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RESUMOS DE ROMANCES ROMÂNTICOS

A MORENINHA - de Joaquim Manuel de Macedo

Tema: fidelidade de um amor de infância.

Augusto e Carolina, personagens centrais do romance, são volúveis e inconstantes em seus sentimentos.
Augusto é estudante de Medicina no Rio de Janeiro, onde tem alguns colegas como Filipe, irmão de Carolina,
Leopoldo e Fabrício. Carolina vive com a avó D. Ana. Joaninha, Quiquinha, Clementina e Gabriela são primas e
amigas de Carolina. Quando, juntamente com os colegas de faculdade de Medicina, Augusto chega a Paquetá e
se encontra com Carolina, começam a aparecer algumas mudanças nas atitudes e sentimentos de ambos.

Essa transformação e o sólido amor que nasceu entre eles são explicados posteriormente ao chegarem à
certeza de que sua união já estava programada há muito tempo, por eles próprios. Na verdade, eles se haviam
conhecido, ainda crianças, numa praia, e prometeram-se mutuamente em casamento assim que chegassem à
maioridade. Depois daquele encontro, nunca mais haviam se encontrado, esperança do reencontro e do
cumprimento da promessa fizera com que não se ligassem seriamente a ninguém.

Com o casamento de Carolina e Augusto, este é obrigado a escrever um romance intitulado "A
Moreninha" (apelido de Carolina ), para pagar uma aposta perdida para Felipe: Augusto apostara que nunca iria
se apaixonar por ninguém naquelas férias. "O clima deste romance é o da despreocupação alegre da juventude
que, em meio à garridice dos passeios e dos namoricos, vai vivendo as horas e os dias fugazes "que não voltam
mais". Tendo como cenário o Rio de Janeiro e uma de suas ilhas, criou Macedo um dos tipos mais queridos do
romance brasileiro, a personagem feminina mais cativante da nossa Literatura. Por apelido Moreninha, de nome
Carolina, ela há muito tempo se tornou o símbolo dos amores juvenis.

A Moreninha era o tipo perfeito de adolescente do século passado, entre 14 e 15 anos. Pertencia à
pequena burguesia fluminense em pleno florescimento. Alegre, saltitante, brejeira e traquinas, nada levava
definitivamente a sério, brincava com as pessoas e os sentimentos, enquanto esperava o seu eleito. Ela aparece
no romance em meio a outras mocinhas e senhoras, numa festa "na ilha de ..." ( o autor não diz qual á a ilha ), e
é descrita como um beija-flor no salão, sentando-se e levantando-se a cada momento, ora desfolhando um lindo
pendão de rosas, ora derramando água-de-colônia no chapéu de um convidado, ora beliscando o seu irmão Filipe
ou fazendo caretas para um amigo deste.

A princípio, o estudante Augusto, que iria a ser seu o amado, acha-a estouvada, caprichosa e até feia. Na
opinião de uma senhora, ela era "travessa como um beija-flor, inocente como uma boneca, faceira como o pavão,
e curiosa ... como uma mulher". Era assim a Moreninha, tal como descreve Macedo, e assim ela ficou célebre e
ganhou vida e tradição."
O MOÇO LOIRO de Joaquim Manuel de Macedo

Personagens:

Honorina: romântica, linda e ingênua. Devido à educação rígida que recebera da avó, começou tarde a
frequentar a sociedade. Moço Loiro: personagem misterioso, onipresente, onisciente.

Lauro: acusado de ter roubado uma relíquia da família Mendonça, é expulso de casa e promete voltar
para provar a sua inocência.

Raquel: amiga de Honorina, educada com liberalismo, descrente do amor até que se apaixona pelo Moço
Loiro.

Hugo de Mendonça: pai de Honorina, pessoa rica que se vê às voltas com a falência, mas nem por isso
influi na felicidade da filha.

Félix: contador de Hugo, verdadeiro ladrão da jóia.

Otávio: rapaz rico que, para obter a mão de Honorina, apela para a chantagem.

Resumo da Obra:

Lauro é expulso da casa de seu tio Hugo, acusado de ter roubado a cruz da família. Lauro se vai e promete
voltar para descobrir o verdadeiro ladrão. Depois de algum tempo, Honorina começa a receber cartas de um
apaixonado. Este rapaz aparece a Honorina nas situações mais desconcertantes. Às vezes, o Moço Loiro ( como
ela o chamava ) aparece cantando, outras apenas a observá-la e certa vez chegou a salvá-la de morrer afogada.
Honorina foi se interessando por ele e acabou se apaixonando pelo Moço Loiro. O Moço Loiro descobre ainda que
Félix, filho adotivo dos Mendonça, é o verdadeiro ladrão, e, disfarçado de velho, convence-o a revelar a verdade
e a desmascarar Otávia, que forçava o pai de Honorina a permitir seu casamento com ele, ameaçando-o com uns
títulos falsos. Honorina, que já pensava em aceitar o casamento com Otávio para livrar o pai da falência, recebe
uma carta de Lauro, que fizera fortuna, pedindo-a em casamento. Recebe também uma carta do Moço Loiro que,
despedindo-se dela definitivamente, aconselha-a a aceitar a proposta de Lauro. Félix confessa ser o autor do
roubo e desmascara Otávio.

De retorno, Lauro é recebido calorosamente e Honorina tem uma grande surpresa: Lauro e o Moço Loiro
são a mesma pessoa.
MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS de Manuel Antônio de Almeida

Por ser originariamente um folhetim, publicado semanalmente, o enredo necessitava prender a atenção
do leitor, com capítulos curtos e até certo ponto independentes, em geral contendo um episódio completo. A
trama, por isso, é complexa, formada de histórias que se sucedem e nem sempre se relacionam por causa e efeito.

“Filho de uma pisadela e de um beliscão” (referência à maneira como seus pais flertaram, ao se conhecer
no navio que os conduz de Portugal ao Brasil), o pequeno Leonardo é uma criança intratável, que parece prever
as dificuldades que irá enfrentar. E não são poucas: abandonado pela mãe, que foge para Portugal com um capitão
de navio, é igualmente abandonado pelo pai, mas encontra no padrinho seu protetor. Esse é dono de uma
barbearia e tem guardada boa soma em dinheiro.

Enquanto o pequeno Leonardo apronta as suas diabruras pela vizinhança, seu pai, Leonardo Pataca, se
envolve amorosamente com a Cigana, mas essa o abandona logo. Ele, então, recorre à feitiçaria (proibida naquela
época) para tentar trazê-la de volta. Porém, no auge da cerimônia o major Vidigal e seus homens invadem a casa
do feiticeiro, açoitam os praticantes e levam Leonardo Pataca preso. Ele pede socorro à Comadre, que pede ajuda
a um Tenente-Coronel que se considerava em dívida com a família de Pataca, e ele logo é solto.

Já o Compadre (ou padrinho) que cuidava do menino Leonardo havia aprendido o ofício de barbeiro com
o homem que o criara. Foi para a África como médico em um navio negreiro e, durante a volta, o capitão em seu
leito de morte lhe confiou um baú de dinheiro para que o entregasse a sua filha. Ele, porém, ficou com o dinheiro.
Após isso aparenta ter se tornado um homem de bem e cria o Leonardo como se fosse um filho, sonhando em
torna-lo padre. O menino, porém, causa transtornos por qualquer lugar onde passa e, após levar uma enorme
bronca do padre da cidade, jura vingança.

