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Meios Alternativos de

Soluções de Conflitos
Material Teórico
A Mediação

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Tercius Zychan

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
A Mediação

• A Mediação;
• O Mediador e as Técnicas de Mediação;
• Tipos de Mediação.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Entender o que vem a ser a mediação como meio alternativo de solução de conflitos.
• Conhecer o conceito e os princípios fundamentais da mediação para a sua aplicação,
bem como a sua importância na pacificação dos conflitos.
• Conhecer as principais técnicas utilizadas para a solução dos conflitos por intermé-
dio da mediação.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE A Mediação

A Mediação
Mediação é um instrumento há muito utilizado pela Psicologia como forma de
solução de conflitos individuais e sociais.

O seu sucesso como forma de minimização de conflitos sociais tem sido ressal-
tado em inúmeras situações, por exemplo, nas escolas com relação a eventuais
conflitos entre alunos; em associações de bairro quando do conflito entre morado-
res; além de inúmeras outras oportunidades em que a mediação é recorrida como
técnica de harmonização e solução de conflitos.

Com relação à multidisciplinaridade da mediação, vejamos as palavras de Lilia


Maia de Morais Sales (2004):
A mediação apresenta-se, pois, com o objetivo de oferecer aos cidadãos
participação ativa na resolução de conflitos, resultando no crescimento
do sentimento de responsabilidade civil, cidadania e de controle sobre os
problemas vivenciados. Dessa maneira, apresenta forte impacto direto na
melhoria das condições de vida da população – na perspectiva do acesso
à Justiça, na conscientização de direitos, enfim, no exercício da cidadania.

Como podemos perceber, a questão da mediação, aplicada em diversas possi-


bilidades que um conflito possa se estabelecer, constitui-se em verdadeiro avanço
social para a solução de situações, na maioria das vezes, indesejadas, as quais po-
dem ser resolvidas, quase sempre, pelas próprias partes, com a abertura de diálogo

Embora já exemplificada, destacaremos novamente a mediação chamada de


escolar, pois por intermédio do diálogo entre alunos e professores, busca melhorar
a qualidade de ensino e, consequentemente, do processo de educação como um
todo, oferecendo a possibilidade de serem traçados pontos positivos nas relações
escolares; daí, podemos dizer que um conflito não é puramente algo negativo.

Ademais, são alguns pontos importantes com relação à mediação escolar os


seguintes:
• Aproxima alunos e professores;
• Cria, tanto nos alunos quanto nos professores, um espírito de responsabilidade
e participação social que transcende os muros escolares;
• Coloca fim a disputas que podem interferir, por exemplo, no rendimento es-
colar discente;
• É uma forma de prevenir e reprimir o bullying – forma de violência física e/ou
psíquica continuada sobre determinada pessoa –, muito comum nas escolas.

Não se trata de uma técnica exclusivamente atinente às questões que envolvem


direitos, podendo ser empregada, por exemplo, dentro das organizações, para
reduzir conflitos entre colaboradores.

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Uma empresa comumente envolve pessoas que convivem diariamente em boa parte de seu
dia. Assim, é fato que as pessoas, embora venham ao local de trabalho para efetivar uma “rela-
ção laboral”, percebam-se inseridas em um contexto comunitário, ou seja, em um ambiente so-
cial, logo, sujeito a conflitos. Assim, não restam dúvidas de que atritos constantes no ambiente
de trabalho podem, com o decorrer do tempo, potencializarem-se, provocando extremos pre-
juízos à produtividade e, consequentemente, à própria organização como um todo.
Pode ser que a causa de os conflitos existirem e se ampliarem – espiral do conflito – seja a
ausência de diálogo entre os colaboradores, daí a importância da intervenção de um terceiro
para justamente abrir tal canal, possibilitando aos profissionais resolverem os seus conflitos.

Assim, cabe aos gestores da empresa a detecção dos conflitos e promoção da


mediação.

