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Faculdade de Tecnologia
Engenharia Civil e Ambiental
Grupo de Dinâmica e Fluido-Estrutura – Prof. Lineu José Pedroso
BARRAGENS DE CONCRETO:
Aspectos Gerais e Fundamentos do Cálculo de
Tensões e da Estabilidade Baseado no Método de
Gravidade
GDFE
Grupo de Dinâmica e Fluido-Estrutura
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PREFÁCIO
Esta publicação didática, elaborada como apostila texto de apoio ao Curso de Barragens de Concreto da
Semana de Engenharia Civil 2002; representa uma tradução, adaptação, reprodução e sistematização de
alguns textos sobre barragens de várias origens. No entanto, a maior extensão do texto desenvolvido
está calcada em duas fontes principais:
Foi ainda uma fonte utilizada com frequência nesta publicação, a Tese de um de nossos Orientandos:
Frederico F. de Oliveira ( Análise de Tensões e Estabilidade Global de Barragens Gravidade de
Concreto) [15]
Este texto didático, apresentado neste curso, pretende atingir os seguintes objetivos :
Desta forma esperamos ter dado uma contribuição no sentido de favorecer o aprendizado e a difusão da
Engenharia de Barragens, com um texto simples e acessível a toda comunidade acadêmica.
Um trabalho mais aprofundado se encontra em andamento e poderá ser objeto de outros cursos ou
outras modalidades de difusão.
Agradecimentos
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Agradecemos com grande entusiasmo aos bolsistas de Iniciação Científica: Luis Carlos Sousa Jr e
Ricardo Fiuza Lima, pelo interesse e encorajamento que recebemos para que oferecessemos este curso
na Semana de Engenharia Cvil-2002; assim como pela fundamental contribuição oferecida nas tarefas
de digitação de textos, confecção de gráficos e gravuras, montagem do texto e, enfim, no acabamento
final do trabalho.
Sem a contribuição valorosa e expontânea destes alunos, certamente não contaríamos com o material
que agora dispomos para enriquecer este curso.
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1. INTRODUÇÃO
Uma das formas mais tradicionais de armazenar água é a construção de barreiras em rios que
apresentem potencial hidráulico, ou seja, vazão adequada que permita a acumulação de água. Essas
barreiras são conhecidas como barragens, segundo o CDA[40] “barragens são barreiras construídas
com o propósito de armazenar ou verter água”.
As barragens são estruturas de grande porte, pois quanto maior a elevação do nível da água maiores
serão as potencialidades de utilização do reservatório. Por esse motivo essas robustas e elevadas
estruturas exigem um grande rigor no projeto e na execução.
Desde o surgimento da primeira barragem referenciada na história em 2900 A.C. até os dias de hoje,
muitos acidentes ocorreram, desde pequenos incidentes até grandes catástrofes com perdas de vidas.
Com a preocupação de evitar essas falhas, totais ou parciais, os métodos de avaliação de seguranças
dessas estruturas evolui de cálculos intuitivos de tensões até sofisticados métodos numéricos
popularizados nas últimas décadas.
Apesar do pequeno número de ocorrências de falha em barragens, acidentes com estruturas dessas
dimensões costumam provocar inúmeras perdas de vidas e graves danos as propriedades e a saúde
pública. Estudos mostram que barragens existentes de concreto estão sujeitas a exceder suas
solicitações de projeto com probabilidade anual de 10-4 (perda do reservatório – ACE, 1990)
comparados aos valores exigidos de projeto.
Em outros continentes que têm um maior histórico de acidentes em estruturas de barramento e na qual
o problema de envelhecimento dessas estruturas é uma realidade, como a Europa, Ásia e
principalmente na América do Norte, há um maior número de pesquisas e controle sobre projetos por
inúmeros comitês de segurança, universidades, institutos de pesquisas e órgãos governamentais de
barragens de concreto.
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Figura 1.1. “Usos Múltiplos”.(a) Irrigação; (b) Navegabilidade; (c) UH Itaipú; (d) Geração e
distribuição de Energia, Enciclopédia ENCARTA (1996).
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1.2 JUSTIFICATIVAS
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O Brasil tem uma potência instalada de 65 mil MW, totalizando 25% do potencial hidrelétrico total do
país. Supondo o crescimento de 4,5% ao ano, é necessária a geração de novos 3mil MW/ano. Isto
significa a construção de pelo menos 2 grandes usinas hidrelétricas - UH - e cerca 30 pequenas centrais
hidrelétricas - PCH. Este mercado potencial tem uma demanda tecnológica para otimização de projetos
de barragens, objetivando garantir a segurança estrutural e aumento da vida útil, podendo, também,
produzir obras com maior custo/benefício.
Como conseqüência natural, a temática de barragens ganhou discussões nas mais variadas áreas do
conhecimento. Dessa forma, a Engenharia de Estruturas, em particular estruturas de barragens, ganha
um impulso importante nas suas investigações e pesquisas nesta área.
