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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS E CIÊNCIAS EXATAS


CAMPUS DE RIO CLARO

FLÁVIO HENRIQUE REMÉDIO

ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES DE ATERRO DE


RESÍDUOS URBANOS UTILIZANDO PARÂMETROS GEOTÉCNICOS
DE PROPOSTAS BIBLIOGRÁFICAS E CORRELAÇÕES COM NSPT

Dissertação elaborada junto ao Programa de Pós-


Graduação em Geociências e Meio Ambiente do
Instituto de Geociências e Ciências Exatas, para
obtenção do título de Mestre em Geociências.

Orientador: Prof. Dr. Leandro Eugênio da Silva


Cerri

RIO CLARO – SP
2014
2

RESUMO

O aumento nas taxas de geração de resíduos, decorrentes do aumento das atividades


industriais e do poder de compra da população, frente à escassez de áreas adequadas
à disposição de resíduos, próximas aos centros geradores, tem levado as
administradoras a investirem no aumento da capacidade de carga de aterros
sanitários em operação ou na reutilização de antigas áreas de disposição encerradas,
para suprir esta demanda. Esta situação induz a construção de aterros cada vez mais
altos, atenuando o problema da demanda de resíduos e, em contrapartida, gerando
grandes preocupações quanto à estabilidade destes corpos. Dentro deste contexto,
os métodos convencionais de cálculo de estabilidade de taludes são comumente
utilizados em estudos de estabilidade em aterros sanitários, por pesquisadores e
profissionais especializados. No entanto, estas metodologias de trabalho foram
desenvolvidas para estudos em maciços com constituição e comportamento mecânico
distintos dos materiais dispostos em aterros sanitários. Desta forma, foram
executados estudos sistemáticos com objetivo de determinar parâmetros geotécnicos
adequados aos resíduos presentes no Aterro de Caetetuba, localizado no município
de Atibaia – SP. Os parâmetros geotécnicos dos resíduos foram determinados com
base em propostas levantadas durante a pesquisa bibliográfica e com base em
resultados de testes de penetração de sondagens identificadas na pesquisa
documental. Diversos métodos de análise de estabilidade de taludes, levantados
durante a pesquisa bibliográfica, foram avaliados visando identificar o método mais
adequado para aplicação no Aterro Sanitário de Caetetuba. Para realização das
análises de estabilidade foram elaboradas seções litoconstrutivas do aterro, com base
em plantas topográficas e perfis de sondagens identificados na pesquisa documental,
as quais foram implementadas no software SLOPE/W da Geo-Slope International. As
conclusões foram expressas em função dos valores de segurança obtidos, sendo
comparados os fatores de segurança calculados pelos diversos métodos oferecidos
pelo software SLOPE/W, em função das variações nos parâmetros geotécnicos e dos
métodos analíticos utilizados.
3

ABSTRACT

The increase in waste generation rates, due to the increase of industrial activity and
the population's purchasing power, compared to the scarcity of appropriate disposition
of the waste areas, close to generating centers, has led managers to invest in
increasing the capacity of load landfills in operation or reuse of old disposal areas
closed to meet this demand. This leads to the construction of higher and higher landfill,
reducing the problem of waste demand and, in turn, generating serious concerns over
the stability of these bodies developed for studies in natural massive, with constitution
and mechanical behavior of different materials disposed of in landfills. In this way,
systematic studies have been performed in order to determine suitable geotechnical
parameters waste present in Caetetuba Landfill, located at Atibaia/SP city. The
geotechnical parameters of waste were determined based on proposals raised during
the literature and based on survey results of penetration tests identified in documentary
research. Several methods of slope stability analysis, raised during the literature
search were evaluated to identify the most suitable method for applying the landfill
Caetetuba of Health. To perform the stability analysis were prepared sections of the
site, based on topographic maps and profiles polls identified in documentary research,
which were implemented in SLOPE / W Geo-Slope International software. The findings
were expressed in terms of security values, and compared the safety factors calculated
by the various methods offered by the SLOPE / W software, depending on the
variations in geotechnical parameters and analytical methods used. Within this context,
the conventional slope stability calculation methods developed in soil mechanics are
commonly used in the stability studies in landfills, by researchers and professionals.
However, these work methodologies were
4

SUMÁRIO

RESUMO..................................................................................................................... 2
ABSTRACT................................................................................................................. 3
SUMÁRIO ................................................................................................................... 4
ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................. 6
ÍNDICE DE QUADROS ............................................................................................... 8
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9
1.1. Área Investigada ......................................................................................... 11
2. OBJETIVOS ..................................................................................................... 13
3. MÉTODOS E ETAPAS DA PESQUISA ........................................................... 14
3.1. Pesquisa Bibliográfica ............................................................................... 15
3.1.1. Bases Consultadas................................................................................... 17
3.2. Pesquisa Documental ................................................................................ 18
3.3. Caracterização do Aterro de Caetetuba.................................................... 20
3.4. Definição do Método Analítico .................................................................. 22
3.5. Definição dos Parâmetros Geotécnicos dos Materiais ........................... 23
3.6. Definição do Software para Aplicação do Método Analítico .................. 25
3.7. Apresentação dos Resultados e Conclusões .......................................... 25
4. CARACTERIZAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ............................................. 26
4.1. Composição e Classificação de Resíduos Sólidos ................................. 26
4.2. Características Físicas e Mecânicas de Resíduos Sólidos..................... 30
4.2.1. Distribuição dos Tamanhos das Partículas .............................................. 32
4.2.2. Peso Específico ........................................................................................ 32
4.2.3. Poropressão ............................................................................................. 33
4.2.4. Teor de Umidade ...................................................................................... 37
4.2.5. Permeabilidade......................................................................................... 37
4.2.6. Compressibilidade .................................................................................... 38
4.2.7. Resistência ao Cisalhamento ................................................................... 39
4.3. Tratamento e Destinação Final de Resíduos Sólidos.............................. 50
4.3.1. Incineração ............................................................................................... 50
4.3.2. Reciclagem ............................................................................................... 51
5

4.3.3. Compostagem .......................................................................................... 51


4.3.4. Lixões ....................................................................................................... 52
4.3.5. Aterros Controlados.................................................................................. 52
4.3.6. Aterros Sanitários ..................................................................................... 53
4.3.7. Estabilidade de Aterros Sanitários............................................................ 56
5. MÉTODOS DE ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES ........................ 61
5.1. Método do Talude Infinito .......................................................................... 63
5.2. Método de Culmann ................................................................................... 64
5.3. Método de Fellenius ................................................................................... 65
5.4. Método Simplificado de Bishop ................................................................ 66
5.5. Método Simplificado de Jambu ................................................................. 68
5.6. Método de Spencer..................................................................................... 69
5.7. Método de Morgenstern e Price ................................................................ 70
5.8. Comparações entre os Métodos Convencionais de Análise de
Estabilidade de Taludes.......................................................................................... 71
5.9. Métodos de Análise de Estabilidade de Taludes Aplicados em Aterros
Sanitários ................................................................................................................. 75
6. ESTUDO DO MEIO FÍSICO ............................................................................. 81
7. CARACTERIZAÇÃO DO ATERRO DE CAETETUBA..................................... 86
7.1. Histórico ...................................................................................................... 86
7.2. Dados Geotécnicos e Seções Litoconstrutivas ....................................... 92
8. ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES ............................................... 103
8.1. Definição do Método Analítico ................................................................ 103
8.2. Definição do Software .............................................................................. 104
8.3. Definição dos Parâmetros Geotécnicos dos Materiais ......................... 105
8.3.1. Definição dos Parâmetros Geotécnicos dos Resíduos com Base em
Testes de Penetração ............................................................................................. 107
8.3.2. Definição dos Parâmetros Geotécnicos dos Resíduos com Base em
Propostas Literárias ................................................................................................ 109
8.4. Execução das Análises de Estabilidade de Taludes ............................. 111
9. CONCLUSÕES............................................................................................... 117
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 121
6

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Localização do Aterro de Caetetuba. ....................................................... 12


Figura 2 – Fluxograma das etapas da pesquisa........................................................ 14
Figura 3 - Relação da perda de volume dos resíduos sólidos em função da
biodegradação (retirado de MACHADO, CARVALHO e VILAR, 2009, p. 125). . 31
Figura 4 – Curva tensão-deformação de resíduos sólidos com interação das
componentes de atrito e tração (retirado de KÖLSCH, 1993, apud CARDIM,
2008, p. 23). ....................................................................................................... 40
Figura 5 – Correlação entre NSPT e parâmetros de resistência do solo segundo
diversos autores (modificado de: (a) DÉCOURT 1989, apud FONSECA, 1996, p.
53; (b) U. S. NAVY, 1986, apud VELLOSO e LOPES, 2004, p. 48)................... 46
Figura 6 – Resultados de ensaios de penetração do cone obtidos por diversos
autores (adaptado de CARVALHO, 199, p. 184) ............................................... 48
Figura 7 - Principais formas de rompimento em aterros sanitários (adaptado de QIAN
et. al., 2002, apud BORGATTO, 2006, p. 59 – 63) ............................................ 60
Figura 8 – Método do Talude Infinito. ........................................................................ 63
Figura 9 – Método de Culmann. ................................................................................ 64
Figura 10 – Método de Fellenius. .............................................................................. 65
Figura 11 – Método Simplificado de Bishop. ............................................................. 67
Figura 12 – Método Simplificado de Jambu. ............................................................. 68
Figura 13 – Método de Spencer. ............................................................................... 69
Figura 14 – Método de Morgenstern e Price. ............................................................ 70
Figura 15 – Comparação gráfica dos resultados obtidos pelos métodos de Fellenius,
Bishop Simplificado e Jambu Simplificado (adaptado de HORST, 2007, p. 62 -
65). ..................................................................................................................... 73
Quadro 9 – Resultados obtidos nas retroanálises realizadas por BORGATTO (2006).
........................................................................................................................... 78
Figura 16 – Mapa geológico da região do Aterro de Caetetuba (modificado de
NEVES,2005, Apêndice A)................................................................................. 82
Figura 17 – Localização do Aterro de Caetetuba em relação a várzea do Rio Atibaia
(modificado de IGGSP, 1979, escala 1:10.000). ................................................ 85
7

Figura 18 - Fotos aéreas dos anos de 1962 (a), 1972 (b) e 1978 (c) ........................ 87
Figura 19 – Imagens aéreas dos anos de 2003 (a), 2008 (b) e 2010 (c) .................. 90
Figura 20 – Situação do aterro em 2010 e a localização das sondagens próximas ao
Aterro de Caetetuba ........................................................................................... 94
Figura 21 – Perfis de sondagem com ensaio de penetração (SPT) .......................... 95
Figura 22 – Perfis de sondagens a trado .................................................................. 96
Figura 23 – Seções geológico-construtivas ............................................................. 102
Figura 24 – Ábacos de correlação empírica e valores de NSPT corrigidos para os
pacotes que constituem o substrato local (modificado de a) DÉCOURT (1989
apud FONSECA, 1996, p. 53) e b) U. S. NAVY, 1986 apud VELLOSO e LOPES,
2004, p. 48). ..................................................................................................... 107
Figura 25 – Ábacos de correlação empírica e valores de NSPT corrigidos para os
resíduos (modificado de a) DÉCOURT (1989 apud FONSECA, 1996, p. 53) e b)
U. S. NAVY, 1986 apud VELLOSO e LOPES, 2004, p. 48). ............................ 110
Figura 26 – Resumo dos parâmetros geotécnicos adotados para os resíduos nas
análises de estabilidade realizadas .................................................................. 112
Figura 27 – Seções implementadas no software SLOPE/W e análises de
estabilidade realizadas ..................................................................................... 113
Figura 28 – Comparação entre os fatores de segurança calculados através de
diferentes métodos ........................................................................................... 116
8

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 – Valores de peso específico de resíduos obtidos por diversos autores. .. 34
Quadro 2 – Resumo dos parâmetros de resistência obtidos por MARTINS (2006, p.
73 - 87). .............................................................................................................. 44
Quadro 3 – Resumo dos parâmetros de resistência obtidos por CARDIM (2008, p.
83). ..................................................................................................................... 44
Quadro 4 – Peso específico em função da compacidade das areias e da
consistência das argilas ..................................................................................... 46
Quadro 5 – Valores típicos de teor de umidade e peso específico para solos .......... 46
Quadro 6 – Coesão () e ângulo de atrito () de resíduos urbanos obtidos por
diversos autores. ................................................................................................ 49
Quadro 7 – Faixa de valores utilizados por HORST (2007). ..................................... 72
Quadro 8 – Valores utilizados e resultados obtidos por MENEZES (2012)............... 75
Quadro 10 – Parâmetros obtidos por IPT (1991) e por BORGATTO (2006, p. 117). 78
Quadro 11 – Resultados obtidos nas análises de estabilidade realizadas por
BORGATTO (2006). ........................................................................................... 80
Quadro 12 – Principais características das sondagens executadas no Aterro de
Caetetuba (Projeção UTM, Fuso 23S, Datum SIRGAS 2000) ........................... 93
Quadro 13 - Resenha meteorológico do município de Atibaia (CEPAGRI, site oficial)
........................................................................................................................... 93
Quadro 14 – Valores máximos e mínimos do índice NSPT obtidos ............................ 98
Quadro 15 – Valores de NSPT adotados e parâmetros geotécnicos definidos para os
pacotes que constituem o substrato local ........................................................ 107
Quadro 16 – Valores de parâmetros geotécnicos definidos para os resíduos a partir
dos resultados dos testes de penetração ......................................................... 110
Quadro 17 – Valores de parâmetros geotécnicos adotados para os resíduos de
acordo com as propostas literárias .................................................................. 111
Quadro 18 – Fatores de segurança calculados para os 06 cenários definidos ....... 114
9

1. INTRODUÇÃO

O presente estudo de caso aborda um aterro de resíduos urbanos localizado


no município de Atibaia, estado de São Paulo, denominado Aterro de Caetetuba,
onde, em algumas das faces da pilha de resíduos, verificam-se feições de
instabilidade como cicatrizes de escorregamento e árvores inclinadas.
O Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil de 2013, (ABRELPE, 2013, p.
44), indica que do total de resíduos sólidos coletados atualmente, 58,3% são
destinados a aterros sanitários, 24,3% para aterros controlados e 17,4% lixões.
A geração de resíduos é resultado de basicamente todas as atividades da
sociedade contemporânea incluindo desde atividades domésticas corriqueiras até
processos industriais complexos. Assim, a gestão dos resíduos gerados diariamente
é um problema inerente a todos os municípios.
O aumento nas taxas de geração de resíduos, decorrentes do crescimento
econômico nacional, do aumento das atividades industriais e do poder de compra da
população, frente à escassez de áreas adequadas à disposição de resíduos, próximas
aos centros geradores, tem levado as administradoras a investirem no aumento da
capacidade de carga de aterros sanitários em operação ou na reutilização de antigas
áreas de disposição encerradas, para suprir esta demanda.
Esta situação induz a construção de aterros cada vez mais altos, atenuando
o problema da demanda de resíduos e, em contrapartida, gerando grandes
preocupações quanto à estabilidade destes corpos.
A disposição inadequada, a falta de um bom sistema de drenagem, a ausência
de monitoramento geotécnico, entre outros, constituem fatores que contribuem para a
ocorrência de possíveis acidentes de escorregamento em aterros sanitários. Outros
fatores que contribuem na insegurança quanto à estabilidade destes corpos são as
inúmeras dificuldades técnicas envolvidas na execução de ensaios de campo e
laboratório, além da grande heterogeneidade verificada entre os materiais
depositados em aterros diferentes, ou mesmo entre porções diferentes de um mesmo
aterro. Observa-se ainda que mesmo os processos tecnológicos destinados à
recuperação de resíduos, como triagem, reciclagem e compostagem, ou mesmo os
que visam à eliminação de resíduos utilizando processos térmicos (incineração), não
10

deixam de gerar certa quantidade de resíduo, tornando os aterros sanitários sempre


necessários (MARQUES, 2001, p. 2).
Dentro deste contexto, os estudos geotécnicos referentes à estabilidade de
aterros sanitários se mostram cada vez mais importantes.
Os métodos convencionais de cálculo de estabilidade de taludes
desenvolvidos na engenharia geotécnica são comumente utilizados em estudos de
estabilidade em aterros de resíduos urbanos, por pesquisadores e profissionais
especializados. No entanto, estas metodologias de trabalho foram desenvolvidas para
estudos em maciços com constituição e comportamento mecânico distintos dos
aterros de resíduos urbanos, com possuem comportamento mecânico pouco
conhecido, são heterogêneos, anisotrópicos e podem sofrer influência de gases
gerados a partir da decomposição dos resíduos.
Sendo assim, considerou-se necessária a avaliação da aplicabilidade, em
aterro de resíduos urbanos, de tais métodos análise de estabilidade e da qualidade
dos resultados obtidos. Para tal, foram selecionados métodos de análise de
estabilidade de taludes, os quais foram aplicados ao caso do Aterro de Caetetuba.
Foram definidos parâmetros geotécnicos para os resíduos no aterro considerando 06
cenários, sendo 03 cenários com parâmetros definidos a partir de resultados de
ensaios de penetração e 03 cenários com parâmetros definidos a partir de propostas
identificadas em pesquisa bibliográfica.
A presente dissertação é composta por dez capítulos. A Introdução e os
objetivos da pesquisa são apresentados nos Capítulos 1 e 2, respectivamente,
enquanto no Capítulo 3 são descritos os métodos adotados.
Os Capítulos 4 até 6 são destinados aos resultados obtidos durante a
pesquisa bibliográfica realizada. O Capítulo 4 aborda aspectos inerentes a resíduos
sólidos, como composição, classificação e comportamento mecânico, além de formas
de tratamento e destinação dos mesmos. O Capítulo 5 apresenta os principais
métodos de análise de estabilidade de taludes identificados na literatura, sendo
incluídos estudos comparativos entre os métodos e casos de aplicações destes
métodos em aterros sanitários. O Capítulo 6 é referente à caracterização do meio
físico onde se insere o Aterro de Caetetuba, incluindo aspectos relativos a geologia e
hidrogeologia local.
11

No Capítulo 7 são apresentados os resultados obtidos na pesquisa


documental, realizada a partir de relatórios técnicos de estudos conduzidos no local,
os quais foram cedidos pela administração do aterro para realização da presente
dissertação, incluindo dados de trabalho como plantas topográficas e perfis de
sondagens diversas.
O Capítulo 8 apresenta os procedimentos para definição dos parâmetros
geotécnicos e métodos analíticos adotados, bem como os resultados das análises de
estabilidade de taludes realizadas na presente dissertação.
O Capítulo 9 apresenta as conclusões obtidas nesta dissertação, as quais
foram formuladas em função dos objetivos propostos, sendo consideradas as
variações nos resultados das análises em função do uso de dados de entrada oriundos
da literatura ou dos ensaios de campo.
Finalmente, no Capítulo 10, são apresentadas as bases bibliográficas e
documentais utilizadas na presente dissertação.

1.1. Área Investigada

A utilização da área do Aterro de Caetetuba para destinação de resíduos foi


iniciada, há mais de três décadas. Posteriormente o local passou a ser administrado
pelo município de Atibaia, sendo realizadas obras de recuperação que deram ao
aterro sua configuração atual. Desta forma, existem diversos estudos realizados no
local, os quais foram cedidos pela administração do aterro para que dados de trabalho,
como sondagens e plantas diversas, fossem utilizados.
A área investigada fica localizada na Avenida Gerônimo de Camargo, no
Bairro Caetetuba, município de Atibaia – SP. A Avenida Gerônimo de Camargo pode
ser acessada pela da Saída 39 da Rodovia Fernão Dias, dentro do perímetro urbano
do município de Atibaia, próximo ao cruzamento da Rodovia Fernão Dias e a Rodovia
Dom Pedro I.
O Aterro de Caetetuba está localizado a pouco mais de 50 m a sudoeste do
Rio Atibaia, estando parte de sua base assentada sobre sedimentos aluviais recentes
do mesmo. A Figura 1 ilustra a localização do Aterro de Caetetuba.
Imagem sem escala

Aterro de Caetetuba

0 100 200 400


km

Escala - 1:15.000.000
Projeção UTM, Fuso 23S, Datum SIRGAS 2000

Figura 1 – Localização do Aterro de Caetetuba


13

2. OBJETIVOS

O presente estudo de caso teve como principal objetivo executar estudos


sistemáticos visando a determinação de parâmetros geotécnicos adequados aos
resíduos presentes no Aterro de Caetetuba, bem como aos pacotes que compõe o
substrato local, para aplicação de métodos determinísticos de análise de estabilidade
de taludes.
Esperou-se ainda, avaliar o desempenho de diferentes métodos para o cálculo
de estabilidade de taludes, visando identificar o método mais adequado para aplicação
no Aterro Sanitário de Caetetuba,
Pretendeu-se executar as análises de estabilidade utilizando dados de fácil
obtenção como plantas topográficas, sondagens com ensaios de penetração e
propostas literárias, adequados ao orçamento da maioria dos administradores de
aterros sanitários e lixões, como no caso da Prefeitura de Atibaia.
14

3. MÉTODOS E ETAPAS DA PESQUISA

O desenvolvimento da presente dissertação foi organizado de acordo com os


objetivos propostos e dividido em oito fases. O fluxograma da Figura 2 apresenta as
etapas de trabalho desenvolvidas.

Figura 2 – Fluxograma das etapas da pesquisa.


15

3.1. Pesquisa Bibliográfica

Conforme ilustrado na Figura 2, a pesquisa bibliográfica realizada foi dividida


em três etapas: a primeira etapa é referente à caracterização e comportamento de
resíduos sólidos; a segunda etapa é referente aos métodos convencionais de análise
de estabilidade de taludes; e a terceira etapa é referente ao estudo do meio físico
onde se insere a área do Aterro de Caetetuba.
Na pesquisa referente à caracterização e comportamento de resíduos sólidos
buscaram-se inicialmente as definições usuais para resíduos sólidos, sendo
abordadas características como a constituição dos resíduos e de suas fases sólida,
liquida e gasosa, além das diversas formas de classificar os resíduos. Também foram
abordadas as características físicas e mecânicas de resíduos sólidos, incluindo
fatores como distribuição dos tamanhos das partículas, peso específico, poropressão,
teor de umidade, permeabilidade, compressibilidade e resistência ao cisalhamento
dos resíduos sólidos. Foram consideradas as definições e formas de determinação de
cada parâmetro e apresentados valores obtidos em trabalhos de diversos
pesquisadores. Esta etapa da pesquisa abordou ainda aspectos referentes ao
tratamento e destinação final de resíduos sólidos, incluindo as principais formas de
tratamento de resíduos (incineração, reciclagem e compostagem) e formas de
destinação de resíduos (lixões, aterros controlados e aterros sanitários) e suas
principais características construtivas e operacionais.
Desta forma, a etapa da pesquisa bibliográfica referente à caracterização e
comportamento de resíduos sólidos serviu de embasamento para o enquadramento
do Aterro de Caetetuba, quanto aos tipos de resíduos identificados na área, aos
métodos operacionais adotados durante a fase ativa do aterro, e a influência destes
aspectos nas características físicas e mecânicas dos resíduos e na estabilidade do
maciço de forma geral.
A segunda etapa da pesquisa bibliográfica, referente aos métodos de análise
de estabilidade de taludes, foi iniciada com uma breve abordagem dos diversos
métodos de avaliação de estabilidade e os tipos de análise adotados. Na sequência,
buscou-se o aprofundamento nos métodos de análises determinísticos baseados na
16

teoria do equilíbrio limite, que utilizam um fator de segurança na definição da


estabilidade de um maciço qualquer.
Os métodos de análises determinísticos baseados na teoria do equilíbrio limite
são amplamente utilizados em projetos de engenharia, inclusive em aterros sanitários.
Foram abordados os principais métodos analíticos, baseados na teoria do equilíbrio
limite, identificados na literatura e os parâmetros envolvidos em cada método,
incluindo os métodos do Talude Infinito, de Culmann, Simplificado de Bishop,
Simplificado de Jambu, de Spencer e de Morgenstern e Price.
Esta etapa da pesquisa abordou ainda algumas comparações entre os
métodos de análise de estabilidade de taludes citados. Na literatura, são poucas as
comparações entre os métodos de análise, quando aplicados em maciços de resíduos
sólidos, sendo identificadas comparações aplicadas em casos diferentes, como
seções de um talude natural na Serra do Mar (TONUS, 2009) e taludes em uma mina
de ferro (MENEZES, 2012), além de comparações em casos hipotéticos como
FERNANDES e SILVA FILHO (2010) e HORST (2007).
Desta forma, a etapa da pesquisa bibliográfica referente aos métodos de
análise de estabilidade de taludes foi útil na fundamentação dos métodos a serem
utilizados e, em especial, na escolha do método a ser utilizado. Da mesma forma, as
comparações entre os métodos de análise de estabilidade identificadas na literatura,
subsidiaram a escolha dos métodos analíticos aplicados no Aterro de Caetetuba.
A terceira etapa da pesquisa bibliográfica, referente ao estudo do meio físico
onde se insere a área do Aterro de Caetetuba, incluiu a caracterização geológica e
hidrogeológica da área. Inicialmente foi abordado o contexto geológico regional da
área, localizada sobre o embasamento pré-cambriano do Cinturão Ribeira (HASUI,
2012, p. 345). Na sequência foram apresentadas as principais unidades
litoestratigráficas definidas nos mapeamentos geológicos identificados na literatura
para a região. Posteriormente foram abordados aspectos relativos à hidrogeologia
local sendo discutido o assentamento do Aterro de Caetetuba sobre os sedimentos da
várzea do Rio Atibaia.
Estas informações foram de fundamental importância visto que, juntamente
com informações obtidas na pesquisa documental, subsidiaram a elaboração de um
modelo geológico-constritivo do aterro, etapa indispensável das análises de
estabilidade realizadas.
17

3.1.1. Bases Consultadas

Durante a pesquisa bibliográfica foram consultadas diversas bases técnicas,


incluindo instituições como a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e a Companhia Ambiental do
Estado de São Paulo (CETESB).
O acervo de normas técnicas da ABNT está disponível nos computadores da
universidade por identificação via IP e visualizador no site da biblioteca do campus de
Rio Claro. Os acervos CONAMA e CETESB estão disponíveis a todo o público
interessado nos sites referentes a cada instituição.
Além das instituições mencionadas, foram consultados diversos acervos, com
destaque para:

• Periódicos da CAPES, disponíveis a todos os computadores da universidade


no Portal da CAPES em:
<http://www-periodicos-capes-gov-br.ez87.periodicos.capes.gov.br/>;
• Acervo UNESP, disponível na base de dados “ATHENA” em:
<http://portal.biblioteca.unesp.br/portal/athena/>;
• Acervo USP, disponível na base de dados “DEDALUS” em:
<http://dedalus.usp.br/>; e
• Catálogos da UFRJ, disponível na base de dados “MINERVA” em:
<http://www.minerva.ufrj.br/>.

