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DOI: 10.

53660/CONJ-1294-X06

Avaliação do descarte de medicamentos e implicações ao meio


ambiente e à saúde
Evaluation of drug disposal and implications for the environment and health

Karen Kalinca Feitosa da Silva¹; Vanessa Brito Barbosa1; Alessandra Silveira Antunes
Araujo1*

RESUMO
O descarte inadequado de medicamentos em desuso é um problema devido as consequências que estes
resíduos trazem ao meio ambiente e à saúde. Apesar da legislação, há uma defasagem imensa de
conhecimento por parte da população. Foi realizado um estudo observacional por meio da aplicação de um
questionário, em ambiente virtual, para avaliar como os acadêmicos, com idade maior ou igual à 18 anos,
do curso de Biomedicina do Centro Universitário UNIGRAN Capital, Campo Grande - MS, descartam os
resíduos de medicamentos em suas residências e avaliar o conhecimento acerca das formas corretas de
descarte e as implicações que o descarte incorreto geram ao meio ambiente e à saúde pública. Os resultados
evidenciam que a maioria dos participantes da pesquisa, apresentaram falta de conhecimento sobre o
descarte correto de medicamentos que sobram ou estão vencidos em suas residências e por isso realizam
incorretamente a disposição destes resíduos que são tão prejudiciais ao meio ambiente e à saúde. Ficou
evidente a necessidade de realização de campanhas para orientar a população sobre as formas corretas de
descarte garantindo uma gestão eficiente e o cumprimento do disposto na legislação.
Palavras-chave: Resíduos de medicamentos; Logística reversa; Contaminação por medicamentos.

ABSTRACT
The inappropriate disposal of disused medicines is a problem due to the consequences that these residues
bring to the environment and health. Despite the legislation, there is a huge gap in knowledge on the part
of the population. An observational study was carried out through the application of a questionnaire, in a
virtual environment, to evaluate how academics, aged 18 years or older, from the Biomedicine course at
the UNIGRAN Capital University Center, Campo Grande - MS, dispose of waste of medicines in their
homes and assess knowledge about the correct forms of disposal and the implications that incorrect disposal
generates for the environment and public health. The results show that most of the research participants
showed a lack of knowledge about the correct disposal of medicines that are left or expired in their homes
and therefore incorrectly dispose of these wastes that are so harmful to the environment and health. It was
evident the need to carry out campaigns to guide the population on the correct forms of disposal, ensuring
efficient management and compliance with the provisions of the legislation.
Keywords: Drug residues; Reverse logistics; Drug contamination.

_____________________
1
Centro Universitário UNIGRAN Capital.
*
E-mail: alessandra.antunes@unigran.br

Conjecturas, ISSN: 1657-5830, Vol. 22, Nº 8


INTRODUÇÃO
Avanços da ciência na área da saúde trouxeram vários benefícios à população,
pois proporcionaram aumento considerável na fabricação de novas fórmulas e na
quantidade de medicamentos disponíveis para comercialização e consumo (PINTO et al.,
2014). Quando os medicamentos, que excedem o prazo de validade ou que sobram de
tratamentos interrompidos, são descartados de forma errada, geram um grande problema
devido aos impactos negativos ao meio ambiente e à saúde da população (BRASIL et al.,
2018).
Medicamentos são considerados resíduos de serviços de saúde (RSS) de acordo
com a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) n° 358/2005 e
de acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada - RDC n° 222/2018 da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ambas as resoluções regulamentam sobre o
gerenciamento dos RSS visando a proteção e qualidade do meio ambiente e da saúde
pública.
No Brasil, há a Lei nº 12.305/10 regumentada pelo Decreto 10.936/22, que institui
a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Esta lei objetiva o avanço no
enfrentamento de problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo
inadequado dos resíduos sólidos visando a adoção de práticas sustentáveis. A PNRS não
cita, em sua publicação de 2010, diretamente os medicamentos, mas, atribuiu ao Comitê
Orientador para a Implementação de Sistemas de Logística Reversa (CORI) a
competência para aprovar os estudos de viabilidade técnica e econômica, e deste modo
foi incluído também o descarte de medicamentos através da Deliberação n° 8 de 8 de
agosto de 2013 e pelo Decreto nº 10.388 de 5 de junho de 2020 no sistema de logística
reversa (SLR).
Com a inserção dos medicamentos no SLR na legislação brasileira, os
medicamentos não utilizados, vencidos ou não, devem retornar ao fabricante a fim de
reduzir o impacto ambiental negativo que estes resíduos podem causar sobre a saúde e o
meio ambiente (PIAZZA e PINHEIRO, 2014). Estes produtos podem conter substâncias
que não se degradam naturalmente e que podem ocasionar a contaminação do solo e,
consequentemente, dos lençóis freáticos, atingindo animais, vegetação e o homem
(ALVARENGA e NICOLETTI, 2010).
De acordo com o Conselho Regional de Farmácia do Paraná (2018), o Brasil
é osétimo país que mais consome medicamentos no mundo e a população brasileira gera

