Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Bruna Machado
Klaus Mutti
Luana Bittencourt
Marcos Camillo
Paloma Godinho
Vanessa Morais
Objetivos e Metodologia
O texto trata-se do relato objetivo dos acontecimentos após a reunião de cúpula do Mercosul em
Mendoza em junho de 2012.
Foi decidida a “suspensão” do Paraguai, o que não o exclui totalmente, mas o impede de
participar das reuniões do bloco e retira seu direito de voto e veto. Logo em seguida, acontece a
“adesão” da Venezuela.
O autor fala sobre o título do texto, referindo-se sobre a ruptura democrática “no e do”, pois diz
que ao mesmo tempo em que houve uma ruptura no Mercosul, com a suspensão de um membro e
entrada de outro, também diz que a ruptura foi do próprio Mercosul, já que trata o acontecimento
como uma quebra de natureza política, que não respeita suas próprias normas e regras, tornando a
ação ilegítima, da mesma forma que não respeita a decisão do congresso paraguaio sobre a
entrada da Venezuela no bloco, pois o mesmo tinha dúvidas quanto as credenciais democráticas
do país, julgadas por muitos como insuficientes.
O objetivo do texto é tomar como base apenas os atos fundamentais e complementares do
Mercosul, dando menor relevância às declarações políticas, pois segundo o autor as mesmas são
enviesadas a favor de um dos protagonistas.
O autor também chama a atenção para o uso de aspas no título explicando que as duas medidas
(suspensão e adesão) são carentes de legalidade formal, e que a mesma está decaindo.
Porém independente de suas virtudes, o Protocolo de Ushuaia nunca teve um teste prático, até ser
negociado de forma clara em dezembro de 2011 na capital uruguaia, chamado de Protocolo de
Montevidéu e com total apoio de Fernando Lugo, o atual presidente paraguaio. Esse foi um dos
motivos da crise no governo de Lugo, uma vez que o congresso desse país condenou a assinatura
e o acusou de trair a dignidade e a soberania paraguaia. O fato é que o governo de Lugo já
iniciou-se com crises, com uma frágil aliança entre partidos opositores. A câmara de deputados
optou por processar Lugo por descumprir seus deveres como chefe de Estado e de governo por 76
votos a favor, então já não existia clima para diálogos entre líderes esquerdistas. Isolado do
parlamento e caído em descrédito entre seus seguidores, Lugo enfrentou cinco acusações, muitas
feitas apenas com base não oficiais e não acompanhadas de provas documentadas ou feitas com
investigações policiais ou judiciais.
Em junho de 2012 o presidente Fernando Lugo teve seu impeachment decretado pelo congresso
paraguaio de forma relâmpago, o que levou os membros do Mercosul entenderem que houve
“ferimento” a democracia do Paraguai, já que não houve a possibilidade de defesa consistente do
presidente. Assim, a cúpula de presidentes do Mercosul suspendeu a participação do país no
bloco, sendo permitido a sua volta somente após eleições internas.
A questão é que o congresso paraguaio tinha e tem tanta legitimidade política quanto o
presidente, então não se pode dizer que houve “ruptura democrática” ou ilegalidade no processo
de destituição de Lugo, mas como o protocolo de Ushuaia é “vago” a respeito de tal
procedimento acaba-se por tornar a decisão do Mercosul injustificada, já que por mais antipática
que possa parecer aos demais membros do bloco, a ação era de direito legítimo do congresso
paraguaio. O que ocorreu então foi apenas a “ruptura” nos procedimentos internos do bloco,
afinal decidiu ingressar a Venezuela logo no mês seguinte sendo esse o único país do continente
que não realizava eleições livres há mais de um século.
O então presidente da Venezuela, Hugo Chavez, sempre teve um interesse de ingressar seu país
no Mercosul. Acredita-se que sua preferência fosse um misto de respeito pela força econômica
do Brasil, até porque o mesmo saldava o presidente Fernando Henrique Cardoso e o nomeava
“mi maestro” possivelmente em função da equivocada “teoria da dependência”. Essa apreciação
pelo Brasil e pelo Mercosul aumenta quando o coronel enfrenta um golpe da oposição de direita
(em abril de 2002) e recebe o apoio do presidente eleito do Brasil, Lula, no auge de uma séria
crise política e de uma longa greve da PDVSA (Petróleos da Venezuela, Sociedade Anônima).
