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Base Bíblica do Batismo de Criança

Por Louis Berkhof

Então confira esta cadeia temática bem construída sobre uma tese doutrinal muito segura e
bíblica! O fundamento escriturístico do batismo de crianças acha-se nos seguintes dados:

(1) A aliança feita com Abrão era primariamente uma aliança espiritual, embora também
tivesse um aspecto nacional, e desta aliança espiritual a circuncisão era um sinal e selo. É um
procedimento infundado dos batistas partir esta aliança em duas ou três alianças diferentes. A
Bíblia se refere à aliança com Abraão diversas vezes, mas sempre no singular, Ex 2.24; Lv 26.42;
2 Rs 13.23; 1 Cr 16.16; Sl 105.9. Não há sequer uma única exceção a esta regra. A natureza
espiritual desta aliança é comprovada pela maneira segundo a qual suas promessas são
interpretadas no Novo Testamento, Rm 4.16-18; 2 Co 6.16-18; Gl 3.8, 9, 14, 16; Hb 8.10; 11.9,
10, 13. decorre também do fato de que evidentemente a circuncisão era um rito que tinha
significação espiritual, Dt 10.16; 30.6; Jr. 4.4; 9,25, 26; At 15.1; Rm 2.26-29; 4.11; Fp 3.2, e do
fato de que a promessa da aliança é até denominada “o evangelho”, Gl 3.8.

(2) Esta aliança ainda está em vigência, e é essencialmente idêntica à “nova aliança” da
presente dispensação. A unidade e continuidade da aliança em ambas as dispensações segue-
se do fato de que o Mediador é o mesmo, At 4.12; 10.43; 15.10, 11; Gl 3.16; 1 Tm 2.5, 6; 1 Pe
1.9-12, a condição é a mesma, a saber, a fé, Gn 15.6 (Rm 4.3); Sl 32.10; Hb 2.4; At 10.43; Hb 11,
e as bênçãos são as mesmas, quais sejam, a justificação, Sl 32.1, 2, 5; Is 1.18; Rm 4.9; Gl 3.6, a
regeneração, Dt 30.6; Sl 51.10, dons espirituais, Jl 2.28, 32; At 2.17-21; Is 40.31, e a vida eterna,
Ex 3.6; Hb 4.9; 11.10. Aos que foram levados à convicção no dia de Pentecostes Pedro deu a
certeza de que a promessa era para ele e para os seus filhos, At 2.39. Paulo argumenta em Rm
4.13-18 e Gl 3.13-18 que a dádiva da lei não anulou a promessa, de sorte que ela ainda
permanece na nova dispensação. E o escritor de Hebreus assinala que a promessa a Abraão foi
confirmada com juramento, de modo que os crentes neotestamentários podem haurir consolo
da sua imutabilidade, Hb 6.13-18.

(3) Pela determinação de Deus, as crianças participavam dos benefícios da aliança, e, portanto,
recebiam a circuncisão como sinal e selo. Segundo a Bíblia, a aliança é, evidentemente, um
conceito orgânico, e sua realização segue linhas orgânicas e históricas. Há um povo ou nação de
Deus, um conjunto orgânico tal que só pode constituir-se de famílias. Naturalmente, esta idéia
de nação é muito proeminente no Velho Testamento, mas o notável é que ela não desapareceu
depois da nação de Israel ter servido ao seu propósito. Ela foi espiritualizada e, assim, passou
para o Novo Testamento, de modo que o povo de Deus, no Novo Testamento, também é
apresentado como nação, Mt 21.43; Rm 9.25, 26 (como. Oséias 2.23); 2 Co 6.16; Tt 2.14; 1 Pe
2.9. Durante a antiga dispensação, as crianças eram consideradas parte integrante de Israel
como o povo de Deus. Estavam presentes quando era renovada a aliança, Dt 29.10-13; Js 8.35;
2 Cr 20.13, tinham um lugar na congregação de Israel e, portanto, estavam presentes em suas
assembléias religiosas, 2 Cr 20.13; Jl 2.16. Em vista de promessas ricas como as de Is 54.13; Jr
31.34; Jl 2.28, dificilmente esperaríamos que os privilégios de tais crianças fossem reduzidos na
nova dispensação, e, certamente, não procuraríamos sua exclusão de todo e qualquer lugar na
igreja. Jesus e os apóstolos não as excluíram, Mt 19.14; At 2.39; 1 Co 7.14. A referida exclusão
por certo exigiria uma declaração muito explícita a respeito.

(4) Na nova dispensação o batismo, pela autoridade divina, substitui a circuncisão como o sinal
e selo iniciatório da aliança da graça. A Escritura insiste vigorosamente em que a circuncisão
não pode mais servir como tal, At 15.1, 2; 21.21; Gl 2.3-5; 5.2-6; 6.12, 13, 15. Se o batismo não
lhe tomou o lugar, o Novo Testamento não tem nenhum rito iniciatório. Mas Cristo o
estabeleceu como tal substituto, Mt 28.19, 20; Mc 16.15, 16. Seu sentido espiritual
corresponde ao da circuncisão. Como a circuncisão se referia à eliminação do pecado e à
mudança do coração, Dt 10.16; 30.6; Jr 4.4; 9.25, 26; Ez 44.7, 9, assim o batismo se refere ao
lavamento purificador do pecado., At 2.38; 1 Pe 3.21; Tt 3.5, e à renovação espiritual, Rm 6.4;
Cl 2.11, 12. esta última passagem claramente liga a circuncisão ao batismo e, ensina que a
circuncisão de Cristo, isto é, a circuncisão do coração, simbolizada pela circuncisão da carne, é
realizada pelo batismo, isto é, por aquilo que o batismo simboliza. Cf. também Gl 3.27, 29. Mas,
se as crianças recebiam o sinal e selo da aliança na antiga dispensação, a pressuposição é que
certamente elas têm direito de recebe-lo na nova, a qual os fiéis do Velho Testamento eram
ensinados a aguardar como sendo uma dispensação muito mais completa e muito mais rica.
Sua exclusão dela requereria uma declaração clara e inequívoca com esse fim, mas exatamente
o oposto é que se vê, Mt 19.14; At 2.39; 1 Co 7.14.

