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Uberaba
2016
BRUNA SANTA CRUZ BELELA AMUI
UBERABA
2016
Dedico este trabalho ao meu pai, que se orgulhava
em ser mineiro e me ensinou a valorizar o imaterial.
Agradeço à todos que de alguma forma me ajudaram na execução deste trabalho.
Meu orientador Rodrigo Moretti, pelo apoio desde a concepção do tema e por me transmitir conhecimentos que
sem dúvida levarei por toda minha vida profissional.
Minha mãe Tata, que assim como em todos os momentos da minha vida esteve ao meu lado, passou a entender
sobre Arquitetura, patrimônio e tradições , me acompanhou nas visitas e me incentiva a cada dia ir além.
Lucas, pelo apoio incondicional na realização deste sonho que construímos juntos e pela compreensão nos
momentos em que a faculdade foi prioridade.
Meu irmão Be, por dividir seus conhecimentos culinários e contribuir na execução do tema e minha irmã Ailin, por
ser minha orientadora à distância, em questões acadêmicas e pessoais.
Minha avó Rita, pelo carinho e pelas longas conversas sobre o passado.
Aos meus amigos da faculdade pela parceria, amizade e apoio emocional.
“São fartas as nossas terras de palmitos,
guarirobas, coroá cheiroso, taiobas e
bolos de carimãs. Destes bolinhos,
marília, usam muito aqueles povos,
fazendo um mingau com ovos, quase
todas as manhãs. Temos o cará mimoso,
temos raiz de mandioca, da qual se faz
tapioca, e temos o doce aipim. Temos o
caraetê, caraju, cará barbado, o inhame
asselvajado, a junça, o amendoim.
Mangaritos redondinhos, batatas-doces,
andus, quiabos e carurus, de que se fazem
jambés. Temos quibebes, quitutes,
moquecas e quingombôs, gerzelim,
bolos d'arroz, abarás e manauês. Temos a
canjica grossa, pirão, bobós, caragés,
temos os jocotupés, ora-pro-nóbis, tutus.
Também fazemos em tempo do milho
verde o corá, mojanguês e vatapás, pés de
moleque e cuscuz.”
(Publicação de Joaquim José Lisboa,
1806, alferes do Regimento Regular de
Vila Rica.)
Resumo
A cultura popular e as tradições culturais de uma sociedade fazem parte do Patrimônio Imaterial deste local, e na região
do Triângulo Mineiro, uma tradição ainda mantida que deve ser preservada é a culinária mineira, feita de forma artesanal,
espontânea e através de receitas que atravessam gerações. A memória cultural do mineiro está fortemente relacionada
à cozinha e à comida. Desta forma o projeto de um Instituto de Cultura Regional na cidade de Uberaba favorece a
manutenção destes saberes e memórias, abordando temas como a valorização do patrimônio imaterial, importância dos
centros históricos e preservação.
Palavras-chave
Cultura regional; Patrimônio Imaterial; Arquitetura ; Culinária; Preservação.
Introdução 15
Capítulos
Capítulo 1 - Patrimônio ao redor da cozinha 19
1.1 - Cultura - 23
1.2 - Cultura Tradicional Mineira - 27
1.3 - Escolha da área - 33
1.4 - Diagnósticos - 35
Capítulo 4 - Projeto 59
Referências Bibliográficas Consultadas 76
Anexos
Sumário
O presente Trabalho Final de Graduação tem por objetivo desenvolver a proposta projetual de um Instituto de Cultura
Regional de Uberaba, a fim de explorar índices e dados de produção de atividades da cultura e tradição da culinária
mineira, como forma de analisar e valorizar o Patrimônio Imaterial da região. Constituem outros objetivos o
embasamento teórico ao trabalho prático em projeto a história de Uberaba relacionada ao Patrimônio Urbano e Cultural,
elaborar leituras de projetos similares que valorizam a cultura tradicional e típica de uma região; visitar à espaços de
produção e venda de produtos culinários, além de analisar a caracterização física da área de projeto e seus
condicionantes urbanísticos.