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mais de 10 mil toneladas de resíduos deste gênero por ano. A maioria da população
brasileira, tem o hábito de fazer automedicação, de interromper tratamentos com
medicamentos, de doar sobrasde medicamentos a pessoas conhecidas e de armazenar
medicamentos em casa (Conselho Federal de Farmácia, 2019). Portanto, boa parte dos
medicamentos que sobram nas residências favorece o seu uso irracional e o descarte de
forma inadequada. A forma de disposição destes no meio ambiente e as diversas
condições climáticas pode gerar o desequilíbrio do ecossistema (RODRIGUES et al.,
2018).
O SLR de medicamentos surge como uma opção para solucionar a questão, uma
vez que se trata de um sistema utilizado em alguns países, apresentando resultados
positivos. Como o sucesso deste sistema depende do comprometimento de todos
envolvidos na cadeia produtiva farmacêutica, que envolve indústria, distribuidoras,
drogarias e usuários, torna-se prudente conhecer o entendimento e a percepção desses
atores frente a esse grave problema ambiental (CAMPANHER, 2016).
No Brasil, infelizmente, é comum as pessoas descartarem medicamentos no lixo
residencial (SOUZA et al., 2018) e estes vão ser dispostos em lixões, aterros controlados
e aterros sanitários. De acordo com a PNRS (2010), os lixões e aterros controlados
deveriam tersido erradicados no ano de 2014, porém, diante da realidade nacional, este
prazo foi prorrogado para 2021. Infelizmente, na atualidade, ainda temos um grande
número de lixões e aterros controlados em nosso país. Quando o município não dispõe de
aterro sanitário, a situação fica ainda pior, devido aos catadores de lixo e animais que
acabam tendo contato direto com os medicamentos e, na maioria das vezes, esses
indivíduos passam a fazer uso desses medicamentos, ou até mesmo retiram esses produtos
das embalagens e derramam no próprio solo.
O descarte de medicamentos vencidos ou em desuso pode produzir impactos
ambientais extremamente relevantes, afetando diversos ecossistemas. Fato especialmente
preocupante refere-se aos medicamentos que podem causar dependência física ou
psíquica,aos antibióticos, hormônios, anestésicos, meios de contraste de raios X e anti-
inflamatórios que devido às suas propriedades físico-químicas, podem contaminar através
das vias oral, percutânea e/ou respiratória diretamente os seres vivos que habitam o solo,
rios, lagos e oceanos (COSTA et al., 2017).
De acordo com a farmacêutica Mardeny Milesi, da Sandoz do Brasil (2018),
toneladas de medicamentos são descartados anualmente no país e o descarte incorreto

