Você está na página 1de 89

Este livro eletrônico é oferecido gratuitamente.

Se desejar, poderá fazer uma doação e nos ajudar a


continuar oferecendo nossos serviços.
Que você seja feliz!

Para doar, favor visitar:


www.pariyatti.org

PARIYATTI
867 Larmon Road Onalaska,
Washington 98570 USA
360.978.4998

www.pariyatti.org

Pariyatti é uma organização sem fins lucrativos dedicada a


enriquecer o mundo por intermédio das seguintes ações:

v Disseminar as palavras do Buda


v Oferecer apoio à jornada do buscador
v Iluminar o caminho do meditador
Manual de um
meditador
Como desatar nós

Bill Crecelius

Vipassana Research Publications


Vipassana Research Publications
uma publicação da
Pariyatti Publishing
867 Larmon Road, Onalaska, WA
98570

www.pariyatti.org
© 2015 Bill Crecelius

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro


pode ser utilizada ou reproduzida em qualquer forma sem
a permissão por escrito do editor, exceto no caso de breves
citações incluídas em artigos críticos e em resenhas.
Capa & ilustrações dos nós por
www.danielhaskett.com
Sumário

Prefácio1
Agradecimentos4
Introdução6
Esclarecimentos11
Começando13
Meditação diária 17
Uma grande distração 27
Apoio no Dhamma 31
Amigos no Dhamma 37
Fazendo escolhas 41
Apenas continue a conhecer Anicca45
Bingo Bango Bhaṅga 50
O paradoxo das Pāramīs 54
Mettā e você 65
O que podemos aprender nos livros 69
Resumindo  72
Apêndice I - Desenvolvendo uma área de meditação em casa 76
Apêndice II - Livros de Dhamma recomendados 79
Prefácio

C
hegamos a Bombaim por volta das 19h00, depois
de um voo tranquilo vindo de Dubai. Nossos
amigos nos receberam no aeroporto para nos levar
ao seu restaurante favorito. Era uma noite encantadora.
Minha esposa Anne, que não estava se sentindo bem,
foi para o apartamento descansar. O restante do grupo
seguiu o seu caminho. Apesar do trânsito muito
pesado, era uma noite suave. Depois de 45 minutos no
trânsito complicado, ficamos todos revigorados e de
bom humor quando chegamos ao restaurante. Havia
uma fila enorme na porta esperando por mesas. Não
importava o que acontecesse—fosse o calor ou os
mendigos nos incomodando enquanto esperávamos—
estávamos completamente otimistas, apesar de todos os
inconvenientes. A noite toda continuou dessa maneira.
Na manhã seguinte, acordei com uma sensação
semelhante de boa vontade. Entrei na sala de estar e Anne
e nosso amigo estavam tomando chá. Sentei-me e eles
me disseram: “Goenkaji faleceu ontem à noite às 22h40”.
Mettā simplesmente começou a jorrar. Não precisei fazer
nada.
Decidimos meditar e ir até a sua residência para
prestar nossa homenagem. A disposição suave da noite
anterior continuou, mas agora acompanhada por esta
mettā. Quando chegamos ao prédio, as pessoas tinham
obviamente estado acordadas desde muito cedo naquela

1
Manual de um meditador

manhã, cuidando dos preparativos para acolher uma


multidão enorme de pessoas. Por termos chegado tão
cedo, por volta das 10h30, havia provavelmente apenas
cerca de 50-60 pessoas. A sala estava muito sossegada
e as pessoas se sentavam em cadeiras e em tapetes de
algodão no chão para prestar sua homenagem. Todo
mundo parecia muito calmo e tranquilo. Alguns estavam
obviamente meditando. Eles eram um exemplo do que
Goenkaji tinha ensinado durante toda a sua vida.
Fomos levados de elevador da grande sala de
espera no 8º andar até o 13º andar, onde Goenkaji e sua
família moravam. Ele estava deitado em um caixão de
vidro. Esta seria a última vez que veria o homem que
mudou a minha vida. Estava deitado coberto apenas
com um xale. Prestamos nossa homenagem e mettā
simplesmente fluiu.
Soubemos através dos membros da família que
ele estava de humor jovial até o fim e seu falecimento foi
tranquilo e sem incidentes. Ele estava cercado por sua
família naquele momento.
O motivo de eu ter escrito este livro é
essencialmente para ajudar os outros de alguma pequena
maneira como ele tão grandiosamente fez por mim. Ele
me iniciou no caminho do Dhamma e me inspirou a fazer
tantas coisas que jamais pensei pudesse fazer na vida.
Não atingi grandes níveis de introspecção (insight), mas
fiz o que pude por causa de Goenkaji e de outros com

2
Prefácio

quem tive contato ao caminhar por esta trilha. Por isso,


sou muito grato.

3
Agradecimentos

G
ostaria de agradecer àqueles que ajudaram
com a edição e a inspiração. Primeiramente,
minha esposa Anne, que leu o manuscrito
diversas vezes. Kim Johnston, minha velha amiga da
Austrália, também me ajudou e fez um ótimo trabalho de
edição. Quando recebi o manuscrito de volta e algumas
das palavras haviam sido alteradas para ortografia
australiana/britânica, tive de sorrir, mas sem ter certeza
de como faria para mudá-las de volta.
Por muitos anos, Robin Curry tem sido minha
leal colaboradora sempre que precisava de alguma coisa
editada. Ela, às vezes, ralhava diante do meu pedido,
quando pensava nas muitas maneiras que eu poderia
desfigurar o inglês gramaticalmente correto, mas sempre
fazia o que era preciso. Nem preciso dizer que ela estava
lá novamente para me apoiar neste momento. Obrigado
Robin.
Bharathram Sundararaman, um voluntário da
Pariyatti que foi meu editor oficial e que ofereceu muitas
sugestões úteis para melhorar este livro. Apesar de muito
ocupado com a vida profissional e familiar, como outros
tantos voluntários de Dhamma, dedicou tempo para
editar este manual para meditadores. Também Brihas
Sarathy e Adam Shepard da Pariyatti e Virginia Hamilton.
Agradeço ao Daniel Haskett pela criação da capa e das
ilustrações do nó.

4
Agradecimentos

Agradeço também ao Rick Crutcher e ao Paul e à


Susan Fleischman por examinarem as primeiras versões
do manuscrito e por me colocarem em uma trilha melhor.

5
Introdução

A
prendi a manter a minha prática e a fazê-la
crescer. Gostaria de compartilhar isso com
você. Primeiramente, como um homem solteiro
morando em uma área sem outros meditadores, depois
morando em uma área com muitos amigos meditadores
de Vipassana e, finalmente, como um homem casado
com uma parceira no Dhamma, adaptei minha vida para
viver continuamente no Dhamma.
O caminho do monge é elevado e sublime. Diz-
se que o caminho para o monge é livre e suave e fácil de
trilhar. Está elevado acima da sujeira e da lama. Não há
pedras, seixos, rochas afiadas ou espinhos. Infelizmente,
para nós pobres chefes de família este não é o caso. Nossas
vidas estão estreitamente ligadas às responsabilidades
mundanas, empregos, laços familiares e pagamentos de
hipoteca. Ao contrário dos monges, o nosso caminho está
cheio de obstáculos mundanos e distrações. É por esta
razão que acho poder o Manual de um Meditator ajudar
os alunos de Vipassana em sua caminhada ao longo desta
trilha de purificação.

6
Introdução

Uma vez que está lendo este livro, suponho


que tenha feito um curso de meditação Vipassana com
Goenkaji ou com um dos seus professores assistentes.
Nas páginas a seguir espero oferecer-lhe maneiras para
estabelecer a sua prática na meditação Vipassana. Você
pode ter concluído recentemente um curso, ou pode ter
participado de um ou de mais cursos há alguns anos atrás,
mas não conseguiu manter a sua prática. De qualquer
maneira, este livro lhe deve ser útil. Lê-lo será mais útil,
no entanto, se decidir fazer esforços sérios para praticar
esta meditação.
Quando jovem, era escoteiro, e vou sempre me
lembrar do Manual do Escoteiro. Continha tudo o que
precisava saber para ser um bom escoteiro. Quando
adulto, tornei-me um mestre escoteiro e tive contato com
este manual novamente. Percebi que era uma grande
ferramenta para todo escoteiro. Todo o conhecimento
necessário estava naquele livrinho.
Como tenho refletido ao longo dos anos sobre
trabalhar e caminhar na trilha do Dhamma, pensei: não
seria ótimo ter um livro como esse? Não seria sobre
como atar nós, mas como desatar os nós do desejo, da
aversão e da ignorância das nossas mentes. Isso seria
uma ferramenta muito mais prática para alguém que
esteja caminhando na trilha do Dhamma.
Felizmente, ou você poderia dizer por causa do
meu karma positivo, tive contato com muitas pessoas

7
Manual de um meditador

que me ajudaram muito ao longo dos anos da minha


formação inicial. A primeira e a mais importante foi o
meu pai no Dhamma, Goenkaji, que me apresentou a
trilha do Dhamma e me guiou até sua morte em 2013.
Então, também tive muita sorte de encontrar vários
alunos de Sayagyi U Ba Khin que igualmente se tornaram
professores. Alguns me deram uma mão neste projeto de
uma vida inteira de desatar nós. Que grande variedade de
lições aprendi com eles.
Além disso, tive muita sorte de entrar em contato
com muitos dos outros alunos de Sayagyi, que, apesar de
suas altas realizações, não foram nomeados professores.
Eles também me regaram com o que tinham aprendido
aos seus pés. Não de qualquer maneira formal, mas
através de conversas e exemplos ao longo dos anos.
É claro que havia meus companheiros
meditadores também. Foram tantos que não há condições
de mencioná-los ou até mesmo de filtrar as lições que
tinham para compartilhar. De alguns, aprendi coisas
positivas, mas, de outros, aprendi coisas através de seu
mau exemplo, como é, às vezes, o caminho. Lamento por
eles, mas agradeço-lhes mesmo assim.
O maior professor de todos os tempos foi o Buda.
Ele descobriu esta trilha em que caminhamos e, em vez
de mantê-la para si mesmo, compartilhou com todos os
que até ele vieram. Agora, depois de todos estes anos,
esta linhagem de professores ainda transmite seu mesmo

8
Introdução

ensinamento.
Mesmo ao longo de tantos séculos e de tantas
gerações, tantas pessoas preservaram o ensinamento,
direta e indiretamente, para o benefício das gerações
futuras! Quantos professores existiram? Sabemos
que nos últimos 100 anos ou mais, houve quatro
(Ledi Sayadaw, Saya Thetgyi, Sayagyi U Ba Khin e
Goenkaji), então provavelmente teriam existido, pelo
menos, 100 professores nesta linhagem abrangendo os
últimos 2.500 anos. Este seria o número aproximado de
ācariyas (professores) que nos separam do Buda. Quão
afortunados somos por estas pessoas maravilhosas, de
coração puro, terem compartilhado esta joia para que
possamos tê-la hoje.
Ao longo destes anos, o ensino se adaptou aos
tempos. Quando o Buda estava vivo e, por pouco tempo
depois, havia muitos arahants, seres totalmente libertos,
que mantiveram os ensinamentos ultra puros. Com
o passar do tempo, os leigos apoiaram os monges de
maneira mais formal o que veio a ser conhecido como
a religião budista formada. Contudo, ainda eram quase
inteiramente monges ensinando meditação aos monges.
Na nossa linhagem, foi o Venerável Ledi Sayadaw que
transmitiu os ensinamentos ao agricultor Saya Thetgyi,
que se tornou o primeiro professor leigo. Acabou sendo
uma jogada brilhante, porque o século XX estava
amanhecendo e um novo mundo, baseado na revolução
industrial e na tecnologia da computação, estava prestes

9
Manual de um meditador

a surgir. Uma nova maneira de transmitir o Dhamma


seria necessária. Saya Thetgyi, Sayagyi U Ba Khin e S.
N. Goenkaji fizeram o trabalho que lhes fora designado
em estilo e em substância surpreendentes e o mundo se
tem beneficiado disso enormemente.
Agora somos afortunados por haver centros
em todo o mundo, onde as pessoas podem obter os
ensinamentos do Buda em lugares confortáveis, de fácil
acesso, próximos da maioria das grandes cidades do
mundo. A apresentação do ensino é fácil de entender e um
grande número de servidores de Dhamma compartilham
seu tempo e sua mettā para que mais pessoas possam
obter o Dhamma.
Que o seu caminho seja tranquilo e livre
de obstáculos. Que você seja feliz. Que se torne
completamente iluminado!