A população de Uberaba é, assim como a maioria do país, composta por uma miscelânea de nacionalidades, que passam
pela cultura árabe, indígena, italiana, libanesa, africana, japonesa e portuguesa, criando assim uma cultura nova, típica da
região, com suas tradições próprias. Este fenômeno cultural de aglutinação de saberes é percebido desde o período de
colonização do país como na carta do alferes Joaquim José Lisboa em 1806 apresentado na epígrafe deste trabalho,
onde o autor se surpreende com a diversidade de produtos da terra e suas utilidades, apresentadas primeiramente pelos
índios e depois apropriadas pelos próprios colonizadores. Esta rica população que possui um grande acervo prático e
15
teórico, porém não bem difundido entre os moradores em geral, levou à escolha do tema, que foi consequência da
percepção de que parte da cultura de uma região se dispersa ao longo de sua história e isso acontece devido à diversos
fatores, entre eles, o processo de intensa globalização e a valorização de novas tecnologias, temas contemporâneos e até
mesmo de culturas estrangeiras atuais. Porém a cidade de Uberaba, assim como toda a região do Triângulo Mineiro,
mantém um forte apego à sua identidade cultural inicial, através da manutenção de saberes e práticas artesanais, onde a
influência externa não interfere na originalidade e simplicidade, como comprovam as autoras Abdalla e Machado
(2007):
A
cozinha constitui um dos pilares centrais da imagem de um típico mineiro reconhecida internamente e
além das fronteiras do Estado. A observação da pródiga oferta de alimentos em ocasiões festivas e nos
momentos mais corriqueiros do cotidiano tem estimulado nossa reflexão sobre a cozinha como espaço
privilegiado de convívio e relações sociais. Podemos falar de cozinha materna, da mesma forma como falamos de
língua materna, que permanece como referência viva mesmo na memória daqueles que migram, constituindo
elemento importante na pauta da identidade, num plano universal. (MACHADO; ABDALA (org.). Caleidoscópio de
saberes e práticas populares. Uberlândia: EDUFU,2007. )
16
Para que este apego se mantenha e continue ao longo das gerações surge a proposta do Instituto de Cultura Regional,
baseando-se no fato de que, além da estética, estrutura, conforto, inovação e funcionalidade, a Arquitetura tem um
papel social e deve promover a igualdade de acesso aos serviços prestados pela sociedade incluindo cultura e lazer,
estimulando também a educação.
A elaboração deste projeto se dará a partir de pesquisas feitas na cidade de Uberaba, que tem em seu centro geográfico
um circuito cultural não estimulado que abrange as regiões da Arthur Machado, Praça Rui Barbosa, Mercado
Municipal, Igrejas Santa Rita e Santa Terezinha, e busca também destacar este setor, além de servir de modelo para
outras cidades também valorizarem sua cultura.
17
AV. DR. ODILON FERNANDES
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22
Cultura
Diversos autores apontam inúmeros conceitos para o termo Seguindo este conceito, a culinária é considerada uma
cultura. O pesquisador Alfredo Bosi (1992) sugere que forma de manifestação cultural a partir do princípio
cultura é algo que se aprende, se desenvolve e se cultiva e de que ela expressa os costumes de um local ou grupo
paralelo à isso o homem culto é o que acumulou esse de pessoas, a forma de se alimentar e preparar a
conhecimento da cultura ao longo da vida. O autor afirma comida retrata os costumes. Mais uma vez perceptível
ainda que não há uma cultura universal, mas múltiplas na epígrafe deste trabalho, onde o alferes Joaquim
culturas, únicas e autênticas. José Lisboa relata os modos de preparo da comida na
Tem-se atualmente a noção de cultura como processo, época em que o Brasil era colônia portuguesa, algo
como bem simbólico, como algo que se produz na vida diretamente ligado à forma de vida da população,
social e que modifica-se constantemente, pois a cultura é o: com referências indígenas e portuguesas.
A Constituição Federal de 1988 renovou e ampliou o conceito de Patrimônio Histórico e Artístico (1937) por Patrimônio Cultural,
que constituem os “bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. ” Nesta nova definição, os modos de
criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais; os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico passam a ser regidos e regulamentados por lei, a gestão do Patrimônio e da
documentação relativa aos bens é responsabilidade do poder público, porém a promoção e proteção do Patrimônio Cultural de
uma sociedade é de responsabilidade entre uma parceria do poder público e a sociedade em geral.
Sendo assim, ‘’pensar hoje em preservação do patrimônio, faz-se importante considerar, a amplitude do patrimônio cultural, que
deve ser contlado em todas suas variantes... edificações, espaços, documentos, imagens e palavras.” (CASTRIOTA. L B. Patrimônio
Cultural. Conceitos, políticas, instrumentos. 2009, p 95)
Os bens materiais podem ser móveis ou imóveis e são classificados segundo sua natureza conforme os quatro Livros do Tombo:
arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas.