Diversas outras bases de dados foram consultadas, incluindo sites comuns de


busca.
Nos acervos técnicos da ABNT, CONAMA e CETESB, ao se pesquisar
“resíduos sólidos”, foram identificados diversos documentos, com destaque para
ABNT NBR 10004 (2004) e CONAMA 005/93 (1993). A busca foi repetida nas bases
de dados das universidades, sendo as principais referências encontradas na base
DEDALUS, com destaque para NASCIMENTO (2007), SCHALCH et. al. (2002) e
CARVALHO (1999).
18

Pesquisando-se por “aterros sanitários” nos acervos da ABNT, CONAMA e


CETESB, foram identificadas normas como CETESB P4.2471 e ABNT NBR 8419.
Nas bases de dados das universidades, a busca por estas palavras-chave apresentou
trabalhos como LOUREIRO (2005) e FARIA (2002), disponíveis no site do Grupo de
Estudo em Tratamento de Resíduos Sólidos (GETRES). Na plataforma ATHENA, a
mesma busca apresentou diversas referências, entre as quais, JARDIM (1995).
No banco de teses do Portal CAPES a pesquisa por “estabilidade de taludes
x aterro sanitário” apresentou referências importantes como OLIVEIRA (2002),
enquanto a busca por “mecânica x aterro sanitário” apontou referências como
MARQUES (2001).
Buscando-se por “estabilidade de taludes” nos acervos das universidades são
identificados vários documentos, dentre os quais, FIORI e CARMIGNANI (2009), na
plataforma DEDALUS. Utilizando-se a palavra-chave “geotecnia”, na plataforma
DEDALUS, foi identificado MASSAD (2003).
Com referência as bases utilizadas no estudo do meio físico, buscou-se
incialmente “geologia de Atibaia” na plataforma ATHENA, sendo verificados os
mapeamentos geológicos realizados durante o convênio entre UNESP e o extinto Pró-
Minério, onde foram mapeadas diversas bases cartográficas do IBGE, em escala
1:50.000, incluindo as folhas Atibaia. A partir destes foi obtida a compilação realizada
por NEVES (2005).
É importante ressaltar que, apesar de apresentada no início da dissertação e
de tratada como uma etapa inicial de trabalho, a pesquisa bibliográfica ocorreu ao
longo de todo o projeto.

3.2. Pesquisa Documental

A área do Aterro de Caetetuba se mostrou favorável ao desenvolvimento


desta pesquisa, tendo em vista as características construtivas e geométricas do
maciço além da grande quantidade de informações disponíveis. O uso da área para
destinação de resíduos foi iniciado a mais de três décadas. Desta forma, existem
19

diversos estudos realizados no local, referentes a análises ambientais, os quais foram


cedidos pela administração do aterro para realização da presente dissertação.
Nos estudos cedidos pela administração do Aterro de Caetetuba estão
registrados diversos trabalhos de campo, incluindo vistorias técnicas, levantamentos
topográficos, execuções de sondagens e campanhas de instalação de poços de
monitoramento com amostragem de água subterrânea. Destaca-se que não foram
realizados trabalhos de campo no local durante a presente dissertação de mestrado,
sendo todos os trabalhos de campo mencionados realizados por terceiros.
Foram utilizados documentos referentes ao processo de investigação
ambiental da área em andamento na CETESB como memoriais e termos de
ajustamento além de relatórios técnicos, dentre os quais:

• Memorial de Caracterização Técnica para licença de implantação de novo


estabelecimento, referente a instalação da unidade de reciclagem e
compostagem do Aterro de Caetetuba, elaborado pela Prefeitura Municipal de
Atibaia, no ano de 2006;
• Investigação de Passivo Ambiental em área denominada Vila São José, Atibaia
- SP, realizado pela empresa Gisante Serviços de Engenharia S/S LTDA, no ano
de 2010;
• Avaliação Ambiental Preliminar do Aterro de Caetetuba, Atibaia - SP, realizado
pela empresa Geocia - Consultoria, Serviços em Geologia e Engenharia
Ambiental LTDA-EPP, no ano de 2012;
• Investigação Ambiental Confirmatória do Aterro de Caetetuba, Atibaia - SP,
realizado pela empresa Geocia - Consultoria, Serviços em Geologia e
Engenharia Ambiental LTDA-EPP, no ano de 2012.

Na Investigação de Passivo Ambiental foi obtida a planta topográfica da área,


que representa a situação do maciço no ano de 2010. Conforme verificado no relatório
elaborado pela empresa Gisante, foram realizadas 04 sondagens com amostragem
de solo e instalação de poços de monitoramento com amostragem de água
subterrânea, incluindo 01 poço entre o maciço e a várzea do Rio Atibaia e 03 poços
entre o maciço e a Vila São Jose.
20

Na Avaliação Ambiental Preliminar, foram obtidas fotos aéreas datadas dos


anos de 1962 (a), 1972 (b) e 1978 (c). Não foram verificadas fotos aéreas relativas às
décadas de 1980 e 1990, época da disposição da maior parte dos resíduos
domésticos no local. A partir do ano de 2005, estão disponíveis imagens de satélite
da área, com periodicidade anual, no software Google Earth.
Na Investigação Ambiental Confirmatória, foram obtidos diversos perfis de
sondagem, referentes as sondagens com teste de penetração (SPT) e a trado para
instalação de poços de monitoramento. Conforme verificado no relatório elaborado
pela empresa Geocia, foram realizadas 12 sondagens a trado, para instalação de 08
poços de monitoramento de água subterrânea e 04 poços para amostragem de gás,
além da execução de uma malha de sondagens subsuperficiais para medição de
gases voláteis no solo e execução de 05 sondagens com ensaio de penetração (SPT).
Foram identificadas sondagens no topo do maciço, na lateral imediata à base e no
entorno próximo ao Aterro de Caetetuba, sendo obtidas descrições dos resíduos e
dos corpos litológicos que compõe o embasamento local.
Desta forma, o material consultado na Pesquisa Documental forneceu dados
fundamentais a serem utilizados nas análises de estabilidade do aterro, incluindo
geometria e perfil construtivo do maciço, condições de assentamento, parâmetros
geotécnicos dos solos e dos resíduos e presença de água.

3.3. Caracterização do Aterro de Caetetuba

Após a coleta de dados disponíveis na literatura e nos estudos cedidos pela


administração do Aterro de Caetetuba, foi iniciado o processo de tratamento de dados
com a elaboração do modelo construtivo do Aterro de Caetetuba.
Foram identificadas sondagens no topo do maciço, na lateral imediata à base
e no entorno próximo ao Aterro de Caetetuba. As sondagens realizadas diretamente
no maciço forneceram dados relativos à caracterização dos resíduos e dos corpos que
compõe o substrato local bem como as profundidades de mudança de material, da
base do aterro e do nível d’água dentro do corpo de resíduos.
21

As sondagens realizadas na lateral imediata à base do aterro bem como as


sondagens realizadas no entorno próximo foram importantes visto que forneceram
informações referentes à continuidade lateral dos pacotes litológicos que compõe o
substrato local bem como os parâmetros geotécnicos dos mesmos. Destaca-se que o
Aterro de Caetetuba encontra-se parcialmente assentado sobre sedimentos aluviais
do Rio Atibaia.
A localização das sondagens, bem como as plantas topográficas e imagens
aéreas obtidas nos documentos consultados, foram georreferenciadas e sobrepostas,
utilizando o software ArcGIS 10. Com base nas imagens aéreas e nas entrevistas
contidas nos relatórios fornecidos, foi elaborado o histórico construtivo do maciço. A
partir do histórico do aterro, juntamente com os perfis de sondagens e os
levantamentos topográficos disponíveis foi possível elaborar um modelo construtivo
do maciço bastante fiel à realidade.
Além de servirem como embasamento para o modelo construtivo do Aterro de
Caetetuba, as sondagens com ensaios SPT forneceram dados referentes a presença
de água no aterro e no substrato, bem como dados utilizados na determinação de
parâmetros geotécnicos inerentes aos resíduos e aos pacotes litológicos sobre os
quais está assentado o Aterro de Caetetuba.
Inicialmente foram elaboradas duas seções transversais do maciço, de forma
que cada seção abrange uma sondagem realizada diretamente sobre os resíduos e
uma sondagem realizada na base imediata do aterro. As seções transversais foram
elaboradas utilizando-se o software AutoCAD 2013 sendo posteriormente exportadas
para o software SLOPE/W 2012. No software SLOPE/W 2012, foram implementados
os parâmetros geotécnicos inerentes a todos os materiais presentes no modelo,
incluindo os resíduos e os pacotes litológicos que compõe o substrato. Após a
definição dos parâmetros geotécnicos e dos métodos analíticos apropriados, foram
realizadas as análises de estabilidade de taludes.
22

3.4. Definição do Método Analítico

Após a modelagem do Aterro de Caetetuba, foi definido o método analítico a


ser utilizado nas análises de estabilidade. Foi realizado um levantamento bibliográfico
referente ao comportamento de resíduos sólidos e aos métodos de análises de
estabilidade determinísticos baseados na teoria do equilíbrio limite, os quais são
amplamente utilizados em projetos de engenharia, inclusive em aterros sanitários.
Na pesquisa referente ao comportamento de resíduos sólidos foram
identificadas algumas análises de estabilidade de taludes em aterros sanitários
realizadas por diferentes metodologias, apresentando resultados diversos.
Na pesquisa referente aos métodos de análises de estabilidade de taludes,
foram identificadas as vantagens e desvantagens de cada método e sugestões para
suas aplicações, conforme a descrição das obras consultadas e as opiniões dos
autores de tais obras. Também foram identificadas algumas comparações entre tais
metodologias, quando aplicadas a casos gerais de engenharia, sendo os resultados
obtidos nestas comparações expressos em virtude do fator de segurança obtido.
Após o levantamento dos diversos métodos de avaliação de estabilidade de
taludes, foi realizada uma consulta a profissionais especializados na área, sendo estes
profissionais solicitados a apontar, entre os métodos analíticos identificados na
pesquisa bibliográfica, qual o método, ou os métodos mais adequados para análises
de estabilidade em aterros sanitários.
Desta forma, a escolha do método analítico adotado na presente dissertação
considerou os métodos levantados durante a etapa da pesquisa bibliográfica, os
métodos apontados pelos profissionais especializados consultados e os métodos
utilizados nas análises de estabilidade de taludes em aterros sanitários identificadas
na literatura, sendo realizadas análises de estabilidade de taludes por diversos
métodos, com ênfase para o método de Bishop Simplificado.
Após a execução das análises de estabilidade de taludes do Aterro de
Caetetuba, pelo método de Bishop Simplificado, as mesmas foram novamente
realizadas, utilizando outros métodos analíticos, identificados na pesquisa
bibliográfica, disponíveis no software SLOPE/W.
23

3.5. Definição dos Parâmetros Geotécnicos dos Materiais

Posteriormente a definição do método analítico empregado, foram definidos


os parâmetros geotécnicos dos materiais. Foram definidos parâmetros geotécnicos
inerentes a todos os materiais presentes nas seções transversais elaboradas,
incluindo os resíduos presentes no Aterro de Caetetuba e os litotipos que constituem
o substrato onde se assenta o maciço. Entre as propriedades designadas aos pacotes
definidos inclui-se peso específico, ângulo de atrito e coesão.
Os parâmetros geotécnicos inerentes aos litotipos que constituem o substrato
local foram definidos pelas propostas de correlação empírica entre o índice NSPT e os
parâmetros de resistência do solo, sendo adotada a correlação entre NSPT e ângulo
de atrito para solos arenosos de DÉCOURT (1989, apud FONSECA, 1996, p. 53), a
correlação entre NSPT e a resistência não drenada para argilas proposta por U. S.
NAVY (1986, apud VELLOSO e LOPES, 2004, p. 48) e a correlação entre NSPT e o
peso específico dos solos de GODOY (1972, apud CHRISTAN, 2013 p. 51).
Desta forma, na definição dos parâmetros geotécnicos dos pacotes que
constituem o substrato local a partir dos ensaios de penetração, foi considerada a
média dos valores de NSPT obtidos ao longo de cada pacote. Destaca-se que, a versão
gratuita do software SLOPE/W, disponível para estudantes, permite apenas análises
de estabilidade em perfis que apresentem no máximo 03 litotipos diferentes. Desta
forma, o pacote silto-arenoso, relativo aos solos de alteração do embasamento local,
foi integrado ao pacote de areia média a grossa.
Na definição dos parâmetros geotécnicos dos resíduos dispostos no aterro,
foram consideradas diversas possibilidades. Inicialmente foram considerados os
resultados das sondagens com ensaio de penetração, realizadas nos resíduos,
utilizando as mesmas correlações adotadas para definição dos parâmetros
geotécnicos inerentes aos litotipos que constituem o substrato local.
De acordo com CARVALHO (1999, p. 68), na determinação dos parâmetros
de resistência de resíduos a partir de ensaios de penetração, é usual considerar os
resíduos como puramente coesivos (ĭ=0) ou puramente não coesivos (c=0). Alguns
autores discordam destas proposições, como MITCHELL e MITCHELL (1992, apud
CARDIM, 2008, p. 26) que alegam que embora não haja uma coesão verdadeira, é
24

razoável a inclusão da componente coesiva nas avaliações de resistência ao


cisalhamento. Os mesmos se baseiam no fato de que cortes praticamente verticais
em aterros permanecem estáveis por longos períodos. Para SANCHEZ-ALCITURRI
et. al. (1993, apud CARVALHO, 1999, p. 68), a consideração de materiais puramente
coesivos ou puramente não coesivos aplica-se somente aos solos. No caso dos
resíduos, onde não existem bases firmes para tais afirmações, são mais adequadas
as análises considerando valores de coesão e ângulo de atrito.
Desta forma, na definição dos parâmetros geotécnicos dos resíduos a partir
dos ensaios de penetração foram consideradas três possibilidades, sendo elas:
valores de coesão, ângulo de atrito e peso específico obtidos com base nas
correlações adotadas; resíduos puramente coesivos (ĭ=0) com valor de coesão e
peso específico obtidos pelas correlações adotadas; e resíduos puramente não
coesivos (c=0) com valor de ângulo de atrito e peso específico obtidos pelas
correlações adotadas. Nos três casos foi considerada a média dos valores de NSPT
obtidos ao longo do pacote, excluindo-se os picos de resistência (NSPT > 20). Na
definição do peso específico foi considerado o valor para meios úmidos.
Em um segundo plano, os parâmetros geotécnicos dos resíduos foram
definidos a partir das propostas levantadas na etapa da Pesquisa Bibliográfica, obtidos
por diversos autores a partir de retroanálises, por meio de ensaios de laboratório ou
por meio de ensaios in situ.
Entre as diversas propostas identificadas, foram selecionados os valores de
coesão, ângulo de atrito e peso específico sugeridos por duas propostas, sendo elas
a proposta de BENVENUTO e CUNHA (1991) e de KAVAZANJIAN et. al. (1995).
Os valores sugeridos por BENVENUTO e CUNHA (1991) se mostraram
adequados visto que foram definidos com base em retroanálises de escorregamentos
ocorridos no Aterro Bandeirantes, em São Paulo – SP, que assim como o Aterro de
Caetetuba, é composto principalmente por resíduos urbanos.
Por sua vez, os valores sugeridos por KAVAZANJIAN et. al. (1995) foram
adotados em virtude da ampla citação de sua proposta nos artigos identificados
durante a pesquisa bibliográfica incluindo CARVALHO (1999, p. 68), CARDIM (2008,
p.48), FUCALE (2005, p. 72), MARQUES (2001, p. 42), NASCIMENTO (2007, p. 78),
NETO (2004, p. 35) e OLIVEIRA (2002, p. 104).
25

3.6. Definição do Software para Aplicação do Método Analítico

Nas análises de estabilidade de taludes identificadas na literatura durante a


etapa de pesquisa bibliográfica, verificou-se o uso frequente de softwares
especializados na modelagem dos corpos analisados. Entre os principais softwares
relacionados à modelagem ambiental identificados, o conjunto de programas
desenvolvidos pela Geo-Slope Internacional se destacou por sua praticidade e por
possuir versões gratuitas para estudantes.
Entre as ferramentas no pacote da Geo-Slope International, o SLOPE/W é o
produto utilizado para calcular o fator de segurança através de diversas metodologias
que utilizam análises de equilíbrio limite, podendo modelar tipos heterogêneos de
materiais com complexa geometria, considerando diferentes superfícies de
deslizamento e poropressão (GEO-SLOPE INTERNATIONAL).
O pacote de Ferramentas Geo-Studio 2012 pode ser descarregado no site
<http://www.geo-slope.com/downloads/2012.aspx>. Instalando-se o arquivo
completo, seleciona-se a versão estudantil nas opções do programa, que é livre com
algumas limitações.

3.7. Apresentação dos Resultados e Conclusões

Os resultados obtidos são apresentados a partir do Capítulo 4 da presente


dissertação de mestrado, incluindo os resultados obtidos na pesquisa bibliográfica, na
pesquisa documental e nas análises de estabilidade de taludes.
Os resultados das análises de estabilidade foram expressos em função dos
valores de segurança obtidos, sendo comparados os fatores de segurança calculados
pelos diversos métodos oferecidos pelo software SLOPE/W, em função das variações
nos parâmetros geotécnicos e dos métodos analíticos utilizados.
26

4. CARACTERIZAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

A geração de resíduos é resultado de basicamente todas as atividades da


sociedade contemporânea incluindo desde atividades domésticas corriqueiras até
grandes processos industriais.
A norma ABNT NBR 10004 (2004, p. 1) define resíduos sólidos como:

“Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de


origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de
varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas
de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de
controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades
tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de
água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente viáveis em
face à melhor tecnologia disponível.”

Os resíduos sólidos, assim como os solos naturais, são meios multifásicos


construídos pelas fases sólidas, liquida e gasosa. A fase sólida dos resíduos
apresenta diversos constituintes, formando um arranjo poroso que pode ou não estar
preenchido por líquidos percolados. No caso de aterros de resíduos urbanos,
inicialmente tem-se o predomínio da fase sólida, com a ação do tempo, os processos
de biodegradação acarretam na geração de líquidos e gases (CARVALHO, 1999, p.
38).

4.1. Composição e Classificação de Resíduos Sólidos

A composição dos resíduos sólidos, chamada composição física ou


gravimétrica, define a porcentagem dos diversos componentes presentes na massa
de lixo (NASCIMENTO, 2007, p. 45). A caracterização da composição dos resíduos é
feita utilizando-se amostras representativas, com seleção e mensuração dos
componentes da massa, de forma a determinar a relação entre o peso de cada
componente presente na amostra e o peso da amostra total (SILVEIRA, 2004,
27

p. 15). A definição da composição física dos resíduos é de grande importância, visto


que condiciona o comportamento global da massa de lixo (OLIVEIRA, 2002, p. 31).
A fase gasosa do aterro é composta por diversos gases, alguns presentes em
grandes quantidades como o metano (CH4) e o dióxido de carbono (CO2), e outros em
quantidades menores incluindo amônia (NH3), hidrogênio (H2), gás sulfídrico (H2S),
nitrogênio (N2) e oxigênio (O2). A decomposição dos resíduos se inicia por processos
aeróbicos, na deposição do resíduo. Após a cobertura do lixo, ocorre a redução de
oxigênio e a decomposição passa a ser anaeróbica (BORBA, 2006, p.08 - 11).
A fase líquida do aterro, ou chorume, é composta basicamente pelo líquido
que entra na massa aterrada de lixo, proveniente de fontes externas, tais como
sistemas de drenagem superficial, chuva, lençol freático, nascentes e aqueles
resultantes da decomposição do lixo (HAMADA, 1997, p. 1802). A norma ABNT NBR
8419 (1996, p. 2), define chorume como:

“Líquido, produzido pela decomposição de substâncias contidas nos resíduos


sólidos, que tem como características a cor escura, o mau cheiro e a elevada
DBO (demanda bioquímica de oxigênio).”

A fase sólida dos resíduos apresenta uma mistura de materiais de diferentes


tipos, formas e dimensões, incluindo papéis, plásticos, tecidos, vidros, metais,
madeiras, entulhos e resíduos alimentares (NASCIMENTO, 2007, p. 46).
Diversas propostas são apresentadas na literatura para classificação de
resíduos sólidos. A norma ABNT NBR 10004 (2004, p. 3) classifica tais resíduos de
acordo com os processos envolvidos na origem dos mesmos, na caracterização de
seus constituintes e na identificação dos possíveis impactos a saúde e ao meio
ambiente. As classes definidas são:

• Resíduos Classe I – Perigosos: os resíduos nesta classe apresentam


características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e/ou
patogenicidade;
• Resíduos Classe II - Não Perigosos: os resíduos nesta classe são divididos em
duas subclasses:
o Classe II A - Não Inertes: podem ter propriedades, tais como:
biodegradabilidade, combustibilidade e/ou solubilidade em água; e
28

o Classe II B – Inertes: quando submetidos a um contato estático ou dinâmico


com água, não apresentam nenhum de seus componentes solubilizados a
concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água definidos
pelo Anexo H da Norma.

Por sua vez, a Resolução CONAMA 005/93 (1993, p. 595) classifica os


resíduos sólidos em quatro classes, de acordo com o risco oferecido a saúde pública.
As classes definidas são:

• Grupo A: apresentam risco potencial à saúde pública e ao meio ambiente, tendo


em vista a presença de agentes biológicos, incluindo excreções, secreções,
líquidos orgânicos; meios de cultura; tecidos, filtros de gases aspirados de área
contaminada; resíduos advindos de área de isolamento; restos alimentares de
unidade de isolamento; resíduos de laboratórios de análises clínicas; resíduos
de unidades de atendimento ambulatorial; resíduos de sanitários de unidade de
internação e de enfermaria, objetos perfurantes ou cortantes, capazes de causar
punctura ou corte, tais como lâminas de barbear, bisturi, agulhas, escalpes,
vidros quebrados, provenientes de estabelecimentos prestadores de serviços de
saúde;
• Grupo B: apresentam risco potencial à saúde pública e ao meio ambiente devido
às suas características químicas, incluindo drogas quimioterápicas e produtos
por elas contaminados, resíduos farmacêuticos e demais produtos considerados
perigosos, conforme classificação da ABNT NBR 10004 (2004);
• Grupo C: materiais radioativos ou contaminados com radionuclídeos,
provenientes de laboratórios de análises clínicas, serviços de medicina nuclear
e radioterapia; e
• Grupo D: resíduos comuns que não se enquadram nos grupos descritos
anteriormente.

BIDONE e POVINELLI (1999, apud NASCIMENTO, 2007, p. 37) classificou


os resíduos sólidos com base em sua degradabilidade, sendo:
29

• Facilmente degradáveis: apresentam degradação biológica através de bactérias


e fungos como a matéria orgânica presente nos resíduos de origem urbana;
• Moderadamente degradáveis: apresentam degradação biológica em um período
de duas a quatro semanas como papéis, papelão e outros materiais celulósicos;
• Dificilmente degradáveis: apresentam degradação biológica desprezível como
panos, retalhos, aparas, resíduos de couro, borracha e madeira; e
• Não degradáveis: não apresentam degradação biológica como vidros, pedras,
metais, diversos tipos de plásticos, terra e outros.

SCHALCH et. al. (2002, p. 4 – 6), apresentaram uma classificação para


resíduos sólidos com base na sua origem. Segundo esta obra, os resíduos sólidos se
dividem em:

• Resíduos Urbanos: gerados nas residências, escritórios, lojas, hotéis,


supermercados, restaurantes e em outros estabelecimentos, além de resíduos
oriundos da limpeza pública urbana;
• Resíduos Industriais: gerados nos diversos tipos de processamentos industriais;
• Resíduos de Serviços de Saúde: gerados em hospitais, clínicas médicas e
veterinárias, laboratórios de análises clínicas, farmácias, centros de saúde,
consultórios odontológicos e outros estabelecimentos afins;
• Resíduos de Portos, Aeroportos, Terminais Rodoviários e Ferroviários: resíduos
sépticos, que podem conter organismos patogênicos, tais como: materiais de
higiene e de asseio pessoal, podendo veicular doenças de outras cidades,
estados e países;
• Resíduos Agrícolas: oriundo das atividades da agricultura e pecuária, como
embalagens de adubos, defensivos agrícolas, ração, restos de colheita, esterco
animal;
• Entulho: resíduos da construção civil, demolições, solos de escavações etc.; e
• Resíduos Radioativos: resíduos provenientes dos combustíveis nucleares.

Conforme se verá adiante, no Aterro de Caetetuba são identificados dois


pacotes distintos de resíduos, sendo o pacote basal constituído de Resíduos Urbanos
e o Pacote superior constituído de Entulhos.
30

Existem ainda propostas de classificação de resíduos baseadas na mecânica


dos solos como o emprego da carta de Schmertmann, onde são plotados os
resultados médios obtidos em ensaios de penetração do cone, excluindo-se os picos
de resistência causados por objetos rígidos no aterro. Desta forma, é possível
classificar os resíduos dentro de uma variação de areia fofa a argila siltosa e arenosa
(CARVALHO, 1999, p. 36).

4.2. Características Físicas e Mecânicas de Resíduos Sólidos

Na investigação das propriedades mecânicas dos resíduos sólidos é


necessário o conhecimento de diversas propriedades físicas dos mesmos, incluindo a
distribuição do tamanho das partículas, peso específico, entre outros (MARQUES,
2001, p. 21). As principais propriedades mecânicas dos resíduos sólidos são a
compressibilidade e a resistência ao cisalhamento. Em geral, estas propriedades são
avaliadas utilizando os métodos convencionais desenvolvidos na mecânica dos solos
(NASCIMENTO, 2007, p. 56).
Os resíduos sólidos, assim como os solos naturais, são meios multifásicos
construídos pelas fases sólidas, liquida e gasosa. A fase sólida dos resíduos
apresenta diversos constituintes, formando um arranjo poroso que pode ou não estar
preenchido por líquidos percolados. Inicialmente tem-se o predomínio da fase sólida,
com a ação do tempo, os processos de biodegradação acarretam na geração de
líquidos e gases (CARVALHO, 1999, p. 38).
Desta forma, entende-se que o tempo é um elemento importante no
comportamento dos resíduos sólidos. MACHADO, CARVALHO e VILAR (2009, p.
125) propõe um modelo de quatro fases para resíduos em aterros sanitários, incluindo
as fases gasosa, liquida e sólida, sendo a fase sólida dividida em duas partes: as
fibras, compostas principalmente por plásticos e tecido; e a pasta sólida de resíduo,
composta por todos os outros materiais sólidos não fibrosos. A Figura 3 apresenta
relação da perda de volume dos resíduos sólidos em função da biodegradação, de
acordo com MACHADO, CARVALHO e VILAR (2009, p. 125):
31

Antes da Depois da Volume


degradação degradação

Ar
Ar
Água
Água

Pasta
Sólida Pasta
Sólida

Fibras Fibras

Figura 3 - Relação da perda de volume dos resíduos sólidos em função da biodegradação (retirado
de MACHADO, CARVALHO e VILAR, 2009, p. 125).