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expõe o ambiente e a população a diversas substâncias contaminantes que afetam a vida
das pessoas direta ou indiretamente. Ela cita dados do ano de 2010 da Companhia Brasil
Health Service (BHS), queapontam que a cada 1kg de fármaco descartado via esgoto pode
contaminar até 450 mil litros de água. O que evidencia que parte da população brasileira
utiliza água contaminada por medicamentos todos os dias.
De acordo com CAMPANHER (2016), grande parte dos usuários de
medicamentos nunca procurou saber a forma correta do descarte, indicando a necessidade
da introdução de uma educação ambiental eficiente no Brasil, com intuito de alterar o
atual cenário relacionado à questão do descarte inadequado de medicamentos. Vários
pesquisadores relatam a falta de conhecimento sobre descarte de medicamentos tanto pela
população usuária quanto por pessoas que integram os sistemas de saúde e de logística
reversa de medicamentos.
No estado de Mato Grosso do Sul existem duas normas jurídicas que tratam sobre
o descarte de medicamento. A Lei nº 2.517/2002 dispõe sobre a responsabilidade das
indústrias farmacêuticas e das empresas de distribuição de medicamentos quanto a
destinação adequada aos medicamentos com prazos de validade vencidos, e adota outras
providências. E, a Lei nº 4.474/2014 que dispõe sobre a obrigatoriedade das farmácias e
drogarias manterem recipientes para coleta de medicamentos, cosméticos, insumos
farmacêuticos e correlatos, deteriorados ou com prazo de validade expirado. Devemos
seguir o disposto na legislação, e criar programas para orientar a população e assim,
acabar com a prática incorreta do descarte de medicamentos diminuindo os danos
ambientais e à saúde pública.
A conscientização sobre o descarte adequado de medicamentos por parte da
populaçãoe também dos profissionais da área da saúde é fundamental para diminuir o
nível de desinformação e os problemas ambientais e de saúde pública. Somente com a
divulgação e informação sobre os procedimentos corretos de acordo com a legislação
vigente pautada no SLR é que se conseguirá mitigar os impactos negativos ao meio
ambiente e, consequentemente, à saúde pública causados pelos descartes incorretos destes
resíduos.
Neste contexto, o presente estudo objetiva verificar a forma como os acadêmicos
do curso de Biomedicina do Centro Universitário UNIGRAN Capital realizam a
destinação dos seus resíduos de medicamentos, bem como, avaliar o conhecimento sobre
o descarte correto e as implicações do descarte inadequado à saúde e ao meio ambiente e

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ainda avaliar a necessidade da realização de campanhas de informação sobre as formas
corretas de descarte para este tipo de resíduo.

MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizado um levantamento bibliográfico baseado em legislações, notícias e
artigos científicos, visando compreender a situação do descarte de medicamentos e as
implicações à saúde e ao meio ambiente causadas pela destinação inadequada destes
produtos a partir da publicação da Lei 12.305 que dispõe sobre a Política Nacional de
Resíduos Sólidos – PNRS, publicada em 2010. Foram usados como descritores os termos:
descarte de medicamentos, legislação para medicamentos, logística reversa, descarte de
fármacos, contaminação ambiental por medicamentos. No presente trabalho foram
incluídos, os materiais que apresentaram total relação entre medicamento, descarte, saúde
e meio ambiente em âmbito nacional.
Realizou-se um estudo observacional com abordagem qualitativa e quantitativa,
por meio da aplicação de um formulário em ambiente virtual, com os acadêmicos do curso
de Biomedicina do Centro Universitário UNIGRAN Capital, localizado em Campo
Grande – MS, no primeiro bimestre do ano de 2022. Participaram deste estudo os
acadêmicos que aceitaram responder ao formulário e que tinham idade igual ou superior
a dezoito anos. O formulário é um questionário autoexplicativo e não houve intervenção
das pesquisadoras durante o seu preenchimento.
O questionário foi aplicado e elaborado utilizando-se o Google Forms, foi
enviado, via e-mail, na forma de lista oculta, para garantir a não identificação dos
convidados(as) que participaram da pesquisa. No e-mail, havia uma apresentação da
pesquisa e o link que direcionava o acadêmico ao Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido – TCLE para que ele pudesse avaliar se participaria ou não da pesquisa. As
perguntas constantes no formulário não eram de resposta obrigatória, podendo o
participante julgar se iria responder ou não.
O presente estudo segue a Resolução da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
- CONEP do Ministério da Saúde nº 466, de 12 de dezembro de 2012, e cumpre todas as
orientações do CONEP, publicadas em 24 de fevereiro de 2021, para procedimentos em
pesquisa com qualquer etapa em ambiente virtual.
Este projeto foi submetido à análise do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) na
Plataforma Brasil e aprovado em 06 de outubro de 2021, com Parecer Consubstanciado

