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Linguagens Midiáticas

e Transmídia
Material Teórico
Tipos de Comunicação e o Signo Linguístico

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.a Me. Cristina Munhão

Revisão Textual:
Prof.a Me. Natalia Conti
Tipos de Comunicação e o Signo Linguístico

Introdução: Os Diversos Tipos de Comunicação;


Ruídos Comunicacionais;
O Signo Linguístico e a Construção de Sentido;
Tudo é Signo;
Conotação e Denotação.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
Identificar as diversas categorias da comunicaçã o: Interpessoal; In- trapessoal; Comunicaçã o de grupo; C
Identificar os conceitos de signo linguístico para formaçã o das estru- turas de percepçã o cognitiva e form
Orientações de estudo
Para que o conteú do desta Disciplina seja
bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na
sua formaçã o acadê mica e atuaçã o profissional,
siga algumas recomendaçõ es bá sicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair
com as redes
sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte
hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horá rio fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma
alimentaçã o saudá vel pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Alé m disso, você
també m encontrará sugestõ es de conteú do extra no item Material Complementar, que ampliarã o
sua interpretaçã o e auxiliarã o no pleno entendimento dos temas abordados;

Apó s o contato com o conteú do proposto, participe dos debates mediados em fó runs de discus-
sã o, pois irã o auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDAD Tipos de Comunicação e o Signo

Contextualização
Seja bem vindo ao universo dos signos linguísticos.

Nessa unidade você conhecerá o que formam os significados em nossa mente.


Tudo o que existe e que permeia o universo material e imaterial percorre o mundo
dos signos. As comunicaçõ es dã o-se através desses elementos que se juntam, assim
como os dois lados de uma folha de papel. Ú nicos enquanto signo, mas com duas
faces distintas. Esses estudos sã o de fundamental importâ ncia para conceituar o
que se seguirá nos outros capítulos dessa disciplina.

Entã o vamos lá !

Introdução: Os Diversos
Tipos de Comunicação
“(...) desde que a pessoa se serve da linguagem para formar uma ponte
consigo mesma ou com os demais, desde que busca a comunicaçã o
para resolver os conflitos que o afetam, a linguagem já nã o é mais um
instrumento, mas uma manifestaçã o dela mesma como experiência viva,
‘laço psíquico’ que liga ao mundo em que habita e a tudo que este pode
lhe oferecer” (DEITOS, 2005, p.23).

Na perspectiva de Deitos a comunicaçã o é a grande ligaçã o entre o homem


e o mundo. Dessa maneira, faz-se necessá rio elucidar alguns conceitos antes de
entender as mú ltiplas maneiras de circulaçã o de conteú do.

Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images

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Existem inú meros tipos de comunicaçã o que se utilizam da linguagem, que sã o os
có digos presentes virtualmente na cabeça de cada indivíduo e que sã o partilhados.
Todas elas podem, de alguma maneira, serem utilizadas atravé s da mídia. As mais
usuais sã o:

Comunicaçã o interpessoal;

Comunicaçã o em grupo;

Comunicaçã o de massa;

Comunicaçã o organizacional;

Comunicaçã o interativa.

Ao contrá rio do que as pessoas pensam, a comunicaçã o nã o acontece só entre


falantes. Estabelecemos comunicaçã o quando lemos, manuseamos documentos,
quando dirigimos nossos carros e encaramos as placas de trâ nsito. Portanto,
comunicaçã o confunde-se com a pró pria vida, é como respirar ou andar.

A Comunicaçã o Social é um campo do conhecimento que estuda a interaçã o


entre os seres humanos de uma sociedade, ou seja, a comunicaçã o humana. Ela
lida com técnicas de transmissã o da informaçã o e seus impactos na sociedade.
Para entendermos esse processo, precisamos observar os anseios e desejos dos
seres humanos, afinal, como vimos na Unidade 1, comunicar-se torna possível
toda vida em sociedade, além de ser um grande instrumento de poder. Através
da comunicaçã o formamos opiniõ es, criamos modos de pensar e agir.

Relacionamentos sã o pautados em atitudes que comunicam sentimentos em


palavras, e que consumam a intençã o de cada parte envolvida nesse processo.
Desde um relacionamento amoroso até relacionamentos corporativos, amizade ou
família, tudo que nos faz viver em sociedade depende de como nos expressamos
diante dela através dos meios que dispomos.

