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A presente monografia foi aprovada como requisito para a obtenção do grau de bacharel em
Direito no curso de Direito na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.
Banca Examinadora:
_______________________________________________________
Prof. «título, se houver» ANDRÉ LUIZ SARDÁ - Orientador
_______________________________________________________
Prof. «título, se houver» «Nome» - Membro
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Prof. «título, se houver» «Nome» - Membro
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AGRADECIMENTOS
SUMÁRIO
RESUMO
LISTA DE ABREVIATURAS
INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 09
1 ADOÇÃO............................................................................................................................ 11
3 PROCEDIMENTO DA ADOÇÃO.................................................................................. 43
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................... 62
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 64
ANEXOS................................................................................................................................ 68
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RESUMO
LISTA DE ABREVIATURAS
A presente monografia discorrerá sobre a adoção nacional, essa por sua vez,
tratar-se de um dos institutos pelo qual se coloca o menor em família substituta, para tanto,
tratará de toda trajetória do processo adotivo, dando ênfase na participação do Ministério
Público na demanda.
Vários são os problemas sociais existentes no Brasil, mas um dos que
possuem maior relevância hoje em dia diz respeito ao menor infante. Crianças e
adolescentes que muitas vezes são colocadas em abrigos pelos próprios pais e com o passar
do tempo são esquecidas, abandonadas. Muitos desses menores sentem-se rejeitados e
acabam fugindo dos abrigos, onde ficam vagando pelas ruas atrás da sua sobrevivência.
É por esse motivo que a presente monografia discorrerá sobre o processo
adotivo, haja vista que visa entender o caminho a ser percorrido até que seja deferida a
colocação da criança e do adolescente em família substituta.
O artigo 24 do Estatuto da Criança e do Adolescente, juntamente com a lei
civil, preceitua que pode ser decretada a perda do poder familiar quando forem
descumpridos os deveres e obrigações a que alude o artigo 22 do mesmo diploma legal.
Nesse caso, deverá ser decretada a destituição do poder familiar para que o menor fique
livre para ser adotado, a fim de lhe ser proporcionado o direito a ser incluído numa família
que lhe garanta os direitos que a carta magna impõe ao seu guardião.
Objetivou-se para a realização desse trabalho a análise doutrinária referente
ao processo de adoção, bem como da atuação do Ministério Público nesse feito.
O primeiro capítulo refere-se à questão conceitual da adoção e sua
finalidade, onde estará implícita a proteção integral que o menor deverá receber de seus
guardiões. Em seguida, serão verificados todos os requisitos que legitimam um pretendente
a iniciar o processo de adoção, assim como os legitimados para serem adotados, ou seja,
crianças e adolescentes que se encontram livres para participar do processo adotivo.
Oportunamente, identificar-se-á, de forma sucinta, certas modalidades de
adoção, tais como, adoção singular, adoção póstuma, adoção conjunta.
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Modalidade artificial de filiação que busca imitar a filiação civil, pois não resulta
de uma relação biológica, mas de manifestação de vontade, conforme o sistema
do Código Civil de 1916, ou de sentença judicial, no atual sistema do Estatuto da
Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), bem como o novo Código [...]. A
adoção moderna é, portanto, um ato ou negócio jurídico que cria relações de
paternidade e filiação entre duas pessoas.
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Artigo 1.626. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, desligando-se de qualquer vínculo com os
pais e parentes consangüíneos, salvo quanto aos impedimentos para o casamento.
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Artigo 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive
sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com os pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.
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Dessa forma, completa Gonçalves (1999, p. 120) que o filho adotivo não se
sujeita mais às distinções jurídicas. Para tanto, aquele que for adotado, passa a ser filho
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somente de sua nova família, com direitos e deveres como se fosse filho natural. A
modalidade elencada no Código Civil de 1916 era denominada como adoção tradicional,
restrita, uma vez que era celebrada entre as partes através de escritura pública, aplicando-se
somente aos maiores de dezoito anos. O adotado permanecia ligado aos seus parentes
consangüíneos, porém somente o pátrio poder era passado ao adotante.
Desse modo, discorre Bulhões (1997, p. 30) que:
Com isso, verifica-se que a adoção civil pelo Código Civil de 1916 logo
perdera sua eficácia, eis que não mais se aplicava a menores. Conseqüentemente, crianças e
adolescentes eram adotados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, onde tal
modalidade classificava-se como adoção plena, haja vista que o adotado era totalmente
integrado à família do adotante, como filho natural, com todos os direitos e deveres dos
consangüíneos, inclusive os direitos sucessórios, sendo considerada definitiva e
irrevogável, desligando-se totalmente de sua família de sangue, salvo no que relacionar aos
impedimentos matrimoniais.
Por outro lado, no regime jurídico do Código Civil atual, fica evidente o fim
da dicotomia entre as formas de adoção para maiores de dezoito anos. A adoção é, agora,
uma só, ou seja, revogado os dispositivos do Código Civil de 1916 e suas legislações
complementares, a adoção em vigor será regida conforme os artigos 1.618 a 1629 do
Código Civil de 2002, assim como pelos dispositivos do Estatuto da Criança e do
Adolescente, concernentes à filiação adotiva, que não se chocarem com a nova lei,
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disciplinados nos artigos 39 a 52, como a questão pertinente à maioridade, que agora se dá
aos dezoito anos.
Nessa linha de raciocínio, Franciulli Neto, Martins Filho e Mendes (2003,
p. 1199) esclarecem que: “O aparente conflito entre as normas do ECA e as do Código
Civil de 2002 resolve-se com o reconhecimento de que apenas estão derrogadas as
disposições que entre si sejam incompatíveis, persistindo a disciplina da legislação especial
naquilo em que não haja colisão.”
Dessa maneira, Venosa (2003, p. 317) ensina que hoje a adoção tende a
obedecer duas finalidades complementares, tais como: “... dar filhos àqueles que não os
podem ter biologicamente e dar pais aos menores desamparados. A adoção que fugir desses
parâmetros estará distorcendo a finalidade do ordenamento e levantará suspeitas”.
Segundo discorre Gomes Neto (1989) [anexo I]:
Destaca Pachi (2003, p. 162) que na adoção realizada por casais unidos pela
união estável, uma vez verificado que um dos pretendentes não atinge a idade requerida,
esse deverá prontamente ser assistido por seus pais ou tutores, haja vista que ao contrário
do casamento, a união estável não emancipa o relativamente incapaz.
Analisando a situação do Estatuto da Criança e do Adolescente, verifica-se
que este condicionou a idade mínima para adotar a maioridade civil vigente perante o
Código Civil de 2002, ou seja, somente a pessoa maior de 18 (dezoito) anos tem
legitimidade para adotar. No entanto, tal prerrogativa engloba ainda, a idade do adotado, eis
que esta deve ser inferior a do adotante, conforme bem leciona Pereira (2002, p. 143).
Portanto, permanece no artigo 1.619 do Código Civil, assim como no artigo
42, § 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente, a diferença de idade relacionada entre
adotante e adotado, ou seja, o adotante dever ser 16 (dezesseis) anos mais velho que o
adotado.
Na visão de Liborni Siqueira (1993, p. 120) a procedência da referida
exigência imposta pelo legislador atribui-se ao envolvimento pai-mãe-filho, onde necessita
“de cuidados em louvor do processo educacional, pois do contrário teremos crianças
brincando com crianças”.
Acrescenta Bevilacqua (1943, p. 840) quanto a diferença de idade entre
adotante e adotado, uma vez que deva corresponder a “uma diferença de idade suficiente
para dar ao pai ou a mãe adotiva a distância que infunde respeito e pressupõe maior
experiência, e põe cada um em seu lugar próprio; o pai para velar e dirigir, o filho para
venerar e confiar”.
Por outro lado, continua Franciulli Neto, Martins Filho e Mendes (2003, p.
1209) com seus ensinamentos, vez que:
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Se o adotante for casado, deve obter o consentimento do seu cônjuge para o ato.
Evita-se, com isso, quebrar a harmonia conjugal. Há, contudo, entendimento no
sentido de que o consentimento é desnecessário, sendo que, nessa hipótese, não
pode o filho adotivo residir no lar comum dos cônjuges, se não houver
assentimento do cônjuge que negou o consentimento para a adoção.
(dezoito) anos, ou mais, como seu filho, conferindo tal momento à constituição de uma
família monoparental.
A adoção, também poderá ser deferida mesmo que o adotante seja falecido,
desde que em vida tenha manifestado a sua vontade sobre a referida adoção de forma
inequívoca, segundo prescreve os artigos 1.628 do Código Civil e 42, § 5º do Estatuto da
Criança e do Adolescente.
Nessa linha de raciocínio, Granato (2003, p. 88) destaca que tal disposição
legal preocupou-se em respeitar a vontade do ser humano, uma vez que demonstrada a
intenção de adotar, haja vista ter iniciado o estágio de convivência e vindo o pretendente a
adoção, a falecer, nada mais justo que concretizar o desejo da pessoa após sua morte,
equivalendo seu ato de vontade, que deve prevalecer, sendo comunicado o falecimento para
que se de prosseguimento ao feito, a fim de que seja deferida a sentença. Referida adoção é
conhecida como adoção póstuma, onde a eficácia dos efeitos da adoção será retroativa, isto
é, retroage à data do óbito, juntamente com a abertura da sucessão, diferentemente do
processo de adoção comum, pois neste os efeitos legais somente serão iniciados após o
trânsito em julgado da sentença.
Outro requisito de legitimação para adotar, está disposto no artigo 1.620 do
Código Civil e artigo 44 do Estatuto da Criança e do Adolescente, onde, destaca Venosa
(2003, p. 338), o tutor ou curador estarão temporariamente proibidos de adotarem seus
pupilos e curatelados, quando estes tiverem patrimônio e as contas relativas à administração
dos bens do pretendido não forem aprovadas e apresentadas ao juiz, pois tal restrição tem
por finalidade evitar a apropriação indevida de bens do adotado pelo tutor ou curador que
pretenda enriquecer-se indevidamente. Contudo, assevera-se que o mencionado dispositivo
não é muito utilizado no sistema brasileiro.
Por outro lado, como bem dispõe Franciulli Neto, Martins Filho e Mendes
(2003, p. 1204) referida restrição não abrange todos os tutores, ou curadores, mas somente
aos que estiverem na incumbência de administrar os bens de seus pupilos e curatelados.
Nesse sentido, as demais pessoas que cumprem com aludida função sem que haja bens
patrimoniais a zelar, poderão a qualquer tempo configurar como parte ativa no processo de
adoção.
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A curatela é, portanto, encargo deferido por lei a alguém para reger a pessoa e
administrar os bens de outrem, que não pode fazê-lo por si mesmo. Não se
confunde com a tutela. Recai esta, tão-somente, sobre menores, ao passo que
aquela, normalmente, incide sobre indivíduos de maior idade, privados de
discernimento.
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Artigo 1.621. A adoção depende de consentimento dos pais ou dos representantes legais, de quem se deseja
adotar, e da concordância deste, se contar mais de doze anos.
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mais próxima, tal como o filho. Como o neto adotado assumirá a posição de filho, para
todos os efeitos, ele concorrerá com seu próprio pai, na sucessão do avô”.
Esclarece Pachi (2002, p. 147) que a proibição da adoção por ascendentes e
irmãos, “... visa evitar confusões de parentesco, pois, o neto passaria a ser filho, da mesma
forma que o irmão”.
Ademais, Franciulli Neto, Martins Filho e Mendes (2003, p. 1203) aduzem
que assim como a doutrina, entende a jurisprudência que tanto para os avós como para os
irmãos do adotando caberá o deferimento da tutela, pois “ao obstar que sendo os
descendentes parentes biológicos não se deve desvirtuar-se a ascendência por via da
adoção”.
Cerqueira apud Granato (2003, p. 83) em seu voto vencido no Tribunal de
Justiça de São Paulo, em 06.08.1974, ensina que:
Continuando, o autor (p. 339) destaca que “... podem ser adotadas aquelas
crianças que, sujeitas a um poder familiar exercido por seus pais, por tutor ou por parentes
próximos em caso de orfandade, contem com o consentimento de seus representantes legais
no sentido de acordarem com sua adoção”.
Nesse sentido, assevera-se a legitimidade da adoção as crianças e
adolescentes de pais falecidos, desconhecidos, destituídos judicialmente do poder familiar,
ou estando, ainda, os pais com referido poder, desde que, consintam legalmente na
colocação de seus filhos para adoção.
Ensina Gomes (2002, p. 374) que todas as pessoas podem ser adotadas, seja
nascitura, pessoa capaz, ou ainda, incapaz, isto é, com incapacidade absoluta ou relativa,
desde que a diferença entre adotante e adotado seja, no mínimo, de 16 (dezesseis) anos.