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do CEP nº 5.022.862, expedido pelo Centro Universitário da Grande Dourados –
UNIGRAN.
Os dados obtidos foram tabulados, organizados e analisados por meio de
ferramentas da análise estatística descritiva utilizando-se o programa Excel.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O formulário de pesquisa para obtenção dos dados foi respondido por 171
acadêmicos do curso de Biomedicina do Centro Universitário Unigran Capital que
aceitaram participar da pesquisa. Verificou-se um predomínio de participantes do sexo
feminino (85,5%). A idade média é de 23,8 ± 7,4 anos e a participação na pesquisa foi
maior com os acadêmicos do 7° semestre letivo (37,8%), seguido do 3° semestre (34,9%),
do 1° semestre (15,1%) e por último do 5° semestre (12,2%). Nas residências dos
participantes moram de 1 a 7 pessoas. Sendo que de 1 a 2 pessoas correspondem a
30,4%; de 3 a 4 pessoas correspondem a 50,9% e nos 18,7% restantes moram acima de 5
pessoas.
Verificou-se que 85,5% dos participantes possuem medicamentos armazenados
em casa, a conhecida “farmácia caseira”. Esta informação corrobora com os estudos
realizados por outros pesquisadores, onde mais de 75% dos entrevistados relataram
possuir estoques domésticos de medicamentos em suas residências (HOPPE E ARAÚJO,
2018; SOUZA et al., 2018). Sendo que a maioria guarda os medicamentos na cozinha e
no quarto conforme apresentado na Figura 1. Vale ressaltar que o armazenamento de
medicamentos deve acontecer em locais seguros, sem exposição à luz, calor e umidade
e longe do alcance de crianças.
Santos e Frizon (2019) citam em seu estudo que armazenar medicamentos em casa
é um ato que pode gerar o uso de medicamentos inadequados para a patologia existente
quando sintomas semelhantes são causados por patologias distintas. A reutilização de
medicamentos pode também facilitar trocas e, quando o medicamento estiver vencido,
causar danos à saúde ou a não observância do efeito esperado.

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Figura 1 - Armazenamento dos medicamentos nas residências dos participantes da pesquisa.
50 47,7
43,6
Frequência relativa (%)

40

30

20

10 4,6
2,9 1,2
0
banheiro cozinha lavanderia quarto sala
Locais de armazenamento dos medicamentos nas residências

Fonte: Autoria própria (2022).

A Figura 2 apresenta os tipos de medicamentos armazenados nas residências dos


171 acadêmicos que participaram da pesquisa. Ressalta-se, que os acadêmicos nesta
questão, poderiam marcar mais de uma opção em relação aos tipos medicamentos que
possuíam em suas residências no momento da participação na pesquisa.

Figura 2 - Medicamentos que os acadêmicos possuíam em suas residências no momento da


pesquisa.

outros(xarope, pomada, antialérgico,


150
anticoncepcionais, hipertensivos
Tipos de Medicamentos

Anti-inflamatório 99

Antidepressivo 33

Analgésico 135

Antibiótico 61

0 50 100 150
Frequência absoluta

Fonte: Autoria própria (2022).