10
Esclarecimentos

E
m recente conversa com um amigo, percebi que
este livro pode dar a impressão de que tudo o
que faço é meditar. Talvez como uma espécie de
quase-monge. A realidade está longe disso, embora eu
seja muito sério sobre reservar tempo para meditar.
Desde que comecei a meditar, tive três fases
na minha vida. A primeira fase foi de viajar, meditar e
imergir-me no serviço de Dhamma. Descobri a trilha
enquanto era um viajante e, durante este tempo, grande
parte da minha vida era dedicada à meditação e a viagens
para a Índia e para a Birmânia para frequentar cursos e
para servir o Dhamma.
Em seguida, casei-me e tivemos um filho. Isso
iniciou a segunda fase, em que trabalhei em vários
empregos durante os 27 anos seguintes. Fiz tudo o que
um marido normal e um pai normal fazem, exceto por
ter incluído sessões de meditação duas vezes por dia e,
geralmente, um curso de 20, de 30 ou de 45 dias a cada
ano. Também reformei totalmente algumas casas, construí
alguns edifícios e tive muitos interesses, incluindo

11
Manual de um meditador

jardinagem, carpintaria, marcenaria, páli, etc. Então, eu


não estava sentado olhando para o meu umbigo.
Além disso, havia todas as atividades da família,
como ir a jogos de futebol, dever de casa, escoteiros,
acampamentos, projetos escolares, etc.
A terceira fase começou, quando me aposentei e
começamos a servir o Dhamma em tempo integral, além
de todas as coisas acima continuarem como antes.
Não é preciso ser um recluso para ser um
meditador. Aprecie as coisas mundanas e mantenha suas
responsabilidades, mas mantenha seu foco em incorporar
o Dhamma à sua vida. Você consegue fazê-lo. O Dhamma
lhe dará a energia para fazer tudo o que precisa e muito
mais além.

12
Começando

V
ocê a essa altura já experimentou as sutilezas
da mente e do corpo que lhes estão disponíveis
graças a apenas um curso de dez dias de
meditação Vipassana.
Embora possa ter começado a trabalhar em um
nível que era tanto superficial, no início, em apenas
dez dias você foi capaz de mover a mente de um nível
grosseiro para um muito mais sutil. Você experimentou
outra coisa também. Pela prática de estritas regras de
moralidade, conseguiu acalmar a mente para que lhe
permitisse uma investigação interior mais profunda.
Quem diria que isso poderia acontecer?
Bem ali do lado de fora dos portões, todo o caos e o
comportamento indisciplinado do mundo cotidiano
ainda estava acontecendo. Mas você estava vivendo em
um casulo, que escolheu habitar com a esperança de
aprender algo que fosse ajudá-lo. Quem diria que este
estilo de vida virtuoso, combinado com uma técnica de
meditação de 2.500 anos atrás, teria lhe proporcionado
esses sentimentos de contentamento, de tranquilidade, de

13
Manual de um meditador

alegria e de compaixão pelos outros que você sentiu no


final do curso.
Pode ser que faça algum tempo desde que você
sentou um curso e aqueles sentimentos que experimentou
no dia de mettā podem não ser tão proeminentes em sua
mente agora. Se você pensar sobre isso com cuidado,
porém, podem voltar. Lembro-me de um dia em que
estava dirigindo com um cliente e ele me disse, sabe, você
me parece muito familiar. Eu disse sim, você também.
Comparando notas, descobrimos que ele frequentou um
dos primeiros cursos realizados nos Estados Unidos,
quando Goenkaji veio da Índia, mas tinha parado de
praticar, desde então. Ele disse: “Sabe, foi a experiência
mais profunda de toda a minha vida.” Eu ouvi isso muitas
vezes no passado de pessoas que sentaram um curso,
mas deixaram a prática se perder. Elas ainda sentem essa
experiência firmemente estabelecida em suas mentes,
como algo tão especial que se destaca de todas as outras
coisas que fizeram, desde então.
Em outro caso, estava almoçando com uma aluna
antiga e ela estava reclamando sobre não conseguir manter
a sua prática. Ela tinha esquecido o quão profundamente
benéfica a prática é. As distrações da vida diária e os
velhos padrões de hábitos interferiam. Percebendo o
quão superficial suas queixas eram, ela disse, “Às vezes,
simplesmente me esqueço de como praticar é bom e dos
benefícios que obtenho disso.”

14
Começando

Vipassana o integra na sociedade de uma forma


que é positiva, consciente, moralmente sã, e leva a amar
outras pessoas tanto quanto você ama a si mesmo. Para
adquirir a sabedoria da impermanência (anicca), você
deve se esforçar e isso acabará por levá-lo à meta final.
A razão mais comum pela qual as pessoas
param de sentar depois de um curso é a de que a forte
consciência da natureza mutável das sensações (anicca)
se dissipa lentamente, à medida que nos integramos
de volta à sociedade. Todos os estímulos externos nos
estão constantemente subjugando e logo anicca é
esquecida. Também a sua moralidade fica mais fraca e,
consequentemente, a sua consciência de anicca sofre.
Se você deixar esta anicca escapar, estará enfrentando
sessões que são como “eca.” Será um trabalho árduo
durante todo o tempo, como aquelas no início de um
curso. Se não for cuidadoso, deixará essa joia preciosa
escapulir.
Quando comecei a praticar, era como se tivesse
estado vivendo com uma nuvem diante de meus olhos.
Depois de concluir um curso de Vipassana, a nuvem
começou a se dissipar. Há luz através dessas nuvens e
você pode vê-la. Tal como quando esteve voando em
uma altitude elevada e seu avião começa a descer através
das nuvens e começa a ficar escuro e nublado, mas você
sabe que, para além dessas nuvens, encontra-se a luz
solar intensa. Agora você tem a ferramenta para remover
aquelas nuvens.

15
Manual de um meditador

A fim de chegar a essa luz solar brilhante, você


pode facilitar o seu trabalho se tentar viver sua vida
livrando-se de distrações que tornariam mais difícil trilhar
este caminho de Dhamma. Existem várias maneiras de
fazer isso e você poderá achar útil para o seu trabalho,
se começar de imediato, enquanto a experiência do curso
ainda é recente. No entanto, se você não sentou um curso
por um longo tempo, ainda assim, dê este primeiro passo,
talvez dedicando mais tempo a ānāpāna. Faça outro
curso; isto o estabelecerá em seu caminho.
Durante um curso em um centro, tudo é
controlado e configurado de forma ordeira, porque a
meditação é a única atividade que ocorre ali. Muito
planejamento é investido no funcionamento do centro,
com base na experiência de muitos alunos. Seria útil para
você se uma pequena parte desta experiência do centro
puder ser transferida para sua vida cotidiana normal, para
que haja algo em que possa se agarrar, apesar de toda a
agitação de ser um chefe de família, um leigo. Um lugar
que você possa tocar, com vistas a se lembrar daquela
experiência.

16
Meditação diária

E
stas duas sessões diárias são muito importantes.
Não é possível enfatizá-las o suficiente porque,
quando você começa a perder sessões, fica cada
vez mais difícil meditar. Quando você vem a um curso
pela primeira vez, pode ser muito inexperiente, mas,
até o final dos dez dias, terá visto uma transformação
em si mesmo. Você agora é capaz de sentir sensações
internamente, com facilidade, ao passo que, antes do
curso, provavelmente estava totalmente inconsciente de
que tais sensações sequer existiam. A fim de manter um
nível de consciência Dhammica dentro de si mesmo, você
precisa destas sessões de meditação regularmente. Elas
mantêm viva a pureza que estabelecemos. Estas duas
horas por dia, de manhã e à noite, são absolutamente
necessárias.
Você pode achar que não é tão fácil meditar,
quando voltar para casa. Pode notar, mesmo enquanto
seu carro se afasta do centro, que a atmosfera mudou.
Você já não está em um lugar onde milhares de pessoas
têm meditado por muitos anos. Distrações surgirão quase

17
Manual de um meditador

imediatamente.
Quando parar para abastecer ou talvez pegar um
jornal, comprar um sorvete ou um refrigerante, poderá
não haver mais quaisquer pensamentos do Dhamma.
Todas essas coisas são normais, mas você pode ver que
a atmosfera do centro pode ser imediatamente esquecida.
Se estiver determinado a desenvolver uma prática, deve
encontrar um lugar para estar no espírito do Dhamma que
seja separado da corrente principal do mundo cotidiano.
Com isto em mente, a primeira coisa a fazer
é organizar o seu lugar de meditação. Como Goenkaji
menciona na palestra final do curso de dez dias, é bom
ter um lugar para meditar que seja sempre o mesmo. Se
for um pouco quieto e longe do tráfego habitual na casa,
ajudará. Uma sala separada seria ideal. Um cômodo que
não esteja sendo usado funciona muito bem, apesar de isso
ser coisa muito rara, pelo menos, na minha casa. Se algo
tão óbvio não estiver disponível, então, um lugar em seu
quarto ou escritório que não seja muito usado funcionará.
Um bom lugar é aquele em que você pode colocar suas
almofadas, xale, alarme, etc. e não serão perturbados.
Para obter uma lista de ideias, veja o Apêndice 1.
É muito importante criar um espaço no qual você
possa meditar duas vezes por dia. O lugar se preencherá de
vibrações de Dhamma e de sentimentos de mettā. Tornar-
se-á mais forte ao longo dos anos e você descobrirá ser
mais fácil meditar ali.

18
Meditação diária

Você está fazendo uma mudança importante


em sua vida. Ao ter um local de meditação designado,
estará criando um hábito. Este é o lugar onde você vem
para purificar sua mente. Este é o lugar onde não será
perturbado, a fim de trilhar o caminho do Dhamma.
Este lugar o ajudará a se manter na linha e a não deixá-
lo esquecer suas sessões de meditação. Tudo está bem
ali, pronto para ser utilizado. É uma sala de meditação
instantânea.
Você deve ter notado no dia dez, que chamamos
dia de mettā, que, tão logo começou a falar, tudo mudou.
Você estava extrovertido e os pensamentos de sentar
foram embora. Às 14h30, no entanto, houve uma sessão de
meditação em grupo. Esta é uma sessão muito importante
e você deve refletir sobre isso, quando voltar para casa e
perceber quão difícil pode ser meditar. Quando começou
esta sessão de meditação em grupo das 14h30, você pode
ter percebido imediatamente que a sua meditação foi
diferente. Sua mente estava provavelmente distraída ou
agitada e foi difícil se acalmar. Pode ter havido dores e
desconfortos. Sua meditação mudou e você só tinha falado
por pouco tempo. Lá pelo final da sessão de meditação
de uma hora, no entanto, sua mente provavelmente se
acalmou um pouco e você estava praticamente de volta
onde estava às 9h00, antes de aprender a prática de mettā.
E na sessão de meditação em grupo das 18h00, teria visto
isso acontecer novamente.
Se você não for cuidadoso, não perceberá, mas

19
Manual de um meditador

essa é uma lição muito importante. Deve dar-lhe uma


visão interior sobre o que está acontecendo no mundo
exterior e porquê suas sessões diárias de meditação
são tão importantes. Verá também que aquilo com que
está lidando é natural e não é que esteja fazendo algo
errado. É fácil pensar que não é capaz de fazer isso ou
que seja difícil demais. Esta é realmente uma situação
muito perigosa e uma das mais difíceis que pode
enfrentar, porque você pode ser tentado a parar de sentar
quando confrontado com estas sensações confusas ou
desagradáveis ou quando a mente estiver divagando.
Se você parasse de sentar, apenas agravaria
as coisas. É sentando que se consegue manter sua
consciência da natureza impermanente das sensações e,
assim, meditar da maneira adequeada. Você tem de estar
preparado para aceitar quaisquer sensações que surjam,
sem ter preferências por uma ou por outra.
Darei um exemplo. Quando voltei para os
Estados Unidos, após meus anos de viagem, decidi viver
em Berkeley, na Califórnia, onde sabia que havia muitos
outros meditadores que também tinham voltado da Índia
recentemente. Sabia que esses amigos de caminhada
apoiariam a minha prática. Aluguei um apartamento
e estabeleci-me para viver a vida de leigo. Uma noite,
enquanto estava meditando, parecia que tinha sentado
por, pelo menos, uma hora.
Olhei para o meu relógio. Dez minutos tinham