Em paralelo, com a privatização do setor elétrico brasileiro, e a conseqüente regionalização das
empresas, de forma a se ter um aproveitamento mais localizado dos recursos hidrelétricos, as
construções e reavaliações de barragens em concreto certamente serão objeto de estudos mais efetivos,
criteriosos e sistemáticos.
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Em Março de 1884 ocorreu uma cheia no reservatório da barragem de Bouzey que atingiu a elevação
de 368.8 m, quase a elevação máxima da barragem que possui 371,95 m. Durante esta cheia parte da
barragem cedeu causando uma zona de fraqueza na barragem. Em Abril de 1895 uma nova cheia
atingiu a elevação de 371,40 m causando novamente uma fratura na barragem que desta vez não
resistiu e rompeu.
Austin Dam foi construída 2,4 Km acima da cidade de Austin, Pensilvânia. O reservatório tem a
capacidade de armazenar entre 0,68.10 6 e 1,05.10 6 m 3 .
Em Janeiro de 1910, devido ao inverno rigoroso, a superfície da água do reservatório estava coberta por
uma estreita camada de gelo. Um deslizamento de terra ocorrido na encosta do vale, próximo ao
reservatório, provocou a descida rio abaixo de alta quantidade de entulhos que se chocaram com a
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Várias outras barragens entraram em colapso na história da Engenharia de Barragens. Alguns acidentes
históricos foram repertoriados e são mostrados no Anexo C.
2. TIPOLOGIAS DE BARRAGEMS
As primeiras barragens que se tem notícia eram construídas de alvenaria ou terra. Com o surgimento do
concreto passou-se a utiliza-lo nas construções devido ao seu elevado peso, que garantia estabilidade e
baixa permeabilidade que garantia estanqueidade das estruturas. O concreto permitiu a redução do
volume construído.
Um fator de suma importância a evolução do perfil da barragem é a relação entre a altura da barragem
e o comprimento transversal do vale a ser barrado.
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Figura 2.1. Relação entre a largura e profundidade do vale e o perfil da barragem adequado [11].
Os perfis mais fechados (encaixados) podem ser barrados com a construção de barragens bastante
esbeltas. A barragem em arco é o tipo mais usado nesta configuração geológica. Na outra ponta do
esquema (figura 2.1), no caso de vales bastante abertos, a barragem de gravidade é mais utilizada.
As barragens de concreto são classificadas em função da sua concepção estrutural. Os grupos de
classificação são:
Barragem de Gravidade
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Barragem em Arco
Arcos Multiplos
Barragem de Contrafortes
3.1.MODELO ESTRUTURAL
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Para facilitar a análise de estruturas complexas, como o caso de barragens, é comum buscar algum
modelo estrutural de compreensão mais simples que possa representar adequadamente o seu
comportamento estrutural. No caso de barragens que têm o seu peso como fator estabilizante e em geral
apresentam comprimento como dimensão predominante, é justificada a análise do corpo da barragem
através de uma ou mais seções transversais representativas, como indicado na figura 1(a). Assim a
complexidade do tratamento estrutural é reduzida de um problema 3D para um problema de estado
plano de tensões e deformações – figura 1(b).
Então para se estabelecer as relações entre os esforços atuantes no corpo da barragem e as tensões
desenvolvidas no maciço será analisado um perfil de largura unitária pela teoria de vigas.
O modelo estrutural que mais se assemelha ao problema em questão é o de uma viga engastada-livre. O
MG considera a barragem como uma viga perfeitamente engastada na fundação. Essa aproximação é a
favor da segurança, porém pode haver imprecisões na análise de regiões próximas a fundação.
(a) (b)
Figura 3.1 .(a) Barragem de Gravidade–3D, Grand Coule (EUA) [17, 33, 34]; (b) Seção Transversal –
2D [17, 33, 34,].
A simplificação da barragem 3D para uma estrutura plana requer algumas simplificações [17, 33, 34,]:
• O corpo da barragem é dividido em juntas de concretagem que tem propriedades homogêneas
ao longo de seu comprimento, a massa de concreto e as juntas são uniformemente elásticas;
• Todas as cargas aplicadas são transferidas para a fundação pela ação de viga sem que haja
nenhuma interação entre os monólitos adjacentes;
• Não há interação entre as juntas, cada junta é analisada independentemente uma da outra;
• As tensões normais são linearmente distribuídas ao longo dos planos horizontais;
• As tensões cisalhantes seguem uma distribuição parabólica ao longo do plano horizontal de
análise;
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Em uma seção transversal plana da barragem, o conjunto de cargas que solicitam a estrutura é (mais
comuns): peso da barragem, força hidrostática da água, e a subpressão. A figura 2 mostra
esquematicamente as forças atuantes no corpo da barragem, e os esforços seccionais produzidos em
uma seção horizontal genérica “i”.
Figura 3.2. (a) Esforços atuantes na barragem; (b) Esforços secionais, [5, 15, 33, 34].
A seguir há um detalhamento dessas forças mais comuns e mais algumas outras de interesse.