Os bens imateriais estão relacionados às práticas da vida social que se manifestam em saberes, ofícios, modos de fazer,
celebrações, formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas. É transmitido entre as gerações e recriado
espontaneamente, através da reapropriação de saberes e práticas adaptados de acordo com cada necessidade e momento,
conservando porém a essência inicial, desenvolvendo comunidades e grupos familiares, gerando um sentimento de identidade,
que se preserva ao longo do tempo.
24
Existem 4 livros de Registro de Patrimônio Imaterial no IPHAN
Instituto do Patrimônio Histórico e Artísitico Nacional, cada um com
um tema específico. São eles: Livro de Registro dos Saberes, que
trata dos conhecimentos e técnicas tradicionais de um determinado
grupo( podemos incluir as receitas e técnicas de preparo da comida
mineira); Livro de Registro de Celebrações, sobre as ocasiões de
sociabilidade que possuem regras prórpias; Livro de Registro das
MUSEU DE ARTE SACRA
Formas de Expressão, que abrange as manifestações artísticas em FONTE: FUNDAÇÃO CULTURAL
geral; Livro de Registro dos Lugares que lida com locais de
manifestações culturais coletivas de naturezas variadas, (que
incorporamos a cozinha, que é o local onde acontecem as
manifestações estudadas neste trabalho).
25
Municipal; distribuição do programa e relação entre cozinha e ambientes de convívio da Casa do Artesão e Casa de Cultura; os
jardins e varandas do MADA; a linearidade e repetição de elementos do Vera Cruz e TEU e a materialidade e readequação de
uso do galpão industrial do SESI.
Após 2000 foram inventariados os grupos de Catira e Congada da cidade e no ano de 2014 os grupos de Folia de Reis. Uberaba
possui atualmente tombados 25 bens imóveis, 4 bens móveis e um bem imaterial, que é a Banda de Música do 4º Batalhão da
PM; inventariados 166 bens imóveis, 4 bens móveis e 4 arquivos. Sua população descende de portugueses, espanhóis,
italianos, angolanos, árabes, libaneses, turcos e japoneses e parte da cultura raiz destes países é presente até hoje, seja nos
costumes, religião, música, vestimenta, artesanato e principalmente na culinária. Os saberes e fazeres trazidos pelos
imigrantes se fundiram entre si e aos costumes dos indígenas, criando o que consideramos atualmente a “comida tradicional
mineira”.
26
Cozinha Tradicional Mineira
A população uberabense descende de portugueses,
espanhóis, italianos, angolanos, árabes, libaneses,
turcos e japoneses e parte da cultura raiz destes países
é presente até hoje, seja nos costumes, religião,
música, vestimenta, artesanato e principalmente na
culinária. A base da cozinha brasileira vem da
influência colonizadora de Portugal, mas também dos
dois grandes povos que caracterizam a maior parte da
cultura do país, os Índios e Africanos. Com o tempo a
comida brasileira foi sofrendo variações em cada
região, isso devido à diversidade de ingredientes e
combinações. DOCE DE LEITE NA PALHA
FONTE: ARQUIVO AUTORA
Para se pontuar a culinária mineira, deve-se analisar a
era de exploração do ouro no século XVIII, onde a
riqueza em pedras e diamantes atraiu exploradores de
todas as regiões do país, diversificando ainda mais a
cultura local. Em suas viagens à procura das pedras os
bandeirantes carregavam em sua maioria grãos de
milho e feijão e carne de porco, deixando assim sua
herança, assim como os diversos estrangeiros que
vinham pelo mesmo motivo para as Minas Gerais e
incorporavam suas tradições às já existentes na
região. As receitas vindas de cada local foram
adaptadas, ou sofreram alterações de ingredientes,
construindo assim a “típica comida mineira”.
QUEIJO CURADO
FONTE: ARQUIVO AUTORA
27
A imagem de um mineiro típico está aliada à ideia de comida caseira, onde os ingredientes eram todos
encontrados no próprio quintal, porém segundo Mônica Chaves Abdalla, desde a década de 1980, as tradicionais
reuniões familiares vem sendo reduzidas aos finais de semana, ou pequenos encontros casuais, isto se dá, devido à,
modificações nos padrões tradicionais das refeições, mudanças na sociabilidade, por interferência de regras
dietéticas alternativas ou de caráter médico e pelo aumento no consumo de produtos industrializados. Em cidades
como Uberaba, algumas manifestações culturais como a Congada, as Folias de Reis e Festas Juninas permanecem,
com suas mesas fartas de alimento, fazendo parte do Patrimônio Imaterial uberabense como formas de expressão
e celebrações.
