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Capítulo 1 - Saída para o mar

Elas sabiam que não seria fácil conseguir embarcar em um daqueles navios, por serem
mulheres e as pessoas criarem algumas superstições sobre tais naquela terra e tempo, não
era comum três moças andarem tão livres nas ruas. Enfim, uma delas teve uma genial
idéia.

***

No porto algumas pessoas se assustaram quando viram as confusões que um navio


recém-chegado causava. As pessoas se aproximavam para ver o que acontecia:
- Horrível! Eu vi com meus próprios olhos!
- Levou metade de nossa tripulação.
Um rapaz do grupo de pessoas que acabara de chegar perguntou a um gordo, que
segurava uma garrafa de rum, o que estava acontecendo. Este contou que os homens
falavam de uma escuridão que cobria o mar e vinha em direção ao porto.
O rapaz, com um chapéu que cobria metade de seu rosto, se esquivava e fazia uma
expressão de nojo com as cuspinhadas daquele gordo imundo que virou a garrafa
derramando quase metade do rum. O homem riu-se:
- E é só isso que eu sei. – o rapaz virou-se levantando um pouco a cabeça e deixando o
sol iluminar seu rosto por um instante.
Um rapaz que desembarcava, ainda do navio, correndo os olhos em tudo aquilo, viu o
rosto do primeiro rapaz. Achando estranho, ele foi em direção ao outro.
- Aquilo veio das profundezas do inferno! – os homens continuavam a contar.
- Eu não navego nessa água nem morto!
O rapaz que desembarcou, tocou o ombro do outro e este indeciso se virou.
Com o chapéu curvado a tampar metade de seu rosto, ficou imóvel até o rapaz que
desembarcou tocar em seu chapéu.
- O que é? – perguntou ele com uma voz estranha, tirando o chapéu do alcance do
outro. – Ora, vá comprar seu próprio chapéu.
O rapaz, ainda com uma meiga expressão de dúvida, balançou, meio que abaixou a
cabeça:
- Ah, perdão, me enganei. – respondeu e, sem graça, parou ao lado e olhou
discretamente para a moça.
A moça desconfiada de que ele descobrira seu disfarce, meio nervosa e com medo
olho-o de lado e voltou-se rapidamente
- Eu venderei meu barco e ficarei bem longe da praia.
- Nós também o faremos!
- Que gente tola. – comentou uma das moças.
Depois disso, aquelas moças vestidas de rapazes, trocaram olhares e sorrisos e todas se
voltaram para um pequeno saco pendurado no ombro de uma delas.
O rapaz também se excitara com a chance de se aventurar pelos mares em um daqueles
navios, mas olhando dentro de um saquinho de moedas, percebeu que não era o
suficiente.
A confusão se agravara. Agora uns queriam vender, outros comprar, e em vários
lugares algum montinho de pessoas se empurrava e discutia.
Em um montinho que diminuía cada vez mais – pelo fato de não terem o dinheiro
suficiente – as três moças tentavam conseguir um barco. A quantidade que tinham era
quase suficiente e como todos haviam desistido, tentavam fazer a cabeça do capitão do
navio.
O rapaz que desembarcou estava sentado quando resolveu arriscar. Levantando, ele viu
que aquelas três pessoas não estavam conseguindo fazer negócio. Se aproximando ele
reconheceu o rapaz que estava parado ao lado instantes atrás.
- Com licença – interrompeu – quanto ainda falta?
- Se ele me desse esse medalhão de prata, talvez ... – começou ele apontando para uma
das moças.
- Talvez este sirva – o interrompeu, puxando um cordão de ouro do pescoço.
- Serve sim. – disse o velho gordo rindo-se .
O rapaz virou-se para as três e disse:
- Eu entrego a ele e irei com os cavalheiros. Não é tão mal negócio, é? – perguntou
dirigindo se às moças
Com um leve sorriso, a moça de pele escura estendeu a mão para o rapaz em sinal de
acordo.

***

No navio elas não sabiam o que fazer. Tentando disfarçar, uma delas pegou uma
garrafa que estava pela metade e cheirou, percebendo ser um tipo de bebida alcoólica,
rapidamente colocou a garrafa em seus lábios voltando-a num segundo. O rapaz a olhava
estranhando a superficialidade de seu andar. Ela percebendo, esperou ele se virar e cuspiu
o mais rápido para fora do navio, fazendo um jato curvado para baixo.