3.2.PESO PRÓPRIO
A barragem de gravidade é um robusto bloco maciço de concreto, portanto o peso próprio é uma das
forças mais importantes.
A força peso exerce um papel de fundamental importância na estabilidade da barragem, atuando no
aumento da força de atrito entre o maciço da barragem e a fundação e no equilíbrio de momento contra
o tombamento da barragem.
Seu valor depende da densidade do material da barragem (concreto) e da área do perfil. A dimensão
longitudinal é 1 metro.
Wc = AS ⋅ γ c Eq. 3.1
Onde: WC: peso do perfil da barragem; AS: Área do perfil da barragem; γc: peso específico do
concreto.
O valor do peso específico deve ser obtido de dados existentes de outras barragens. na falta de dados
utiliza-se 24 kN/m3.
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Em perfis complexos é comum se dividir a área total em figuras geométricas menos complexas como
triângulo e retângulos.
Outra técnica de calcular área de perfis de barragem é a de dividir a seção em triângulos e calcular a
área de cada um deles por determinante das coordenadas. A figura 3, abaixo, ilustra essa técnica.
A área final é a soma da área dos três triângulos. Essa última alternativa apesar de parecer a mais difícil
tem vantagem na programação de rotinas computacionais para o cálculo do peso próprio de uma
estrutura maciça e homogênea.
3.3.FORÇAS HIDROSTÁTICAS
A coluna de água 2 produz uma pressão perpendicular ao paramento da barragem, essa pressão produz
a força hidrostática. Ela pode ser decomposta em uma força horizontal (Vu e Vd) e uma vertical (Wu e
Wd), como mostra a figura 2.
A força horizontal é igual à área do diagrama de pressões horizontais:
Vi = H i ⋅ γ w
2
Eq. 3.2
2
Onde: i: índice do paramento: “u”- montante, “d”- jusante; Hu: altura da coluna de água a montante da
barragem (metros); Hd: altura da coluna de água a jusante da barragem (metros); γw: peso específico da
água, ( ≈ 10 kN/m3).
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Para se determinar a força hidrostática vertical, é necessário conhecer a geometria dos paramentos da
barragem, pois o valor da força será igual ao peso de água acima do paramento. Caso o paramento seja
perpendicular ao solo essa força não existe.
Wi = Ai ⋅ γ w Eq. 3.3
Onde “Ai” é a área de água sobre o paramento. Como a espessura da barragem é unitária esse valor é
igual ao volume de água acima do paramento.
3.4.SUBPRESSÃO E POROPRESSÃO
Como o solo é um material poroso, a água percola nos vazios de modo a formar redes de fluxo nos
solos, e além de induzir esforços nos paramentos da barragem, ela percola pelo solo ou rocha e provoca
uma força vertical e para cima na base da barragem denominada Subpressão.
Dois conceitos devem ser esclarecidos, a porosidade e a permeabilidade do material. Um material
poroso contém vazios, no entanto para que esse material seja permeável deve haver interconexões entre
esses vazios como indica a figura 3.4, abaixo.
A figura 3.4 também mostra a relação do nível de permeabilidade com a forma de distribuição dos
vazios e canais de interconexão dentro do maciço de concreto.
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De forma esquemática, a figura 3.6 abaixo, mostra as formas de percolação da água em uma barragem
de gravidade.
A equação diferencial que rege o fluxo da água no solo pode ser dada por [19]:
∂ 2h ∂ 2h 1 ∂
kY ⋅ + kZ ⋅ = (S ⋅ e ) Eq. 3.4
∂y 2
∂z 2 1 + e ∂t
Admitindo o solo com Isotrópico e Homogêneo (ky = kZ) e o fluxo como sendo estacionário
(∂
∂t
(S ⋅ e ) ), a equação 3.4 fica:
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∂2h ∂2h
+ =0 Eq. 3.5
∂y 2 ∂z 2
A equação de fluxo estacionário para solos isotrópicos – equação 3.5 - é conhecida na literatura de
Engenharia, Matemática e ciências afins como Equação de Laplace. Essa equação diferencial também
governa o fluxo de calor e de cargas elétricas.
Duas famílias de curvas são fornecidas pela equação 3.5, as linhas de fluxo e as curvas equipotenciais.
A primeira indica o caminho que será percorrido pelas partículas de água no solo e outra fornece a
distribuição de pressões da água no solo. Essas duas famílias de curvas são perpendiculares entre si e
curvas de uma mesma família nunca se cruzam [19].
Fenômeno semelhante acontece no corpo da barragem. Apesar da permeabilidade do concreto ser em
geral bem menor que a permeabilidade do solo ou rocha, a água também percola pelo corpo da
barragem e cria subpressões internas que também podem ser avaliadas no cálculo estrutural. Esse
fenômeno é mais intenso em barragens mais velhas que já apresentam um estado elevado de
fissurações, tornando-se necessitando uma reavaliação do poder portante dessas estruturas.
