Você está na página 1de 7

DIMENSÕES DA CULTURA AFRO EM PORTO VELHO:

O ESTUDO DA CULTURA AFRO CARIBENHA E AS


UMBANDAS.

LACERDA, Laíze Regis 1

RESUMO:

Este artigo discute os elementos presentes da cultura afros em Porto Velho,


evidenciando sob o debate da cultura afro caribenha e as umbandas. Para
tanto o artigo tem o objetivo de analisar os processos de visibilidade e
invisibilidade social desses grupos não hegemônicos presentes na sociedade.
Para alcançarmos o objetivo acima elencado, utilizaremos bases de artigos
científicos como BLACKMAN (2015), VALERIA (2015), do ponto de vista
metodológico se constitui como pesquisa analítica. Concluímos, ressaltando o
estudo como elemento importante para que a cultura afro em Porto Velho seja
reconhecida e assim romper os estigmas e a marginalização, e quebrar
qualquer tipo de estereótipo criado pelos indivíduos.

Palavras-chave: Cultura, Processos de visibilidade, Caribenha e Umbandas.

Abstract

This article discusses the present elements of Afro culture in Porto Velho, evidencing
under the debate of Afro - Caribbean culture and umbandas. For this, the article aims
to analyze the processes of visibility and social invisibility of these non-hegemonic
groups present in society. In order to reach the above mentioned objective, we will use
scientific article bases as (to put the main names of the authors of the article), from the
methodological point of view constitutes as analytical research. We conclude,
emphasizing the study as an important element for the Afra culture in Porto Velho to be
recognized and thus break the stigmas and marginalization, and break any type of
stereotype created or created by individuals.

Keywords: Culture, Visibility Processes, Caribbean and Umbandas.

1
Graduanda do curso de ciências sociais da Fundação Universidade Federal de Rondônia –
RO, email:
2

INTRODUÇÃO

O trabalho discute parte da cultura afro caribenha e as umbandas, e


como influenciaram na sociedade de Porto Velho. Os caribenhos conhecidos
como barbadianos e os negros nordestinos vieram ao mesmo tempo para Porto
Velho no inicio do século XX, em decorrência da oferta de trabalho na Estrada
de ferro Madeira Mamoré. De acordo com BLACKMAN “a chegada dos
imigrantes antilhanos serviu de base social para o surgimento da nascente
Porto Velho, assim sendo, configurou-se uma categoria importante no processo
inicial de formação da referida cidade”. (BLACKMAN, 2010, p.66)

Esse acontecimento gerou mudanças na cultura local, pelo viés de eles


serem negros letrados e com formação profissional, diferentes de outros
negros que ali viviam. Segundo Leal:

Alguns desses migrantes barbadianos praticavam uma


ritualista chamada pelos antigos moradores, de mandiga e, a
partir deste, é que darão forma e origem aos primeiros cultos
na região, sincretizado como pajelança e, além de ser
fortemente influenciado pelo ambiente místico da floresta,
unificado com as práticas africanas presentes no tambor de
mina. (LEAL, 2013, p 5).

A partir disso surgiram os primeiros terreiros de umbanda, houve vários


processos no contexto sócio histórico, e as umbandas encontraram um modo
de preservar sua cultura, pois naquela época viviam no cenário de
perseguições e estigmas, e assim eles recriaram sua cultura e suas práticas.

O reconhecimento dos negros caribenhos que atuaram na cidade de


Porto Velho deveria ser iniciado nas escolas com o estudo sobre a verdadeira
história desse estado, para que futuramente as pessoas possam valorizar e
preservar a memória dos moradores mais antigos de Porto Velho. A partir das
revisões bibliográfica e evidente a escassez de documentos, por isso tem a
necessidade de se legitimar as fontes orais a partir do processo de
reconstrução de memoria desses grupos não hegemônicos. O estudo desses
grupos além de seu valor cultural permite sua visibilidade e o registro dos
valores culturais ligadas ao negro, perante a sociedade.
3

A CULTURA AFRO CARIBENHA E AS UMBANDAS EM PORTO VELHO.

Os caribenhos são povos do caribe, de origem africana, a partir do


século XX com a construção da estrada de ferro madeira Mamoré, inicia o auge
da formação cultural, politica e econômica da cidade de Porto Velho. Nesse
período vieram vários trabalhadores de diversas nacionalidades, Dentre os
imigrantes de trabalhadores estavam os afro-caribenhos que ficaram
conhecidos como “barbadianos”, receberam esse nome devido a todos terem
passado pelo porto de barbados, mas pertenciam a diversas ilhas do Caribe.
De acordo com Ferreira:

Construção da ferrovia trouxeram das Antilhas, algumas


centenas deles, oriundos de Trinidad, Martinica, Granada, São
Vicente, Guianas, Jamaica, Barbados, etc., e aqui, na grande
Babel reinante foram apelidados de Barbadianos (FERREIRA,
1969, p.47).