(5) Como acima foi assinalado, o Novo Testamento não contém nenhuma evidência direta em
favor da prática do pedobatismo nos dias dos apóstolos. Lambert, após considerar e sopesar
todas as evidências à mão, expressa a sua conclusão com as seguintes palavras: “Então, as
evidências do Novo Testamento parecem apontar para a conclusão de que o batismo de
crianças, para dizer o mínimo, não era costume geral na era apostólica”.

1 - Mas não há necessidade de ninguém se surpreender com o fato de não haver menção
direta do batismo de crianças, pois num período missionário como o da era apostólica,
naturalmente a ênfase recairia sobre o batismo de adultos. Além disso, nem sempre as
condições eram favoráveis ao batismo de crianças. Os conversos não teriam de imediato uma
adequada concepção dos seus deveres e responsabilidades pactuais. Às vezes somente um dos
pais se convertia e é perfeitamente concebível que o outro se opusesse ao batismo dos filhos.
Muitas vezes não havia razoável certeza de que os pais educariam os seus filhos piedosa e
religiosamente, e, todavia, era necessária essa certeza. Ao mesmo tempo, a linguagem do Novo
Testamento é perfeitamente coerente com uma continuação da administração orgânica da
aliança, que exigia a circuncisão das crianças, Mt 19.14; Mc 10.13-16; At 2.39; 1 Co 7.14.
Ademais, o Novo Testamento fala repetidamente do batismo de famílias, e não dá indicação de
que isto seja considerado fora do comum, mas, antes, refere-se a esse fato como natural, At
16.15, 33; 1 Co 1.16. É, por certo, inteiramente possível, mas não muito provável, que
nenhuma dessas famílias tivesse crianças. E se havia crianças, é moralmente certo que eram
batizadas junto com seus pais. O certo é que o Novo Testamento não contém nenhuma prova
de que pessoas nascidas e criadas em famílias cristãs não possam ser batizadas antes de
chegarem à idade da discrição e de haverem professado sua fé em Cristo. Não há a mais ligeira
alusão a alguma prática desse tipo.

(6) Wall, na introdução da sua História do pedobatismo (History of Infant Baptism), mostra que
no batismo de prosélitos os filhos dos prosélitos muitas vezes eram batizados junto com seus
pais; mas Edersheim diz que havia uma diferença de opiniões sobre este ponto.

2 - Naturalmente, mesmo que isso acontecesse, nada provaria quanto ao batismo cristão, mas
mostraria que não havia nada de estranho nesse procedimento. A mais antiga referência
histórica ao batismo de crianças acha-se nos escritos da segunda metade do segundo século. A
obra Didaquê fala do batismo de adultos, mas mão do pedobatismo; e conquanto Justino faça
menção de mulheres que eram discípulas de Cristo desde a infância (ek paidon), esta porção
dos seus escritos não menciona o batismo, e a expressão ek paidon não significa
necessariamente infância. Irineu, falando de Cristo, diz: “Ele veio salvar por meio de Si próprio
todos os que, por meio dele, nascem de novo para Deus, crianças e criancinhas, e meninos, e
jovens e idosos”.

1 Este trecho, embora não mencione explicitamente o batismo, é considerado como a mais
antiga referência ao batismo de crianças, visto que os chamados “pais primitivos” associavam
tão estritamente o batismo à regeneração, que empregavam o termo”regeneração” em lugar
de “batismo”. Que o batismo de crianças era praticado mui geralmente, é evidenciado pelos
escritos de Tertuliano, embora ele próprio considerasse mais proveitoso protelar o batismo.

2 - Orígenes o descreve como uma tradição dos apóstolos. Diz ele: “Pois isto havia também que
a igreja tinha dos apóstolos uma tradição (ou, ordem) de dar o batismo até mesmo às
crianças”.

3 - O Concílio de Cartago (253 A.D.) toma o batismo de crianças como certo e simplesmente
discute a questão sobre se elas deveriam ser batizadas antes dos oito dias de idade. Do
segundo século em diante, o batismo de crianças é reconhecido normalmente, embora às
vezes negligenciado na prática. Agostinho inferiu do fato de que ele era praticado pela igreja no
mundo inteiro, apesar de não instituído nos concílios, que, com toda a probabilidade, foi
estabelecido pela autoridade dos apóstolos. Sua legitimidade não foi negada até aos dias da
Reforma, quando os anabatistas se opuseram a ele.

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Fonte: Teologia Sistemática de Louis Berkhof paginas 584 a 587. Ed. Cultura Cristã.

http://pulpitoreformado.blogspot.com.br/2014/03/base-biblica-do-batismo-de-crianca.html

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