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Niterói (RJ)
2022
LETÍCIA FIGUEIRA DE CASTRO
Niterói (RJ)
2022
1 INTRODUÇÃO
Os medicamentos são produtos elaborados com a finalidade de contribuir
diretamente para a melhora da qualidade e expectativa de vida de seus usuários. Como
tais, constituem instrumentos essenciais para o estabelecimento da saúde, atuando na
diminuição do sofrimento e do processo de adoecimento (PONTES JÚNIOR et al.,
2008).
Devido às deficiências nos serviços públicos de saúde e demora no atendimento
em contraposição à facilidade de aquisição de medicamentos em farmácias e drogarias
sem necessidade de prescrição (AQUINO, 2008), à representação simbólica da “saúde”
pelo medicamento e ao incentivo da publicidade na mídia, o uso de medicamentos
tornou-se rotineiro em muitos domicílios, contribuindo para a formação das chamadas
“farmácias caseiras” (SCHENKEL; FERNÁNDES; MENGUE, 2005).
São diversos os motivos que levam a população a guardar medicamentos em
domicílio, sendo os mais relevantes: a expectativa de utilização do medicamento no
futuro, alteração no tratamento ou mudança na dosagem, sobra de tratamentos
anteriores, óbito do paciente, falta de adesão ou abandono do tratamento, excesso de
oferta e prescrição excessiva, recebimento de amostras grátis e possibilidade de doação
para outras pessoas (CONSTANTINO, 2020).
Quando armazenados de forma incorreta, em locais quentes e úmidos ou em
ambientes com incidência direta da luz, podem ocorrer alterações na composição dos
medicamentos (química, física, microbiológica), com a diminuição da efetividade
terapêutica ou elevação do risco de efeitos tóxicos de acordo com o tipo de degradação
sofrida (PIVETA et al, 2015).
Além disso, como consequência da sobra de medicamentos, por vezes ocorre o
descarte de forma inadequada. Os medicamentos não devem ter a mesma destinação
final de resíduos comuns (lixo domiciliar) (VAZ; FREITAS; CIRQUEIRA, 2011). Tais
resíduos são classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) –
Resolução da Diretoria Colegiada RDC N° 306 de 2004 e pelo CONAMA – Resolução
N° 358 de 2005, como resíduos químicos de classe B, compreendidos por substâncias
químicas que podem apresentar riscos à saúde pública ou ao meio ambiente (BRASIL,
2004; BRASIL, 2005). Apesar de serem classificados como Resíduos de Serviço de
Saúde, os resíduos de medicamento geralmente são descartados juntamente com os
Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) gerados nos domicílios (VARGAS, 2014).
O destino final dos resíduos de origem farmacêutica direcionada aos
estabelecimentos de saúde está fundamentado nas resoluções da ANVISA e da
CONAMA, no entanto, só recentemente, através do DECRETO Nº 10.388, DE 5 DE
JUNHO DE 2020, foi determinada a instituição, nos municípios, de sistemas de
logística reversa dos medicamentos domiciliares vencidos ou em desuso, de uso
humano, industrializados e manipulados, e de suas embalagens após o descarte pelos
consumidores (BRASIL, 2020).
A logística reversa pode ser definida como um processo de retorno de resíduos
do seu ponto de consumo até o seu ponto de origem (FERNANDES, 2011). O decreto
Nº 10.388 de 2020 já está em vigor, contudo, ainda não foi regulamentado no município
de Niterói-RJ.
O presente estudo aborda o período em que o medicamento está em domicilio,
sendo administrado pela população, desde a aquisição até o seu descarte. O objetivo é
melhorar esse processo, diminuindo o desperdício e contribuindo para o descarte
racional, de mínimo impacto para o meio ambiente. Para isso, o trabalho será realizado
em três etapas: (i) Análise das características de armazenamento e descarte dos
medicamentos nos domicílios em Niterói-RJ; (ii) Elaboração do modelo de logística
reversa direcionada a prefeitura de Niterói para orientar a gestão a estruturar o descarte
de medicamentos em nível domiciliar (iii) Confecção de materiais informativos sobre as
práticas adequadas de armazenamento e descarte dos medicamentos voltado para a
população de Niterói.
Destaca-se que o projeto pretende gerar três produtos técnicos e um artigo, todos
pautados na perspectiva de promover soluções para os problemas relacionados ao uso
dos produtos para a saúde humana, neste caso, medicamentos.
2 JUSTIFICATIVA
A falta de informação sobre as condições adequadas de armazenamento dos
medicamentos pode prejudicar a sua efetividade e segurança, podendo gerar graves
problemas de saúde, tais como a ingestão de medicamentos por crianças e o risco de
intoxicação devido ao vencimento ou degradação. O objetivo do armazenamento
adequado é garantir que o paciente se beneficie da ação terapêutica desejada,
minimizando também a ocorrência de reações adversas (BALDONI, 2015).
Além das questões relacionadas ao armazenamento, os resíduos sólidos de
origem farmacêutica são de interesse para a saúde pública. Aproximadamente 20% dos
medicamentos utilizados pela população brasileira são descartados em lixo doméstico
ou lançados na rede de esgoto (FALQUETO et al., 2013).
Tendo em vista o desafio que essas questões representam, é necessário incluir
ações do Poder Público que orientem o recolhimento dos resíduos farmacêuticos
domiciliares de forma estruturada, através da logística reversa, evitando que sejam
descartados inadequadamente. Entendemos que o modelo de logística reversa, destinado
ao Poder Público, e o material informativo, destinado à educação da população em
geral, são complementares e indissociáveis para o objetivo de melhorar as práticas de
armazenamento e descarte de medicamentos, para, com isso, minimizar impactos à
saúde e ao meio ambiente decorrentes do descarte excessivo e inadequado de resíduos
farmacêuticos.
3 REFERENCIAL TEÓRICO