Comunicaçã o vem do latim “comunio”, que significa “tornar comum”, “compar-


tilhar”, “participar”. Para que aconteça deve haver um compartilhamento de ideias,
transmissã o de estímulos, muitas vezes objetivando modificar o comportamento do
outro. Essa informaçã o “circula”, transmite ideias, emoçõ es, habilidades, atitudes,
tudo por meio dos signos linguísticos que sã o entidades em que sequências de sons
formam uma representaçã o da realidade e distinguem os objetos entre si. Sendo
assim, o ato de comunicar vai variar de acordo com o interlocutor e de acordo com
o nú mero de pessoas a quem queremos comunicar. Assim teremos:
1. Comunicaçã o interpessoal: normalmente, inclui duas pessoas no pro-
cesso comunicacional. Exemplos sã o conversas face a face que geram
ex- pressõ es corporais e faciais que interferem no que é dito e nas reaçõ es
de quem ouve e vê. Outros casos sã o conversas ao telefone, cartas, e-
mails. Esses exemplos podem ser definidos como comunicaçã o ponto a
ponto, mas podem estender-se a mú ltiplos pontos. Um caso é quando
disparamos e-mails para endereços de uma grande listagem, nesse caso,
vá rias pesso- as sã o atingidas pela informaçã o que partiu de um ú nico
ponto.
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UNIDAD Tipos de Comunicação e o Signo

2. Comunicaçã o intrapessoal: esse termo se identifica com a auto comuni-


caçã o. Trata-se daquela conversa que temos com nó s mesmos. Pode acon-
tecer quando cantarolamos no chuveiro, ou escrevemos um texto num
diá rio. Os pró prios pensamentos sã o autocomunicaçã o. Você já deve ter
tido momentos em que está tã o envolvido com um pensamento, tentando
organizar-se, que perde o sono. Esse é um tipo de comunicaçã o
intrapes- soal, acontece de você para você.
3. Comunicaçã o em grupo: pode acontecer em grandes aglomerados hu-
manos, uma aula presencial em que o professor fala e muitos ouvem, ou
uma palestra, seminá rios, conferências. Contudo, a comunicaçã o pode
acontecer em pequenos grupos, um papo numa mesa de bar envolvendo
quatro ou cinco amigos é outro caso, ou seja, para ser considerada
comu- nicaçã o em grupo, podemos ter grande ou pequena audiência.

Importante!
Não podemos confundir a comunicação em grandes grupos com comunicação de massa

4. Comunicaçã o de massa: trata-se de uma comunicaçã o multiponto. É quan-


do uma ú nica fonte transmite uma mensagem para milhares de receptores.
Esse tipo de comunicaçã o raramente obtinha uma resposta imediata da au-
diê ncia, mas a internet tem aumentado as possibilidades de interaçã o nesse
tipo de comunicaçã o. Exemplos sã o jornais, revistas, televisã o e a pró pria
internet, nesse caso, classifica-se como comunicaçã o de massa interativa.
É importante salientar que a televisã o, neste século, é o maior veículo de
comunicaçã o de massa existente no mundo, com maior alcance e com
maior audiência.
5. Comunicaçã o organizacional: é a que acontece nas empresas. O que
determina quem é emissor e receptor sã o os graus de posiçã o e funçõ es
exercidas.
6. Comunicaçã o interativa: é quando um sistema de mídia é passível de ser
selecionado individualmente, configurado pelo usuá rio. Outros casos sã o
sis- temas de televisã o interativa em que você pode mudar o final de uma
novela, ou mudar â ngulos de visã o de uma imagem quando assiste a um
jogo de futebol. O conceito de comunicaçã o interativa foi bastante
ampliado com o advento da internet. Para ser mais preciso, o termo
interatividade acon- tece quando a resposta vem em tempo real de
receptores de um canal de comunicaçã o, modificando continuamente a
mensagem. Portanto, quando

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você utiliza redes sociais, ou mesmo o hipertexto (estudado
anteriormente), você está decidindo os caminhos, interagindo, nã o mais é
audiência passiva. Fanfics, blogs, sites e outras plataformas do ciberespaço
també m permitem intervençã o, interaçã o, comentá rios e criaçã o. Fazem
parte da comunicaçã o interativa, que é a grande tendência deste milênio.
Veremos nas unidades seguintes como essa interaçã o tem mudado o
comportamento das pessoas, seus há bitos de consumo, seus
relacionamentos, etc.

Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images

Você Sabia?
Você sabia que até uma máquina de refrigerante pode ser considerada um s

Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images

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UNIDAD Tipos de Comunicação e o Signo

Ruídos Comunicacionais
A comunicaçã o também produz falhas, isso se choca com pressupostos, inter-
pretaçõ es e falhas comunicacionais. Se depende da comunicaçã o toda a inter-re-
laçã o com o mundo, esses ruídos sã o os elementos que interrompem o processo.

Os mecanismos mentais individuais com


suas infinitas idiossincrasias podem fazer
uma pessoa projetar o futuro ou relembrar
o passado. Essa sobrecarga emocional faz
o ser humano “dar por certo” ou que viu
ou ouviu. Isso acontece quando projetamos
nossas intençõ es no outro e criamos hipó te-
ses. Montamos um filme em nossa mente, e
com base no nosso pró prio ponto de vista Figura 4
pressupomos os movimentos dos outros. Fonte: iStock/Getty Images

idiossincrasia /substantivo feminino/ predisposição particular do organismo que faz qu

Você já deve ter vivenciado situaçõ es em que fica tentando adivinhar o porquê
de alguém nã o ter ligado para você, ou respondido a uma mensagem de whatsapp,
mesmo tendo visualizado. Você vê o sinal de visualizaçã o, a resposta nã o vem.
Inicia-
-se um filme na cabeça. Suposiçõ es, hipó teses, muitas vezes desembocam em discus-
sõ es e em brigas. É como se fô ssemos adivinhos de pensamento. Essas sã o
atitudes sem sentido, dizer ao outro que sabe o que está pensando é uma grande
incoerência.

Outra ocorrência de ruído é a má interpretaçã o de uma mensagem. Algo que


tenha sido dito de maneira ambígua pode causar grande repercussã o. Até um
defeito na ligaçã o, chiados, problemas de voz podem prejudicar a clareza do que
se quer dizer.

A descontextualizaçã o é um ruído realizado pelos recortes feitos pelos jornalistas


nas falas de alguns políticos. Descontextualizadas, algumas mensagens passam a
ter tom jocoso, dú bio. A intençã o de quem fala é distorcida. Nesse caso, o ruído
é proposital; entre o emissor e o receptor há um intermediá rio que infringe a
mensagem com suas ideias de maneira indireta. Qualquer comentá rio feito sobre o
que foi dito também é ruído, mas o recorte tem um “tom” inocente, pois realmente
faz parte do que o emissor disse.

Há outros ruídos, como completar mensagens que nã o terminaram; julgamentos


e aconselhamentos; considerar-se dono da razã o; nã o saber expressar-se;
abstraçõ es ou personalizaçõ es que podem mudar o rumo da intencionalidade
primá ria.

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Você Sabia?
“Gosto se discute sim”. Mas é impossível discutir gostos com pessoas com grandes d

Portanto, o ruído acontece quando se distorce a realidade. Porém, o que é


realidade? O que pode ser real para uns pode ser uma bobagem para outros. Conta
uma lenda, que um ocidental, referindo-se aos monges tibetanos, disse: “Você
sabia que os monges tibetanos levitam quando estã o concentrados? Acho que isso
é mentira”, e do outro lado do mundo, um monge, à beira de um rio dizia ao seu
pupilo: “Você sabia que ouvi falar que no ocidente há bolas de vidro que contém
luz dentro (referindo-se à s lâ mpadas)? Acho que é mentira”. Contudo, o que é
realidade, se nã o aquilo em que acreditamos, que está a nossa volta, em nosso
cotidiano? Realidade identifica-se com o que pensamos, criamos e idealizamos.

Se a comunicaçã o e a linguagem sã o responsá veis pela construçã o do mundo


ao nosso redor, é, portanto, responsá vel pela realidade. O que consideramos
uma “casa”, um “lar”, pode nã o ter o mesmo significado para outra pessoa.

Figura 5
Fonte: iStock/Getty Images

É nesse ponto que começamos a conceituar o signo linguístico que é o resultado


da indissolubilidade de elementos acú sticos, visuais, sensoriais e cognitivos. Entã o,
vamos entender o signo para conceituar Linguagem Midiá tica.