Desse modo, como bem enfatiza Granato (2003, p. 111/112) os maiores de
18 (dezoito) anos também podem ser adotados, todavia, serão regidos pelo Código Civil,
enquanto que aos menores de 18 (dezoito) anos aplicar-se-á ambas as leis, ou seja, tanto o
Código Civil vigente, que procurou tratar por inteiro sobre o instituto da adoção, como
também, no que couber ao Estatuto da Criança e do Adolescente, haja vista certas
disposições significantes não terem sido repetidas na nova lei.
Nesse diapasão, continua Venosa (2003, p. 349), “questão importante já
acentuada diz respeito à adoção de maiores de 18 anos, que o novo Código exige seja
formalizada com sentença e com assistência efetiva do Poder Público (art. 1.623)”.
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Logo, a segunda etapa do processo de adoção iniciará por via judicial, onde
o representante do Ministério Público atuará como fiscal da lei, ou ainda, como parte ativa
da demanda. Referido procedimento será devidamente aprofundado no capítulo
subseqüente, mais precisamente no sub capítulo 2.3.
Entretanto, tal procedimento atribui-se tanto para os menores quanto para os
maiores de 18 (dezoito) anos, segundo os termos do artigo 1.623, parágrafo único do
Código Civil, eis que a adoção por procuração, ou escritura pública foi devidamente
revogada pela atual lei em vigor, que passou a deferir somente adoção mediante
“assistência efetiva do Poder Público e de sentença constitutiva”.
2 DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR POR ATO JUDICIAL
..., não se deferirá a adoção para a pessoa que revele, “por qualquer modo”,
incompatibilidade com a natureza da medida ou não “ofereça ambiente familiar
adequado” (art. 29, ECA), devendo ser assegurada convivência, em ambiente
“livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes” (art. 19,
ECA). Estas disposições estatutárias subministram elementos valiosos à
apreciação judicial e não são incompatíveis com as normas do CC.
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Artigo 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um registro de crianças e
adolescentes em condições de serem adotados e outro de pessoas interessadas na adoção.
[...]
§ 2º. Não será deferida a inscrição se o interessado não satisfizer os requisitos legais, ou verificada qualquer
das hipóteses previstas no art. 29.
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... o consentimento deve ser de ambos os pais, já que a ambos pertence o pátrio-
poder (sic). Discordando eles, ou qualquer deles, o pedido se torna inviável, a
menos que, havendo motivos graves, em decorrência de ação ou omissão do
discordante [p. ex. abandono do filho, infligência a este de castigos imoderados,
prática de atos contrários à moral e aos bons costumes, infringência do dever de
guarda, sustento e educação do filho ou omissão no dever de cumprir ou fazer
cumprir as determinações judiciais ...].
Por outro lado, elenca o artigo 45, parágrafo 1º, da Lei n.º 8.069, de 13 de
julho de 1990, assim como o texto disciplinado no artigo 1.624 do Código Civil, a
desnecessidade “do consentimento do repre sentante legal do menor, se provado que se
tratar de infante exposto, ou de menor cujos pais sejam desconhecidos, estejam
desaparecidos,” porquanto, ainda que tenham sido destituídos do poder familiar sem a
efetiva nomeação de um tutor para o menor, ou, ainda, tratando-se de órfão, se este não
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tiver sido reclamado por nenhum parente, a mais de um ano, esses também estarão
dispensados de manifestar-se no consentimento da adoção.
Nesse diapasão, Chaves (1995, p. 160) destaca que referido ato não pode ser
realizado por outra pessoa, isto é, caberá aquele que tem legitimidade consentir ou não com
o processo de adoção.
Com efeito, ensina, ainda, Paula (2004, p. 434):
Se o infante exposto (abandonado) não tiver pais conhecidos, ou seja, pai e mãe
inscritos no seu assento de nascimento, também não será necessário processo de
destituição do poder familiar (promover a ação em face de quem?), sendo esta a
única interpretação razoável também para a situação dos pais desconhecidos (no
mesmo sentido de pais que não registram o filho).
Desta forma, continua o autor, a criança que se encontrar órfão de pai e mãe,
haja vista afigurar-se causa de extinção do poder familiar (art. 1.635, inciso I), estará assim,
livre para a adoção.
Sobre esse aspecto, Franciulli Neto, Martins Filho e Mendes (2003, p.
1211), completam a possibilidade da dispensa da intervenção dos pais ou responsáveis
legalmente se:
..., se os pais não concordam com a adoção, mas, ao mesmo tempo não cumprem
com o seu dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, poderão ter
o poder familiar cassado, em procedimento contraditório e, então, se dispensará
o seu consentimento, nos exatos termos do § 1º do art. 45.
Por outro lado, acrescenta Franciulli Neto, Martins Filho e Mendes (2003, p.
1211), sob o enfoque da rejeição do adotado maior de 12 (doze) anos, quando esse não
concorda com o ato da adoção, eis que “o não consen timento, por si só, não impede a
adoção. Nesta hipótese, o juiz deve examinar todo o conjunto probatório para investigar as
causas do não assentimento para firmar o seu convencimento”.
Aduz, Fonseca [s/d], em seu artigo sobre Adoção Civil e Adoção Estatutária,
no qual questiona tal hipótese e aborda dois motivos importantes para que não ocorra o
processo de adoção, que:
... a) exige a lei, a exemplo do que faz com relação aos pais, o seu
consentimento, isto é, sua concordância, sua anuência, sua permissão. Embora
possa se tratar de pessoa absolutamente incapaz (caso dos menores de 12 e 16
anos de idade) do ponto de vista jurídico, não se pode negar sua capacidade de
discernimento quanto ao instituto. [...]; b) a adoção imita a natureza. O adotante
recebe o adotado como filho, e este o recebe como pai, ampliando a família. Há
uma interação. Contudo, havendo dissidência do menor, que não aceita a adoção,
obrigá-lo importaria em “inspirar -lhe sentimentos de hostilidade, que com o
correr do tempo, desvirtuariam os seus efeitos benéficos”.
de idade ou se já estiver na companhia do adotante por tempo suficiente para que o juiz
avalie a situação.
Ensina ainda, Pachi (2003, p. 172) que a dispensa ao estágio de convivência
não significa que o juiz irá contemplar de imediato a demanda, eis que “há necessidade,
sempre, de que seja feita uma avaliação psicossocial, quando será verificada a adaptação de
parte a parte”, conforme preceitua o artigo 167 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em caso de adoção internacional, isto é, a adoção por estrangeiro residente
ou domiciliado fora do país, disciplina o parágrafo 2º do artigo 46 do Estatuto, que o
estágio de convivência deverá ser cumprido no território nacional com prazo mínimo de
quinze dias, para menores de dois anos de idade, e de no mínimo trinta dias, para menores
com mais de dois anos de idade.
Acrescenta Rodrigues (2002, p. 385) “que a finalidade do estágio de
convivência é comprovar a compatibilidade entre as partes e a probabilidade de sucesso da
adoção”.
Na visão de Granato (2003, p. 81) o estágio de convivência é de grande valia
tanto para o adotando como para o adotante, pois é nessa fase que será avaliado o
comportamento de ambos, ou seja, trata-se do momento de se verificar a empatia da família
substituta com o pretendente a adoção. Dessa forma, acrescenta que “é de grande
importância esse tempo de experiência, porque, constituindo um período de adaptação do
adotando e adotantes à nova forma de vida, afasta adoções precipitadas que geram situações
irreversíveis e de sofrimento para todos os envolvidos”.
Sendo assim, o consentimento para a adoção consiste em uma das etapas da
fase processual do pedido de adoção, onde ocorre a manifestação dos representantes legais
do menor, ou desse quando constar com mais de doze anos em acordar com a demanda. Tal
consentimento é dado perante o juiz e na presença do representante do Ministério Público,
onde serão utilizados por esses nas avaliações finais, a fim de, deferir ou não o processo da
adoção.
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... conjunto de direitos e obrigações, quanto à pessoa e bens do filho menor não
emancipado, exercido, em igualdade de condições, por ambos os pais, para que
possam desempenhar os encargos que a norma jurídica lhes impõe, tendo em
vista o interesse e a proteção do filho.
O pai e a mãe não podem renunciar ao pátrio poder, pois os direitos, que têm,
não lhes foram concedidos por virtude de medida em favor deles, mas em
benefício dos filhos ou do filho. O pátrio poder é suscetível de destituição;
porém, em quaisquer circunstâncias, persiste irrenunciável. E será nulo o pacto
pelo qual se renuncie ou se prometa a renúncia.
5
Poder Familiar é o mesmo que Pátrio Poder referido em legislações anteriores ao Código Civil de 2003,
todavia, o atual código em vigor entendeu apenas modificar a nomenclatura, permanecendo seu significado
inalterado.
6
Pátrio Poder – Sendo o pátrio poder direito indisponível, sem a prova dos pressupostos do art. 395 do Código
Civil, não podem nem deve sua perda ser decretada, mesmo que com isso não se oponha quem o detém. Ação
improcedente. Recurso improvido. Decisão: unânime” (TJPR – Ac. 12462, 18-8-97, Rel. Dês. Wilson
Reback).
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... . Não se conhecendo a mãe do menor, seria prejudicial deixá-lo sem alguém
que por ele velasse. [...]. Se, durante esse tempo, alguém o adota, ou,
posteriormente, sob a tutela, com o assentimento do tutor, - fica o menor sob o
pátrio poder do adotante, que não cessa, por ser ato perfeito, ainda que qualquer
dos pais venha a reconhecer o filho.
Uma vez suspenso o poder familiar, perde o genitor todos os direitos em relação
ao filho, inclusive o usufruto legal. Se houver motivos graves, a autoridade
judiciária poderá decretar liminarmente a suspensão do poder familiar, dentro do
poder geral de cautela. Trata-se de uma medida que se aproxima a uma
antecipação de tutela. Nessa hipótese, defere-se a guarda provisória a terceiro,
até final decisão (art. 157 do Estatuto da Criança e do Adolescente).
A suspensão do poder familiar por parte de seus titulares poderá ter reflexos
sobre todas prerrogativas ou direitos inerentes ao seu exercício ou mesmo atingir
apenas parcela de ditas prerrogativas e direitos, cessando com o desaparecimento
da causa que a ensejou, portanto, considerada menos gravosa e de cunho judicial
facultativo.
Sobre o mesmo raciocínio, continua Elias (2003, p. 46) haja vista os pais
poderem castigar seus filhos de forma moderada, entretanto:
Discorre Diniz (2002, p. 452) que “se os pais não cumprirem o dever legal e
moral de educar seus filhos, perderão o poder familiar (CC, art. 1.638,II) e sofrerão as
sanções previstas no Código Penal (arts. 244 e 246) para o crime de abandono material e
intelectual dos menores”.
Oportunamente, discorre Venosa (2003, p. 369) quanto ao abandono do
filho, eis que tal prerrogativa “não é apenas o ato de deixar o filho sem assi stência material:
abrange também a supressão do apoio intelectual e psicológico. A perda poderá atingir um
dos progenitores ou ambos”.
No mesmo diapasão, ensina Rodrigues (2002, p. 413): “Abandono não é
apenas o ato de deixar o filho sem assistência material, fora do lar, mas o descaso
intencional pela criação, educação e moralidade”.
Segundo dispõe Andrade (2003, p. 112) “... a pobreza – a miséria material –
não poderá servir de base para a decretação da perda ou suspensão do pátrio poder, a
criança e o adolescente serão mantidos em sua família de origem, até porque tem o Estado
obrigação ...” de proteger tanto o menor, como também a família, isto é, um ambiente
familiar favorável para que a criança possa permanecer com sua família consangüínea.
Nesse sentido, dispõe o artigo 23 e seu parágrafo único do Estatuto da
Criança e Adolescente que “a falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo
suficiente para a perda ou a suspensão do pátrio poder”. Acrescenta, o parágrafo único do
mesmo dispositivo legal, que caberá ao Estado tentar todas as maneiras possíveis para que a
família não seja desfeita, devendo incluí-la em programas de auxílio para tentar recuperá-la.
Dessa forma, disciplina o artigo 226, §§ 7º e 8º da Constituição Federal de
1988:
... considerar menor em situação irregular o que se acha em perigo moral, por
encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes. P.
ex.: se vive em companhia de mãe prostituta ou de pai que se entrega ao
lenocínio ou ao uso de entorpecentes, vivendo desregradamente ou sofrendo
abusos de ordem sexual.
Por fim, ressalta-se a última hipótese inerente à perda do poder familiar, haja
vista tratar-se de uma das inovações por parte do legislador de 2002, onde estabelece a
incidência reiterada, nas faltas previstas no artigo 1.6377 do Código Civil.