Onde:

   Volume do sólido
   Volume de pasta de resíduo mais volume de vazios
   Volume de vazios
  Volume de pasta de resíduo
  Volume de fibras
 Taxa de compressão de resíduos ao pondo do tempo

Segundo o modelo, os componentes de fibra não perdem massa ao longo do


tempo, assim, a variação do volume sólido corresponde à variação do volume de pasta
sólida de resíduo (MACHADO, CARVALHO e VILAR, 2009, p. 125).
Desta forma, com o decorrer do tempo ocorre uma concentração de mateirais
que adquirem texturas fibrosas como plásticos e tecidos podendo isto influenciar
fortemente nos valores de resistência (NASCIMENTO, 2007, p. 66).
Além disso, aterros sanitários apresentam geração de biogás ao longo do
tempo, resultando no aumento das pressões internas, na medida em que haja
aprisionamento ou dificuldade do mesmo ser drenado, o que também influencia no
comportamento dos resíduos (BENVENUTO e CIPRIANO, 2010, p. 43). Altos valores
de teor de umidade também resultam no desenvolvimento de poropressões, podendo
diminuir a tensão efetiva, resultando em menores valores de resistência ao
cisalhamento (MARTINS, 2006, p. 16).
32

A seguir são detalhadas as principais características físicas e mecânicas dos


resíduos sólidos.

4.2.1. Distribuição dos Tamanhos das Partículas

A distribuição do tamanho das partículas de resíduos sólidos, em decorrência


da heterogeneidade dos materiais depositados em um aterro, apresenta uma ampla
faixa de variação, tornando limitadas as metodologias para sua determinação
(CARVALHO, 1999, p. 40).
Diversos pesquisadores utilizam o processo clássico de peneiramento para
determinação da curva de distribuição do tamanho das partículas (NASCIMENTO,
2007, p. 47). Nota-se que existe uma tendência ao aumento das frações de partículas
mais finas com o aumento da idade dos resíduos, em decorrência da evolução dos
processos de degradação (MACHADO, 2005, p. 4).
OLIVEIRA (2002, p. 94) apresentou resultados onde 60% do tamanho das
partículas são maiores que 20 mm e 20% dos grãos estão compreendidos na faixa
entre 20 mm e 2 mm. CARVALHO (1999, p. 189) obteve resultados para amostras de
profundidades menores que 18m, onde 30% a 35% dos componentes são maiores
que 20 mm e 50% dos grãos possuem entre 20 mm e 2 mm. Para amostras de
profundidades maiores que 18 m, 20% a 50% dos componentes possuem mais de 20
mm e 45% a 60% dos componentes possuem entre 20 mm e 2 mm.

4.2.2. Peso Específico

O peso específico (
) dos resíduos sólidos é expresso por kN/m3 e representa
a relação entre o peso de uma amostra e seu volume (SILVEIRA, 2004, p. 17).
Diversos fatores influenciam o peso específico dos resíduos sólidos como a
composição e umidade dos resíduos, forma disposição, compactação e consolidação
dos resíduos em função da sobreposição de novas camadas e a decomposição com
o tempo (NASCIMENTO, 2007, p. 52).
33

A determinação do peso específico de resíduos sólidos é complicada, não só


devido à natureza dos materiais, mais à necessidade de amostras com volume bem
maior do que as normalmente utilizadas em geotecnia (SILVEIRA, 2004, p. 17 - 19).
O peso específico de uma amostra de resíduos pode ser obtido pelas diversas
metodologias, entre as quais, a execução de poços ou trincheiras, onde o peso
específico é obtido pela relação entre o peso dos resíduos escavados e o volume da
cava. Não existem resultados precisos (OLIVEIRA, 2002, p. 37).
MARQUES (2001) realizou um estudo em um aterro experimental, construído
em São Paulo – SP, onde foram executados ensaios in situ em equipamentos de
grandes dimensões para avaliar o peso específico dos resíduos. Os resultados obtidos
por MARQUES (2001, p. 326) se mostraram bastante variados com valores situados
entre 3,4 kN/m3 e 14 kN/m3, e valor médio em torno de 8,2 kN/m3.
SILVEIRA (2004) realizou um estudo do peso específico de resíduos sólidos
dispostos em aterros não controlados, controlados e sanitários, utilizando ensaios in
situ com o uso do percâmetro nos aterros de Paracambi – RJ, Santo André - SP,
Gramacho – RJ e Nova Iguaçu – RJ. Os resultados obtidos por SILVEIRA (2004,
p. 90), mostraram valores de peso específico entre 9,47 kN/m3 e 16,50 kN/m3 para
aterros a céu aberto, 16,75 kN/m3 e 19,74 kN/m3 para aterros controlados e
9,15 kN/m3 e 19,54 kN/m3 para aterros sanitários.
O Quadro 1 apresenta os valores de peso específico de resíduos obtidos por
diversos autores, pelas diferentes metodologias.

4.2.3. Poropressão

Numa massa saturada de resíduos, considerando os resíduos como meios


multifásicos construídos pelas fases sólidas, liquida e gasosa, os líquidos que ocupam
os vazios estão sob uma determinada pressão chamada de poropressão ( )
(BORGATTO, 2006, p. 52).
34

Quadro 1 – Valores de peso específico de resíduos obtidos por diversos autores.


Autor Peso Específico Observações
(a) Sowers (1968) 8 - 12 Compactados
1,2 - 3 Antes da compactação
(a) Sowers (1973)
6 Após a compactação
1,5 - 2 Sem compactação
(a) Rao (1974)
3,5 - 6 Fraca Compactação
1,16 Sem compactação
(a) Bratley et al. (1976)
7 - 13,1 Compactados
11 - 14,5 Compactados
(a) Cartier e Baldit (1983)
10 Após a compactação
7,5 - 8,5 Pré-carregados
(a) Oliden (1987)
5,5 - 7,1 Antes da decomposição
6,3 Origem industrial e domestica
(a) Oweiss e Khera (1990)
4,6 - 17,3 Mistura
2,8 - 3,1 Resíduos Municipais sem compactação
(a) Oweiss e Khera (1990)
4,7 - 6,3 Resíduos Municipais moderadamente compactados
(a) Arroyo et al. (1990) 10 Compactados
(a) Landva e Clark (1990) 7 - 14
10 Resíduos sólidos municipais densificados
(a) Van Impe (1993/1994)
9,3 Máxima densidade seca (w=31%)
8 Saturação completa (w=70%)
(a) (b) Gabr e Valero (1995)
12 Volume de ar nulo (w=31%)
5-7 Resíduos novos não decompostos e pouco compactados
(b) Kaimoto e Cepolina (1987)
9 - 13 Resíduos após compactação mecânica e após a ocorrência de recalques
(b) Gabr e Valero (1995) 8 Resíduo Saturado
10 Condição drenada
(b) Benvenuto e Cunha (1991)
13 Condição saturada
7 Resíduos recém lançados
(b) Santos e Presa (1995)
10 Resíduos após a ocorrência de recalques
(b) Mahler e Iturri (1998) 10,5 Seção do aterro com 84 m de desnível e 10 meses de alteamento
(b) Sarsby (2000) 1,2 - 1,3 Resíduo lançado no aterro
(b) Kavazanjian (2001) 10 - 20
(b) Bauer (2006) 8,6 - 15,6 Aterro com Resíduos Degradados
(b) Cata Preta et al. (2005) 7 - 11
9,47 - 16,36 Paracambi-RJ
(b) Carvalho (2006)
9,99 - 11,75 Ensaio Percâmetro, Santo André - SP
7,35 Resíduo Fresco, População Baixa renda
(b) Ochs e Shane (2006) 4,9 Resíduo Fresco, População Classe Média
1,96 Resíduo Fresco, População Classe Alta
Fonte: in: (a) SILVEIRA (2004, p. 20) (b) BORGATTO (2010, p. 32).
35

A estrutura porosa permite que os vazios interligados funcionem como tubos


capilares. À medida que os líquidos evaporam, formam-se meniscos entre as
partículas, fazendo com que atuem as forças capilares, aproximando as partículas.
Quando o meio seca totalmente desaparecem os meniscos e, consequentemente,
desaparece a força capilar. De forma similar, não há força capilar quando todo meio
está submerso em água (FIORI e CARMIGNANI, 2009, p. 106).
Considerando todo o processo de movimentação de água no solo, um perfil
pode apresentar diferentes condições de umidade sendo identificadas três zonas
principais: zona não saturada; zona saturada por capilaridade; e zona saturada abaixo
do nível d’água. Na zona saturada as pressões de água são positivas, enquanto acima
do nível d’água as pressões são negativas e podem ser denominadas sucção.
Pressões positivas tendem a afastar as partículas sólidas enquanto as negativas
atuam como agentes de atração de partículas (GERSCOVICH, 2012, p. 63 – 64).
As poropressões podem diminuir à tensão normal em um plano potencial de
escorregamento, de forma que a resistência ao cisalhamento sofre uma redução
devido à diminuição da tensão normal. Quanto maior a ação das poropressões, maior
será a parte do peso total do material que será suportado pela água. Quando a
poropressão igualar-se à tensão normal, a resistência ao cisalhamento fica totalmente
comprometida causando instabilidade no maciço (BORGATTO, 2006, p. 52 - 53).
Segundo BENVENUTO e CIPRIANO (2010, p. 43), ao longo do tempo os
aterros sanitários apresentam geração de biogás, resultando no aumento das
pressões internas, na medida em que haja aprisionamento ou dificuldade do mesmo
ser drenado. A medida que o biogás percola pelos vazios dos sólidos, esta pressão é
dissipada pelo sistema de drenagem ou pela camada de cobertura do aterro.
Concomitantemente, os líquidos percolam para cotas inferiores, lixiviando os resíduos,
abastecendo as bactérias e gerando chorume. Essas pressões de líquidos e gases
atuam no arcabouço sólido como pressões internas, ou seja, poropressões, forçando
e direcionando a movimentação de gases e líquidos pela massa de resíduos.
Para BENVENUTO e CIPRIANO (2010, p. 43 - 44), nesse cruzamento de
rotas, os bloqueios e impedimentos de movimentação assumem posições transitórias
na massa, criando os bolsões de líquidos e gases, de dimensões e tempo de
existência variável. Esse efeito, denominado oclusão por bolhas de gases, estabelece
o princípio do comportamento das poropressões nos resíduos e no arcabouço sólido,
influindo na estabilidade mecânica.
36

A poropressão de um maciço de resíduos sólidos pode ser obtida pelas


diversas técnicas, entre elas, a instalação de piezômetros do tipo sifão, que permitem
medir as pressões de gás e de líquidos percolados separadamente. Estes
piezômetros são constituídos de dois tubos concêntricos, sendo o interno para o
registro da pressão no chorume e o externo para a avaliação da pressão no gás
(SCHULER, 2010, p. 54 - 55).
A poropressão também pode ser obtida por de ensaios de penetração do
piezocone, que consiste na determinação do atrito lateral na luva e na medida de
poropressão, considerando a resistência de ponta oferecida pelo resíduos à cravação
de um cone de 10 cm2 e arestas inclinadas 60º em relação à horizontal (OLIVEIRA,
2002, p. 65).
Segundo OLIVEIRA (2002, p. 110), a poropressão influencia na estabilidade
de taludes por meio do coeficiente de poropressão  , definido pela relação entre
poropressão e tensão vertical. SCHULER (2010, p. 94) determinou valores de
poropressão em um aterro localizado no estado do Rio de Janeiro. Segundo
SCHULER (2010, p. 94), o coeficiente de poropressão  , pode ser definido pela
seguinte equação:

   

Onde:
 Poropressão medida (kPa)
  Peso específico dos RSU (kN/m³)
  Altura de lixo acima de onde está se medindo a poropressão (m)

Nas análises de estabilidade em aterros sanitários, o ideal seria dispor e


considerar valores de poropressões em diversas profundidades (BENVENUTO e
CIPRIANO, 2010, p. 45).
37

4.2.4. Teor de Umidade

O teor de umidade dos aterros sanitários é influenciado por fatores como a


composição inicial do material depositado, as condições climáticas locais, o sistema
de operação de aterro, a eficiência dos sistemas de drenagem superficial e coleta de
chorume (CARVALHO, 1999, p. 41).
A determinação do teor de umidade de um aterro sanitário é de grande
relevância na análise de estabilidade de aterros. Altos valores de teor de umidade
acarretam no desenvolvimento de poropressões na pilha de resíduos, que podem
diminuir a tensão efetiva, resultando em menores valores de resistência ao
cisalhamento (MARTINS, 2006, p. 16).
Existem diversas metodologias para a determinação do teor de umidade dos
resíduos, pelo peso da amostra seca, pela relação entre os volumes de líquidos e
sólidos, ou pela relação entre os pesos secos e úmidos da amostra (OLIVEIRA, 2002,
p. 91 – 36).
RIBEIRO (2007, p. 57 – 58) obteve valores entre 41,75% e 91,11%, enquanto
OLIVEIRA (2002, p. 91 – 92) obteve valores entre 52,5% e 34,4%, com a ressalva de
que as amostras foram coletadas em um período seco.

4.2.5. Permeabilidade

A permeabilidade dos resíduos sólidos é influenciada por fatores como os


procedimentos de aterramento e o grau de compactação, a pressão de sobrecarga
exercida, além da composição e idade dos resíduos (KNOCHENMUS et. al., 1998,
apud CARVALHO, 1999, p. 53). O tempo influencia na permeabilidade dos resíduos
visto o aumento das frações de partículas mais finas decorrente da evolução dos
processos de degradação (MACHADO, 2005, p. 4).
A disposição dos resíduos em camadas e o recobrimento diário dos mesmos,
geralmente com solo de baixa permeabilidade, resultam em um comportamento
anisotrópico da permeabilidade, que apresenta valores mais altos nas direções
horizontais (MARTINS, 2006, p. 20).
38

A permeabilidade interfere diretamente na estabilidade dos aterros sanitários,


pois, quanto maior for o acúmulo de líquidos e gases na massa de resíduos, maiores
serão os valores das poropressões geradas e menor será a resistência do material
(MARTINS, 2006, p. 19).
Existem diversas maneiras de determinar a permeabilidade de resíduos
sólidos, por ensaios de laboratório e ensaios de campo, realizados em furos de
sondagens, trincheiras e poços de grande diâmetro (NASCIMENTO, 2007, p. 53).
Em sua pesquisa, CARVALHO (1999, p. 127) obteve valores de
permeabilidade entre 8x10-4 cm/s e 5x10-6 cm/s, enquanto NASCIMENTO (2007,
p. 117) obteve valores entre 2,7x10-3 cm/s e 6,9x10-4 cm/s.
BOSCOV e ABREU (2000 apud MARTINS, 2006, p. 21) afirmaram que
provavelmente os resíduos sólidos brasileiros possuem os coeficientes de
permeabilidade mais baixos identificados na literatura internacional devido ao alto teor
de material putrescível presente.

4.2.6. Compressibilidade

Tendo em vista a redução do volume e consequente aumento da vida útil de


aterros, a compactação de resíduos sólidos vem sendo alvo de diversas pesquisas e
estudos de campo (MARQUES, 2001, p. 33 – 34).
O recalque de aterros sanitários é influenciado por diversos fatores. Além da
compressibilidade instantânea resultante das cargas aplicadas na deposição de
materiais no aterro, deve ser considerada a influência de fatores como as técnicas de
preenchimento e sistema de drenagem do aterro além da decomposição dos resíduos
(VILAR e CARVALHO, 2004, p. 1 – 2).
DIJON e JONES (2005, p. 218) identificam duas fases na compressão de um
aterro sanitário. A compressão primária inclui compressão física de partículas
(distorção e orientação das partículas) e consolidação. Na maioria dos resíduos, a
compressão física ocorre imediatamente após aplicação de camadas sobrepostas de
resíduos, ocorrendo num período de alguns dias a algumas semanas. A compressão
secundária inclui os efeitos de compressão mecânica resultantes da tensão constante
aplicada e os efeitos referentes à degradação química e biológica.
39

Os processos de degradação e decomposição podem ocorrer por meio de


processos físicos e biológicos, influenciado por características como a composição
inicial e umidade dos resíduos, disponibilidade de nutrientes para crescimento
microbiológico e condições climáticas. Os valores de recalque de um aterro sanitário,
somente em resposta a ação do próprio peso podem variar entre 10% e 40%
(MARTINS, 2006, p. 20 - 23). A previsão de recalque de aterros sanitários pode ser
realizada por diversas metodologias.
NASCIMENTO (2007, p. 59) divide os modelos de previsão de recalques de
aterros sanitários em:

• Modelos baseados na consolidação, que utiliza a teoria do adensamento


unidirecional;
• Modelos baseados na descrição do processo reológico;
• Modelos baseados na biodegradação, onde a degradação da matéria orgânica
provoca uma redução de volume da massa de resíduos; e
• Modelos baseados em regressões (por exemplo, logarítmicas, hiperbólicas,
bilineares e multilineares), obtidas a partir de dados de recalques dos aterros
sanitários.

4.2.7. Resistência ao Cisalhamento

A resistência ao cisalhamento representa um aspecto fundamental na análise


de estabilidade de aterros sanitários. Comumente, as análises de resistência ao
cisalhamento dos resíduos sólidos são realizadas a partir de modelos e métodos
estabelecidos para solos (CALLE, 2007, p. 28). Desta forma, a determinação da
resistência ao cisalhamento dos resíduos sólidos é geralmente realizada por meio do
critério de rompimento de Mohr-Coulomb que envolve os parâmetros ângulo de atrito
(ĭ) e coesão (‫( )׸‬DAS, 2007, p. 331). Apesar de usuais, a interpretação dos resultados
de tais análises fica sujeita a muitas incertezas, em virtude da dificuldade de definir o
modelo de ruptura mais apropriado para o comportamento especial deste material.
Além disso, existem diferenças significativas entre resíduos e solo, visto o alto índice
de vazios, que implica numa compressibilidade volumétrica alta (CALLE, 2007, p. 28).
40

A resistência ao cisalhamento dos resíduos sólidos é altamente influenciada


pelo estado de alteração e composição dos resíduos, além do comportamento
mecânico individual de cada componente (CARVALHO, 1999, p. 50). Materiais que
adquirem texturas fibrosas como plásticos e tecidos podem influenciar fortemente nos
valores de resistência (NASCIMENTO, 2007, p. 66).
Segundo KÖLSCH (1993, apud BORGATTO, 2006, p. 39), o comportamento
dos aterros sanitários se assemelha ao comportamento de aterros de solos com
reforços geossintéticos. Desta forma, a resistência ao cisalhamento dos resíduos é
função das forças de atrito atuantes no plano de cisalhamento e das forças de tração
das fibras. A Figura 4 apresenta a interação entre estas parcelas de força, segundo o
modelo proposto por KÖLSCH (1993, apud CARDIM, 2008, p. 23).

Figura 4 – Curva tensão-deformação de resíduos sólidos com interação das componentes de atrito e
tração (retirado de KÖLSCH, 1993, apud CARDIM, 2008, p. 23).

Segundo o modelo de KÖLSCH (1993, apud CARDIM, 2008, p. 23 - 24), para


pequenas deformações (FASE I) ocorre a mobilização das forças de atrito. Com o
aumento das deformações, as fibras são tracionadas (FASE II) fazendo aumentar a
parcela das forças de tração até um valor máximo (zmáx) que corresponde à resistência
de tração das fibras e/ou a interação com o restante do lixo. Em seguida, há a redução
gradativa da contribuição das forças de tração (FASE III), até que se atinja o ponto a
partir do qual a resistência ao cisalhamento do resíduo é resultado apenas das
componentes de atrito (FASE IV). Assim, a contribuição de cada uma dessas parcelas
41

na resistência ao cisalhamento dos resíduos varia de acordo com a tensão normal


atuante e com a deformação.
NETO (2004) realizou um estudo da resistência ao cisalhamento de resíduos
sólidos e materiais granulares com fibras, onde foram efetuados ensaios de
cisalhamento direto com amostras de resíduos e com amostras de uma mistura de
areia e pequenas tiras de plástico. O estudo buscou verificar a influência destas fibras
no comportamento mecânico e nos parâmetros de resistência ao cisalhamento destes
materiais, de forma a se estabelecerem correlações entre os mesmos.
Os resultados obtidos por NETO (2004, p. 187 - 188) mostraram que tanto
para os aterros sanitários como para os aterros de solo reforçado com geotêxteis a
coesão está diretamente relacionada a concentração das fibras, sendo que, para os
solos reforçados existe uma relação aproximadamente linear entre a “coesão das
fibras” e a concentração de geotêxtil, enquanto que para os aterros sanitários esta
relação não é conhecida.
FUCALE (2005) realizou um estudo semelhante considerando a influência das
fibras na resistência de resíduos sólidos. O autor executou ensaios de cisalhamento
direto em amostras de solo, sem e com inclusão de fibras, no intuito de investigar o
comportamento mecânico de solos reforçados com fibras plásticas distribuídas
aleatoriamente e verificar uma possível analogia entre o comportamento destes
materiais e dos resíduos sólidos.
O estudo permitiu confirmar que os elementos fibrosos que compõem os
resíduos sólidos nos aterros possuem uma grande influência no comportamento
mecânico do material, sendo estes responsáveis pelos altos valores de resistência
medidos em ensaios com resíduos sólidos urbanos, como também pela estabilidade
observada em diversos taludes de resíduos sólidos (FUCALE, 2005, p. 2001).
A determinação dos parâmetros de resistência ao cisalhamento (ângulo de
atrito e coesão) pode ser realizada por retroanálise, por meio de ensaios de laboratório
ou por meio de ensaios de campo (MARQUES, 2001, p. 38 – 39). CARVALHO (1999,
p. 50), citando diversos autores, admite o uso dos métodos de investigação
convencionais desenvolvidos pela mecânica dos solos em aterros sanitários, desde
que sejam reconhecidas as diferenças das propriedades dos materiais envolvidos.
Os modelos de avaliação por retroanálise são baseados principalmente em
ensaios de carregamento de placa e registros operacionais (OLIVEIRA, 2002, p. 46).
Estes modelos utilizam as equações de equilíbrio-limite, nas quais se estabelece um
42

fator de segurança (Fs) em função da relação entre as forças resistentes e as forças


atuantes. Tendo conhecimento da carga aplicada nos ensaios de carregamento de
placa, admite-se que a massa de resíduos está na iminência de romper e determina-
se a resistência (MARTINS, 2006, p. 45). Para MARQUES (2001, p. 45), estes
modelos devem ser utilizados com ressalva, visto que existem inúmeras combinações
que satisfazem a equação de equilíbrio limite.
OLIVEIRA (2002) realizou retroanálises a partir de um escorregamento
ocorrido em um aterro controlado em Salvador – BA (Aterro Canabrava) e a partir de
uma seção experimental no Aterro Sanitário de Salvador. A retroanálise realizada a
partir do escorregamento no Aterro de Canabrava considerou a inclinação média do
talude em 27º e, em virtude da saturação do solo no momento da ruptura, coesão
nula, sendo obtido um ângulo de atrito de 20º (OLIVEIRA, 2002, p. 108). Na seção
experimental no aterro municipal, o autor executou ensaios de sobrecarga em um
talude experimental com inclinação de 90° e arbitrou valores de ângulo de atrito para
obtenção de valores de coesão. Para os ângulos de atrito de 15º, 20º, 25º, 30º e 35º
OLIVEIRA (2002, p. 114) obteve valores de coesão de 27 kPa, 22 kPa,17 kPa,14 kPa
e 10 kPa, respectivamente.
BORGATTO (2006, p. 116) realizou a determinação de parâmetros de
resistência de resíduos sólidos por retroanálise do escorregamento ocorrido no Aterro
Sanitário Bandeirantes considerando o efeito das fibras. Os resultados obtidos foram
comparados com os valores apontados pelo relatório técnico elaborado pelo IPT
(1991), obtidos pelos métodos convencionais da engenharia geotécnica. As análises
realizadas com e sem o efeito das fibras mostraram grande discrepância de valores
de coesão. Segundo BORGATTO (2006, p. 119), a discrepância entre os valores de
coesão obtidos indicam que o material, na hora do escorregamento, apresentava
característica puramente granular, sendo a resistência “coesiva” provinda do reforço
das fibras.
Os ensaios de laboratório mais comuns são os ensaios de cisalhamento direto
e de compressão triaxial (MARTINS, 2006, p. 33). Estes ensaios apresentam algumas
desvantagens como o alto custo e a dificuldade de se obter amostras indeformadas
representativas (DIJON e JONES, 2005, p. 209). Mesmo assim, ensaios de
cisalhamento direto em laboratório são comumente utilizados por pesquisadores em
todo o mundo, em geral, realizados sobre amostras deformadas, coletadas em aterros
sanitários, e em muitas vezes, em escala não representativa (CARDIM, 2008, p. 28).
43

Para KÖNIG e JESSBERGER (1997, apud MARQUES, 2001, p. 39), observa-


se nestes ensaios que, mesmo sob elevadas tensões de compressão, a ruptura não
é claramente atingida e os resíduos apresentam ganho de resistência com o aumento
das deformações. Observa-se ainda que o ângulo de atrito máximo é mobilizado em
deformações menores ou iguais a 20%, enquanto a coesão necessita de valores bem
maiores.
MARTINS (2006, p. 7) realizou um estudo da resistência ao cisalhamento de
resíduos sólidos urbanos utilizando um equipamento de ensaio de cisalhamento direto
de grandes dimensões e amostras com diferentes condições de composição, peso
específico, umidade e idade, provenientes da central de tratamento de resíduos
sólidos da BR 040, localizada no município de Belo Horizonte, MG. Os resultados
obtidos por MARTINS (2006, p. 103 - 104) mostraram, para o ângulo de atrito,
aumento dos valores a partir de 20 % de deslocamento não sendo atingida a
estabilização para o deslocamento máximo de 50%, conforme indicado na literatura.
Para a coesão, foi constatado o aumento dos valores até o deslocamento máximo de
50%, seguindo, desta forma, o comportamento típico apresentado na literatura. O
Quadro 2 foi adaptado de MARTINS (2006, p. 73 - 87) e apresenta o resumo dos
parâmetros de resistência obtidos nos ensaios.
RIBEIRO (2007, p. 15) determinou os parâmetros de resistência (coesão e
ângulo de atrito) de resíduos sólidos na cidade de Viçosa – MG, utilizando ensaios
laboratoriais, incluindo ensaios de prova de carga em uma sapata apoiada em
resíduos dispostos em manilhas de concreto e em um talude construído em uma caixa
de madeira. Tendo o conhecimento das cargas aplicadas nas massas de resíduos,
foram arbitrados valores de coesão para determinação do ângulo de atrito
considerando o fator de segurança  = 1 (RIBEIRO, 2007, p. 52). Os resultados
obtidos na pesquisa permitiram ao autor sugerir, em projetos de análise de
estabilidade de taludes em maciços de resíduos sólidos urbanos, o uso de coesão na
ordem de 12 kPa e ângulo de atrito na ordem de 30º (RIBEIRO, 2007, p. 94).
CARDIM (2008, p. 3) realizou um estudo semelhante, sendo realizados
ensaios de cisalhamento em resíduos, em equipamento de grandes dimensões,
utilizando amostras de resíduos provenientes de duas unidades de tratamento de lixo
de Brasília. Os valores encontrados por CARDIM (2008, p. 86 - 87) para a deformação
máxima ensaiada variaram, para o ângulo de atrito, entre 43,63º e 50,72º,
apresentando indícios de estabilização após os 50% de deslocamento relativo das
44

amostras. Para a coesão, os valores para deslocamento relativo máximo de 50%


situaram-se entre 13,94 kPa e 20,29 kPa. O Quadro 3 foi adaptado de CARDIM (2008,
p. 83) e apresenta o resumo dos parâmetros de resistência obtidos nos ensaios.