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UNIDAD Tipos de Comunicação e o Signo

O Signo Linguístico e a
Construção de Sentido
Toda palavra com sentido é considerada um signo linguístico. As imagens que
identificamos, as sensaçõ es e sentimentos que conseguimos nomear, identificar e
formatar mentalmente sã o signos.

Eles circulam no mundo material e imaterial, no mundo da Denotaçã o e da


Conotaçã o (assunto que será melhor conceituado no pró ximo tó pico).

Importante!
O signo é o resultado de significante mais significado.

O precursor dessa teoria é o linguista e filó sofo suíço Ferdinand Saussure em sua
obra suprema “Curso de Linguística Geral”, escrita em 1916.
“O signo linguístico une nã o uma coisa e uma palavra, mas um conceito
e uma imagem acú stica. Esse nã o é o som material, coisa puramente
física, mas a impressã o psíquica desse som, a representaçã o que dele
nos dá o testemunho de nossos sentidos, tal imagem é sensorial, e se
chegamos a chamá -la material”, é somente nesse sentido, e por oposiçã o
ao outro termo da associaçã o, o conceito, geralmente, mais abstrato”.
(SAUSSURE, 1968, p.79)

A partir do conceito saussuriano, temos que o signo linguístico é a uniã o de


significado mais significante. Para cada pessoa individualmente, em cada lugar do
mundo, há signos semelhantes e absolutamente opostos. As realidades palpá veis
e impalpá veis transformam-se à medida que os significados e os significantes ga-
nham novas proporçõ es de sentido.

Existe uma lenda que diz que esquimós identificam e nomeiam muitos tons de branco. Isso
Saiba mais em: https://goo.gl/KGmsSq

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Figura 6
Fonte: iStock/Getty Images

Significado
O significado é uma complexa rede de informaçõ es
acumuladas ao longo da vida de cada comunidade e de
cada pessoa. Ecoar uma palavra na sua língua nativa é
o mesmo que transmitir todos os conceitos histó ricos
contidos nela.

Vamos a um exemplo bá sico de “significado” para


deixar mais claro o conceito:

A palavra boneca vai muito além de “brinquedo”. Há


inú meros valores simbó licos e ideoló gicos associá veis a Figura 7
esse signo. Fonte: iStock/Getty Images

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UNIDAD Tipos de Comunicação e o Signo

Grosso modo, a boneca é um brinquedo associado a meninas, à maternidade.


Mas essa é uma invençã o humana. Um menino que brincasse com uma boneca
nã o teria sua masculinidade ferida, esses sã o conceitos humanos, invençõ es, que
têm a ver com o significado, valor ideoló gico e simbó lico que se dá ao objeto, que
só existe por ser uma criaçã o humana. Portanto, a significaçã o de que uma boneca
é um símbolo relacionado ao universo feminino trata-se de um conceito, uma ideia,
uma invençã o.
Para algumas culturas há
Podem representar culturas:
bonecas sagradas:

Figura 8
Fonte: iStock/Getty Images
Figura 9
Fonte: iStock/Getty Images

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Na cultura russa, as matrioskas simbolizam a ideia de maternidade, fertilidade,
amor e amizade. Existem lendas sobre essas bonecas e elas sã o respeitadas e usadas
como objetos decorativos, consideradas verdadeiras obras de arte.
Também podem
Geralmente sã o associadas
representar profissõ es:
à maternidade:

Figura 10 Figura 11
Fonte: iStock/Getty Images Fonte: iStock/Getty Images

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UNIDAD Tipos de Comunicação e o Signo

Poderíamos discorrer por pá ginas a fio apenas dando o significado de “boneca”,


e isso poderia ser discutido por cada pessoa individualmente, defendendo sua cultu-
ra e seu repertó rio só cio cultural. O que tem significado numa determinada cultura,
pode nã o significar nada em outra.

Há gestos que sã o realizados com naturalidade por alguns povos e em alguns


lugares do mundo podem ser considerados ofensas.

Nesse site você pode saber mais sobre as matrioskas: https://goo.gl/PCuUKz

Significante
O significante é a imagem acú stica do signo linguístico. Mas para Saussure
(1968) é uma representaçã o da palavra enquanto fato da língua virtual, nã o é
propriamente a manifestaçã o física, a imagem muscular do ato fonató rio, mas sim
uma representaçã o natural da palavra enquanto fato da língua virtual.

