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PERSONAGEM: Técnico de computadores // Máquina

GUERRA: Livremente inspirado em morte de Soldado da Força Nacional na Maré durante as


Olimpíadas de 2016.

O QUE O LEVOU PRA GUERRA: É obrigado a entrar no tráfico.

OUTRAS INFORMAÇÕES:
https://books.google.com.br/books?id=Fed10aDKXTsC&pg=PA89&lpg=PA89&dq=soldado+m
orto+em+favela+no+rio+de+janeiro&source=bl&ots=gGSuY5KMKl&sig=izcSpKeTCWS6sQp
TqHxEL39vv18&hl=en&sa=X&ved=0ahUKEwjo-
prfkvTWAhVGGpAKHTKxCtU4KBDoAQg3MAI#v=onepage&q=soldado%20morto%20em%
20favela%20no%20rio%20de%20janeiro&f=true

DESCRIÇÃO DOS PERSONAGENS:


MÁQUINA: Morador da favela, 15 anos. Técnico em Informática. “Bem aquele cara que tem
um monte de quinquilharia de hardware em casa que ficou cutucando pra aprender, bem básico
mesmo.” Curioso em tecnologia.

FOGUETEIRO: Morador da favela, 12 anos, faz parte do tráfico. Solta foguetes no morro para
avisar os traficantes que a polícia está subindo o morro.

ORELHA: Morador da favela, 16 anos, faz parte do tráfico. Tem função de soldado, ou seja,
responsável pela segurança da favela.

VÍTIMA DE MÁQUINA: Classe média, 15 anos, filha do Militar morto durante a operação na
favela em que Máquina participou.

CENAS:
CENA 1 - MONTAGEM E MANUTENÇÃO
Aqui estabelecemos quem é o personagem Máquina, um técnico de computadores que vive uma
favela nos tempos atuais, dando indícios iniciais de seu conflito com o ambiente que o cerca.

CENA 2 - RECRUTAMENTO
Aqui é estabelecido o conflito entre Máquina e o ambiente ao seu redor, e ele se vê intimidado a
entrar no tráfico.

CENA 3 - MENOR
Esta cena foi estabelecida para que possamos conhecer mais das funções do personagem
Máquina no tráfico, e entender melhor o cenário do tráfico em si.

CENA 4 - TOCAIA
Esta cena é um híbrido. Inicia com o intuito de aprofundar o desenvolvimento dos personagens,
terminando na morte do soldado que é o Clímax.

CENA 5 - JULGAMENTO
Conclusão da história história, e encaminhamento para o final de Máquina e as repercussões que
a morte do soldado tiveram.
TEXTO:

CENA 1 - MONTAGEM E MANUTENÇÃO

Hardware de computador espalhado por todo lado: mouse, filtros de linha, cabos de rede,
placas e outros. Tudo, menos teclados.

Máquina se movimenta com um alicate de cortar cabos, ligando cabos de rede aleatórios. Toda
vez que o personagem fala, é possível ouvir sons de teclado digitando suas palavras ao mesmo
tempo.

Ao fundo, um funk em 8 bits.