20
Meditação diária

passado, nem perto de uma hora. Comecei a minha


prática novamente e parecia que uma outra hora tinha
passado. Estava tão agitado e distraído. Olhei para o
relógio novamente e só mais cinco minutos tinham
passado. Isto aconteceu mais algumas vezes. Felizmente,
percebi que estava em uma encruzilhada; se deixasse
minha mente jogar este jogo comigo e me levantasse
e parasse de meditar depois de apenas quinze minutos,
estaria perdido. Aquela sessão de meditação continuou e
continuou. Pensei que nunca acabaria. Vidas inteiras se
passaram, mas não desisti. Isso nunca voltou a acontecer
com tamanha intensidade. Tinha subjugado essa mente
que não quer mudar. Este é o tipo de coisa da qual você
tem que se proteger, quando iniciar a sua prática em casa.
A mente trabalhará contra você e não será a mesma que
era no curso.
Outros obstáculos podem aparecer em suas
sessões de meditação, quando começar a praticar em casa
e à medida que continuar sua prática dia após dia. Às
vezes, descobrirá que, quando estiver meditando durante
suas sessões de uma hora, está em um nevoeiro. Pode ser
que você até caia no sono durante as suas sessões. Isso
pode acontecer pela manhã ou à noite ou, possivelmente,
nos dois casos. Não é possível prever quando isso
acontecerá ou mesmo se acontecerá. Pode lhe parecer,
como para outros, que quando isso acontece está perdendo
seu tempo meditando. Gostaria de assegurar-lhe que não
está desperdiçando seu tempo. Embora possa parecer que

21
Manual de um meditador

está tentando caminhar na lama ou nadar no melaço, isso


só passará se perseverar. Como você faz isso?
Quando isso acontece e você se der conta de que
perdeu a atenção, comece de novo com uma mente tão
calma quanto for capaz. Tente ānāpāna por um tempo e
um pouco de respiração intencional. Torne a respiração
um pouco mais forte para que possa senti-la. Você de
tempos em tempos subirá à tona desta mente entorpecida,
sem rumo, e trabalhará com a consciência das sensações
conhecendo continuamente a sua natureza impermanente.
Descobrirá que isto eventualmente passará. É
possível que haja apenas alguns minutos nesta hora em
que estará bem acordado, afiado, e sua mente estará
penetrante, mas estes são minutos muito valiosos. Não
os desconsidere. Use-os com sabedoria e não se preocupe
com o que pensa ter perdido. Você esteve trabalhando
durante todo o período de meditação, embora possa não
ter sido o que esperava. Se a sua agenda não exigir que
esteja em algum outro lugar logo após sentar-se e se nesse
momento a sua mente estiver clara, então, permaneça
sentado um pouco mais de uma hora. Cada momento
sentado sobre a almofada será valioso, se trouxer sua
mente de volta para o objeto da meditação sem reagir.
Então, estará fazendo a coisa certa.
Só mais uma coisa: algumas pessoas têm
exatamente a experiência oposta. Acham que, nos
primeiros dez minutos da hora, estão muito afiados, muito

22
Meditação diária

alertas e, em seguida, são arrastados para este nevoeiro


onde sequer sabem distinguir se estão sentados ou
deitados. Isso não importa. Continue a sentar, complete
a hora. Não é possível saber o que experimentará em
suas sessões de meditação. O objetivo é o de fazer uma
observação sem escolha de qualquer sensação que surgir.
A mesma coisa se aplica em todas as sessões. Observe as
sensações que surgem, não importa o que estiver sentindo
naquele momento.
Tente prolongar o período de tempo em que se
mantém consciente. Estas situações grosseiras são uma
manifestação do que está dentro de si. Se continuar a
observá-las com equanimidade, estará fazendo o seu
trabalho. Se parar para pensar, depois de ter passado o
dia todo fora de casa na rua lidando com a loucura que se
apresenta, não é à toa que o seu corpo se sente como um
bloco de cimento e é difícil sentir sensações.
Se a sua mente não estiver afiada e penetrante,
dedique mais tempo a praticar ānāpāna, antes de mudar
para Vipassana. Uma mente afiada o ajudará a se acalmar.
Da mesma forma, uma mente calma afiará seu samādhi.
Quando se der conta de que a mente está divagando,
tente a respiração intencional por um tempo. Se nenhuma
das coisas acima funcionar, tente meditar com os olhos
abertos por alguns minutos e deixe um pouco de luz
entrar.
Seja o que for o que fizer, não se sinta derrotado,

23
Manual de um meditador

nunca pense que tudo está perdido. Simplesmente use


o esforço correto para tornar cada sessão de meditação
bem-sucedida. Elas serão todas diferentes e, quando você
passar a aceitar isso, e não esperar algo que julgar ser
“meditação”, terá dado um grande passo na direção certa.
Então, uma vez tendo estabelecido seu espaço,
agora deve discutir este assunto com sua família ou com
seus companheiros. Isso pode ser fácil para eles aceitarem,
mas também pode ser difícil e eles podem ter inveja desse
tempo que dedica a si mesmo. Diga-lhes que encontrou
esta prática de meditação, que é muito importante para
você. De agora em diante, pretende meditar duas vezes
por dia, de manhã e à noite, uma hora cada vez. Isso o
ajudará a não se sentir culpado, quando tiver de se afastar
para meditar. Uma vez que todos saibam o que está
fazendo, passarão a respeitá-lo por isso, especialmente
quando virem mudanças positivas acontecendo em você.
É bom tentar meditar no mesmo horário todos
os dias. Você pode optar por fazê-lo imediatamente ao se
levantar ou logo após a sua rotina matinal. Talvez precise
primeiro de um pouco de energia na barriga e medite
logo depois de tomar o seu café da manhã. Seja qual for
sua decisão, é melhor manter o mesmo horário todos os
dias, porque, dessa forma, estabelecerá uma rotina. Se
deixar isto ao acaso, terá sorte se durar uma semana.
Se morar com outras pessoas, é provavelmente
melhor meditar antes de acordarem. Dessa forma, a casa

24
Meditação diária

ou o apartamento estará bem tranquilo e você não vai


se distrair conversando ou passando tempo com alguém.
Outras pessoas serão uma grande distração. Portanto,
tenha cuidado.
Por outro lado, se eles também forem meditadores,
podem lhe dar força e deve usar a força deles para se
ajudar. Meditem juntos sempre que possível. Tente
meditar, pelo menos, uma sessão de meditação em grupo
por dia com eles.
Você também deve avaliar seu estilo de vida.
No final da tarde, quando sai do trabalho, você para na
academia a caminho de casa ou joga uma partida de
tênis ou algum outro esporte? Quando chega em casa
você costuma sair para correr ou afunda em sua poltrona
favorita para viajar em frente da TV? Independentemente
do que faça, pense sobre seu final de dia.
Quando será melhor para encaixar esta uma
hora de meditação? Algumas pessoas gostam de sentar
imediatamente após chegarem em casa. Outros podem
optar por fazê-lo depois do jantar ou antes de ir para a
cama. Você tem de tomar essas decisões sozinho, mas
decida o que vai fazer, assim que chegar em casa depois
do curso e ter criado o seu espaço de meditação. Você tem
de ser hábil. Você deve ter as intenções corretas. Quando
se preparar desta maneira, conseguirá realizá-las.
Em Berkeley, meu colega de quarto e eu
costumávamos sentar às 6h00 e às 18h00. Isso funcionou
muito bem, uma vez que muitos amigos sabiam disso

25
Manual de um meditador

e apareciam nesses horários para se juntar a nós.


Independentemente do que decidir, atenha-se ao seu
plano.
O mais importante é se esforçar para meditar
naquela primeira noite, quando chegar em casa depois de
um curso. Você acabou de ser bombardeado por tamanha
variedade de estímulos pelas últimas 8-10 horas, desde
que deixou o curso. Precisa voltar para onde estava
quando saiu do centro. Sentando-se nesta primeira noite,
estará construindo o ambiente favorável para estabelecer
um padrão que o levará a fortalecer sua prática.

26
Uma grande distração

T
em uma coisa que você deve considerar que é tão
contra a corrente da nossa cultura nacional, que
vou prefaciar esta parte com a minha experiência
e deixá-lo decidir por si mesmo. Pode ser a pedra preta
no kheer (arroz doce) que Goenkaji cita em sua última
palestra, onde a criança jogou fora todo o doce por causa
de um pedaço de cardamomo na sobremesa. Esta grande
distração são os intoxicantes.
Quando saí do meu primeiro curso, notei que
alguns alunos jogaram fora seu haxixe e assumiram o
compromisso com um novo modo de vida, enquanto
outros iam acender um baseado. Drogas e álcool têm
tamanha relevância na cultura ocidental e se tornaram
algo que muitas pessoas inicialmente se recusam a
abandonar. E, o que é mais importante, não veem razão
alguma para isso.
O que descobri durante os primeiros anos,
quando ingeria álcool e, em seguida, tentava meditar, era
parecer como se uma lente tivesse sido besuntada com
vaselina.

27
Manual de um meditador

A droga ou o álcool age como um filtro. No ramo


do entretenimento, usam um filtro de lente de câmera
dessa maneira, o que torna a modelo ou a atriz que já
ultrapassou seu ápice, ainda parecer muito bonita. Esta é
a falsa impressão criada pelo uso de drogas.
Outra analogia é quando se anda na rua e se vê
uma vitrine que foi revestida de branco, enquanto está
sendo remontada, de modo a não se poder enxergar com
clareza seu interior. Você pode vislumbrar algumas coisas
lá dentro, mas tudo é pouco nítido. É assim que as drogas
e o álcool afetam nossa percepção. São uma máscara que
impede que vejamos o que está realmente acontecendo.
A outra impressão equivocada é a de que as
drogas expandem a consciência. Isso é totalmente
falso. Algumas drogas proporcionam uma alteração da
consciência e outras proporcionam uma modificação da
consciência. Nada que jamais ajudará um meditador,
pois, para experimentar a verdade, a realidade deve ser
vista tal qual é.
Alguém que esteja se entorpecendo para afogar
alguma mágoa do passado pode ser feliz vivendo dessa
maneira. Mas aliviar dores do passado experimentadas
como sensações é do que trata a meditação. Encontramos
uma ferramenta para lidar com as vicissitudes da vida,
mas, em vez de colocar uma lâmina bem afiada nessa
ferramenta, para cortar a confusão, cegamos a ferramenta
até se tornar praticamente inútil.
Sendo um aluno recente, você tem de tomar essa

28
Uma grande distração

decisão sozinho. Nunca fui muito bom em pedir conselho


àqueles que eram mais espertos do que eu, até conhecer
Goenkaji. Se meu pai ainda estivesse vivo quando
comecei a meditar, provavelmente teria ficado chocado
por eu dar ouvidos a alguém mais sábio do que eu, mas
também teria ficado muito feliz.
Se achar que está pronto para dar tal passo neste
momento—e espero que considere seriamente essa
possibilidade—listei algumas orientações, a seguir, para
ajudá-lo a navegar a tarefa diante de si. Caso contrário,
não jogue fora o delicioso doce kheer por causa de um
pequeno pedaço de cardamomo. Por favor, continue a
meditar. É a coisa mais importante.
Se decidiu fazer uma tentativa, em primeiro
lugar, veja o que tem na geladeira ou no armário. Tem
algum álcool? Talvez esteja acostumado a tomar um
copo de vinho no jantar ou uma cerveja gelada em um dia
quente de verão. Se qualquer uma dessas coisas estiver
lá, jogue fora. A resposta não é beber tudo para se livrar
daquilo e, então, começar mais tarde. A mente é uma
coisa escorregadia.
Há mais uma coisa para cuidar. Existe um
suprimento secreto em algum lugar na casa? Plantas
crescendo no quintal? Essas tentações têm de ser
eliminadas ou o derrubarão e você não avançará no
caminho.
Repare que eu não falei para dar essas coisas para

29
Manual de um meditador

um amigo. Não. Não ajude outras pessoas a entorpecer


suas mentes. Este não é o seu trabalho. Você decidiu
mudar o seu comportamento para trilhar o caminho do
Dhamma—só porque os outros ainda não tomaram essa
decisão, não os incentive dando-lhes intoxicantes.
Se decidir, neste momento, incluir o quinto
preceito em sua vida, existem algumas ocasiões onde as
pessoas podem se tornar especialmente insistentes, ao
tentar convencê-lo a tomar uma bebida alcoólica. Estas
geralmente são ocasiões especiais, como casamentos,
Ano Novo, etc. As pessoas, nessas ocasiões, sentem que
deve haver um brinde. É uma tradição que está muito
enraizada no Ocidente.
Haverá sempre uma ou duas pessoas que
ultrapassam a linha do bom gosto e realmente o
aborrecem para participar do brinde com algum tipo de
bebida alcoólica. Será nessas horas que você deve ser
extremamente habilidoso em fazer valer os seus direitos
e não ser dominado. É geralmente útil ter um copo cheio
de água com gás ou refrigerante, e apenas mostrá-lo e
dizer que você está OK.
Lembre-se que você não está sozinho quando
começa a tentar viver um estilo de vida mais Dhâmmico.
O poder do Dhamma é muito forte. Ele o ajudará também.