Quando ouvimos uma palavra, o que a cogniçã o forma e a faz entender e ter
significado é o significante.

Juntando significante e significado formamos o signo, ou seja, o som que a


cogniçã o identifica através dos có digos linguísticos toma significaçã o e sentido.
Signo, portanto, subtende toda palavra que possui um sentido. Assim sendo, nem
as palavras isoladamente sã o signos, nem as coisas sã o signos, mas os significados
que damos a cada um dos significantes decodificados compõ em esse signo que
compreende tudo o que temos a nossa volta, o que consideramos mundo, nossa
realidade. Voltando ao exemplo:

Se juntarmos o significado de BONECA = representaçã o de um corpo humano


adulto ou infantil em três dimensõ es e mais todos os valores ideoló gicos discutidos
anteriormente ao significante = /b/ /o/ /n/ /é/ /k/ /a/ (som das letras), teremos o
signo, que só terá sentido, conforme a formaçã o e conhecimento de cada indivíduo
inserido em sua sociedade. O que cada um “formou” em sua mente é o signo.

O signo boneca é considerado na cultura ocidental um brinquedo para “meninas”. Mas se f

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Tudo é Signo
Limitar a explicaçã o do signo à mera classificaçã o de palavras é uma forma taca-
nha de vê -lo. O signo tem uma relaçã o existencial com quem o utiliza, motivaçõ es
individuais e coletivas, tudo que se pensa e se sente. As coisas só existem quando
participam desse universo humano.

Barthes (2012) afirma que o Cristianismo ultrapassa a cruz. Isso vale a dizer que
essa simbologia e essa palavra se unem enquanto significado e significante, como
o verso e anverso de uma folha de papel. O plano do significante é um plano de
expressã o e o dos significados um plano de conteú do; cada plano comporta a
forma e a substâ ncia.

No caso das cores de um semá foro, por exemplo. Ordens sã o expressas por es-
sas cores, ordens que organizam o trâ nsito. Essa significaçã o foi dada à s cores pelas
pessoas que atribuíram valores a elas, outorgamos, portanto, significado à s cores.

Muitas pessoas têm objetos queridos, acumulam coisas ou fazem coleçõ es.
Passam a ter sentimentos por objetos, dã o significado a seres inanimados.

Figura 12
Fonte: iStock/Getty Images

Os há bitos de compra sã o um sinal de significaçã o das coisas. Muitos con-


sumidores acumulam objetos e “adoram” marcas, imprimem valores a objetos.
Nesse caso, quando o significante é emitido foneticamente ou graficamente, pro-
voca sensaçõ es e desejos que têm significado que ultrapassam a “coisa”. Esse
signo linguístico é apenas a simbologia de algo ditado por um costume ou cultura.
As marcas sã o signos virtuais, nã o existem enquanto objetos.

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UNIDAD Tipos de Comunicação e o Signo

A partir do momento que se atribui um valor que ultrapassa a realidade de uma


“coisa”, temos os valores atribuídos. O significado recebeu essa carga de valor,
passou a ser mais do que realmente é.

Figura 13
Fonte: iStock/Getty Images

A marca Apple fabrica celulares e outros aparelhos eletrô nicos que somente
têm funçõ es designadas a eles mesmos, mas para muitos uma determinada marca
pode vir a ser sinô nimo de status e perfeiçã o. Assim como muitas outras marcas,
que além da qualidade de seus produtos “representam” desejos e aspiraçõ es das
pessoas. Infelizmente, alguns objetos deixam de servir seus senhores e passam a
serem seus donos, pois sem eles as pessoas nã o conseguem identificar seus valores
morais e sociais.

Figura 14
Fonte: iStock/Getty Images

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A publicidade e a mídia, no geral, sã o responsá veis pela atribuiçã o de significado
à s marcas. Nã o há dú vidas de que há produtos de grande qualidade no mercado,
porém o valor “real” e o valor atribuído confundem-se no emaranhado de emoçõ es
do indivíduo que acredita mais ou menos no que foi “pregado” durante as
mensagens publicitá rias e exposiçã o midiá tica.