Com isso, Diniz (2002, p. 460) demonstra que o texto legal é taxativo ao
especificar tal prerrogativa para perda do poder familiar, isto é, “incid ir, reiteradamente, no
abuso de sua autoridade, na falta dos deveres paterno-maternos, na dilapidação dos bens da
prole e na prática dos crimes punidos com mais de 2 anos de prisão”.
Acrescenta Venosa (2003, p. 378) que “a condenação por crimes apenados
com reprimendas inferiores poderá ocasionar a suspensão, ou até a perda do pátrio poder,
dependendo da gravidade com relação ao filho”.
Completa Rodrigues (2002, p. 415): “[...]. Saudável essa inovação, evitando
o abuso dos pais na repetida incidência de falha, aguardando a pena mais branda ao ato”.
7
Artigo 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou
arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a
medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar,
quando convenha.
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8
Artigo 24. A perda e a suspensão do pátrio poder serão decretadas judicialmente, em procedimento
contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado
dos deveres e obrigações a que alude o art. 22.
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Cabe aqui mencionar mais um ensinamento do autor (p. 501), onde relembra
os casos para o ajuizamento do pedido de destituição do poder familiar, isto é, aqueles
disciplinados no artigo 1.638 do Código Civil, assim como o artigo 22 do Estatuto:
desconhecido o seu paradeiro, à citação por edital”. Porquanto, dispõe que a falta da
citação, “ou realizada imperfeitamente, o vício atinge todo o processo, tornando ineficazes
os atos que já se houveram efetuado”.
O mesmo autor (p. 507) prossegue aduzindo que:
Se o réu for citado com hora certa, ou por edital, e não comparecer no prazo da
resposta, ser-lhe-á dado curador especial (art. 9º, II, do CPC), função que
compete ao Ministério Público exercer. Se a ação houver sido proposta por um
representante deste órgão, cabe a outro membro do Parquet o encargo, o qual
cessará se o réu, mais tarde, acabar se apresentando nos autos.
Uma vez constatado o abandono de menor e não podendo esse ser colocado
em família substituta no Estado, caberá ao Juizado comunicar a CEJA para que esta possa
procurar em seu cadastro geral pretendentes compatíveis com o perfil do adotado.
Inicialmente, será procurado a nível nacional, posto que somente em casos excepcionais
deverá ser consultado o cadastro de pretendentes estrangeiros, como bem enfoca o item 11
do Provimento nº 12/93 da Corregedoria Geral da Justiça do Tribunal de Justiça de Santa
Catarina.
Completa o Provimento nº 11/95 (ADOÇÃO em Santa Catarina. 2002, p.
61), em seu artigo 2º, a necessidade do envio pelos Juizados da Infância e da Juventude do
formulário SICO 2135 a CEJA. Todavia, acrescenta o artigo 3º do mesmo provimento que
no pedido de adoção entregue a CEJA deverão constar obrigatoriamente os seguintes
documentos: requerimento ao Juiz da Infância e Juventude; atestado de sanidade física e
mental; atestado de antecedentes criminais; comprovante de residência; certidão de
casamento (se casado); carteira de identidade; fotos dos requerentes se quiserem, para que a
habilitação ao cadastro possa ser analisada e deferida.
Por oportuno, cabe acrescentar o teor da entrevista realizada na Corregedoria
Geral de Justiça do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, junto à CEJA, ocorrida no dia 3
de junho do corrente ano, às 13:15 horas, com a Sra. Myrtis Maria Malburg, integrante da
equipe da secretaria, que forneceu alguns dados referentes aos pretendentes brasileiros
cadastrados no banco Estadual, informando que, atualmente, encontram-se inscritos 2.151
pretendentes à adoção, sendo que, 1.093 residem em Santa Catarina e 1.058 residem em
outros estados.
Aduziu, ainda, que oitenta e duas crianças se encontram juridicamente
disponibilizadas à adoção, isto é, já com sentença de destituição do poder familiar ou
entregues espontaneamente pelos pais. Todavia, estas crianças vivem em abrigos ou casas
lares nos municípios de origem e são na grande maioria grupos de 2, 3 ou 4 irmãos com
idade entre 5 e 14 anos.
No estado de Santa Catarina existem 78 instituições cadastradas junto a
CEJA, entre abrigos e casas lares, que abrigam crianças abandonadas ou maltratadas por
seus pais, sendo que 1005 crianças abrigadas estão com idade entre 7 a 16 anos. Entretanto,
ressalta-se que referidas crianças não se encontram aptas para adoção, uma vez que não
45
foram destituídas do poder familiar de seus pais. Complementou, ainda, a entrevistada, que
são realizadas por ano em Santa Catarina, aproximadamente, 700 adoções para brasileiros e
15 adoções para estrangeiros.
Todavia, havendo dificuldade em encontrar pretendentes que se enquadrem
no perfil do adotado, o Juizado acionará prontamente a Comissão Estadual Judiciária de
Adoção para lhe dar suporte na busca de uma família substituta.
Verifica-se que a função da CEJA é, também, a de reduzir o tempo de
permanência de crianças e adolescentes em abrigos sem uma família que lhe possa amparar.
Ressaltando-se, assim, o trabalho compartilhado com os Juizados do Estado, bem como
com os Juizados nacionais e referidas instituições que abrigam menores destituídos do
poder familiar, a fim de garantir sucesso no processo adotivo, isto é, o direito do menor de
ser adotado por uma família que tenha o perfil adequado ao seu.
competente para a apreciação do pedido de adoção quando trata-se de menores com até 18
anos incompletos a data do pedido, todavia, ressalva-se que uma vez estando com idade
superior a 18 anos será competente o órgão citado se o adotado já estava sob a guarda ou
tutela dos adotantes antes de completar a idade referida, conforme a lição de Venosa (2003,
p. 347) ao destacar que “... a adoção de maiores de 18 anos deverá ter seu curso nas Varas
de Família”.
Leciona Granato (2003, p. 96) que o processo de adoção não comporta
custas processuais, bem como honorários advocatícios, entretanto, corre sob segredo de
justiça, ou seja, somente as partes interessadas terão acesso ao processo. Todavia,
acrescenta que “... o procedimento será de jurisdição voluntária quando houver
consentimento dos pais naturais, ou estes já tiverem sido destituídos do pátrio poder. Será
contencioso quando os pais estiverem no exercício do pátrio poder e não consentirem
expressamente na adoção”.
Na visão de Pereira (2002, p. 144) ao tratar-se de jurisdição voluntária
caberá ao juiz e ao ministério público interceder exigindo o mesmo procedimento inerente à
jurisdição contenciosa, ou seja, requerer à equipe técnica a avaliação dos pretendentes e
daquele que será adotado para, então, homologar-se o feito. Ademais, conclui, que na
jurisdição contenciosa “caberão as partes o direito à ampla defesa e ao contraditório,
devendo o Sistema de Justiça contar com o apoio técnico interdisciplinar para emissão de
pareceres e laudos psicossociais”.
Desta forma, observa-se que tanto na jurisdição contenciosa como na
voluntária haverá uma avaliação por parte da equipe judiciária competente, composta de
peritos como assistentes sociais e psicólogos forenses para que a adoção não corra o risco
de desviar-se da sua finalidade, ou seja, da integração do menor em uma família que possa
atender todas as necessidades básicas do adotado, onde prevaleça sempre o bem estar do
mesmo.
A legislação civil vigente disciplinou a forma da adoção em seu artigo 1.623
e parágrafo único, onde, determinou que toda adoção passará pelo crivo do judiciário, e
será devidamente assistida pelo poder público, de forma que a sentença constitutiva torna-
se requisito obrigatório para a formalização do vínculo adotivo.
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Nesse diapasão, completa Monaco (2003, p. 347) que “o novo Código Civil
inova o ordenamento jurídico nacional quando estabelece, no parágrafo único do art. 1.623
que a adoção de maiores de 18 anos de idade dependerá, como a adoção de menores de 18
anos, da assistência efetiva do Poder Público e de sentença Constitutiva”.
Entretanto, Venosa (2003, p. 327) aduz:
..., que o novo Código Civil, não alterou, em princípio, a filosofia e a estrutura
do Estatuto da Criança e do Adolescente, sua competência jurisdicional e seus
instrumentos procedimentais. Desse modo, mantém-se a atribuição dos juizados
da infância e da juventude para a concessão de adoção dos menores, havendo
que se compatibilizar ambos os diplomas.
Artigo 165................................................................................................................
... nos termos do art. 166 do Estatuto, por exceção, poderá ser formulado
diretamente em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, se os
pais forem falecidos ou se tiverem sido destituídos ou suspensos do pátrio poder,
ou houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em família
substituta. No parágrafo único, do mesmo artigo, há a exigência de oitiva dos
pais pela autoridade judiciária e pelo representante do Ministério Público e de se
tomar por termos as declarações, na hipótese de concordância com o pedido.
Artigo 29. Não se deferirá colocação em família substituta a pessoa que revele,
por qualquer modo, incompatibilidade com a natureza da medida ou não ofereça
ambiente familiar adequado.
falta desta ou daquele. Nada melhor do que alguém isento e que tenha por
missão constitucional tal zelo.
... elege o Ministério Público como instituição primeira na garantia dos direitos
mencionados ao dizer que compete ao Ministério Público zelar pelo efetivo
respeito aos direitos e garantias legais assegurados às crianças e adolescentes,
promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis, a verdade quis dizer
que todo e qualquer direito de criança e adolescente, ameaçado ou violado, seja
pelos pais, pela comunidade, pela sociedade ou pelo Estado, poderá o Ministério
Público intervir. Somente ao órgão do Ministério Público foi dada a atuação no
campo judicial e extrajudicial com tamanha intensidade ...
Nesse diapasão, Pachi (2003, p. 177) afirma que “uma vez concedida a
adoção e transitando em julgado a decisão respectiva, o ato torna-se imutável. Significando
dizer que a adoção não pode ser revogada, quer por acordo entre as partes, quer por outra
decisão judicial, salvo, nesta hipótese, se o ato estiver maculado por algum vício”.
56
Por outro lado, ressalta Monaco (2003, p. 342) que a adoção singular, isto é,
aquela “pleiteada por alguém relativamente ao filho ou à filha de seu cônjuge ou
convivente”, é a única adoção que, uma vez concretizada, não cessa os efeitos e o vínculo
parental do pai ou mãe biológica ainda sobrevivente ou conhecido, ou seja:
Ademais, ensina Monaco (2003, p. 343) que “..., uma vez estabelecida a
paternidade civil, estes passam a exercer o poder familiar de forma irrenunciável,
sujeitando-se, no entanto, aos casos de sua cessação, perda ou suspensão”. Logo, é com
base nesse preceito que a revogação da adoção não é aceita.
Cabe ressaltar o contexto inserido no artigo 47 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, onde está disposto que o vínculo da adoção se dará através da sentença
judicial, devidamente inscrita no registro civil, entretanto, não será fornecida certidão da
mesma, haja vista o sigilo que tais informações exigem. Contudo, assegura em seu
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Dessa forma, será cancelado o registro civil que mantinha o vínculo com os
pais biológicos, uma vez que será realizada um novo assento de nascimento, isto é, um
novo registro civil ao adotado que, por sua vez, de forma sigilosa, ou seja, sem mencionar
expressamente no novo registro a origem da filiação, a fim de afastar quaisquer tipo de
discriminação, fará menção a existência de processo de adoção que originou a nova
averbação, para que no futuro permita-se verificar os impedimentos matrimoniais.
Complementa Venosa (2003, p. 345) que o parágrafo 5º do mesmo artigo,
47 do ECA, permite que o adotante altere o prenome do adotado. Nesse sentido, aduz que o
mesmo encontra-se expresso na Lei Civil, em seu artigo 1.627, pois “estipula que a decisão
que decreta a adoção confere ao adotado o sobrenome do adotante, podendo determinar a
modificação de seu prenome, se menor, a pedido do adotante ou do adotado”.
Os efeitos da adoção somente produzirão eficácia a partir do trânsito em
julgado da sentença, conforme determina a primeira parte do artigo 1.628 do Código Civil,
bem como, a primeira parte do parágrafo 6º, do artigo 47, da Lei n.º 8.069/90, conforme já
especificado neste estudo.
Por outro lado, haverá exceção a regra quando se tratar de adoção póstuma,
ou seja, conforme disciplinado tanto na segunda parte do parágrafo 6º, do artigo 47, do
Estatuto da Criança e do Adolescente, como também na segunda parte do artigo 1.628 da
Lei Civil, uma vez ocorrendo o falecimento do adotante no curso do processo de adoção, os
efeitos serão retroativos à data do óbito, desde que já tenha o adotante manifestado sua
vontade pelo ato dando início ao pedido de adoção.