A determinação da rede de fluxo no projeto da barragem tem a finalidade de verificar se a vazão de
água percolada no corpo da barragem e solo é muito grande, fato que inviabilizaria qualquer projeto;
verificar se a velocidade da água pode carrear o solo e levar a barragem à ruína (Barragens em terra), e
do ponto de vista estrutural determinar, através das curvas equipotenciais, as pressões na base e no
corpo da barragem (Subpressão) para avaliação de equilíbrio da estrutura.
A resolução manual da Equação de Laplace não é uma forma eficiente de se determinar as subpressões.
É comum a utilização de métodos numéricos como Método das Diferenças Finitas (MDF) e Método
dos Elementos Finitos (MEF) para a resolução da equação. Na figura 3.6, abaixo, há uma simulação
pelo MEF para determinar as equipotenciais no solo considerando-se: barragem impermeável, carga de
água de 70 m de montante e 10 m de jusante, permeabilidade do solo k = 0,864 m/dia. A simulação foi
feita pelo software ANSYS [02] segundo uma analogia térmica com elementos planos (PLANE 42)
[L].
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Figura 3.6. (a) Simulação de Fluxo Bi-dimensional pelo MEF; (b) Subpressões de cálculo.
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(b)
(a)
Figura 3.7. (a) Distribuição das supressões medidas e adotadas para a Barragem Hiwassee (Herzog ,
1999).;(b) Diagramas de subpressões, [33, 34].
Fórmulas empíricas de cálculo dos parâmetros dos diagramas propostos por USACE, encontradas em
[33, 34].
Caso 1; x < 0,05 Hu Caso 2; x < 0,05 Hu
Se Hu > Hd ⇒ H 3 = K ∗ (H u + H 4 ) + H 4 Se H4 > Hd ⇒ H 3 = K ∗ (H u − H 4 )(B − x ) + H 4
B
Vale ressaltar que em medições feitas em diversas barragens a presença de drenos reduz
significativamente as subpressões como mostra a figura 3.7 (a), indicando que os diagramas propostos
são conservadores. Isso é justificado pela possibilidade de falha do sistema de drenagem, que pode ser
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por erro de projeto ou entupimento dos drenos por falta de manutenção (diminuição da eficiência de
projeto dos drenos).
3.5.SEDIMENTOS
3.6.FORÇAS DINÂMICAS
Os esforços dinâmicos em uma barragem são produzidos por diferentes fontes: sismos; escoamento de
água; transbordamentos (“overtopping”); carga de "debris"; etc. Os efeitos sobre as barragens são
basicamente dois, a força inercial atuante sobre a massa da barragem e a pressão hidrodinâmica
produzida pela massa fluida (compressível ou não) e os sedimentos do reservatório.
Efeito Sísmico
As barragens podem ser sensíveis aos tremores de terra, em virtude de suas dimensões (barramento e
reservatório). Há vários níveis de análise, no mais simples, em geral.
Adota-se uma certa fração da aceleração da gravidade, 0,05g, 0,10g ou mais, conforme o caso,
carregando horizontalmente o maciço de concreto da barragem [11]. Essa é maneira mais simples de
levar em conta um efeito sísmico em uma barragem.
Westergaard, em trabalho publicado em 1931, resolveu o problema das pressões hidrostáticas na
barragem durante sismos. Posteriormente outros autores contribuíram na elaboração de modelos
simplificados de análise. Porém este é um complexo problema de interação fluido-estrutura que
envolve os modos de vibração da estrutura além dos modos acústicos do reservatório acoplado e
desacoplado com a estrutura [24, 21, 26, 22].
Um método simplificado é o Pseudo-Estático, que aumenta o diagrama de pressões da água em função
da compressibilidade do fluido e do movimento sísmico da barragem. Esses acréscimo se dá através do
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coeficiente sísmico que é função do 1° modo natural de vibração da barragem. A figura abaixo ilustra
como ficam os diagramas de pressão da água e da coluna de sedimentos sobre a barragem.
3.7.OUTRAS FORÇAS
A gama de forças que atuam em uma barragem é muito vasta. Dentre as quais pode-se citar:
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Tensões Térmicas: tensões provocadas por diferença de temperatura entre os diferentes pontos da
barragem. Essas tensões têm variação ao longo do ano, em função de características climáticas.
Transbordamento: conhecido por “overttoping”. Ocorre quando há uma cheia acima do previsto e
a água passa sobre a crista da barragem. Diversas barragens sucumbiram com o transbordamento no
passado.
Ondas no reservatório: é representada por um diagrama de pressões triangulares, função da
velocidade e altura da onda.
Debris (entulhos): Pedras, árvores, produtos do desmoronamento de encostas, e etc. produzem
também solicitações (estáticas e dinâmicas) sobre as estruturas, quando este material é transportado
pelas águas por ocasião de cheias e inundações.
Esforços e Transientes em Condutos Forçados: O escoamento da água no conduto forçado
provoca efeitos estáticos e dinâmicos na barragem. O fechamento de comportas e válvulas ou
interrupções bruscas no fluxo d’água produzem transientes de pressão nas tubulações que devem ser
considerados.