Figura 15
Fonte: iStock/Getty Images

Pessoas podem ter problemas financeiros, ou mesmo subjugarem-se a humilha-


çõ es para poderem consumir marcas famosas, ter status e dinheiro para consumir
mais e mais. Discorreremos melhor sobre isso na unidade 5.

Nesse artigo, uma diarista não conseguiu comprar uma casa, pois a filha só usa roupas

Existe até uma doença chamada Oniomania em que a pessoa fica viciada em
compras, compulsiva por obter mais e mais objetos. Essa síndrome leva alguns a
endividarem-se de forma a nã o conseguirem mais honrar seus compromissos e
há pessoas que atentam contra suas vidas pelo desespero e sentimento de culpa
causados pelas dívidas.

Assista ao filme Delírios de Consumo de Becky Bloon, que trata desse assunto:
https://youtu.be/LjQ7hMbfEDw

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UNIDAD Tipos de Comunicação e o Signo

Confiabilidade, segurança, idoneidade, tradiçã o, costumes sã o construídos por


imagens. A ativista Malala Yousafzai é um exemplo de significado atribuído à perso-
nalidade. Ela simboliza a liberdade das mulheres em seu país (Paquistã o), seu
direito a estudar e a ter direitos civis respeitados.

Figura 16
Fonte: Wikimedia Commons

Achamos natural no ocidente mulheres realizarem procedimentos médicos para ficarem ma

Leia a interessante reportagem sobre as mulheres girafa: https://goo.gl/av1B1M

Jornalistas, celebridades, formadores de opiniã o, políticos, confiá veis ou nã o,


sã o personalidades a que atribuímos significados e podemos a todo instante citar
esses signos compondo o pensamento humano, dando opiniõ es, propagando
pensamentos.

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Os estudos sobre o signo linguístico sã o muito vastos. Existem inú meros livros,
teses de mestrado e doutorado que tratam sobre esse tema das mais diversas for-
mas. Há estudo até para significados de aromas, sabores, sons, cores, comporta-
mentos. Tudo o que pode ser concebido pela mente humana e identificado toman-
do um significado é signo.

Quem sabe o signo linguístico não será tema da continuidade de seus estudos depois da fa

Conotação e Denotação
Nesse universo dos signos seria impossível que as pessoas se comunicassem
dando conta somente do mundo real, do palpá vel, plausível e ló gico?

Figura 17
Fonte: iStock/Getty Images

Diante das possibilidades da linguagem, precisamos identificar que o universo


das palavras nã o é fixo, elas oscilam entre o real e o imaginá rio humano através de
associaçõ es, conforme sua posiçã o numa determinada frase.

Veja:

O cavalo deu uma patada na menina.

O rapaz deu uma patada no

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UNIDAD Tipos de Comunicação e o Signo

atendente.

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No primeiro exemplo “patada” identifica-se com o coice do animal, já no se-
gundo a mesma palavra “patada” vem com a carga semâ ntica relacionada à gros-
seria, incivilidade.

Em: José tomou uma patada.

A frase tem duplo sentido a partir do momento em que nã o sei se tem a in-
formaçã o contextualizada, nã o sabemos se José esteve com um quadrú pede e foi
atingido por sua pata, ou foi vítima de alguma pessoa descortês. O contexto em
que for inserida a frase é que esclarecerá o que está sendo dito, por isso, descon-
textualizar uma frase ou informaçã o pode causar interpretaçõ es diferentes. Como
dito no início do capítulo, isso é uma prá tica jornalística.

A expressã o “vou te matar” é bem pesada, certo? Grave ameaça, quem a pro-
fere pode ser até preso; se algué m disser isso a você, certamente deve procurar a
polícia. Mas se sua mã e disser: “Vou te matar se deixar a toalha de banho molhada
sobre a cama!”, o contexto da frase perde carga semâ ntica e certamente sua mã e
nã o será denunciada à polícia.

Importante!
Carga semântica é o valor que determinada palavra possui, conforme o contexto e

Como dito anteriormente, esse recorte do texto normalmente é usado no


jornalismo através de verbos “descendi” no pretérito. “O Ministro afirmou”; “O
Presidente disse”. Esses verbos introduzem o discurso indireto e sã o muito eficazes
na manipulaçã o de notícias. O recorte e o tom dado a esse recorte podem mudar
a intencionalidade do verdadeiro emissor da mensagem. Nesse caso, o jornalista
é apenas um intermediá rio do emissor. Se a mensagem muda a interpretaçã o,
podemos considerar isso um ruído (volte ao início desse capítulo onde falamos
sobre ruídos de comunicaçã o).