Entretanto, é no campo do Direito que a mediação tem tomado um espaço cada


vez mais importante e sistematizado ante aos custos e à demora dos processos ju-
diciais, sendo uma possibilidade. Atualmente, a mediação é incentivada tanto pela
Lei como também pelo próprio Poder Judiciário, retirando-se a ideia de imposição
do Direito pelo emprego de uma decisão forçada, mas criando a possibilidade de
pacificação do conflito por uma harmonização social.

O preceito primário da mediação é combater o “ambiente de guerra” que pode


surgir do conflito, onde se procura a submissão do mais fraco ante o poder do mais
forte, de modo que a mediação procura promover a autocomposição entre as par-
tes conflitantes, sendo considerada um instituto da pós-modernidade.

Vejamos um conceito do que vem a ser mediação segundo a visão de Bolzan de


Morais e Fabiana Spengler (2008, p. 125):
A mediação é um método alternativo em que não há adversários, apenas
consiste na intermediação de uma pessoa distinta das partes, que atuará
na condição de mediador, favorecendo o diálogo direto e pessoal. O me-
diador facilita a comunicação sem induzir as partes ao acordo, e quando
este existe, apresenta-se total satisfação dos mediados.

Em suma, podemos afirmar que a mediação se refere a uma técnica empregada


para a dissolução dos conflitos como, por exemplo, causas familiares, ou direito
de família, onde existem discussões acerca da guarda de filhos, pensão alimentícia,
entre outros aspectos.

Pode-se dizer que a mediação, como meio alternativo de solução de conflitos,


foge das soluções mais culturais e arraigadas em um sistema social conflitivo, de
beligerância, onde para a disputa de qualquer direito se busca o Poder Judiciário
como interventor e solucionador do conflito, o que ocorre de forma impositiva,
restando, na maioria das vezes, partes “não curadas” do mesmo conflito.

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UNIDADE A Mediação

Objetivos da Mediação
O objetivo principal da mediação é a aproximação das partes por intermédio
do diálogo conduzido por uma terceira pessoa alheia ao conflito, o mediador,
quem faz com que as partes conflitantes compreendam a necessidade de promo-
verem a autocomposição do conflito, por intermédio de uma das formas que a
mencionada autocomposição pode ser realizada, ou seja, pela desistência, sub-
missão e transação.

Trata-se de uma possibilidade menos custosa para a solução do conflito, poden-


do, na maioria das vezes, ser menos traumática do que um processo judicial, pois
pode eliminar o conflito como um todo, além de, certamente em muitas oportuni-
dades, tornar-se uma alternativa mais econômica de eliminação do conflito.

Entre os benefícios da mediação, podemos dizer que não se restringe à solução


do conflito em si, mas permite serem retirados proveitos positivos para as partes
conflitantes, afinal, em havendo a pacificação será possível identificar o surgimento
de questões prósperas entre as pessoas, tal como o reestabelecimento de uma rela-
ção desgastada pelo conflito, além de possibilitar a prevenção de conflitos futuros,
pois durante a mediação é possível que tanto o mediador quanto as próprias partes
despertem sinais da possibilidade de surgimento de conflitos futuros que possam
reestabelecer a divergência atual ou mesmo criar uma nova; assim, é possível ante-
cipar o conflito e promover uma “pacificação preventiva”.

Diferença entre Mediação e Conciliação


Em seu Artigo 165, o Código de Processo Civil brasileiro estabelece as diferen-
ças entre estes dois institutos de meios alternativos na solução de conflitos.

Neste caso, a conciliação será empregada na hipótese de não existir uma rela-
ção anterior entre as partes, devendo seguir princípios próprios e que serão refe-
renciados mais adiante.

Importante! Importante!

Por exemplo, o conflito que surge em razão de uma colisão entre dois veículos: as partes
estão em conflito tendo por objetivo responsabilizar o reparo aos danos em seus respec-
tivos automóveis, desejando indenização, pois um imputa ao outro a culpa pelo aciden-
te – note-se, portanto, que não possuíam nenhum vínculo até o momento da colisão.

De maneira contrária, a mediação requer, no entender da Norma, que as partes


em conflito tenham uma relação anterior a este, de modo que a mediação procura
aproximar os conflitantes para que, por intermédio do diálogo, possam produzir
uma solução consensual e duradoura ao conflito, empregando a autocomposição.