O padre era um homem que aparentava ser santo, mas na realidade era um lascivo e fora ele quem
roubara a Cigana de Leonardo Pataca. Como o padre passava boa parte de seu tempo na casa dela, um dia o
menino Leonardo resolve armar uma emboscada para desmascará-lo. Ele vai até a casa da Cigana para informar
o horário de uma festa, mas ele mente o horário para que o padre chegue atrasado. Quando por fim chegou à
igreja, o padre repreende ao menino perguntando-lhe qual era a hora certa do sermão. Leonardo, então, diz que
falou o horário correto e que a Cigana estava de prova, pois ouviu tudo. Sem saber o que fazer frente ao choque
de todos, ele dispensa o menino.

Leonardo Pataca, ao saber que havia sido trocado pelo padre, resolve tentar conquistar Cigana
novamente. Ela, porém, não dá bola para ele. Para se vingar, ele contrata um amigo para causar uma confusão
em uma festa que ela iria promover em sua casa. No momento da bagunça Vidigal, que já havia sido avisado por
Pataca, aparece e prende o padre em flagrante, somente de cueca, meia, sapato e gorrinho na cabeça. Com isso,
Leonardo Pataca consegue ficar mais um tempo com a Cigana.

O Compadre passou a frequentar a casa de D. Maria, uma rica mulher com gosto pelo Direito, sempre
acompanhado do afilhado Leonardo. Com o tempo o menino foi sossegando, até que chegou a idade dos amores.
Luisinha, uma menina descrita como feia e que era filha do recém-falecido irmão de D. Maria, foi morar com a tia.
No dia da festa do Espírito Santo foram todos ver a queima de fogos. A menina se divertiu, abraçou Leonardo
pelas costas e no final os dois voltaram de mãos dadas. Após isso, porém, Luisinha voltou a ficar tímida.

Um dia entra em cena José Manuel, homem mais velho que fica interessado em Lusinha por conta da
herança que ela havia recebido do pai e que iria receber de D. Maria, já que ela era a única herdeira. O Compadre,
percebendo os interesses de José Manuel, se junta à Comadre para tentar espantar o interesseiro. Enquanto isso,
Leonardo tenta conquistar Luisinha, mas ele acaba saindo muito sem jeito e acaba espantando-a. Porém, fica claro
que Luisinha também gosta de Leonardo. Para tentar afastar José Miguel, a Comadre inventa uma série de
mentiras, que logo são descobertas. Então, D. Maria, ao invés de expulsar José, acaba se afastando da Comadre,
agora desacreditada.

Enquanto isso, novamente traído pela Cigana, Leonardo Pataca junta-se com a filha da Comadre e têm
um filho juntos. Pouco depois o Comadre morre e Leonardo vai morar junto com o pai. Porém, ele e sua madrasta
não conseguem se entender e, após muitas brigas, ele foge de casa. Afastado de todos, Leonardo conhece um
grupo que estava fazendo piquenique e reconhece dentre eles um amigo seu de infância.

Leonardo passa a morar junto com eles na Rua da Vala. Lá vivem duas quarentonas viúvas e seus seis
filhos, sendo que uma tinha três rapazes e outra três moças. Vidinha era a mais bonita e era disputada por dois
primos. Porém, ela acaba se enamorando com Leonardo e os dois passam o dia namorando dentro de casa, o que
desperta ciúmes dos outros rapazes. Esses, por sua vez, vão falar para Vidigal que Leonardo está vivendo como
intruso na casa e tirando proveito das mulheres. Num dia, Vidigal aparece e leva Leonardo preso, mas esse
consegue fugir.

A Comadre arruma um emprego para Leonardo na ucharia real, mas ele se envolve com a esposa do
patrão e acaba despedido. Vidinha vai até a casa de Toma Largura, ex-patrão de Leonardo, para brigar com ele e
com sua esposa. Enquanto isso, Vidigal consegue prender Leonardo. Acontece que Toma Largura ficou encantado
com Vidinha e começa a cerca-la de todas as formas. A moça, encarando a ausência de Leonardo como
consequência das últimas brigas, resolve ceder à insistência de Toma Largura.

Obrigado pela polícia, Leonardo começa a servir ao exército. Depois de um tempo, Vidigal o coloca no
batalhão de granadeiros para combater os malandros do Rio. Porém, ao contrário do que ele pensava, Leonardo
continua aprontando dentro do próprio batalhão de polícia. Na última delas, Vidigal planejava prender um homem
que fazia imitações suas para animar festas. Mas Leonardo acaba se divertindo com as graças do imitador e o
avisa das intenções de Vidigal. Quando o major descobre a traição de Leonardo, prende o moço sob juramento
de algumas chibatadas.

A Comadre fica sabendo disso e vai pedir ajuda à D. Maria e à Maria Regalada, antiga amante de Vidigal.
Elas vão até a casa do major, que as recebe com roupa civil da cintura para baixo e farda da cintura para cima.
Não conseguindo resistir aos pedidos das três mulheres, Vidigal perdoa Leonardo e ainda promete promove-lo à
sargento do exército. Enquanto tudo isso acontecia, Luisinha estava casada com José Manuel, que a tratava mal
e só se preocupava com o dinheiro da moça. D. Maria resolve preparar uma ação judicial contra o homem, mas
ele acaba morrendo vítima de um ataque apopléctico (parecido com um derrame). Após o enterro de José
Manuel, preparam tudo para o casamento de Luisinha, agora uma mulher feita e bonita, com Leonardo, bonito e
muito elegante em sua farda de sargento do exército. Algum tempo depois, D. Maria e Leonardo Pataca também
morrem e, junto com as outras heranças que já tinham, receberam mais duas.

Lista de personagens

Leonardo: protagonista que garante unidade à narrativa. O sargento de milícias a que se refere o título
da obra é Leonardo, embora o personagem obtenha esse cargo somente nas últimas páginas do livro. Leonardo
Pataca: pai de Leonardo, um meirinho (oficial de Justiça) que fora vendedor de roupas em Lisboa e, durante sua
viagem ao Brasil, conhece Maria das Hortaliças, o que resultará no nascimento de Leonardo.

Maria das Hortaliças: mãe de Leonardo, uma saloia (camponesa) muito namoradeira, que abandona o
filho para ficar com outro homem.

O Compadre ou O Padrinho: é dono de uma barbearia e toma a guarda de Leonardo após os pais
abandonarem a criança. Torna-se um segundo pai para ele.

A Comadre ou A Madrinha: mulher gorda e bonachona, apresentada como ingênua, frequentadora


assídua de missas e festas religiosas.

Major Vidigal: homem alto, não muito gordo, com ares de moleirão. Apesar do aspecto pachorrento, era
quem impunha a lei de modo enérgico e centralizado.

Dona Maria: mulher idosa e muito gorda, não era bonita, mas tinha aspecto bem-cuidado. Era rica e
devotada aos pobres. Tinha, contudo, o vício das demandas (disputas judiciais).

Luisinha: sobrinha de dona Maria. Seu aspecto, inicialmente sem graça, se transforma gradualmente, até
se tornar uma rapariga encantadora.

Vidinha: mulata de 18 a 20 anos, muito bonita, que atrai as atenções de Leonardo.

Sobre Manuel Antônio de Almeida: Manuel Antônio de Almeida nasceu em 17 de novembro de 1830 na
cidade do Rio de Janeiro. Enquanto fazia a Faculdade de Medicina começou a carreira de jornalista levado por
dificuldades financeiras. Formou-se em 1855, mas nunca chegou a exercer a profissão de médico.