Dessa forma, atribuímos o sentido denotativo à s palavras em seu sentido real,


literal, e a conotaçã o acontece quando usamos palavras com sentido figurado.
A denotaçã o está ligada à funçã o referencial da linguagem (consulte a unidade 1),
pois é uma funçã o voltada à explicaçã o real.

A partir do sentido figurado dado à s palavras, surgem as figuras de linguagem,


que abrilhantam o discurso e tornam a comunicaçã o possível, mais dinâ mica e
imprimem clareza aos sentimentos e emoçõ es.

Seria impossível associar significado e significante, ou seja, formar o signo lin-


guístico, se nã o tivéssemos a conotaçã o, portanto cabe à conotaçã o atribuir novos
significados ao significante e transformar os signos do mundo.

Observe o soneto camoniano. É um ó timo exemplo do uso das palavras em


sentido conotativo.

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UNIDAD Tipos de Comunicação e o Signo

Amor é fogo que arde sem se ver,


é ferida que dó i, e nã o se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um nã o querer mais que bem querer;


é um andar solitá rio entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;


é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor


nos coraçõ es humanos amizade,
se tã o contrá rio a si é o mesmo Amor
(Luís Vaz de Camões)

As definiçõ es camonianas da palavra “amor” sã o de fogo, ferida,


contentamen- to, descontentamento. Já imaginou se nã o houvesse a conotaçã o?
Seria impossível uma descriçã o tã o perfeita do amor.

A linguagem é uma entidade viva, transforma-se o tempo todo, pode atribuir


novos significados à s palavra e tornar “certo” o que antes era “errado”. Palavras
desaparecem por falta de uso, outras pipocam na boca do povo, principalmente
dos jovens, primeiramente como neologismos, depois como cotidianas e finalmente
desembocam nos dicioná rios que sã o atualizados constantemente. Isso quer dizer
que a língua é uma entidade viva!

neologismo significa inventar novas palavras. Palavras do universo da informática: de- let

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Trocando ideias...
Outro dia ouvi de uma aluna: “Hoje vou “jacar”. Referindo-se ao fato de que iria lam

Se formos analisar a linguagem cotidiana, utilizamos mais a conotaçã o do que a


denotaçã o quando precisamos expressar significados. Reportagens, artigos, atas,
memorandos, receitas, ou seja, textos em que predomina a funçã o referencial sã o
textos denotativos.

O mais interessante é que somos os verdadeiros donos da linguagem e toda mídia


colabora para essas mudanças. Quanto mais dominamos a linguagem, quanto mais
absorvermos os signos, mais cultura temos, mais poder de persuasã o e seduçã o
através da maior arma do ser humano: a palavra.

Quando se opta por aprofundar conhecimentos sobre linguagem, saímos da


“cadeira” da assistência, deixamos de ser marionetes conduzidas pelo sistema e
passamos a seres atuantes e transformadores da realidade. Cabe a cada um decidir
de que lado quer estar.

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UNIDAD Tipos de Comunicação e o Signo

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Publicidade e Linguagem: O Sentido do Signo da Mensagem
www.educere.bruc.com.br

Filmes
A Chegada (2016)
https://youtu.be/kxMTW0Ny6s8
Primeira Página: Por dentro do New York Times (documentário)
https://youtu.be/BCdsSezvACw

Leitura
Cinema, Vídeo e Videoclipe: Relações e Narrativas Híbridas
https://goo.gl/wQNFxc

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Referências
BARTHES, Roland, Elementos de Semiologia. traduçã o Izidoro Blikstein, 19 ed.
Sã o Paulo: Cultrix, 2012.

DEITOS, Fá tima, Comunicaçã o Humana. Sã o Paulo: Ed. Conte, 2005.

SAUSSURE, Curse de Linguistique Générale. Paris: Payot, 4ª ed. 1949 (Curso


de Linguística Geral, trad., de Antô nio Cheline, José Paulo Paes e Izidoro
Blikstain. Sã o Paulo, Cultrix, 1969).

Sites Pesquisados
<http://portugues.uol.com.br/redacao/denotacao-conotacao.html>. Consultado
em 12/01/2018

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