Assim, via de regra, transitada em julgado a sentença constitutiva da adoção,
transfere-se o poder familiar aos pais adotivos, que passarão a ter o direito-dever de educar
59
o adotado de acordo com os seus preceitos. Sendo assim, uma vez transferida a titularidade
do poder familiar, verificar-se-á implícitos todos os direitos e deveres essenciais aos pais
adotivos, ou seja, direito de educá-lo, alimentá-lo, de proporcionar-lhe bem estar moral e
material para que possa desenvolver-se num ambiente saudável. Da mesma forma, caberá
ao adotado obedecer e respeitar seus pais adotivos até que obtenha a sua independência.
9
Artigo 1696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os
ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros.
60
O adotado possui todos os direitos sucessórios de qualquer outro filho, pois não
subsiste mais qualquer desigualdade entre filhos. A integração plena do adotado
na família do adotante se traduz em deveres e direitos recíprocos, não sé entre o
adotante e o adotado, ma entre o adotado e a família do adotante e os
descendentes do adotado e o adotante e sua família. A adoção, não custa
reafirmar, contém em si um duplo efeito: faz desaparecer os vínculos entre o
adotado e sua família anterior e, por conseguinte, dá origem a relações parentais
entre a família do adotante e o adotado e seus descendentes.
10
Artigo 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive
sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.
11
Artigo 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designação discriminatórias relativas à filiação.
12
Artigo 1.839. Se não houver cônjuge sobrevivente, nas condições estabelecidas no art. 1830, serão
chamados a suceder os colaterais até o quarto grau.
61
Diniz (2002, p. 434) assegura que o adotado por ter direito a metade dos
bens deixados pelo de cujus; poderá, também, requerer a dedução das doações feitas em
vida aos demais herdeiros, independentemente da data que foram realizadas, ou seja, se
posteriores ou anteriores a adoção.
Granato (2003, p. 92) abordando a questão referente a adoção unilateral,
prevista no artigo 41, § 1º do Estatuto da Criança e do Adolescente, onde o companheiro
poderá adotar o filho do outro, aduz que “... permanecendo os vínculos de filiação entre o
adotado e o cônjuge ou concubino do adotante e seus parentes, o adotado será chamado à
vocação hereditária de ambas as partes, quando um ou outro falecer”.
Na mesma linha de raciocínio, Rodrigues (2002, p. 382) contribui com seus
ensinamentos, aduzindo que uma vez inserido no papel de adotante, esse não será
desconstituído do poder familiar caso seja rompido o enlace matrimonial, ou a união
estável, portanto, ao adotado serão mantidos todos os direitos, pois:
... o divórcio do novo casal ou a separação dos concubinos não tira do adotante o
pátrio poder e os demais direitos, por ele adquiridos com a adoção. Esse e outros
problemas conexos, como direito de visitas, obrigação alimentar, direito
sucessório, continuarão a existir, como se não tivesse havido divórcio entre os
cônjuges ou rompimento entre os concubinos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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do Adolescente]. In: CURY, Munir. [coordenador]. Estatuto da Criança e Adolescente
Comentado. Comentários Jurídicos e Sociais. 6ª ed. revista e atualizada pelo Novo
Código Civil. São Paulo: Malheiros, 2003.
BEVILAQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado. 5ª ed. v.
II. São Paulo: Francisco Alves, 1943.
CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. 4ª ed. revista, ampliada e atualizada de acordo com
o Novo Código Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
CURY, Munir. MARÇURA, Jurandir Norberto. PAULA, Paulo Afonso Garrido de.
Estatuto da Criança e Adolescente Anotado. 3ª ed. revista e atualizada. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2002.
DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. 9ª ed. rev. e atual. de acordo com o novo
Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 18ª ed. ampliada e atualizada de
acordo com o Novo Código Civil. v. 5. São Paulo: Saraiva, 2002.
GOMES, Orlando. Direito de Família. Atualizador: Humberto Theodoro Júnior. 14ª ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2002.
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Do Poder Familiar. In: DIAS, Maria Berenice. PEREIRA,
Rodrigo da Cunha. Direito de Família e o Novo Código Civil. 2ª ed. Belo Horizonte: Del
Rey, 2002.
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. 35ª ed. revista. v. 2. São
Paulo: Saraiva, 1999.
PACHI, Carlos Eduardo. [Comentário aos artigos 42, 46, 48, 50 do Estatuto da Criança e
do Adolescente]. In: CURY, Munir. Estatuto da Criança e Adolescente Comentado.
67
Comentários Jurídicos e Sociais. 6ª ed. revista e atualizada pelo Novo Código Civil. São
Paulo: Malheiros, 2003.
PAULA, Paulo Afonso Garrido de. Reflexos do Novo Código Civil no Estatuto da
Criança e do Adolescente. In: REIS, Selma Negrão Pereira dos. [coordenadora].
FRANCO, Eloísa Virgili Canci. OLIVEIRA, Rogério Alvarez de [organização]. Questões
de Direito Civil e o Novo Código. São Paulo: Ministério Público. Procuradoria Geral de
Justiça: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004.
PEREIRA, Tânia da Silva. Da Adoção. In: DIAS, Maria Berenice. PEREIRA, Rodrigo da
Cunha. Direito de Família e o Novo Código Civil. 2ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2002.
POZO, Antônio Araldo Ferraz Dal. [Comentário ao artigo 202, 204 do Estatuto da Criança
e do Adolescente]. In: CURY, Munir. Estatuto da Criança e Adolescente Comentado.
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RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil. 27ª ed. atualizada por Francisco José Cahali, com
anotações ao Novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). v. 6. São Paulo: Saraiva,
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SILVA FILHO, Artur Marques da. O Regime Jurídico da Adoção Estatutária. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.
SILVA, Regina Beatriz Tavares da. Da Adoção. In: FIÚZA, Ricardo.[coordenador]. Novo
Código Civil Comentado. São Paulo: Saraiva, 2002.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família. 3ª ed. v. 6. São Paulo: Atlas,
2003.
68
ANEXOS
ANEXO III
Mi n i s t ér i o P ú bl i co do E s t ado de S an t a Cat ar i n a
ATO Nº 088/2003/MP
O Procurador-Geral de Justiça, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo art.
18, X, da Lei Complementar Estadual no 197/2000; e
Considerando que compete ao Procurador-Geral de Justiça estabelecer o Plano Geral de
Atuação do Ministério Público, segundo dispõe o art. 81, caput, da Lei Complementar
acima referida;
Considerando que o Ato no 066/MP/2003, por meio do seu art. 8o, dispôs que o Plano
Geral de Atuação será instituído por Ato do Procurador-Geral de Justiça;
Considerando que o Plano Geral de Atuação é um importante instrumento de
democratização das decisões internas da Instituição, especialmente no que se refere à
definição de prioridades, permitindo uma atuação eficaz e integrada de todos os órgãos da
Instituição;
RESOLVE:
I - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
As instituições não existem sem uma razão de ser, tampouco existem para si mesmas.
Todas têm a sua finalidade social, às vezes até, legalmente estabelecida. Assim também é o
Ministério Público, que, historicamente, sempre teve ao seu cargo a defesa do interesse
público.
Em outra época, a atuação do Ministério Público dava-se, sobretudo, na área criminal e,
na cível, em defesa dos incapazes, dos menores, dos interesses individuais indisponíveis e
do interesse público, este traduzido, em regra, no interesse patrimonial da Fazenda Pública.
Na década de 80, o Ministério Público sofreu modificações importantes no seu elenco de
atribuições, com o advento de diversos diplomas legais, que ampliaram consideravelmente
a dimensão e o alcance de sua missão social. O primeiro foi a Lei no 7.347/85, que instituiu
a ação civil pública e confiou ao Ministério Público a defesa de direitos difusos e coletivos.
Depois, a Carta Constitucional de 5 de outubro de 1988, que, emancipando o Ministério
Público do papel de defensor do Estado, erigiu-o à condição de defensor da Sociedade,
atribuindo-lhe a defesa do regime democrático, da ordem jurídica e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis (CF, art. 127).
Nos dias de hoje, tamanho é o leque de atribuições a ele confiadas, que se faz imperioso
traçar políticas e definir prioridades, notadamente diante das limitações de ordem estrutural
e financeira com que historicamente tem convivido. Daí porque a Lei Complementar
Estadual no 197, de 13 de julho de 2000, estabeleceu, nos seus arts. 80 e 81, a necessidade
da elaboração de um Plano Geral de Atuação, assegurando, a despeito da iniciativa do
Procurador-Geral de Justiça, a participação dos Centros de Apoio Operacional, dos Órgãos
de Execução do Ministério Público e de um Conselho Consultivo, democraticamente
composto pela classe.
Além de permitir a definição das políticas e prioridades institucionais, o Plano Geral de
Atuação representa o amálgama que orientará as ações e a união de esforços do Ministério
Público em torno de propostas comuns de atuação de seus órgãos e agentes, dando
consistência ao princípio da unidade, eficaz instrumento de aglutinação de forças para o
resgate dos compromissos sociais e políticos que recaem sobre a Instituição.
Assim, após a edição do Ato no 56/MP/03, que instituiu o Conselho Consultivo de
Políticas e Prioridades Institucionais e definiu a sua composição e atribuições, e do Ato no
66/MP/03, que regulamentou o procedimento do Plano Geral de Atuação, esta
Procuradoria-Geral de Justiça, dando cumprimento aos ditames da Lei, após ter elaborado
um Anteprojeto, possibilitou que esse fosse amplamente discutido pelos demais Órgãos
participantes, que sobre ele se debruçaram e apresentaram sugestões, diretamente ou por
intermédio do Conselho de Políticas e Prioridades Institucionais, que, por sua vez,
formulou sugestões em documento apresentado ao Procurador-Geral de Justiça em 29 de
julho do corrente.
Analisadas as sugestões, a Procuradoria-Geral de Justiça efetuou a respectiva
sistematização, elaborando um Projeto de Plano Geral de Atuação, que foi submetido à
apreciação do Conselho de Políticas e Prioridades Institucionais, que o aprovou
integralmente, em reunião realizada no dia 25 de agosto do corrente, conforme Ofício no
02/03.
Em síntese, o que se pretende com este Plano é apresentar aos membros e servidores do
Ministério Público catarinense e à Sociedade em geral as políticas e prioridades
71
2. ÁREA CRIMINAL
72
Implementar ações integradas com os organismos policiais, bem como com os demais
órgãos públicos correlatos, visando à identificação de situações causadoras de condições
para a prática de delitos ou de quaisquer outros comportamentos indesejáveis ou
socialmente negativos, inclusive no âmbito dos estabelecimentos penais, e, após, à
eliminação dessas situações por meio de medidas administrativas dos órgãos públicos
competentes, fomentadas pelo Ministério Público, bem como por intermédio de medidas
cíveis e penais de natureza preventiva e repressiva.
Ministério Público Federal, com vistas a uma efetiva repressão às infrações penais
tributárias e à identificação, inclusive em feitos de natureza civil, de focos de conluio entre
o poder público e a iniciativa privada, que, com inobservância dos princípios que norteiam
a atividade tributária, resultam em corrupção e lesão ao erário e em prejuízo de toda a
população.
Implementar ações buscando a cooperação dos órgãos que, direta ou indiretamente, estejam
envolvidos na questão da organização dos espaços urbanos habitáveis, como pressuposto
essencial de uma convivência social saudável e democrática, inclusive o regular
funcionamento dos estabelecimentos onde se propagam sons, vibrações e ruídos,
utilizando-se, como ponto de partida, a elaboração, a reforma e o cumprimento dos planos
diretores municipais, compatibilizados com os princípios e as normas do Estatuto da
Cidade.
6. ÁREA DO CONSUMIDOR
7. ÁREA DA CIDADANIA
Dar continuidade às ações já desencadeadas, visando a zelar pela correta aplicação das
normas relativas ao idoso, evitando a ocorrência de abusos e lesões a seus direitos e
contribuindo com o seu bem-estar, especialmente por meio de vistorias em entidades
asilares e de ações articuladas com outros organismos e instituições.
III - CONCLUSÃO
ANEXO II
Mi n i s t ér i o P ú bl i co do E s t ado de S an t a Cat ar i n a
Gilson Fonseca
Professor do Curso de Direito da UNIVALE
Juiz de Direito Aposentado do TJMG
1. Definição
O termo adoção é originado do latim "adoptio", e quer dizer, literalmente, "ato ou efeito
de adotar". Adotar quer dizer tomar, assumir, receber como filho.
Várias são as definições encontradas na literatura jurídica, acerca do instituto da adoção.
CÍCERO afirmou que "adotar é pedir à religião e à lei aquilo que da natureza não se pode
obter".