Mesmo as mais tradicionais manifestações culturais se transformam ao longo do tempo inevitavelmente, elas não
conservam sua “pureza” original, pois os saberes são reinterpretados e reapropriados de acordo com a
necessidade dos dias atuais. É comum na maior parte das residências uberabenses encontrar antigos cadernos de
receitas que sobreviveram à gerações como o caso de Maria Rosa, que ensinou suas filhas Rosa e Maria José, o que
aprendeu com sua mãe Mariquinha Pena, que colhia frutos no pomar da fazenda onde morava e testava receitas
que aprendia com vizinhos. Estes saberes são passados e também incorporados à novos meios, desenvolvendo
novos padrões que serão posteriormente revigorados e renovados, gerando assim um ciclo, que se desenvolve,
constituindo um patrimônio cultural sobrevivente ao tempo e caracterizado como parte da formação pessoal
desses indivíduos como cita Mônica Chaves Abdalla criando o termo ‘’cozinha materna’’.
“
Podemos falar de cozinha materna, da mesma forma como falamos de
28
Algo que se tornou comum e é um dos pilares justificativos desta proposta de trabalho, é o fato de todo o aprendizado
adquirido através das gerações se tornar fonte de renda familiar. Inicialmente vendidos de porta em porta, em feiras
municipais, quermesses e bazares beneficentes, paralelamente à globalização de hábitos alimentares, o maior poder de
compra, a vida das pessoas mais corrida, fez surgir um nicho de mercado onde o “feito em casa” é supervalorizado. Esta
supervalorização mantém viva a identidade cultural regional e suas tradições, como as reuniões em torno da mesa e o
hábito de comer a fruta ‘’direto do pé’’ além de difundi-las por regiões anteriormente inatingíveis devido ao fluxo de
mercado, como afirma a pesquisadora Mônica Chaves Abdalla:
“
Desse modo, a receita da broa de massa de queijo e do biscoito de polvilho, que
reuniram a família em tantas merendas imemoriais, o pau-a-pique, na folha de
bananeira, que alimentava os nove filhos na fazenda, o licor das frutas do quintal e
as compotas de frutas, geléias, doces de leite aprendidos nos cadernos de receita
presenteados pelas avós - cadernos estes que eram peças obrigatórias do enxoval -,
transformam-se em mercadorias atrativas, atendendo às exigências de praticidade da
vida doméstica contemporânea, em que o hábito de comprar pronto substitui o de fazer
em casa. “ (ABDALLA, Mônica Chaves, 2007)
Esta percepção da valorização do processo artesanal e das memórias afeitvas, citado por Mônica Chaves Abdalla, se
reflete na criação dos espaços de projeto como a praça pomar, a cozinha materna que remete às antigas cozinhas
externas, os cadernos de receita se transformam em um lugar, uma cozinha experimental, onde se pode unir processos e
ingredientes, além do hábito de se reunir em torno da mesa ou debaixo das sombras das árvores seja para uma conversa
ou para um momento de descanso.
Algo muito comum na disseminação das tradições típicas como mercadoria é a interferência de órgãos públicos, como a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e a Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural (EMATER) que instituem normas de higiene, saúde e qualidade aos produtos e produtores.
Porém em diversos casos há a alteração de cor e sabor dos produtos e para isso são feitas algumas concessões para que
conhecimentos adquiridos continuarem sendo utilizados, como a colher de pau, o fogão de lenha, as matérias-primas
vindas diretamente da fazenda, mantendo assim as tradições originais que nunca serão imitados pela indústria.