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Outro exemplo, um casal decide, por um motivo ou outro, colocar fim à relação conjugal,
ao casamento: dessa ruptura matrimonial alguns conflitos surgem, tais como a divisão do
patrimônio, guarda e pensão alimentícia com relação aos filhos menores etc. Logo, solucio-
nada pela mediação o tocante ao patrimônio, sendo esta condição perene ao casal, pois tais
descendentes corresponderão a uma questão permanente e que reaproximará ambas as
partes em muitos momentos.

Princípios da Mediação
Com relação aos princípios da mediação, serão os mesmos com relação à con-
ciliação, até porque os institutos são muito próximos – trataremos de modo simpli-
ficado, somente para contextualização do estudo da mediação.

Tais princípios são ressaltados pelo Artigo 166 do Código de Processo Civil:
Art. 166 – A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da
independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confiden-
cialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada.

• Princípio da independência: a atuação do mediador deve ser livre e indepen-


dente, sem sofrer qualquer forma de pressão externa para decidir;
• Princípio da imparcialidade: a participação do mediador deve ser sempre em
uma posição de neutralidade, sendo somente um instrumento de aproximação
e diálogo, sem despertar qualquer favoritismo a uma das partes em detrimento
da outra – se o mediador já possuir pré-conceito sobre a razão de um direito
em disputa, deverá evitar participar do processo de mediação que envolva
partes e conflitos com relação a esse mesmo direito;
• Princípio da autonomia da vontade: um mediador deve ser o elemento de
aproximação das partes, a fim de que, por intermédio do diálogo, estabeleçam
a solução do conflito. Ou seja, as partes conflitantes devem ter total liberdade,
sem serem pressionadas a solucionar o conflito;
• Princípio da confidencialidade: tudo o que ocorre durante o processo de me-
diação deve ficar restrito ao qual, de modo que apenas o acordo firmado será
formalizado; os diálogos à condução do próprio mediador devem ficar restritos
tão somente ao momento da mediação, não sendo possível a sua divulgação.
Inclusive as partes envolvidas em todo o processo de mediação não poderão
utilizar, nem em juízo – ou seja, em um futuro processo judicial –, os diálogos
reproduzidos, bem como o mediador e sua equipe não se pronunciarão em
juízo sobre o processo como um todo;
• Princípio da oralidade: todo o processo de mediação segue este princípio,
então norteado pelo diálogo, ou seja, as partes devem ser conduzidas pelo
mencionado diálogo à autocomposição, não havendo nenhum formalismo ou
protocolo que impeça a comunicação oral.

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UNIDADE A Mediação

Figura 1
Fonte: Pixabay

• Princípio da informalidade: todo o processo é informal, devendo as partes


serem conduzidas de acordo com as técnicas de solução ao conflito utilizadas
pelo mediador, de modo que não exista rigor formal algum à mediação – o
único ato formal será a instrumentalização do acordo, por ter este valor pe-
rante o Direito;
• Princípio da decisão informada: as partes conflitantes devem ser informadas
pelo mediador das consequências das decisões apuradas em todo o proces-
so de mediação, a fim de que não pairem dúvidas sobre o acordo firmado e
formado durante todo o processo. Assim, a nenhuma das partes do conflito
solucionado caberá alegar desconhecimento sobre a questão decidida, ou seja,
o ponto principal, bem como as questões periféricas ao conflito.

O Mediador e as Técnicas de Mediação


Não restam dúvidas de que o papel do mediador na solução de um conflito é a
chave fundamental para o sucesso.

O que se espera do mediador?

Espera-se que o mediador seja uma pessoa que esteja efetivamente preparada
para conduzir todo o processo de forma eficaz.

Ademais, os mediadores devem ser pessoas aptas em estabelecer o diálogo e,


consequentemente, conduzir os conflitantes à autocomposição.

A mediação é uma forma de solução de conflitos que conta com a atuação de um


terceiro, independente e imparcial, chamado de mediador, o qual ajuda particulares
em conflito a chegarem a um acordo que seja satisfatório para ambas as partes.