CARVALHO SANTOS definiu-a como "ato jurídico que estabelece entre duas pessoas
relações civis de paternidade e filiação."2 PONTES DE MIRANDA disse ser ela um "ato
solene pelo qual se cria entre o adotante e o adotado relação fictícia de paternidade e
filiação."3
Constitui ela ato bilateral, solene, de ordem pública, mediante o qual alguém, nos
termos da lei, estabelece com outrem, estranho ou parente, exceto filho ou irmão, relação
fictícia de paternidade e filiação.
77
2. Origem
Seu surgimento se deu, por certo, para assegurar a continuidade da família. Foi o
recurso extremo no sentido de perpetuar o culto familial. Como diz SILVIO RODRIGUES,
"Aquele, cuja família se extingue, não tem quem lhe cultue a memória e a de seus maiores.
Assim, a mesma religião que obrigava o homem a casar-se para ter três filhos que
cultuassem a memória dos antepassados comuns; a mesma religião que impunha o divórcio
em caso de esterilidade e que substituía o marido impotente no leito conjugal, por um
parente capaz de ter filhos, vinha oferecer, através da adoção, um último recurso para evitar
a desgraça representada pela morte sem descendentes."4 Com o tempo, porém, perdeu ela
essa primitiva finalidade, transmudando-se para ser mais nobre e mais humana. Hoje, ela
tem características assistenciais, visando sempre amparar o adotado, inclusive adultos, por
laços de parentesco ou afetividade, assegurando-lhes uma forma de subsistência - interesse
do adotado -, através de pensão ou outros meios, como ensina PAULO LÚCIO
NOGUEIRA.5 Sem sombra de dúvida, é ela, hoje, utilizada também como meio de
promoção social.
Combatida por muitos, porém defendida pela maioria, a adoção, como verdadeiro
substituto da natureza, tem-se alargado e evoluído consideravelmente. Como diz
ANTONIO CHAVES, "sua vitalidade é tão pujante que conseguiu sobrepairar à
desconfiança, dominar incompreensões e vencer crises, disseminando, em todas as
latitudes, as bênçãos dos seus benefícios.
3. Modalidades
Em nossa legislação, existem dois tipos de adoção. Uma é a adoção civil, também
chamada de "adoção comum", ou "tradicional", para os maiores de 18 anos, prevista nos
arts. 368 e seguintes do Código Civil, que continua em vigor, ao contrário do que chegaram
a sustentar alguns, quando da entrada em vigor do ECA. A outra é a adoção estatutária,
prevista no art. 39 e seguintes da Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente -
ECA), aplicável a todos os menores de 18 anos, indistintamente, abrangendo, também,
aqueles que ao atingirem os dezoito anos já estavam sob a guarda ou tutela dos adotantes
(art. 40 do ECA).
4.1. Requisitos
Seu primeiro requisito é que o adotante tenha mais de 30 anos de idade. Só os maiores
de trinta anos podem adotar, diz o art. 368, do Código Civil. No que diz respeito à idade do
adotado, não fixa o Código Civil a idade máxima para a adoção. Assim, pode ser adotada,
no regime do Código Civil, qualquer pessoa, maior de dezoito anos (se menor, só é possível
a adoção estatutária), inclusive idosa, satisfeitos os demais requisitos legais.
Se casado o adotante, estabelece a lei que ele só poder adotar depois de decorridos
cinco anos do casamento. A razão de ser desse dispositivo é evitar as adoções sentimentais
e prevenir contra o arrependimento que pode ocorrer em caso de o adotante conseguir um
filho após a adoção, fato, aliás, comum. Os tribunais, contudo, têm acertadamente atenuado
os rigores desse dispositivo, permitindo a adoção antes do transcurso do prazo, conforme as
peculiaridades do caso concreto, como, por exemplo, quando o adotante prova ser
78
cinco anos do casamento. A razão de ser desse dispositivo é evitar as adoções sentimentais
e prevenir contra o arrependimento que pode ocorrer em caso de o adotante conseguir um
filho após a adoção, fato, aliás, comum. Os tribunais, contudo, têm acertadamente atenuado
os rigores desse dispositivo, permitindo a adoção antes do transcurso do prazo, conforme as
peculiaridades do caso concreto, como, por exemplo, quando o adotante prova ser
irremediavelmente estéril. Registre-se, também, que há quem entenda que, tendo a Lei
8.069/90 retirado tal requisito para a adoção de menores até dezoito anos, tal exigência não
mais tem razão de ser em relação aos menores entre dezoito e vinte e um anos e de maiores.
Nesse sentido confira-se a lição da Professora Maria Helena Diniz em nota ao art. 368 do
Código Civil.7
Necessário se faz, também, para efeito da adoção civil, que o adotante seja mais velho
que o adotado pelo menos 16 anos. É a regra do art. 369, do Código Civil, cujo fundamento
é encontrado no Direito Romano. Se a adoção tem a imagem da paternidade, necessário se
faz que haja diferença de idade para que haja um ambiente de respeito e austeridade,
resultante da ascendência de uma pessoa mais idosa sobre outra mais jovem, como acontece
na família natural, entre pais e filhos, conforme escreve WASHINGTON DE BARROS
MONTEIRO.8
4.2. Formalidades
A adoção civil é feita por escritura pública, lavrada em qualquer cartório de notas,
independentemente de autorização judicial. Não se exige fórmula sacramental para a
escritura. Basta que do instrumento contenha a declaração de vontade do adotante de tomar
o adotando como filho, e a aceitação deste, sozinho, se maior, ou com a assistência de seu
tutor ou curador ad hoc, se menor de 21 anos e maior de 18, ou do representante legal, se
interdito (CC, art. 372). Em princípio, esse consentimento deve constar da escritura pública
de adoção; não constando, porém, ainda assim pode o ato ser válido se o adotado,
posteriormente, manifestar através de atos inequívocos a sua aceitação.
Em face da natureza do instituto, que envolve estado de pessoa, a presença do adotante
à lavratura do ato parece-me essencial, não podendo ser ele representado por procurador,
ainda que do instrumento conste poderes especiais. Essa exigência, aliás‚ é feita pelo ECA,
em seu art. 39, parágrafo único, no tocante à adoção estatutária, que também será analisada
no presente trabalho. Ressalte-se, contudo, que existem opiniões e decisões em sentido
contrário, dando como válido o ato praticado por intermédio de procurador.
Se o adotante for casado, deve obter o consentimento do seu cônjuge para o ato. Evita-
se, com isso, quebrar a harmonia conjugal. Há, contudo, entendimento no sentido de que o
consentimento é desnecessário, sendo que, nessa hipótese, não pode o filho adotivo residir
no lar comum dos cônjuges, se não houver assentimento do cônjuge que negou o
consentimento para a adoção.
No ato da adoção, pode o adotado escolher o nome de família que quiser. Na escritura
serão declarados quais os apelidos de família que o adotado passa a usar. Não se permite,
contudo, a mudança do prenome.
4.3. Averbação
79
Deve a adoção ser averbada no registro civil do nascimento do adotado. Sua eficácia,
porém, em relação aos participantes do ato não depende dessa averbação, eis que ela
começa a produzir seus efeitos tão logo esteja formalizada. A averbação é necessária
apenas para eficácia do ato em relação a terceiros.10
4.4 Efeitos
A adoção produz vários efeitos, de natureza pessoal e patrimonial, dentre os quais:
a) cria vínculo de paternidade e filiação e gera parentesco civil entre adotante e adotado,
sem extinguir direitos e deveres oriundos do parentesco natural. O parentesco resultante da
adoção limita-se ao adotante e ao adotado, salvo quanto aos impedimentos matrimoniais.
Assim, não podem casar o adotante com o cônjuge do adotado e o adotado com o cônjuge
do adotante; o adotado com o filho superveniente ao pai ou à mãe adotiva (Cod. Civil, art.
183, III e V);
b) transfere, em caráter permanente, o pátrio-poder dos pais de sangue para os pais
adotivos, quando o adotado é menor de 21 anos;
c) possibilita ao adotado o uso do nome de família do adotante, em acréscimo ao nome da
família natural, ou somente àquele, com exclusão deste;
d) cria obrigação recíproca de alimentos entre adotante e adotado, mantendo, porém, a
obrigação alimentar recíproca em relação aos parentes de sangue, podendo o adotado
acionar os parentes naturais, ou por eles ser acionado, em ação de alimentos. Essa
obrigação alimentar entre adotante e adotado, contudo, não se estende aos parentes naturais
de um ou de outro, o que significa que adotante não deve alimentos aos parentes naturais do
adotado, nem este aos parentes de sangue do adotante;
e) em caso de morte de adotado que possua bens e não deixa descendentes, a herança é
atribuída aos pais naturais, e, somente em falta destes, aos pais adotivos;
f) o adotado herda dos pais de sangue e dos pais adotivos, em igualdade de condições com
os filhos naturais (CF, art. 227, § 6º);
g) cria o direito de administração e usufruto sobre os bens do adotado, em favor do
adotante, em decorrência do pátrio poder;
h) cria responsabilidade civil para o adotante, pelos atos ilícitos praticados pelo adotado
menor, nos termos do Código Civil.
Ninguém pode ser adotado por mais de uma pessoa, simultaneamente, salvo se os adotantes
forem marido e mulher (Cod. Civil, art. 370). A adoção imita a natureza, e como nesta não
há possibilidade de se ter mais de um pai ou mãe, não se há de admitir que o adotado possa
tê-lo em virtude de lei.
4.5 Cessação
O vínculo da adoção civil cessa com a morte do adotante ou adotado e pode ser
dissolvido, bilateralmente ou unilateralmente. A dissolução bilateral ocorre quando
adotante e adotado decidem, de comum acordo, pela desconstituição do vínculo (Código
Civil, art. 374, I). Essa modalidade de extinção só é permitida quando os adotados forem
maiores e capazes, posto que impossível a representação.11 Em face do caráter
personalíssimo do negócio jurídico, basta uma escritura pública de desfazimento do ato,
não se exigindo procedimento judicial. Contudo, cuidando-se de menor ou de interdito, não
há possibilidade do desfazimento, enquanto não cessada a menoridade ou a interdição.
Como já decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo, "A dissolução do vínculo, se se cuida
de menor, ou de interdito, não pode dar-se. Só quando cessada a interdição, ou a
menoridade, pode obtê-la o adotado, por desligação unilateral (art. 373); o adotante, ou
adotantes, por decisão judicial, com causa típica (art., 374, II); e ambas as partes, pelo
distrato (art. 374, I). E há razão para que assim seja. O parentesco resultante da adoção não
significa, por si só, ao menor, ou ao interdito, enquanto lhe perdure a interdição, ou a
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Como já decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo, "A dissolução do vínculo, se se cuida
de menor, ou de interdito, não pode dar-se. Só quando cessada a interdição, ou a
menoridade, pode obtê-la o adotado, por desligação unilateral (art. 373); o adotante, ou
adotantes, por decisão judicial, com causa típica (art., 374, II); e ambas as partes, pelo
distrato (art. 374, I). E há razão para que assim seja. O parentesco resultante da adoção não
significa, por si só, ao menor, ou ao interdito, enquanto lhe perdure a interdição, ou a
menoridade, nenhum fardo irreversível e insuportável, como, por si só, não o significa o
parentesco natural. Pode significá-lo algum ato do adotante, mas contra isso há remédio
jurídico diverso da extinção do vínculo parental. De modo que, constituindo deliberação de
suma gravidade, enquanto concerne ao status familiae, a mesma lei que autoriza a adoção,
sem o consentimento real de quem o não pode ter, ou exprimir (art. 372), não lhe autoriza o
distrato, nem a desligação unilateral, sem o consentimento válido de adotado capaz. Escusa
dizer que, nisto, quer a lei tutelar o caráter personalíssimo do negócio jurídico de ruptura da
adoção.12
A extinção ocorre quando apenas uma das partes a deseja, e, nesse caso, depende de
procedimento judicial. O primeiro caso de rescisão unilateral é o repúdio da adoção, pelo
adotado que era menor ou interdito ao tempo em que ela se efetivou. Atingida a maioridade
civil, ou cessada a interdição, pode ele desligar-se da adoção dentro do prazo de um ano
(Código Civil, art. 373) A outra hipótese é prevista no art. 374, II, do Código Civil e se
refere aos casos em que é admitida a deserdação. Esse dispositivo autoriza a dissolução do
vínculo adotivo, pelo pai, quando ocorrer:
a) prática pelo adotado, de crime de tentativa de homicídio ou crime contra a honra do
adotante; b) acusação caluniosa do adotado contra o adotante, em juízo;
c) ofensas físicas ou injúria grave praticadas pelo adotado contra o adotante;
d) relações ilícitas do adotado com filha, madrasta ou padrasto;
e) desamparo do adotante (Código Civil, arts. 1.595 e 1.744).