- O que é isto? Estás maluco, ooh?
Fulana, em reflexo, colocou uma das mãos na boca como se ainda pudesse impedir o
que já estava feito. Sicrana ria-se do que havia visto enquanto beltrana brincava com duas
espadas que havia encontrado.
- Onde você achou? – perguntou o rapaz.
- Lá embaixo. Tem uma variedade de coisas! de vestidos a armas de fogo.
Quando ouviram isso as outras desceram rapidamente, mas a primeira continuou a
duelar contra o vento e o rapaz não tinha pressa.
Estranhando a moça que quase não conseguia segurar a espada, o rapaz perguntou:
- Hei, você não me disse o seu nome, não é?
- É, você não me perguntou? – respondeu forçando a voz, meio nervosa tentando fugir
do assunto.
- Então me diga, qual é?
- É Du - Du - Di - ego. – respondeu com a língua embolada.
- Como?
- Diego!
- Então, você pode me trazer esta outra espada, Diego? – pediu calmo.
Ela então deixou a que estava na mão e levou a outra. De cabeça baixa olhando para a
espada, ela estendeu os braços em silêncio meio nervosa. Num movimento inesperado o
rapaz puxou seu chapéu..
- Oh, meu Deus. – disse fitando-a pesadamente. A garota estava paralisada e tentava
parar de acelerar a respiração – seria terrível se ele as entregasse, e ele estava com a faca
e o queijo na mão.
O rapaz moveu o olhar e devolveu o chapéu. Suas suspeitas o tinham preparado mas, a
moça ainda estava confusa e só olhou para o chapéu. Neste momento as ouras duas
moças chegaram fazendo barulho e pararam ao ver, esperando uma conclusão. O rapaz as
percebeu e interrompeu uma delas:
- Suspeitei desde o princípio, por isso fiquem tranqüilas e não tentem continuar. Vossa
silhueta é demasiada feminina. – o rapaz sorriu e delicadamente colocou o chapéu na
cabeça da moça – Não há muito o que ganhar lhes entregando. – ele mesmo estava
confuso e sem jeito. – Bem, meu nome é Benjamim. E os ...?
- O meu é Lêda. – disse a moça como se acordasse de um devaneio endireitando o
chapéu. As outras estranharam qualquer coisa, depois tiraram seus próprios chapéus e
seguiram:
- O meu é Maria. – disse a mulata.
- E o meu é Luna. – disse a mais nova.
O rapaz achava melhor conseguirem pelo menos mais dois tripulantes, mas não
acharam que ali tivesse alguém de confiança. Então, ele, com sua pequena noção de
como o navio funcionava começou a soltar o mesmo. As moças estavam desconfiadas de
tanta bondade mas, não deixaram transparecer e, mesmo não sabendo se fazia muita
diferença, tinham dado falsos nomes.
Com a ajuda das meninas, o rapaz estava quase conseguindo sair dali até uma vela não
abrir e assustadas com um tiro, as duas moças mais velhas deixarem a âncora cair. Foi
quando se viraram e, protegendo seus olhos do sol, puderam ver um homem correndo
exatamente na direção do navio.
Também foi quando se desesperaram. Se aquele homem subisse no navio poderia
acontecer qualquer coisa ruim, afinal, havia sete guardas correndo atrás dele atirando
exageradamente, mas inutilmente pelo visto.
Vendo que realmente o homem tinha a intenção de subir á bordo, subitamente e sem
uma palavra, tentaram sair dali mais do que nunca. Mas foi tarde, porque apesar do navio
se movimentar, era devagar demais e o homem já estava perto.
O homem subiu num navio ancorado perto do deles e correu até a ponta saltando num
arco de 180 graus gritando numa mistura de medo e diversão.
- Adios, amigos! – gritou o rapaz para os guardas.
O rapaz ainda ria-se quando se deparou com três espadas apontadas para ele.
- O que tens a dizer? – perguntou Maria.
- Belo medalhão. – respondeu ele com tom insolente.
- Acha que ele é perigoso? – perguntou a moça mais jovem para o primeiro rapaz
enquanto ele amarrava o segundo – não tão jovem mas, não velho, o este esperava a
decisão dos quatro.
- Não, deve ser só um ladrãozinho qualquer. – respondeu Benjamim olhando quem não
gostou de “zinho qualquer”.