30
Apoio no Dhamma

P
ode parecer muito difícil viver em uma sociedade
que não respeita quem observa os cinco preceitos,
mas você descobrirá que as forças da natureza
virão ao seu auxílio. Por exemplo, uma das ajudas será
a sua prática diária. Quando você se sentar toda vez
no mesmo lugar, o local escolhido começará a ficar
carregado com vibrações de Dhamma. Mesmo que seja
bem pouco no começo, isso aumentará. Então, quando
se sentar para meditar, saberá que está entrando em um
lugar Dhâmmico, mesmo que seja apenas de um metro
por um metro.
Para ajudar este lugar a ficar mais forte mais
rapidamente, comece a convidar seus amigos que
também são meditadores nessa tradição. Faça uma
sessão de meditação em grupo, sentando-se com eles
no lugar onde pratica meditação. Eles podem se reunir
ao seu redor, enquanto vocês se sentam juntos. Todos
vocês serão beneficiados. Convide-os talvez para jantar
e converse com eles. Você descobrirá que todas aquelas
preocupações com sīla (moralidade) não são mais

31
Manual de um meditador

preocupações com esses amigos. Será mais fácil viver


uma vida de Dhamma.
Outra coisa útil a fazer seria obter cópias dos
cânticos de Goenkaji. Quando os ouvir em sua área
de meditação, tais palavras de Dhamma entoadas
repetidamente irão ajudá-lo. As palestras noturnas
também estão disponíveis. Toda vez que você as ouvir,
aprenderá algo novo.
A próxima coisa a saber é sobre as sessões de
meditação em grupo. Estas são atividades que você deve
se esforçar para participar. Sentar-se com outras pessoas
que praticam esta técnica recarregará suas baterias. Será
quase tão bom quanto sentar-se em um centro. Estas
sessões de meditação em grupo estão publicadas no
site do seu centro local, ou você pode perguntar sobre
as sessões de meditação em grupo onde você frequentou
seu último curso. Estes não são eventos sociais, mas sim
uma oportunidade para praticar com pessoas dotadas de
mentes afins no sentido de construir sua prática juntos.
Você se beneficiará com este impulso. Se não houver
alguém perto de você e, se conhecer alguém em sua área
que pratique Vipassana como ensinada por S. N. Goenka,
reúna-se com ele, escolha um horário e local, e medite
regularmente, semanalmente, se possível. Você será
fortalecido com as sessões de meditação em grupo.
Cursos de um dia são outro suporte útil para a sua
prática. Você pode procurar na internet para ver se reside

32
Apoio no Dhamma

em uma área onde há cursos de um dia. Ao participar de


um curso de um dia, você pode fortalecer sua consciência
da natureza impermanente das sensações (anicca) que
estiver sentindo e isso o ajudará a aproveitar melhor as
sessões de meditação em grupo, a torná-las mais fortes.
Um terço do tempo praticará ānāpāna e dois terços do
tempo praticará Vipassana. Até o final do dia, o seu nível
de anicca pode até estar de volta ao ponto onde estava
quando saiu do seu último curso. Isto é muito importante,
se quiser manter uma prática diária.
Se não houver cursos de um dia em sua área
e se houver um professor assistente que resida nas
proximidades, talvez, se perguntar, ele ou ela possa
ajudá-lo a organizá-los de tempos em tempos. Os outros
meditadores em sua área lhe serão gratos. Se este não
for o caso, então, você mesmo pode fazer autocursos
regularmente. Durante os dois primeiros anos depois de
ter voltado da Índia, eu sentava um autocurso de um dia
em fins de semana alternados.
Isso me deu muita força e produzirá o mesmo
efeito em você. O melhor é começar às 4h30 e trabalhar
até as 21h00, que é o que eu fazia, mas mesmo se não fizer
isso você descobrirá que, mesmo se usar apenas o horário
mais relaxado adotado nos cursos de um dia oficiais—
9h00 às 16h00 ou 17h00— será de grande ajuda.
Se for conveniente, você também pode ir ao
centro para uma sessão de meditação em grupo, para um

33
Manual de um meditador

período especial de serviço de Dhamma, para um curso


de curta duração, ou para outro evento.
O que você deve lembrar sobre os cursos de um
dia e sobre as sessões de meditação em grupo é que o
ajudam a ajustar a sua prática. As visões, os sons e as
imagens que nos bombardeiam o dia todo nos empurram
para baixo. Talvez não esteja muito consciente disso,
talvez esteja, mas predominam o ódio, a ganância
e o delírio o dia inteiro. Profissionais tornaram-se
especialistas em desviar nossas mentes; universidades
dão aulas sobre como chamar a atenção das pessoas, de
forma consciente e até mesmo inconscientemente, para
conseguir influenciá-las. Compre isso, deseje aquilo,
isso é repetido sem parar. Quando saem do mosteiro, os
monges circulam de cabeça baixa e sem desviar os olhos,
a fim de evitar todo esse estímulo.
Você será capaz de eliminar parte disso pelo que
optar por ler e assistir na televisão e quais filmes assistir,
mas, mesmo assim, isso permeia o ar. O estímulo também
preenche os sites que visitamos, o nosso e-mail e agora
até mesmo os nossos telefones. Então, esses cursos de
um dia serão muito importantes para a sua mente voltar a
focalizar a natureza da impermanência. Quando você se
senta sobre a almofada, é como se estivesse se despejando
através de um filtro; você passa, mas todo lixo fica no
filtro. Você se levanta de sua almofada revigorado.
No dia onze, Goenkaji dá a instrução de que

34
Apoio no Dhamma

os alunos devem tentar fazer um curso de dez dias por


ano. Se seguir este conselho, será um benefício enorme.
Durante esse um curso por ano será capaz de aprofundar
sua prática.
Imagine que cavou uma trincheira pequena.
Durante o ano, a trincheira continua acumulando sujeira
e poeira em seu interior. Lá pelo fim do ano estará cheia
ou quase cheia. No mesmo sentido, se você não for limpo
pela sua prática diária, sessões de meditação em grupo,
cursos de um dia e cursos de três dias, você ficará cheio
e terá de começar tudo de novo. Para impedir que isso
aconteça, você tem de continuar limpando o fosso. Se,
então, fizer outro curso, será capaz de aprofundar essa
trincheira. Com menos sujeira e menos poeira para
remover, o seu trabalho no retiro de dez dias progredirá
muito mais rapidamente com menos obstáculos. É claro
que se sua sīla (moralidade) não tiver sido boa, ficará
muito mais difícil. Mas se estiver se esforçando para
manter uma boa sīla, estará em boa forma para progredir
mais rápido e mais profundamente em seu curso anual.
Haverá algumas pessoas que verificam ter mais
tempo para praticar meditação do que apenas duas horas
por dia e um curso de dez dias por ano. Se este for o
seu caso, não há nada de errado em fazer mais de um
curso por ano. Muitos alunos constatam querer realmente
estabelecer uma base forte e decidem ir a um centro a fim
de meditar e servir durante um período de tempo.

35
Manual de um meditador

Ao fazer isso, terá um lugar amigável para


estabelecer a sua prática e aprofundá-la. Você será capaz
de aplicar o que aprendeu enquanto viver no ambiente
protegido do centro de Dhamma. E, depois, quando
retornar à sua vida no mundo exterior, você levará
consigo o hábito forte e sólido de sentar-se regularmente
e experimentar anicca. Assim, você será capaz de dar
continuidade à sua prática mais facilmente.
Na verdade, tenho observado uma correlação
direta entre aqueles que dão serviço de Dhamma e
aqueles que têm uma prática forte. A prática contribui
para o serviço e vice-versa.
O Buda disse que não há campo mais fértil do
que uma pessoa praticando meditação, por isso, é muito
benéfico servir a estes alunos. Quando você ajuda a
servir aqueles que têm a capacidade de se fortalecer na
meditação, você os está ajudando, bem como a si mesmo.

36
Amigos no Dhamma

Q
uando voltei da Índia, fui morar na área da Baía
de São Francisco, porque sabia que ali havia
outros meditadores que conhecera na Índia.
Quando voltei para os Estados Unidos, a área onde
minha família morava era um deserto, em termos de
outros meditadores, então, fui para aonde sabia haver
meditadores. No segundo dia depois de ter me mudado
para Berkeley, participei de uma sessão de meditação
em grupo e conheci pessoas com quem me relaciono até
hoje.
Durante cerca de 20 anos depois disso, raramente
perdia uma sessão de meditação em grupo semanal.
Isso me ajudou tremendamente. A maioria das pessoas
que conheci nessas sessões foram as que ajudaram
a estabelecer o Dhamma na América do Norte e, em
particular, na Califórnia. Tem sido um modo de vida
enriquecedor devido a estas relações e por causa destas
sessões de meditação em grupo.
No meu caso, mudar para uma cidade onde

37
Manual de um meditador

conhecia poucas pessoas que não fossem meditadores


facilitou as coisas para mim. Quase todos os meus amigos
eram meditadores. Eu não era puxado em várias direções
diferentes por todos os meus conhecidos. Íamos ao
cinema juntos, praticávamos esportes juntos, comíamos
juntos e assim por diante. Isso facilitou o progresso. A
maioria das pessoas que vêm para o Dhamma terá uma
experiência diferente. Será benéfico fazer alguns amigos
que são meditadores Vipassana e que possam ser uma
referência de Dhamma. Lentamente, à medida que uma
das qualidades do Dhamma, ehi passiko (venha e veja),
se manifesta, até mesmo membros de sua família e outros
amigos podem vir para o Dhamma. Com o passar dos
anos, descobrirá que os companheiros meditadores se
tornam um imenso apoio para a sua prática.
Desenvolver amigos no Dhamma irá fortalecê-
lo no Dhamma, o que significa que você terá uma vida
mais feliz. O Buda, na realidade, considerava esta uma
das partes mais importantes da trilha do Dhamma. Isto é
o que o Buda disse a Ānanda, quando procurou o Buda
para discutir isso.
Em certa ocasião, o Buda estava vivendo entre
os Sakyas em uma cidade chamada Sakkara. Ānanda,
ao retornar de sua ronda matinal de esmolas na cidade,
procurou pelo Buda. Saudou-o e sentou-se ao lado.
Dirigiu-se ao Buda e disse que, durante sua ronda de
esmolas, esteve pensando e se deu conta da importância

38
Amigos no Dhamma

dos amigos, enquanto vivendo a vida santa. Disse:


“Bhante, metade da vida santa é ter pessoas virtuosas
como amigos, companheiros e colegas.”
O Buda respondeu: “Não diga isso Ānanda.
Não diga isso. Ter pessoas virtuosas como amigos,
companheiros e colegas é, na verdade, a totalidade da
vida santa. Quando um bhikkhu tem pessoas virtuosas
como amigos, companheiros e colegas, pode-se esperar
que seguirá o Nobre Caminho Óctuplo e que nele se
desenvolverá.”
Considero este conselho do Buda como sendo
influente na minha vida. Estes kalyāna mittā (amigos no
Dhamma) me ajudaram na trilha. Guiaram-me na trilha.
Não tentaram me desencaminhar.
Pessoas tolas derrubam mais meditadores do que
qualquer outro poder na Terra.
As palavras, “Não se relacione com tolos,” são,
provavelmente, as palavras mais importantes que o Buda
jamais dirigiu a um chefe de família que é novo na trilha
do Dhamma. Isto pode aplicar-se ao aluno não-tão-novo
também. Estas palavras são a primeira linha do Maṅgala
Sutta, um sutra em que o Iluminado explicou as mais
elevadas beatitudes de um meditador. O Buda pensou
ser tão importante que começou o sutra (discurso) com a
seguinte advertência:

39
Manual de um meditador

Asevanā ca bālānaṃ,
paṇḍitānañca sevanā;
pūjā ca pūjanīyānaṃ,
etaṃ maṅgalamuttamaṃ.
Evitar os tolos,
(cultivar) a companhia dos sábios;
(prestar) honra onde a honra é devida,
este é o bem-estar mais elevado.