Durante 1852 e 1853 publicou anonimamente (assinava como “um Brasileiro”) os folhetins que dariam
origem ao livro Memórias de um Sargento de Milícias (1854-55). Na terceira edição, que saiu postumamente em
1863, o nome verdadeiro do autor passou a constar na obra. Ainda durante essa mesma época, publicou uma
peça, alguns poemas, um libreto de ópera e escreveu sua tese de Doutorado em Medicina.

Em 1858 foi nomeado Administrador da Tipografia Nacional, onde conheceu Machado de Assis. Em 1859
é nomeado 2º Oficial da Secretaria da Fazenda e, no dia 28 de novembro de 1861, acaba falecendo no naufrágio
do navio Hermes.

Seu único livro é “Memórias de um Sargento de Milícias” (1852), mas publicou também diversos contos,
crônicas, poesias e ensaios. Além disso, escreveu uma peça teatral chamada “Dois Amores” (1961).

IRACEMA de José de Alencar

Publicado em 1865, o romance é conhecido como a "lenda do Ceará" para explicar poeticamente as
origens da sua terra natal, o Ceará, registrando todo o seu amor, o seu carinho que há tantos anos não via.
Iracema, a "virgem dos lábios de mel", pertence à tribo Tabajara, filha de Araquém, pajé da tribo que dominava o
interior do Ceará, especialmente a Serra de Ibiapaba. Seu nome significava em guarani "lábios de mel". Sua função
como filha do pajé, era guardar o segredo da Jurema, como "virgem de Tupã", função sagrada, e por isso não
poderia amar um homem. Aquele que a possuísse morreria.

A descrição que o autor fez da linda indígena é a mais bela em língua portuguesa, pois nenhuma mulher
jamais recebeu tantos elogios e tropos poéticos de exaltação, espalhados por todo o livro. Ela era "a virgem dos
lábios de mel", que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O
favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado".

Sua aparição se faz quando, no banho, ela repousava em um claro da floresta e despreocupadamente
enxugava ao sol seu corpo perfumado, enquanto pássaros cantavam nas árvores e com ela entoavam alegremente
trinados festivos. Neste ambiente maravilhoso, em plena mata cearense, quando lá ainda dominavam os índios
em fortes nações, desenvolve-se a lenda que Alencar transpôs para a literatura.

A história de Iracema é muito triste, e essa tristeza só é amenizada, e não se torna melodramática, pelo
seu estilo poético que atinge o maravilhoso. Nela surge o guerreiro branco Martim, que tendo saído à caça com
seu amigo Poti, da nação dos potiguaras, perdera-se nas florestas, indo dar ao campo dos tabajaras, onde Iracema
o encontra e leva à cabana de seu pai. Araquém, pajé da tribo. A hospitalidade é franca, gozando Martim de todas
as regalias, e fica à espera de Caubi, irmão de Iracema, que o levará de volta às terras potiguaras. Iracema
apaixona-se por ele e Irapuã, grande guerreiro tabajara, enciumado, quer matá-lo, e mais de uma vez o tenta.
Mas Iracema evita os embates, salvando o seu amado. Não podendo, pelas leis da tribo, amar um homem, pois
era "a virgem de Tupã", ela se entrega ao guerreiro branco e com ele foge, abandonando seu povo. Leva-o até a
região dos potiguaras, onde encontram Poti, o amigo e irmão de Martim. Desde então as desgraças se abatem
sobre ela. Seus irmãos empreendem uma guerra de vingança, tendo à frente Irapuã, e saem perseguindo fugitivos.
Por causa dela travou-se um combate entre as duas nações, os tabajaras e os potiguaras, no qual o seu povo foi
vencido e fugiu, deixando o campo cheio de cadáveres. Ela se sentiu muito triste, com remorso por ter sido a
causa daquela desgraça, e teve saudade de sua terra, de seu pai, de seu povo, sem no entanto arrefecer o amor
por Martim, que compensava todos os sacrifícios. Nasceu-lhes um filho a quem chamaram de Moacir, o filho "filho
da dor".

Mas o guerreiro branco também sentia saudade de sua pátria distante, e passava longas temporadas
longe dela, caçando e em demoradas jornadas pelas selvas. Iracema definhava de tristeza, saudade e abandono.
O leite materno lhe murchou os seios e já nem dava para alimentar o filho. Num de seus regressos, Martim a
encontrou quase desfalecida à porta da cabana, e viu então "como a dor tinha consumido o seu belo corpo, mas
a formosura ainda morava nela, como o perfume na flor caída do manacá". Disse-lhe ela: "Recebe o filho do teu
sangue. Era tempo: meus seios ingratos já não tinham alimento para dar-lhe!". E logo depois pediu-lhe: "Enterra
o corpo de tua esposa ao pé do coqueiro que tu amavas. Quando o vento do mar soprar nas folhas, Iracema
pensará que é tua voz que fala entre os seus cabelos".

Martim assim o fez e levou o filho para longe do Ceará. Anos depois voltou trazendo sacerdotes e a cruz
de Cristo para implantar ali a religião. Seu amigo Poti foi batizado com o nome de Antônio Filipe Camarão.
Voltando ao sítio onde viveu com Iracema, reviu emocionado "as verdes folhas a cuja sombra dormia a formosa
tabajara".
O GUARANI de José de Alencar

D. Antônio de Mariz, fidalgo português da cidade do Rio de Janeiro, homem de valor, experimentado na
guerra, retirou-se do serviço ao ser aclamado no Brasil D. Felipe II e foi estabelecer-se na sesmaria que lhe
concedera Mem de Sá. Sua casa, às margens do rio Paquequer, foi construída com todo luxo e conforto. Vivia
rodeado da família e dos companheiros que considerava seus amigos. Sua família era composta por sua mulher
D. Lauriana, o filho D. Diogo de Mariz, a filha Cecília e Isabel, sua sobrinha.

Uma bandeira sob o comando de Álvaro de Sá voltava do Rio de Janeiro a toda pressa, tendo no caminho
encontrado um índio jovem, que sozinho enfrentava uma onça. O índio recusava auxílio, fazendo com que eles
seguissem viagem e capturando a onça viva. Nos jardins da casa do Paquequer, Cecília sonhava acordada quando
foi despertada por Isabel e puseram-se a conversar ao tempo em que os cavaleiros chegavam a casa. D. Antônio
de Mariz contava a Aires Gomes, seu fiel escudeiro, seu desagrado pelo crime prometido por seu filho, matando
uma jovem índia numa caçada, provocando a ira do povo dela, dizendo ainda que pretendia desterrá-lo para
Salvador. Nesse momento chegam Álvaro e seus companheiros.

Cortejada por Álvaro, Cecília recusa um presente dele. Depois da ceia, já em seu quarto, localizado num
lugar inacessível da casa, Cecília é observada por três homens: Álvaro, que a amava, Loredano, o italiano seu
inimigo, que a desejava, e Peri, que a adorava. Enquanto isso, Isabel, noutro lado, amargurava seu amor não
correspondido por Álvaro. Noutro dia, Cecília dirige-se com Isabel ao rio para tomarem banho, quando Peri mata
dois aimorés que espreitavam para matar Cecília, perseguindo ainda a moça que acompanhava os índios.

Isso se passa em 1604. Um ano antes, Frei Ângelo di Luca ouvira a confissão de Fernão Aires, que
agonizava, e soube da existência de um segredo roubado por um tal Robério, em quem o moribundo havia
confiado. Logo após a morte de Fernão Aires, Frei Ângelo despistara Nunes, amigo do morto, dizendo que iria
fazer a reparação de um crime. No entanto, acompanhado de um índio, que depois mataria para conservar o
segredo, partiu transformado no aventureiro Loredano.

