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Crédito: Felipe
Larozza/Vice
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Há dias resolvi fazer o teste e baixei tudo que essas duas companhias sabem
sobre mim. Queria sanar uma série de dúvidas que surgiam: qual o tamanho dos
meus rastros digitais? O que eu, um cara supostamente esclarecido quanto às
políticas digitais, deixaria passar em relação a minha privacidade? O que as redes
sociais e apps sabem sobre mim e repassam a outros?
Conforme eu descobria a sangria de meus dados, buscava meios de contê-la. É o
que conto nessa jornada em busca de minha identidade digital logo abaixo.
Como a rede social de Mark Zuckerberg acaba sendo uma das primeiras
acessadas durante meu dia — ou um de seus outros produtos como Whatsapp,
Instagram ou Messenger —, acabou sendo minha primeira opção na jornada.
Para ver o que eles tinham sobre mim, o primeiro passo foi acessar a página de
Configurações. Logo embaixo das “Informações básicas da minha conta”, no
cantinho inferior esquerdo do menu central da página, há a opção para “Baixar
uma cópia dos seus dados do Facebook”. Você deve esperar alguns minutos para
poder fazer o download, mas rola numa boa.
Eu, embora cadastrado na rede de Zuckerberg há dez anos, não sou dos usuários
mais ativos: o arquivo com todos meus dados entregues ao Facebook não chega a
ter 300 MB. O tamanho reduzido, porém, esconde um monte de coisa que eu
preferiria que não tivessem sido compartilhadas.
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Além disso, informações como os dados brutos do seu rosto vem junto nesse
pacotão. Pode parecer meio bizarro, mas sabe aquela opção aparentemente
inofensiva que permite que o Facebook reconheça e tagueie você nas fotos dos
outros? Os dados brutos estão aí e podem ser usados por ele no futuro.
Ok, mas como isso é útil para a empresa? Bom, a essa altura do campeonato você
já deveria saber que propaganda é a alma do negócio. Segundo a BBC, em 2016,
dos US$ 7 bilhões do faturamento da empresa, cerca de US$ 6,38 bilhões tiveram
a publicidade como fonte. Na época, a estimativa foi que o seu perfil rende à
empresa por volta de R$ 50 ao ano. É meio barato se você pensar o tanto de coisa
que você revela sobre si.
Crédito: captura de tela/Facebook
E a coisa toda acontece de forma bastante eficiente: uma vez que você curtiu
uma série de páginas, elas dão a dimensão exata do que você provavelmente vai
comprar. Meus likes em vídeos de animais fazem, toda semana, pintar anúncio de
pet shops, e por aí vai. Dá pra saber quais são os assuntos que o Facebook acha
que você vai comprar olhando na parte de publicidade deles.
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Se você, como eu, não quer compartilhar tantas informações assim com a rede
social, um bom começo é se livrar de qualquer aplicativo dela no seu celular. Uma
breve lida nas permissões que você concede aos aplicativos mostra que eles
pedem um acesso bastante completo ao seu aparelho. Provavelmente você já
ouviu a história de que o Facebook ouve suas conversas sem você saber, o que
pode ou não ser uma lenda urbana.
Uma solução mais radical seria desabilitar a permissão do Facebook para fazer
login em aplicativos de terceiros, como mostrada no campo “Aplicativos, sites e
plug-ins” nas "Configurações dos aplicativos". E mais importante: preste atenção
com coisas como termos de privacidade e o acesso às informações que você
concede a programas, sites e apps.
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É claro, você sempre têm a opção de deletar totalmente a sua conta na rede
social. Se essa for a sua opção, o Facebook afirma que em até 90 dias tudo sobre
você será deletado dos servidores da empresa.