40
Fazendo escolhas

D
epois de deixarmos o centro, tendo acabado de
concluir um curso de meditação, temos muitas
opções. O que eu vou fazer? Para onde vou?
Uma das escolhas que as pessoas provavelmente deixam
de considerar conscientemente é: irei frequentar os tolos?
Infelizmente, algumas das pessoas que
conhecemos se comportam de maneiras tolas, que podem
prejudicá-las e nos prejudicar também. São pessoas que
não direcionam suas vidas por meio da ação correta.
O que é ação correta? Ação correta é desenvolver suas
forças e suas virtudes, vivendo de acordo com o Nobre
Caminho Óctuplo do ensinamento do Buda e, neste caso,
estamos falando principalmente de sīla (moralidade).
É claro que não podemos parar totalmente de
nos dar com pessoas que sejam tolas ou que não tenham
bom comportamento moral. Mesmo meditadores chefes
de família, com a melhor das intenções, não são capazes
de manter sīla (moralidade) perfeita, mas há gradações
e isso é algo que você pode querer levar em conta nesta
altura.

41
Manual de um meditador

Tem sido minha experiência existirem pessoas


que têm um baixo nível de moralidade. Às vezes, não
podemos evitá-las. Será de ajuda se, pelo menos, você for
cauteloso e vigilante na companhia delas. Não podemos
abandoná-las e devemos, ainda, ter mettā por elas.
Você pode ter ouvido de alguém que a moralidade
não é importante. Havia quem tivesse opiniões
semelhantes durante a época do Buda. Ele explicou
claramente que esse tipo de pensamento era prejudicial
e que deveria ser evitado. Hoje, isso pode ser chamado
de a escola do “se o faz sentir-se bem, faça-o.” Mas esta
escola não é correta, pelo menos, não para alguém que
está pensando em trilhar um caminho muito longo de
pureza em ação.
A pessoa que diz a moralidade não ser importante
é uma pessoa tola. Está dando maus conselhos. Parece
que as pessoas que se sentem dessa forma costumam
gostar de levar os outros para o rumo que estão tomando,
mas a trilha do Dhamma diverge de qualquer caminho
como este de maneira bastante acentuada.
Quando começou seu curso, foi convidado a
tomar os cinco preceitos. Era uma das formalidades de
abertura. Agora que o curso terminou, você está livre
dessas formalidades, mas a prática de sīla, moralidade,
ainda é a base da prática. A fim de progredir na trilha,
será de grande ajuda se levar a sério esses cinco preceitos.
Não haverá ninguém lhe pedindo para fazer isso, não
haverá ninguém lhe vigiando para se certificar de que

42
Fazendo escolhas

está fazendo isso. Se quiser começar a praticar um modo


de vida de Dhamma, este é o primeiro passo. Quando
você vai fazer uma caminhada, tem de se certificar de que
está preparado. Você precisa de seus tênis de caminhada,
uma garrafa de água, talvez um pouco de protetor solar
e uma barra de cereal para o caso de ficar com fome.
Ninguém lhe diz que isso é o que precisará, é apenas
bom senso. Para caminhar nesta trilha, o que precisa é de
sīla, samādhi e paññā. Estes são os princípios para a sua
caminhada nesta nova trilha.
Considere isto: quando pensa que deveria
começar a se comportar de uma maneira apropriada, uma
maneira moral? Existe algum momento a partir do qual
você desiste de quebrar sīla e, então, de repente, você
simplesmente começa a se comportar com habilidade? A
resposta é a de que isto deve ser incutido desde o início.
Se você não começar imediatamente, durante todo esse
tempo estará gerando mais e mais saṅkhāras (reações
mentais) e mais dukkha (sofrimento). Isso não ajuda o
seu progresso.
Quebrar sīla lhe puxa para baixo. Irá preencher a
sua mente com tormento e preocupação. Serei descoberto?
O que acontecerá se as pessoas souberem desta ação que
pratiquei? A mente equilibrada que é necessária para a
meditação profunda será menos acessível a você. Isto
também prejudica outras pessoas. Se roubar, então,
alguém teve uma perda. Você teve um ganho, mas a um
preço muito alto. E assim funciona com todas as cinco

43
Manual de um meditador

sīlas. Não haverá paz de espírito para você.


Sīla perfeita só é possível para um arahant (um
ser totalmente liberto), mas para um aluno na trilha, se
estivermos tentando, fervorosamente, manter a nossa sīla
esse esforço será o suficiente. Você deve tentar manter
sua sīla e trabalhar com o esforço correto na direção
desse objetivo. Você pode escorregar de vez em quando,
mas, considere, você escorregou porque foi dominado
pelo desejo ou pela aversão e reagiu cegamente? Ou será
que escorregou porque simplesmente decidiu ceder dessa
vez? Há uma diferença. Se tiver sido dominado, você se
recuperará, mas se decidir simplesmente ceder desta vez,
perceberá que isto ocorrerá uma outra vez e mais outra.
Você será derrotado. Então, faça o melhor que puder,
este é o caminho do meio.

44
Apenas continue a conhecer Anicca

S
e alguém fosse contar o número de vezes
que Goenkaji menciona anicca (mudança,
impermanência) durante um curso, ficaria
impressionado. Ele diz isso repetidamente. Está
tentando enfatizar um ponto, martelando, mas muitos
alunos simplesmente passam por cima disso ou perdem
por completo o significado. Ele repete isso porque é
IMPORTANTE.
Uma das coisas mais importantes de se lembrar
como aluno recente, ou mesmo como um aluno que
fez dezenas de cursos, é anicca. Goenkaji observa
continuamente, “mantenha a equanimidade e continue a
conhecer anicca” ou “mantenha a equanimidade com a
apreciação de anicca.” Ele termina as instruções no início
de cada sessão de meditação com estas palavras depois
de Vipassana ser apresentada. O que quer dizer com isso?
Por que acha que continua dizendo isso repetidamente?
Continuar conhecendo anicca significa estar
consciente das sensações que você está sentindo e saber
que elas são mutáveis e impermanentes e continuar

45
Manual de um meditador

fazendo isso por tanto tempo quanto puder. Quando


você perceber que parou de observar este objeto, então,
comece novamente.
Cada momento, enquanto passa a sua atenção
através de seu corpo, seja indo parte por parte, ou
quando estiver trabalhando com o fluxo, a fim de obter
o máximo benefício de seus esforços, você tem de estar
continuamente ciente de que essas sensações estão
mudando. Não há sequer um momento em que elas não
estejam mudando. É mais provável que, até começar a
praticar Vipassana, jamais estivesse consciente disso, ou
talvez estivesse vagamente consciente intelectualmente,
mas não o estava experimentando.
Agora, você está consciente das sensações, mas
isso não é suficiente. Você também deve estar consciente
e tentar experimentar que, dentro dessa sensação, há uma
oscilação que está mudando. É anicca. Não importa se a
sensação é tão sutil que mal possa experimentar o surgir
e o desaparecer dentro da sensação que está sentindo.
Não importa se é dor grosseira ou uma área cega. Apenas
esteja consciente, quando a sua atenção chegar a este
ponto, de que está mudando.
O universo inteiro está mudando; você está
mudando. Tudo é anicca. É o conhecimento que se
deve ter, bem como dukkha (sofrimento) e anattā
(insubstancialidade), para atingir o nibbāna. O Buda
disse: “Se conhecermos anicca, então, conheceremos

46
Apenas continue a conhecer Anicca

dukkha e anattā”. A fim de fazer isso parte de você,


precisará infundir esse estado de realidade em sua mente.
Em seu livro Satipaṭṭhāna, o Venerável Anālayo
diz: “A continuidade no desenvolvimento da consciência
da impermanência é essencial, se for realmente para
afetar nossa condição mental. A contemplação sustentada
da impermanência leva a uma mudança na nossa
maneira normal de experimentar a realidade, que, até
então, tacitamente presumia a estabilidade temporal do
observador e os objetos percebidos. Uma vez que ambos
são experimentados como processos mutáveis, todas
as noções de existência estável e de substancialidade
desaparecem, assim reformulando radicalmente nosso
paradigma da experiência.”
Parte do problema é que a consciência de anicca
é difícil de implementar em sua prática. Outra parte
do problema é que não se ouve o que Goenkaji está
dizendo ou não se percebe que é importante. Os alunos
são consumidos pelo esforço de tentar sentir a sensação.
Você sentiu a sensação e também está ciente de que não
importa qual o tipo de sensação que sente. Qualquer
sensação serve. Grosseira ou sutil, não importa. Agora,
lembre-se de que essa sensação está mudando. É anicca.
Simples assim. Sentir a sensação ao mesmo tempo em
que está consciente, de maneira equânime, do seu surgir
e do seu desaparecer. É simples, mas não é fácil de fazer.
No início, você pode esquecer a toda hora que o

47
Manual de um meditador

seu objetivo não é apenas o de estar consciente (sati) das


sensações (vedanā), mas também o de permitir que uma
parte da sua mente esteja ciente de que essas sensações
estão mudando. Essa consciência escapará, mas, assim
que perceber que se e esqueceu, em seguida, comece a
conhecer anicca novamente. Claro que escapará de novo.
Isto é um treinamento. Um treinamento da mente, por
isso, quando você perceber, comece novamente a estar
consciente do fato de que a sensação que você está
sentindo é impermanente.
Apenas pense sobre isso: quando o seu professor
mencionava a mesma coisa repetidas vezes em sala
de aula, você não entendia que isso iria cair na prova?
Quando seu professor na faculdade dizia: “Você poderá
ver isso de novo.” Isso não era um sinal de que cairia na
prova? Bem, a prova que você está fazendo se chama
Vida e a resposta ao teste de Vipassana é “Apenas
continue conhecendo anicca.” Se souber esta resposta,
não será reprovado na prova. Não só isso, mas sua vida
será bem-sucedida.
Dentro das sensações existe esse surgir e
desaparecer. Pode estar acontecendo lentamente.
Surgindo...desaparecendo. Ou pode estar acontecendo
muito, muito rapidamente. Apenas observe isso. Esteja
ciente disso. Não importa se é quente ou fria, coceira
ou dolorosa, vibrante ou maçante. Apenas esteja ciente
daquele surgir e desaparecer, anicca. Esse deve ser o
seu objetivo. Isso é tudo o que você tem a fazer; sentir a

48
Apenas continue a conhecer Anicca

sensação e conhecer sua natureza impermanente. Senti-la


continuamente, sem interrupção. Se tiver dúvidas sobre
este ou outros aspectos da sua prática, entre em contato
com o centro de Vipassana onde você fez o seu curso
mais recente e solicite que um professor entre em contato
com você. Você pode encontrar informações de contato
dos centros de Vipassana em www.dhamma.org.
Lentamente, isso vai se tornar parte de sua prática.
O primeiro passo é tentar. Você não terá de se preocupar
porque o cântico de Goenkaji estará constantemente
relembrando:
Aniccā vata saṅkhārā…
Impermanentes, realmente, são as coisas compostas…

49
Bingo Bango Bhaṅga

U
ma das maiores armadilhas em que os alunos
caem é o desejo pelas sensações sutis. A
mente naturalmente tende a desejar sensações
agradáveis e ter aversão às sensações desagradáveis. Este
é o seu condicionamento. Esta é a causa de sofrimento.
O treinamento é para sair do sofrimento. Logo após o
início de Vipassana, Goenkaji começa a dizer para os
alunos observar as coisas como elas são. Ele diz que
independentemente de qual seja a sensação que surgir,
você deve apenas observá-la. Em vez disso, muitos
alunos querem algo que não têm e começam a desejar.
No nono dia do curso de dez dias, ele discute
bhaṅga pela primeira vez. Bhaṅga é quando seu corpo
se abre e toda a massa é preenchida por sensações muito
sutis. Para que isso aconteça, você não tem de fazer nada,
isso simplesmente acontece. A palavra soa tão atraente
que, às vezes, cria confusão na mente dos alunos.
Ela simplesmente vibra com o som de algo especial.
Pensamos: “Oh, isso deve ser importante, devo conseguir
isso. É isso que eu quero.”

50
Bingo Bango Bhaṅga

Ah, isso é o que quer. Não se trata do que é, mas


o que você quer. Isso se torna um problema para você,
porque, como sabemos, assim que começa a desejar, você
está correndo na direção oposta do Dhamma.
É melhor entender o que é bhaṅga. É um fenômeno
natural que pode ocorrer na meditação. Quase todas as
sensações que se manifestam em seu corpo, enquanto está
meditando, são apenas os condicionamentos passados de
sua mente expressos em seu corpo. Outras causas podem
ser o alimento que come, a atmosfera em torno de si,
ou seus pensamentos presentes. Você não tem nenhum
controle sobre tais sensações porque não pode produzi-
las. Você na realidade as gerou no passado e agora, porque
sua mente está calma e não-reativa, estão aparecendo na
superfície e, às vezes, no interior do corpo. É a natureza
se revelando.
Quando começamos Vipassana, muitas vezes
sentimos sensações grosseiras, solidificadas. À medida
que as horas e os dias passam, à medida que alcançamos
maiores profundidades de consciência, percebemos
sensações mais sutis aparecer em diferentes áreas do
corpo. Pode ser que existam sensações sutis em toda a
superfície do corpo. Quando isso acontece, chamamos
isso fluxo livre e você pode facilmente passar a sua
atenção em um movimento de varredura ao longo da
superfície do corpo. Quando essas sensações penetram
todo o corpo, dentro e fora, e não existem bloqueios,
isto é bhaṅga. Os bloqueios são áreas cegas, em branco,

51
Manual de um meditador

embaçadas, nubladas ou densas.