Peri, filho de Araré, primeiro de sua tribo goitacás, ao salvar a vida de Cecília tornou-se seu amigo e voltou
diversas vezes à casa de D. Antônio de Mariz, em diversas ocasiões. Loredano, abusando da confiança de D.
Antônio, pediu guarida com o intento de apoderar-se de Cecília, encontrar as minas de prata e voltar à Europa
rico e poderoso.

Peri, atendendo a um capricho de Cecília, renega seu povo e fica inteiramente dedicado àquela a quem
chama de Ceci e a seu pai a quem acompanha em suas excursões locais. Loredano, aliado aos empregados da casa
de Bento Simões e Rui Soeiro, tenta contra a vida de Álvaro pelas costas, sendo este salvo ´por Peri. Peri
permanece fiel a sua ama Cecília em todos os momentos.

D. Antônio de Mariz chama Àlvaro e D. Diogo e coloca-os a par de seu testamento, confessando que Isabel
também é sua filha. Pede a Peri que volte a sua gente, mas sabendo que havia salvo a vida de Cecília pela segunda
vez muda de ideia. Álvaro, que votava uma afeição pura a Cecília, é tomado de surpresa e julga uma injúria a
declaração de amor que lhe faz Isabel.
Peri segue Loredano através da floresta e fica conhecendo suas tramas diabólicas, levando-as ao
conhecimento de Álvaro, que a princípio não acredita. D. Antônio de Mariz, ciente de um perigo iminente, pede
a seu filho Diogo que vá ao Rio de Janeiro em busca de socorro, sendo que na escolha dos homens que o
acompanhariam é incluído Loredano. Este, entretanto, ainda perto da casa, despista-os e volta; e com o auxílio
de seus cúmplices, na calada da noite, tenta raptar Cecília, no que é impedido por Peri, que o fere na mão com
uma flechada, obrigando-o a fugir. Antes Peri já evitara que a casa fosse incendiada, matando Bento Simões e Rui
Soeiro.

Loredano promove a revolta dos aventureiros, que em parte é abafada pela firmeza de D. Antônio, não
evitando contudo que uma parte dos homens se reúna com Loredano para atacar a casa, sendo surpreendidos
com um ataque dos aimorés que estão em grande número. À vista do ataque, os aventureiros se retiram e tratam
de combater o inimigo comum. Peri, mesmo contra a vontade de Cecília e de D. Antônio, arremessa-se contra as
linhas inimigas e parte à procura de socorro. No amanhecer do dia seguinte, quando os aimorés se preparam para
o grande ataque, são surpreendidos pela coragem de Peri, que os enfrenta sozinho, em luta desigual. Depois de
matar muitos, é feito prisioneiro, sendo salvo contra sua vontade por uma rápida incursão feita por Álvaro e alguns
homens, já que pretendia com sua morte envenenar toda a horda dos aimorés.

Numa sequência violenta de acontecimentos, Loredano e seus seguidores são eliminados; Álvaro é morto
em combate com os índios e seu corpo é trazido para casa por Peri. Isabel, vendo que o homem a quem mais
amava estava morto, suicida-se com curare. Chegam os momentos finais. Peri planeja o salvamento de Cecília, no
que é apoiado por D. Antônio de Mariz, transformando-o em cristão pelo batismo. Num supremo esforço, Peri
carrega Cecília adormecida até uma pequena canoa escondida com antecedência. De longe, Peri assiste ao
incêndio da casa e o triste fim de seus amigos. Descendo a torrente, passam-se vários dias, até que, já no (rio)
Paraíba, julgam-se a salvo. No entanto, são surpreendidos por um violento temporal, que provoca inundações e
arrasta tudo consigo. Salvam-se no topo de uma árvore e montando numa palmeira são levados pela correnteza
impetuosa, desaparecendo no horizonte...

O SERTANEJO de José de Alencar

Este romance de José de Alencar transcorre no interior do Ceará e tem como personagem central a figura
de Arnaldo, um destemido vaqueiro que trabalha para o capitão Gonçalo Pires Campelo. Esse capitão tem apenas
uma filha, D. Flor, amada por todos na fazenda e adorada por Arnaldo, que foi seu companheiro de brincadeiras
na infância. O elogio da vida rural e a exaltação das virtudes do homem do campo transparecem em cada página
deste romance, publicado em 1875.

SENHORA de José de A lencar

Tema: A degenerescência do amor por dinheiro e a reabilitação da dignidade pelo trabalho.

Personagens: Aurélia Camargo: linda jovem que, graças a uma inesperada herança, deixa a escuridão da
pobreza e passa a brilhar na sociedade fluminense. A princípio, magoada e vingativa, deixa-se finalmente vencer
pelo amor.
Fernando Seixas: grande amor de Aurélia, que a abandona por ela ser pobre, ambicionando casar-se com
moça de dote. Reabilita-se moralmente e reconquista o amor de Aurélia.

D. Firmina Mascarenhas: viúva que vive com Aurélia Camargo.

Sr. Lemos: tio e tutor de Aurélia.

D. Camila: mãe de Fernando.

Eduardo Abreu: pretendente apaixonado por Aurélia.

Adelaide Amaral: noiva de Fernando.

Resumo da Obra: Senhora, obra-prima de Alencar, narra em terceira pessoa a história de Aurélia
Camargo, filha de D. Emília Camargo e de Pedro Camargo, morava com sua mãe e seu irmão Emílio. Aurélia não
chegara a conhecer o pai, pois este fora separado da mulher e dos filhos pelo avô, um rico fazendeiro, que
desejava ver o filho casado com uma moça, filha de um outro rico fazendeiro da vizinhança, ignorando assim o
casamento de Pedro com Emília. Pedro, revoltado, sai de casa, morrendo em seguida. Desde então, Emília levava
uma vida sacrificada em companhia dos dois filhos que a ajudavam no serviço, pois desde o casamento era
ignorada pelos parentes. Era muito doente, mas mesmo assim lutava para ver os filhos encaminhados na vida.
Logo, porém, perdeu o filho e vendo seus dias chegarem ao fim aconselha Aurélia a que fique na janela para ver
se arranja um bom casamento. Mesmo contrariada, Aurélia fez os gostos da mãe. Em breve, dada a sua beleza,
arranjara vários candidatos, inclusive seu tio. Mas a vida continuava dura para ambas, embora aparecessem vários
rapazes interessados em Aurélia. Entre os apaixonados estavam Eduardo Eduardo Abreu, rapaz rico, de excelente
família, e Fernando Seixas, rapaz de boa índole, mas desviado pelo desejo de carreira fácil e brilhante. Aurélia
apaixona-se por Fernando e fica noiva, mas o tio da moça, interessado que estava na sobrinha, quis evitar o
casamento, indicando a Fernando a casa de um seu amigo chamado Amaral, que tinha uma filha chamada
Adelaide. Amaral, pensando ser Seixas um bom partido e a salvação de sua vida oferece a Fernando sua filha em
troca de dois dote de trinta contos de réis que Fernando incontinenti aceitou por estar em dificuldades financeiras
e sem saber que Amaral estava falido.