MÁQUINA -

PROGRAMA “MÁQUINA”;
INÍCIO
SE A MÁQUINA TRABALHA;
ENTÃO ELA NÃO SE CANSA DE TRABALHAR;
FAZ
DIA E NOITE EM FRENTE AO MONITOR;
WHILE SOBRE O TECLADO MEUS DEDOS ESCRAVIZADOS
OMBROS CANSADOS, OLHOS FIXOS;
ELSE
O SOM DO COOLER A ESTÁTICA AO MEU REDOR NADA MUDA;
PRINT
“COMPONENTES E ENGRENAGENS, R-R-R-R-R-R-R-R-R-R-R-R-R
/*quebra de linha*/
AS ENGRENAGENS ESTALAM
/*quebra de linha*/
MAS ELA NÃO PODE PARAR
/*quebra de linha*/
ELA LABUTA, ELA GRITA DESCONTROLADA.
/*quebra de linha*/
EM FÚRIA FORA E DENTRO DE MIM,
/*quebra de linha*/
POR TODAS AS MINHAS CONEXÕES DISSECADAS FORA,
/*quebra de linha*/
PODER EXPRIMIR-ME TODO COMO UM CIRCUITO SE EXPRIME
/*quebra de linha*/
POR QUE O RACIOCÍNIO,
/*quebra de linha*/
OS MÚSCULOS, OS OSSOS?
/*quebra de linha*/
O CÉREBRO ELETRÔNICO, O MÚSCULO MECÂNICO
/*quebra de linha*/
MAIS FÁCEIS QUE UM SORRISO.
/*quebra de linha*/
SER COMPLETO COMO UMA MÁQUINA
/*quebra de linha*/
PODER AO MENOS PENETRAR-ME FISICAMENTE DE TUDO ISTO,
/*quebra de linha*/
DE TODA A RAIVA MECÂNICA CONSTANTE
/*quebra de linha*/
DE TODAS AS PARTES DO MUNDO,
/*quebra de linha*/
FERRO, AÇO, ALUMÍNIO, CHAPAS DE FERRO
/*quebra de linha*/
ELECTRICIDADE, NERVOS DOENTES DA MATÉRIA
/*quebra de linha*/
SIMPATIA METÁLICA DO INCONSCIENTE
/*quebra de linha*/
NEM SEI QUE EXISTO PARA DENTRO. GIRO, RODEIO, ENGENHO-ME.
/*quebra de linha*/
ENGATAM-ME EM TODOS OS PROCESSADORES.
/*quebra de linha*/
GIRO DENTRO DAS HÉLICES
/*quebra de linha*/
SOU O CALOR MECÂNICO E A ELECTRICIDADE
/*quebra de linha*/
Z-Z-Z-Z-Z-Z-Z-Z-Z-Z-Z-Z!”

(para fora) Abaixa esse som, porra!

/*quebra de linha*/
CENA 2 - RECRUTAMENTO

Máquina une cabos de rede.


Dois homens entram segurando teclados como metralhadoras.

ORELHA - Oh, do computador.

Máquina continua unindo cabos de rede.

ORELHA - Hey, psiu, tô falando com você viado.

Máquina continua unindo cabos de rede.

ORELHA - Tu é surdo, porra?

Máquina vira a cabeça em direção ao dois homens. Olha-os.


Depois retorna a unir cabos de rede.

ORELHA (apontando a arma para Máquina) - Caralho, vou matar esse filha da puta!

FOGUETEIRO - Tá maluco? Tu sabe que pra dar tiro dentro da favela só missão ou ordi do
dono da boca! Qué toma um esculacho do gerente só porque deu um tiro a toa?

ORELHA - Até porque nós precisa do filha da puta né?

Orelha tira uma calculadora do seu bolso.


Os dois homens seguem na direção de Máquina, parando lado a lado dele.
Um dá dois tapinhas em seu ombro, e o outro
despenca uma calculadora nas mãos de Máquina.
Eles começam a se afastar, rindo.
Máquina tenta devolver a calculadora, mas é ameaçado com os teclados metralhadoras.
ORELHA - Tu não te faz de perdido que tu sabe o que melhor pra você né?

Os homens saem.
Máquina fica eletrificado.
MÁQUINA -
IF ELES BRIGAM E SE MATAM
THEN A MÁQUINA PRECISA DE CONSERTO?
PRINT “QUEM É A MÁQUINA?
EU SOU MÁQUINA.”;
FIM
CENA 3 - MENOR

Diálogo no Whatsapp.

FOGUETEIRO - fala tu do dinheiro

MÁQUINA - O QUE VOCÊ QUER AGORA?

FOGUETEIRO - termino o gerente de soldado mando pergunta

MÁQUINA - MAS, SE SOU CONTADOR, ENTÃO MEU GERENTE ELE NÃO É.