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Assim, para uma pessoa atuar como mediador, torna-se necessário observar os
requisitos da Lei n.º 13.140, publicada em 26 de junho de 2015, a qual regula a
atividade de mediador, estabelecendo os seguintes requisitos:
a) O mediador deve ter capacidade civil plena.
b) Ter concluído curso de Graduação, reconhecido oficialmente pelo
Ministério da Educação, a pelo menos dois anos.
c) Ter curso de capacitação para mediador, nos termos do que o Conselho
Nacional de Justiça estabelece, em unidade de ensino reconhecida.

Ademais, uma posição esclarecedora a respeito da figura do mediador é a de


Ademir Buitoni (2007), vejamos:
Não se envolve no conflito como se fosse ele uma das partes, mas sim
sente o conflito em todas as suas dimensões, percorre o conflito, com os
mediados nas suas sutilezas, para que sejam criados os novos caminhos
que transcendam o conflito.

Existem vários métodos que podem ser empregados na mediação para solução
de um conflito, entre os quais tem se destacado uma abordagem de negociação
denominada método de Harvard, desenvolvido por um professor da Universidade
de Harvard, nos Estados Unidos, e difundido pelo livro Como chegar ao sim, de
Roger Fisher, William Ury e Bruce Patton. Tal método é baseado no emprego da
comunicação como ferramenta eficaz na solução de conflitos.
Nessa abordagem é inserida a figura de um “método linear”, o qual procura
aproximar as partes pelo processo de diálogo conduzido pelo mediador. Assim, ob-
jetiva identificar os interesses das partes, criando opções para que possam perceber
pontos que convirjam a um entendimento.
O método de Harvard segue quatro estágios distintos que se somam para a
solução do conflito, a saber:
1. Separar as pessoas e os problemas: o importante no conflito é ver os
interesses envolvidos e não efetivamente quem são as pessoas. Assim,
o mediador, enxergando o problema em si, conduzirá o diálogo entre as
partes com a perspectiva de êxito na solução do conflito;
2. Concentração nos interesses: segundo o mediador, as partes devem estar
envolvidas em demonstrar os seus interesses – e não as suas posições
particulares. Deixar as posições pessoais se sobressaírem frente aos interesses
tornará a solução pela autocomposição mais difícil de acontecer. Por vezes,
visualizar as posições será importante para delimitar quais interesses estão
por trás das quais – daí o uso do questionamento por quê? Mas, assim que
se reconhecer um interesse, a habilidade do mediador será extraí-lo para,
em seguida, bloquear o diálogo pelas posições das partes frente ao conflito;
3. Leque de opções: o uso da criatividade deve ser uma constante ao
mediador, afinal, deve ter a sensibilidade de reconhecer as diversas opções
ávidas em solucionar o conflito. Vejamos como podemos criar tais opções:

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UNIDADE A Mediação

• Abrir a possibilidade de posições que podem ser apresentadas para a so-


lução do conflito, sem, contudo, promover qualquer avaliação inicial sobre
as quais; trata-se do conhecido brainstorm, etapa que leva em considera-
ção não existir única solução ao conflito;
• Verificar como é possível as partes estabelecerem uma visão de “ganhos
múltiplos” à solução do conflito; isto ocorre pela possibilidade de reconhe-
cerem quais das opções podem atender a seus interesses e que possam ser
aceitas pela parte contrária.
4. Firmar um resultado objetivo: ou seja, um critério que permita às partes
resolverem o conflito com o menor desgaste possível, sem que se obtenha
um fim diferente da autocomposição. Deve-se demonstrar que não é
possível decidir sobre o conflito com base simplesmente em vontades, mas
sim em possibilidades efetivas, demonstráveis.