As sensações associadas à bhaṅga são muito
agradáveis. Devido a isso, muitos alunos pensam que
este é o objetivo da meditação. No entanto, este não é
o caso. As sensações estão mudando constantemente.
Em um momento, pode haver dor, no seguinte, pode
haver calor ou frio, etc, e no seguinte, pode haver
uma sensação agradável. O problema surge quando o
aluno gosta daquela sensação agradável, mas, como as
sensações anteriores, esta também muda, anicca, anicca.
No entanto, você quer essa sensação. Então, o jogo de
sensações começa. É um jogo que não pode ser vencido.
Às vezes, os anos passam e os alunos continuam
a jogar o jogo da sensação. Eles enganam a si mesmos
e enganam o professor. Pensam que estão progredindo
na trilha, mas estão empacados. Possivelmente, não
acreditam no que o professor está dizendo ou acham
que todo mundo tem sensação sutil e eles são os únicos
que não têm. Ou ficam obcecados, pensando que este
é o objetivo que estão buscando. Curso após curso,
perseguem as sensações sutis. Você deve ter em mente
que este não é o objetivo para o qual está trabalhando.
Quando tiver alcançado o objetivo, não haverá sensações.
Imagine que está viajando em um trem e uma
bela paisagem aparece fora da janela. Quando o trem
se move você pensa “eu devo manter essa vista ao
alcance da visão” e começa a correr pelo trem. Depois de

52
Bingo Bango Bhaṅga

atropelar as mulheres e as crianças e tropeçar em malas,


nos condutores e em todo o tipo de coisas, chegará na
parte de trás do trem e, ainda assim, aquela paisagem
desaparecerá. Se visse alguém fazendo isso, pensaria que
era louco. No entanto, muitas pessoas fazem exatamente
a mesma coisa tentando reter alguma sensação.
Você não tem qualquer controle sobre quando
bhaṅga virá ou irá. É o mesmo com todas as sensações.
Você não exerce qualquer controle sobre elas. Elas surgem
por causa dos tipos de saṅkhāras que se manifestam
no corpo ou por causa dos pensamentos presentes ou
devido à atmosfera ou à comida que ingerimos. Como
meditador, você tem apenas um trabalho, que é o de
assistir as sensações à medida que surgem e continuar
conhecendo anicca. Tomando o exemplo do trem, seria
como se estivesse olhando pela janela, observando a
paisagem passar.
Você não gostará nem desgostará do que vê,
apenas observará. Quando fizer isso, todos os benefícios
que derivam dessa meditação virão para você. Se optar
pela direção oposta, estará apenas desperdiçando seu
tempo e criando mais sofrimento para si mesmo.
Tendo em vista que não pode mudar as sensações,
quanto mais cedo decidir aceitá-las, mais cedo começará
a fazer progresso na trilha. Ao decidir pelo contrário,
estará escolhendo automaticamente dukkha (sofrimento).

53
O paradoxo das Pāramīs

U
ma situação incomum deve ser superada, a
fim de progredirmos na trilha do Dhamma.
Para alcançar a iluminação plena, existem dez
qualidades mentais que devem ser desenvolvidas. Elas
são conhecidas como pāramītas ou pāramīs, o que
significa perfeições que devem ser realizadas
Estas pāramīs, quando desenvolvidas, nos dão a
força para progredir no caminho da sabedoria. Quando
as pāramīs são fracas, a nossa prática será igualmente
fraca. Ter uma prática forte facilita desenvolver essas
pāramīs, mas, se não as tiver, você terá problemas para
progredir na trilha. Então, como obter pāramīs fortes?
Este é o paradoxo.
Estas dez pāramīs são:

Generosidade (Dāna)
Moralidade (Sīla)
Renúncia (Nekkhamma)
Sabedoria (Paññā)
Esforço (Viriya)

54
O paradoxo das Pāramīs

Tolerância (Khanti)
Verdade (Sacca)
Forte Determinação (Adhiṭṭhāna)
Amor Compassivo (Mettā)
Equanimidade (Upekkhā)
Se repassar esta lista, verá que alguém com
estas qualidades tem boa moral, uma mente equilibrada
e a capacidade de trabalhar, apesar das dificuldades que
devem ser superadas, quando meditamos no dia a dia.
São as perfeições que um ser totalmente liberto (arahant)
atinge para alcançar o objetivo final. Você também deve,
eventualmente, possuir todas essas pāramīs, e, em
quantidades suficientes também, antes de poder se tornar
totalmente liberto.
Na verdade, você já possui pāramīs muito
abundantes. Se não as tivesse, você não teria tido a
curiosidade de dar sequer um passo na trilha. Quando
ouviu as palavras “Vipassana”, “Goenka”, “insight”,
você não teria tido o menor interesse ou inclinação para
prosseguir. Você não iria querer saber mais. Reflita sobre
as pāramīs e encontrará a direção necessária para seguir
em frente.
Você precisa estar ciente do paradoxo das
pāramīs, de modo a poder tomar a iniciativa, quando
surgir uma oportunidade para desenvolver uma dessas
pāramīs. Isso precisa ser feito tanto na vida cotidiana,
quanto nos cursos. Estando consciente, você fortalecerá

55
Manual de um meditador

a sua prática e se tornará uma pessoa mais feliz e um


melhor meditador.
Recentemente, ouvi a história de um aluno que,
ao concluir seu primeiro curso, começou a aparecer entre
os cursos para ajudar a limpar o centro após o curso
que acabava de ser concluído e, em seguida, ajudava
no preparo para o próximo curso. Ele vinha a cada
intervalo. Trabalhava desde o início da manhã até tarde
da noite. Tinha quase setenta anos e havia se aposentado
recentemente de um emprego corporativo. Algumas
pessoas ficaram preocupadas com a possibilidade de se
esgotar trabalhando tão duro.
Quando um professor assistente falou com ele
para ver como estava, ele disse: “Vocês todos começaram
quando eram jovens e tiveram muitos anos acumulando
suas pāramīs. Eu acabei de começar e tenho muito o que
compensar. É por isso que eu tento servir tanto quanto
possível.” Agora, esta é uma pessoa que tem uma boa
compreensão do paradoxo das pāramīs e não vai permitir
que qualquer obstáculo em seu caminho o impeça de
alcançar o objetivo final.
Uma oportunidade para desenvolver a perfeição
de dāna (generosidade) é no dia dez de um curso.
Quando a folha de inscrição circula com as tarefas
que são necessárias para limpar o centro, esta é a sua
oportunidade de ajudar os outros.
Algumas vezes por ano, um aviso é enviado

56
O paradoxo das Pāramīs

sobre um fim de semana de serviço, período de serviço


ou, possivelmente, uma escassez de servidores para
o próximo curso. Agora, com esta compreensão do
paradoxo das pāramīs, seria útil pensar, “Ah, esta é uma
oportunidade para eu desenvolver minha dāna pāramī.”
Você pode ter um emprego muito exigente ou
um monte de compromissos familiares que possam
impedi-lo de servir. Em momentos como estes na vida
pode ser mais fácil para você doar dinheiro em vez de
serviço. Isso ajuda a dissolver o seu ego. Desta forma,
você compartilha os benefícios que recebeu para ajudar
os outros. Muitas pessoas doaram tudo o que você vê em
um centro. Do terreno até as lâmpadas, algum aluno doou
para aquilo. Devido à política de centros nesta tradição
de apenas receber doações voluntárias daqueles que
concluíram um curso de dez dias, o desenvolvimento de
um centro é um processo lento.
Um bom exemplo é o centro em Massachusetts,
o primeiro centro a surgir na América do Norte. Uma
casa com alguns acres foi comprada por um punhado de
alunos, em 1982. No início, todos ficavam amontoados
na casa para os cursos e a sala de meditação era tão
pequena que as pessoas se sentavam com seus joelhos
quase encostados uns nos outros, porém, felizes por
obter um assento. Cada canto e recanto era usado para
alguma coisa, até mesmo o porão, que era um refeitório
improvisado. Durante o verão, barracas permitiam que
alunos adicionais se juntassem aos cursos e, no começo,

57
Manual de um meditador

uma grande barraca era usada para uma sala de meditação


maior. E agora, em 2015, há um grande complexo de
edifícios, servindo a muitos alunos a cada ano. A maioria
dos quartos conta com banheiros privativos e há um
pagode com celas individuais para meditação. Desta
forma, lentamente, todos os centros têm surgido. Os
centros foram construídos um passo de cada vez de uma
forma prática e financeiramente conservadora. Agora,
existem quinze centros na América do Norte (que inclui
o México, os EUA e o Canadá) com mais dois onde o
terreno foi comprado, mas os prédios têm ainda de ser
construídos.
Considere os outros benefícios que irão entrar
em jogo se você for ao centro para um fim de semana
de serviço de Dhamma. Você vai sentar três vezes por
dia. Você estará fazendo do centro um lugar mais forte
e melhor para os outros virem. É uma oportunidade
para desenvolver a sua prática. Esta é uma excelente
oportunidade, se quiser superar este paradoxo das
pāramīs. Você somente o superará com o seu esforço
(viriya), que é outra pāramī em si.
Se decidir participar de um fim de semana de
trabalho, você terá a oportunidade de praticar a pāramī
nekkhamma. Você também renunciará ao mundo
(nekkhamma) durante dois dias, assim como faz quando
frequenta um curso. Você viverá das doações de outros.
Você praticará o caminho do meio, sem extremos, um
estilo de vida muito saudável. Nos países budistas

58
O paradoxo das Pāramīs

tradicionais, por 2.500 anos, as pessoas leigas têm


reservado certos dias de cada mês chamados dias de
uposatha, quando praticam as pāramīs com esforço mais
extenuante. Observam oito ou até dez preceitos durante
aqueles dias. Alguns deles praticam meditação também.
Tolerância (khanti) é uma qualidade que, quando
encontrada nos outros, é muito apreciada. Estas são
pessoas que não criticam, condenam ou reclamam. As
pessoas tolerantes são geralmente queridas pelos outros
e de fácil convívio.
Um curso de meditação oferece muitas
oportunidades para praticar a tolerância. O meditador
vizinho é quieto ou barulhento? Ele se movimenta
muito? Talvez respirem ofegantemente. Talvez tenha
faltado algum ingrediente na comida ou tenha sido
acidentalmente queimada naquela manhã pela equipe
de voluntários. Se a sua reação a estas situações for de
aceitação e de não-julgamento, estará aumentando a sua
pāramī de tolerância.
Todos os dias, deparamo-nos com oportunidades
para fortalecer esta qualidade em nós mesmos ao longo
da nossa vida. Especialmente no mundo de hoje, onde as
pessoas são encorajadas a ser assertivas. Assertividade
e intolerância podem facilmente se misturar. Se tiver de
esperar na fila, passe o tempo sentindo a natureza mutável
das sensações dentro de si mesmo, em vez de se preocupar
ou ficar agitado. Os engarrafamentos são um excelente

59
Manual de um meditador

lugar para praticar a consciência da mudança e para ser


tolerante. Intolerância surge, principalmente, quando
sentimos que alguém está nos afrontando pessoalmente.
O mais provável é que não estejam conscientes desta
afronta. Raiva e ódio costumam ser o resultado. Esses
sentimentos contrariam os nossos esforços para caminhar
na trilha e simplesmente acumulamos cada vez mais
saṅkhāras (reações mentais).
Forte determinação (adhiṭṭhāna). Você leva isso
a sério durante um curso? É importante porque, conforme
a sua prática avança, haverá desafios que exigirão que
esta pāramī seja desenvolvida a um alto grau, ou, então,
você será facilmente derrotado. Você deve ser capaz de
levar a cabo qualquer intenção que tiver. Em um curso,
você é instruído a observar e não reagir. Durante uma
hora, este é o seu objetivo. A razão disso é que estamos
constantemente reagindo a cada situação na vida. Se
você conseguir alterar esse padrão de hábito, verá que,
em breve, irá parar de reagir cegamente ao longo da
vida cotidiana. Em um curso, durante os votos de uma
hora (adhiṭṭhāna), começamos a praticar isso três vezes
por dia. A trilha do Dhamma é uma trilha que exige
determinação. Se a desenvolver a cada passo do caminho,
você a encontrará lá quando dela precisar.
Você completa todas as tarefas que começa
a fazer ou começa as coisas e nunca as termina? Fora
do curso, você também pode desenvolver a pāramī
terminando as coisas que começar. Isto irá fortalecer a

60
O paradoxo das Pāramīs

sua pāramī de adhiṭṭhāna.