Nesse momento o país de Chavez fica sem petróleo e recebe ajuda da Petrobrás.
Chavez sempre considerou o Mercosul um bloco capitalista e liberal, e que seria necessário fazer
uma reestruturação num sentido anticapitalista e declará-lo socialista.
Chavez havia “ameaçado” várias vezes retirar a Venezuela da CAN, e em 2005, após Colômbia e
Peru concluirem acordos de livre-comércio com os Estados Unidos, ele declara encerrada a
associação da Venezuela ao bloco econômico e solicita formalmente a adesão do seu país ao
Mercosul.
Em junho de 2011, na reunião de cúpula do Mercosul em Assunção, foi firmada a ata de adesão
da República Bolivariana da Venezuela , e na reunião seguinte em Montevidéu, se concluiu o
acordo marco de adesão do país caribenho ao bloco.
Numa próxima cúpula, realizada no dia 26 do mesmo mês, Hugo Chavez volta com seu objetivo
de “corrigir” o Mercosul liberal, reafirmando querer transformá-lo em um benefício dos povos e
não dos capitalistas. Enquanto isso, nos próximos quatros anos, os países membros do Mercosul
efetuavam a aprovação e ratificação referente ao Protocolo de Adesão da Venezuela, porém nada
se passou do lado venezuelano.
A Venezuela tinha obrigações declaradas nesse Protocolo de Adesão, como por exemplo, como
cita no segundo artigo que “o país bolivariano tinha de aderir aos três instrumentos fundacionais
do Mercosul, respectivamente: Tratado de Assunção para a criação de um mercado comum,
Protocolo de Ouro Preto sobre sua estrutura institucional e Protocolo de Olivos sobre solução de
controvérsias (anexos I, II e III).” e no terceiro artigo “estipula-se que a Venezuela adotaria um
acervo normativo – ou seja, todas as regras de política comercial, a começar pela Tarifa Externa
Comum – no mais tardar quatro anos a partir da adoção desse protocolo a ser estabelecido por um
grupo de trabalho previsto no artigo 11”, mas nenhuma dessas obrigações foram cumpridas,
sequer iniciadas, entre 2006 e 2012.
A questão é que, até a cúpula de Mendonza, a Venezuela não tinha ratificado qualquer um dos
atos fundacionais do Mercosul – além do Protocolo de Ushuaia e nem mesmo seu próprio
protocolo de acesso.
O anexo IV do protocolo de adesão trazia listas específicas de produtos paraguaios e uruguaios
para os quais a Venezuela se comprometia a oferecer liberalização e garantir acesso imediato a
seu mercado, mas não há registro que tal compromisso tenha sido cumprido.
Cabe ressaltar que as decisões tomadas na 43ª reunião ordinária do Conselho do Mercado
Comum de Mendonça, Argentina, em Junho de 2012 foram tomadas por três membros do
Mercosul, Argentina, Brasil e Uruguai, e por um quarto Estado em processo de adesão, a
Venezuela. As irregularidades se iniciam com a ausência do Paraguai nos encontros preparatórios
e a posterior recusa de receber os novos representantes deste Estado, o Presidente e Chanceler
empossados. Não existe registro algum de reunião do Mercosul ou documento qualquer quanto à
decisão de suspender os direitos do Paraguai em face ao bloco antes mesmo de consultá-lo e dar à
ele direito de resposta.
Foi emitido um projeto de “comunicado conjunto”, uma “decisão presidencial” sobre a suspensão
do Paraguai e uma declaração dos mesmos presidentes (presidentes do Brasil, Argentina e
Uruguai) quanto à adesão da Venezuela, sendo essas últimas elaboradas posteriormente e mesmo
assim sendo considerados resultados oficiais da reunião, embora nem ao menos estivessem em
pauta.
O comunicado conjunto, emitido em 29 de junho, foi assinado pelos presidentes dos três países
membros citados e do representante da Venezuela que participava do comunicado (embora não
tenha participado das decisões) que suspende o Paraguai dos seus direitos no bloco e admite a
Venezuela. Em termos legais, a Venezuela não teria direito de participar de comunicado algum,
uma vez que, à época, não era membro pleno.