Vejamos um exemplo utilizado no curso do Projeto de Negociação de Harvard,


citado por Alessandra Nascimento e Mourão Filho (2008, p. 28):
Trata da disputa de duas crianças por uma única laranja. Imagine que duas
irmãs estavam brigando há horas para utilizarem a única laranja que havia
em casa.
A mãe, que não aguentava mais a briga, resolveu solucionar a questão da
forma mais justa que ela entendia ser possível, sem questionar nada as fi-
lhas. Assim, a mãe simplesmente dividiu a laranja ao meio, dando metade
para cada uma das filhas.
Essa, de fato, é a solução mais óbvia, que aparentemente parece ser a
mais correta e que a maioria das pessoas tomaria. Entretanto, mais tarde
se descobriu o quanto essa solução era insatisfatória e não resolvia o pro-
blema de nenhuma das filhas, pois uma filha queria a laranja para fazer
suco e a outra queria apenas a casca para brincar.
Do exemplo acima se percebe o quanto é essencial descobrir os interesses
das pessoas, o seja, o que está por trás das posições, os seus motivos.

Neste caso, se a mãe tivesse agido como uma mediadora, deveria conhecer o
conflito, verificar e buscar as soluções possíveis, deixando de lado as posições a
respeito do qual.

Conhecendo objetivamente o conflito, a mãe – então mediadora – e mediante a


interação com as conflitantes, faz com que o diálogo promova a autocomposição,
de maneira que uma filha poderia extrair o suco e que após a casca seria cedida à
outra filha para brincar.

Outro padrão que pode ser empregado na solução de conflitos pela mediação
é conhecido como modelo transformativo, no qual não existe a construção de
soluções, tratando-se da solução do conflito como um todo, ou seja, buscando que

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a solução se encontre na mudança de concepções das partes envolvidas – vale lem-
brar que na mediação as partes possuem algum tipo de relação anterior.

Buscar a transformação das partes para a solução dos conflitos repercute não
apenas no conflito em debate, mais amplia os laços afetivos, sendo uma boa técni-
ca a ser utilizada na resolução de conflitos familiares.

Um exemplo desse método seria a situação de um casal que pretende se separar, praticar o
Explor

divórcio, sendo que a causa apontada por um dos cônjuges é a total incompatibilidade de
coabitação entre os quais, apontando ser difícil conviver com o outro. Assim, o papel do me-
diador aqui seria visualizar o conflito como um todo, identificando o que pode ser resolvido
por meio de um bom diálogo.
Fazer com que as partes se aproximem e percebam que existem pontos comuns de con-
vivência – e que isto seria um argumento para manter a união – pode servir para estabilizar,
com a mudança de comportamento de uma parte em relação a outra, a transformação de-
sejada, que tende a ampliar a afetividade entre as partes envolvidas. Nesse cenário, pode ser
que o divórcio venha até a ocorrer, mas a relação entre as partes se tornará menos agressiva.

Outra abordagem de mediação é denominada modelo circular-narrativo; trata-


-se de uma mescla dos outros dois já vistos, mas agora levando em questão os
conflitos e, assim, atuando sob duas perspectivas: do conflito e acordo.

Dito de outra forma, por intermédio da reflexão, o acordo deixa de ser o objeti-
vo principal, sendo a consequência do processo como um todo.

Esse método fomenta a reflexão, mudando o significado histórico do conflito, assim,


permite que as partes promovam, por meio do diálogo, a mudança sobre a percepção
das origens do conflito, fazendo
com que se tornem sensíveis a
promover um acordo final.

Ademais, é indicado para


conflitos onde possa existir
grande relação afetiva anterior
aos embates; assim, encaixa-se
bem na solução de questões fa-
miliares, entre sócios ou mes-
mo trabalhistas.

Discorrendo um pouco mais


sobre o mediador, qualquer
que seja a escola ou o méto-
do de solução de conflitos que
Figura 2
Fonte: Pixabay

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UNIDADE A Mediação

utilize – ou que esteja mais alinhado –, deverá empregar sempre métodos de uma
comunicação construtiva.

Uma das técnicas utilizadas pelo mediador quanto à comunicação é a comuni-


cação construtiva, objetivando criar confiança e simpatia entre as partes, com o
intuito de dar uma solução ao conflito.

Podemos dizer que a comunicação construtiva se fundamenta sobre três valores:


• Conotação positiva;
• Escuta ativa;
• Perguntas sem julgamento.