Os barbadianos representaram um grupo diferente, causando


estranhamento por parte de todos os outros negros e aos moradores da cidade
de Porto Velho. Segundo as considerações de CLARA2 (ANO, apud SAMPAIO,
2010, p. 38)

Naqueles negros havia um ar de superioridade maior do que a


dos ingleses e norte americanos que por aqui tinham passado
ou viviam”. (...) Os barbadianos, na verdade, sofrem
preconceitos de todos os lados, pois os demais estrangeiros
brancos, e com uma posição mais privilegiada na companhia
ferroviária, tendem a tratar com distância os negros, por
considera-los trabalhadores menos qualificados; e os nativos
por sua vez se ressentem do grau de escolarização, da estreita
ligação de uma parte do grupo com o alto escalão da
administração, de falarem um idioma desconhecido por eles,
da postura altiva, da elegância com que se vestiam, pois
mesmo sob o calor rigoroso característico da Amazônia eles
trabalhavam de terno ou de calça e camisa de linho, além do
chapéu (Sampaio, 2010, p 38).

Portanto, os afro-caribenhos já alfabetizado, deram a eles certo privilegio


em relação aos outros trabalhadores na construção da estrada de ferro
madeira Mamoré, pois nessa época os negros já eram estigmatizados em
nosso país. Mesmo com essas dificuldades eles estavam à frente desse
contexto e aproveitaram para afirmar sua cultura e suas influencias para a

2
CLARA, Rita Viera da Silva. Mulher Barbadiana: Um modelo educacional.
4

sociedade regional. Tiveram o direito de trazer suas famílias, e bom salientar


que conforme Hugo Ferreira (1969) somente a eles foi permitido trazerem suas
famílias.

A construção do “Barbadian Town” foi de grande importância para os


afro-caribenhos para manter seus espaços de convivências, troca de
informações e sua cultura, para assim superar as barreiras de uma época
marcada pelos valores hegemônicos. Segundo BLACKMAN3 (ANO apud
NOGUEIRA, 1913, p. 20)

Esse fenômeno atípico para o período funcionou como fator


primordial, para localizarem-se juntamente com as esposas,
parentes e outros negros imigrantes antilhanos no aglomerado
de casas constituído um bairro em porto Velho. Este
significativo conjunto de casas recebeu o nome de Barbadian
Town que era um pequeno grupo de habitações (NOGUEIRA,
1913, p.20)

Deram a designação de “Alto do Bode, houve varias explicações do por


que do nome, uma delas tinha certo tipo de preconceito. No entanto criaram
nesse espaço, troca de informações, contribuíram para o processo educacional
de Porto Velho, e contribuíram para formação de duas igrejas, a igreja batista e
a igreja assembleia de Deus, a maioria dos afro –caribenhos tinham uma forte
ligação com a religião protestantismo.

As igrejas protestantes assentaram suas base em Porto Velho,


praticamente ao tempo da construção da ferrovia devido ao
fato de os barbadianos, o maior contingente que resistiu ao
embates das endemias, pertencerem a essa religião.
(BLACKAN apud MENEZES, 2001, p.249)

A partir da entrevista podemos observar a importância do espaço para esses


afro-caribenhos.

Segundo entrevista concedida por Aurélia Banfield e Elton


Blackman, (1980), afirma que provavelmente durante o ano de
1910 até 1943, as diversões praticadas no Barbadian Town,
eram as mais diversificadas possíveis já que aconteciam em
um barracão, construído especificamente para a realização de
atividades culturais, organizadas pelos/ as negros/as
imigrantes antilhanos/as, ferroviários/as ou não pertencentes
ao quadro de trabalhadores efetivos da madeira Mamoré. Entre
estas atividades socioculturais que ocorriam no Barbadian

3
BLACKAN, Cleudenice. Dissertação: Do mar do Caribe à beira do Madeira: A
comunidade antilhana de Porto velho.
5

Town estão as festas, danças, musicas, jogos, os cultos, o


cinema, a educação e o comércio. (BLACKMAN, 2015).

A memoria dos caribenhos não tem sido representada como devia. Ao


começar pela derrubada do Barbadian town, as famílias que lá viviam foram
deslocadas para outros bairros da cidade, provocando uma ruptura até hoje
sentida pelos descendentes destas pessoas.

RELIGIÃO AFRO BRASILEIRA (UMBANDA)

A religião de matriz africana se instala em Porto Velho, ao mesmo tempo


da construção da estrada de ferro madeira Mamoré. E a imigração de diversas
pessoas que traziam suas influencias religiosas e seus costumes. Entre os
caribenhos que na maioria eram protestantes, estavam inseridos negros que
não eram barbadianos e praticantes de outra forma de religião.

Em Porto velho, a “Macumba’’, compreendido o termo em sua


acepção popular, surgiu com a criação da cidade que, por sua
vez surgiu com a criação da Estrada de ferro madeira Mamoré.
A migração heterogênea trouxe para a região os mais
diversificados tipos de pessoas, de variadas culturas e
regiões.( MENEZES apud TEXEIRA, 1994, p.49)

Destacando a instalação da religião de matriz africana, um dos primeiros


fundadores foi um trabalhador barbadiano, conhecido como alcunha de
Benedito. E a partir dai houve várias transformações e incentivo pra que novas
casas sejam abertas. Um dos terreiros que ganharam destaque foi o terreiro de
Santa Barbara erguido junto ao cemitério dos inocentes, no bairro mocambo, a
3 de dezembro de 1917 .