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Diante da quantidade de diferentes classes medicamentosas nas residências, nota-
se a necessidade de uma campanha de educação das famílias que fazem o uso de
medicamentos, destacando o papel importante dos agentes comunitários de saúde e de
todos os profissionais da área para sensibilizar e incentivar as famílias ao uso racional e
ao armazenamento adequado dos medicamentos (RAMOS et al., 2017).
Esses medicamentos são considerados poluentes orgânicos emergentes, bem
como uma variedade de outros produtos comercializados que incluem, além de
medicamentos, produtos de uso veterinário, de higiene, agrotóxicos, entre outros (SILVA
& COLLINS, 2011). Estes compostos causam uma série de impactos negativos ao meio
ambiente, principalmente nos recursos hídricos, e consequentemente, à saúde pública.
A decomposição de medicamentos no meio ambiente causa uma grande
preocupação para a comunidade cientifica, visto que, as substâncias químicas presentes
nos princípios ativos, mesmo sendo em baixa concentração, acabam modificando o
desenvolvimento dos seres vivos. Neste enquadramento, pode-se mencionar os
antibióticos, que ao serem descartados no meio ambiente acabam cooperando para a
evolução de bactérias resistentes; outro exemplo, é o hormônio, que provoca danos na
reprodução de seres vivos aquáticos (RODRIGUES et al., 2018).
Quanto as formas de lidar com as sobras de medicamentos em suas residências
(Figura 3), observou-se que 19,2% realizam práticas completamente erradas, pois
descartam na pia, vaso sanitário e no lixo residencial. Esta ação é muito preocupante, pois
assim como estes acadêmicos, grande parte da população brasileira também adota uma
destas medidas que causam a contaminação ambiental e problemas de saúde humana e
animal. Isto ocorre porque estes medicamentos que são descartados no lixo comum
acabam sendo depositados em lixões, aterros controlados e aterros sanitários, não
recebendo o tratamento adequado de incineração e assim, contaminando o meio ambiente.
Apenas 4,7% dos acadêmicos alegaram entregar as sobras de medicamentos às farmácias
ou às unidades de saúde, prática esta que deveria ser adotada por toda população.

1018
Figura 3 - Ações adotadas com as sobras de medicamentos pelos acadêmicos no momento
da pesquisa.

outro 2,3
Formas de descarte de medicamentos

põe no lixo 17,4

não sobra 13,3

guarda para usar quando precisar 59,3

entrega na farmácia 3,5

doa a amigos, vizinhos, parentes 1,2

devolve à unidade de saúde 1,2

descarta no vaso sanitário 1,2

descarta na pia 0,6

0 10 20 30 40 50 60
Frequência relativa (%)

Fonte: Autoria própria (2022).

Quando descartados na pia ou vaso sanitário, os medicamentos entram no


sistema de esgoto, introduzindo substâncias químicas, que muitas vezes podem ser
tóxicas. Em seguida essa água contaminada passa pela rede de esgoto e segue para a
estação de tratamento. Pinto e colaboradores (2014) destacam que as substâncias
químicas presentes em fármacos que são eliminados na rede de água e esgoto não podem
ser removidas completamente pelo tratamento de água convencional, isso se deve às suas
propriedades químicas, e alguns ainda apresentam poder de bioacumulação e baixa
biodegradabilidade, que são conferidas aos mesmos no momento de sua formulação.
Por isso, não há métodos sanitários que os elimine completamente da água, pela
aplicação das técnicas tradicionais de tratamento de esgoto/água.
Verificou-se que 16,9% dos acadêmicos possuíam medicamentos vencidos em
casa no momento da participação na pesquisa, enquanto 61,0% não possuíam e 22,1%
não sabiam informar, pois não tem o hábito de verificar as datas de validade dos
medicamentos. Medicamentos vencidos em farmácias caseiras são potenciais agentes
causadores de danos à saúde humana e ao meio ambiente, além de constituírem um risco
considerável de uso irracional, podem causar intoxicações, efeitos indesejáveis e falta de
efetividade na terapia medicamentosa (FERNANDES et al., 2020).