“
Compra-se o fogão a gás para ajudar no aumento da produção, mas considera-se
que a broa de fubá, o mané pelado, o queijo e o requeijão, a geleia de mocotó, a
farinha, se não são feitos no fogão a lenha, “não pegam cor”, “não ficam a mesma
coisa”. (ABDALLA, Mônica Chaves, 2009)
29
Após alguns dias de pesquisa por feiras, mercado
municipal, Associação de Mulheres Rurais de Uberaba
(AMUR) e Prefeitura, foram encontrados mais de 500
produtores catalogados e que comercializam seus
produtos, desde matéria-prima como farinhas, ovos e
mel, até os produtos já embalados, como compotas,
doces e queijos. Mas este número vai muito além
quando a produção é familiar e não comercial,
principalmente nos bairros mais antigos, como centro,
Estados Unidos, Mercês e Boa Vista,
predominantemente mulheres, produzem bolos, pão
MULHERES PRODUTORAS de queijo e as famosas “quitandas” diariamente,
FONTE: AMUR
mantendo sempre viva a identidade cultural dessa
região. Dentre os produtos a lista é grande: rapadura,
melado, mel, queijo trança, queijo curado, queijo
fresco, queijo meia cura, requeijão cremoso, requeijão
moreno ou branco, antepasto de jiló, quiabo ou
tomate, conser va de jurubeba, de pimentas;
goiabada, doce de leite em pasta, de cortar, na palha
ou quadradinho; geléia de mocotó, de laranja,
jabuticaba e até de pimenta; licor de jabuticaba, de
jenipapo, murici e de laranja; doces cristalizados ou
secos, compota de mamão, figo, jenipapo,
laranja,limão, abóbora, figo, pêssego, goiaba, folha de
mamão; doce de nata, ameixa de queijo, quadradinho
COZINHEIRA NO FOGÃO de amendoim, leite e abóbora, pé de moleque, bala de
FONTE: AMUR
30
Além das carnes de lata, das esfihas (forte influência AMUR - Associação de Mulheres Rurais de Uberaba,
da imigração árabe e síria), pães de queijo, broa de podemos considerar como saberes e práticas
fubá ou milho, pamonha de doce ou sal, biscoitos de tradicionais da cidade de Uberaba e parte de seu
queijo e polvilho, mané pelado (bolo de mandioca), Patrimônio Imaterial os seguintes produtos: Doce de
roscas, suspiros e sequilhos. Já no prato a guariroba, leite ( cremoso, em barra e na palha); Pé de moleque;
taioba, orapronóbis, quiabo, banana (que pode ser Ambrosia; Goiabada; Geléia de Mocotó; Queijo Minas
frita ou não), frango moreno, quiabo, cajamanga, jiló, Curado; Requeijão Queimado; Requeijão Cremoso;
rabada são parte do cotidiano de muitos “mineiros Doce de mamão; Doce de pau de mamão; Doce de
típicos”. Nata; Doce de Manga; Doce de Abóbora; Pão de
É fato que a cultura em sua originalidade não se queijo; Rosca de nata; Biscoito de Polvilho; Licores de
mantém intacta, pois com o tempo novos saberes e frutas e Geléia de frutas.
técnicas vão sendo apropriados, o importante é a
Sabe-se que a cozinha é um espaço de grande valor
manutenção e a valorização destes saberes
para a cultura mineira, não apenas pela culinária, mas
promovendo a construção de identidades culturais.
pelo valor afetivo das reuniões que se dão ao redor
Assim a proposta do presente trabalho busca a
dela.
manutenção destes saberes e a sua valorização
A produção culinária caseira é diversificada e
através de espaços para estudo, práticas e interação
acontece toda em um único espaço, a mesma mesa
com as diversas manifestações culturais presentes na
em que se descascam frutas, se sova a massa do pão,
cidade de Uberaba. O espaço busca manter as
porém, para melhor espacialização dos tipos de
tradições e dissemina-las para a população que não
cozinha em projeto foi proposto este diagrama
tem acesso a este tipo de manifestação cultural,
indicando os processos utilizados na preparação de
podendo até mesmo se tornar forma de renda em seu
cada produto, gerando a criação de duas cozinhas
futuro, além de proporcionar aos que produzem uma
maternas com forno e fogão à lenha e duas cozinhas
forma de contato e expressão diferente do que estão
experimentais que permitem a utilização de todos os
habituados.
Após pesquisas e levantamentos feitos no Mercado processos para a produção culinária.
Municipal de Uberaba, Peirópolis, CONPHAU e na
31
GELÉIA DE FRUTAS
LICORES DE FRUTAS AMBROSIA
GELÉIA DE FRUTAS
Coar PÉ DE MOLEQUE
QUEIJO CURADO
GOIABADA LISA DOCE DE ABÓBORA
GOIABADA CASCÃO
GELÉIA DE MOCOTÓ LICORES DE FRUTAS
Triturar
FARINHA DE MANDIOCA DOCE DE MAMÃO
FARINHA DE MANDIOCA
Cozinhar REQUEIJÃO QUEIMADO
Assar
BISCOITO DE POLVILHO
LICORES DE FRUTAS
Misturar
BISCOITO DE POLVILHO
LICORES DE FRUTAS
PÃO DE QUEIJO QUEIJO CURADO
33
34
Diagnósticos
GABARITO
No entorno imediato ao lote escolhido para projeto
grande parte das construções são de no máximo 2
pavimentos, já ao longo da Rua Arthur Machado e nas
vias arteriais Fidélis Reis e Odilon Fernandes, há a
presença de edifícios de mais de 6 pavimentos. Porém
estas edificações mais altas, estão posicionadas em
relação a orientação solar de uma forma que não
impactarão em grande incidência de sombras na área de
projeto. Após análise de gabarito e incidência solar, a
intenção de projeto é de não exceder o gabarito do
entorno, para que a nova edificação se insira na malha
urbana de forma harmônica, sem se destacar das
demais, já existentes.