- Então, creio saber o que ele possa fazer por enquanto. – informou Maria.
Havia meia hora que o novo tripulante estava a bordo. Ele tinha na faixa de vinte e três
a vinte e cinco anos, mais velho Benjamim, que parecia ter vinte. As jovens adolescentes
adoraram ver o belo homem moreno de trajes em péssimo estado lavando o chão com um
olhar de ódio para Maria, quem deu a idéia.
- Não basta? Já passei essa coisa em tudo! – reclamou o rapaz levantando o esfregão.
- Tudo bem, já está muito melhor que antes.
Quando o rapaz se virou as três moças começaram a falar da higiene dos dois rapazes
e, achando até estranho, mas, cheirando as axilas, ele caminhou em direção a Benjamim.
Perguntou para onde estavam indo, mas só conseguiu saber que os quatro haviam se
conhecido a menos de duas horas, então ele convidou Benjamim a conversar com as três.
As três estavam atentas e desconfiadas observando os dois rapazes se aproximarem,
mas realmente não acreditavam que fariam algo de ruim. O rapaz moreno chegou
olhando-as de cima a baixo com a língua para fora da boca. Mudando o olhar para um de
superioridade, o rapaz começou a falar:
- Para onde pretendem ir? Estou neste barco e gostaria de saber para onde estou indo?
- Ainda não sabemos – respondeu Lêda – Por acaso algum dos dos dois tem uma idéia?
- Até agora estamos manobrando ao vento, esperávamos a vossa sugestão. – respondeu
Benjamim com um brilho nos olhos.
- Não amigo! São mulheres, se forem boas conosco podemos pensar melhor no que
fazer com elas – o rapaz falou chegando mais perto de Maria.
- Veja bem, eu não sou muito de reclamar, mas à um tempo atrás, pode ser estranho
para você, mas passamos a ser donas deste navio e você tem sorte de ainda estar vivo.
Então ponha-se em seu lugar e cale-se.
O rapaz levantou a sobrancelha se convencendo de que aquelas três moças não se
renderiam a ele. Naquele momento, Luna, a mais jovem dos tripulantes, lentamente, e
sem desviar o olhar atravessou a brecha entre os dois rapazes chamando-lhes a atenção.
Todos os rostos se moveram olhando para o mesmo lugar.
Olhavam para o céu carregado de nuvens escuras e a água que parecia negra. Com o
vento que ficava cada vez mais forte, Luna virou-se para traz deixando seus cabelos
cacheados e volumosos esconderem parte de seu rosto. Aproximavam-se cada vez mais
da estranha água. Depois de se olharem sem saber o que fazer, cada um arriscou uma
idéia. Lêda e Luna foram buscar armas. O jovem que ainda não havia revelado seu nome
foi até o leme, e Benjamim, percebendo que o vento estava desfavorável, soltou as vela
para atrasar a possível chegada ao estranho lugar.
Antes que o latino virasse o barco, Maria o interrompeu.
- O que você está fazendo?
- Ora! A volta!
- Por que?
- Eu ouvi as histórias que contaram. Com certeza falavam deste lugar.
- O que está acontecendo? – Luna interferiu na discussão.
- Ela quer ir para aquele lugar!
Neste momento se olharam e antes que Lêda se aproximasse, curiosa para saber o que
acontecia, Benjamim gritou:
- Estamos perto demais, não há mais como fazer a volta sem chegarmos lá!
Então, enquanto os outros esperavam o que aconteceria, o novo rapaz girou com muita
força o leme, tentando desviar o mais rápido possível.
Aquela estranha parte do mar estava cada vez mais perto e eles cada vez mais aflitos.
Meio torto por causa da curva, o navio começou a navegar pela água negra. Com um
metro do navio sobre a água negra, um feixe de luz impossibilitou-os de ver o que estava
acontecendo. Cinco segundos mais tarde, ainda sem conseguir ver, ficaram como baratas
tontas rodopiando pelo navio. Quando conseguiram abrir os olhos pularam de susto. Não
estavam no mesmo barco. Este era muito maior e mais limpo. Tinha uma madeira clara
com detalhes de ouro e uma mesa e uma luz que pulsava ao longe. Chegando mais perto
em cima da mesa se via um pedaço de pergaminho brilhando. Em letras douradas
Benjamim leu: O único mapa.
