à mesma lógica dos saberes instituı́dos. Ao
contrário da ciência que advoga um saber que tem uma origem e vai ser consti-
tuindo progressivamente, a lógica jornalı́stica não compartilha dessa concepção.
Atualidade da depressão jornalı́stica não é unidirecional. Ela é atravessada por
questões sociais e inúmeros fatores complexos, a produção discursiva midiática
acerca da depressão se constitui nos jogos de poder.

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