Autoriza, também, ao filho, reivindicar unilateralmente o desligamento quando o pai:
a) ofendê-lo fisicamente;
b) injuriá-lo gravemente;
c) praticar relações ilícitas com a mulher do adotado ou neto, ou com o marido da filha ou
neta (Código Civil, art. 1.745).
5. Adoção estatutária
A adoção estatutária é tratada a partir do art. 39, do Estatuto da Criança e do
Adolescente. Ela atribui ao adotado a condição de filho, com os mesmos direitos e deveres
do filho de sangue, inclusive sucessórios, que é reciproco entre o adotado, seus
descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e colaterais até o 4º grau,
observada a ordem de vocação hereditária. Com a adoção, fica o adotado desligado de
qualquer vínculo com seus pais e parentes, salvo quando um cônjuge ou concubino adotar
filho do outro, pois, neste caso, mantém-se o vínculo de filiação entre o adotado e o
cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos parentes (art. 41, § 1º). O desligamento
do vínculo, contudo, não atinge os impedimentos matrimoniais, previstos no art. 183, do
Código Civil, que permanecem.
Sua constituição se dá por ato do Estado, através de sentença constitutiva (art. 47),
proferida em processo de conhecimento, que produz efeitos a partir do trânsito em julgado,
salvo no caso da adoção post-mortem, quando os efeitos retroagem à data do óbito do
adotante (art. 47, § 6º).
5.3. Beneficiário
Essa modalidade de adoção é a única que pode ser aplicada às crianças e adolescentes
(art. 39), não mais se questionando a situação em que se encontra o menor. Adotou o ECA
a chamada "teoria da proteção integral", acabando com a distinção entre menor em situação
regular e irregular, que era feita pelo antigo Código de Menores. Por crianças, entendem-se
os menores que não tenham completado doze anos de idade, e adolescentes aqueles que
possuam de doze até dezoito anos incompletos (art. 2º). Há apenas uma exceção a essa
regra: podem ser adotados através dessa modalidade, maiores de dezoito anos, porém
menores de 21, se ao tempo em que atingiram o 18º ano de vida já estavam sob a guarda ou
tutela dos adotantes (art. 40).
5.5. Requisitos
O primeiro requisito, de fundamental importância para o instituto da adoção é
estabelecido pelo art. 29, do ECA.
Sendo a adoção uma forma de colocação da criança ou adolescente em família
substituta, necessário se faz que o adotante revele compatibilidade com a natureza da
adoção e ofereça ambiente familiar adequado. Os adotantes devem apresentar condições
sociais, econômicas, físicas, morais e clima afetivo para receberem o menor em adoção.
Para o deferimento da adoção é necessário que ela apresente reais vantagens para o
adotando e funde-se em motivos legítimos. A verificação dessas vantagens é feita com base
no "estudo da personalidade dos sujeitos da adoção, como da ambiência familiar, situação
material e econômica do lar."13 No que diz respeito aos motivos, devem ser eles legítimos,
isto é, devem estar conforme a lei, serem fundados na razão, apresentarem-se com caráter
de pureza, serem benéficos ao adotando e sem qualquer outro interesse senão o de receber o
adotado como filho. Como diz o Prof. Antonio Chaves, "O fundamental é que a adoção é
uma medida de proteção aos direitos da criança e do adolescente, e não um mecanismo de
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material e econômica do lar."13 No que diz respeito aos motivos, devem ser eles legítimos,
isto é, devem estar conforme a lei, serem fundados na razão, apresentarem-se com caráter
de pureza, serem benéficos ao adotando e sem qualquer outro interesse senão o de receber o
adotado como filho. Como diz o Prof. Antonio Chaves, "O fundamental é que a adoção é
uma medida de proteção aos direitos da criança e do adolescente, e não um mecanismo de
satisfação de interesses dos adultos. Trata-se, sempre, de encontrar uma família adequada a
uma determinada criança, e não de buscar uma criança para aqueles que querem adotar."14
Assim, por exemplo, "Será contra-indicada a adoção cujo adotante é movido por uma
compensação inconsciente de seu defeito conjugal, como a adoção em que a mãe adotiva
adote por sentimento de culpa, ou a celibatária impelida por tendências homossexuais."15
Outro requisito imposto é o estágio de convivência com a criança ou adolescente, pelo
prazo que o juiz estabelecer. A lei não fixa o prazo desse estágio, salvo no caso de adoção
por estrangeiros, como veremos, cumprindo ao juiz estabelecê-lo, observadas as
peculiaridades do caso concreto. Com esse estágio, visa-se dar oportunidade de convivência
dos adotantes com o adotado, antes do ato definitivo de adoção. Objetiva-se "a adaptação
dos novos pais com a criança ou adolescente, bem como oportunizar a vivência do que será
a introdução de um novo membro ou filho na família. Possibilita, também, o exame do
comportamento do menor face à nova filiação. Terão os pretendentes oportunidade para
devolver o menor, caso não se verifiquem as condições para a adoção. Evitam-se situações
confusas e mal encaminhadas, com a posterior desistência da adoção"16, já que "comum é
a rejeição do ou dos adotantes após certo período, notadamente quando a mãe não é capaz
de procriar, trazendo consigo problemas de ordem psicológica. O estágio evita, ainda, as
adoções sentimentais e impensadas."17
O estágio de convivência pode ser dispensado se o adotando tiver menos de um ano de
idade, ou se, qualquer que seja a sua idade, já estiver na companhia do adotante durante
tempo suficiente para se poder avaliar a conveniência da constituição do vínculo adotivo. A
dispensa é faculdade atribuída ao juiz, que a deferirá à vista das circunstâncias do caso
concreto.
Constitui, também, requisito para a adoção estatutária o consentimento dos pais ou do
representante legal do adotando (art. 45 do ECA). Como ensina o Prof. Antonio Chaves,
"Trata-se de um ato personalíssimo, não podendo ser admitido o suprimento do
consentimento."18 Esse consentimento só é dispensado quando os pais da criança ou
adolescente sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do pátrio-poder (art. 45, § 1º).
Estando os pais presentes, somente pode ser concedida adoção com a concordância
destes. O consentimento deve ser de ambos os pais, já que a ambos pertence o pátrio-poder.
Discordando eles, ou qualquer deles, o pedido se torna inviável, a menos que, havendo
motivos graves, em decorrência de ação ou omissão do discordante (p. ex. abandono do
filho, infligência a este de castigos imoderados, prática de atos contrários à moral e aos
bons costumes, infringência do dever de guarda, sustento e educação do filho ou omissão
no dever de cumprir ou fazer cumprir as determinações judiciais - CC, art. 395 e ECA, arts.
22 e 24), se postule no próprio processo de adoção, cumulativamente, ou em processo
distinto, a destituição do pátrio-poder, ressaltando-se, por oportuno, que não constituem
motivos suficientes para a suspensão ou perda do pátrio poder a falta ou a carência de
recursos materiais (art. 23, do ECA). Na falta ou impedimento de um dos pais, como ocorre
p. ex. quando ele está desaparecido há muitos anos, basta o consentimento apenas do
cônjuge presente, que exerce o pátrio poder com exclusividade (Código Civil, art. 380).19
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p. ex. quando ele está desaparecido há muitos anos, basta o consentimento apenas do
cônjuge presente, que exerce o pátrio poder com exclusividade (Código Civil, art. 380).19
Dado o consentimento, pode o pai dele retratar-se. Não há dispositivo legal que impeça
o pai, arrependido do consentimento, voltar atrás em sua manifestação de vontade, feita em
circunstâncias ulteriormente superadas20, desde que o faça antes de o vínculo se tornar
definitivo, pela sentença.
Tratando-se de adolescente, isto é, de adotando maior de doze anos de idade, faz-se
necessário também o seu consentimento para o ato, vez que evidente o seu interesse. Esse
consentimento é exigido expressamente pelo art. 45, § 2º, do Estatuto da Criança e do
Adolescente. E se houver dissidência do menor? Cremos que, nessa hipótese, a adoção não
pode ser deferida, por dois motivos: a) exige a lei, a exemplo do que faz com relação aos
pais, o seu consentimento, isto é, sua concordância, sua anuência, sua permissão. Embora
possa se tratar de pessoa absolutamente incapaz (caso dos menores entre 12 e 16 anos de
idade) do ponto de vista jurídico, não se pode negar sua capacidade de discernimento
quanto ao instituto. Não me parece, pela redação do art. 45, que a opinião do menor seja
apenas resposta a uma consulta, sem força vinculante, pois se o legislador assim o
desejasse, em vez de exigir o consentimento exigiria apenas a oitiva do mesmo; b) a adoção
imita a natureza. O adotante recebe o adotado como filho, e este o recebe como pai,
ampliando a família. Há uma interação. Contudo, havendo dissidência do menor, que não
aceita a adoção, obrigá-lo importaria em "inspirar-lhe sentimentos de hostilidade, que com
o correr do tempo, desvirtuariam os seus efeitos benéficos".21
Podem adotar os maiores de vinte e um anos, independentemente do estado civil. A
adoção pode ser deferida aos solteiros, aos casados, aos separados judicialmente, aos
divorciados e até mesmo aos concubinos que mantenham união estável. Cuidando-se de
pedido formulado por casal, ou por concubinos, pode a adoção ser deferida, ainda que um
deles não tenha atingido os vinte e um anos de idade, desde que comprovada a estabilidade
da família ou da união de fato, pelo exame de alguns elementos "como segurança
emocional, a situação econômica, a maturidade, o equilíbrio, a afinidade, a convivência
etc."22; formulado o pedido por apenas um dos cônjuges, ou concubinos, há necessidade da
anuência do outro ao pedido (art. 165, I, do ECA), para não se permitir quebra da harmonia
conjugal . Aos separados judicialmente e aos divorciados, impõe a lei, para permitir a
adoção conjunta, isto é, por ambos, que o estágio de convivência tenha se iniciado na
constância da sociedade conjugal e que haja acordo sobre a guarda e regime de visitas ao
adotado.
Cuidando-se de pedido formulado por casal e ocorrendo o falecimento de um deles, no
curso do processo, pode, ainda assim, ser a adoção deferida a ambos. É a chamada adoção
post-mortem ou póstuma. Para que isso ocorra basta que o requerente morto tenha
manifestado sua vontade de forma inequívoca, isto é, tenha dado seu consentimento para o
ato, o que, aliás, já se revela ao iniciar o processo (art. 42, § 5º, do ECA). Há quem entenda
que esse permissivo legal abrange, também, em termos, os solteiros, vivos ou separados
judicialmente que morrem sem deixar descendentes, sendo que, nesse caso, o adotando
herda os bens por eles deixados, pois essa era a vontade do falecido que iniciou o processo
de adoção.
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O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho que o adotado (art. 42, §
3º, do ECA). Essa regra, porém, não é absoluta, podendo a adoção ser deferida ainda que
não ocorrente a diferença etária entre adotante e adotado, em caso especial, se verificado
que a adoção é vantajosa para o menor, isto porque a finalidade precípua da adoção é o
bem-estar do adotando.24
Outrossim, cuidando-se de pedido formulado por casal, o fato de um deles não
preencher tal requisito não deve impedir a concessão da adoção. Acolhemos, neste aspecto,
a lição de Valdir Sznick, no sentido de que se a lei permite a adoção por casal, desde que
somente um deles tenha completado vinte e um anos de idade (art. 42, § 2º do ECA), por
analogia deve-se entender que tendo um deles dezesseis anos a mais que o adotando, é
permitida a adoção.25 Assim, em nossa ótica, na adoção conjunta, basta que um dos dois
requerentes seja mais velho dezesseis anos que o adotando.
Os pais, os avós e os irmãos do adotando não podem adotar. Há vedação expressa,
estabelecida pelo art. 42, § 1º, do ECA. Evita-se, com a medida, a confusão parental, que
repugna ao direito de família, impedindo que o filho passe a ser irmão do seu próprio pai ou
da própria mãe e que o irmão se torne pai do irmão etc. Embora criticada por alguns,
parece-nos ser tal solução acertada, pois sendo parentes em grau tão próximo, aos avós e
irmãos compete assistir o menor, não se justificando a criação do vínculo adotivo.
5.6. Impedimentos
Não podem adotar, também, o tutor ou curador do adotando, enquanto não der conta de
sua administração e saldar o seu alcance, isto é, o débito oriundo de utilização indevida de
dinheiro do adotando. É que, uma vez exigida a prestação de contas ao tutor ou curador, ou
havendo fundadas dúvidas sobre a seriedade da sua administração, quanto aos bens do
adotando, surge um conflito de interesses entre ambos, o que, obviamente, há de não
permitir a adoção.