Quadro 2 – Resumo dos parâmetros de resistência obtidos por MARTINS (2006, p. 73 - 87).

Parâmetros de Deslocamentos Horizontais Relativos


Ensaio
Resistência 10% 20% 35% 50%
c (kPa) 14,6 15,7 23,7 37,2
1
 (°) 21,2 35,6 48,4 52
c (kPa) 16,8 20 27,2 31,6
2
 (°) 13,5 20,2 30,9 53
c (kPa) 6,6 6,9 10,2 14,1
3
 (°) 4,6 7,8 10,5 17,2
c (kPa) 2,7 3,4 3,7 8,2
4
 (°) 21,7 25,7 37,7 48,1
c (kPa) 10,5 11,1 17,7 21,6
5
 (°) 37,1 48,2 58,3 83,7
c (kPa) 21,8 21,7 23,4 25,1
6
 (°) 9,1 20,7 40,8 72,8
Fonte: Modificado de MARTINS (2006, p. 73 - 87)

Quadro 3 – Resumo dos parâmetros de resistência obtidos por CARDIM (2008, p. 83).

Parâmetros de Deslocamentos Horizontais Relativos


Ensaio
Resistência 10% 20% 30% 40% 50%
c (kPa) 0,3 2,79 4,94 6,61 13,94
1
 (°) 33,23 38,63 41,67 46,68 47,78
c (kPa) 0 0,93 5,64 6,65 12,09
2
 (°) 33,82 38,5 41,66 47,87 50,72
c (kPa) 3,61 4,35 5,64 12,65 20,29
3
 (°) 28 34,49 41,66 44,28 43,63
Fonte: Modificado de CARDIM (2008, p. 83)

Os ensaios in situ convencionais, como os ensaios de penetração dinâmica


(SPT) e ensaios de penetração do cone (CPT), têm sido usados para avaliação de
resistência de resíduos sólidos por diversos autores (CARVALHO, 1999, p. 52).
Apesar das críticas literárias quanto ao uso de ensaios de penetração
dinâmica (SPT) para determinação dos parâmetros de resistência de resíduos sólidos,
estes ensaios estão entre as propostas mais comuns para caracterizar os materiais
de um aterro de resíduos, visto que se trata de um procedimento fácil e econômico
(FUCALE, 2002).
45

Os ensaios de penetração do cone (CPT) exigem mais recursos para


execução quando comparado aos ensaios de penetração dinâmica (SPT), sendo a
popularidade deste método atribuída à qualidade de seus resultados (VELLOSO e
LOPES, 2004, p. 41).
Devido à presença de materiais resistentes como madeira, metal, pedra,
dentre outros, durante os ensaios ocorrem grandes picos na resistência, além de
desvio das hastes dos equipamentos e avarias nos amostradores, paletas e ponteiras
(FUCALE e JUCÁ, 2002, p. 1). A presença de tais materiais dificulta a execução dos
ensaios a ponto de inviabiliza-los em determinados locais (MARQUES, 2001, p. 22).
O uso de ensaios de penetração dinâmica (SPT) tem inúmeras aplicações na
engenharia geotécnica, que vão desde o simples reconhecimento e amostragem do
substrato até a sua correlação com propriedades geotécnicas dos materiais
(SCHNAID, 2000, p. 39).
A determinação dos parâmetros de resistência a partir de ensaios de
penetração é realizada pelo uso de correlações empíricas e semi-empíricas
desenvolvidas para solos, que consideram as relações entre a resistência à
penetração in situ e o comportamento de resistência e deformabilidade dos solos.
Desta forma, a utilização de tais ensaios em aterros de resíduos sólidos exige um
cuidado adicional no uso dos resultados (FUCALE, 2002).
Os resultados dos ensaios de penetração dinâmica (SPT) são expressos em
função do índice NSPT que corresponde ao número de golpes necessários à cravação
de 30 cm do amostrador padrão, após a cravação inicial de 15 cm, utilizando-se corda
de sisal para levantamento do martelo padronizado ABNT NBR 6484 (1991, p. 2).
A Figura 5 apresenta propostas de correlação entre o índice NSPT e os
parâmetros de resistência do solo, sendo: a) correlação entre NSPT e ângulo de atrito
de solos arenosos (DÉCOURT 1989, apud FONSECA, 1996, p. 53); b) correlação
entre NSPT e a resistência não drenada de argilas (U. S. NAVY, 1986, apud VELLOSO
e LOPES, 2004, p. 48). Alguns autores sugerem ainda a correlação entre o índice NSPT
e o peso especifico dos solos. O Quadro 4 foi adaptado de GODOY (1972 apud
CHRISTAN, 2013 p. 51) e apresenta valores de peso especifico em função da
compacidade das areias e da consistência das argilas. DAS (2007, p. 51) apresenta
valores típicos de teor de umidade e peso específico para alguns solos em estado
natural conforme apresentado no Quadro 5.
46

a) b)

Figura 5 – Correlação entre NSPT e parâmetros de resistência do solo segundo diversos autores
(modificado de: (a) DÉCOURT 1989, apud FONSECA, 1996, p. 53; (b) U. S. NAVY, 1986, apud
VELLOSO e LOPES, 2004, p. 48).

Quadro 4 – Peso específico em função da compacidade das areias e da consistência das argilas
Consistência da
Índice NSPT Peso específico (kN/m3)
argila
Muito Mole <2 13
Mole 3–5 15
Média 6 - 10 17
Rija 11 - 19 19
Dura > 20 21

Compacidade da Peso específico (kN/m3)


Índice NSPT
areia Seca Úmida Saturada
Fofa <5
16 18 19
Pouco compacta 5–8
Medianamente
9 – 18 17 19 20
compacta
Compacta 19 – 40
18 20 21
Muito compacta > 40
Fonte: Modificado de GODOY (1972, apud CHRISTAN, 2013, p. 51)

Quadro 5 – Valores típicos de teor de umidade e peso específico para solos


Índice de Teor de umidade Peso específico
Tipo de Solo
Vazios saturada (%) seco (kN/m3)
Areia uniforme fofa ou solta 0,8 30 14,5
Areia uniforme compacta 0,45 16 18
Areia siltosa com granulação angular fofa 0,65 25 16
Areia siltosa com granulação angular compacta 0,4 15 19
Argila rija 0,6 21 17
Argila mole 0,9 - 1,4 30 - 50 11,5 - 14,5
Loess 0,9 25 13,5
Argila orgânica mole 2,5 - 3,2 90 - 120 6-8
Till glacial 0,3 10 21
Fonte: Modificado de DAS (2007, p. 51)
47

FUCALE (2002) realizou ensaios de penetração em dois aterros controlados


em Recife, um aterro sanitário em Salvador e um lixão em João Pessoa. Os resultados
obtidos indicaram variabilidade em função da heterogeneidade do material, sendo
verificada, para resíduos antigos, uma tendência a valores de resistência mais baixos
e constantes com a profundidade. Os resíduos sólidos recentes mostraram valores
um pouco mais elevados e com tendência a aumentarem com a profundidade.
CARVALHO (1999) realizou um estudo do comportamento mecânico de
resíduos sólidos executando diversos ensaios no Aterro Bandeirantes em São Paulo
– SP, incluindo ensaios de penetração (SPT) e ensaios de penetração do cone (CPT).
As sondagens com ensaio de penetração realizadas por CARVALHO (1999)
apresentaram NSPT médio de 7 para as camadas superficiais, atingindo 12 nas
camadas mais profundas (10 – 30 m). Utilizando estes valores e a correlação entre
NSPT e solos arenosos, CARVALHO (1999, p. 259), estimou o ângulo de atrito dos
resíduos entre 26º e 32º. Utilizando a correlação entre NSPT e solos argilosos,
CARVALHO (1999, p. 259), estimou a coesão dos resíduos entre 90 e 150 kPa.
Baseado em estudos executados por diversos autores, CARVALHO (1999, p.
184 - 185) utilizou a Carta de SCHMERTMANN (1978), que correlaciona frações
granulométricas de solos e dados obtidos em ensaios de penetração do cone, de
forma a classificar os resíduos dentro de uma faixa granulométrica admitida para
solos.
A Figura 6 foi adaptada de CARVALHO (1999, p. 184) e apresenta os
resultados obtidos nos ensaios de penetração do cone executados no Aterro
Bandeirantes e os resultados obtidos por outros autores. Os resultados permitiram
classificar os resíduos do Aterro bandeirantes dentro de uma variação de areia fofa a
argila siltosa arenosa.
Na Carta de SCHMERTMANN (1978) são plotados os valores de razão de
atrito em função dos valores da resistência de ponta, excluindo-se os picos de
resistência decorrentes de objetos rígidos. Ambos os parâmetros são obtidos durante
os ensaios de penetração do cone.
A razão de atrito é expressa em porcentagem e representa a razão entre
resistência de atrito lateral e a resistência de ponta do cone à mesma profundidade.
A resistência de ponta é expressa em mPa e representa a resistência à penetração
desenvolvida sobre o cone.
48

A resistência de atrito lateral é expressa em kPa e representa a resistência à


penetração desenvolvida sobre a luva de atrito (ABNT NBR 12069, 1991, p. 2).
Utilizando a correlação entre a resistência de ponta e solos arenosos, CARVALHO
(1999, p. 183), estimou o ângulo de atrito dos resíduos entre 29º e 33º. Estes valores
permitiram estimar o valor de coesão não drenada variando entre 45 kPa e 120 kPa.
O Quadro 6 foi adaptado de SUZUKI (2012, p. 35 - 37) e apresenta valores
de coesão (  ) e ângulo de atrito (  ) obtidos por diversos autores a partir de
retroanálises, por meio de ensaios de laboratório ou por meio de ensaios in situ.

CARVALHO (1999)

Figura 6 – Resultados de ensaios de penetração do cone obtidos por diversos autores (adaptado de
CARVALHO, 199, p. 184)
22 17 Cisalhamento direto de grandes dimensões Amostra reconstituída
azzucato et. al. (1999)
24 18 Cisalhamento direto de grandes dimensões Amostra indeformada
Gerber (1991) 25 27 Cisalhamento direto de grandes dimensões Aterro em Maine (EUA)
aicedo et. al (2002a) 78 23 Cisalhamento direto de grandes dimensões  = 6 kPa a 117 kPa
36 35 Pressiômetro Na superfície
aicedo et. al (2002b)
72 22 Pressiômetro Em 8 m de profundidade
(b) Oweiss (1995) 0 26 Prova de carga Limite inferior da resistência, sem ruptura,
= 7
ngh e Murphy (1990) 75 - 110 25 - 36 Prova de carga Valores recomendados
agotto e Rimoldi (1987) 29 22 Prova de carga em placa -
Cowland et. al (1993) 10 25 Talude de trincheira profunda -
vazanjian et. al. (1995) - 25 - 34 - 45 kPa <  < 180 kPa
20 26 Escorregamento (Polônia) Resíduos antigos
Koda (1998)
150 20 Escorregamento (Ohio) Resíduos recentes
Eid et al. (2000) 40 35 -
= 10,2 kN/m3
20 0 - Sobrecarga < 20 kPa
an Impe et. al. (1996) 0 38 - Sobrecarga de 20 kPa a 60 kPa
20 30 - Sobrecarga > 60 kPa
venuto e Cunha (1991) 13,5 22 Escorregamento (São Paulo)
= 10 kN/m3 a 13 kN/m3
16 38 - 42 Cisalhamento direto de grandes dimensões Resíduos antigos
16 33 Cisalhamento direto de grandes dimensões Resíduos decompostos por 1 an
va e Clark (1986, 1990) 23 24 Cisalhamento direto de grandes dimensões Resíduos novos triturados
10 33 Cisalhamento direto de grandes dimensões Resíduos madeireiros
19 - 22 24 - 39 Cisalhamento direto de grandes dimensões  = 15 kPa a 480 kPa
ssberger e Kockel (1991) 22 17 Ensaio triaxial de grandes dimensões Resíduos antigos
10 17 Ensaio triaxial de grandes dimensões Resíduos reconstituídos
Grisolia et. al. (1991)
22 42 Ensaio triaxial de grandes dimensões Resíduos reconstituídos
owland e Landva (1992) 17 33 Cisalhamento direto Resíduos com 10 a 15 anos
0 27 - 38 Ensaio triaxial -
(c) Bransl (1995)
0 36 - 42 Ensaio triaxial -
kel e Jessberger (1995) 41 - 51 42 - 49 Ensaio triaxial de grandes dimensões Resíduos com 1 a 3 anos
Gabr e Valero (1995) 16,8 34 Ensaio triaxial Resíduos antigos e
= 7,8 kN/m3 a 8,2
olia e Napoleoni (1996) 0 22 Ensaio triaxial Resíduos reconstituídos
Carvalho (1999) 27 - 60 17 - 29 Ensaio triaxial de grandes dimensões Deformações de 20%
vazanjian et. al. (1995) 24 0 -  < 30 kPa
vazanjian et. al. (1999) 0 33 -  > 30 kPa
aicedo et. al (2002a) 45 14 Ensaio triaxial
aicedo et. al (2002b) 25 24 Cisalhamento direto de grandes dimensões Deformações de 15%
Zeccos (2005) 34 30 Cisalhamento direto de grandes dimensões  = 50 kPa a 600 kPa e deformações de aproxi
0 39 Ensaio triaxial de grandes dimensões Deformações de 5%
Ribeiro (2007) 10 35 Prova de carga em manilha de concreto Deformações entre 15% e 20%,
= 7
10 28 Prova de carga em talude Deformações de 17% e
= 5 kN/
1 35 Cisalhamento direto Resíduos recentes
40 28 Cisalhamento direto Resíduos decompostos
Reddy et. al. (2011)
21 8 Ensaio triaxial Resíduos recentes e deformação de
57 5 Ensaio triaxial Resíduos decompostos e deformação
ado de SUZUKI (2012, p. 35 - 37) (a) in Kavazanjian et. al. (1995); (b) in Gonzalez (1995); (c) in Manassero et. al. (1996); (d) in Boscov
50

4.3. Tratamento e Destinação Final de Resíduos Sólidos

A seguir são descritos os métodos mais comuns de tratamento e destinação


final de resíduos sólidos incluindo incineração, compostagem, reciclagem, disposição
em lixões, em aterros controlados e disposição em aterros sanitários.
Observa-se que mesmo os processos tecnológicos destinados à recuperação
de resíduos, como reciclagem e compostagem, ou mesmo os que visam à eliminação
de resíduos utilizando processos térmicos (incineração), não deixam de gerar certa
quantidade de resíduos tornando os aterros sanitários sempre necessários
(MARQUES, 2001, p. 2).
É importante ressaltar que os aterros sanitários são responsáveis pela
destinação final dos resíduos sólidos de apenas 27,7% dos municípios no Brasil
(IBGE, 2010) enquanto 50,8% dos municípios ainda destinam seus resíduos sólidos
a vazadouros a céu aberto.

4.3.1. Incineração

A incineração consiste basicamente num processo de redução de peso e


volume do lixo utilizando a combustão controlada SCHALCH et. al. (2002, p. 35).
Normalmente são adotados dois tipos básicos de incineração de resíduos,
método convencional e método com recuperação de energia. No segundo caso, a
energia térmica dos gases da combustão é aproveitada na geração de energia
(LOUREIRO, 2005, p. 166). Este método apresenta uma série de desvantagens como
o alto custo de instalação e operação e a geração de sub-resíduos com concentração
de produtos tóxicos e corrosivos, além dos riscos de poluição atmosférica.
Mesmo apresentando desvantagens, a incineração é um processo adotado
em países com pouca disponibilidade de áreas como Japão, Suíça e Suécia. O
processo de incineração, quando bem executado, pode reduzir a massa de resíduo a
20% do total (SCHALCH et. al., 2002, p. 35).
51

4.3.2. Reciclagem

JARDIM et. al. (1995, p. 129) definem reciclagem como as atividades onde
resíduos são utilizados como matéria prima na manufatura de bens, após separação
e processamento, dispensando a utilização de matéria-prima virgem.
A reciclagem deve ser entendida como parte das atividades integradas ao
gerenciamento de resíduos sólidos, não sendo a principal solução para a disposição
de resíduos, visto que nem todos os materiais são passiveis de reciclagem, seja por
motivos técnicos ou econômicos (SCHALCH et. al., 2002, p. 11).
Os processos de reciclagem poupam os recursos naturais e diminuem a
quantidade de resíduos a serem aterrados, além de constituírem uma importante
forma de recuperação energética, especialmente quando associado a um sistema de
compostagem.
Também é importante ressaltar que, dependendo das características
regionais, a reciclagem pode representar fonte de renda e emprego a diversas
comunidades e um fator importante na redução de custos dentro do sistema de
limpeza urbana (LOUREIRO, 2005, p. 168).

4.3.3. Compostagem

Segundo BIDONE e POVINELLI (1999, apud NASCIMENTO, 2007, p. 39), a


compostagem consiste em um processo biológico aeróbio e controlado de
transformação da matéria orgânica em um material estabilizado com propriedades
distintas daquele que lhe deu origem.
O produto final da compostagem, denominado composto, é definido como
sendo um adubo preparado com restos de animais e/ou vegetais. Esses resíduos, em
estado natural, não têm nenhum valor agrícola; no entanto, após passarem pelo
processo de compostagem, podem transformar-se em excelente adubo orgânico
(SCHALCH et. al., 2002, p. 22).
52

Apesar de ser considerado um método de tratamento, a compostagem


também pode ser entendida como um processo de destinação final do material
orgânico presente no lixo e, seu composto, seu produto de reciclagem (PEREIRA
NETO e LELIS, 1999, apud FARIA, 2002, p. 67).

4.3.4. Lixões

Nesta forma de disposição de resíduos sólidos não existem controles sobre


tipo, volume ou grau de periculosidade dos resíduos depositados. Qualquer medida
de proteção ao meio ambiente e a saúde pública são inexistentes e também não há
qualquer tipo de controle de entrada de pessoas ou animais.
Em lixões ou vazadouros, os resíduos são simplesmente lançados sobre o
solo natural, sem receber qualquer tipo de cobertura ou tratamento mecânico para
redução de volume (NASCIMENTO, 2007, p. 40).
A falta de controle no acesso a pessoas e animais facilita a proliferação de
vetores, além disso, o não revolvimento periódico dos resíduos faz com que a
decomposição da matéria orgânica presente consuma todo o oxigênio contido, dando
lugar à decomposição anaeróbica, com desprendimento de gases, como o metano, o
gás carbônico e alguns gases de odores desagradáveis. Outro fator preocupante é a
formação de chorume durante a decomposição anaeróbia, que pode infiltrar-se
contaminando o solo e as águas subterrâneas e superficiais SCHALCH et. al. (2002,
p. 48).

4.3.5. Aterros Controlados

Nesta forma de disposição de resíduos sólidos, existe um controle moderado


da entrada de resíduos, de pessoas e animais na área e algumas medidas
tecnológicas de minimização de impactos são tomadas, como o recobrimento dos
resíduos com argila (NASCIMENTO, 2007, p. 41).
53

Os aterros controlados, geralmente, não possuem sistemas de


impermeabilização de base nem de tratamento de chorume ou gases gerados,
podendo ocorrer contaminação do solo e das águas subterrâneas e superficiais
(LOUREIRO, 2005, p. 170).
Apesar de apresentar diversos problemas ambientais, esta técnica é aceitável
em municípios de baixo desenvolvimento econômico, que não possuam
equipamentos de compactação ou arrecadação suficiente para contratação de
empresas especializadas (NASCIMENTO, 2007, p. 41).

4.3.6. Aterros Sanitários

Compreende um sistema preparado, englobando determinados componentes


e práticas operacionais que incluem compactação e cobertura dos resíduos, sistemas
de drenagem e tratamento de líquidos e gases, impermeabilização da base do aterro,
divisão em células, monitoramento geotécnico e ambiental, entre outros (BOSCOV,
2008). Para disposição de resíduos sólidos urbanos, a norma ABNT NBR 8419 (1996,
p. 1), define aterros sanitários como:

“Técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar


danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos
ambientais, método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os
resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume
permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada
jornada de trabalho, ou a intervalos menores, se necessário.”

Segundo a norma CETESB P4.2471 (1982, p. 6 - 8), um aterro sanitário deve


dispor de sistema de:

• Sistema de drenagem superficial


• Sistema de coleta e remoção de percolado
• Sistema de tratamento de percolado
• Impermeabilização inferior e/ou superior
• Sistema de coleta de gás bioquímico
54

De acordo com CETESB (Site Oficial) os aterros sanitários devem provir de:

• Sistema de impermeabilização de base, podendo ser feita com argila ou


geomembranas sintéticas;
• Sistema de drenagem de gás, podendo ser construídos de concreto ou de PEAD;
• Sistema de coleta de chorume, feita pela base do aterro, sendo o chorume
coletado e enviado a tanques de armazenamento ou lagoas previamente
preparadas com impermeabilização;
• Sistema de tratamento de chorume, podendo ser feito no local ou em estação de
tratamento, após coleta e transporte do chorume;
• Sistema de drenagem de águas pluviais, para evitar a infiltração que gera o
chorume;
• Portaria para controlar a entrada e saída de pessoas e caminhões de lixo;
• Isolamento da área para manutenção da ordem e do bom andamento das obras;
e
• Acessos internos que permitam a interligação entre diversos pontos do aterro.

O Aterro de Caetetuba atende apenas alguns destes quesitos como sistema


de drenagem de águas pluviais e portaria, não sendo verificados sistema de
impermeabilização de base ou de coleta e tratamento de chorume. O isolamento da
área existe, no entanto é pouco eficaz, sendo comum a presença de pessoas e
animais no local. Desta forma, o Aterro de Caetetuba pode ser enquadrado na classe
dos aterros controlados.
Ainda de acordo com CETESB (Site Oficial) os aterros sanitários se dividem
em duas classes: aterros convencionais, onde camadas de resíduos compactados são
sobrepostas acima do nível original do terreno; aterro em valas, onde a operação do
aterramento dos resíduos é facilitada com o uso de trincheiras ou valas.
Outras classificações são propostas para aterros sanitários como SCHALCH
et. al. (1992, p. 124), classifica os aterros sanitários em aterros em depressões e
aterros de superfície. Segundo sua concepção os aterros em depressões são
executados em regiões de topografia acidentada, como fundos de vales e pedreiras
abandonadas. Já os aterros em superfície são implantados em regiões planas,
podendo ser operados pelo método da trincheira, da rampa e/ou pelo método da área.
55

O Método da Área é adotado quando o terreno não oferece boas condições


para escavação de trincheiras, sendo normalmente utilizado em áreas baixas e
alagadiças, onde o nível freático está muito próximo à superfície.
Os resíduos são dispostos sobre a superfície do terreno e compactados,
formando uma elevação tronco-piramidada, sendo cobertos com solo ao final da
operação (LOUREIRO, 2005, p. 190 - 191).
Este método apresenta algumas desvantagens como a utilização de áreas de
empréstimo e transporte de material para recobrimento, o que encarece o processo,
além da necessidade de bombeamento de toda a água do local antes do início da
construção do aterro e do constante rebaixamento do lençol freático durante a
operação (FARIA, 2002, p. 93).
O Método da Rampa se utiliza da topografia local para disposição de resíduos
aproveitando rampas, áreas secas de encostas e depressões onde o solo natural
possa ser escavado e utilizado como cobertura. O processo se inicia com o depósito
de resíduos sólidos no solo, sendo compactado por um trator de esteiras, em camadas
de 3,0 m ou 4,0 m de altura, e posteriormente recobertos pelo solo escavado (FARIA,
2002, p. 94).
Também conhecido como método da escavação progressiva, este método é
bastante vantajoso por aproveitar o material recortado na cobertura dispensando
áreas de empréstimo e economizando em transporte de material.
Alguns cuidados devem ser tomados, visto que as áreas utilizadas neste
método possuem intenso escoamento superficial. Deve haver um controle dos
processos erosivos e das drenagens superficiais, provisórias e definitivas do local,
deve haver um distanciamento mínimo de 2 m entre o fundo da escavação e o lençol
freático e o material escavado, utilizado na cobertura, deve permitir a formação de um
talude consistente, que resista à compactação (LOUREIRO, 2005, p. 189 - 190).
O método das trincheiras é uma técnica apoiada na abertura e preenchimento
de trincheiras ou valas no solo. Segundo LOUREIRO (2005, p. 187 - 189), os resíduos
são dispostos no fundo, sendo compactados e posteriormente recobertos com o solo
remanescente da escavação da vala. A superfície do fundo das trincheiras é coberta
com membrana sintética ou por camada argilosa, de baixa permeabilidade.
Este método é indicado para terrenos onde o lençol freático não está próximo
à superfície e quando existe uma profundidade adequada de material de cobertura,
disponível na área a ser escavada.
56

Normalmente, o operador do equipamento de escavação (retroescavadeira ou


similar) delimita a vala e executa a escavação, acumulando o solo removido sobre
uma das laterais da vala. Os resíduos são descarregados pelo lado livre das
trincheiras, sem o ingresso do caminhão em seu interior, iniciando-se por uma das
extremidades da vala.
Após o completo aterramento da vala, se o município dispuser de
equipamentos, poderá, ainda, promover uma melhor compactação dos resíduos.
Quando não houver esta possibilidade, a abertura da vala seguinte deverá ser
realizada de tal forma que o solo de escavação seja acumulado sobre as valas já
enterradas, acelerando-se os recalques e impondo certa compactação aos resíduos
(FARIA, 2002, p. 93).

4.3.7. Estabilidade de Aterros Sanitários

Acidentes de escorregamento em aterros sanitários, embora incomuns,


ocorrem em uma base regular em países ao redor do mundo (DIJON e JONES, 2005,
p. 206). No Brasil, alguns casos são registrados na literatura como o escorregamento
do Aterro Controlado de Salvador - BA (OLIVEIRA, 2002) e o escorregamento do
Aterro Sanitário Bandeirantes, localizado no município de São Paulo (BENVENUTO e
CUNHA, 1991, apud CARVALHO, 1999, p. 51).
Na concepção de SCHULER (2010, p. 78) as principais causas dos
escorregamentos em aterros de resíduos sólidos são a redução da resistência interna
dos materiais e/ou um acréscimo das solicitações externas, geralmente causadas por
mudança nas condições geométricas ou sobrecargas.
A permeabilidade interfere diretamente na estabilidade dos aterros sanitários,
pois, quanto maior for o acúmulo de líquidos e gases na massa de resíduos, maiores
serão os valores das poropressões geradas e menor será a resistência do material
(MARTINS, 2006, p. 19).
As poropressões diminuem à tensão normal em um plano potencial de
escorregamento, de forma que a resistência ao cisalhamento sofre uma redução
devido à diminuição da tensão normal.
57

Quanto maior a ação das poropressões, maior será a parte do peso total do
material que será suportado pela água. Quando a poropressão igualar-se à tensão
normal, a resistência ao cisalhamento fica totalmente comprometida causando
instabilidade no maciço (BORGATTO, 2006, p. 52 - 53).
Altos valores de teor de umidade acarretam no desenvolvimento de
poropressões na pilha de resíduos (MARTINS, 2006, p. 16), diminuindo a resistência
do material. Nas análises de estabilidade em aterros sanitários, o ideal seria dispor e
considerar valores de poropressões em diversas profundidades (BENVENUTO e
CIPRIANO, 2010, p. 45).
DIJON e JONES (2005, p. 206), ressaltam que, apesar dos vários pontos
positivos, o uso de membranas geossintéticas pode contribuir na instabilidade de um
maciço de resíduos sólidos visto que as mesmas constituem potenciais planos
ruptura.
Para BORGATTO (2006, p. 62), entre os principais fatores que influenciam a
estabilidade de aterros sanitários destacam-se:

• Parâmetros geotécnicos dos resíduos;


• Geometria do aterro;
• Altura e inclinação dos taludes;
• Poropressões na base do aterro;
• Sistema hidrogeológico do local do aterro;
• Interface das forças de cisalhamento entre os materiais geossintéticos;
• Interface das forças de cisalhamento entre geossintéticos e solo; e
• Controle, operação e monitoramento do aterro.