Numa certa manhã, bateram à porta de D. Emília. Ela e a filha receberam a visita de um velho alto e
robusto que, fitando Aurélia com os olhos marejados, levanta-a nos braços antes que esta pudesse evitar. Quando
D. Emília quis acudir a filha, o velho disse ser o pai de Pedro e portanto avô de Aurélia, que correu para os seus
braços. Passados os momentos de emoção, o velho despediu-se, deixando a Aurélia um documento que ela só
deveria abrir quando viessem pedir, alegando que era para não perder na viagem. Este papel era uma escritura
testamentária em que passava todos os seus bens para o nome de Aurélia. Logo depois do acontecido, o avô de
Aurélia morre e em poucos dias morre também sua mãe. Sozinha, Aurélia foi amparada por Torquato Ribeiro, que
convenceu D. Firmina a levá-la para sua casa.

Fora essa parenta, nenhum outro aparecera na casa de Aurélia durante a enfermidade e após a morte de
D. Emília. A moça começou a procurar serviço.

Aparece então um emissário do velho Camargo que lhe pediu o papel que o velho lhe deixara. Era um
testamento que a tornava herdeira universal do avô. Lemos, mais que depressa, correu ao juizado de menores e
arranjou sua nomeação para tutor de Aurélia, que não gostou mas acabou aceitando. Começa para Aurélia uma
nova vida em companhia de sua parenta D. Firmina Mascarenhas: frequentava a alta sociedade fluminense, era
muito admirada e desejada por todos, a quem ela desprezava. Guardava porém uma vingança para Fernando,
que a abandonara por trinta contos de réis.. Chamou seu tio e tutor e encarregou-o de oferecer cem contos de
réis como dote a Fernando Seixas, para que se casasse com ela. Fernando mais que rapidamente aceitou, pedindo
já um adiantamento de vinte contos de réis. Depois da apresentação e da conversação sobre vários assuntos, foi
acertado o dia do casamento.

Reuniu-se uma sociedade escolhida e pouco numerosa na casa de Aurélia para assistir ao casamento. Logo
após a recepção, Lemos levou Seixas aos aposentos mostrando-lhe tudo o que lhe pertencia, inclusive as roupas.
Depois, Seixas e Aurélia dirigiram-se à câmara nupcial e foi quando Aurélia lhe disse que o havia comprado muito
caro e que o casamento de ambos só era válido perante a sociedade, pois ela o comprara assim como ele a havia
trocado por trinta contos de réis. Seixas calou-se chocado e desiludido.

Para os outros, tudo ia bem entre eles, mas, na intimidade, nada mudara. Aurélia tratava Seixas como um
objeto qualquer da casa, humilhando-o perante outras pessoas. Fernando dedicava-se de corpo e alma ao serviço,
fazendo negócios que lhe rendiam bom dinheiro. Aurélia sentia muitos ciúmes de Seixas, mas queria crer que era
por orgulho e não por amor.

Certo dia, voltando para casa a fim de pegar uns papéis, encontrou Aurélia conversando com Eduardo
Abreu que havia falido e a quem Aurélia pretendia ajudar. Seixas foi aos seus aposentos, saindo depois pelos
fundos. Na hora do jantar, perante o estranhamento de Aurélia em face da ausência do marido, a mucama disse-
lhe que Fernando avisara que iria chegar mais tarde: Aurélia disfarçou sua preocupação. Já estavam jantando
quando chega Fernando dizendo que desejava falar com Aurélia após o jantar; para isso dirigiram-se aos
aposentos da senhora.

Fernando então lhe diz que se no momento da cerimônia tivesse tido os vinte contos que pedira
adiantados, tudo já se teria resolvido. Porém, agora queria lhe restituir todo o dinheiro do dote e recuperar sua
dignidade: se separariam como fazem dois contratantes de boa fé que, reconhecendo seu engano, se descobrem
mutuamente. Pede então, a Aurélia que lhe devolva o papel, recibo de sua venda, entregando-lhe o dinheiro.
Quando Fernando se preparava para sair, Aurélia o deteve dizendo-lhe que o passado estava extinto e que
durante aqueles onze meses eles tinham vivido contra seus próprios sentimentos, como dois estranhos.
Ajoelhando-se diante do marido, lhe pede que aceite seu amor, amor que nunca deixara de ser dele, ainda quando
mais cruelmente ofendida; aquela que o humilhara estava ali agora, abatida, implorando por seu amor. Seixas a
ergueu e seus lábios se uniram, e diante do argumento de que a riqueza dela seria um empecilho, Aurélia lhe
entrega um documento que escrevera logo após o casamento, documento este que declarava o imenso amor que
sentia por ele, instituindo-o seu herdeiro universal. Fernando Seixas contempla com os olhos rasos de lágrimas
sua amada Aurélia, sua inesquecível "Senhora".

LUCÍOLA de José de Alencar

"Lucíola” é o romance de José de Alencar e o primeiro da trilogia que ele denominou de "Perfis de
Mulher". Integra o conjunto da ficção urbana do grande romancista aquela em que ele fixou o Rio de Janeiro da
época, com a sua fisionomia burguesa e tradicional, com uma sociedade endinheirada que frequentava o Lírico,
passeava à tarde na Rua do Ouvidor e à noite no Passeio Público, morava no Flamengo, Botafogo ou Santa Teresa,
e era protagonista de ousado dramas de amor que iam do simples namoro contrariado à paixão desvairada.

Lucíola foi um romance ousado para a época; seu tema escandalizou os leitores e a sociedade de então,
pois contava a história ainda não colocada até então em termos de literatura entre nós - a prostituição. Apesar
das roupagens românticas, a personagem era boa de coração, demonstrando isso na abnegação e no estoicismo
com que se sacrificou por sua família, não seria tão fácil a aceitação de um livro como esse, que desvendava, em
cenas íntimas e descrições bem marcantes, a vida de alcova de uma famosa mundana. E ainda mais, fazia dessa
"pecadora" uma vítima da sociedade e a redimia de tudo, mostrando a face nobre do seu caráter.
Não se chama Lucíola a heroína, como seria de se esperar, mas apenas Lúcia. "Lucíola - explica o prefácio
- é o lampiro noturno que brilha de uma luz tão viva no meio da relva e à beira dos charcos. Não será a imagem
verdadeira da mulher que no abismo da perdição conservava a pureza da alma?" Mas como era essa mulher
famosa que Alencar foi buscar na vida noturna para transformar na heroína do seu romance? Sua primeira
aparição se faz na festa tradicional do Outeiro da Glória, onde Paulo, jovem provinciano recém-chegado ao Rio,
vai encontrá-la, e assim a descreve: "A lua vinha assomando pelo cimo das montanhas fronteiras; descobri nessa
ocasião, a alguns passos de mim, uma linda moça, que parara um instante para contemplar no horizonte as nuvens
brancas esgarçadas sobre o céu azul e estrelado. Admirei-lhe no primeiro olhar um talhe esbelto e de suprema
elegância. O vestido que o moldava era cinzento, com orlas de veludo de veludo castanho, e dava esquisito relance
a um desses rostos suaves, puros e diáfanos que parecem vão desfazer-se ao menor sopro como os tênues
vapores da alvorada".

Lembrou-se depois Paulo que já a tinha visto antes, no dia mesmo de sua chegada ao Rio, em um carro
elegante levado por dois fogosos cavalos, e exclamara então para um companheiro ao lado: "Que linda menina!
Como deve ser pura a alma que mora naquele rosto!". Lúcia era, assim, uma mundana de rara beleza e suave
aspecto, que a faziam parecer uma jovem inocente. Pelo menos, essa foi a impressão de Paulo e que o levou a
apaixonar-se, mesmo depois de saber quem era ela. Tal como a pintou o romancista e se depreende de toda a
história, ela era de natureza complexa nas alternativas de sua vida e do seu temperamento. Boa nas intenções,
mas devassa na prática da vida que levava; interesseira e avara na conquista do dinheiro fácil e, ao mesmo tempo,
generosa ao dar esmolas e na ajuda a parentes; com um passado de luxo e dissipação, se apaixona da maneira
mais romântica pelo jovem que nela descobrira bondade e ternura. Enfim, era bem feminina ao parecer tantas
numa só. Paulo, no entanto, no entusiasmo da paixão, definiu-a: "Tu és um anjo, minha Lúcia!".