(a)
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(b)
(c)
Figura 3.9. (a) Transbordamento da Barragem Gibson (EUA) [38]; (b) Diagrama de pressões devido a
ondas no reservatório; (c) Deslocamento da crista devido diferença de temperatura (∆T) [10].
Os esforços mencionados nesse item são encontrados em bibliografias específicas e são objetos de
estudo em vários centros de pesquisa. Porém elas não serão abordadas neste texto.
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O processo construtivo acima ainda evidencia as juntas em dentes. Esta solução é adotada para reduzir
as possibilidades de falha nestas juntas.
Existem outras possibilidades de juntas em barragens que devem ser analisadas e consideradas em
modelos teóricos. Estas possibilidades de planos de falha (juntas) são mostradas na figura abaixo.
As juntas de maior interesse aqui são as juntas de subpressão ("lift joints"). Essas juntas são planos
horizontais ou inclinados que possuem uma certa porosidade permitindo o fluxo de água e a
transmissão do esforço de subpressão na massa de concreto intacta (monolítico superior). A
estabilidade da barragem é também verificada nessas juntas, fazendo-se o equilíbrio das forças.
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4.3.SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO
H
CSD =
R
R = função(V)
Figura 4.3. Esforços que contribuem para a
estabilidade ao deslizamento.
As forças que comumente solicitam a barragem no deslizamento são: hidrostática; sismo, e impacto de
corpos ou ondas contra a estrutura.
Enquanto as forças resistentes são o atrito seco e coesão (o termo denominado usualmente coesão,
refere-se a resistência ao cisalhamento do material intacto - NRC 1990). O atrito seco (Coulomb) é
calculado em função da força vertical (V) no corpo da barragem e o coeficiente de atrito (f) entre as
superfícies de deslizamento. O coeficiente de atrito é obtido pela tangente do ângulo de atrito (tanφ) do
material (Rocha, Concreto).
Quanto a parcela de coesão, vários autores divergem no seu valor. Há recomendações [10] em que o
coeficiente de adesão varie entre 0 e 3 MN/m2 dependendo das características dos materiais envolvidos.
A força de resistência de coesão entre as duas superfícies é o produto do coeficiente de coesão pela a
área de contato. No caso do contato da base da barragem com a rocha da fundação, como o perfil
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considerado é de largura unitária, a força é o produto do coeficiente de coesão com a largura da base –
desconsiderando eventuais fissurações, que reduzem a área de contato.
Variação da Resistência Cisalhante
A resistência de atrito varia em função do deslocamento tangente das duas superfícies. Na fase inicial,
quando não há deslizamento relativo entre as superfícies ou o deslocamento ainda é pequeno, a reposta
da resistência tangencial é linear, como indica a figura 4.4.
Porém com o crescimento do deslocamento tangencial (δ), a tensão de resistência cisalhante reduz até
um valor residual. Logo, a resistência da junta ao esforço cisalhante possui valores distintos em função
do nível de deslocamentos.
Essa distinção entre fases da resistência cisalhante provoca a adoção de diferentes limites para o CSD:
um de pico e outro residual. O CDSA indica para as condições normais de carga valores do CSD de
pico igual a 3,00 e CSD residual de 1,5. Maiores detalhes são indicados na tabela abaixo.
Tabela 4.1. CSD recomendados [11].
Caso de Carregamento
Tipo de Terremoto
Não usual Enchente
Análise Usual (MDE)- pseudo-
(após terremoto) (Overtopping)
estática
CSD de pico –
3,0 2,0 1,3 2,0
sem testes
CSD de pico –
2,0 1,5 1,1 1,5
com testes
CSD residual 1,5 1,1 1,0 1,3
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A condição de não rotação da barragem impõe que, em uma dada seção da barragem como a base, por
exemplo, o somatório dos momentos horários e anti-horários devem ser iguais, garantindo assim que a
barragem não tende a “tombar”. Matematicamente, essa afirmação pode ser escrita da seguinte
maneira:
Σ MF > 0
Eq. 4.11
MΣV + MΣW > 0
Onde: MF: momento produzido pela força “F” no ponto “P”; MΣV: momento da resultante das forças
horizontais; MΣW: momento da resultante das forças verticais.
Dessa maneira pode-se identificar, para a condição de “não rotação”, as forças que têm caráter
estabilizante da barragem, ou seja, produzem momento anti-horário, como o peso da água acima do
paramento de montante WWu e de jusante WWd, a força horizontal da água de jusante Vd e o peso da
estrutura WC (visto que a barragem deve ser dimensionada para que este seja um fator estabilizante da
estrutura); e as forças desestabilizante como a subpressão “U” e a força horizontal da água no
reservatório de montante Vu.
Uma medida da segurança da estrutura contra o efeito de rotação é o “Coeficiente de Segurança a
Rotação” (CSR). Esse coeficiente é a razão entre o momento produzido pelas forças estabilizantes (ME)
e o momento produzido pelas forças desestabilizantes (MI).
CSR =
∑M E
>1 Eq.