Segue abaixo citação do comunicado conjunto que suspende o Paraguai de seus direitos no
Mercosul:
Enquanto isso, no mesmo comunicado, segue abaixo citação de parte onde se convoca uma
reunião onde a Venezuela deverá ser admitida como membro do bloco:
Talvez as decisões tomadas nesse evento não estejam claras o suficiente na dissertação acima.
Podemos então elucidá-las nos pontos que se seguem:
Presidentes não tem função para tomadas de decisão, pode-se recomendar quais decisões ou
procedimentos viabilizar para finalizar ou solucionar o problema, não há uma validação para que
Presidentes tenham uma decisão formal, apenas tem acesso a atos declaratórios para o Conselho.
Ao Conselho de Mercado Comum cabe reunir os presidentes dos Estados partes para uma
discussão sobre qualquer tipo de assunto, porém o ato legitimado vem apenas do Conselho a qual
é obrigatório aos Estados parte cumprirem. Este “poder” de decisão vem de ratificações impostas
pelos próprios Estados parte, que cedem como o único habilitado a adotar decisões.
Segundo o protocolo que Ushuaia, “decisões” tomadas por presidentes são uma forma
equivocada, o que não foi seguida nesse caso da “decisão” sobre o Paraguai, o único tramite
observado foram a reunião de chanceler, na qual foi inadequada por não passar por uma
declaração do processo político paraguaio, que trouxe como caráter de crise interna, do que uma
ruptura democrática. O que se entende que as medidas unilaterais não estão fundamentadas
naquele “tratado fundacional”, embora, essa ação não esteja direcionada diretamente ao Paraguai
mas sim a “incorporação” da Venezuela.
A delegação parlamentar não cessa de denunciar as ilegalidades no âmbito do Mercosul, por não
adquirirem evidências e documentos formais , e por ser um “decisão” vinda de presidentes que
não tem alçada para delegar “decisões”, na qual o Paraguai tentou argumentar em apelo ao
Tribunal Permanente de Revisão, porém foi inútil.
A “adesão” da Venezuela
A primeira contradição na declaração sobre a incorporação da Venezuela no bloco se encontra no
caput da seção resolutiva, em que diz que os presidentes “decidem”. A contradição se encontra no
fato de que uma declaração não pode decidir matéria de âmbito constitucional. Outra contradição
é que são os presidentes dos Estados membros que fazem essa decisão, mesmo não tendo poder
decisório algum no Mercosul, diferente de seus ministros de relações exteriores e de economia,
que deveriam ter feito tal decisão.
Além disso, se embasaram nos artigos II e III do Protocolo de Ouro Preto (POP), que se referem
às alterações internas necessárias para a adesão do requerente ao bloco, mesmo sabendo que o
protocolo de adesão da Venezuela (2006) não havia sido ratificado pelo estado Andino até dado
momento, muito menos adotado as mudanças solicitadas.
Outra contradição está presente no fato de que, no comunicado, pronunciado antes da devida
adesão, os presidentes se “congratulam” da adesão da Venezuela ao bloco, mesmo não tendo
características de uma decisão constitucional. E, logo em seguida, retiram o poder de sua própria
decisão ao propor convocar uma reunião para tornar a admissão oficial do requerente. Com isso,
já se pode notar tamanha irregularidade neste processo de adesão de um Estado ao Mercosul.
A única e correta forma de ser concretizada a inclusão em pauta seria pela ratificação de todas as
partes (incluindo Venezuela e Paraguai) do protocolo de adesão. Porém, o Paraguai foi impedido
de participar dessa decisão, por vontade unilateral dos outros Estados membros, sem respeitar o
próprio protocolo que os serviu como base para justificar a suspensão dos direitos do estado
Guarani, o protocolo de Ushuaia.
O próprio Paraguai, contudo, reconhecia que os procedimentos de consultas entre as partes eram
impossíveis por conta da unilateralidade das decisões tomadas antes de e em Mendoza. Portanto,
estava fechada a via para qualquer outro procedimento pelo país agravado.
Resumindo, o Paraguai declara que os atos praticados não possuem validade jurídica por violar
normas e princípios básicos do Direito Internacional, o que causa um prejuízo ao Paraguai, que
deixou de maneira arbitrária impedido de exercer seus direitos soberanos como Estado fundador
do Mercosul.