Já havia alguns minutos que começaram a navegar nas águas sombrias, parecia noite,
mas ainda assim parecia dia, nuvens ainda não cheias ás vezes deixavam o céu bem claro.
Começaram a examinar aquele lugar com mais atenção, se espalharam por todo o
navio. Luna, antes distraída com a linda borda listrada de ouro, percebeu uma coisa
estranha na água. A princípio achou que era apenas um peixe, mas começou a borbulhar
cada vez. Começaram a sair bolhas grandes até uma forma semelhante à humana sair da
água. A moça sentiu um tremendo horror e começou a gritar o mais alto que pôde para
todos subirem.
Os outros que estavam explorando os lindos corredores da parte interna ouviram o
grito e subiram imediatamente. Quando olharam para a água perceberam as grandes
bolhas negras e seres de água brotando delas.
Um barulho soou como dezenas de pessoas tentando subir ao navio. Em reflexo foram
pegar as armas que estavam próximas. Espadas mais modernas, melhores para as moças
que ainda por cima só sabiam algumas coisas que viam os homens fazendo.
As criaturas começaram a surgir e se enrijecer. Começaram a chegar mais perto e então
seus braços se dividiam formando espadas transparentes e bem afiadas.
Os jovens esperaram o ataque. Os dois rapazes lutavam muito bem, mas as moças se
defendiam e pouco atacavam, e ainda com dificuldade. A espada do rapaz ainda de nome
desconhecido foi lançada para bem longe, então ele pegou um bastão de madeira e tentou
derrubar a criatura. Foi em vão, o bastão se partiu e ele saiu correndo. Por sorte ainda não
comprovada, achou uma barra de ferro no caminho.
Luna quase conseguiu se livrar da espada adversária, mas a criatura envolveu seu
braço, imobilizando-a.
- Gelo? – perguntou-se ao sentir o gelado em seu braço. Nesse momento o rapaz
acertou a barra de ferro na cabeça da criatura e, rachando, ela se desmanchou em vários
pedacinhos que derreteram.
- Nunca vi. – respondeu o rapaz. –Pode ser.
Maria estava sendo atacada por duas daquelas estranhas coisas e não conseguiu segurar
a espada. As duas criaturas perderam a forma e avançaram sobre ela, envolvendo-a em
uma esfera de água.
Ela começou a se contorcer tentando se livrar daquilo para poder respirar e começou a
se aproximar da borda até cair na água. Luna viu e gritou. Os outros logo lançaram parte
da atenção para o que ela apontava. Em golpes rápidos, conseguiram se livrar das
criaturas e ir até a borda, mas não conseguiram ver nada.
Maria, mergulhada na água escura, não conseguia ver nada além do vulto de seus
braços se movendo. Desesperada começou a subir, mas foi como se dezenas de braços a
puxassem de volta.
Eles tiveram tempo de jogar uma corda, mas a luta se reiniciou, impedindo-os de
ajudar a moça que estava na água. Uma das criaturas, sem a espada, golpeou o estômago
de Lêda que caiu um pouco distante dali. A criatura estava pronta para acertá-la com uma
lança de gelo, mas ela ainda estava distraída com o golpe anterior. Quando se virou,
assustou-se com a criatura se despedaçando em sua frente. O rapaz havia ajudado mais
uma. Sem poder agradecer, ela se virou para o lado e vomitou tudo o que tinha para
vomitar. Aí sim, ela agradeceu.
Maria conseguiu pegar a corda que esbarrou em suas costas, mas logo a perdeu das
mãos.
Lêda foi atrás de uma espada perto de onde estavam Luna e Benjamim. Depois de
pegar a espada do chão ela parou. Com um ar pensativo chamou:
- Luna?
- Não posso. – respondeu ela concentrada na luta.
- Benjamim?
- Sim? – respondeu ofegante depois de derrubar uma das criaturas na água.
- Onde é que nós amarramos a corda?
Benjamim ficou sério de repente. E percebendo o que isso significava, Lêda
automaticamente começou a correr até a corda.
Maria que balançava os braços para encontrar a corda, já tinha quase um minuto sem
respirar. Ela conseguiu pegar a corda, mas antes que puxasse ao menos uma vez, ela
começou a ser sugada pela água. O pedaço da corda no navio se desenrolava
rapidamente, e Lêda, por sorte, conseguiu pegar a ponta ao se jogar no chão. A força que
puxava Maria era forte e, enquanto se levantava com dificuldade, bateu bruscamente na
borda do navio, só não caindo porque a corda foi jogada por cima da borda e sua perna
ficou presa em uma das fendas que a enfeitavam – o que machucava.