Tendo Paulo visto Lúcia naquela festa da Glória, a ela foi apresentado pelo seu companheiro, que a
conhecia e fora seu amante. Mesmo assim, ele continuou a idealizá-la, até nas visitas que lhe fez a seguir,
francamente inocentes e cordiais. Só algum tempo depois é que se tornaram amantes. Cada vez mais, no entanto,
prendia-se a ela por um amor apaixonado que ultrapassava a simples satisfação do sexo. Não a queria como uma
mundana lúbrica e sensual, famosa pelos requintes no amor, e sentia que ela também, na maneira de tratá-lo, no
seus silêncios, nos seus beijos e carícias, o amava realmente. A prova maior disso foi o seu afastamento de tudo
para dedicar-se a ele. Mas logo brigaram, e ela voltou à vida antiga. Nessas alternativas de brigas e reconciliações,
de ciumadas e de arrependimentos, chegaram à confissão de suas vidas e à aceitação do amor com que se
queriam.

E Lúcia contou-lhe a sua história, declarando para sempre morta a mulher que fora até então; sua família
viera morar na Corte e viviam dignamente, até que a epidemia de febre amarela de 1850 atacou todos os seus:
pai, mãe, irmãos, tios. Somente ela foi poupada, vendo-se obrigada a cuidar dos seus. Assim foi que, por
necessidade, entregou o seu corpo a um ricaço de nome Couto, para conseguir ajuda e apoio. Morreram-lhe a
mãe, a tia e dois irmãos; o pai, ao descobrir que ela recebera dinheiro de um homem em pagamento de sua honra,
expulsou-a de casa. Depois disso, o caminho estava aberto à prostituição. Na sua nova vida, então, mudou de
nome, pois se chamava realmente Maria da Glória, em devoção à sua madrinha Nossa Senhora da Glória. Depois
de uma longa viagem que fizera à Europa em companhia de um amante, de volta ao Rio só encontrou de sua
família uma irmãzinha de nome Ana, a quem tomou sob sua proteção e a pôs num colégio.

Após tal confissão, de que resultou um perfeito entendimento entre os dois, Lúcia foi morar numa casinha
de Santa Teresa, que alugara, em companhia da irmã. Afastou-se da vida mundana para receber apenas a visita
de Paulo. No ambiente bucólico daquele bairro viveram os dois um idílio simples. Passeavam nos arredores de
mãos dadas como dois namorados, e nessa busca da inocência perdida ela até se recusava, pudicamente, a ser
de novo sua amante. É que ela agora já adotando outra vez seu nome de batismo, Maria da Glória, estava
esperando um filho de Paulo.
Mas o idílio em que viviam durou pouco. Lúcia sofreu um aborto e, ante a recusa de tomar remédio para
expelir o feto sem vida, faleceu da infecção, confessando a Paulo que o amava perdidamente desde o primeiro
encontro. Pediu-lhe que cuidasse de sua irmãzinha Ana, a quem deixara um testamento a sua fortuna, cerca de
cinquenta contos de réis, como se fosse sua própria filha. A princípio queria que ele se casasse com Ana, mas,
ante sua recusa, pediu-lhe que a protegesse, e morreu dizendo-se sua noiva eterna, sua noiva no céu".

UBIRAJARA de José de Alencar

Jaguarê é um jovem caçador da tribo Araguaia caminhando em busca de um adversário de valor a quem
possa vencer para se tornar um verdadeiro guerreiro de sua tribo. Ao descansar à sombra de uma árvore Jaguarê
vê uma jovem índia da tribo Tocantim que lhe diz que o guerreiro que a quiser por esposa terá que combater com
os pretendentes da tribo Tocantim. Araci se afasta e Jaguarê volta ao descanso. Aparece então Pojucã, forte
guerreiro, a quem Jaguarê vence e leva prisioneiro para sua tribo. Jaguarê se torna guerreiro com o nome de
Ubirajara, recebe do cacique, seu pai Camacan, o comandante da tribo e se prepara para se casar com Jandira,
sua prometida. Ubirajara no entanto não se esquece de Araci e resolve partir para se casar com ela. Pojucã pede
a Ubirajara que lhe dê uma morte digna de um guerreiro. Ubirajara o atende e lhe destina Jandira para esposa de
túmulo, segundo os costumes da tribo. Jandira, que só amava o grande chefe, foge da floresta.

Ubirajara chega à aldeia tocantim, é recebido e tratado como hóspede, recebendo o nome de Jurandir e
contando a todos suas lutas e conhecimentos. Jurandir declara ao chefe Itaquê que deseja ser esposo de Araci e
como pretendente dispõe-se a trabalhar e a lutar para conseguir seu intento. Então, Araci saiu para caçar e no
meio da mata aparece Jurandir segurando Jandira e entregando-a a Araci como escrava que não aceitou ser
libertada, desejando fazer a vontade de Ubijarara. Chegou o dia em que todos os pretendentes teriam que lutar
para se decidir com quem a bela Araci se casaria. Jurandir venceu a todos os combates e provas.

Ubirajara foi levado à frente de Itaquê. Era hora de ele revelar a todos quem era, já que iria se casar com
Araci. Contando suas lutas e vitórias, ao chegar ao nome de Pojucã, Araci soltou um grito, e Ubirajara ficou
sabendo que Pojucã era filho de Itaquê e irmão de Araci. Com isso, Ubirajara tornou-se inimigo dos tocantins e
ele próprio lhes declarou guerra. Assim, os araguaias partiram para a luta, mas no caminho encontraram os
tapuias, que também iriam lutar contra os tocantis. Sendo que a guerra dos tapuias era de vingança, Ubirajara
respeitou-os e ficou apenas observando. Itaquê luta contra Camicram, chefe Tapuia para prender Pahan e o leva
à presença de Itaquê que, ao invés de castigar, mandou soltar Pahan. Itaquê convocou os guerreiros da tribo para
escolherem um novo chefe. Nenhum dos guerreiros tocantins conseguiu empunhar o arco de Itaquê.

Os tapuias voltam à luta com Agniná à frente para vingar a morte de seu irmão Camicran. Desesperados
e sem chefe, os tocantins não sabem o que fazer. Itaquê chama então Ubirajara e pede-lhe que se torne chefe
dos tocantins e se case com Araci. Ubirajara e empunha o arco tocantim unindo-o ao arco araguaia. Os tapuias
foram derrotados pelas tribos unidas.
Quando Ubirajara voltou a sua taba, Araci o esperava com Jandira, dizendo-lhe que Jandira deveria
também ser sua esposa. Com isso, as duas nações ficaram mais unidas e receberiam o nome único de ubirajaras
e dominaram aquela região por muito tempo.

DIVA de José de Alencar

"Seu enredo gira em torno de uma estranha e voluntariosa menina-moça que aspirava ao amor ideal e
sonhava entregar seu coração somente àquele que ultrapassasse os limites do amor banal e a quisesse com
frenética paixão. Emília era seu nome, e a história começa quando ela tinha catorze anos e era, como descreve o
autor, "uma menina muito feia, mas da lealdade núbil que promete à donzela esplendores de beleza".

