Francisco Canidé dos Santos, servidor público, devidamente qualificado nos
autos, na qualidade de defensor dativo nomeado pela portaria nº XXX de XXXX publicado no BS XXXX de 2010 para apresentar defesa no processo nº 25000 058131/2008 cuja INDICIADA é a servidora Elizabeth Silva de Souza Furtado, Agente de Portaria, matrícula SIAPE nº 226192, à disposição da Coordenação de Cadastro e Pagamento de Servidores Ativos
Dos fatos da acusação
A Comissão de Processo Administrativo Disciplinar - Rito Sumário, instituída
pela Portaria n.º 410, de 10 de maio de 2010, da Coordenadora Geral de Recursos Humanos da Subsecretaria de Assuntos Administrativos do Ministério da Saúde, publicada no BSE n.º 20, de 17 de maio de 2010, com base no artigo 133, § 2º da Lei nº 8.112, de 111/.12/90 (com redação dada pela Lei nº 9.527, de 10/12/97) INDICIA a servidora Elizabeth Silva de Souza Furtado, Agente de Portaria, matrícula SIAPE nº 226192, à disposição da Coordenação de Cadastro e Pagamento de Servidores Ativos (COCAT), pelas razões de fato e de direito expostas a seguir:
A servidora esteve em Licença Médica no período de 09/07/2007 à
04/02/2008. Após o término dessa licença, não retornou ao trabalho até a presente data. A vista suas folhas de ponto referentes a fevereiro e março de 2008 - fls. de 3 à 6; e ainda constam as fichas de freqüências - fls. 22 a 24.
A Chefe do Serviço de Perícia Médica (fls. 10) informou que em 04/09/2008,
após varias tentativas de contato com a servidora, esta “se apresentou ao Serviço de Perícia deste Ministério da Saúde, orientada, sem sinais evidentes de doença mental”, ocasião em que lhe foi solicitado que apresentasse documentação sobre o período de fevereiro até setembro de 2008 e remarcasse data para comparecer àquela junta médica após avaliação psicológica. Entretanto, não mais compareceu àquele serviço, até a data de 14/05/2009.
Caracterizada a ausência intencional ao serviço por mais de trinta dia
consecutivos, configura-se a infração administrativa de abandono de cargo, conforme prevê o artigo 138 da Lei nº 8.112/90. Da defesa:
“Consta que a servidora Elizabeth Silva de Souza Furtado se apresentou
ao Serviço de Perícia deste Ministério da Saúde, orientada, sem sinais evidentes de doença mental”, ocasião em que lhe foi solicitado que apresentasse documentação sobre o período de fevereiro até setembro de 2008 e que remarcasse data para comparecer àquela junta médica após avaliação psicológica. Entretanto, não mais compareceu àquele serviço, até a data de 14/05/2009. Expostas.
O conjunto probatório contido nos autos é fato, o afastamento da
servidora é real, é consumado, porém a palavra intencional é questionável. Vejamos por que: com o devido respeito, não consta nos autos quaisquer contatos com a servidora; desta forma, não se pode afirmar que tal ausência foi intencional (termo de iniciação página 23). Salvo melhor juízo, há um julgamento antecipado do mérito. Resta, então, expor as razões, isto é, motivo que originário deste afastamento da servidora ao emprego.
Após ser designado defensor dativo, dediquei-me a localizar a servidora.
Procurei por seus antigos colegas e seus respectivos telefones. Marquei uma entrevista com a mãe de Elizabete e consegui contato com Ariandre, filha da servidora. Por telefone, localizei-as em Goiânia, mas o objetivo era conversar pessoalmente com a servidora. Ao contactar com sua filha, expliquei a necessidade de uma conversa com a servidora e foi combinado que, já que ela viria a Brasília no dia seguinte para uma consulta médica, nessa oportunidade poderia agendar um encontro com este defensor antes do seu retorno a Goiânia, visto que essa conversa era de suma importância para definir a vida funcional de sua genitora.
No dia marcado para a entrevista, dirigi-me ao local combinado às
11h30min. Nessa situação, me encontrava lá, frente a frete com servidora Elizabeth, que em principio não me convidou para entrar ou tão pouco me reconheceu. Perguntei como ela estava, respondeu que estava com um pouco dor de cabeça, uma dor nas pernas, mas que não iria morrer por isso. Perguntei como veio de Goiânia para Brasília, ela disse que veio com um parente. Em seguida desse que eu estava perguntando demais, que estava cansada e iria deitar-se.
Ao olhar novamente no meu rosto, me reconheceu e em seguida e teve
uma crise de choro. Ainda em pratos, disse-me que ao retornar ao Serviço Médico com fortes dores nas pernas pós-cirurgia e com muita depressão, ouviu de pessoas que não consegue identificar a seguinte fala: “Esta mulher não tem nada, não quer trabalhar”. Contou que dias depois recebeu três ou quatro ligações de pessoas do Ministério que lhe diziam: “Beth, você já foi demitida, volte para o para o Ministério para resolver sua vida”. A servidora relatou que teve o seguinte pensamento: “Não tenho mais emprego, salário, não tenho GEAP, o que vou fazer? Vou para Goiânia, onde tenho parentes que cuidem de mim.”
Ao adentrar a residência da servidora, foi possível constatar a bagunça
que se encontrava naquela casa e visualizar as condições precárias daquele local. Assim, concluí que uma pessoa que não tinha condições de zelar pela própria moradia, não poderia realizar plenamente suas atividades laborais. Portanto, esse defensor acredita que a servidora precisa urgentemente de acompanhamento médico. Diante do quadro em que se encontra, punir a servidora viria ferir o princípio da dignidade humana.
Assim, proponho à presidente dessa Comissão que encaminhe a
servidora ao serviço médico desse Ministério para acompanhamento de sua saúde e posteriormente reintegre-a ao quadro deste Ministério da Saúde; ou aposente-a, se for o caso.
Sabemos que o Ministério da Saúde tem como função básica e prioritária
cuidar da saúde física e metal da população e, principalmente, dos seus agentes internos. Convém lembrar que saúde é um dever do Estado de todos seus agentes e autores envolvidos.