Também é possível tentar sujar os seus dados que a rede social coletou ao longo
dos anos. Com um script que altera suas postagens com textos gerados
randomicamente, a solução requer algum conhecimento em programação. O
autor do código defende que, se rodado uma vez, talvez programa não faça muita
diferença; depois de cem ou mil alterações de uma mesma postagem, porém, fica
mais difícil resgatar informações verdadeiras sobre você e, assim, suas postagens
passam a ser inúteis para o banco de dados da empresa.
De qualquer maneira, antes de adotar qualquer uma das medidas, para não perder
coisas importantes como fotos antigas, existem outras formas para resgatar
coisas importantes na rede, como explicamos nessa matéria.
Feito o trabalho no Facebook, está na hora de passar para a próxima empresa que
sabe mais sobre mim do que minha própria mãe.
Buscas, emails, documentos, vídeos e perfil de compra dizem mais sobre mim
do que meus amigos próximos sabem
Você procura coisas na internet pelo Google? Sua conta de e-mail é Gmail? Seu
celular usa sistema operacional Android? Você escreve textos no Docs? Assiste a
vídeos pelo YouTube? Cria planilhas eletrônicas no Sheets? Abre o Maps para se
localizar? Acessa à internet usando o Chrome? Usa o compartilhamentos de
arquivos do Drive? Quanto mais afirmativas foram suas respostas nos últimos
segundos, maiores serão os arquivos disponíveis para download e o volume de
dados que o Google têm sobre você.
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Você já deve ter visto o seu navegador pedir sua localização. Se você der esse
acesso, ajuda a detalhar e a tornar mais certeira as informações que a empresa
têm sobre você. Isso também ajuda a otimizar quais são os anúncios certos para
você.
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Vale ressaltar que todos esses serviços possuem seus dados, já que mudança na
política de privacidade do Google em 2012 transformou a política de todos os
seus mais de 70 serviços em uma só. Isso significa que o serviço de publicidade da
empresa, o Adwords, sabe qual é o tipo de conteúdo que você anda buscando ao
longo do tempo.
Por padrão todas as atividades em plataformas do Google são salvas. Se você não
quer mais que isso aconteça, é melhor deletar o histórico de atividades e
desabilitar que ele continue a ser gravado.
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Outro fator importante: muitos sites utilizam plugins tanto do Google quanto do
Facebook. Usando extensões como o Ghostery ou o Privacy Badger é possível ter
uma dimensão de quais são os cookies — um pequeno arquivo de dados que
permite identificar a seção de sua máquina — que estão sendo utilizados no site e
bloqueá-los.
Para se ter uma ideia do quanto o seu navegador está exposto a este tipo de
programa, é possível fazer o teste do projeto Panopticlick, da Electronic Frontier
Foundation. E para se ter certeza de ter o máximo de privacidade, o jeito é
navegar usando Tor.
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Não é nada fácil manter sua privacidade a salvo, mas, no fim, valerá a pena. Seus
dados são muito importantes e, se forem usados de uma forma errada, vão te dar
uma dor de cabeça maior bem maior do que 50 reais por ano. Cuide bem deles.
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Isabela Gaia
abr 16 2018, 1:36pm
Isabela Gaia é uma jornalista e tradutora brasileira que mora em Buenos Aires,
Argentina. Ela participou da organização de um protesto para homenagear e
exigir justiça no caso da vereadora Marielle Franco e escreveu este texto.
Defensora dos direitos humanos e mãe solteira como Marielle, Andressa era
amiga da vereadora e só ela sabe o quanto esse mês lhe custou.
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Por isso é tão simbólico que terminássemos aquele ato jogando flores para
Marielle no mesmo rio onde milhares de militantes como ela foram atirados de
aviões, nos chamados “voos da morte” da ditadura. É tão terrivelmente simbólico
quanto deve ser. Porque com os argentinos e as argentinas aprendemos que não
estávamos ali para fechar uma ferida, mas para abri-la, para fazer doer e
aprender. Porque não ter gravado na história do Brasil “Nunca mais” nos custou a
vida de Marielle Franco.
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