Há meninas - diz o personagem contando seu drama a um confidente - que se fazem mulheres como as
rosas passam de botão a flor: desabrocham. Outras saem das faixas como os colibris da gema: enquanto não
emplumam são monstrinhos; depois tornam-se maravilhas ou primores. Era Emília um colibri implume; por
conseguinte, um monstrinho.

Pois essa menina feia, pouco depois, quando vai reencontrá-la o herói da história, era já uma linda moça,
como a descreveu o romancista: "Era alta e esbelta. Tinha um desses talhes flexíveis e lançados, que são hastes
de lírio para o rosto gentil; porém na mesma delicadeza do porte esculpiam-se os contornos mais preciosos com
firme nitidez das linhas e uma deliciosa suavidade nos relevos. Não era alva, também não era morena. Tinha na
tez a cor das pétalas da magnólia, quando vão se desfalecendo ao beijo do sol. Mimosa cor de mulher, se a aveluda
a pubescência infantil, e a luz coa pelo fino tecido, e um sangue puro a escumilha de rôseo matiz. A dela era
assim".

A história é contada em tom de confidência do médico Dr. Amaral ao seu amigo Paulo, confessando o
estranho caso de amor em que se viu envolvido até a paixão. Conhecera Emília ainda menina, feia e desgraciosa.
Sendo amigo de sua família e recém-formado, foi um dia chamado a medicá-la, pois estava ela acometida de
pneunomia dupla. Ao tentar examiná-la, levantou-se a moça indignada e explosiva, por nada permitindo que ele
a auscultasse, como uma gata selvagem. Reagia a qualquer aproximação. Desvelou-se ele, no entanto, e com
muitos sacrifícios e abnegação completa salvou-a da morte.

Viajou em seguida para a Europa, com uma bolsa de estudos, e ao voltar encontrou-a já transformada
numa bela moça, mas continuando a demonstrar por ele um misto de repulsa e ódio. Amigo da família, era sempre
convidado ao convívio de Emília e de seus pais, crescendo pouco a pouco em seu coração um grande amor por
ela, na mesma proporção em que ela o repelia, o tiranizava e o lançava no mais completo desprezo. Sua vida foi
transformada num verdadeiro inferno por aquela mulher que se divertia em fazê-lo sofrer, em humilhá-lo até o
desespero. Outras vezes dava-lhe pequena esperança, animava-o até certo ponto, só para trazê-lo subjugado aos
seus caprichos, aos seus demônios interiores, e depois lançar-lhe na face o insulto, a cólera e o desabafo de uma
natureza perversa e má. "Eu não o amo! Eu o desprezo!".

E o pobre Amaral, entre alternativas de veneração e ódio, tinha também vontade de insultá-la, de
amesquinhá-la, até de agredi-la, e mais de uma vez quase chegou a tal extremo. Afinal, quando o drama atingiu
o clímax, ele, desesperado, lançou-lhe na face também o seu desprezo. Emília esbofeteou-lhe o rosto e ele agarrou
fortemente os seus pulsos e a jogou por terra, desvairado. Deu-se então a súbita transformação, rompendo-se as
barreiras do ódio que escondia, no fundo, o amor. Emília arrastou-se a seus pés e confessou-lhe afinal que o
amava loucamente, que sempre o amara, que ele era o único motivo de sua vida. O rapaz, apavorado, fugiu dela
como de uma visão sinistra.
No dia seguinte, Amaral recebeu de Emília uma carta extravasando um amor delirante e obsessivo, que o
tinha por alvo. Ele, então implorou a Deus que o livrasse daquela mulher; mas foi em vão. Logo correu ao seu
encontro e pouco depois se tornaram marido e mulher.

"Diva é, primordialmente, um estudo do caráter de um tipo de mulher obsessiva, tirânica, neurótica, na


sua complexidade psicológica. Ela desejava e sonhava um homem que lhe desse o amor verdadeiro e total, e ao
mesmo tempo desprezava e humilhava aquele que lhe rendia o coração. No fundo, amava Amaral desde menina,
quando ele penetrara na sua intimidade como médico e auscultara o seu peito, o que lhe causara naquele
momento uma repulsa indignada, que muito tinha de atração. Mas o longo e doloroso processo de
reconhecimento desse amor foi uma exposição de sua morbidez, de seus instintos sádicos e de sua crueldade
feminina."

A ESCRAVA ISAURA de Bernardo Guimarães

Conta a história sentimental de uma linda escrava, torturada por um senhor cruel e devasso, e que, afinal,
é salva por um rico cavalheiro apaixonado pela sua formosura e bondade.

Isaura não era uma escrava comum, criada na senzala, nem de cor negra. Filha de um feitor português
com uma bela negra africana, era uma autêntica mulata clara, desses que hoje em dia ganham concursos
femininos e até representam a beleza brasileira. O autor a apresenta nas primeiras páginas do livro, e a sua
aparição se faz através de uma voz maviosa que canta cópias sentimentais de uma cativa suspirando pela
liberdade. "Se não é sereia, somente uma anjo pode cantar assim". - diz o romancista, e leva o leitor à sala da
fazenda, onde ela, sentada ao piano, canta embevecida. A descrição é opulenta de adjetivos e, ao gosto da época,
exagerada. "Uma bela e nobre figura de moça", com "bastas madeixas negras", colo donoso e do mais puro lavor",
de "encantadora simplicidade, porte esbelto, cintura delicada", e mais, parecia "uma Vênus nascendo da espuma
do mar ou um anjo surgindo dentre brumas vaporosas".

Realmente, a figura de Isaura pouco tinha de uma cativa. Era de traços finos e de pele morena, educada,
cantava bem, tocava piano e fora criada pela senhora da fazenda com todo o carinho. Tais predicados,
obviamente, não eram os de uma moça nascida nas senzalas do interior fluminense no século XIX. Talvez o autor,
ao criá-la assim, quisesse equipará-la a qualquer moça da sociedade da época para fazer comover ainda mais os
corações com sua história triste, que começa com a morte da sua protetora, sem ter formalizada a carta de alforria
em seu favor, como prometia sempre. Isaura passa então á posse do herdeiro, rapaz libertino e devasso. E aí
começa a história.

A história se passa numa grande fazenda fluminense, situada em Campos de Goitacases, hoje cidade de
Campos. Isaura, pela sua beleza, desperta nos homens amor à primeira vista. Leôncio, o jovem senhor, devasso,
mau, perdulário, quer forçá-la a se tornar sua amante. Henrique, seu cunhado, também a quer conquistar, e por
outro lado, o jardineiro, um anão mostrengo e feio, personagem que faz lembrar o Corcunda de Notre Dame, de
Victor Hugo, muito em voga na época, sonha casar-se com ela. Os dois primeiros a disputam, e Henrique revela à
sua irmã Malvina estar o seu marido apaixonado pela escrava. A esposa abandona Leôncio, e este continua o
assedio a Isaura, que o repele. Leôncio usa de todos os recursos, até a ameaça e a violência, mas ela não cede. O
português Miguel, pai de Isaura e ex-feitor da fazenda, propõe comprar a liberdade dela por dez contos de réis.
Leôncio recusa. Miguel trama então uma fuga e consegue viajar com a filha para Recife, onde passam a viver
afastados de todos, com nomes falsos, para escapar à perseguição de Leôncio.