O tribunal considerou a demanda do Paraguai e emitiu um laudo que, resumidamente, diz que é
inadmissível o que ocorreu uma vez que não estavam presentes, sem consentimento expresso dos
demais Estados partes. Mesmo que o Paraguai tivesse passado notas diplomáticas solicitando
consultas aos demais Estados partes, não respondendo estes à demanda do país, este
permaneceria no esquecimento de qualquer solução. É importante lembrar que os três países
autores da “suspensão” pretendiam retirar o Protocolo de Ushuaia do âmbito de competência do
Protocolo de Olivos, o que não foi admitido pelo tribunal.
A reunião prometida no comunicado de Mendoza para o Rio de Janeito, no dia 31 de julho, para
“oficializar” o ingresso da Venezuela foi, na verdade, realizada em Brasília no dia 30 de julho.
Desta vez os presidentes se pouparam de emitir qualquer outra decisão ou declaração em violação
das normas do Mercosul.
Reunido o Conselho do Mercosul, foi emitida nova decisão, na qual, depois de “considerar” que a
Venezuela depositou seu instrumento de ratificação ao Protocolo de Adesão ao Mercosul em
2012, decidia que a partir de agosto do mesmo ano a Venezuela adquiriria a condição de Estado
parte e participaria com todos os direitos e obrigações do Mercosul. Nada se disse das demais
obrigações contraídas pela Venezuela sob o protocolo de 2006, nomeadamente a incorporação das
normas e a liberalização comercial recíproca fixada originalmente para ser realizada de forma
completa até janeiro de 2012. Em lugar disso, se decidiu estabelecer novo grupo de trabalho e
conceder 4 anos adicionais para que a Venezuela pudesse cumprir o que o país não conseguiu
cumprir nos seis anos anteriores.
O espetáculo do descumprimento
Não existe somente esse caso “duvidoso” de descumprimento dos próprios princípios básicos do
Mercosul e sua pretensão de se tornar uma verdadeira união aduaneira tomando medidas
nacionalistas. Até mesmo o Paraguai, que neste caso poderíamos considerar como “vítima”,
possui casos de inconsistências com a ideia de Mercosul.
O Paraguai vem postergando a eliminação de sua dupla cobrança da Tarifa Externa Comum, com
afirmações de que não poderia dispensar a receita do fluxo aduaneiro. Porém, não podemos
deixar de considerar que um grande mercado que o Paraguai poderia conquistar fica no outro lado
dos rios da bacia do Prata.
Medidas contra o livre-comércio e a união aduaneira também são feitas pela Argentina, como a
tentativa de legalizar um regime de salvaguardas que, segundo o Tratado de Assunção, não
poderia subsistir. Essa tentativa foi feita após a entrada em vigor do Protocolo de Ouro Preto,
uma fase importante do Mercosul na preparação para a criação de um mercado comum. Esse
regime foi contestado pelo Brasil, mas o governo Lula foi leniente com a Argentina e assim
houve a criação do Mecanismo de Ajuste Competitivo, para tentar manter a balança comercial
equilibrada. O MAC não está sendo acionado mas o fato de existir pode ser considerado uma
violação das normas de uma união aduaneira. A Argentina, ao longo dos anos, praticou várias
medidas de defesa comercial, como anti-dumping e salvaguardas, e apesar de ser legal, contradiz
o espírito das negociações multilaterais.
E não só no quesito econômico e comercial que o Mercosul pode estar se rebaixando em seus
padrões. No quesito democracia, a adesão da Venezuela pode corroer a imagem do Mercosul. A
Venezuela está colocando em prática um plano autoritário pelo seu presidente e até entidades
como a Human Rights Watch vem sendo hostilizadas.
Todos esses pontos levantaram preocupações daqueles que acompanham o Mercosul desde o seu
nascimento, e é esperado que o Paraguai continue lutando pelos seus direitos, porém, mesmo
após os trâmites jurídicos, a entrada da Venezuela é inadmissível pois nenhum requisito formal do
Mercosul foi atendido pela Venezuela, como a ratificação do Tratado de Assunção, POP e PO,
além de questões políticas e democráticas.
Todos esses pontos levantados demonstram que o Mercosul está numa trajetória que desrespeita
seus princípios de livre-comércio e união aduaneira que pode manchar a imagem do Mercosul.