Onde a conotação positiva deve trazer os conflitantes a um ambiente hospitalei-


ro, pois já enfrentarão uma situação difícil, provocada pelo conflito. O que se deve
fazer, então, é produzir formas de aproximação entre o mediador e os conflitantes,
tais como um sorriso, desejo de boas-vindas, expressões que inicialmente sejam
tendentes a “quebrar o gelo” e aproximar as pessoas.

O emprego da conotação positiva produzirá uma significativa perspectiva de


aproximar o mediador e as partes.

A escuta ativa permite que cada parte escute a outra, ou seja, propicia oportunidade
de falar, pois as pessoas que escutam possibilitam que também possam ser escutadas.

Uma escuta ativa não se resume em ouvir simplesmente; permite que o media-
dor formule hipóteses de como solucionar o conflito, mediante o emprego de uma
das técnicas já vistas.

Por fim, perguntar sem julgamentos nos parece a mais difícil das atitudes, até
porque tratamos aqui de seres humanos – que têm dificuldade em não julgar outrem.

Assim, cabe ao mediador não expor as próprias percepções e opiniões pessoais,


o que quebraria qualquer possibilidade de mediação. Desse modo, deve ouvir e se
pronunciar sem promover julgamentos.

Quando o mediador inicia uma sessão, deve primordialmente informar as par-


tes sobre o exato objetivo do encontro, como será desenvolvido, além de procu-
rar acalmá-las, evitando, assim, futuros questionamentos com relação à sessão e
mediação como um todo. Com tal postura, será reconhecido como o condutor de
todo o processo, o que fará com que também seja visto como o coordenador de
toda a sessão.

Outra questão importante na mediação é que cada uma das partes terá opor-
tunidade de se comunicar, devendo, assim, respeitar a palavra da outra, a fim de
que não ocorram sobreposições de diálogos, o que prejudicaria a tomada de um
acordo, afinal, tais atitudes provocam desgastes desnecessários, tornando a oportu-
nidade cansativa e potencialmente colocando fim a todo o processo de mediação,
portanto, inviabilizando o acordo.

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Tipos de Mediação
Como já mencionamos, o mediador não deve promover julgamentos, mas pos-
sibilitar o debate entre as pessoas em conflito, ressaltando que a divergência pode
ser solucionada em relações que envolvem mais de duas pessoas.

Dessa forma, os principais tipos de mediação são os seguintes:


• Facilitadora;
• Avaliativa;
• Narrativa.

A mediação facilitadora segue a aplicação do método de Harvard, de modo que


por esse tipo é possível se chegar à solução do conflito quando as partes e o me-
diador forem municiados de informações sobre os quais.

Ademais, não deve existir qualquer pronunciamento do mediador sobre as con-


sequências jurídicas do conflito.

Além da sessão de abertura, onde as partes podem apresentar as suas posições,


podem ser realizadas sessões individuais com o mediador.

Nesse tipo de mediação as partes discutem a possibilidade de autocomporem


pela transação ou submissão.

Quanto à mediação avaliativa, o mediador


deve buscar a solução do conflito com foco es-
pecífico no resultado.

Para tanto, as partes são prevenidas de que


a melhor alternativa é a autocomposição, pois
a disputa judicial será desgastante; assim, pres-
siona-se as partes a colocarem fim ao conflito
por um acordo, pois a saída judicial não será a
mais aconselhável.

Já a mediação narrativa está associada ao


modelo circular-narrativo que já discutimos, em
que, por intermédio da escuta, emergem as his-
tórias das partes e os motivos que permitiram
que o conflito se instalasse.

Desse modo, permite-se que cada conflitante


exponha a sua história, possibilitando tocar na
sensibilidade afetiva que cada qual possui com re-
lação ao outro. Assim, será acessível dar outro sig-
nificado à divergência, permitindo o seu fim por Figura 3
meio de um acordo que seja positivo às partes. Fonte: Pixabay

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UNIDADE A Mediação

Como pode ser a Mediação


Existem duas espécies de mediação: judicial e extrajudicial.