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A maioria dos acadêmicos participantes da pesquisa (83,2%) realiza o descarte
dos medicamentos vencidos de forma incorreta. Sendo a forma adotada para o descarte,
a disposição no lixo comum, no vaso sanitário e na pia. Somente 9,0% destinam os
medicamentos vencidos adequadamente em postos de saúde, farmácias, hospitais ou
outro lugar correto de descarte. Os demais 7,8% alegaram guardar os medicamentos
vencidos em suas residências.
A Figura 4 apresenta a avaliação do conhecimento dos entrevistados sobre a forma
correta para o descarte de medicamentos que sobram ou estão vencidos em suas
residências no momento da participação na pesquisa. Nota-se que 73,3% dos
entrevistados não têm conhecimento dos locais de recolhimento dos medicamentos. Isso
evidencia que as pessoas efetuam o descarte inadequadamente por falta de informação.
Os demais acadêmicos disseram conhecer as formas adequadas de descarte e
mencionaram as farmácias e postos de saúde como pontos de entrega destes produtos.

Figura 4 - Conhecimento dos acadêmicos, no momento da realização da pesquisa,sobre o


descarte de medicamentos que sobram ou estão vencidos em suas residências.

Fonte: Autoria própria (2022).

Verificou-se que 84,9% dos entrevistados alegaram nunca terem recebido algum
tipo de explicação ou informação sobre o descarte correto de medicamentos que sobram
ou estão vencidos em suas residências. Isto evidencia a necessidade da geração de
informação sobre o descarte de medicamentos para toda a população nos postos de saúde,
nas farmácias, nas mídias. As pessoas só adotarão as medidas corretas a partir do
momento que forem orientadas sobre como proceder no descarte dos medicamentos e
sobre as consequências que as ações erradas podem causar ao meio ambiente e aos seres
vivos.

1020
Quando questionados sobre a importância da realização de campanhas que visem
informar sobre o armazenamento e o descarte de medicamentos, constatou-se que 99,4%
dos acadêmicos julgam necessária a realização de ações que gerem informações e
conhecimentos para toda a população.
Quando questionados sobre os problemas que podem gerar o descarte incorreto de
medicamentos foram mencionados danos ao meio ambiente, danos às pessoas que vivem
em condições vulneráveis, danos aos animais, danos aos coletores, intoxicação e muitos
disseram não saber e outros deixaram em branco a questão.
É preciso que a população brasileira receba informações sobre as formas corretas
de descarte de medicamentos, em conformidade com a legislação vigente, e sobre as
consequências do descarte incorreto (SOUZA et al., 2021). Os medicamentos,
infelizmente, não são removidos nos tratamentos convencionais de água e, desta forma,
várias pessoas ingerem diariamente água contendo resíduos de medicamentos. Outra ação
importante para a redução do descarte inadequado e também do desperdício, seria a
divulgação e a extensão da venda fracionada para um número maior de medicamentos
(PINTO et al., 2014).
A gestão do descarte correto dos medicamentos não é uma atitude isolada e sim
uma ação conjunta que deverá ser exercida com a participação de todos: pacientes,
cuidadores, familiares, profissionais de saúde, legisladores, formuladores de políticas
públicas, indústria, comércio e políticas governamentais, cada um exercendo
adequadamente as funções de sua competência no processo (SANTOS & FRIZON,
2019).

CONCLUSÕES
Com base neste estudo, conclui-se que é essencial a realização de ações e
estratégias que orientem e conscientizem a população em geral sobre as formas corretas
para o descarte de medicamentos e sobre as consequências que o descarte incorreto trazem
ao meio ambiente e consequentemente à saúde humana e animal.
Há a necessidade de divulgação de pontos de coleta e programas de gerenciamento
para as sobras de medicamentos e medicamentos vencidos a fim de se cumprir o disposto
na legislação vigente que regulamenta sobre a inserção dos medicamentos no SLR.
Descartar medicamentos em desuso ou vencidos corretamente é obrigação de toda
a população, visto os graves problemas gerados pelo descarte inadequado. O ideal seria a

1021
abordagem deste tema desde a educação infantil, a fim de criarmos hábitos
ambientalmente corretos.

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Recebido em: 10/06/2022


Aprovado em: 15/07/2022
Publicado em: 22/07/2022

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