As casas que praticavam o tambor de mina, ou outra forma de culto


incluía práticas indígenas, passam a ser intituladas de terreiro de umbanda. As
contribuições dessas pessoas foram importantes para a formação da
sociedade e conseguiram conquistar seu espaço religioso, não desistindo de
suas origens. As umbandas encontram um modo de preservar seus valores
religiosos até os dias de hoje.
6

A IMPORTÂNCIA DOS RELATOS ORAIS PARA A RECONSTRUÇÃO DA


MEMORIA

Os estudos analisados deram a importância para os relatos orais para a


reconstrução da memoria desses grupos, a oralidade nos permite reconstruir
comportamentos, historias vivenciados, valores sociais, religiosos e entre
outros. E uma ligação do passado para o presente, e que não podem ser
esquecidas. Portanto as histórias orais são importantes como método de
pesquisa e são para a conservação das tradições de um povo.

A história oral pode certamente ser um meio de transformar


tanto o conteúdo quanto a finalidade da história. Pode ser
utilizada para alterar o enfoque da própria história e revelar
novos campos de investigação, pode derrubar barreiras que
existam entre professores e alunos, entre ligações entre
instituições educacionais e o mundo exterior, e na produção da
história seja em livros, museus, rádio ou cinema pode devolver
ás pessoas que fizeram e vivenciaram a história um lugar
fundamental, mediante suas próprias palavras.(LEAL apud
THOMPSON, 2000, p. 22)

As informações de fontes escritas e as de relatos orais se


complementam e ambas tem credibilidade, nenhuma se torna inferior a outra,
no entanto devemos quebrar as barreiras que as vezes e imposta a história
oficial dos grupos hegemônicos, não dando lugar aos outro grupos.

A memoria e a oralidade vêm ganhando destaque para ser um


instrumento que mostra o conhecimento das múltiplas vivências e histórias que
foram marginalizadas pela história oficia. Através das manifestações como
danças, samba, e religião, conseguimos ver seu significado.

Ao longo de toda história humana, o relato oral sempre se


constitui como a fonte primordial de todo saber sendo, portanto,
a principal fonte de informações para o desenvolvimento das
ciências em geral. Desconsiderar esta realidade pode nos levar
a negar que o relato oral esta na base de toda obtenção de
saber, e a escrita, destarte toda sua importância quando foi
inventada não foi mais do que uma nova cristalização do relato
oral, não podendo assim, seu valor ser posto de forma absoluta
enquanto fonte para os estudos em Ciências Sociais” (LUIZ
apud FONSECA, 2000, p.12-13)

Há historiadores que não reconhecem os relatos orais, pelo fato de as


transformações do presente modificar o passado, no entanto a importância dos
7

relatos orais e apenas o começo de muitas mudanças para o estudo de


pesquisa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluímos tendo em vista os elementos relevantes na história e


influências desses grupos na história de Porto Velho. Abordamos parte da
cultura afro caribenha e sobre como se instalou a umbanda, vimos que esses
grupos tem seu patrimônio histórico cultural invisíveis perante a sociedade, a
história regional não da visibilidade para essas populações negras, portanto
quando os pesquisadores utilizam as histórias orais eles vão pelo outro viés
da história. Todos os personagens aqui tratados viveram através de estigmas
daquela época, mesmo assim eles se fortaleceram através de sua cultura para
não deixarem seu legado morrer. O que podemos fazer e compreender e
resgatar essas memorias para que possamos conhecer o passado e assim
tentar preencher as lacunas.

REFERÊNCIAS

BLACKMAN, Cledenice. Do Mar do Caribe à Beira do Madeira: A


comunidade antilhana de Porto Velho . 2015. 121 f. Dissertação (Mestrado
em História e Estudos Culturais) – Fundação Universidade Federal de
Rondônia, UNIR, 2015.
CLARA, Rita Viera da Silva. Mulher Barbadiana: Um modelo educacional.
Título do subprojeto de pesquisa do programa institucional de bolsas para
iniciação – PIBIC/ 2011 – 2012.
LEAL, Luciano da Costa Lima. Revista Veredas Amazônica. Nov-nº 01, vol 1,
2011.
LIMA, Elisangela de Carvalho Schuindt. A diáspora barbadiana e o legado
educacional em Porto Velho. 2016. 77 f. Dissertação (Mestrado em Letras) -
Fundação Universidade Federal de Rondônia, UNIR, 2016.
LUÍZ, Sergio de Souza. (Re)vivências Negras: Entre batuques, bailados e
devoções – Práticas culturas e território negros em Ribeirão Preto (1910 –
1950). 2005. 229 f. [s.l].
VALÉRIA, Marta. A umbanda de Rondônia. XXVIII Simpósio nacional de
História. Edição 2015.

Você também pode gostar