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ESPAÇO / ESPAÇOS
VI Colóquio
Internacional Sul de
Literatura Comparada
ARTIGOS
Porto Alegre
Instituto de Letras UFRGS
2015
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Letras
Jane Tutikian
Diretora
ESPAÇO / ESPAÇOS
VI Colóquio Internacional Sul de Literatura Comparada
ISBN 978-85-64522-20-6
Andrei Cunha
Ilustrador
7 Apresentação
Tiago Pedruzzi1
Borges narra em seu conto Historia de Jinetes quase de forma anedótica que:
1 Tiago Pedruzzi é doutorando em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul.
Além disso, agregou que esta idiossincrasia não seria uma prerroga-
tiva do típico cavaleiro pampiano, mas de todos os povos cavaleiros, citando
os mais conhecidos: mongóis e beduínos árabes. Esta afirmação no conto, re-
tirada da boca de um historiador e reafirmada a partir de exemplos pinçados
da história universal, assume a categoria de verdade indiscutível. Exemplos
históricos das mais variadas culturas confirmam o fato ficcional de Borges. O
contrário também parece acontecer, as cidades rechaçam os gaúchos. Estes ho-
mens do campo afeitos às práticas consideradas bárbaras pelos citadinos não
têm espaço no conglomerado urbano. Exemplo clássico de rechaço é o motivo
pelo qual a cidade de Porto Alegre recebe o epíteto “Mui Leal e Valerosa”, por
manter-se ao lado do império mesmo depois de cair na mão das forças farrou-
pilhas, Sarmiento no inclassificável Facundo também reflete sobre o antago-
nismo dos gaúchos e das cidades, no entanto essa situação mudará, o gaúcho
entrará nas cidades, fixará raízes que até o momento não pareciam existir (ou
não poderiam existir) e fará parte da paisagem dos grandes centros urbanos
da região pampiana e dos seus centros de poderes e áreas de influência. Essa
invasão do gaúcho à cidade se dará de duas formas: uma real, em que indiví-
duos oriundos do campo vítimas de processos de industrialização, imigração e
demarcação dos limites das propriedades formarão uma massa de deserdados
sociais que passarão a ocupar as franjas das cidades, ou seja, viverão trafegan-
do na linha entre o mundo urbano e o mundo rural até a fixação final nos
centros urbanos; outra pelo elogio cultural que as cidades manifestarão a este
tipo social e suas manifestações artísticas. Nesta tentativa de louvação farão
parte todas as formas artísticas possíveis: teatro, literatura, artes plásticas, mú-
sicas, etc.
Sabe-se que a representação do gaúcho na literatura inicia em mea-
dos do século XIX com Caldre e Fião, primeiro ficcionista sul-rio-grandense,
mas sua maior projeção se dá no início do século XX com João Simões Lopes
Neto e seus companheiros geracionais. Para afirmar isto, não estamos usando
apenas um critério qualitativo de obras, e sim um critério quantitativo, pois
como já afirmamos, muitos serão os veículos e suportes para esta representa-
ção. Com a onda das vanguardas europeias açoitando o continente americano
a literatura dita gauchesca (no sentido que Guilhermino dá ao vocábulo, que
é diferente das expressões orais da literatura, pois tenta recriar o linguajar do
homem do campo a partir de formas letradas da cidade), quase desaparece ou,
muitas vezes, assume o caráter comprometido de crítica social como notamos
(Fig. 1 - http://eldiario.com.uy/wp-content/uploads/2012/04/gaucho.jpg)
(Fig. 2 - https://www.flickr.com/photos/murganti/2427378343/)
(Fig. 3 - http://www.correiodopovo.com.br/jornal/A114/N152/Imagens/10MONUME.jpg)
(Fig. 7 – http://www.margs.rs.gov.br/acervo_selecaodeobras.php#p)
Outro traço forte da obra de Caringi foi a opção por manter o gaú-
cho mesmo que vestido de bombachas, indumentária pertencente ao gaúcho
que viveu no período pós guerra do Paraguai, calçado com as chamadas botas
garrão de potro, feita barbaramente do couro descarnado de potros ou gado
vacum e utilizadas a meio pé, ou seja, com os dedos de fora. Esse que pode
parecer mais um detalhe de indumentária, tem o poder de simbolizar a ligação
do homem do campo com a terra, seu arraigo.
(Fig. 13 - https://www.flickr.com/photos/23261582@N05/2228091005/sizes/o/)
BIBLIOGRAFIA
RESUMO: este artigo analisa a função do narrador da obra Grande sertão: Ve-
redas de Guimarães Rosa enfocando dois aspectos principais: a ação narrativa
como organizadora, afirmadora e reprodutora do universo regional coletivo,
ao mesmo tempo, como reveladora e identificadora da individualidade do pró-
prio narrador. Riobaldo apela à memória para narrar e através de suas reminis-
cências revela-nos quem somos como também revela a si mesmo. Para tanto,
utilizamos como suporte teórico os artigos de Walter Benjamin intitulado “O
narrador, observações sobre a obra de Nikolai Leskow” e o de Hanna Arendt
denominado “Ação”.
PALAVRAS-CHAVE: Grande sertão: Veredas, narrador, memória, coletivo,
individual.
1 Introdução
Este trabalho propõe-se realizar um estudo a cerca da categoria
do narrador na obra “Grande sertão:Veredas” de Guimarães Rosa. Para tan-
to, tomaremos como referência teórica o texto de Hannah Arendt intitulado
“Ação”(2005)e o de Walter Benjamin, “O narrador, observações sobre a obra
de Nikolai Leskow”(1983). Nossa análise parte do entrecruzamento das abor-