Começava a ficar mais difícil segurar a corda, mas Benjamim logo apareceu e
conseguiram puxar corda suficiente para amarrar no mastro. Maria não conseguia subir e
eles estranharam ela não aparecer logo. O outro rapaz logo foi saber o que aconteceu,
seguido de Luna que chegou animada.
- É melhor alguém ir até lá. – sugeriu Lêda.
- Eu vou. – disse o rapaz mais velho entregando a barra de ferro a ela. – A mais
miniatura fica aqui para qualquer coisa.
- E as criaturas onde estão? – perguntou o outro rapaz.
- Estão subindo pelo outro lado.
- Então ficaremos lá para impedi-los de chegar aqui.
- Espere um momento, – disse Luna depois dos outros saírem – onde acharíamos o
inimigo da água?
A primeira criatura a subir a bordo estava bem adiantada das outras – quando
começaram a brigar nem podiam vê-las. Esta criatura não se vencia com simples golpes,
é como se uma caída se reconstituísse e se lembrasse dos macetes usados contra ela.
Desviava os golpes de Benjamim apenas virando líquido e depois sólido sucessivamente.
(apesar de já fazerem isso para se movimentar). Foi num desses intervalos que Lêda
chegou por traz e golpeou o elemento. Já se via as outras criaturas, então foram direto ao
seu encontro.
A outra dupla tentava resgatar Maria e em algum lugar Luna conseguiu uma tocha
que, depois de acesa, entregou ao rapaz.
Já muito perto da água ele balançou a tocha esperando que alguma coisa favorável
acontecesse, mas a única coisa foi um jatinho de água que apagou a tocha. Ele então
procurou mas, não viu Maria. Por um segundo percebeu-a perto e pediu para Luna puxar
levemente a corda. Maria por sua vez, segurou mais forte a corda e tentou subir. A água
cessava à medida que ela ficava mais fraca – o que não daria em nada se o rapaz não
estivesse ali. Ela enrolou a corda no braço e tentava subir aos poucos mantendo a firmeza
ao soltar e segurar. O rapaz tentava tocar a moça com uma das mãos e Luna tentava abrir
as velas. Apesar de não conseguir puxar a âncora – e ela não sabia como ela tinha descido
– o navio começou a se mover muito levemente mas ainda assim se percebia o
movimento, Benjamim e Lêda perceberam isso.
O braço de Maria apareceu e o rapaz numa manobra perfeita firmou as pernas na corda
e segurou o braço da moça. Com o movimento do navio a força que puxava a moça
enfraquecia. O rapaz a puxou e gritou para Luna puxar a corda, mas esta não era
suficientemente forte, então esta chamou por alguém. Benjamim aconselhou Lêda a ir,
ele lidaria melhor com as criaturas. As duas moças começaram a puxar com todas as suas
forças e a cabeça de Maria já aparecia, ela começou a tossir e vomitar a água que
começara a engolir. Já em cima o rapaz ajudou as moças a puxarem a âncora e Benjamim
ainda lutava com a última criatura que conseguiu subir no barco. Benjamim estava
cansado ou a criatura era mais esperta, estava difícil se livrar dela. Chegando perto da
borda as balas de sua arma acabaram e a criatura avançou sobre ele sufocando-o pelo
pescoço. De repente a criatura se transformou em água e como o rapaz estava muito
curvado e pondo muita força ele virou e quase caiu, mas conseguiu segurar em uma parte
da fenda da borda. O navio balançava e as suas mãos começaram a se soltar. Segurando
com uma mão só ele fechou os olhos e começou a se esforçar muito mais para conseguir.
Exausto, se deitou no chão e descansou. Recuperando-se, percebeu a presença dos
outros:
- Em tão pouco tempo, tão repentinamente, já nos aconteceu tudo isso? – comentou
alguém.

***

Agora todos estavam no interior do navio, em uma sala em que havia uma longa mesa
retangular de madeira. No centro da mesa havia uma esfera luminosa que apresentava um
aspecto instável. Todos admiravam aquela esfera que exibia tons claros de diversas cores
sem deixar de ser sutil e confortável.
Após cerca de um minuto sentados eles continuaram calados examinando o lugar.