Equanimidade (upekkhā). Algumas pessoas têm
dificuldade para entender esta palavra. “Equanimidade”
ou “equânime” significa ser equilibrado e não reagir.
Precisamos de uma mente equilibrada para progredir
na trilha. Se ficarmos abalados pelo menor obstáculo ou
agitados facilmente, teremos de encontrar uma maneira
de trazer nossas mentes de volta a um estado em que
possamos observar com equanimidade. Alguns alunos
verificam que o seu problema é que são desviados do
propósito porque se esforçam em excesso. Cerram os
dentes, pensando “eu tenho de conseguir” e pensam
que se esforçar cada vez mais ajudará. Não é verdade. É
preciso equilíbrio, não força. Diversos alunos em cursos
têm obtido muito benefício ao caminharem durante cinco
minutos, em vez de tentar atravessar a sua dor ou a sua
agitação. As histórias de monges que quebram os ossos
do joelho e não se movem até se tornarem totalmente
libertos se referem a pessoas cujas pāramīs estão
realizadas e não àquelas que estão apenas começando na
trilha.
Na Birmânia, em Kyaiktiyo, a Pedra Dourada,
há um enorme rochedo equilibrado em apenas um ponto
muito pequeno. Todo o peso desse rochedo, bem como o
pagode que foi construído em cima dele, é equilibrado em
apenas uma área muito pequena. O rochedo é inabalável.
Se sua equanimidade fosse concentrada tal qual o peso

61
Manual de um meditador

dessa rocha, você seria igualmente inabalável.


Moralidade (sīla). Há menos chance de você
quebrar sua sīla, enquanto permanecer em um centro.
Claro, sīla é algo que pode trabalhar tanto em um centro
ou fora dele. Lembre-se daquelas cinco sīlas e aplique-
as o tempo todo. As verdadeiramente grosseiras, como
matar e roubar, requerem uma quantidade razoável de
esforço para implementar. Para alguém que sentou um
curso ou alguns cursos, você teria de fazer algum esforço
para ter problemas com estas.
Espera-se que você tenha usado a sua consciência
aumentada e sua compreensão dos ensinamentos do Buda
para superá-las. Mas, há uma em que terá de realmente
estar atento, que é a fala correta. Oh, esta é uma armadilha
e tanto. Tão facilmente, tão rapidamente, a nossa boca se
abre e quebramos essa sīla. Acontece todos os dias e tão
rapidamente. As palavras saem e, pronto, fizemos isso
novamente. O Buda considerava mentir particularmente
desprezível. Isto é o que ele tinha a dizer.

As Consequências da fala incorreta


Isto foi dito pelo Bhagavā [o Buda], isso foi dito
pelo Arahat e ouvido por mim. “Essa pessoa, ó Bhikkhus,
que transgride esta única coisa, não existe, ouso dizer
qualquer ação maligna que deixaria de realizar. O que é essa
única coisa? Isso, ó Bhikkhus, é mentir conscientemente.”
—Musāvādasuttaṃ de Saṃyutta Nikāya, Mahavagga,
por Klaus Nothnagel

62
O paradoxo das Pāramīs

Não se deixe cair nesta armadilha ou qualquer


uma das outras formas de fala incorreta, tais como
calúnia, falar mal dos outros pelas costas, fofocas,
palavras ásperas ou jogar um contra o outro.
Esforço (viriya) deve ser feito para manter
aquelas boas qualidades que já tem e tentar aumentar tais
qualidades. Tente eliminar as más qualidades que tem e
faça de tudo para evitar adicionar mais alguma. Esta é a
essência de viriya.
Além disso, há um certo nível de diligência
necessária para empreender esta longa jornada rumo
ao objetivo final. Há o esforço para começar, o esforço
para continuar, o esforço empregado de momento a
momento para não retroceder. No momento em que o
esforço for deixado de lado, a mente começará a vagar
ou você adormecerá. Muito esforço, por outro lado é
um outro problema, porque, então, você experimentará
tensão. O esforço é um ato de equilíbrio. Digamos que
tenha capturado uma borboleta. Se segurasse a borboleta
com muita força, iria esmagá-la, se não a segurasse com
esforço suficiente, voaria para longe. No meio está o
equilíbrio.
Sayagyi U Ba Khin é citado como tendo dito
que devemos ser tão suaves quanto uma flor e tão duros
quanto uma pedra. Esforço (viriya) é uma pāramī muito
importante.
Você está envolvido em um treinamento. Está

63
Manual de um meditador

treinando para ser uma pessoa melhor e, eventualmente,


um arahant. É um treinamento longo, muito longo, mas
você já começou, portanto, tudo o que tem a fazer é
trabalhar para melhorar seu desempenho na tarefa que
tem em mãos.

64
Mettā e você

C
omo pode uma coisa que você não vê, mas
apenas sente, ajudá-lo e beneficiar todos os seres?
O poder de mettā só será do seu conhecimento
quando você o usar e experimentá-lo.
Todos os dias, no final de suas sessões de
meditação, é aconselhável praticar mettā por alguns
minutos. Isto significa encher as sensações corporais que
está sentindo com pensamentos de amor compassivo para
com todos os seres, também para com os seres que lhe são
próximos e queridos. Pode ser o seu companheiro, seus
filhos, seus amigos ou outros membros da família. Eles
são um bom ponto de partida, porque você já tem bons
sentimentos em relação a eles. Às vezes, na agitação do
dia, esquecemos a nossa consciência e podemos dizer ou
fazer algo que poderia perturbar os nossos entes queridos
ou nossos conhecidos. Pode ser que esta situação tenha
acontecido no passado distante ou hoje mesmo, mas
praticar mettā com essas pessoas em mente pode produzir
resultados surpreendentes.

65
Manual de um meditador

Eu já vi isso em minha própria vida e na vida


dos meus amigos. Vi onde as relações atribuladas entre
maridos e mulheres foram curadas ou onde as relações
com outros membros da família, que eram distantes ou
inexistentes, logo se restauraram novamente. Não há
como subestimar este poder de mettā.
Além disso, não é apenas para uso no âmbito de
sua própria família, mas também com colegas de trabalho
e aqueles de fora. A Sra. Jocelyn King, uma das alunas
de Sayagyi U Ba Khin, conta a história da situação de
Sayagyi U Ba Khin: “Sayagyi tinha sido convidado para
se tornar membro de um determinado comitê do governo.
Os outros membros lhe eram muito hostis, quando se
juntou ao grupo. Com o tempo, reverteu completamente
esta situação”. Quando a Sra. King lhe perguntou como
fez isso, ele disse: “com mettā”.
Neste mundo, com todas as suas forças negativas,
alguém que tenha mettā dentro de si torna-se uma força
para o bem, e aqueles ao seu redor saberão disso. Goenkaji
jamais teria sido capaz de realizar o tremendo trabalho
que fez, de espalhar Dhamma ao redor do mundo em tão
pouco tempo, não fossem as fortes vibrações de mettā
que o rodeavam o tempo todo. Onde há luz, a escuridão
não pode entrar.
Uma vez, em São Francisco, estávamos para
ter uma reunião com o conselho diretor da Califórnia
do Norte e com Goenkaji. A reunião seria realizada em
um quarto de hotel que tinha sido usado anteriormente

66
Mettā e você

pela tripulação de uma companhia aérea em uma escala.


O ambiente parecia pesado e não-dhâmmico. O quarto
de Goenkaji no mesmo hotel, por outro lado, parecia
maravilhoso. Sugerimos que talvez a reunião devesse ser
realizada lá. O secretário de Goenkaji, Yadav, disse: “Não
se preocupe, vai ficar tudo bem.” Enquanto subíamos de
elevador até o andar onde a reunião seria realizada, todo
o elevador fervilhava com as vibrações de mettā. Quando
entramos no quarto, o quarto inteiro fervilhava com as
vibrações de mettā. Mettā fez tudo.
Por favor, não compartilhe mettā apenas com
aqueles que você conhece. Há tantos seres em todos os
lugares que estão sofrendo. Faz parte de ter nascido.
Quando praticar mettā, não se esqueça de compartilhar
com todos os seres, quer os veja, quer não e quer os
conheça, quer não. As forças do bem no mundo só podem
crescer se mais pessoas praticarem mettā.
O cântico que Goenkaji entoa todas as manhãs
enche o centro com vibrações de mettā. Ao longo dos
anos, elas se acumulam cada vez mais. Quando as pessoas
entram em um centro dizem que aqui é tão tranquilo. Sim,
é verdade, é tranquilo. É a mettā que estão sentindo.
Você pode ter notado os animais selvagens no
centro onde fez o seu curso. No centro de Massachusetts,
há muitos coelhos. Não há praticamente nenhum animal
tão arisco quanto um coelho, mas estes coelhos vivem na
atmosfera de Dhamma e de mettā. Se estiver caminhando

67
Manual de um meditador

nas trilhas e passar por eles, eles apenas se sentam lá,


comendo sua grama como se você não existisse. Na
Austrália, ocorre o mesmo com os cangurus, que são
geralmente animais muito selvagens e ariscos. Mesmo
os filhotes mal olham para você, enquanto passa por eles.
Isso mostra o resultado de pessoas praticando mettā e não
prejudicando outros seres.
Ao praticar meditação regularmente em sua casa,
o cômodo que você usa para as sessões também se tornará
um lugar onde as pessoas vêm e dizem: “Oh, é tão calmo
aqui.” Eles gostarão dali e sequer saberão o motivo.

68
O que podemos aprender nos livros

H
á muitos livros interessantes escritos sobre os
ensinamentos do Buda. A quantidade é vasta.
Alguns deles são bons e outros são ruins,
como a maioria das coisas. Pariyatti (www.pariyatti.
org) foi iniciada por um meditador e tem um grande
estoque de livros relacionados a esta tradição. Também
são os distribuidores norte-americanos para a Buddhist
Publication Society (BPS), do Sri Lanka, a Pali Text
Society (PTS) da Inglaterra, e estocam muitos livros do
Vipassana Research Institute (VRI) da Índia.
Tenho obtido muito prazer de livros sobre
o Dhamma e isso me ajudou a entender alguns dos
conceitos discutidos nas palestras. Durante um bom
número de anos, lia todas as noites antes de dormir.
Definir um horário regular daquela maneira ajudou muito
a desenvolver um programa de leitura em uma vida
atarefada. Eu incluí uma lista de leitura no Apêndice II.
Pariyatti (estudar o Dhamma nos livros) pode
ser uma grande fonte de inspiração para os meditadores.

69
Manual de um meditador

As Palavras do Dhamma são doces e podem nos dar


grande inspiração para trabalhar mais profundamente
em nossa prática. Ler sobre os tempos de Buda e seus
ensinamentos pode nos dar um empurrão na direção
certa, mas escolha um momento que não se destine à sua
prática de meditação para fazer isso.
Os sutras (discursos) são maravilhosos. O páli
tem um som adorável e é usado em muitas das palestras
de Goenkaji, por isso, é importante aprender pelo menos
os termos básicos que você escuta repetidamente, mas,
quando se deparar com um momento problemático em
sua prática, não tente substituir a prática real por leitura e
por estudo. Um momento problemático pode ser quando
não consegue se sentar por uma hora porque pensa ser
difícil ou pensa sempre haver algo mais importante a
fazer. Talvez comece a encontrar desculpas para não se
sentar. É uma ladeira escorregadia, se parar de praticar
e começar a estudar. Você acabará não fazendo a coisa
mais importante que já aprendeu.
Mantenha essas duas coisas separadas. Uma delas
é suta-mayā paññā (algo que ouviu) e a outra é bhāvanā-
mayā paññā (o que experimentou). Este é um caminho
de experiência. Podemos ler e estudar por éons e nunca
nos mover, nem mesmo uma polegada, no caminho do
Dhamma. Webu Sayadaw, que deu a Sayagyi U Ba Khin
e a todos aqueles que o conheceram, tremenda inspiração,
foi considerado por muitos como arahant. Percebeu
muito cedo em sua vida monástica, que, a fim de alcançar

70
O que podemos aprender nos livros

a meta final, deveria deixar o mosteiro de ensino, onde só


ensinavam a recitar os sutras, e ir para a floresta praticar
Vipassana. Deu-se conta de que estudar os textos não iria
ajudá-lo a alcançar a libertação completa. Seu objetivo
era a libertação completa, não compreensão intelectual.
Sua decisão se mostrou correta para ele e assim será para
você também. Webu Sayadaw deu-se conta de que o
mero estudo livresco era um beco sem saída para alguém
com as pāramīs para ser um meditator; e você também
deve se dar conta disso.