∑M I
As tendências de tombamento de barragens de gravidade não são tão investigadas como as feitas para o
deslizamento, somente quando há um levantamento incipiente da extremidade à montante da base ou
nas juntas de concretagem (CDSA, 1995).
4.5.POSIÇÃO DA RESULTANTE
Em uma viga engastada-livre, a Resistência dos Materiais preconiza que em uma dada seção horizontal,
se o a força resultante acima dessa seção estiver dentro do terço médio da seção, não haverá tensões de
tração. Em uma barragem de gravidade é essencial que não haja tensões de tração, visto a baixa
resistência do concreto para resistir esses esforços.
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Esse indicador também tem a função de aumentar a vida útil da barragem, pois a tração provoca
fissuras que desgastam o maciço da barragem.
Um exemplo de Análise da posição resultante em uma barragem de gravidade está na figura abaixo. O
gráfico foi gerado pelo programa CGDAM – CDFE UnB [33, 34] (valores validados com o USBR
[39]).
(a) (b)
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(c)
Figura 4.6. Posição da Resultante; (a) vista da barragem Friant (EUA); (b) Geometria do perfil; (c)
Posição da Resultante e limites do NCI [33, 34].
Na simulação mostrada acima, a posição da resultante (linha em azul) está contida no NCI para a
condição de carregamento de peso próprio e força hidrostática. Nessa simulação de carregamento não
há tensões de tração.
A partir das hipóteses simplificadoras do MG, apresentadas no item “Modelo Estrutural”é possível
obter as tensões normais verticais e horizontais (σZ e σX), e as tensões cisalhantes (τ xy ) no corpo da
barragem.
Como a barragem de gravidade de concreto é analisada por um modelo 2D, tem-se um problema típico
da elasticidade bidimensional, que tratado formalmente em suas origens, é complexo e tem poucas
soluções fechadas para as cargas usuais de barragens.
A Teoria Geral da Resistência dos Materiais mostra a análise de tensões em vigas esbeltas. Nessas
vigas a relação entre a altura e o comprimento da viga (h/L) é pequeno (menor que 20%) e as seções
permanecem planas na flexão, assim como as tensões normais são perpendiculares as seções
transversais da viga, e as deformações cisalhantes desprezadas.
Este modelo não é suficiente para a compreensão do comportamento das tensões no corpo de vigas
profundas. Deve-se, portanto, recorrer a um modelo de vigas profundas (Vigas de Timoshenko) que
leve em conta os efeitos adicionais que ocorrem em vigas não esbeltas (h/L > 20%).
O método que será apresentado a seguir é um modelo simplificado, porém muito utilizado em projetos
preliminares de barragens. Estudos têm mostrado que análises preliminares com o MG têm resultados
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muito próximos das “reais” tensões obtidas em protótipos. A figura abaixo mostra um estudo que
comprova esta afirmação.
(a) (b)
Figura 5.1 – Distribuição nos planos horizontais das: (a) tensões normais verticais e (b) tensões
cisalhantes (Davis, 1969).
Nesta seção será apresentado uma síntese da formulação, baseada na elasticidade 2D com outras
considerações e processo de análise, que permite se obter expressões matemáticas analíticas (semi-
analíticas) capazes de se obter todas as tensões no interior e contorno de um dado perfil de barragem
[39, 15, 34]. Para maiores detalhes o leitor poderia recorrer ao anexo B
Seja um perfil típico de barragem de gravidade, como o mostrado na figura abaixo, contendo os
esforços usuais.
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Figura 5.2. (a) Perfil de barragem com cargas usuais, e (b) Resultante dos esforços normais, cisalhantes
e fletores na seção AB.
Para fazer a análise de tensões toma-se uma seção horizontal (junta) de largura T e calculando todas as
forças atuantes acima desta seção, obtemos as resultantes dos esforços tangenciais (∑V), normais (∑W)
e momentos fletores (∑M).
Tensões Normais Verticais: são tensões normais de compressão ou tração. Sua distribuição é linear ao
longo da seção, contendo duas componentes: uma devido ao esforço vertical de compressão; e outra
devida a flexão. A resultante a posição dentro da seção, em função destas duas contribuições.
Tensões Cisalhantes: são tensões tangenciais, e a sua distribuição é parabólica ao longo da seção. O
valor da tensão cisalhante nas bordas é função da tensão normal, pressão da água e da inclinação do
paramento.
Tensões Normais Horizontais: são tensões normais de compressão ou tração. Sua distribuição é
polinomial de grau 3 (três) ao logo da seção. Nas vigas esbeltas essa tensão é desprezada, porém nas
vigas profundas (h/L>20% caso das barragens) esta tensão é levada em conta.
A Fig. 5.3 ilustra esquematicamente a evolução destas tensões numa dada seção do corpo da barragem.
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Figura 5.3. Variação das tensões ao longo de uma junta horizontal de uma barragem de gravidade.
O Anexo B fornece as fórmulas dessas três tensões apresentadas pelo “United States Bureau of
Reclamation” [39].