Apesar de não haver janelas a sala estava fresca e as velas iluminavam-na muito bem – a
esfera não iluminava mais do que o centro da mesa.
Num inacreditável movimento conjunto eles descansaram os braços na mesa, fazendo
com que uma luz transparente levantasse de rodos os pontos da mesa. Em reflexo ao
desconhecido deram pulos para se afastar da mesa. Depois de um clarão repentino, uma
tontura muito forte prolongou-se fazendo-os sentir flutuar pela sala. Mas suas mentes
logo voltaram aos seus corpos e todos se sentaram exaustos à mesa que se encheu de
comida. Todos ficaram espantados, mas no final felizes pois estavam realmente com
fome.
- Mas afinal, o que significam essas coisas? Estou perdendo o senso do que é
verdadeiro. Isto foge de qualquer coisa da sã realidade! – desabafou uma das moças.
- Ah, muchachos! – lamentou um dos moços – La melhor coisa que já me aconteceu
foi subir a bordo deste navio.
- E quem és tu afinal? – perguntou outra moça.
- Sou Alejandro.
- Ah, enfim sabemos teu nome. Apresentemos-nos então definitivamente. Sou Lêda.
- Sou Benjamim.
- Sou Luna.
- E eu sou Maria. Somos daqui, mas com... ah... É isso.
- Com certeza perceberam de onde venho. E tu, de onde vens? – perguntou Alejandro.
- Do sul do polo-norte - respondeu Benjamim.
- Oh, sim – disse uma das moças – Agora creio ser melhor silenciar para que possamos
comer em paz.
Eles passaram boa parte da ceia se olhando. Depois, foram passear pelo navio.
Impecável, com madeira clara e detalhes dourados, nos quartos os lençóis muito
brancos brilhavam de tão limpos. Os rapazes encontraram quartos, logo se instalaram e
voltaram para a sala da grande mesa. Já as moças:
- Aaah! – gritou a mais jovem depois de ver um jovem em trapos imundos, cujas
feições não eram bem visíveis. – Quem és tu? O que fazes aqui? – o novo rapaz agora
estava sentado e tão espantado quanto às moças.
- Logo! Diga!
- Quem... e que lugar é esse? Parece muito o meu...
- Quem? - insistiu Luna com obstinação
- Ora!, como "quem"? Eu sou o dono do barco! Quer dizer... eu estava no meu barco
antes de adormecer e ... e... Ei! O que significa isso? – uma das moças o puxou pela roupa
com violência e levou-o até a sala da mesa.
- Tu és um intruso, isso sim! – concluiu a morena de cabelos encaracolados clareados
pelo sol ao jogá-lo para dentro.
Os outros rapazes ficaram esperando surpresos alguma explicação.
- Não esperem que eu lhes dê alguma explicação. – disse Lêda meio impaciente. – Há
possibilidade de nós termos ficado lá em cima e ele aqui dormin...? – a moça de cabelos
com os caracóis transados (mas isso não era muito visível) parou quando ela olhou para a
esfera que brilhava mais forte. Um feixe de luz colorido atravessou a sala e circulou em
volta do rapaz.
- Será que ela faz isso com todo mundo ou só conosco? – perguntou Alejandro
enquanto o rapaz mais jovem cada vez mais se desesperava.
- Eu continuo a dormir?
- Não. Qual é o seu nome garoto? Aliás, quantos anos você tem? – perguntou
Benjamim.
- Dezessete... Danilo é o meu nome.
- Procure alguma coisa na sala ao lado para comer, acho que tem bolo e frutos no
momento. Acho que não pode fazer nada por agora. Depois vá dormir naquele mesmo
lugar, amanhã contaremos o que nos aconteceu à chegar aqui.
- É, afinal acho que foste esquecido, ou todos passados para trás. – completou Lêda.
As moças foram procurar quartos para se instalarem. Haviam encontrado três quartos
de cerca de 10m² cada um com duas camas, todos muito limpos e bonitos. Com certeza
um desses seria para mulheres já que haviam vestidos em um guarda-roupa. Em outro o
contrário. Havia roupas masculinas no guarda-roupa.
Lêda insistiu em procurar outro quarto para ela já que nos outros só haviam duas
camas. Foi aí que ela encontrou um quarto maior, com uma cama enorme e dourada na
maior parte, contando ainda com tecidos brancos que caíam de cima. Que sorte. Ela
trocou a roupa e foi dormir.

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