Na mediação extrajudicial, o mediador deverá ser procurado pelas partes es-


pontaneamente, a fim de que as auxilie na solução do conflito. É necessário ser
firmado um contrato entre as quais, que poderá prever questões aliadas ao objetivo
principal – que é a mediação para a solução do conflito –; poderão ser estabeleci-
das também outras características acessórias, tais como prazo para a conclusão dos
trabalhos, local à realização das sessões de mediação, penalidades em eventual não
comparecimento do mediador etc.

O documento que firma o mencionado “contrato” é comumente denominado


compromisso de mediação que, de modo geral, é um contrato para a prestação de
um serviço específico e, por isso, pode ser reconhecido como um ajuste plurilateral,
pois trata de interesses que envolvem, pelo menos, duas partes – aqui conflitantes – e
o próprio mediador. Esse compromisso também, e obviamente, é oneroso, pois as
partes mantêm um contrato de prestação de serviços remunerados com o mediador.

Contudo, mesmo se tratando um mediador “contratado”, sobre este recaem as


mesmas hipóteses previstas aos magistrados e constantes no Artigo 145 do Código
de Processo Civil:
Art. 145 – Há suspeição do juiz:
I – amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;
II – que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes
ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acer-
ca do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas
do litígio;
III – quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu côn-
juge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro
grau, inclusive;
IV – interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das
partes.
§ 1º – Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem
necessidade de declarar suas razões.
§ 2º – Será ilegítima a alegação de suspeição quando:
I – houver sido provocada por quem a alega;
II – a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta
aceitação do arguido.

Quando firmado o acordo, as partes assumem o compromisso de lhe dar fiel cum-
primento.

Ademais, tal acordo se torna um título executivo extrajudicial, ou seja, se não


cumprido poderá ensejar futura ação judicial que implique no seu cumprimento
coercitivo; entretanto, a parte prejudicada deverá demonstrar a existência da obri-
gação para depois exigi-la.

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Por sua vez, se o acordo firmado na mediação extrajudicial for encaminhado ao
juiz competente para que seja homologado, salvo a existência de alguma ilegalida-
de, tornar-se-á título executivo-judicial.

Assim, nos termos do Artigo 515 do Código de Processo Civil:


Art. 515 – São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de
acordo com os artigos previstos neste Título:
[...]
III – a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer
natureza;

Nessa hipótese não é necessária a comprovação da existência da obrigação em


um processo, denominado conhecimento; pula-se, então, esta etapa, podendo o
não cumprimento da obrigação assumida na mediação ser objeto de ação única –
processo de execução –, sendo que a sentença obrigará o cumprimento imediato
da obrigação.

Ademais, a mediação judicial ocorre quando uma das partes ou ambas procuram
o Poder Judiciário para a solução do conflito – desse modo, existe um juiz compe-
tente para julgar a ação, quem, por imposição da Lei, determinará a realização de
uma sessão de mediação, a qual somente deixará de ocorrer mediante manifesta-
ção expressa de qualquer das partes.

O prazo para a conclusão do procedimento de mediação judicial é de sessenta


dias, enquanto que o chamamento para a audiência será realizado pelo juiz que for
designado ao processo.

Havendo acordo, o mesmo será reduzido a termo – formalizado – e encami-


nhado ao juiz do processo que, não vislumbrando qualquer irregularidade legal,
homologará, tornando-o um título executivo-judicial.

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UNIDADE A Mediação

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Portal do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
Conciliação e mediação
https://goo.gl/PPn19e

Vídeos
Juiz da Califórnia, Estados Unidos, explica o uso da mediação judicial
https://youtu.be/u582HoxIChk
Advogada discorre sobre a mediação judicial em casos de divórcio
https://goo.gl/a5iHP7

Leitura
Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015
Código de Processo Civil brasileiro
https://goo.gl/jBJQ4V
Mediadores obtêm acordos em 90% das sessões em Centro de Referência
https://goo.gl/qVYEyu

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Referências
ANDRÉ NETO, A. et al. Negociação e administração de conflitos. 3. ed. São
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