FOGUETEIRO - somos todos soldados e o chefe e nosso capitao <emoticon de musica>

MÁQUINA - ENTÃO, SÓ ME FODEM COM A PORRA DESSA CONTABILIDADE?


VARIÁVEIS AMASSADAS NESSES PAPELOTE PERDIDO.

FOGUETEIRO - da teu jeito meno <emoticon chorando de rir>

MÁQUINA - SE VOCÊ É MAIS NOVO, ENTÃO NÃO É A CRIANÇA?

FOGUETEIRO - CRIANCA O CARALHO FILHO DA PUTA.

MÁQUINA -MAS você acha bom… criança no tráfico?

FOGUETEIRO - sou adolescente tenho 12 se voce e crianca nao pode entra nessa vida

MÁQUINA - MAS você tinha me falado que entrou com 11.

FOGUETEIRO - é
MÁQUINA - ENTÃO, VOCÊ ERA CRIANÇA. Porra.

FOGUETEIRO - era crianca mas agora eu ja tenho 12 anos


CENA 4 - TOCAIA

Escuro. Só escutamos Máquina e Orelha conversarem por walkie talkie.

MÁQUINA - Se sou contador, então, porque também tenho que ser olheiro?

ORELHA - Só tô obedecendo ordem do gerente de soldados, parça.

MÁQUINA - Mas que porra? Qual é a lógica…

ORELHA - Colabora, caralho. O que você enxerga daí?

MÁQUINA - Enquanto, repita.

ORELHA - O que você enxerga daí?

MÁQUINA- O que eu enxergo daqui… Eu não sei, você não me disse?

ORELHA - O que eu não te disse porra?

MÁQUINA- O que você enxerga daí...

ORELHA - Sim.. o que você enxerga daí?

MÁQUINA- Eu enxergo daqui?

ORELHA - O que você enxerga daí?

MÁQUINA- ELSE?

Silêncio.
ORELHA - Porra, é surdo o filho da puta…

MÁQUINA - Se eu tentar colaborar, então…

ORELHA - Tu já era pra tá colaborando viado, tá correndo risco aqui tá ligado? Deus deu uma
vida pra cada um. Cê tem a sua e eu tenho a minha, e a direção tá na sua frente, você escolhe.
Prefere tá morto?

Silêncio.

MÁQUINA - Mas, se todas as nossas vidas estão perdidas, então só temos uma certeza: de que
todos vamos morrer. THEN é quase um alívio pensar que essa loucura toda vai acabar. Fechar os
olhos… EXIT, EXIT.

ORELHA - Tu fala essas merda porque nunca perdeu ninguém nessa guerra. Meu irmão não era
envolvido, e policiais mataram meu irmão. Ele tava voltando com duas garotas, aí levaram ele
pra um canto e mataram. E minha tia pediu pra ver o corpo pra saber se era ele. Sabe o que o
policial falou? “Vai pro hospital”. Nem deixaram ver se era ele ou não. Quem quer morrer
atravessa a Presidente Vargas fora do sinal, dirige bêbado ou pula de pára-quedas. Nós quer
viver. Mas a polícia esculacha. Esculacham nós que é pobre.

MÁQUINA - Tenho medo de ser um morto-vivo. Mas não tenho medo de morrer não.

Som de fogos. O exército começou a subir.


A luz vai abrindo, e os soldados começam a sitiar a favela.
Silêncio.
ORELHA - Sente?

MÁQUINA- Sente o que?


ORELHA - Isso. A chapa tá ficando quente.

MÁQUINA- INÍCIO

ORELHA - Quieto (Silêncio). Pare (Silêncio). Respira... Viu onde eles estão?

MÁQUINA- ENQUANTO SOBEM A FAVELA, FAÇA

ORELHA - Fala porra, só tô esperando tu confirmar!

MÁQUINA - ATIRA.

Sons de tiros de teclado. Todos os soldados caem no chão.


CENA 4 - JULGAMENTO

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</WAR>
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Estamos de volta ao primeiro cenário de Máquina. Ele está conectando cabos de rede.
De repente, um batalhão de soldados do exército invade, empurrando vários rapazes para
dentro, entre eles Orelha e Fogueteiro.