No mesmo âmbito, CALE (2007, p. 38) destaca entre os fatores que


influenciam a estabilidade de aterros sanitários:

• Nível de chorume e flutuação no interior do aterro;


• Parâmetros geotécnicos dos solos de fundação; e
• Composição e resistência à erosão da capa superficial do aterro.
58

O tempo também é um elemento importante na estabilidade dos taludes, visto


que a resistência ao cisalhamento dos resíduos sólidos é altamente influenciada pelo
estado de alteração e composição dos resíduos, além do comportamento mecânico
individual de cada componente (CARVALHO, 1999, p. 50). Materiais que adquirem
texturas fibrosas como plásticos e tecidos podem influenciar fortemente nos valores
de resistência (NASCIMENTO, 2007, p. 66).
Além disso, aterros sanitários apresentam geração de biogás ao longo do
tempo, resultando no aumento das pressões internas, na medida em que haja
aprisionamento ou dificuldade do mesmo ser drenado (BENVENUTO e CIPRIANO,
2010, p. 43). Entre os efeitos causados pelo tempo em aterros sanitários, BORGATTO
(2006, p. 63) destaca:

• Alteração da composição dos RSU devido à característica de degradabilidade


de alguns componentes (matéria orgânica) e por processos de reciclagem
(plásticos, metais, papel, etc.);
• Aumento do nível do lençol freático causado por falha do sistema de
impermeabilização;
• Aumento do nível de chorume dentro da massa de resíduo causado por falha no
sistema de drenagem; e
• Aumento da pressão interna de gases causada pela ruptura do sistema de
drenagem de gases.

Para KOERNER e SOONG (2000, p. 199 - 200) há dois tipos fundamentais


ruptura em aterros sanitários: falhas rotacionais e falhas translacionais.
As falhas rotacionais são geralmente circulares, mas, dependendo do tipo de
resíduos e a sua colocação, podem ter forma em espiral. Segundo o autor estas falhas
podem ocorrer: superficialmente, na face dos resíduos; podem atingir inteiramente os
resíduos tangenciando uma ou mais “camadas" do maciço; ou podem ocorrer na base
do aterro.
As falhas translacionais são lineares ao longo de um único plano ou podem
consistir de vários segmentos lineares. Neste último caso o rompimento se dá pelo
contato entre “camadas” do maciço, podendo estar associado à presença de mantas
geossintéticas.
59

Para BORGATTO (2006, p. 59 – 63) as rupturas em aterros de resíduos


sólidos podem ocorrer das seguintes formas:

• a) Escorregamento pelo Sistema de Drenagem de Base, que ocorre na porção


inferior do sistema de drenagem de base, quando a inclinação do talude é muito
íngreme ou o comprimento muito extenso.
• b) Escorregamento pelo sistema de cobertura final dos resíduos, que ocorre na
base do sistema de cobertura, quando a inclinação do talude é muito íngreme ou
o comprimento muito extenso.
• c) Escorregamento rotacional pela parede ou base do talude, que ocorre na
massa de solo abaixo dos resíduos depositados, apresentando movimento
rotacional que pode emergir ao longo da superfície do talude, pelo pé do talude
ou pela sua fundação.
• d) Escorregamento rotacional pela fundação, que ocorre na fundação de aterros,
geralmente com fundações em solos moles, atravessando o sistema de
tratamento de base e a massa de resíduo. Apresenta movimento rotacional
passando pela fundação do aterro após o pé do talude;
• e) Escorregamento rotacional pela massa de resíduo, que ocorre pela massa de
resíduo, devido a taludes muito íngremes, altos níveis de chorume no corpo do
aterro ou problemas no controle operacional;
• f) Escorregamento translacional ao longo do sistema de tratamento de base e
laterais do aterro, que ocorre no contato da massa de resíduo com o sistema de
impermeabilização, começando pelo pé do talude e propagando-se pela massa
de resíduo até o sistema de impermeabilização das paredes laterais e fundação.

A Figura 7 foi adaptada de QIAN et. al. (2002 apud BORGATTO, 2006, p. 59
– 63) e ilustra as principais formas de rompimento em aterros sanitários.
60

a) b)

c) d)

e) f)

Figura 7 - Principais formas de rompimento em aterros sanitários (adaptado de QIAN et. al., 2002,
apud BORGATTO, 2006, p. 59 – 63)
61

5. MÉTODOS DE ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES

Existem diversos métodos de avaliação de estabilidade, o tipo de análise


adotado é dependente da escala de trabalho, da disponibilidade de tempo e dados de
trabalho e, sobretudo, da disponibilidade de recursos financeiros (AHRENDT, 2005,
p.26), sendo abordados no presente caso os métodos de análise de estabilidade
determinísticos.
As análises de estabilidade de taludes determinísticas são realizadas com
base no fator de segurança () definido pela relação entre as tensões cisalhantes
mobilizadas e a resistência ao cisalhamento (GERSCOVICH, 2012, p. 85). Para DAS
(2007, p. 471), o fator de segurança pode ser dado pela equação:


  


Onde:
  Fator de segurança
   Resistência ao cisalhamento
   Tensões cisalhantes desenvolvidas ao longo da superfície de ruptura

Nesta relação, valores de  maiores que 1 indicam condições de


estabilidade, valores iguais a 1 representam o limite da estabilidade e valores menores
que 1 não possuem significado físico (SCHULER, 2010, p. 79).
A norma ABNT NBR 11682 (2009), trata da estabilidade de taludes incluindo
as condições para estudo, projeto, execução, controle e observação de obras de
estabilização. Nesta norma são definidos valores de fator de segurança mínimos a
serem adotados em projetos de taludes e encostas, de acordo com o grau de
segurança definido para o local de implementação da obra.
62

É definido fator de segurança mínimo de 1,50 para projetos executados em


locais com grau de segurança alto, 1,30 para projetos executados em locais com grau
de segurança médio e 1,15 para projetos executados em locais com grau de
segurança alto, sendo considerados:

• Locais com necessidade de alto grau de segurança, aqueles onde há


proximidade imediata de edificações habitacionais, instalações industriais, obras
de arte, condutos, linhas de transmissão de energia, torres de sistemas de
comunicação, obras hidráulicas de grande porte, estações de tratamento de
água de abastecimento urbano ou esgoto sanitário, rodovias e ferrovias dentro
do perímetro urbano de cidades de grande porte, vias urbanas e rios e
canalizações pluviais em áreas urbanas densamente ocupadas e situações
similares;
• Locais com necessidade de médio grau de segurança, referentes a todos os
casos citados anteriormente quando houver, entre o talude e o local a ser
ocupado, espaço de utilização não permanente considerado coma área de
segurança. Também no caso de haver proximidade de leito de ferrovias e de
rodovias fora do perímetro urbano, corpo de diques de reservatórios de águas
pluviais com habitações próximas e rios em áreas imediatamente a jusante do
perímetro urbano de cidades de grande porte sujeitas a inundações; e
• Locais com necessidade de baixo grau de segurança, referentes a locais onde
sejam instituídos procedimentos capazes de prevenir acidentes em rodovias,
tuneis em fase de escavação, minas, bacias de acumulação de barragens e
canteiros de obras em geral.

Segundo MASSAD (2003, p. 46), os métodos de equilíbrio limite partem dos


seguintes pressupostos:

• O solo se comporta como material rígido-plástico, ou seja, rompe bruscamente


sem se deformar;
• As equações de equilíbrio estático são válidas até a iminência da ruptura, quando
o processo passa a ser dinâmico; e
• O coeficiente de segurança é constante ao longo da superfície de ruptura.
63

A partir do conceito de fator de segurança e equilíbrio limite, foram


desenvolvidas diversas técnicas analíticas para determinação do fator de segurança,
entre as quais, os métodos baseados no equilíbrio limite, que assumem o rompimento
do maciço por uma superfície de ruptura circular, poligonal ou de outra geometria
qualquer GERSCOVICH (2012, p. 87 - 88).

5.1. Método do Talude Infinito

O método do talude infinito admite uma superfície de ruptura planar e infinita.


Sua a aplicação exige uma série de simplificações e premissas, entre as quais, a que
sua utilização deve ser feita em situações onde o comprimento do talude é muito maior
que a profundidade da massa instável. Desta forma, este modelo vem sendo bastante
utilizado em análise de encostas naturais (AHRENDT, 2005, p.38). A Figura 8
apresenta o modelo de um talude infinito com plano de ruptura paralelo a superfície,
profundidade “h” e inclinação “Į”.

Figura 8 – Método do Talude Infinito.

Segundo GERSCOVICH (2012, p. 105), ao se assumir que as forças E1 e E2


se anulam, tem-se:

 
   !"
 

#$ 
64

Onde:
  Coesão ao longo da superfície de ruptura
  Ângulo da superfície de ruptura
  Ângulo de atrito interno do solo ao longo da superfície de ruptura

 Peso específico do solo
  Profundidade do solo
u  Poropressão

5.2. Método de Culmann

O método de Culmann é utilizado em casos de taludes com alto ângulo de


inclinação. Este método assume que a massa de solo encontra-se seca, de forma que
não se consideram as poropressões. Além disso, admite uma superfície de ruptura
planar que passa pela base do talude (MASSAD, 2003, p. 73 - 74). A
Figura 9 apresenta o modelo de um talude finito com plano de ruptura com inclinação
“Į” e talude com inclinação “%”.

Figura 9 – Método de Culmann.

Neste caso, segundo MASSAD (2003, p. 75), tem-se:

 & '() % 


 *#$%
65

Onde:
  Coesão ao longo da superfície de ruptura
%  Ângulo da superfície do talude
  Ângulo de atrito interno do solo ao longo da superfície de ruptura

 Peso específico do solo
  Profundidade do solo

5.3. Método de Fellenius

O método de Fellenius, ou das fatias, admite uma superfície de ruptura circular


e considera o volume de material situado acima da ruptura dividido em fatias verticais
(FIORI e CARMIGNANI, 2009, p. 211). A medida das fatias não precisa ser a mesma
e as poropressões são desconsideradas (DAS, 2007, p. 497).
Este método baseia-se na análise estática do volume de material situado
acima da superfície de escorregamento, sendo este volume dividido em fatias
verticais. Assim, determinam-se as forças normais às bases das lamelas e aplica-se
o equilíbrio de forças na direção da normal à base (BORGATTO, 2006, p. 54).
É um método bastante simples, que negligencia as forças nas laterais das
fatias e não satisfaz o equilíbrio das forças horizontais e verticais. Tais simplificações
o tornam, na maioria dos casos, um método bem conservador, gerando um erro a
favor da segurança. Apesar do rigor na segurança, exageros podem inviabilizar
economicamente alguns projetos (TONUS, 2009, p. 46). A Figura 10 apresenta o
modelo de um talude finito com plano de ruptura circular, de raio “r”.

Figura 10 – Método de Fellenius.


66

De acordo com FIORI e CARMIGNANI (2009, p. 213), tem-se:

+  ,
-  .   !/$+
 
,
-  . #$ 

Onde:
  Comprimento total da superfície potencial de ruptura
+  Coesão ao longo da superfície de ruptura
+  Ângulo de atrito interno do solo ao longo da superfície de ruptura

+  Peso específico do solo
   Profundidade da fatia
.  Comprimento da fatia
   Ângulo entre o raio da superfície de ruptura e o eixo vertical da fatia

Ou, se considerarmos as poropressões, tem-se:

,0 - 1  234 + 5  +1 6


 
, 5#$ 

Onde:
5   Peso da fatia
1  Comprimento da base da fatia
+  Poropressão no centro da base da fatia

5.4. Método Simplificado de Bishop

O método proposto inicialmente por Bishop representa uma modificação do


método de Fellenius, levando em consideração as relações entre as fatias adjacentes
(FIORI e CARMIGNANI, 2009, p. 213). De acordo com ROGÉRIO (1977, apud
BORGATTO, 2006, p. 54), o método de Fellenius apresenta uma superestimação do
67

fator de segurança em relação ao método de Bishop na ordem de 15%. A Figura 11


apresenta o modelo de um talude finito com plano de ruptura circular, de raio “r”.

Figura 11 – Método Simplificado de Bishop.

Segundo FIORI e CARMIGNANI (2009, p. 215), tem-se:

& 5  9:; 9<;  +  !/$+  +1 .  


  78 #$ =
, 5 #$        !/$+

Onde:
+  Coesão ao longo da superfície de ruptura
+  Ângulo de atrito interno do solo ao longo da superfície de ruptura
5   Peso da fatia
1  Comprimento da base da fatia
.  Comprimento da fatia
 +  Poropressão no centro da base da fatia
   Ângulo entre o raio da superfície de ruptura e o eixo vertical da fatia
Neste caso, a diferença 9:; 9<; pode ser considerada igual a zero, com
erro resultante desta simplificação da ordem de 1% (FIORI e CARMIGNANI, 2009, p.
215). Assim, tem-se o método simplificado de Bishop (MASSAD, 2003, p. 51).

H
>?@ A BC <DC EF-G K EF-LMC
IJC
  , , DC LMC
)N4O(P
sendo M     Q
68

Conforme observado, no método de Bishop o fator de segurança está


presente em ambos os membros da equação. Na resolução, adota-se para o fator de
segurança do segundo termo (Fs’), um valor aproximado, e calcula-se o fator de
segurança do primeiro membro (Fs). Se o valor de Fs e Fs’ se mostrarem muito
distantes, repete-se o procedimento, até que Fs seja aproximadamente igual a Fs’
(MASSAD, 2003, p. 52).

5.5. Método Simplificado de Jambu

O método de Jambu simplificado admite uma superfície de ruptura com


qualquer geometria, sendo a massa do possível escorregamento subdividida em
fatias. O método de Jambu utiliza um fator de correção R , visando minimizar os
erros embutidos nas hipóteses adotadas (TONUS, 2009, p. 48). O fator R está
relacionado com a geometria da superfície de escorregamento estudada, com os
parâmetros + e + e com a influência das forças verticais entre as lamelas (FIORI e
CARMIGNANI, 2009, p. 219). A Figura 12 apresenta o modelo de um talude finito com
plano de ruptura qualquer.

Figura 12 – Método Simplificado de Jambu.

Segundo FIORI e CARMIGNANI (2009, p. 218), tem-se:

&
, >  - .  5  . !/$+ $ K !/$+
M
  R )N4O($M     S&  !/$  T
, 5 !/$  
69

Onde:
+  Coesão ao longo da superfície de ruptura
+  Ângulo de atrito interno do solo ao longo da superfície de ruptura
5   Peso da fatia
.  Comprimento da fatia
 +  Poropressão no centro da base da fatia
   Ângulo entre o raio da superfície de ruptura e o eixo vertical da fatia

5.6. Método de Spencer

O Método de Spencer é um método rigoroso de análise de estabilidade de


taludes, que foi desenvolvido para superfície de ruptura circular e, posteriormente,
adaptado para superfície de ruptura qualquer (TONUS, 2009, p. 51).
É considerado um método rigoroso por cumprir todas as condições de
equilíbrio onde as forças de interação entre as fatias são substituídas por uma
resultante U, atuante no ponto médio da base da fatia (FERREIRA, 2012, p. 18). A
Figura 13 apresenta o modelo de um talude finito com plano de ruptura qualquer.

Figura 13 – Método de Spencer.

Segundo (FERREIRA, 2012, p. 18), tem-se:


+. 5    . !/$+
 5 #$ 
U   
!/$+234  V 
'()  V  W&   X
70

Onde:
+  Coesão ao longo da superfície de ruptura
+  Ângulo de atrito interno do solo ao longo da superfície de ruptura
5   Peso da fatia
.  Comprimento da base fatia
 +  Poropressão no centro da base da fatia
   Ângulo entre a base da fatia e a horizontal
V   Ângulo entre a resultante U da fatia e a horizontal

A solução para U, visto que incorpora , adota um método interativo análogo
ao de Bishop (GERSCOVICH, 2012, p. 133).

5.7. Método de Morgenstern e Price

O método de Morgenstern e Price assume o perfil dividido em fatias


infinitesimais, onde o ângulo resultante das forças exercidas pelas fatias adjacentes
não é constante (GERSCOVICH, 2012, p. 138 - 139). Segundo ZHU et. al. (2001, p.
882), este angulo pode ser descrito como YZ [ onde Y é um parâmetro de
escalonamento e Z [ é uma função que reflete a sua forma.
A escolha da função Z [ requer um julgamento prévio de como a inclinação
das fatias varia no talude. Quando se utiliza Z [  \, a solução para Fs se torna
idêntica à determinada pelo método de Bishop, e quando Z [  $!/$!# , o
resultado se torna idêntico ao método de Spencer (GERSCOVICH, 2012, p. 139). A
Figura 14 apresenta o modelo de um talude finito com plano de ruptura qualquer.

Figura 14 – Método de Morgenstern e Price.


71

Segundo (FERREIRA, 2012, p. 20), tem-se:

+ !/$+ ]5 ]^ ]9
&  !/$    W  !/$   &  !/$  X
  . . .
]9 ]^ ]5
  !/$   !/$ 
. . .

Sendo as incógnitas ^ e 9, as forças de interação entre as fatias, com relação


expressa p:

^  YZ [9

Onde:
+  Coesão ao longo da superfície de ruptura
+  Ângulo de atrito interno do solo ao longo da superfície de ruptura
5  Peso da fatia
.  Comprimento da fatia
 +  Poropressão no centro da base da fatia
   Ângulo entre a base da fatia e a horizontal

A solução é alcançada por processo interativo, procedendo-se a integração


das diferenciais.

5.8. Comparações entre os Métodos Convencionais de


Análise de Estabilidade de Taludes

O desenvolvimento de softwares especializados que utilizam diversos


métodos de análise de estabilidade de taludes permite a realização de comparações
entre tais métodos. Na literatura são identificadas comparações entre os métodos
convencionais de análise de estabilidade, tratando de casos diferentes, como seções
de um talude natural na Serra do Mar (TONUS, 2009) e taludes em uma mina de ferro
72

(MENEZES, 2012), além de comparações em casos hipotéticos como FERNANDES


e SILVA FILHO (2010) e HORST (2007). Não foram identificadas comparações entre
os métodos de análise de estabilidade de taludes quando aplicados em aterros
sanitários.
FERNANDES e SILVA FILHO (2010) elaboraram planilhas de cálculo no
Software Excel para avaliação da estabilidade de taludes em barragens de terra. As
planilhas foram elaboradas com base nos métodos de Bishop, Fellenius, e Jambu.
O exemplo utilizado foi um caso hipotético de uma barragem de terra, com
altura de 15 m e inclinação dos taludes a jusante e a montante de 1:2. Foi adotada a
coesão de 10 kPa, ângulo de atrito de 20º e peso específico de 18 kN/m3.
Nas planilhas de cálculo desenvolvidas, o método de Bishop apresentou o
maior fator de segurança (Fs=1,73) enquanto o método de Jambu apresentou o menor
fator de segurança (Fs=1,47) (FERNANDES e SILVA FILHO, 2010, p. 97).
HORST (2007) realizou uma comparação entre os resultados de analises de
estabilidade, realizadas pelos métodos de Fellenius, Bishop Simplificado e Jambu
Simplificado. O autor considerou valores arbitrários para os principais fatores que
influenciam a estabilidade de um talude, sendo elas: altura (h) e inclinação (i) do
talude; ângulo de atrito (  ), coesão (c) e peso específico natural (Ȗ) do solo. O
Quadro 7 foi modificado de HORST (2007, p. 46) e apresenta os valores utilizados.
O cruzamento dessas variáveis resultou em 3.125 combinações diferentes, as
quais foram utilizadas para o cálculo de estabilidade de talude pelos métodos de
Fellenius, Bishop Simplificado e Jambu Simplificado. A Figura 15 foi retirada de
HORST (2007, p. 62 - 65) e apresenta os resultados das análises de estabilidades em
gráficos comparativos.

Quadro 7 – Faixa de valores utilizados por HORST (2007).


Variáveis Estudadas Faixa de Valores Definidos
Altura (h) 2m 4m 6m 8m 10 m
Inclinação (i) 15º 30º 45º 60º 75º
Ângulo de Atrito () 25º 30º 35º 40º 45º
Coesão (c) 0 kPa 10 kPa 20 kPa 30 kPa 40 kPa
Peso Específico Natural (
) 14 N/m3 16 N/m3 18 N/m3 20 N/m3 22 N/m3
Fonte: Modificado de HORST (2007, p. 46)
73

Figura 15 – Comparação gráfica dos resultados obtidos pelos métodos de Fellenius, Bishop
Simplificado e Jambu Simplificado (adaptado de HORST, 2007, p. 62 - 65).

Conforme observado na Figura 15, o autor obteve valores de fator de


segurança mais altos para o método de Bishop, quando comparado ao método de
Fellenius (HORST, 2007, p. 62). Na comparação entre os métodos de Fellenius e
Jambu o autor obteve um maior equilíbrio, com uma pequena tendência de valores de
fator de segurança mais altos para o método de Fellenius (HORST, 2007, p. 64). Na
comparação entre os métodos de Bishop e Jambu, o autor observou tendência de
valores de fator de segurança maiores no método de Bishop (HORST, 2007, p. 65).
Assim, observou-se a tendência de valores de fator de segurança maiores, embora
em pequena proporção, para o método de Bishop (HORST, 2007, p. 65). Nas três
comparações, as discrepâncias tem tendência a serem maiores para os fatores de
segurança com valores mais altos.
74

TONUS (2009) realizou uma comparação entre os métodos de Fellenius,


Jambu, Bishop, Morgenstern & Price e Spencer, aplicados a um caso real de um
talude da Serra do Mar paranaense, no município de Guaratuba. Na área de estudos,
pela qual passam dois oleodutos, um gasoduto e uma linha de transmissão de energia,
foram verificados sinais de instabilidade, sendo instalados dispositivos de drenagem
como canaletas superficiais e drenos sub-horizontais profundos, além da realização
de obras de contenção em dois pontos da sua superfície.
O autor realizou um estudo bibliográfico dos parâmetros de resistência do solo
mais adequados à região e considerou dois cenários para aplicação das análises de
estabilidade, sendo um cenário otimista e outro pessimista. As análises também
consideraram a presença, ou não, das estruturas de contenção, bem como as
variações do nível d’água. Em virtude da grande extensão da encosta, ela foi dividida
em 5 trechos para a realização das análises de estabilidade, estando as estruturas de
contenção localizadas nos trechos 1 e 4.
Segundo TONUS (2009, p. 139), para análises que não envolvam muitas
variáveis, ou seja, análises em solos homogêneos sem intervenção de nível d’água
ou de qualquer dispositivo de contenção, o resultado de todos os métodos utilizados
seria muito semelhante. Na medida em que são consideradas as peculiaridades do
solo e a interferência do nível d’água no problema, verifica-se que métodos mais
simplificados, como Jambu e Fellenius, apresentam resultados semelhantes aos de
métodos mais rigorosos, como Morgenstern & Price e Spencer, com exceção do
método de Bishop, que fornece resultados semelhantes aos dos métodos rigorosos
em qualquer situação. A desvantagem do método de Bishop em relação aos métodos
de Morgenstern & Price e Spencer é a restrição do método de Bishop a superfícies de
ruptura circulares, enquanto os métodos de Morgenstern & Price e Spencer podem
ser utilizados com superfícies de ruptura quaisquer.
MENEZES (2012) executou uma análise de estabilidade de taludes, em uma
mina de ferro no município de Catas Altas – MG, combinando métodos usuais de
investigação e análises geológico geotécnicas. Desta forma, o autor elaborou mapas
de declividade, direção de vertente e curvatura, os quais foram complementados por
uma caracterização do maciço e análises de estabilidade de taludes utilizando
estereogramas e métodos de análise por equilíbrio limite.
75

As análises de estabilidade pelos métodos de equilíbrio limite foram realizadas


pelos métodos de Bishop e Jambu, o que possibilitou uma comparação entre os
resultados obtidos pelos diferentes métodos (MENEZES, 2012, p. 83).
Nas comparações entre os métodos de análise por equilíbrio limite foram
consideradas três situações distintas para o nível d’água e para os parâmetros coesão
e ângulo de atrito. Além disso, foram realizadas análises de estabilidade limitando o
processamento a 50 superfícies potenciais de ruptura e a 5000 superfícies potenciais
de ruptura (MENEZES, 2012, p. 121 - 128).
O Quadro 8 foi adaptado de (MENEZES, 2012, p. 128) e apresenta os valores
utilizados, bem como os resultados obtidos nas análises de estabilidade pelos
métodos de equilíbrio limite. Os resultados obtidos por MENEZES (2012, p. 120)
mostraram os valores de fator de segurança inferiores quando calculados pelo método
de Jambu em relação ao método de Bishop.

Quadro 8 – Valores utilizados e resultados obtidos por MENEZES (2012).