As tensões fornecidas pelo MG são pontuais dentro da barragem, através das equações mostradas no
ANEXO 1 (USBR) pode-se obter para cada seção da barragem as tensões normais verticais, horizontais
e as tensões cisalhantes. Se a barragem for discretizada em um grande número de seções pode-se
interpolar as tensões nos pontos e obter o mapa das tensões. O programa CGDAM –GDFE UnB – [33,
34] mostra o esse mapa de tensões na barragem Friant DAM sob solicitação do peso próprio e pressão
hidrostática da água (valores validados em algumas seções com o USBR [39]).
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Figura 5.4. Análise da barragem Friant DAM; (b) Tensão vertical (σZ) de montante [33, 34]
Na simulação indicada acima a máxima tensão vertical é no pé da barragem, do lado de jusante. Isso se
deve ao efeito de flexão provocada pela pressão da água do reservatório. A força peso compensa
aplicando um momento no sentido contrário, aliviando essa tensão de compressão.
5.1.TENSÕES PRINCIPAIS
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Essas informações são de suma importância na investigação das tensões máximas no corpo da
barragem e no levantamento dos prováveis planos de ruptura; Auxiliando na tomada de decisões de
projeto como direções de eventuais armaduras ou protensão do concreto no reparo da barragem.
5.2.CONCENTRAÇÃO DE TENSÕES
As tensões principais calculadas pelo MG fornecem bons resultados para o corpo da barragem, onde
não há existência de singularidades, como mudança de inclinação brusca nos paramentos, existência de
furos na barragem (galerias), interface da barragem com a fundação e etc. Nesses locais existem
concentrações de tensões que não são previstas no MG.
Para estimar esses picos de tensões pode-se realizar experimentos – análise fotoelástica, por exemplo –
ou simulação numérica via Elementos Finitos.
Uma região de grande importância quanto a concentração de tensões é a interface barragem-fundação.
A relação entre os módulos de elasticidade da barragem e da fundação altera o campo de tensões na
região próxima a interface.
Para a visualização do fenômeno, foi simulada computacionalmente pelo Método dos Elementos
Finitos a barragem 55metros (Tinawi) (calculada no item 6.1) sobre uma fundação elástica de mesmo
módulo de Elasticidade (Ec=Er=30Gpa). O programa utilizado foi o ANSYS e a relação entre os
módulos de elasticidade e de cisalhamento do concreto e da rocha da fundação são 30 GPa e 10 GPa.
Ec = Er = 30 Gpa
Gc = Gr = 10 Gpa
γC = 24 kN
(a)
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(b) (c)
Figura 5.5. Simulação da barragem 55m pelo MEF; (a) Malha; (b) Tensão normal vertical; (b) Tensão
normal Horizontal.
Nas simulações acima é notável a concentração de tensões no “pé da barragem”. Este é um ponto de
quina que tende a concentrar tensões.
Segundo o “ANCOULD DAM SAFETY GUIDELINES” (1991) [11], na falta de informações precisas,
um fator de 3 deve ser aplicado no cálculo das tensões a montante no contato da barragem com a
fundação. Para regiões fissuradas, considera-se um fator de 10 para as concentrações de tensões de
tração na ponta da fissura.
5.3.COMBINAÇÕES DE CARREGAMENTO
A resposta da barragem quanto a tensões e deformações depende do estado de carregamento na qual ela
está submetida. Para as tensões Bandine [03] ressalta que se deve analisar as tensões a montante e
jusante na condição de reservatório cheio e vazio, como indica a tabela abaixo.
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A figura 5.6 é uma modelagem da barragem “Friant DAM”(perfil mostrado no item 4.5) com
elementos finitos pelo programa ANSYS na situação de reservatório vazio – o peso próprio da
barragem deforma a estrutura para montante ocasionando trações na face de jusante; a figura5.6(b)
ilustra a condição de reservatório cheio.
(a) (b)
TRAÇÃO TRAÇÃO
Figura 5.6. Surgimento de tração na barragem; (a) Reservatório vazio; (b) Reservatório cheio.
Essa simulação mostra claramente as condições de cálculo mencionadas por Bandine [03]. Na
simulação da condição de reservatório podem surgir trações no lado de jusante, em função do centro de
gravidade da barragem ser deslocado para frente, enquanto na condição de reservatório cheio a
barragem é flexionada pela força hidrostática do reservatório para montante podendo provocar trações
a montante.
Segundo Oliveira [15] o princípio básico para definir as combinações de cargas requeridas a fim de
garantir a segurança de barragens é avaliar a partir das condições de carregamentos elementares, as
combinações plausíveis e susceptíveis de gerar carregamentos máximos e/ou mínimo sob a resistência
da obra em questão. Oliveira [15] também trás uma síntese dos principais carregamentos atuantes em
uma barragem de gravidade de concreto.
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Para Villeux et al.(1999), devem ser verificado os indicadores de estabilidade em uma barragem de
gravidade para as condições normais de operação, condições excepcionais e condições extremas.
Oliveira [15], apresentas uma tabela com os tipos de combinação de cargas para barragens de
gravidade.