Não se permite a adoção por pessoa jurídica, vez que impossível, em tal caso, o
nascimento do vínculo familiar. O vínculo paterno-filial só se revela possível entre pessoas
físicas. Ademais, o art. 42 do ECA, embora não diga expressamente, só se refere às pessoas
naturais, estabelecendo que "Podem adotar os maiores de vinte e um anos,
independentemente de estado civil."
6.1. Requisitos
Para essa adoção, também chamada de "adoção internacional", são exigidos os mesmos
requisitos relativos à adoção por brasileiros (idade máxima de dezoito anos para o
adotando; idade mínima de vinte e um anos para os adotantes; consentimento dos pais ou
do representante legal, salvo quando os pais do adotando são desconhecidos ou foram
destituídos do pátrio poder; diferença mínima de dezesseis anos entre adotante e adotado;
vantagem real para o adotando; ser a adoção fundada em motivos legítimos e estágio de
convivência), acrescidos dos requisitos específicos, previstos no art. 51 do ECA.
86
6.5. Recurso
Contra a decisão que conceder ou negar a adoção cabe recurso de apelação, no prazo de
10 dias (art. 198, II, do ECA). Em princípio, a apelação, que independe de preparo, só é
recebida no efeito devolutivo; poderá, entretanto, a critério da autoridade judiciária
competente, ser recebida no efeito suspensivo, quando for interposta contra sentença que
deferir a adoção por estrangeiro, se demonstrado perigo de dano irreparável ou de difícil
reparação (inciso VI).
Prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente o chamado "juízo de retratação", tanto no
agravo como na apelação. Antes de determinar a remessa dos autos à superior instância, a
autoridade judiciária deve proferir despacho, mantendo ou reformando a decisão apelada,
no prazo de cinco dias. Esse despacho deve ser fundamentado, por exigência expressa da lei
(inciso VII), isto é, dele deve constar as razões de fato e de direito que determinaram o ato
recorrido e que o justifiquem, sob pena de nulidade. Mantida a decisão apelada ou
agravada, o escrivão remeterá os autos ao tribunal dentro de vinte e quatro horas,
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agravo como na apelação. Antes de determinar a remessa dos autos à superior instância, a
autoridade judiciária deve proferir despacho, mantendo ou reformando a decisão apelada,
no prazo de cinco dias. Esse despacho deve ser fundamentado, por exigência expressa da lei
(inciso VII), isto é, dele deve constar as razões de fato e de direito que determinaram o ato
recorrido e que o justifiquem, sob pena de nulidade. Mantida a decisão apelada ou
agravada, o escrivão remeterá os autos ao tribunal dentro de vinte e quatro horas,
independentemente de novo pedido do recorrente; se reformar a decisão, pode o interessado
ou o Ministério Publico, no prazo de cinco dias, contados da intimação, requerer a remessa
dos autos ao órgão ad quem. Não havendo pedido expresso de remessa dos autos à
instância recursal, dentro dos cinco dias, após a intimação da reforma da decisão recorrida,
ocorre a preclusão, com o trânsito em julgado da nova decisão.
7. Notas e bibliografia
1 Cf. Antonio Chaves in Adoção, adoção simples e adoção plena, 2a ed., SP, RT, 1983, p.
1.
2 Código Civil Brasileiro Interpretado, vol. VI, RJ, Freitas Bastos, 1978, p. 5.
3 Tratado de Direito Privado, tomo IX, 3a ed., RT, 1983, p. 177.
4 Direito Civil, vol. 6, 6a ed., SP, Saraiva, 1978, p. 332.
5 Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado, 2a ed., Saraiva, 1988, p. 66.
6 Ob. cit., p. 8.
7 Código Civil Anotado, SP, Saraiva, 1995, p. 304.
8 Curso de Direito Civil, 2º vol., 20ª ed., SP, Saraiva, 1982, p. 263;
9 STF, RE nº 9.285-RJ, rel. Min. Lafayette de Andrada in RT 200:652;
10 RT 684:156; RF 264:184;
11 Pontes de Miranda, ob. cit., págs. 204-205;
12 RT 643:74;
13 Jason Albergaria in Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente, RJ, Aide,
1991, p. 90;
14 Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. Comentários Jurídicos e Sociais.
Coordenadores: Munyr Cury, Antonio Fernando do Amaral e Silva e Emília Garcia
Mendez, 2ª ed., SP, Malheiros, p. 148;
15 Jason Albergaria, ob. e lug. cit.;
16 Arnaldo Rizzardo, Direito de Família, vol. III, RJ, Aide, 1994, p. 884;
17 Gilson Fonseca, Menor em Situação Irregular e Adoção, Governador Valadares, 1988,
p. 15;
18 Adoção, Belo Horizonte, Del Rey, 1995, p. 160;
19 RT 674:176;
20 Nesse sentido, ver ac. do TJSP na RT 671:80
21 Antonio Chaves, Adoção, 1995, p. 167.
22 Arnaldo Rizzardo, ob. cit. p. 878;
23 Nesse sentido confira-se a lição de Valdir Sznick in Adoção, 2ª ed., SP, Leud, 1993, p.
309;
24 TJMG, Ap. nº 4.779/5, rel. Des. Caetano Carelos in "DJMG" de 5.11.94, p. 1;
25 Valdir Sznick, ob. cit., p. 307;
26 Ana Maria Moreira Marchesa in Colocação em Família Substituta: Aspectos
89
23 Nesse sentido confira-se a lição de Valdir Sznick in Adoção, 2ª ed., SP, Leud, 1993, p.
309;
24 TJMG, Ap. nº 4.779/5, rel. Des. Caetano Carelos in "DJMG" de 5.11.94, p. 1;
25 Valdir Sznick, ob. cit., p. 307;
26 Ana Maria Moreira Marchesa in Colocação em Família Substituta: Aspectos
controvertidos, RT 689:297-300;
27 RT 686:94;
28 Paulo Lúcio Nogueira, ob. cit., p. 63;
29 Cláudia Lima Marques, Novas regras sobre Adoção Internacional no Direito Brasileiro,
RT 692:7-20;
Disponível em : www.wkve.com.br/forumjuridico/artigo1.htm
Acesso 07.05.03
90
ANEXO I
Mi n i s t ér i o P ú bl i co do E s t ado de S an t a Cat ar i n a
A Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas (Paris, 1948), por
sua vez, , apelava ao "direito a cuidados e assistência especiais"; no mesmo caminho, a
Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (Pacto de São José, 1969) preconizava
que "toda criança tem direito às medidas de proteção que na sua condição de menor requer,
por parte da família, da sociedade e do Estado".
No Brasil, com a entrada em vigor do Código de Menores de 1979, poucas foram as
modificações introduzidas na estrutura então existente no país. Essa Lei (n. 6.697, de
10/10/79) procurava definir quais eram as hipóteses de situação irregular e estabelecia as
questões que podiam ser apreciadas pela Justiça Especial.
Neste período, segundo Paula Gomide (1990), "O Estado assumiu a tutela do menor
abandonado ou infrator e a política passou a ter um caráter assistencialista, cuja principal
ação foi abrigar e alimentar crianças e adolescentes abandonados do país".
Mais recentemente, as Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da
Justiça da Infância e Juventude - Regras de Beijing (Res. 40/33 da Assembléia-Geral, de
29/11/85); as Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência Juvenil -
Diretrizes de Riad (Assembléia-Geral da ONU, novembro/90); bem como as Regras
Mínimas das Nações Unidas para a Proteção dos Jovens Privados de Liberdade
(Assembléia-Geral da ONU, novembro/90), foram pilares para a formulação de novo
ordenamento jurídico voltado aos direitos infanto-juvenis.
Contudo, a proteção integral dispensada à criança e ao adolescente encontra suas
origens mais próximas na Convenção sobre o Direito da Criança, aprovada pela
Assembléia-Geral das Nações Unidas em 20/11/89 e pelo Congresso Nacional brasileiro
em 14/09/90, através do Dec. Legislativo 28. A ratificação ocorreu com a publicação do
Dec. 99.710, em 21/11/90, através do qual o Presidente da República promulgou a
Convenção, transformando-a em lei interna.
A Convenção representa uma ruptura radical em termos do enfoque jurídico da
infância, eis que contribui decisivamente para consolidar um corpo de legislação
internacional denominado "Doutrina das Nações Unidas de Proteção Integral da Infância",
que modifica total e definitivamente a velha doutrina da situação irregular.
136, representar à autoridade judiciária pelo descumprimento por parte do poder público à
sua requisição.
Poderá representar por infração administrativa, diretamente.
Noticiar ao Ministério Público infração administrativa, bem como representar pela
perda ou suspensão do pátrio poder.
Expedir notificações para comparecimento ao conselho; requisitar certidões de
nascimento e óbito de criança ou adolescente e, ainda, representar contra violações dos
direitos previstos no artigo 220, § 3°, II da Constituição.
Auxiliar o Poder Executivo na elaboração da proposta orçamentária para planos e
programas de atendimento.
Compete ao Conselho Tutelar fiscalizar as entidades de atendimento na forma do artigo
95, sendo que o Conselho Municipal deverá comunicar ao CT as entidades que se
cadastrarem, na forma do artigo 90, parágrafo único e 91.
Na questão educacional, compete aos dirigentes dos estabelecimentos de ensino
fundamental comunicar ao Conselho Tutelar (segundo o artigo 56 ), maus-tratos
envolvendo alunos, reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os
recursos escolares e elevados números de repetência.
Competirá ao Conselho Tutelar fazer as diligências e tomar as providências cabíveis,
inclusive representando criminalmente, por abandono intelectual os pais ou resposável da
criança ou adolescente que não esteja colocando ou filho ou filhos na escola, ou mantendo-
os lá.
deverá ser também paritário, fiscalizador das políticas e controlador das ações.
Cada Estado deve adaptar as normas federais à sua realidade e a coordenação será
exercida de maneira complementar ao trabalho desenvolvido nesta área pela União. Já a
execução direta de programas pelo governo estadual deve ocorrer de forma suplementar ao
trabalho realizado pelo município e as entidades não governamentais.
Ao município cabe a coordenação em nível local e a execução direta das políticas e
programas em parceria com as entidades não governamentais que nele atuam.
A nova política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente estabelece:
Criação de conselhos municipais, estaduais e nacional da Criança e do Adolescente,
orgãos deliberativos controladores das ações em todos os níveis, assegurada a participacão
popular paritária por meio de organizações representativas.
Manutenção de fundos municipais, estaduais e nacional ligados aos respectivos
conselhos de defesa da criança e do adolescente;
Criação e manutenção de programas específicos, observada a descentralização político
administrativa;
Municipalizacão do atendimento;
A melhor maneira encontrada de assegurar a participação da população, através de suas
organizações representativas, na formulacão das políticas e no controle das ações, foram os
conselhos paritários e deliberativos em todos os níveis municipal, estadual e federal.
qualidade de Justiça Especializada, o que por este motivo não a torna parcial. Pelo contrário
lhe possibilita ser mais justa, mais equitativa.
igualitária de justiça.
1.2. atribuições específicas no Estatuto da Criança e do Adolescente;
Especificamente no que diz respeito ao Estatudo da Criança e do Adolescente, a
responsabilidade do Ministério Público, através da Promotoria de Justiça de defesa da
Infância e Juventude cresceu em importância e responsabilidade.
No antigo Código de Menores a atuação do Ministério Público era de somenos
importância.
Retirou o Ministério Público do Poder Judiciário enorme parcela de atuação no trato
com a criança e o adolescente, tornando a maior parte desse atendimento em função
administrativa, que antes era judicial.
Novas atribuições foram criadas e que não existiam em nosso ordenamento jurídico,
como a fiscalização da eleição dos conselhos tutelares.
O comando constitucional que insere o Ministério Público na defesa dos interesses da
criança e do adolescente é o caput do artigo 127, que afirma ser esta instituição defensora
dos interesses individuais indisponíveis, bem como a norma residual do artigo 129, IX, que
permite que outras atribuições lhe sejam conferidas desde compatíveis com sua destinação
constitucional.
O artigo 227 da Constituição da República ao garantir prioridade absoluta à criança e ao
adolescente no que diz respeito aos direitos que menciona, praticamente elevou a categoria
de indisponíveis todos os direitos desse segmento social.
O Estatuto da Criança e do Adolescente elege o Ministério Público como instituição
primeira na garantia dos direitos mencionados ao dizer que compete ao Ministério Público
zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados às crianças e
adolescentes, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis, na verdade quis
dizer que todo e qualquer direito de criança ou adolescente, ameaçado ou violado, seja
pelas pais, pela comunidade, pela sociedade ou pelo Estado, poderá o Ministério Público
intervir. Somente ao órgão do Ministério Público foi dada a atuação no campo judicial e
extrajudicial com tamanha intensidade, sendo que as recomendações que são mencionadas
na letra c do § 5º, do artigo 201, do ECA permitem a recomendação aos demais poderes do
Estado para melhor atendimento à crianças e adolescentes.