Parâmetros Cota do Nível Fator de Segurança Mínimo
Relação D'água
c  Jambu Bishop
Talude//Foliação
(KN/m2) (Graus) (m) Simplificado Simplificado

Oblíquo 150 40 850 2,56 2,76


Paralelo 30 32 850 1,55 1,66
Oblíquo 80 38 850 2,17 2,29
Paralelo 30 30 850 1,44 1,55
Paralelo 30 30 950 1,44 1,55
Paralelo 30 30 1000 1,00 1,14
Fonte: Modificado de MENEZES (2012)

5.9. Métodos de Análise de Estabilidade de Taludes Aplicados


em Aterros Sanitários

Na literatura são identificados alguns casos de analises de estabilidade de


taludes em aterros sanitários utilizando os métodos convencionais de análises de
estabilidade de taludes como MAHLER e NETO (2000), OLIVEIRA (2002),
BORGATTO (2006), RIBEIRO (2007) e SCHULER (2010).
76

Análises de estabilidade em aterros sanitários podem ser efetuadas


utilizando-se métodos convencionais, entretanto é necessário conceber um projeto
conservador, tendo em conta o intervalo de variação das propriedades do lixo
municipal (FARIA, 2002, p. 158; LOUREIRO, 2005, p. 95). Apesar da necessidade de
rigor na segurança, exageros podem inviabilizar economicamente alguns projetos
(TONUS, 2009, p. 46).
Para RIBEIRO (2007, p. 17), o método de Bishop é possivelmente o mais
utilizado entre os diversos métodos para análise de estabilidade de taludes, visto que
é razoavelmente simples e fornece fatores de segurança próximos dos obtidos por
métodos mais precisos. RIBEIRO (2007, p. 52) adotou o método de Bishop na
determinação dos parâmetros de resistência (coesão e ângulo de atrito) de resíduos
sólidos através de retroanálises em ensaios de laboratório sendo utilizado o software
SLOPE/W, da Geo-Slope International, na aplicação do método.
MAHLER e NETO (2000, p. 1) realizaram a análise da estabilidade de um
vazadouro em Petrópolis, sendo adotados, para os resíduos sólidos, parâmetros de
coesão e ângulo de atrito, obtidos na bibliografia nacional e internacional.
Os autores admitiram como constantes o peso específico em 10 kN/m ³ e o
ângulo de atrito em 25°, fazendo variar os valores de coesão entre 0 kPa e 30 kPa.
Nas análises de estabilidade realizadas, foi utilizado o software SLOPE/W, da Geo-
Slope International, sendo adotado o método de Bishop Simplificado (MAHLER e
NETO, 2000, p. 5 - 6). Os resultados obtidos mostraram valores de fator de segurança
variando entre 0,812 e 1,965.
OLIVEIRA (2002, p. 7) realizou um estudo de estabilidade de aterros
sanitários onde realizou retroanálises em uma seção experimental executada em um
aterro sanitário e em um escorregamento ocorrido em um aterro controlado, ambos
localizados no município de Salvador – BA. Na obtenção dos parâmetros de
resistência dos resíduos foram utilizadas sondagens com ensaios de penetração
dinâmica, ensaios de penetração do cone e provas de carga.
Nas provas de carga, executadas no aterro sanitário de Salvador - BA, o autor
executou os ensaios em um talude experimental com inclinação de 90° e arbitrou
valores de ângulo de atrito para obtenção de valores de coesão (OLIVEIRA, 2002, p.
75). Para os ângulos de atrito de 15º, 20º, 25º, 30º e 35º OLIVEIRA (2002, p. 114)
obteve valores de coesão de 27 kPa, 22 kPa,17 kPa,14 kPa e 10 kPa,
respectivamente. Nas análises realizadas, foi adotado o método de Bishop
77

Simplificado, um método “consagrado” segundo OLIVEIRA (2002, p. 75), sendo


utilizado o software SLOPE/W, da Geo-Slope International, na aplicação do método.
Os ensaios de penetração dinâmica mostraram um valor médio de NSPT de 9
golpes para as camadas superiores e 14 golpes para as camadas inferiores,
excluindo-se os valores maiores que 20 golpes (OLIVEIRA, 2002, p. 82). Desta forma,
o valor de ângulo de atrito foi estimado entre 31º a 36º, considerando a correlação
com NSPT para solos arenosos. Considerando o material puramente coesivo (ângulo
de atrito = 0) os valores de resistência não drenada variaram entre 30 kPa e 140 kPa.
De forma análoga, os resultados obtidos nos ensaios de penetração do cone
permitiram estimar o valor de ângulo de atrito entre 27º a 38º, considerando a
correlação para solos arenosos, com valores de resistência não drenada variando
entre 80 kPa e 400 kPa (OLIVEIRA, 2002, p. 87).
As retroanálises executadas no aterro controlado mostraram que, para ângulo
de atrito variando entre 15º a 35º, o rompimento ocorreria em coesões menores que
2 kPa (OLIVEIRA, 2002, p. 108). Estes valores mostraram-se muito inferiores aos
valores obtidos pelo mesmo autor pela correlação entre os parâmetros de resistência
de solos arenosos e os resultados dos ensaios de penetração dinâmica e de
penetração do cone, bem como as retroanálises executadas na seção experimental.
A discrepância entre os resultados obtidos serve como indicativo de que análises de
estabilidade em maciços de resíduos sólidos devem ser executadas de forma
cautelosa (OLIVEIRA, 2002, p. 109).
BORGATTO (2006, p. 76) realizou retroanálises de estabilidade no Aterro
Sanitário Bandeirantes, localizado na cidade de São Paulo – SP, sendo realizadas
análises considerando o efeito das fibras e análises convencionais, sem a
consideração do efeito das fibras. Nas retroanálises foi utilizado o software GGU-
Stability da GGU-Software, que possibilita tais análises com ou sem a consideração
dos efeitos das fibras.
Foram adotados os mesmos parâmetros adotados pelo relatório técnico
elaborado pelo IPT na época (1991), sendo coesão de 13,5 kN/m2, ângulo de atrito de
22º e peso específico para as condições drenadas e não drenadas em 10 kN/m2 e
13,5 kN/m2, respectivamente (BORGATTO, 2006, p. 76). Nas retroanálises com efeito
das fibras foram consideradas ainda os parâmetros: ângulo de tensão de tração, que
representa a relação entre a resistência à tração e a tensão normal nos resíduos
(BORGATTO, 2006, p. 47); fator de correção, utilizado para corrigir a inclinação entre
78

as fibras e a superfície de ruptura (BORGATTO, 2006, p. 47); e coesão aparente, que


representa o reforço de resistência ao cisalhamento advindo do reforço das fibras
(BORGATTO, 2006, p. 118). As análises com e sem o efeito das fibras consideraram
ainda variações no coeficiente de poropressão. O Quadro 9 apresenta os resultados
obtidos nas retroanálises realizadas com e sem a consideração do efeito das fibras.

Quadro 9 – Resultados obtidos nas retroanálises realizadas por BORGATTO (2006).


Parâmetros Relatório IPT Retroanálise com efeito fibra
Coeficiente de poropressão 0 0,3 0,6 0 0,3 0,6
Ângulo de atrito (º) 22 22 22 22 22 22
2
Coesão (kN/m ) 13,5 13,5 13,5 13,5 13,5 13,5
Peso específico (kN/m3) 13 13 13 13 13 13
Ângulo tensão tração (º) - - - 35 35 35
Fator de correção - - - 0,5 0,5 0,5
Coesão aparente (kN/m2) - - - 140 140 140
Fator de segurança 2,06 1,55 1 2,25 1,83 1,38
Fonte: Modificado de BORGATTO (2006)

Segundo BORGATTO (2006, p. 118), o fator de segurança encontrado na


retroanálise de 1,38 para coeficiente de poropressão em 0,6 indica que o talude se
apresenta em condições de estabilidade. Aplicando nesta mesma análise um fator de
segurança unitário, o valor da coesão encontrado é de 2 kN/m2, conforme apresentado
no Quadro 10 adaptado de BORGATTO (2006, p. 119). Segundo o autor, a
discrepância entre os valores de coesão obtidos indicam que o material, na hora do
escorregamento, apresentava característica puramente granular, sendo a resistência
“coesiva” provinda do reforço das fibras.

Quadro 10 – Parâmetros obtidos por IPT (1991) e por BORGATTO (2006, p. 117).
Parâmetro Relatório IPT Retroanálise com efeito das fibras
c (kPa) 22,00 22,00
 (°) 13,50 2,00
d
_ `abc  13,00 13,00
Fonte: Modificado de BORGATTO (2006, p. 117).

BORGATTO (2006, p. 77) realizou ainda a comparação entre o método


clássico de análise de estabilidade, utilizando o software SLOPE/W, da Geo-Slope
International, e o método considerando o efeito das fibras, utilizando software GGU-
Stability da GGU-Software. As analises foram executadas em duas seções hipotéticas
79

do aterro sendo uma seção composta por resíduos frescos e outra composta por uma
camada de resíduos frescos, sobreposta sobre um pacote de resíduos antigos. As
análises consideraram ainda variações no coeficiente de poropressão em ambos os
casos. O Quadro 11 apresenta os resultados obtidos nas análises de estabilidade
realizadas nas seções elaboradas por BORGATTO (2006, p. 120 - 123).
Os resultados obtidos por BORGATTO (2006, p. 126) demonstraram o
aumento de resistência dos resíduos quando considerado o efeito das fibras sendo
verificados ganhos de até 50%.
SCHULER (2010, p. 6) realizou um estudo do comportamento geomecânico
de um aterro localizado no estado do Rio de Janeiro. O autor efetuou o monitoramento
do aterro utilizando instrumentação geotécnica, incluindo piezômetros, inclinômetros,
pluviômetros e marcos superficiais. O autor realizou 03 análises de estabilidade
(retroanálises) em casos de ruptura observados durante o monitoramento.
Nas retroanálises, SCHULER (2010, p. 111) adotou o peso específico de 11
kN/m3 e o coeficiente de poropressão de 0,7, obtendo 27º de ângulo de atrito de e 15
kPa de coesão para resíduos mais recentes e 25º de ângulo de atrito e 40 kPa de
coesão para resíduos mais antigos. O método de Bishop foi adotado em todas as
análises realizadas, sendo as simulações realizadas no software SLIDE 5.0 da
Rocscience (SCHULER, 2010, p. 95).
80

Quadro 11 – Resultados obtidos nas análises de estabilidade realizadas por BORGATTO (2006).
Seção 1
Parâmetros Método clássico Método com o efeito das fibras
Coeficiente de poropressão 0 0,2 0,5 0 0,2 0,5
Ângulo de atrito (º) Resíduos frescos 30 30 30 30 30 30
Coesão (kN/m2) Resíduos frescos 15 15 15 15 15 15
Peso específico (kN/m3) Resíduos frescos 10 10 10 10 10 10
Ângulo tensão tração (º) Resíduos frescos - - - 35 35 35
Fator de correção Resíduos frescos - - - 0,5 0,5 0,5
Coesão aparente (kN/m2) Resíduos frescos - - - 125 125 125
Fator de segurança Resíduos frescos 1,72 1,44 1 2,43 2,15 1,72
Seção 2
Parâmetros Método clássico Método com o efeito das fibras
Coeficiente de poropressão 0 0,2 0,5 0 0,2 0,5
Resíduos frescos 30 30 30 30 30 30
Ângulo de atrito (º)
Resíduos antigos 38 38 38 38 38 38
Resíduos frescos 15 15 15 15 15 15
Coesão (kN/m2)
Resíduos antigos 15 15 15 15 15 15
Resíduos frescos 10 10 10 10 10 10
Peso específico (kN/m3)
Resíduos antigos 15 15 15 15 15 15
Resíduos frescos - - - 35 35 35
Ângulo tensão tração (º)
Resíduos antigos - - - 15 15 15
Resíduos frescos - - - 0,5 0,5 0,5
Fator de correção
Resíduos antigos - - - 0,5 0,5 0,5
Resíduos frescos - - - 125 125 125
Coesão aparente (kN/m2)
Resíduos antigos - - - 75 75 75
Fator de segurança Resíduos frescos 2,07 1,68 1,10 2,23 1,84 1,33
Fonte: Modificado de BORGATTO (2006)
81

6. ESTUDO DO MEIO FÍSICO

Regionalmente o município de Atibaia está inserido no contexto geológico do


Cinturão Ribeira, no Complexo Varginha-Guaxupé, que representa uma unidade de
médio a alto grau metamórfico, com idade neoproterozóica onde se associam
intercalações de rochas supracrustais (HASUI, 2012, p. 350 - 351).
O mapa geológico da Figura 16 foi modificado de NEVES (2005,
Apêndice A) e apresenta a geologia da região do Aterro de Caetetuba. NEVES (2005,
p. 8), elaborou o mapa geológico da Bacia do Rio Jundiaí, em escala 1:100.00, com
base na compilação de mapas geológicos preexistentes, realizados durante o
convênio entre UNESP e o extinto Pró- Minério, onde foram mapeadas bases
cartográficas do IBGE, em escala 1:50.000, incluindo as folhas Atibaia (OLIVEIRA et
al., 1985), Jundiaí (BATISTA et al., 1986), Santana de Parnaíba (BATISTA et al., 1987)
e Cabreúva (HACKSPACHER et al., 1989). Além destes, foram utilizados o
mapeamento geológico em escala 1:50.000 da área do Maciço Granítico Itu realizado
por GALEMBECK (1997), e o mapeamento das coberturas cenozoicas da região de
Jundiaí realizado por NEVES (1999). Toda a compilação de mapas geológicos foi
apoiada em fotointerpretação e trabalhos de campo.
Verifica-se no mapa geológico da Figura 16 a ocorrência de rochas do
Complexo Amparo, que constitui um conjunto de gnaisses bandados e gnaisses
graníticos e granudioríticos, de idades entre 3,0 Ma e 2,2 – 2,0 Ga, que ocorrem como
intercalações nas rochas supracrustais da porção central do Complexo Varginha-
Guaxupé. Associados as rochas do Complexo Amparo, ocorrem rochas intrusivas
granitoides em corpos de dimensões variadas. O magmatismo da região é classificado
como cálcio-alcalino, evoluindo para termos mais alcalinos nas intrusões tardias.
Dentre os diversos tipos de granitos, predominam os porfiróides, de composição
variando de granítica a granodiorítica. Possuem colorações brancas, róseas e
cinzentas, variam de finos a grossos, são equigranulares ou porfiríticos e podem
apresentar foliação pronunciada e feições migmatíticas. Há ainda uma suíte
charnoquítica, restrita a região de Atibaia (NEVES, 2005, p. 26).
330000 335000 340000 345000

Legenda
Limites da Área

QUATERNÁRIO

7450000
7450000
1 Depósitos aluviais: cascalhos, areias e argilas.

2 Depósitos de terraços: cascalhos, areias e argilas pré-atuais em


terraços elevados.
r 3 Depósitos coluviais e/ou eluviais: sedimentos argilo-arenosos com
grânulos de quartzo, geralmente com linhas de pedras na base.

TERCIÁRIO
4 Depósitos terciários: diamictitos, conglomerados, arenitos e argilitos de
sistemas de leques aluviais antigos.

PRÉ-CAMBRIANO
- Intrusivas Granitóides
9 Granito Atibaia: hornblenda-biotita granitos e, subordinadamente,
sienogranitos porfiróides, róseos-acinzentados, inequigranulares,
foliados a maciços, médios a grossos.

7445000
7445000

10 Graníto Bragança Paulista (complexo socorro): magnetita-hornblenda


granitóide, porfiroide, gnaissificado, protoblastomilanítico,
qurtzomonzodioritos, tonalitos, granodioritos e monzogranitos.
Localmente ortognaisse de composição granítica a granodiorítica, com
domínios de granitos cinzas e roseos.

19 Suítes graníticas indiferenciadas: granitos foliados cinza (a),


ortognaisses graníticos brancos (b) e granitos foliados róseos a cinza,
finos, inequigranulares a equigranulares (c).

20 Suíte charnoquítica.
Limites
da Área - Complexo Amparo
30 Gnaisses migmatizados ou não, xistosos, finos a médios, com
intercalações de gonditos, colciossilicáticas, quartzitos, anfibolitos,
micaxistos e xistos básicos (a), metatonalitos e metaquartzodioritos (b)
e anfibolitos (c).
31 Muscovita-biotita xistos alternados com lentes de quartzidos, localmente

7440000
7440000

anfibolitos, metagabros, metarenitos e calciossilicáticas


32 Quartzitos puros (a), quartzitos feldspáticos micáceos e granatíferos
com intercalações de biotíta xistos, rochas calciossilicáticas, quartizitos
conglomeráticos, gonditos e anfibolitos (b)

33 Migmatitos diversos

0 2.000 4.000
m
Escala - 1:100.000
Projeção UTM, Fuso 23S, Datum SIRGAS 2000

Figura 16 – Mapa geológico da região do Aterro de


Caetetuba (modificado de NEVES,2005, Apêndice A)

7435000
7435000

330000 335000 340000 345000


83

O Aterro de Caetetuba está assentado sobre depósitos aluviais quaternários


associados à calha do Rio Atibaia, em sua maior parte, sobre a unidade dos Depósitos
Aluviais, definida por NEVES (2005), com exceção da porção sudoeste do maciço,
disposta sobre a unidade dos Depósitos Coluviais e/ou Eluviais.
Tais depósitos são originados por processos de intemperismo e transporte de
curta a média distância, com ou sem atuação de correntes de água canalizada.
Constituem coberturas coluviais de encosta e aluviões depositados ao longo dos
canais de drenagem (NEVES, 2005, p. 30). Os depósitos quaternários identificados
no mapa geológico elaborado por NEVES (2005) foram subdivididos em Depósitos
Coluviais e/ou Eluviais, Depósitos de Terraços e Depósitos Aluviais, estando a área
do Aterro de Caetetuba assentada sobre Depósitos Aluviais.
Os Depósitos Aluviais ocupam as planícies aluviais ao longo dos canais de
drenagem. São compostos por areias inconsolidadas de granulação variada, argilas e
cascalheiras fluviais (NEVES, 2005, p. 33). Esta unidade adquire relevada importância
no presente estudo de caso, visto que constituem o embasamento do Aterro de
Caetetuba. Os Depósitos de Terraços são constituídos por sedimentos aluviais pré-
atuais depositados em um sistema de drenagem semelhante ao atual. Os únicos
corpos individualizados ocorrem ao longo do rio Atibaia. Estes depósitos compõem
patamares elevados a alguns metros acima das planícies aluviais recentes e sua
constituição é idêntica à dos Depósitos Aluviais (NEVES, 2005, p. 32). Os depósitos
coluviais e/ou eluviais são compostos por coberturas inconsolidadas que se
concentram nas áreas de relevo suave e raramente ocorrem nos terrenos mais
acidentados. São compostos por material argilo-arenoso com grânulos de quartzo
milimétricos a centimétricos dispersos aleatoriamente, apresentando uma típica
coloração avermelhada (NEVES, 2005, p. 30).
O aquífero formado pelos depósitos aluviais quaternários, distribuídos ao
longo dos canais de drenagem, apresenta porosidade granular, são descontínuos,
heterogêneos e anisotrópicos, com espessura média de 30 metros e transmissividade
de 2 a 50 m2/dia (NEVES, 2005, p. 23). Estes corpos são bastante limitados e de
importância localizada. No presente estudo de caso, este sistema aquífero adquire
relevada importância, visto que o mesmo constitui o embasamento do Aterro de
Caetetuba e influencia na presença de água no interior do maciço. Como se verá
adiante, o Aterro de Caetetuba corresponde a uma antiga área de disposição irregular
84

de lixo, recuperada parcialmente e, portanto, encontra-se disposto nos sedimentos do


Rio Atibaia sem qualquer medida de impermeabilização.
O Rio Atibaia é formado na confluência dos rios Cachoeira e Atibainha, em
Bom Jesus dos Perdões, apresentando um vale encaixado sub-transversalmente ao
falhamento transcorrente predominante, com planície aluvionar atingindo até 1 km de
largura, onde corre deslocado de seu centro. A área apresenta relevo montanhoso,
com altitudes acima de 1400 m, contrastado com áreas de relevo suavizado,
compostas pelas várzeas do rio Atibaia e alguns de seus afluentes, em níveis
próximos dos 740 m (COSTA, 2006, p. 3).
COSTA (2006) realizou um estudo dos efeitos de movimentações
neotectônicas no condicionamento estrutural da calha do Rio Atibaia, na região entre
Atibaia e Jarinu. De acordo com COSTA (2006, p. 1 - 2), o vale dos rios Atibaia e
Atibainha destaca-se pela sua aparência característica de graben. As colinas de
entorno do rio Atibaia apresentam diferença contrastante, mostrando vertentes
abruptas na margem direita (N) e suavemente inclinadas na margem esquerda (S),
sugerindo um hemigraben que condiciona o rio no sentido leste-oeste, ao invés de o
superimpor as grandes falhas transcorrentes de nordeste-sudoeste que cortam toda
a região.
Dentro deste contexto, a calha do Rio Atibaia estaria sujeita a um
condicionamento estrutural e os meandros presentes seriam resultado da
movimentação relativamente rápida da calha do rio no sentido norte, seguida de
acomodação do leito fluvial às estruturas da área (COSTA, 2006, p. 9).
Na Figura 17, adaptada da Folha Cartográfica Atibaia I (SF-23-Y-C-III-2-NE-
E) (IGGSP, 1979, escala 1:10.000), observa-se a localização do Aterro de Caetetuba,
quase totalmente assentado sobre a várzea do Rio Atibaia, com sua porção sudoeste
disposta sobre uma pequena elevação topográfica. Observa-se ainda o caráter
meandrante do Rio Atibaia e o deslocamento, para sul, da calha do rio em relação ao
centro do vale.
338000

r
7444000

7444000
Aterro
de Ca
ete
tuba
7443000

7443000
0 100 200 300 400
m

Escala - 1:10.000
Projeção UTM, Fuso 23S, Datum SIRGAS 2000
338000

Figura 17 – Localização do Aterro de


Caetetuba em relação a várzea do Rio
Atibaia (modificado de IGGSP, 1979, escala
1:10.000).
86

7. CARACTERIZAÇÃO DO ATERRO DE CAETETUBA

A área do Aterro de Caetetuba se mostrou favorável ao desenvolvimento


desta pesquisa, tendo em vista as características construtivas e geométricas do
maciço além da grande quantidade de informações disponíveis.
Foram utilizados documentos referentes ao processo de investigação
ambiental da área em andamento na CETESB, como memoriais e termos de
ajustamento além de relatórios técnicos.
O material consulado na Pesquisa Documental forneceu dados importantes a
serem utilizados nas análises de estabilidade do aterro, incluindo geometria e perfil
construtivo do maciço, condições de assentamento e presença de água.
Com base nas imagens aéreas e entrevistas contidas nos relatórios
fornecidos, foi elaborado o histórico construtivo do maciço. A partir do histórico do
aterro, juntamente com os perfis de sondagens e os levantamentos topográficos
disponíveis foi possível elaborar um modelo construtivo do maciço.

7.1. Histórico

O estudo histórico contido na Avaliação Ambiental Preliminar do Aterro de


Caetetuba foi elaborado com base nas informações de funcionários do SAAE ATIBAIA
e apoiado em fotos aéreas fornecidas pelos mesmos, além de imagens de satélite
disponíveis no software Google Earth.
Conforme verificado no relatório técnico, o uso da área para disposição de
resíduos se deu a partir do final da década de 1960 e início da década de 1970. A
Figura 18 apresenta as fotos aéreas obtidas na Avaliação Ambiental Preliminar,
incluindo fotos datadas dos anos de 1962 (a), 1972 (b) e 1978 (c). Não foram
verificadas fotos aéreas relativas às décadas de 80 e 90, época da disposição da
maior parte dos resíduos domésticos no local.
r r
Início da
Disposição

Ano - 1972 (b) Ano - 1962 (a)


Limites da Área Limites da Área

0 100 200 0 100 200


m m
Escala - 1:10.000 Escala - 1:10.000

1972 - Verificam-se materiais depositados na área adjacente a estrada local. 1962 - Não são identificadas feições de disposição de resíduos no atual local do Aterro de Caetetuba.

r
Disposição de
Resíduos

Ano - 1978 (c)


Limites da Área

0 100 200
m Figura 18 - Fotos aéreas dos anos de 1962 (a), 1972 (b) e
Escala - 1:10.000 1978 (c)
1978 - Observam-se feições de disposição de resíduos na área adjacente ao atual aterro, onde hoje
está instalada a Vila São José. Projeção UTM, Fuso 23S, Datum SIRGAS 2000
88

Na imagem do ano de 1962 (Figura 18.a), não são identificadas feições de


disposição de resíduos no atual local do Aterro de Caetetuba, sendo observados
alguns meandros abandonados do rio Atibaia.
Na imagem do ano de 1972 (Figura 18 b), já se verificam materiais
depositados na área adjacente a estrada local, identificados como um aspecto escuro
nas imagens. Segundo informações da administração, os resíduos foram dispostos
diretamente no solo, na planície aluvial do Rio Atibaia, não sendo registrada qualquer
instalação de proteção.
Na imagem de 1978 (Figura 18 c), não foram observadas feições de
disposição de resíduos na área do aterro, no entanto, as mesmas foram identificadas
na área adjacente ao atual aterro, onde hoje está instalada a comunidade denominada
Vila São José.
Não foram encontrados registros aéreos nas décadas de 80 e 90, época da
disposição da maior parte dos resíduos domésticos no local. A partir do ano de 2005,
estão disponíveis imagens de satélite da área, com periodicidade anual, no software
Google Earth.
No ano de 1996, após notificação da gerencia regional da CETESB, a
Prefeitura Municipal de Atibaia instalou uma unidade de reciclagem e compostagem
aeróbica, conforme verificado no memorial de caracterização técnica (MCE) da licença
de instalação de 1996, elaborado pela Prefeitura Municipal de Atibaia. A unidade de
reciclagem e compostagem seria destinada ao tratamento do lixo disposto
irregularmente no Aterro de Caetetuba bem como do lixo proveniente do município.
As obras foram concluídas em 2002, incluindo o retaludamento da massa dos
resíduos com posterior cobertura com terra e plantio de grama, instalação de
alambrado em parte da extensão recuperada, sistema de drenagem de águas pluviais
com canaletas de concreto, sistema de drenagem de líquidos percolado com drenos
de pedra rachão e caixa de concreto para acumulação.
Na Foto 1, retirada da Avaliação Ambiental Preliminar do Aterro de Caetetuba,
observam-se as obras de recuperação do maciço realizadas no ano de 2002. Destaca-
se a diferença no tratamento dado a porção oeste do aterro (esquerda da foto), onde
se verificam taludes bem definidos, e a porção leste do aterro (direita da foto), alvo do
presente estudo de caso, onde se verifica o domínio da vegetação. Observa-se ainda
a instalação da área de triagem e compostagem próxima ao limite sudoeste do aterro
(cato inferior esquerdo da foto).
89

Foto 1 – Obras de recuperação do maciço realizadas no ano de 2002. Destaca-se a diferença no


tratamento dado a porção oeste do aterro (esquerda da foto), onde se verificam taludes bem
definidos, e a porção leste do aterro (direita da foto), onde se verifica o domínio da vegetação.