Tabela 2.1 Combinações de carga (modificado – Villeux et al., 1999) [15]
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6. EXEMPLOS DE CÁLCULO
γc = 24 kN/m3
γW = 10 kN/m3
Altura da barragem - H = 55 metros
Altura da Coluna d’água – Hw : 50 metros
Juntas horizontais a cada 5 metros
• Peso Próprio
Para calcular o peso da barragem basta multiplicar a área do perfil pela profundidade (1metro) e pelo
peso específico médio (γc) do concreto da barragem.
A área do perfil foi dividida em duas: A1: retângulo que vai do bloco de coroamento até a base da
barragem; A2: triângulo retângulo correspondente ao restante da área.
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b .h
W = ( A1 + A2 ).γ c = b2 .H + 1 1 .γ c
2
45 x50
W = 5 x55 + .24
2
W = 33.600kN
Para o cálculo do ponto de aplicação da força peso basta encontrar o Centro Geométrico da barragem.
Esse cálculo é feito através a soma de momentos das áreas em relação a uma reta que passa pelo ponto
mais a direita da estrutura.
YW =
∑ A .Y i i
=
(
A1 . 45 + 5
2
) 3 =
(
2
)
+ A2 . 2 .45 275. 45 + 5 + 1125. 2 .45
3
∑A i A1 + A2 275 + 1125
YW = 33,4m
γ W .H W 10.50 2
V = .H W = = 12.500kN
2 2
1 1
Z V = .H W = .50 = 16,7m
3 3
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• Subpressão na base
A barragem 55m possui juntas horizontais de subpressão a cada 5 metros. Aqui será feita uma análise
de estabilidade apenas na base da barragem, por isso a subpressão será calculada apenas nessa região.
• Equilíbrio a rotação
Verifica o somatório dos momentos em relação ao ponto mais a jusante (esquerda) da barragem. O
Coeficiente de Segurança a Rotação é dado pela razão dos momentos horários e os momentos anti-
horários, que tendem a “tombar” a barragem.
O momento horário que estabiliza a barragem é o momento da força peso, enquanto que os momentos
anti-horários são os momentos da força hidrostática do reservatório e de subpressão.
• Equilíbrio ao deslizamento
Considerando os seguintes dados dos parâmetros da junta da barragem:
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φ = 45 0
(ângulo de atrito – pico - e coesão)
c = 20kPa
O Coeficiente de Segurança ao Deslizamento (CSD) é a razão das forças de resistência cisalhante e a
soma dos esforços horizontais.
CSD =
(W − U ). tan φ + c.B = (33.600 − 12.500 ). tan 45° + 20.50 = 1,77
V 12.500
O valor acima não satisfaz as recomendações mostradas no item 4.3. (CSD>2,00). A justificativa pode
ser que o valor a adesão “c” é muito baixo (20 kPa) e a não existência de drenos para reduzir a
subpressão.
• Posição da Resultante
A figura 6.5 indica que para as condições de carregamento analisado não há tração na barragem visto
que a força resultante (azul) está posicionada dentro dos limites do Núcleo Central de Inércia, em
vermelho.
Figura 6.5. Posição da Resultante (curva azul) em limites no Núcleo Central de Inércia (NCI)
(vermelho) – Resultado do programa CGDAM (UnB – ENC – GDFE) [33, 4].
A análise mostrada no programa mostra que na região da base do coroamento da barragem a resultante
tende a chegar muito próximo do limite do NCI. Isso mostra que em caso de solicitações eventuais
(sismos, enchentes, etc) aquela região poderia ser a primeira a sofrer fissuração, pois o acréscimo de
um esforço poderia deslocar a resultante para fora do NCI e provocar tensões de tração.
Diversos acidentes em barragens tiveram o “crack” iniciando em regiões similares a essa, como
mudança de inclinação. A linha de ruptura forma uma espécie de “garganta”. A exemplo temos as
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barragens Koyna (Índia) que sucumbiu com uma fratura no paramento de jusante na região de mudança
de inclinação do paramento.
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γc = 26 kN/m3
γW = 10 kN/m3
Altura da barragem - H = 55 metros
Altura da Coluna d’água – Hw : 50 metros
Juntas horizontais a cada 5 metros
W = A.γ c =
(14,8 + 5,6 + 14,8).36,6 .26
2
W = 16.748kN
• Força Hidrostática
γ W .H 25,3 2.10
V = .H = = 3200 KN
2 2
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• Equilíbrio de deslizamento
Considerando os seguintes parâmetros do concreto.
φ = 45 0
(Valores adotados para a Koyna Dam)
c = 700 Kpa
CSD =
(W − U ). tan φ + c.B = (16748 − 2580 ).1 + 700.(14,8 + 5,6 ) = 8,89
VW 3200
O CSD calculado anteriormente é relativamente alto, porém sob ação de um sismo o coeficiente caiu e
provocou a ruptura da barragem.
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BIBLIOGRAFIA
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CBDB – Comitê Brasieiro de Barragens - http://www.cbdb.org.br/
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Comciencia - http://www.comciencia.br
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