Entretanto, necessário se faz detalhar cada uma das atribuições.
Antes cabe afirmar que as atribuições afetas ao Ministério Público no ECA não serão
todas obrigatoriamente exercidas pelo Promotor de Justiça da Infância e Juventude, como
por exemplo nos casos de acusação criminal e defesa da criança portadora de deficiência,
citados por Hugo Nigro Mazzili
1.2.1. Remissão, promoção e acompanhamento da ação sócio-educativa pública para
apuração de ato infracional praticado por adolescente.
Quis o legislador ao permitir na forma dos artigos 201, I; 126 e 127, 180, II, 181, caput,
e parágrafo primeiro que o Ministério Público concedesse remissão c/c medida sócio-
educativa como forma de exclusão do processo e depois a promoção e acompanhamento da
ação sócio-educativa, que o adolescente tivesse, em primeiro lugar a solução de seu conflito
com a lei ou a sociedade, abreviado e sem a pecha de ser levado ao judiciário, que pareceria
um gravame maior do que o necessário.
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e parágrafo primeiro que o Ministério Público concedesse remissão c/c medida sócio-
educativa como forma de exclusão do processo e depois a promoção e acompanhamento da
ação sócio-educativa, que o adolescente tivesse, em primeiro lugar a solução de seu conflito
com a lei ou a sociedade, abreviado e sem a pecha de ser levado ao judiciário, que pareceria
um gravame maior do que o necessário.
Ao permitir isto e fazer com que o procedimento fosse feito na esfera do Ministério
Público, tirar o adolescente da tutela das autoridades policiais, por ver que a marginalização
e o estigma estavam resultando em efeitos perversos sobre a formação do jovem, trazendo-
o então, para a tutela do defensor da sociedade, que em uma função aparentemente
conflitante, defesa do jovem e da sociedade, resolvesse o conflito.
Nada mais correto e justo que assim fosse, pois quando apenas um interesse é
representado, certamente o outro lado não é visto com clareza.
Quanto a representação, quis o legislador que o início do procedimento ficasse a cargo
de uma instituição independente, conferindo o mesmo direito que ao adulto processado por
crime, ou seja, quem deduz a pretensão sócio-educativa não é o mesmo que a aplica.
1.2.2. promover e acompanhar as ações de alimentos, destituição e suspensão de pátrio
poder, nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, promover de ofício ou por
solicitação dos interessados, a especialização e a inscrição de hipoteca legal e a prestação
de contas dos tutores, curadores e quaisquer administradores de bens de crianças e
adolescentes nas hipóteses do art. 98.
Quis o legislador tornar claro que a ação de alimentos, e os procedimentos envolvendo
pátrio poder e guarda são indisponíveis e quando em litígio opõem pais, responsáveis e
filhos e pupilos, fazendo com que o Ministério Público possa agir de forma mais
qualificada, pois quem melhor para defender a criança e o adolescente frente ao pai, mãe ou
responsável negligente ou abusador, senão a instituição que a Constituição elegeu para a
defesa dos interesses individuais indisponíveis, evitando com isso, muitas vezes a briga de
avós maternos contra o pai e avós paternos contra a mãe, no caso de falta desta ou daquele.
Nada melhor que alguém isento e que tenha por missão constitucional tal zelo.
Mesmo tendo uma atuação como parte, tem o Ministério Público a obrigação de agir
como fiscal da lei, sendo que, entendendo, a final, que não é caso de procedência da ação,
tem liberdade para atuação como tal.
Totalmente desnecessária a figura de um segundo membro da instituição para funcionar
como custus legis, pois evidente que um único membro incorpora ambas as funções, sendo
matéria superada a defesa de mais de um órgão.
1.2.3. promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses
individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e a adolescência.
Aqui o legislador repete o comando constitucional que atribui competência ao
Ministério Público para a defesa de tais interesses.
Atribuição das mais relevantes, concentra a essência do ECA em seu enunciado, qual
seja, a proteção integral dos direitos da criança e do adolescente, pois de nada adiantaria a
este segmente social que o Ministério Público pudesse apenas tratar de questões
relacionadas a violação de direitos pelos pais ou responsáveis, sem que pudesse investir
contra a comunidade, sociedade e poderes públicos, por violação dos mais variados direitos
e interesses da coletividade infanto-juvenil, ou mesmo de apenas de um ser.
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este segmente social que o Ministério Público pudesse apenas tratar de questões
relacionadas a violação de direitos pelos pais ou responsáveis, sem que pudesse investir
contra a comunidade, sociedade e poderes públicos, por violação dos mais variados direitos
e interesses da coletividade infanto-juvenil, ou mesmo de apenas de um ser.
Esta norma associada à Lei da Ação Civil Pública, ao inciso seguinte do artigo 201 e ao
210, ambos do ECA, permitem uma atuação segura e eficaz na proteção dos direitos
enunciados no artigo 227 da Constituição e repetidos nos artigos 4º, 7º e outros do ECA.
Aqui uma controvérsia existe, pode o Ministério Público propor ação na defesa do
interesse de apenas uma criança ou adolescente, creio que sim e a resposta do
posicionamento encontra-se na assertiva que todo direito infanto-juvenil é indisponível e
mais, que o inciso não faz distinção de tais direitos.
1.2.4. oficiar em todos os demais processos procedimentos de competência da Justiça da
Infância e Juventude em que não for parte (parte final do inciso III e artigo 202).
Nestes itens demonstra claramente o legislador sua opção pela tutela do Ministério
Público em favor dos direitos da criança e do adolescente.
Atuará o Ministério Público em todos os processos e procedimentos iniciados pelas
partes ou por ato de ofício do Magistrado.
Significa dizer que se ajuizada ação de alimentos, guarda, adoção, destituição de pátrio
poder, etc., pela parte, o Ministério Público terá atuação, o mesmo acontecendo quando
processar-se um requerimento para concessão de alvará de diversões com a presença de
crianças ou adolescentes ou representações do Conselho Tutelar ou do Comissariado da
Infância e Juventude.
Poderá o Ministério Público, para desempenhar seu papel, aditar a inicial, requerer
diligências, manifestar-se após as partes, recorrer, requerer perícias, produzir provas,
propor ação conexa, etc.
Exemplo disso é uma eventual ação administrativa de adoção, ajuizada sem cautela,
onde haveria necessidade de destituição do pátrio poder, podendo o Ministério Público, na
defesa do interesse maior da criança ou do adolescente propor uma ação de destituição do
pátrio poder e pedir a suspensão do processo de adoção, para que, primeiro se discuta, Ter o
pai ou a mãe que se insurge contra a adoção, direito ao pátrio poder sobre o filho, depois
prosseguindo-se com o processo de adoção para saber se o casal pretendente pode ou não
adotar aquela criança ou adolescente.
1.2.5. instaurar procedimentos administrativos, instaurar sindicâncias, requisitar diligências
investigatórias e determinar a instauração de inquérito policial ( incisos VI e VII ).
Temos aqui a ampliação dos instrumentos postos a disposição do Ministério Público
para agir.
Procedimentos administrativos são tanto as sindicâncias quanto o próprio inquérito
civil, bem como pode ser um procedimento prévio para coleta de elementos sumários para a
decisão da instauração do inquérito civil.
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sigilo se transfere para órgão, que poderá usá-lo em processos e se for o caso requerendo o
segredo de justiça.
Finalmente, cabe dizer que o § 2º do artigo 201 abre a possibilidade do Ministério
Público exercer outras atribuições relacionadas à área desde que não incompatíveis com a
finalidade institucional, o que permite a ampliação das medidas de proteção dos interesses e
direitos de crianças e adolescentes.
Atribuição que não está mencionada ai é a fiscalização de todo o processo eleitoral do
Conselho Tutelar, desde a lei que cria o conselho até a posse dos membros eleitos.
Tal atribuição, de caráter administrativo de vital importância no sentido de evitar
manipulações do poder público municipal, que possam comprometer a legitimidade e
independência dos conselheiros tutelares.
ATUAÇÃO EXTRAJUDICIAL E ARTICULAÇÃO COM A COMUNIDADE
A atuação do Ministério Público na sociedade e em atividades extrajudiciais cresceu de
importância com a Constituição da República de 1988, com o Estatuto da Criança e do
Adolescente e com a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público.
Hoje, grande parte da atuação ministerial está voltada para a atividade extrajudicial e a
articulação comunitária.
O artigo 129, incisos II, III, IV, VI, VII e VIII da Constituição da República são
funções institucionais do Ministério Público de caráter extrajudicial.
Especificamente no ECA, são de caráter extrajudicial a fiscalização de entidades de
atendimento e programas, o atendimento ao público, a remissão como forma de exclusão do
processo, a fiscalização do processo de escolha dos conselheiros tutelares, a promoção do
inquérito civil, seu arquivamento ou ajustamento de conduta, a instauração de
procedimentos administrativos e sindicâncias, a requisição de inquéritos policiais, Ter livre
acesso a locais onde se encontrem crianças e adolescentes, a redução de reclamações a
termo, as recomendações às mais variadas entidades ou órgão públicos são exemplos de
atuação extrajudicial claramente estabelecida em lei.
Entretanto, quando a legislação estabelece que compete ao Ministério Público zelar
pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados às crianças e adolescentes.
Decorre destas atividades extrajudiciais a articulação do Promotor de Justiça da
Infância e Juventude com a comunidade.
Exemplos claros é a participação do Promotor de Justiça em palestras, debates e
reuniões sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente em escolas, associações de
moradores, entidades de classe e empresarial.
Pode e deve o Promotor de Justiça articular-se com a sociedade civil para a implantação
de programas para atendimento à criança e ao adolescente.
Exemplo forte de articulação com a comunidade decorre de inquérito civil para apurar
as políticas públicas para a área da infância e juventude, onde, após a coleta de dados o
Promotor de Justiça se articula com as autoridades municipais, membros de conselhos de
direitos e tutelares, envolvendo assim, a sociedade civil e seus representantes.
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as políticas públicas para a área da infância e juventude, onde, após a coleta de dados o
Promotor de Justiça se articula com as autoridades municipais, membros de conselhos de
direitos e tutelares, envolvendo assim, a sociedade civil e seus representantes.
Através de demonstração cabal de que a prevenção no atendimento à crianças e
adolescentes é imprescindível a uma vida mais justa em sociedade poderá o Promotor de
Justiça convencer a sociedade a se articular no sentido de cobrar das autoridades executivas
e legislativas municipais a criação da política municipal para a infância e juventude.
O inquérito civil instaurado pelo Ministério Público catarinense e que diagnosticou o
descaso com a infância e juventude no Estado de Santa Catarina, mostrou à instituição e a
cada um de seus 83 Promotores de Justiça da Infância e Juventude o verdadeiro poder que
tem à sua disposição para a defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis de
crianças e adolescentes.
Mostrou que o Ministério Público é capaz de articular-se e convercer as autoridades
municipais que é mais viável um termo de ajustamento de conduta do que uma ação civil
pública ajuizada, tanto que temos em torno de 200 ajustes de conduta já assinados, outros
30 em vias de assinatura e apenas duas ações civis ajuizadas no que diz respeito a
implantação de uma política municipal necessária para a área da infância e juventude.
Conseguiu-se com articulação que em dois anos, os fundos municipais para a infância e
adolescência crescessem de 55 para mais de 260 e os conselhos tutelares de 103 para mais
de 260 e os conselhos municipais de 160 para mais de 270, num total de 293 municípios
existentes.
O limite para a atuação do Ministério Público para atuação na área extrajudicial e nas
articulações com a sociedade são a Constituição da República e o ECA.
1.3 Advogado
Outra figura que atualmente possui importante papel na Justiça da Infância e Juventude
é a do Advogado. Sua participação só passou a ser obrigatória com o advento da Lei
8.069/90.
Os artigos 110, 111, 206 e 207 asseguram nos procedimentos afetos à Justiça da
Infância e Juventude garantias processuais e a participação obrigatória do Advogado.
Diante do papel reservado ao Advogado, não se admite qualquer reparo quanto a sua
participação quer em processo administrativo, civil ou penal. Na Justiça da Infância e
Juventude seu papel assume o caráter de controle da prestação jurisdicional.
1.4 Técnicos
O sistema de Justiça da Infância e Juventude funciona, como já disse anteriormente,
como uma engrenagem. Cada peça, com função específica, possibilitando que as outras
desempenhem suas funções.
É assim com a equipe de auxiliares que a compõem, sem a sua presença não haveria a
Justiça da Infância e Juventude como ela se encontra concebida.
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