71
Resumindo

C
omo um chefe de escoteiros que orienta seus
escoteiros a terem sucesso ao utilizar as técnicas
do Manual do Escoteiro, espero que um pouco
disso o ajude a se tornar melhor em desatar os nós do
ódio, da cobiça e do delírio que compõem grande parte
do nosso ser. É pela prática constante e correta que este
sucesso virá. Não pode ser assimilado por estar perto de
uma pessoa que tenha atingido os níveis mais elevados de
desenvolvimento. Não pode ser alcançado ao ler livros,
ouvindo discursos ou cânticos. Não pode ser transmitido
de pai para filho. O sucesso só pode acontecer pela
prática. O resultado será proporcional à quantidade de
esforço equilibrado despendido.
O Manual do Escoteiro realmente ajuda jovens
escoteiros a se divertirem imensamente quando estão
na natureza. Aprendem a fazer as coisas corretamente e
facilmente, de modo a não se machucar ou se prejudicar.
Espero que este manual torne a sua vida tranquila e

72
Resumindo

repleta de alegria. Quando começar a ver as coisas como


realmente são, não se deixará abater pelo negativo, e se
tornará mais vivaz e mais leve. É exatamente disso que
se trata, não é verdade? Quando a escuridão se vai, resta
apenas a luz.
Se não tiver o seu objetivo diante de si, pode
desperdiçar toda a sua vida. Se estiver ligeiramente
deslocado, continuará errando o alvo. Você pode trabalhar
realmente duro, mas não produzirá qualquer benefício se
continuar errando o alvo.
O objetivo de sīla (moralidade), samādhi
(concentração) e paññā (sabedoria) é a libertação.
Se não se estiverem apoiando mutuamente, você não
estará trabalhando da maneira que o Buda nos ensinou a
trabalhar. Cada uma apoia a outra. Cada uma está ligada
de uma forma perfeita que ajuda a outra. Você estará
trabalhando da maneira correta em direção a uma vida
mais feliz, quando estiver mirando o objetivo correto.
Vamos rever algumas das coisas que foram
mencionadas para que se mantenha concentrado no
objetivo. Sessões diárias de meditação e ações morais
devem ser a base do seu esforço. Sem elas, cessará de
fazer esforço muito rapidamente, porque você não verá
os benefícios se acumularem na vida.
Mantenha-se forte e siga estes dois elementos
mais básicos da trilha.
Lembre-se de evitar as pessoas que podem puxá-

73
Manual de um meditador

lo para baixo. Elas não são divertidas. Em vez disso,


tente desenvolver amigos que sejam meditadores e que
respeitem os outros e que vivam uma vida limpa. Como
disse o Buda, os amigos são o caminho inteiro. Ajudarão
a levantá-lo e você fará o mesmo por eles.
Um motor de combustão interna deve ter
combustível, ar, compressão e uma faísca para detonar
a combustão, que faz o motor girar e produzir energia.
Todos devem estar presentes nas quantidades corretas
e se combinar na hora certa. Quando você pratica
adequadamente, todos os elementos se combinarão nas
quantidades corretas e você produzirá energia e seguirá
adiante na trilha. Seus dias e sua vida serão preenchidos
com alegria.
Quando fui à Birmânia pela primeira vez e
conheci alguns dos alunos de Sayagyi U Ba Khin, dei-me
conta de uma coisa: essas pessoas eram normais. Eram
normais de uma boa maneira, de uma maneira saudável
e harmoniosa. Não havia arestas e o humor e os sorrisos
eram uma parte normal de suas vidas. Não conheci
ninguém que tivesse um melhor senso de humor do que
Goenkaji. Ele era tão rápido com um gracejo. Muitos dos
meus amigos no Dhamma são do mesmo jeito.
A maravilha desta técnica é que os benefícios se
manifestam aqui e agora. Não há necessidade de esperar
por alguma vida após a morte para obter os resultados
de seus esforços. Cada passo do caminho o traz mais

74
Resumindo

perto do objetivo e você pode senti-lo à medida que se


manifesta em sua vida.
Você cumpriu a parte mais difícil que é encontrar
a trilha e dar o primeiro passo. Agora, só precisa se
aplicar. Há tanto apoio disponível para você. Que você
cresça no Dhamma, que brilhe no Dhamma, e que possa
ser verdadeiramente feliz.

75
Apêndice I - Desenvolvendo uma área de
meditação em casa
Para obter o maior benefício de suas sessões diárias
de meditação, é melhor se tiver um lugar para meditar
que não seja usado para qualquer outra coisa. Deve
ser tal que não esteja transitando por lá o tempo todo
ou o perturbando frequentemente. Gostaria de dar-lhe
exemplos do que outras pessoas têm feito em suas casas
para criar uma área de meditação separada.
Uma das coisas mais fáceis de se fazer é comprar
um biombo, como os que se vendem em algumas lojas de
móveis. Coloque-o no canto de uma sala ou no fundo da
sala. Isto proporciona um espaço especial que só usará
para a meditação.
Um amigo em Seattle tinha uma sala de estar
muito grande e construiu uma partição de tela de papel
(tela de shoji), que tomou uma extremidade da sala.
Tinha até uma porta. Parecia bem japonês e quatro ou
cinco pessoas podiam lá se sentar confortavelmente.
Um casal que conheço de San Diego tinha
escritórios adjacentes em dois quartos separados em
sua casa. Mandaram construir uma porta entre os dois
quartos, que deixavam aberta e cada um se sentava de um
lado de sua pequena sala de meditação instantânea.
Um amigo na Inglaterra pôs a sala de meditação
em seu sótão inacabado. Não havia uma escada

76
Apêndice I - Desenvolvendo uma área de meditação em casa

levando ao sótão, então, escalava a coluna da escada e


alcançava o sótão através do alçapão. Uma vez lá em
cima, cuidadosamente, passava por cima das vigas até
alcançar o canto que havia construído para si mesmo.
Tinha assentado algumas placas de madeira compensada,
revestidas com carpete, e tinha um lugar agradável, onde
quatro pessoas poderiam se sentar. Apenas recomendável
para os fortes e ágeis.
Outro amigo instalou uma escada suspensa
dando acesso a uma pequena área não utilizada no sótão.
Fez o acabamento do espaço com parede de gesso e
com carpete. Ele e sua esposa simplesmente baixavam
a escada e subiam quando queriam se sentar. Eu, na
verdade, já presenciei este cenário algumas vezes.
Eu tinha uma varanda fechada nos fundos, que
usávamos como nossa sala de meditação. No começo, era
apenas demarcada com uma cortina. Depois de alguns
anos, reformei totalmente com parede de gesso, carpete
novo, um vitral e uma porta de antiquário. Ela, agora,
oferece um espaço muito acolhedor.
Minha vizinha pegou uma pequena porção de
sua garagem e construiu uma sala de meditação. Ocupa
quase a metade do espaço na metade da garagem. Agora,
ela só tem espaço para um carro, mas, a outra metade,
agora, conta com uma agradável sala de meditação.
Inúmeras pessoas construíram salas de meditação
ao ar livre. Um amigo que mora perto de um aeroporto

77
Manual de um meditador

construiu paredes duplas espessas e instalou persianas


grossas sobre as janelas. Um jato poderia decolar do
outro lado da estrada e você não o escutaria nesta
sala. Normalmente, estes tipos de sala de meditação
estão localizados perto da casa, de modo a não haver
necessidade de fazer longa caminhada quando chove ou
faz frio. Esta é a maneira mais cara, mas você consegue
o que quer quando tiver terminado.
Galpões ao ar livre também podem ser
convertidos em salas de meditação. Já vi algumas lindas
reformas feitas desse modo. Normalmente, isso é feito
em ambientes rurais onde há vários galpões.
Quando você está construindo uma casa nova,
este é, geralmente, o melhor momento para construir
uma agradável sala de meditação em casa. Espaços em
sótãos ou em áreas que, de outra maneira, seriam difíceis
de transformar em uma sala de bom tamanho, funcionam
muito bem quando estiver montando um novo lar.
Como pode ver, um espaço de meditação
pode variar bastante. Pode ser pequeno, como usar
simplesmente um canto de um aposento com uma
almofada, ou maior e mais elaborado, até uma construção
específica, onde você pode se sentar para meditar. O
objetivo é o de ter uma área que seja usada apenas para
meditação e que esteja em algum lugar em sua casa.

78
Apêndice II - Livros de Dhamma
recomendados

Livros sobre Vipassana


A Arte de Viver, por Bill Hart
Sayagyi U Ba Khin Journal (VRI)
The Clock of Vipassana has Struck, Sayagyi U Ba Khin
Resumo das palestras do curso de 10 dias de
Vipassana, S.N. Goenka
Para o benefício de muitos, S.N. Goenka (VRI).
Fundamentos do Buda-Dhamma na prática da
meditação, Sayagyi U Ba Khin
Karma and Chaos, by Paul Fleischman

Livros básicos sobre Dhamma


O que o Buda ensinou, Walpola Rahula
Dhammapada, Daw Mya Tin
The Buddha’s Ancient Path, Piyadassi Thera
In the Buddha’s Word, An Anthology, Bhikkhu Bodhi

Livros sobre Dhamma para inspiração


Going Forth, Sumana Samanera (A BPS Wheel
Publication)
The Buddha and His Disciples, Hellmuth Hecker,

79
Manual de um meditador

Venerable Nyanaponika Thera and Bhikku Bodhi


Letters from the Dhamma Brothers, Jenny Phillips

Livros históricos sobre Buda


The Life of the Buddha by Ñāṇamoli Thera – Historical
and Inspirational
The Search for the Buddha, (originally published as The
Buddha and the Sahibs), Charles Allen
The Historical Buddha by H.W. Schumann– Fornece
um contexto histórico e social da vida do Buda e seu
ensinamento (embora não discuta meditação)

Livros avançados sobre o Dhamma


The Udana, John Ireland
The Manuals of Dhamma, Ledi Sayadaw

Aprendendo páli - básico


Joia sobre ouro – cânticos do curso de 10 dias – bom
para aprender páli
The Pāli Workbook – Lynn Martineau

Livros para peregrinos


Along the Path, Kory Goldberg & Michelle Décary
Middle Land Middle Way, Venerable S. Dhammika
Consulte o site store.pariyatti.org para muitas
joias que colecionaram e podem ser baixadas. Os livros

80
Apêndice II - Livros de Dhamma recomendados

listados acima devem estar todos disponíveis para venda


lá também, bem como CDs / MP3s e videos / MP4s.
Acesse este link para todos os títulos da Pariyatti
em português.

81
Centros de meditação Vipassana
Cursos de meditação Vipassana na tradição de Sayagyi U
Ba Khin como ensinado por S. N. Goenka são realizados
regularmente em muitos países ao redor do mundo.
Informações, calendários de cursos em todo o mundo
e formulários de inscrição estão disponíveis no site de
Vipassana:
www.dhamma.org

82
SOBRE A PARIYATTI
Pariyatti é dedicada a proporcionar acesso a preços
acessíveis a ensinamentos autênticos do Buda sobre a te-
oria do Dhamma (pariyatti) e a prática (paṭipatti) da med-
itação Vipassana. Uma organização caritativa beneficente
sem fins lucrativos, conforme o artigo 501 (c) (3) desde
2002, Pariyatti é sustentada por contribuições de pessoas
que apreciam e querem compartilhar o valor incalculável
dos ensinamentos de Dhamma. Convidamos você a vis-
itar www.pariyatti.org para conhecer nossos programas,
serviços e formas de apoiar a publicação e outros projetos.

Publicações Impressas da Pariyatti


Vipassana Research Publications (Foco em Vipassana
conforme ensinada por S. N. Goenka na tradição de Say-
agyi U Ba Khin)
BPS Pariyatti Editions (títulos selecionados da Bud-
dhist Publication Society, co-publicado pela Pariyatti nas
Américas)
Pariyatti Digital Editions (títulos de áudio e vídeo, inclu-
indo palestras)
Pariyatti Press (títulos clássicos em nova impressão e es-
critos inspiradores de autores contemporâneos)
A Pariyatti enriquece o mundo ao:
• disseminar as palavras do Buda,
• fornecer insumos para a jornada do buscador,
• iluminar o caminho do meditador.

83

Você também pode gostar