A Figura 19 apresenta as imagens aéreas posteriores às obras de


recuperação do Aterro de Caetetuba, incluindo uma foto aérea do ano de 2003 (a),
obtida na Avaliação Ambiental Preliminar, e duas imagens de satélite, retiradas no
software Google Earth, referentes aos anos de 2008 (b) e 2010 (c).
Na imagem do ano de 2003 (Figura 19 a), é possível observar que a
disposição de resíduos domiciliares já havia sido paralisada, sendo verificada a
regularização do maciço de resíduos, com a implementação de bancadas e taludes,
vegetados com gramíneas.
Na imagem do ano de 2008 (Figura 19 b), observa-se uma intensa disposição
de resíduos que, segundo a administração do aterro, correspondem a resíduos de
construção civil. Neste período, formou-se o talude íngreme na porção leste do aterro,
principal alvo das análises de estabilidade a serem realizadas no presente estudo de
caso.
Bermas e
Taludes
r r
Disposição de
Resíduos

Ano - 2008 (b) Ano - 2003 (a)


Limites da Área Limites da Área
Triagem
0 100 200 0 100 200
m m
Escala - 1:10.000 Escala - 1:10.000

2008 - Verifica-se a disposição de resíduos de construção civil, sendo formado o talude na porção 2003 - Verifica-se o resultado das obras de regularização do maciço de resíduos, com a
leste do aterro, principal alvo do presente estudo de caso. implementação da área de triagem e bancadas e taludes, vegetados com gramíneas.

r
Remoção de
Resíduos

Ano - 2010 (c)


Limites da Área

0 100 200
m Figura 19 – Imagens aéreas dos anos de 2003 (a), 2008
Escala - 1:10.000 (b) e 2010 (c).
2010 - Verifica-se o crescimento da vegetação, indicando a baixa movimentação no local. Observa-se
ainda parte do material sendo retirado na porção sudoeste do maciço. Projeção UTM, Fuso 23S, Datum SIRGAS 2000
91

De acordo com a administradora, a deposição de resíduos da construção civil


se perpetuou até o ano de 2010, quando se iniciou a retirada de parte do material para
triagem no centro instalado a sudoeste do aterro. Na imagem de 2010 (Figura 19 c)
pode-se observar parte do material sendo retirado na porção sudoeste do maciço. Nas
demais regiões, observa-se o crescimento da vegetação, indicando a baixa
movimentação no local.
Na Foto 2, retirada da Avaliação Ambiental Preliminar do Aterro de Caetetuba,
observa-se as obras de triagem na porção sudoeste do aterro. Na foto é possível
verificar o perfil do Aterro de Caetetuba, onde camadas de resíduos são alternadas
com camadas de solo de no máximo 1m. Destaca-se que o maciço se mostra estável
durante os procedimentos de escavação, mesmo sujeitado a taludes de quase 90º.
No ano de 2010 foram realizados ainda os primeiros procedimentos de
investigação ambiental na área do Aterro de Caetetuba, pela empresa Gisante –
Serviços de Engenharia S/S Ltda. Os trabalhos de investigação ambiental foram
continuados pela empresa Geocia - Consultoria, Serviços em Geologia e Engenharia
Ambiental LTDA-EPP, sendo realizados os procedimentos de avaliação ambiental
preliminar e de investigação ambiental confirmatória no ano de 2012.

Foto 2 – Obras para triagem na porção sudoeste do aterro. Verifica-se camadas de resíduos
alternadas com camadas de solo de no máximo 1m. Destaca-se que o maciço se mostra estável
durante os procedimentos de escavação, mesmo sujeitado a taludes de quase 90º.
92

7.2. Dados Geotécnicos e Seções Litoconstrutivas

Os relatórios de investigação ambiental forneceram dados fundamentais a


serem utilizados nas análises de estabilidade do aterro, incluindo geometria e perfil
construtivo do maciço, condições de assentamento, parâmetros geotécnicos dos solos
e dos resíduos e presença de água.
Na Investigação de Passivo Ambiental foi obtida a planta topográfica da área,
que representa a situação do maciço no ano de 2010. Conforme verificado no relatório
elaborado pela empresa Gisante, foram realizadas 04 sondagens com amostragem
de solo e instalação de poços de monitoramento com amostragem de água
subterrânea, incluindo 01 poço entre o maciço e a várzea do Rio Atibaia e 03 poços
entre o maciço e a Vila São Jose.
Na Investigação Ambiental Confirmatória, foram obtidos diversos perfis de
sondagem, referentes a sondagens com teste de penetração (SPT) e sondagens a
trado para instalação de poços de monitoramento. Conforme verificado no relatório
elaborado pela empresa Geocia, foram realizadas 12 sondagens a trado, para
instalação de 08 poços de monitoramento de água subterrânea e 04 poços para
amostragem de gás, além da execução de 05 sondagens com ensaio de penetração
(SPT). Foram identificadas sondagens no topo do maciço, na lateral imediata à base
e no entorno próximo ao Aterro de Caetetuba, sendo obtidas descrições dos resíduos
e das formações geológicas que compõe o embasamento. Destaca-se que os
trabalhos de investigação ambiental abrangeram a área do Aterro de Caetetuba bem
como a área da Vila São José. Desta forma, na presente dissertação de mestrado, as
sondagem e poços localizadas fora do entorno imediato do maciço foram
desconsideradas.
A Figura 20 ilustra a situação do aterro em 2010 juntamente com a localização
das sondagens executadas nas proximidades do aterro. O Quadro 12 apresenta as
principais características das sondagens executadas nas proximidades. Os níveis
d’água indicados representam as condições em setembro de 2012. O Quadro 13
apresenta a resenha meteorológico do município de Atibaia, retirada do site da
CEPAGRI (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas a Agricultura),
mostrando que, na data, o município encontrava-se em um período pouco chuvoso.
93

A Figura 21 apresenta os perfis de sondagem com ensaio de penetração


(SPT). A Figura 22 apresenta os perfis de sondagens a trado para instalação de poços
de monitoramento de água subterrânea e gás. Ressalta-se que os poços instalados
para monitoramento de gás não atingiram o nível d’água.

Quadro 12 – Principais características das sondagens executadas no Aterro de Caetetuba (Projeção


UTM, Fuso 23S, Datum SIRGAS 2000)
Tipo Nome UTM_E UTM_N Prof. (m) Cota (m) N.A.(m)
SP-01 337991 7443345 16,30 755,50 -

Sondagem com SP-02 338017 7443366 10,36 739,50 0,62


Teste de 337995 7443240
SP-03 23,60 755,50 17,3
Penetração
(SPT) SP-04 338022 7443237 8,39 739,80 0,58
SP-06 337980 7443104 9,30 741,50 1,93
PM-02 337891 7443287 2,30 740,00 0,75
PM-03 337867 7443343 3,30 740,00 0,52
PM-12 338018 7443359 2,50 739,50 1,02

Poço de SPMN-12 338020 7443352 6,00 739,50 0,99


Monitoramento 338028 7443303
PM-13 3,00 740,00 0,9
de Água
Subterrânea PM-14 338021 7443233 3,00 739,80 0,98
PM-16 337980 7443109 3,20 741,50 2,33
PM-17 337945 7443426 3,60 740,00 0,88
PM-18 337863 7443072 6,00 750,50 4,09
PG-01 337766 7443216 5,00 753,50 -
Poço de
Monitoramento PG-03 337737 7443126 5,00 752,00 -
de Gás 337890 7443037
PG-04 4,00 750,20 -

Quadro 13 - Resenha meteorológico do município de Atibaia (CEPAGRI, site oficial)


TEMPERATURA DO AR (Cº)
MÊS CHUVA (mm)
mínima média máxima média média
JAN 17.3 28.3 22.8 263.3
FEV 17.6 28.3 22.9 212.7
MAR 16.7 27.9 22.3 176.5
ABR 14.1 26.1 20.1 71.7
MAI 11.4 24.2 17.8 66.5
JUN 9.8 23.0 16.4 53.9
JUL 9.3 23.2 16.2 41.4
AGO 10.5 25.1 17.8 34.2
SET 12.5 26.2 19.3 75.0
OUT 14.3 26.7 20.5 138.3
NOV 15.2 27.3 21.3 160.1
DEZ 16.6 27.4 22.0 216.5
337800 338000

Legenda

PM-17

 Poço de Monitoramento de Gás (PG)

a
ai
ib

 Poço de Monitoramento (PM)

At
o
Ri

 Poço de Mon. Multinível (PMN)


SP-02 
 Sondagem a Percussão (SP)

7443400
7443400

PM-12

PMN-12 Limites do Aterro de Caetetuba

PM-03 
SP-01
Vila Ruas
São José
Muros e Cercas

PM-13
Edificações

PM-02
Canaletas e Caixas de Drenagens

Drenagens


SP-03  Curvas de Níveis Intermediárias

SP-04
PM-14
Curvas de Níveis Mestras

PG-01
Várzea

7443200
7443200

r

PG-03 Triagem
0 20 40 60 80 100

PM-16 m

SP-06 Escala - 1:2.500
Projeção UTM, Fuso 23S, Datum SIRGAS 2000


PM-18
Várzea


PG-04 Figura 20 – Situação do aterro em 2010 e a localização das
sondagens próximas ao Aterro de Caetetuba

337800 338000
97

Nota-se na Figura 20 que, entre as 05 sondagens realizadas com ensaio de


penetração (SPT), apenas as sondagens SP-01 e SP-03 estão localizadas no interior
do maciço, enquanto a sondagem SP-06 foi realizada na base do aterro, atingindo os
resíduos parcialmente. As sondagens SP-02 e SP-04 foram realizadas diretamente
sobre os sedimentos aluviais do Rio Atibaia.
Devido às dificuldades de perfuração, a sondagem SP-01 foi paralisada aos
16,30 m enquanto a sondagem SP-03 ultrapassou todo o aterro. Desta forma, a
sondagem SP-01 não atingiu o nível d’água, sendo este observado na sondagem SP-
03, aproximadamente a 18,30 m de profundidade.
Nos perfis das sondagens executadas no interior do maciço, apresentados na
Figura 21, a perfuração se inicia em um pacote de resíduos de construção civil, com
espessura variando entre 08 m e 09 m. Este pacote é composto por camadas de
entulho, madeira, plásticos e metais diversos, intercalados a camadas de solo
argiloso. Imediatamente abaixo dos resíduos de construção civil encontra-se um
pacote de resíduos domiciliares que alcança a profundidade de 22,60 m. Este pacote
é composto por camadas e plásticos diversos, tecidos e embalagens, intercalados a
camadas de solo argiloso. Após o pacote de resíduos domiciliares são verificados os
sedimentos aluviais da planície do Rio Atibaia.
Ao se ultrapassar o aterro, os sedimentos da planície aluvial do Rio Atibaia
são atingidos, sendo verificado, inicialmente, um pacote argilo-arenoso com
ocorrência de argilas orgânicas. Na sequência são atingidas lentes de areia média a
grossa, típicos de depósito de canal. Abaixo dos sedimentos da várzea do Rio Atibaia,
as sondagens atingiram pacotes silto-arenosos relativos aos solos de alteração do
embasamento local.
Conforme verificado na Figura 20 o Aterro de Caetetuba possui
aproximadamente 20 m de altura, no entanto na sondagem SP-03 foi verificada uma
profundidade de 22,60 m até a base dos resíduos. O rebaixamento da base do Aterro
de Caetetuba em relação à superfície pode ser explicado pela utilização de meandros
abandonados no início da disposição de resíduos no local, ou mesmo por um rearranjo
da estrutura do aterro em decorrência do peso dos resíduos agindo sobre os solos
pouco resistentes da planície aluvial do Rio Atibaia. Destaca-se que foi verificado o
nível d’água em 18,30 m na sondagem SP-03 mostrando que a base dos resíduos
ultrapassou o nível d’água.
98

As sondagens com ensaio de penetração (SPT), realizados diretamente sobre


os sedimentos da várzea do Rio Atibaia (SP-02 e SP-04) mostraram continuidade
lateral, sendo verificados sedimentos argilo-arenosos com argilas orgânicas
superficiais seguidas de lentes de areia média a grossa e, abaixo, pacotes silto-
arenosos relativos aos solos de alteração do embasamento local. O nível d’água das
sondagens realizadas na várzea do rio Atibaia mostrou-se subsuperficial, atingindo
até 0,62 m de profundidade.
Durante a perfuração do aterro, observam-se alguns picos de resistência
causados por objetos impenetráveis. Não são verificadas diferenças significativas
entre o índice NSPT obtido nos ensaios realizados em resíduos de construção civil ou
em resíduos domésticos, sendo alta a variação em ambos os caso (NSPT entre 6 e 25).
No momento em que a sondagem ultrapassa o aterro e atinge os sedimentos da
várzea do Rio Atibaia, o índice NSPT cai drasticamente, se equivalendo ao índice das
sondagens realizadas no entorno imediato do aterro, diretamente sobre os sedimentos
da várzea do rio. O índice NSPT obtidos nos sedimentos aluviais ficaram entre 1 e 6
para o pacote de argila arenosa orgânica e entre 2 e 18 para o pacote de areia média
a grossa. O índice NSPT obtidos no pacote silto-arenosos relativo aos solos de
alteração do embasamento local ficou entre 4 e 28, atingindo índices maiores que 50
golpes no fim da sondagem, indicando proximidade com rochas alteradas.
O Quadro 14 apresenta os valores máximos e mínimos do índice NSPT obtidos
nos ensaios de penetração considerando os pacotes identificados.

Quadro 14 – Valores máximos e mínimos do índice NSPT obtidos


SP-01 SP-02 SP-03 SP-04 SP-06
Pacote considerado
mín. máx. mín. máx. mín. máx. mín. máx. mín. máx.
Resíduos de construção civil 7 21 - - 6 22 - - - -
Resíduos domésticos 9 24 - - 8 25 - - - -
Argila arenosa orgânica - - 1 1 2 4 1 6 1 1
Areia média a grossa - - 2 9 6 6 13 18 3 6
Silte arenoso - - 4 27 - - 8 8 10 28

Conforme ilustrado na Figura 22, as sondagens a trado realizadas a noroeste


do Aterro de Caetetuba, entre o mesmo e a Vila São José (PM-02, PM-03 e PM-17),
atingiram uma camada superficial de aterro argilo-arenoso, com até 2,00 m de
profundidade, seguida dos sedimentos arenosos relativos à várzea do Rio Atibaia. O
nível d’água mostrou-se subsuperficial, atingindo até 0,98 m.
99

As sondagens a trado realizadas nos sedimentos da várzea do Rio Atibaia,


para a instalação de poços de monitoramento (PM-12, PM-13 e PM-14), mostraram o
mesmo perfil litológico das sondagens com teste de penetração realizadas neste local,
sendo verificados sedimentos argilo-arenosos com argilas orgânicas superficiais
seguidas de lentes de areia média a grossa e, abaixo, pacotes silto-arenosos relativos
aos solos de alteração do embasamento local.
As sondagens a trado realizadas a sudoeste do Aterro de Caetetuba,
próximas a unidade de reciclagem e compostagem (PG-01, PG-03, PG-04 e PM-18),
atingiram uma camada de aterro argilo-arenoso com até 4,50 m de profundidade. O
nível d’água nestas sondagens mostrou-se pouco mais profundo, atingindo 4,09 m na
sondagem PM-18. Após o aterro as sondagens não atingiram os sedimentos do Rio
Atibaia, sendo verificado um pacote de silte argiloso, de coloração vermelho, amarelo
e branco variegado.
Desta forma, as sondagens verificadas corroboram com o mapa geológico
apresentado no estudo do meio físico modificado de NEVES (2005, Apêndice A),
estando a maior parte do aterro de Caetetuba, instalada sobre a unidade dos
Depósitos Aluviais, compostos por areias inconsolidadas de granulação variada,
argilas e cascalheiras fluviais (NEVES, 2005, p. 33), enquanto a porção sudoeste do
aterro encontra-se assentada sobre a unidade dos Depósitos Coluviais e/ou Eluviais,
compostos por material argilo-arenoso de cor avermelhada, (NEVES, 2005, p. 30).
Com base nas informações levantadas para o Aterro de Caetetuba, incluindo
imagens aéreas, perfis de sondagens e levantamentos topográficos foi elaborado um
modelo construtivo do maciço.
Conforme verificado na Figura 20, o Aterro de Caetetuba possui formato
alongado, em um eixo de aproximadamente 400 m, de alinhamento Norte-Sul, com o
centro ligeiramente mais estreito que as extremidades. A base do aterro abrange uma
área de pouco mais de 45.000 m3. A altura da pilha de resíduos é de aproximadamente
20 m, no entanto nas sondagens executadas no topo do maciço, foi verificada uma
profundidade de 22,60 até a base dos resíduos.
A encosta oeste do aterro, em decorrência das obras de recuperação
finalizadas em 2002, se apresenta dividida em três taludes separados por bermas de
aproximadamente 5 m. O talude leste, alvo das análises de estabilidade do presente
estudo de caso, se mostra mais inclinado, apresentando uma única face.
100

Neste trecho é possível observar indícios de movimentação do maciço,


registrados por meio de vegetação curvada, na porção norte do maciço e saia de
escorregamento na porção sul do mesmo.
Destaca-se que a saia de escorregamento formada na porção sul do talude
leste, lançou resíduos e solo de compactação sobre uma pequena porção da várzea
do Rio Atibia. Em virtude das características de baixa renda do Bairro Caetetuba, esta
área acabou sendo ocupada por moradias construídas com madeira, plásticos e
outros materiais oriundos dos resíduos. Durante a construção dos “barracos”, os
moradores acabaram mobilizando mais resíduos e solo de compactação,
descaracterizando a superfície de ruptura formada e dificultando a acesso ao local.
Na Foto 3, retirada da Avaliação Ambiental Preliminar do Aterro de Caetetuba,
observa-se a movimentação da vegetação presente no talude leste do Aterro de
Caetetuba, em virtude de movimentações do maciço.

Foto 3 – Movimentação da vegetação presente no talude leste do aterro

A Figura 23 apresenta as seções geológico-construtivas elaboradas com


base no levantamento topográfico e nos perfis de sondagens consultados. Foram
elaboradas 03 seções geológico-construtivas sendo: a seção A-A’ localizada na
porção norte do maciço, com inclinação do talude leste de aproximadamente 30º; a
seção B-B’ localizada na porção central do maciço, com inclinação do talude leste de
101

aproximadamente 33º e a seção C-C’ localizada na porção sul do maciço, com


inclinação do talude leste de aproximadamente 27º. Conforme verificado nas
sondagens, as seções apresentam no topo, um pacote de resíduos de construção civil
seguido de um pacote de resíduos doméstico que por sua vez estão sotopostos aos
pacotes sedimentares da calha do Rio Atibaia. Na base das seções observa-se o
pacotes silto-arenoso relativo aos solos de alteração do embasamento local. A
profundidade da base das seções representam a profundidade impenetrável ao
avanço das sondagens a percussão realizadas.
A'

SP-02

7443400

PM-12

PMN-12
B B'

SP-01
SP-03 SP-04 760

750


 740





PM-13

730
-02

C C'


SP-06 760

SP-03

SP-04 B'
PM-14

750

740

0
730

Legenda 
 Poços de Monitoramento de Gá

7443200

 Poço de Monitoramento (PM)
Resíduos de construção civil e domésticos

 Poço de Mon. Multinível (PMN)
Resíduos de construção civil 
 Sondagem a Percussão


Resíduos domésticos Seções geológico-estruturais




PM-16 C' Ruas
Aterro argilo-arenoso, castanho

SP-06
Muros e Cercas
Argila com areia fina, cinza claro
Edificações
103

8. ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES

Após a caracterização do Aterro de Caetetuba, realizado a partir do


tratamento dos dados coletados durante a etapa da Pesquisa Documental, foram
realizadas as análises de estabilidade de taludes, sendo estas iniciadas pela definição
do método analítico a ser empregado.

8.1. Definição do Método Analítico

Após o levantamento dos diversos métodos de avaliação de estabilidade de


taludes, realizado durante a etapa da Pesquisa Bibliográfica, foi realizada uma
consulta a profissionais especializados na área, sendo estes profissionais solicitados
a apontar, entre os métodos analíticos identificados, qual o método, ou os métodos
mais adequados para análises de estabilidade em aterros sanitários.
Conforme resposta por e-mail de um dos pesquisadores e docentes do
Departamento de Geotecnia da Escola de Engenharia de São Carlos (USP), para
rupturas em aterros sanitários (maciço terroso e lixo), atualmente os métodos
analíticos mais utilizados (disponíveis em programas de computador), são os métodos
de Jambu, Spencer e Bishop Simplificado.
Na pesquisa referente ao comportamento de resíduos sólidos foram
identificadas análises de estabilidade de taludes em aterros sanitários realizadas por
diferentes metodologias, apresentando resultados diversos, incluindo os trabalhos de
MAHLER e NETO (2000), OLIVEIRA (2002), BORGATTO (2006), RIBEIRO (2007) e
SCHULER (2010), onde foi adotado o método de Bishop Simplificado.
Para OLIVEIRA (2002, p. 75), o método de Bishop Simplificado foi adotado
visto que se trata de um método “consagrado”. Para RIBEIRO (2007, p. 17), o método
de Bishop é possivelmente o mais utilizado entre os diversos métodos para análise de
estabilidade de taludes, visto que é razoavelmente simples e fornece fatores de
segurança próximos dos obtidos por métodos mais precisos.
104

Foram identificadas ainda, algumas comparações entre os métodos


convencionais de cálculo de estabilidade de taludes, quando aplicadas a casos gerais
de engenharia, sendo os resultados obtidos nestas comparações expressos em
virtude do fator de segurança obtido.
Conforme demonstrado por HORST (2007), FERNANDES e SILVA FILHO
(2010) e (MENEZES, 2012), na utilização dos métodos de Bishop, Jambu e Spencer,
aplicados a um mesmo caso de analises de estabilidade, os fatores de segurança
obtidos pelo método de Bishop são ligeiramente superiores.
Para TONUS (2009, p. 139), em análises que não envolvam muitas variáveis,
ou seja, análises em solos homogêneos sem intervenção de nível d’água ou de
qualquer dispositivo de contenção, o resultado de todos os métodos utilizados é
semelhante. Na medida em que são consideradas as peculiaridades do solo e a
interferência do nível d’água no problema, verifica-se que métodos mais simplificados,
como Jambu e Fellenius, apresentam resultados semelhantes aos de métodos mais
rigorosos, como Morgenstern & Price e Spencer, com exceção do método de Bishop,
que fornece resultados semelhantes aos dos métodos rigorosos em qualquer
situação. Sendo assim, na presente dissertação de mestrado optou-se pela ênfase no
método de Bishop Simplificado, sendo ainda realizadas análises pelos métodos de
Fellenius, Jambu Simplificado, Spencer e Morgenstern e Price.

8.2. Definição do Software

Durante a etapa de Pesquisa Bibliográfica, verificou-se nas análises de


estabilidade de taludes em aterros sanitários, ou mesmo em corpos naturais, o uso
comum de softwares especializados na modelagem dos corpos analisados. Entre os
principais softwares relacionados à modelagem ambiental identificados, o conjunto de
programas desenvolvidos pela Geo-Slope International se destacou por sua
praticidade e por possuir versões gratuitas para estudantes.
Entre as ferramentas no pacote da Geo-Slope International, o SLOPE/W é o
produto utilizado para calcular o fator de segurança através de diversas metodologias
que utilizam análises de equilíbrio limite, podendo modelar tipos heterogêneos de
105

materiais com complexa geometria, considerando diferentes superfícies de


deslizamento e poropressão (GEO-SLOPE INTERNATIONAL).
Sendo assim, na presente dissertação de mestrado optou-se pelo uso da
versão gratuita do o software SLOPE/W, da Geo-Slope International, a qual
disponibiliza análises de estabilidade de taludes pelo método de Bishop Simplificado,
entre outros.
Inicialmente, as seções litológico-constritivas, elaboradas durante a
modelagem do aterro, foram exportadas para o software SLOPE/W, onde foram
implementados os parâmetros geotécnicos inerentes aos materiais presentes no
modelo. Foram utilizadas as seções A-A’ e B-B’, apresentadas na Figura 23, sendo a
seção C-C’ desconsiderada, visto que o local já passou por eventos de
escorregamento, e não possui sondagens realizadas no topo do maciço.

8.3. Definição dos Parâmetros Geotécnicos dos Materiais

Posteriormente à definição do método analítico a ser utilizado, foram definidos


parâmetros geotécnicos para todos os materiais presentes nas seções transversais
elaboradas, incluindo os resíduos presentes no Aterro de Caetetuba e os litotipos que
constituem o substrato onde se assenta o maciço. Entre as propriedades designadas
aos pacotes definidos inclui-se peso específico, ângulo de atrito e coesão, de acordo
com o método analítico utilizado.
Os parâmetros geotécnicos inerentes aos litotipos que constituem o substrato
local foram definidos pelas propostas de correlação empírica entre o índice NSPT e os
parâmetros de resistência do solo, sendo adotada a correlação entre NSPT e ângulo
de atrito para solos arenosos proposta por DÉCOURT (1989, apud FONSECA, 1996,
p. 53), a correlação entre NSPT e a resistência não drenada para argilas proposta por
U. S. NAVY (1986, apud VELLOSO e LOPES, 2004, p. 48) e a correlação entre NSPT
e o peso especifico dos solos propostos por GODOY (1972, apud CHRISTA;N, 2013
p. 51).
106

Na definição da coesão dos pacotes argilosos, considerou-se a correlação


para argilas de alta plasticidade, de acordo com a realidade local. Na definição do
peso específico a partir das correlações empíricas adotadas, para os pacotes
arenosos foi considerado o valor sugerido para meios saturados.
Desta forma, na definição dos parâmetros geotécnicos dos pacotes que
constituem o substrato local a partir dos ensaios de penetração, foi considerada a
média dos valores de NSPT obtidos ao longo de cada pacote. Destaca-se que, a versão
gratuita do software SLOPE/W, disponível para estudantes, permite apenas análises
de estabilidade em perfis que apresentem no máximo 03 litotipos diferentes. Desta
forma, o pacote silto-arenoso, relativos aos solos de alteração do embasamento local,
foi integrado ao pacote de areia média a grossa.
O Quadro 15 apresenta os valores de NSPT adotados bem como os
parâmetros geotécnicos definidos para os pacotes que constituem o substrato local.
A Figura 24 apresenta os ábacos de correlação empírica para coesão e ângulo de
atrito, adotados na definição dos parâmetros geotécnicos, sendo: a) correlação entre
NSPT e ângulo de atrito para solos arenosos (DÉCOURT, 1989) e b) correlação entre
NSPT e a resistência não drenada de argilas (U. S. NAVY, 1986). O quadro de
correlação entre NSPT e o peso específico dos solos de GODOY (1972) foi apresentado
anteriormente.
Na definição dos parâmetros geotécnicos dos resíduos dispostos no aterro,
foram consideradas diversas possibilidades. Inicialmente foram utilizados os
resultados das sondagens com ensaio de penetração, realizadas nos resíduos, pelas
mesmas correlações adotadas para definição dos parâmetros geotécnicos inerentes
aos litotipos que constituem o substrato local.
Em um segundo plano, os parâmetros geotécnicos dos resíduos foram
definidos a partir das propostas levantadas na etapa da Pesquisa Bibliográfica, obtidos
por diversos autores a partir de retroanálises, por meio de ensaios de laboratório ou
por meio de ensaios in situ.
107

Quadro 15 – Valores de NSPT adotados e parâmetros geotécnicos definidos para os pacotes que
constituem o substrato local
Sondagem Unidade NSPT Coesão Ângulo de Atrito Peso Específico
Argila Orgânica 1 12,5 0 13
SP-02 Areia Média a 5 0 28 19
Grossa
Argila Orgânica 3 37,5 0 15
SP-03 Areia Média a 6 0 29 19
Grossa
Argila Orgânica 3 37,5 0 15
SP-04 Areia Média a 16 0 35 20
Grossa

45 30

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25

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40

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35 N 15 rgi last
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So rgila
w e rs : A
10 So

30

25
0 10 20 30 40 50 60 0 50 100 150 200
(N1)60 Su (kPa)

SP-02 - Areia Média a Grossa SP-02 - Argila Orgânica


SP-03 - Areia Média a Grossa SP-03 - Argila Orgânica
SP-04 - Areia Média a Grossa SP-04 - Argila Orgânica

Figura 24 – Ábacos de correlação empírica e valores de NSPT corrigidos para os pacotes que
constituem o substrato local (modificado de a) DÉCOURT (1989 apud FONSECA, 1996, p. 53) e
b) U. S. NAVY, 1986 apud VELLOSO e LOPES, 2004, p. 48).