Entra em cena na narrativa um novo personagem, o herói da história, um rico moço chamado Álvaro, que
por ela se apaixona e um dia a convence a ir a um baile na alta sociedade recifense. No baile aparece um outro
vilão, de nome Martinho, que reconhece Isaura pela descrição de um anúncio de "escravo fugido" que vira e
recortara dos jornais do Rio, interessado nos dez contos de réis da recompensa pela captura. Álvaro tenta, com
seu dinheiro, salvar Isaura, mas não consegue, e, após várias peripécias, Leôncio chega a Recife e traz Isaura com
ele para a fazenda, e ainda Miguel para cumprir pena pelo rapto e fuga.

Novo assédio, novas propostas são feitas a Isaura pelo senhor apaixonado, mas ela ainda não cede. Então
Leôncio planeja vingar-se de maneira cruel. Manda pôr Isaura a ferros no tronco da senzala e lhe oferece a
alternativa: continuar presa naquele instrumento de tortura para sempre ou aceitar a liberdade que ele lhe
oferece com a condição de casar-se com Belchior, o anão feio e asqueroso. Desesperada, ela aceita o sacrifício
para conseguir a liberdade, mas no dia das bodas, inesperadamente surge o herói Álvaro para salvá-la. É que,
tendo, vindo ao Rio, soube da situação financeira de Leôncio, totalmente arruinado e cheio de dívidas. Resolveu
comprar todas essas dívidas, tornando-se assim dono da fazenda e de todos os bens de Leôncio, inclusive de
Isaura.

Álvaro vai ser feliz com a linda ex-escrava, que passa a ser a dona de toda a fortuna de Leôncio, e este,
desesperado, mete uma bala na cabeça.

O SEMINARISTA de Bernardo Guimarães

"O Seminarista" é um romance de cunho rural e psicológico que mostra o drama de Eugênio e Margarida.
Ele, filho de fazendeiro, é obrigado a ingressar num seminário para ser padre. Ela, pobre e bela menina que se
criou na fazenda do pai de Eugênio, corresponde à amizade, ao amor e à paixão que este lhe devotava.

Acreditando na falsa história de que Margarida havia fugido com outro, Eugênio abandona a ideia de
deixar o seminário e tornar-se sacerdote. Voltando a sua cidade, já ordenado, para celebrar a primeira missa,
Eugênio encontra Margarida à morte e fica sabendo da diabólica trama de seu pai para evitar a união dos dois.

Na hora da missa, ao ver entrar na igreja o caixão com o corpo de Margarida, Eugênio rasga as roupas
sacerdotais e larga em desabalada carreira. Ficara louco!
O CABELEIRA de Franklin Távora

A história de Pernambuco conta-nos muitas histórias de heroísmo e maldade. Muitos homens se tornaram
lenda por sua audácia e crueldade; entre esses está José Gomes, o famoso Cabeleira, que durante muitos anos
espalhou o terror pelo nordeste brasileiro.

José Gomes era filho de Joaquim , sujeito malvado, dado à prática de crimes, e de Joana, exemplo vivo de
bondade. José era um menino bom e amoroso, mas os péssimos exemplos do pai converteram-no num bandido.
Joana queria que o filho fosse um homem bom e digno, enquanto que Joaquim queria levá-lo para o banditismo;
por isso os dois viviam brigando, até que um dia Joaquim resolveu abandonar a mulher, levando consigo o filho.

Teodósio, um criminoso terrível e esperto, veio juntar-se a eles. Os três percorriam a província
pernambucana roubando, incendiando e matando, sendo temidos por todos. Usavam a Taberna dos Afogados do
velho Timóteo como depósito de seus roubos. Roubavam alimentos dos sítios e vendiam nos povoados. Algumas
vítimas que saíam com vida desses assaltos diziam que José Gomes, um jovem de cabelos crescidos, mais
conhecido como Cabeleira, era o mais terrível e audaz dos assaltantes.

Luísa ( Luisinha ), uma boa moça, acompanhava com tristeza as estórias contadas sobre José Gomes, seu
companheiro de infância. Até que um dia, o Cabeleira encontrou-a, arrastou-a para o mato, tentando seduzí-la. A
moça gritou e sua mãe tentando ajudá-la foi ferida pelo assassino. Vendo sua mãe sem sentidos, Luísa tratou-o
com desprezo, identificando-se como sua companheira e namoradinha de infância. O Cabeleira desapareceu,
arrependido, desesperado, ao pensar que Luísa o desprezava: estava apaixonado por ela.

Várias mulheres estavam reunidas em orações na casa de uma das vítimas do Cabeleira, seu Liberato, até
que os bandidos apareceram por lá e mandaram que elas deixassem a casa. Essas, se recusando, continuam a
rezar. Joaquim, furioso, incendiou a casa. Todas as mulheres fugiram, menos a mãe de Luísa que ficou lá dentro.
Luísa tentou salvá-la mas sua mãe não resistiu, morrendo queimada. Pelo esforço, Luísa desmaiou e o Cabeleira
diz aos capangas que ela lhe pertence. Luísa pede para morrer, mas o Cabeleira conforta-a, dizendo que irá
protegê-la, prometendo, ainda, nunca mais matar ninguém. O capitão-mor de Santo Antão prendeu Joaquim,
Teodósio e o taberneiro Timóteo.

Cristovão de Holanda Cavalcanti, capitão-mor de Itamaracá, empenhava-se em capturar o Cabeleira, mas


ninguém sabia onde se encontrava o bandido. Entretanto, o Cabeleira e Luísa fugiam, atravessando as matas.
Luísa amava-o, mas temia que as tropas conseguissem capturá-lo.
INOCÊNCIA de Visconde de Taunay

Num dia de inverno, o sol iluminava e aquecia uma estrada por onde um viajante cavalgava. Surge atrás
dele, travando conversa, um menino conversador, chamado Pereira. Tendo o mesmo destino, caminharam juntos.
O viajante se chamava Cirino e entendia muito de medicamentos; por isso era considerado "doutor".

Pereira resolveu hospedá-lo em sua casa, aproveitando para deixar aos cuidados de Cirino sua filha
Inocência, uma bela cabocla, que se achava doente e acamada. Inocência sentiu-se melhor em pouco tempo.
Durante o tratamento nasceu entre Inocência e o curandeiro um imenso amor, proibido, todavia, porque a moça
esperava o noivo Manecão, escolhido pelo pai.

Numa noite chuvosa apareceu em casa de Pereira um alemão chamado Meyer e seu ajudante Juca. Trazia
uma carta do irmão mais velho de Pereira, pedindo-lhe que atendesse o alemão como se fosse ele próprio. Meyer
era um naturalista estudioso das borboletas. Devido aos elogios exagerados que Meyer faz à beleza de Inocência,
Pereira, rígido e severo na moral, passa a desconfiar do hóspede. Meyer descobre um novo espécime de
borboleta, a que chamou "Papillia Innocentia" em homenagem à bela filha do sertanejo. Pereira sente-se no
dilema de cumprir, ou o dever de atender ao pedido do irmão, ou o de preservar a honra da família.

Meyer parte e a chegada de Manecão deixa Inocência e Cirino aterrados. Cirino se desespera e sente que
perderá Inocência. Sua amada lhe diz então ter um padrinho, a quem seu pai deve favores e atende. Se Antônio
Cesário intercedesse por eles, Pereira talvez permitisse o seu romance. Imediatamente, Cirino foi à procura do
padrinho de Inocência para que ele impedisse o casamento dela com Manecão. Avisado por Tico, um mudinho,
que com sinais deu a entender o romance secreto. Manecão espera Cirino de tocaia e o assassina na estrada,
fugindo em seguida. Inocência também morre logo depois, mas é imortalizada e revivida com o nome de
borboleta: "Papillia Innocentia".

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