Mulheres gritam de fora da casa coisas como “Ele é inocente”, “Ninguém tem nada haver com
tráfico aqui não”, e coisas semelhantes. O exército age com truculência, e vai emparedando
todos os rapazes, incluindo Máquina.

Durante toda essa movimentação, notícias são ouvidas na voz feminina do Google Tradutor.
Alto o suficiente pra cobrir grande parte dos sons
das mulheres gritando de fora, e ampliar o caos.

NOTÍCIAS (voz feminina do GOOGLE Tradutor) - “Nova operação do exército brasileiro em


favelas nos arredores do Rio de Janeiro.

Efetivos militares brasileiros estão hoje a realizar uma grande operação contra o crime
organizado nas favelas, a procura dos criminosos que mataram o soldado do exército na operação
de dois dias atrás.

A ação é uma nova demonstração de força do Governo local para tentar combater um surto de
violência que atinge este Estado brasileiro.

‘O exército ganhou a missão de controlar o acesso de certas favelas e os soldados foram


colocados em pontos estratégicos. Algumas ruas serão bloqueadas e o espaço aéreo controlado’,
anunciaram os serviços de segurança do Rio de Janeiro em comunicado.”

Depois que todos estão emparedados, o exército aponta suas armas (que são teclados) na
direção dos rapazes. A cena congela.
Máquina descola-se e entra em curto circuito.
MÁQUINA -
SE NAS MÁQUINAS A LUZ DE LED SEMPRE É VERDE
SEMPRE PEQUENOS VAGALUMES
ENTÃO, TODA MÁQUINA É VAGALUME
TODA BORBOLETA, PLANTA E PELE
NO FINAL
É VERDE
MAS SE
QUEIMA A LANTERNA
QUEBRA-SE A MÁQUINA
E O MAIOR TÉCNICO DO MUNDO
SABE QUE NÃO A CONSERTA.
FIM

Lentamente, máquina transmuta-se,


revelando ser a esposa do Militar morto durante a operação na favela.
Ela está gravando um live para o Facebook.

VÍTIMA DE MÁQUINA - Todo dia que um militar entra numa favela ele tá indo pra guerra.
Ela entra com um objetivo tático até um determinado ponto, estoura uma pilha de armas, um
local de endolação, prende alguém. Pega a metralhadora e vira máquina. Só funciona com
comandos. (Atormentada pelos comentários nervosos em seu feed) São, são todos máquinas sim,
de todos os lados das fronteiras, são todos máquinas de matar, aniquilar, de roubar! Felicidade é
o artigo mais roubado. Eles roubaram a felicidade aqui de casa há um ano atrás. 3511 km. Te
jogaram 3511 km pra longe da gente. Essa guerra não era sua. Essa guerra não era nossa! Meu
pai foi morto a tiros! E nada de dizer se pegaram os vagabundos que tiraram a vida dele!

Pra receber de volta só aqueles broche de nova patente. O presidente te chamou de herói nacional
na televisão, pai, sabia? Um cabo morto. Mas chamaram de um lamentável acidente. E
continuaram a festa.

Porque os homens são mandados a guerra, porque é fardo das mulheres serem deixadas para
trás? Se eu pudesse eu teria ido no seu lugar. Apagaram seu sorriso. Nunca mais vou ouvir a sua
voz, isso é o que mais me dói. Meu pai foi um marco. Morreu em combate. Servirá como um
motivador, um farol pra gente seguir.. Ele será nossa motivação para gente nunca recuar diante
da violência.

Vira para o batalhão em posição de tiro como um General de guerra.

Então entrem, atirem! Não quero saber de morador. Não quero saber de nada! Eu só quero que
paguem pelo o que fizeram com ele!

Ela levanta uma bandeira do Brasil. A gravação para.


Os jovens são executados.
Sangue jorra na bandeira nas mãos dela.

O seu vídeo foi postado com sucesso.

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