8.3.1. Definição dos Parâmetros Geotécnicos dos Resíduos com


Base em Testes de Penetração

Segundo FUCALE (2002), a determinação dos parâmetros de resistência de


resíduos a partir de ensaios de penetração em solos pode ser realizada utilizando as
correlações empíricas e semi-empíricas entre a resistência à penetração in situ e o
comportamento de resistência e deformabilidade dos solos, desde que sejam
reconhecidas as diferenças entre os materiais.
108

De acordo com CARVALHO (1999, p. 68), na determinação dos parâmetros


de resistência de resíduos a partir de ensaios de penetração, é usual considerar os
resíduos como puramente coesivos (ĭ=0) ou puramente não coesivos (c=0). Alguns
autores discordam destas proposições, como MITCHELL e MITCHELL (1992, apud
CARDIM, 2008, p. 26) que alegam que embora não haja uma coesão verdadeira, é
razoável a inclusão da componente coesiva nas avaliações de resistência ao
cisalhamento. Os mesmos se baseiam no fato de que cortes praticamente verticais
em aterros permanecem estáveis por longos períodos.
Para SANCHEZ-ALCITURRI et. al. (1993, apud CARVALHO, 1999, p. 68), tais
suposições podem ser aplicadas apenas nos solos. No caso dos resíduos, onde não
existem bases firmes para tais afirmações, são mais adequadas as análises
considerando valores de coesão e ângulo de atrito.
OLIVEIRA (2002, p. 82) e CARVALHO (1999, p. 182) utilizam os valores
médios de NSPT obtidos para resíduos, excluindo-se os picos de resistência, e sua
correlação com solos arenosos para determinação do ângulo de atrito e coesão.
Conforme descrito por CARVALHO (1999, p. 182) os valores de NSPT maiores
que 20 golpes não correspondem ao NSPT real do material perfurado e representam o
esforço exercido para ultrapassar objetos resistentes presentes nos pacotes de
resíduos, como pedaços de borracha e madeira. De fato, os perfis de sondagens com
ensaio do tipo SPT contidos nos relatórios consultados na presente dissertação,
apresentam picos de resistência, os quais foram desconsiderados.
Desta forma, na definição dos parâmetros geotécnicos dos resíduos a partir
dos ensaios de penetração foram consideradas três possibilidades:

• Valores de coesão, ângulo de atrito e peso específico obtidos com base nas
correlações adotadas;
• Resíduos puramente coesivos (ĭ=0) com valor de coesão e peso específico
obtidos pelas correlações adotadas.
• Resíduos puramente não coesivos(c=0) com valor de ângulo de atrito e peso
específico obtidos pelas correlações adotadas.

Nos três casos foi considerada a média dos valores de NSPT obtidos ao longo
do pacote, excluindo-se os picos de resistência (NSPT > 20). Os valores médios de
NSPT foram plotados nos ábacos de correlação entre NSPT e ângulo de atrito de solos
109

arenosos (DÉCOURT 1989), NSPT e a resistência não drenada de argilas (U. S. NAVY,
1986) e NSPT e peso especifico dos solos úmidos de (GODOY, 1972).
Diferentemente da correlação para os pacotes do substrato, na definição da
coesão dos resíduos, considerou-se a correlação para argilas de baixa plasticidade,
em virtude dos altos valores obtidos nas correlações para argilas de média e alta
plasticidade, quando comparadas aos demais valores identificados na literatura. Na
definição do peso específico para os resíduos foi considerado o valor para meios
úmidos.
Destaca-se que nos perfis das sondagens executadas no aterro, foram
identificados dois pacotes de resíduos, sendo um pacote de resíduos de construção
civil sobreposto a um pacote de resíduos domésticos. No entanto, não foram
identificadas grandes diferenças entre o NSPT obtido no pacote de resíduos de
construção civil e o NSPT obtido no pacote de resíduos domésticos, de forma que toda
a pilha de resíduos foi considerada como um único pacote.
O Quadro 16 apresenta os valores de NSPT adotados bem como os
parâmetros geotécnicos definidos para os resíduos presentes. A Figura 25 apresenta
os ábacos de correlação empírica para coesão e ângulo de atrito, adotados na
definição dos parâmetros geotécnicos mesmos, sendo: a) correlação entre NSPT e
ângulo de atrito para solos arenosos (DÉCOURT, 1989) e b) correlação entre NSPT e
a resistência não drenada de argilas (U. S. NAVY, 1986). O quadro de correlação entre
NSPT e o peso especifico dos solos de GODOY (1972) foi apresentado anteriormente.

8.3.2. Definição dos Parâmetros Geotécnicos dos Resíduos com


Base em Propostas Literárias

Na etapa de Pesquisa Bibliográfica foram levantadas diversas propostas para


valores de coesão, ângulo de atrito e peso específico de resíduos sólidos (Quadro 6).
Entre as diversas propostas identificadas, foram selecionados os valores de coesão,
ângulo de atrito e peso específico sugeridos por duas propostas, sendo elas a
proposta de BENVENUTO e CUNHA (1991) e de KAVAZANJIAN et. al (1995).
110

Quadro 16 – Valores de parâmetros geotécnicos definidos para os resíduos a partir dos resultados
dos testes de penetração
Sondagem NSPT Coesão Ângulo de Atrito Peso Específico

Correlações SP-01 12 48 kPa 34º 19 kN/m3


empíricas SP-03 14 51 kPa 35º 19 kN/m3

Resíduos puramente SP-01 12 48 kPa 0º 19 kN/m3


coesivos SP-03 14 51 kPa 0º 19 kN/m3

Resíduos puramente SP-01 12 0 kPa 34º 19 kN/m3


não coesivos SP-03 14 0 kPa 35º 19 kN/m3

45 30

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30

25
0 10 20 30 40 50 60 0 50 100 150 200
(N1)60 Su (kPa)

SP-01 - Resíduos SP-01 - Resíduos


SP-03 - Resíduos SP-03 - Resíduos

Figura 25 – Ábacos de correlação empírica e valores de NSPT corrigidos para os resíduos


(modificado de a) DÉCOURT (1989 apud FONSECA, 1996, p. 53) e b) U. S. NAVY, 1986 apud
VELLOSO e LOPES, 2004, p. 48).

Os valores sugeridos por BENVENUTO e CUNHA (1991), se mostraram,


adequados visto que foram definidos com base em retroanálises de escorregamentos
ocorridos no Aterro Bandeirantes, no município de São Paulo – SP.
A relativa proximidade entre os municípios de São Paulo e Atibaia sugerem
uma composição dos resíduos domésticos presentes em ambos os maciços sem
grandes diferenças. Além disso, ambos os aterros sanitários são antigos e por isso,
os resíduos foram submetidos a condições de decomposição semelhantes.
BENVENUTO e CUNHA (1991), indicam valores de 13,5 kPa para coesão de
resíduos, 22º para ângulo de atrito e 13 kN/m3 para o valor de peso específico.
Por sua vez, os valores sugeridos por KAVAZANJIAN et. al (1995) foram
adotados em virtude da ampla citação de sua proposta nos artigos identificados
durante a pesquisa bibliográfica incluindo CARVALHO (1999, p. 68), CARDIM (2008,
111

p.48), FUCALE (2005, p. 72), MARQUES (2001, p. 42) NASCIMENTO (2007, p. 78)
NETO (2004, p. 35) OLIVEIRA (2002, p. 104).
A proposta de KAVAZANJIAN et. al (1995) é baseada em resultados de
ensaios de cisalhamento direto in situ e em laboratório, ensaios de carregamento de
placas e retroanálise (CARVALHO, 1999, p. 68), sendo os resíduos considerados
como puramente coesivos, com coesão de 24 kPa, para maciços submetidos a
tensões normais inferiores a 30 kPa. Para maciços submetidos a tensões normais
superiores a 30 kPa, os autores consideram os resíduos como não coesivos, com
ângulo de atrito de 33º. Para o peso específico foi adotada a proposta de
KAVAZANJIAN (2001), que sugere valores entre 10 kN/m3 e 20 kN/m3, sendo
considerado a pior situação (20 kN/m3).
Destaca-se que, entre as diversas propostas literárias, para definição dos
parâmetros geotécnicos dos resíduos, não foram identificadas propostas onde são
diferenciados os tipos de resíduos. Desta forma, toda a pilha de resíduos foi
novamente considerada como um único pacote.
O Quadro 17 apresenta os valores dos parâmetros geotécnicos adotados
para os resíduos de acordo com as propostas literárias selecionadas.

Quadro 17 – Valores de parâmetros geotécnicos adotados para os resíduos de acordo com as


propostas literárias
Proposta Coesão Ângulo de Atrito Peso Específico
BENVENUTO e CUNHA (1991) 13,50 kPa 22,00º 13,00 kN/m3

KAVAZANJIAN Tensão Normal > 30 kPa 0,00 kPa 33,00º 20,00* kN/m3
et. al (1995) Tensão Normal < 30 kPa 24,00 kPa 0,00º 20,00* kN/m3
*KAVAZANJIAN (2001)

8.4. Execução das Análises de Estabilidade de Taludes

Após a definição do método analítico e dos parâmetros geotécnicos inerentes


aos resíduos e aos pacotes que constituem o substrato local, foram executadas as
análises de estabilidade de taludes do Aterro de Caetetuba.
Conforme mencionado anteriormente, análises de estabilidade de taludes
foram realizadas considerando 06 cenários para os parâmetros geotécnicos dos
112

resíduos, denominados 01 até 06, sendo os cenários 01 a 03 com parâmetros


definidos a partir dos resultados dos ensaios de penetração e os cenários 04 a 06 com
parâmetros definidos a partir de propostas identificadas na pesquisa bibliográfica. O
fluxograma da Figura 26 apresenta um resumo dos parâmetros geotécnicos adotados
para os resíduos nas análises de estabilidade.

c=48 kPa , ĭ=34º, ࢢ=19 kN/m3

Cen 1
Correlações p/ todos Seção A - A’
Ensaios de Penetração

os parâmetros Seção B - B’ c=51 kPa , ĭ=35º, ࢢ=19 kN/m3

c=48 kPa , ĭ=0º, ࢢ=19 kN/m3

Cen 2
Resíduos puramente Seção A - A’
coesivos Seção B - B’ c=51 kPa , ĭ=0º, ࢢ=19 kN/m3

c=0 kPa , ĭ=34º, ࢢ=19 kN/m3

Cen 3
Resíduos puramente Seção A - A’
não coesivos Seção B - B’ c=0 kPa , ĭ=35º, ࢢ=19 kN/m3

Cen 4
Seção A - A’
c=13,5 kPa , ĭ=22º, ࢢ=13 kN/m3
BENVENUTO e Seção B - B’
Propostas Literárias

CUNHA (1991)

Cen 5
Tensões normais Seção A - A’
c=0 kPa , ĭ=33º, ࢢ=20 kN/m3
superiores a 30 kPa Seção B - B’
KAVAZANJIAN et. al
(1995)

Cen 6
Tensões normais Seção A - A’
c=24 kPa , ĭ=0º, ࢢ=20 kN/m3
inferiores a 30 kPa Seção B - B’

Figura 26 – Resumo dos parâmetros geotécnicos adotados para os resíduos nas análises de
estabilidade realizadas

As análises de estabilidade foram realizadas inicialmente pelo método de


Bishop Simplificado, sendo as análises por outros métodos analíticos realizadas
posteriormente. Estipulou-se um número duas mil interações para cada uma das
análises de estabilidade realizadas, sendo geradas aproximadamente 120 superfícies
potenciais de ruptura a cada análise. Nas seções geradas no software é destacada a
superfície potencial de ruptura crítica (com menor fator de segurança), seguida das
próximas 4 superfícies mais críticas.
A Figura 27 apresenta as seções implementadas no software SLOPE/W com
as análises de estabilidade realizadas para os 06 cenários definidos. O Quadro 18
apresenta os fatores de segurança calculados para os 06 cenários.
Conforme observado na Figura 27 e no Quadro 18, os resultados das
análises de estabilidade variam amplamente em função dos parâmetros geotécnicos
adotados, sendo obtidos valores entre 1,939, indicativo de estabilidade do maciço, e
0,468, indicativo de instabilidade do maciço.
Seção A - A’ Seção B - B’

Seção A - A’ Seção B - B’

Seção A - A’ Seção B - B’

Seção A - A’ Seção B - B’

Seção A - A’ Seção B - B’
114

Quadro 18 – Fatores de segurança calculados para os 06 cenários definidos


Cenário Seção Fator de Segurança Situação
Seção A - A' 1,936 Estável
Cenário 1
Seção B - B' 1,939 Estável
Seção A - A' 1,097 Estável
Cenário 2
Seção B - B' 1,032 Estável
Seção A - A' 0,827 Instável
Cenário 3
Seção B - B' 0,951 Instável
Seção A - A' 1,354 Estável
Cenário 4
Seção B - B' 1,504 Estável
Seção A - A' 1,060 Estável
Cenário 5
Seção B - B' 0,954 Instável
Seção A - A' 0,468 Instável
Cenário 6
Seção B - B' 0,579 Instável

Os resultados obtidos no primeiro cenário, no qual todos os parâmetros


geotécnicos dos resíduos foram definidos pelas correlações empíricas adotadas,
atingiram valores de 1,936 para a seção A – A’ e 1,939 para a seção
B – B’, ambos indicativas de condições de estabilidade.
Os resultados obtidos no segundo cenário, onde os resíduos foram
considerados como puramente coesivos (ĭ=0), foram obtidos valores de 1,097 para
a seção A – A’ e 1,032 para a seção B – B’, ambos indicativas de condições de
estabilidade, apesar de próximos da condição de equilíbrio limite (Fs=1).
No terceiro cenário, onde os resíduos foram considerados como puramente
não coesivos (c=0), foram obtidos valor de 0,827 para a seção A – A’ e 0,951 para a
seção B – B’, indicando condições de instabilidade.
No quarto cenário, onde as análises foram realizadas a partir dos parâmetros
sugeridos por BENVENUTO e CUNHA (1991), foram obtidos valores de 1,354 pra a
seção A – A’ e 1,504 para a seção B – B’, ambos indicativos de condições estáveis
para o Aterro de Caetetuba.
Os resultados obtidos no quinto cenário, onde foram considerados os valores
de KAVAZANJIAN et. al (1995), para maciços submetidos a tensões normais
superiores a 30 kPa, com peso específico de 20 kN/m3, conforme proposta de
KAVAZANJIAN (2001), foram obtidos valores de fator de segurança de 1,060 para a
seção A – A’ e 0,954 para a seção B – B’.
Finalmente, os resultados obtidos no sexto cenário, onde foram considerados
os valores de KAVAZANJIAN et. al (1995) para maciços submetidos a tensões
normais inferiores a 30 kPa, com peso específico de 20 kN/m3, conforme proposta de
115

KAVAZANJIAN (2001), foram obtidos valores de fator de segurança de 0,468 para a


seção A – A’ e 0,579 para a seção B – B’, ambos indicativos de condições de
instabilidade.
Após a execução das análises de estabilidade de taludes do Aterro de
Caetetuba, pelo método de Bishop Simplificado, as mesmas foram novamente
realizadas, utilizando outros métodos analíticos disponíveis no software SLOPE/W.
Entre os métodos identificados na pesquisa bibliográfica da presente dissertação, são
oferecidos no software SLOPE/W, além do método simplificado de Bishop, os
métodos: de Fellenius; Simplificado de Jambu; de Spencer; e de Morgenstern e Price.
A Figura 28 apresenta uma comparação entre os fatores de segurança
calculados pelos diversos métodos oferecidos pelo software SLOPE/W, sendo
realizada a comparação entre os valores obtidos individualmente e uma comparação
entre a média de cada seção dos valores obtidos pelos diferentes métodos
2,500

1,948

1,941
1,941
1,939
1,940

1,936
1,896
1,877
2,000

1,793
1,769
1,504
1,500
1,501
1,409
1,408
1,500

1,354
1,317
1,315

1,245
1,231

1,154
1,154
1,116
1,116

1,097
1,093
1,093
1,063
1,063
1,060
1,057
1,057

1,032
1,031
1,031
1,009
0,996
0,996

0,970
0,954
0,953
0,953

0,951
0,951
0,951

0,919
0,913

0,873
1,000

0,827
0,811
0,579

0,579
0,579
0,579
0,561

0,468
0,468
0,462
0,449

0,439

0,500

por diferentes métodos


0,000
Seção A - A' Seção B - B' Seção A - A' Seção B - B' Seção A - A' Seção B - B' Seção A - A' Seção B - B' Seção A - A' Seção B - B' Seção A - A' Seção B - B'
Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4 Cenário 5 Cenário 6
Simplificado de Bishop 1,936 1,939 1,097 1,032 0,827 0,951 1,354 1,504 1,060 0,954 0,468 0,579
Fellenius 1,793 1,769 1,093 1,031 0,811 0,951 1,245 1,408 1,057 0,953 0,439 0,579

Resultados das análises de estabilidade executadas


Simplificado de Jambu 1,896 1,877 1,093 1,031 0,873 0,970 1,231 1,409 1,057 0,953 0,462 0,561
Spencer 1,941 1,940 1,154 1,063 0,919 1,009 1,317 1,501 1,116 0,996 0,468 0,579
Morgenstern e Price 1,941 1,948 1,154 1,063 0,913 0,951 1,315 1,500 1,116 0,996 0,449 0,579

Simplificado de Bishop 1,124



Fellenius 1,073

Simplificado de Jambu 1,102


Spencer 1,153
 
Morgenstern e Price 1,148

1,000 1,050 1,100 1,150 1,200
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 *  *

%&()    


 

Média dos resultados por método analítico


Figura 28 – Comparação entre os fatores de segurança calculados
através de diferentes métodos
117

9. CONCLUSÕES

Conforme observado na Figura 27, são grandes as diferenças obtidas nos


fatores de segurança calculados em função das variações nos parâmetros de
resistência adotados.
Os resultados obtidos nas análises de estabilidade de taludes realizadas no
primeiro cenário, foram os maiores valores obtidos em todas as análises de
estabilidade realizadas, sendo o fator de segurança de 1,936 para a seção A – A’ e
1,939 para a seção B – B’. Em ambos os casos observa-se uma ampla nuvem de
superfícies de ruptura, com as superfícies críticas se iniciando próximas a crista do
talude passando pela base dos mesmos, sendo a seção B – B’ um pouco mais
profunda. Nota-se que o primeiro cenário apresenta os maiores valores de parâmetros
de resistência adotados para os resíduos entre todos os cenários analisados.
A relação direta entre parâmetros de resistência e fatores de segurança
calculados fica clara ao se analisar separadamente os resultados dos três primeiros
cenários, onde os paramentos geotécnicos dos resíduos foram definidos com base
nos resultados das sondagens com teste de penetração.
Temos no primeiro cenário valores definidos para coesão e ângulo de atrito.
No segundo cenário manteve-se o valor de coesão e minimizou-se o valor do ângulo
de atrito (ĭ=0), sendo verificado a diminuição do fator de segurança calculado. No
terceiro cenário manteve-se o valor de ângulo de atrito e minimizou-se o valor de
coesão (c=0), sendo novamente verificado a diminuição do fator de segurança
calculado.
Os resultados obtidos nas análises de estabilidade de taludes realizadas no
segundo cenário se mostraram próximas da condição de equilíbrio limite (Fs=1) sendo
obtido valor de 1,097 para a seção A – A’ e 1,032 para a seção B – B’. Em ambos os
casos observa-se uma superfície crítica de ruptura subsuperfícial, contida entre e
crista e a base dos taludes sendo as superfícies de ruptura mais profundas
representadas, referentes a fatores de segurança mais altos. No caso da seção
A – A’, que apresenta uma nuvem de superfícies de ruptura pouco mais ampla que a
seção B – B’, a superfície potencial de ruptura mais profunda representada
corresponde a um fator de segurança de 1,316. Na seção B – B’ a superfície potencial
118

de ruptura mais profunda representada corresponde a um fator de segurança de


1,162.
No terceiro cenário ambos os fatores de segurança obtidos se mostraram
inferiores a situação de equilíbrio limite, sendo obtido o valor de 0,827 para a seção
A – A’ e 0,951 para a seção B – B’. Em ambos os casos observa-se uma ampla nuvem
de superfícies de ruptura. Destaca-se que entre as superfícies potenciais de ruptura
geradas para a seção B – B’, a superfície de ruptura crítica é a única com valor do
fator de segurança inferior a 1, com todas as outras superfícies geradas, apresentando
fatores de segurança superiores a 1,008. Destaca-se ainda que esta superfície crítica,
gerada na seção B – B’, se inicia nos limites da seção implementada, sendo a
superfície correspondente ao fator de segurança de 1,008 a mais crítica entre as
superfícies que não interceptam os limites da seção. No caso da seção A – A’, a
superfície crítica de ruptura se inicia antes da crista do talude passando próximo a
base do mesmo.
Nas análises de estabilidade de taludes realizadas com parâmetros definidos
a partir de propostas literárias (Cenários 04 até 06), percebe-se que os maiores
valores de segurança foram obtidos no quarto cenário com análises realizadas a partir
dos parâmetros para resíduos sugeridos por BENVENUTO e CUNHA (1991). No
quarto cenário, onde foram obtidos valores de 1,354 pra a seção A – A’ e 1,504 para
a seção B – B’, ambas as seções apresentam superfícies críticas de ruptura com
profundidade intermediaria (quando comparadas aos outros cenários), com a
superfície crítica de ruptura do cenário A – A’ passando próxima a crista e a base do
talude e a superfície crítica de ruptura do cenário B – B’ se iniciando pouco antes da
crista do talude e terminando pouco antes da base do mesmo. A seção A – A’
apresenta nuvem de superfícies de ruptura pouco mais ampla que a seção B – B’.
Os resultados obtidos no quinto cenário, onde foram considerados os valores
de KAVAZANJIAN et. al (1995), para maciços submetidos a tensões normais
superiores a 30 kPa, e os valores de KAVAZANJIAN (2001) para o peso específico,
foram obtidos valores de fator de segurança de 1,060 para a seção A – A’ e 0,954
para a seção B – B’. Em ambos os casos observa-se resultados próximos a condição
de equilíbrio limite (Fs=1), com superfície crítica de ruptura subsuperfícial, contida
entre e crista e a base dos taludes sendo as superfícies de ruptura mais profundas
geradas nas análises, referentes a fatores de segurança mais altos. No caso da Seção
A – A’, que apresenta uma nuvem de superfícies de ruptura pouco mais ampla que a
119

seção B – B’, a superfície potencial de ruptura mais profunda representada


corresponde a um fator de segurança de 1,264. Na seção B – B’ a superfície potencial
de ruptura mais profunda representada corresponde a um fator de segurança de
1,076.
Os resultados obtidos no sexto cenário, onde foram considerados os valores
de KAVAZANJIAN et. al (1995) para maciços submetidos a tensões normais inferiores
a 30 kPa, e os valores de KAVAZANJIAN (2001) para peso especifico foram obtidos
os menores fatores de segurança entre todas as análises de estabilidade realizadas.
As superfícies críticas geradas se iniciam antes da crista do talude passando próximo
a base dos mesmos. Em ambos os casos observa-se uma ampla nuvem de
superfícies de ruptura.
Considerando a hipótese de que a situação de estabilidade do Aterro de
Caetetuba encontre-se próxima as condições de equilíbrio limite (Fs=1), visto que
apresenta feições de estabilidade mas permanece relativamente estável, pode-se
afirmar que os cenários de parâmetros geotécnicos mais adequados sejam os
parâmetros dos segundo, terceiro e quinto cenários, visto que apresentaram fatores
de segurança próximos a 1. Destaca-se que os segundo e quinto cenários
apresentaram superfícies potenciais de ruptura pouco profundas, podendo ser o
terceiro cenário considerado como mais representativo das condições de estabilidade
do aterro. Conforme mencionado anteriormente, na seção B – B’ do terceiro cenário,
a superfície de ruptura crítica é a única com valor do fator de segurança inferior a 1,
com todas as outras superfícies geradas, apresentando fatores de segurança
superiores a 1,008.
Neste contexto, o primeiro cenário, que apresentou os maiores resultados de
fator de segurança, e o sexto cenário, que apresentou os menores resultados de fator
de segurança, representariam os cenários com parâmetros geotécnicos de resíduos
menos adequados.
Conforme observado na Figura 28, não se verificam diferenças significativas
nos fatores de segurança calculados em função da variação do método adotado,
sendo a máxima variação observada na comparação entre o fator de segurança
calculado pelo método de Fellenius (Fs=1,769) e pelo método de Morgenstern e Price
(Fs=1,948) na seção B-B’ do segundo cenário, com diferença de 0,179, ou seja,
aproximadamente 10%.
120

Em geral, nota-se uma tendência de valores mais altos para os métodos de


Spencer e de Morgenstern e Price, os quais apresentaram fatores de segurança muito
semelhantes, sendo verificado igualdade de resultados na seção A – A’ dos primeiro,
segundo, terceiro e quinto cenários e na seção B –B’ dos segundo, quinto e sexto
cenários. Destaca-se que estes são os mesmos cenários a apresentar superfícies
potenciais de ruptura pouco profundas.
Os valores de fator de segurança mais baixos foram obtidos pelo Método de
Fellenius, que por sua vez apresentou resultado iguais aos obtidos pelo Método
Simplificado de Jambu para ambas as seções nos segundo e quinto cenários.
Quando analisadas as médias dos resultados obtidos por cada método
analítico observa-se novamente valores mais altos para os fatores de segurança
calculados pelos métodos de Spencer e de Morgenstern e Price, e valores mais baixos
para o Método de Fellenius.
Considerando o Método de Fellenius como o método com menores fatores de
segurança, pode-se dizer o mesmo apresenta resultados mais favoráveis a
segurança, no caso de projeção de aterros sanitários. Apesar do rigor na segurança,
exageros podem inviabilizar economicamente alguns projetos (TONUS, 2009, p. 46).
Considerando a norma ABNT NBR 11682 que define valores de fator de
segurança mínimos para projetos de taludes e encostas, de acordo com o grau de
segurança exigido pelo local, pode-se afirmar que o fator de segurança mínimo aceito
para a área do Aterro de Caetetuba é de 1,50, visto que o local apresenta proximidade
imediata com edificações habitacionais, sendo enquadrado como locais com
necessidade de alto grau de segurança. Neste caso, apenas os resultados obtidos em
ambas as seções do primeiro cenário e na seção B – B’ do quarto cenário atenderiam
os requisitos mínimos de segurança.
A implementação dos métodos de análise de estabilidade de taludes no
software SLOPE/W, apesar das limitações impostas em sua versão gratuita, se
mostrou uma boa ferramenta de análise de estabilidade de taludes, visto que foi
possível realizar as análises de estabilidade do Aterro de Caetetuba utilizando apenas
dados básicos de investigação, como plantas topográficas, sondagens com ensaios
de penetração e propostas literárias. Estas informações correspondem a dados de
acesso fácil e barato, compatíveis com o orçamento da maioria dos administradores
de aterros sanitários e lixões, como no caso da Prefeitura de Atibaia.
121

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