35
USO
O entorno da área de projeto se revela de uso misto, de um lado, uma das
principais ruas de comércio e serviços da cidade, de outro uma área
predominantemente residencial, a região é de amplo acesso à transporte
público e apresenta um público potencial de acesso à atividades culturais
propostas em diversos períodos, atraindo novas concentrações e atividades
Fonte: Produzido pela autora à região.
36
Por se tratar da área central da cidade que historicamente é
a primeira parcela de solo a ser ocupada pela população,
nota-se que está praticamente toda utilizada, quase não
sobrando lotes vazios. Porém como ocorre em diversas
cidades, devido ao processo de descentralização grande
parte das edificações estão inutilizadas e abandonadas,
descaracterizando a imagem da região. Pode-se perceber
na análise de áreas verdes, que estas são escassas na
região, poucas ainda se fazem presente. A inserção de
equipamentos culturais em regiões centrais, valorizam a
área tanto economicamente, quanto socialmente, dando à
população a oportunidade de acesso à cultura, à história
esquecida da cidade e desenvolve uma nova atividade à
áreas anteriormente degradadas. Uma outra premissa de
projeto é a utilização e preservação da área verde existente
no terreno, buscando a melhor qualidade ambiental do
projeto e a conscientização populacional para a
preservação e contato com áreas verdes.
A área de projeto está localizada em uma região com topografia declinada, e os lotes para
projeto não apresentam a topografia original, possuem dois arrimos e desnível de mais de 4
metros, o que proporciona o trabalho da edificação em níveis e com diversos acessos,
proporcionando à população um ambiente de grande facilidade de fluxo e integração com
seu entorno e cidade. Já a proximidade de vias arteriais e coletoras favorece também o
acesso de públicos de todas as regiões do município, promovendo a integração da
sociedade.
38
FACHADA EDFÍCIO PRÉ-EXSITENTE FACHADA LATERAL
FONTE: ARQUIVO AUTORA FONTE: ARQUIVO AUTORA
VISTA DA PRAÇA
FONTE: ARQUIVO AUTORA
39
O programa partiu do conceito inicial de grandes áreas e setorização para então elaborar uma tabela de possíveis
áreas e número de usuários, para então relacionar a circulação entre os espaços e iniciar a distribuição ao longo da
área.
Cozinha materna
Praça pomar
Área técnica
Cozinhas experimentais
Horta
40
Área Técnica Área Total: 150m²
AMBIENTE QT EQUIPAMENTOS PESSOAS ÁREA APROX.
(m²)
Recepção 01 Cadeiras, bancada, computadores Funcionário/ público 8
em geral
Carga e 01 Espaço para recepção de produtos Funcionários 15
Descarga
Administrativo 01 Mesas de trabalho, cadeiras, Funcionários (máx. 16
armários/estantes e computadores 04)
41
Praça Pomar Área Total: 600m²
AMBIENTE QT EQUIPAMENTOS PESSOAS ÁREA APROX.
(m²)
DML 01 Equipamentos hidráulicos, armário. Funcionários 6
Pomar - Espécies vegetais frutíferas Público em geral 300
Espaço livre 01 Mesas, bancos, sofás, redes Público em geral 250
para
alimentação e
exposição
Instalações 01 Feminino/Masculino/PNE: Público em geral 25
Sanitárias lavatórios, bacias sanitárias,
mictórios
Horta + Espaço de Convívio Área Total: 60 m²
AMBIENTE QT EQUIPAMENTOS PESSOAS ÁREA APROX.
(m²)
Floreiras 8 Irrigadores Público em geral 20
Convívio - Redes, bancos, mesas Público em geral 20
DML 01 Equipamentos hidráulicos, armário. Funcionários 6
Cozinhas experimentais Áreas Total:
AMBIENTE QT EQUIPAMENTOS PESSOAS ÁREA APROX.
(m²)
Cozinhas 02 Bancadas de trabalho com fornos, Professores/ alunos 40 cada módulo
modulares pias, geladeiras, fogões, armários, (turmas máx 6) (80 total)
prateleiras, equipamentos de
cozinha e coifas.
Central de Gás 01 Gás Funcionários 6
MOINHO MARCA
FONTE: moinhosdovale.com.br
MOINHO VICENZI
FONTE: moinhosdovale.com.br
CROQUI DO MUSEU
FONTE: BRASILARQUITETURA.COM
PLANTA DO MUSEU
FONTE: BRASILARQUITETURA.COM
46
VISTA AÉREA DE ILÓPOLIS VISTA DO COMPLEXO
FONTE: GOOGLE EARTH FONTE: BRASILARQUITETURA.COM
48
Esta leitura de projeto do SESC POMPÉIA em São Paulo, SP CROQUI DA ARQUITETA
Sesc Pompéia
FONTE: VITRUVIUS.COM
desenvolvido pela arquiteta Lina Bo Bardi em 1986, é
relevante à aplicação no trabalho em relação aos conceitos
de RELAÇÃO PRE-EXISTÊNCIA E NOVO; MATERIALIDADE e
ESTRUTURA que serão reinterpretados e aplicados nas fases
de desenvolvimento, anteprojeto e projeto executivo do
presente trabalho final de graduação.
49
Estrutura e Materialidade
Em meio ao processo de projeto Lina percebeu que a
estrutura de concreto armado do edifício havia sido
moldada por um pioneiro desta técnica no Brasil, o
francês François Hennebique, agregando valor
histórico e arquitetônico ao projeto. A partir daí, foi
proposto um processo de “descobrimento” da fábrica,
com a retirada de camadas de reboco e aplicações de
jatos de areia, chegando à sua forma e materiais
primários no piso, parede e teto. Lina admitia fazer um
‘’Restauro Crítico’’ e utilizava o termo ‘’ presente
histórico’’ onde ela busca a valorização do edifício,
criando seu próprio estilo de intervenção, sem ignorar VISTA DA FÁBRICA
as teorias de restauro. FONTE: VITRUVIUS.COM
50
As referências à materialidade e estrutura fabril
continuam, presentes nos novos edifícios, no telhado
e até mesmo no mobiliário, sem serem óbvias e
literais. Há uma releitura de materiais, formas e
adequação à função.
52
53
Uberaba 54
Valor Histórico
A formação de Uberaba teve início com a busca por minérios no interior do país e devido à sua localização central
se tornou ponto de parada dos exploradores. A ocupação da região foi se intensificando, gerando a necessidade
de comércio e hospedarias, a construção de uma capela caracterizava a criação de um arraial, o primeiro nome
Arraial de Santo Antônio e São Sebastião de Uberaba. O movimento em torno da Capela aumenta o fluxo de
circulação de pessoas, que passam à construir suas moradias em seu entorno. Devido ao crescimento populacional
e financeiro, há a instalação da Câmara Municipal, o arraial então se torna Vila e a Capela Igreja Matriz, a atual
Catedral Metropolitana de Uberaba. Seguindo o fluxo de desenvolvimento natural da paisagem urbana, surgem a
Rua Direita (atual Vigário Silva) e a Rua do Comércio (Arthur Machado).
A Rua Arthur Machado se mantém até hoje como ponto de atividade comercial da cidade e no início do século XX,
se tornou o eixo de ligação com a recém chegada estação ferroviária. Ao fim desta via, próxima à Estação
Ferroviária foi criada a Praça Afonso Pena, que por muitos anos foi conhecida como Praça da Gameleira, devido à
grande árvore presente em sua paisagem, porém em 1964 o marco do local foi retirado e em 1970 foi construído
um palco em forma de Concha e uma platéia, assim desde então a praça passou a ser conhecida como Praça da
Concha Acústica. Por muito tempo este espaço foi subutilizado e praticamente abandonado. Atualmente a Praça
da Concha Acústica é palco de eventos musicais e culturais, principalmente aos finais de semana, se tornando um
ponto de intensa diversidade cultural.
A área escolhida para projeto se localiza em uma edificação pré-existente na Praça Afonso Pena e avança a Rua
Arthur Machado, além da Padre Zeferino, no centro histórico de Uberaba, local onde se concentra grande parte
das atividades culturais e do Patrimônio Material da cidade, buscando relação direta com as atividades já
desenvolvidas no local.
A Rua Arthur Machado se mantém até hoje como ponto de atividade comercial da cidade e no início do século XX,
se tornou o eixo de ligação com a recém chegada estação ferroviária. Ao fim desta via, próxima à Estação
Ferroviária foi criada a Praça Afonso Pena, que por muitos anos foi conhecida como Praça da Gameleira, devido à
grande árvore presente em sua paisagem, porém em 1964 o marco do local foi retirado e em 1970 foi construído
um palco em forma de Concha e uma platéia, assim desde então a praça passou a ser conhecida como Praça da
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Concha Acústica. Por muito tempo este espaço foi MAPA CENTRO DE UBERABA 1855
FONTE: ÁLBUM DE GABRIEL TOTI
subutilizado e praticamente abandonado.
Atualmente a Praça da Concha Acústica é palco de
eventos musicais e culturais, principalmente aos finais
de semana, se tornando um ponto de intensa
diversidade cultura
ÀREA DE PROJETO
A área está localizada na ZONA DE COMÉRCIO E SERVIÇOS I (ZCSI) e pode abrigar atividades comerciais e de serviços de
baixo impacto ambiental. A taxa mínima de ocupação no lote é de 70% e o Coeficiente de Aproveitamento é 2. Os
afastamentos pemitidos até dois pavimentos são: FRONTAL 2 metros complementando o passeio; LATERAIS E FUNDOS
1,5 metros com abertura de vãos. A área possui 3 acessos diferentes, para as ruas Padre Zeferino, Arthur Machado e Praça
Afonso Pena (conhecida como Praça da Concha Acústica). A partir destes acessos um dos conceitos para projeto é a
fluidez espacial que permita a livre circulação em todos os sentidos. As áreas verdes existentes no terreno serão mantidas
e ampliadas através das hortas e do pomar, melhorando a qualidade ambiental e o conforto térmico da edificação. A
coexistência entre o antigo e o novo é proposta em uma arquitetura contemporânea que se referencia nos estilos
históricos através da materialidade e de técnicas construtivas vernaculares como a taipa de pilão e a estrutura de
madeira.
A utilização do edifício pré-existente no centro da cidade, que se encontra em estado degradado e abandonado, e
antigamente abrigava uma fábrica, sofreu descaracterização em sua fachada original, mas seu interior guarda uma
antiga estrutura de madeira que sustenta a cobertura, com fechamentos independentes, sem função estrutural,
proporcionando flexibilidade de usos e ambientes. A intenção projetual é reparar e preservar as tesouras de madeira, e
proporcionar a livre circulação no espaço existente. Um outro partido adotado é a relação direta entre o Instituto e a
Concha Acústica, que hoje é palco dos grandes eventos culturais da cidade, sendo a área de projeto uma extensão destes
eventos, através da culinária.
57
ESTUDO DE INSOLAÇÃO NO SOLSTÍCIO DE VERÃO 22/12 10:00
ESTUDO DE INSOLAÇÃO NO SOLSTÍCIO DE INVERNO 21/06 10:00
FONTE: ARQUIVO PESSOAL DA AUTORA
FONTE: ARQUIVO PESSOAL DA AUTORA
JD DA SORTE
64
DECK POMAR CIRC. CONVÍVIO
+252 +247 +252 +247
POMAR
FONTE: PRODUZIDO PELA AUTORA
65
POMAR
FONTE: PRODUZIDO PELA AUTORA
ÁREA DE CONVÍVIO
FONTE: PRODUZIDO PELA AUTORA
CALÇADA
+252 HALL COZINHA CONVÍVIO CONVÍVIO SAN PNE ADM. DEP. JD. DA SORTE CALÇADA
+252 +252 +247 +252 +350 +352
66
INTERIOR DO GALPÃO PRÉ EXISTENTE
FONTE: PRODUZIDO PELA AUTORA
67
ÁREA DE CIRCULAÇÃO E CONVÍVIO
FONTE: PRODUZIDO PELA AUTORA
68
FACHADA ATUAL PRAÇA AFONSO PENA
FONTE: ARQUIVO PESSOAL DA AUTORA
73
FACHADA RUA ARTHUR MACHADO DIURNA
FONTE: PRODUZIDO PELA AUTORA
COZINHA DE QUEIJOS
77 FONTE: PRODUZIDO PELA AUTORA
78
VISTA DO POMAR PELO DECK
FONTE: PRODUZIDO PELA AUTORA
VISTA DO POMAR
FONTE: PRODUZIDO PELA AUTORA
79
A estrutura de madeira laminada
colada (MLC) é o elemento de
ligação formal entre as três entradas
do projeto, em momentos funciona
como cobertura e outros como
elemento estrutural.
ESTRUTURA
FONTE: PRODUZIDO PELA AUTORA
ESTRUTURA
FONTE: PRODUZIDO PELA AUTORA
ESTRUTURA
FONTE: PRODUZIDO PELA AUTORA 80
Espécies vegetais utilizadas
86