Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISSN: 2178-7646
Resumo
Este artigo é uma ramificação da pesquisa Memória Gráfica de Pelotas: um século de
design, constituindo-se em um subprojeto, que estuda os reclames dos periódicos produzidos
na cidade no início do século XX e que constituem o acervo da Bibliotheca Pública Pelotense.
Dentre o manancial de periódicos e edições que compõem o projeto são contemplados aqui os
anúncios do Almanach de Pelotas dos anos de 1913, 1915 e 1917. Assim, intenta-se, neste
estudo, identificar a estética presente nos reclames, averiguando a existência de uma
identidade nestes elementos de comunicação visual dentro do campo profissional que hoje
conhecemos como design gráfico. Compreendendo os frutos desta atividade como
componentes da cultura material, como signos interpretáveis e compreensíveis, sugere-se que
estes permitam o resgate da memória da profissão e, ainda, do contexto do qual emergiram.
Palavras-chave: Memória gráfica, Anúncios, Almanach de Pelotas, Análises
Introdução
1
Bacharel em Design Gráfico, Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural, UFPel,
paulaglima@gmail.com
2
Bacharel em Design Gráfico, Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural, UFPel,
nadia.projeto@gmail.com
3
Bacharel em Design Gráfico, pós-graduanda Patrimônio Cultural e Conservação de Artefatos, UFPel,
crisehn@hotmail.com
4
Graduando em Design Gráfico, UFPel, lucaspergrafico@gmail.com
A origem da palavra semiótica vem do termo grego semeion,à ueà ue àdize à sig o .à
Para Ferdinand Saussure (In: JOLLY, 1996) o signo é composto de duas faces indissociáveis: o
significado e o significante, o primeiro caracterizando o som e o segundo, o conceito.
Inicialmente a semiótica era mais aplicada na área lingüística, entretanto, esse campo de
estudo cresceu através de teóricos como Charles Sanders Peirce, que iniciou sua pesquisa em
busca de uma teoria geral, que também abrangia o som e as palavras, mas não só isso. Para
este autor, um signo era compreendido através de um ou vários sentidos, sendo que sua
materialidade poderia ter cor, textura, som, odor ou, até mesmo, sabor.
A propriedade fundamental do signo é sempre estar presente representando outra
coisa que está ausente, sendo composto, segundo Peirce, por três pólos: o primeiro é sua face
pe ept el,à ueàeleàde o i aà o oà ep ese ta e àouàsig ifi a te;àoàsegu doà àoà ueàestaà
fa eà ep ese ta,à ha adoà o oà o jeto àouà efe ente; e, por último, o que significa, que pode
se à ha adoàdeà i te p eta te àouàsig ifi ado.à PEI‘CE,à àapud.àJOLLY,à .à
Vale lembrar que para este estudo serão analisadas mensagens visuais fixas e
heterogêneas, ou seja, imagens impressas que contêm signos icônicos, signos plásticos (cores,
fo a,à o posiç oà i te a,à te tu a à eà ta à sig osà li gü sti os,à ouà seja,à à aà suaà elaç o,à
sua interação, que produz sentido que aprendemos a decifrar mais ou menos conscientemente
e que uma observação mais siste ti aà aiàajuda àaà o p ee de à elho à JOLLY,à ,àpà .
Para Jolly (1996), aquele que examina não deve tentar entender o que o autor da
imagem queria passar, e sim, deve se colocar na posição que já ocupa: a de receptor, levando
em consideração o contexto histórico e as informações oferecidas no material de análise,
verificando possíveis causas de bons ou maus funcionamentos da mensagem, de acordo com a
afinação entre os elementos icônicos, plásticos e lingüísticos, em prol de uma leitura mais
O suporte das análises é relevante para os estudos da história da cidade, pelo seu grau
de notoriedade em sua época, descortinando um panorama de Pelotas, composto por uma
visão positivista de enaltecimento da cidade, da sua vida social, cultural e seus progressos.
Esta publicação, editada anualmente, servia primordialmente de calendário-agenda,
acompanhando o pelotense durante o ano inteiro, trazendo-lhe informações úteis e de
e t ete i e to.à E aà di ididoà e à seç es,à o oà po àe e plo,à Va iedades ,à ueà t aziaà dadosà
sobre melhorias na cidade, informações sobre personalidades, artigos sobre instituições de
atendimento ao público,àse p eàilust adoà o àfotog afias.àNaàseç oà P opaga da àlo aliza-se
a maior parte dos anúncios, entretanto, vale ressaltar que estes são encontrados em quase
todas as páginas do Almanach, desde a capa até os espaços mais restritos no rodapé das
páginas, configurando o tom comercial da peça. Todos os comerciantes e industriais faziam
questão de anunciar no Almanach, dada a extensa vigência da peça (anual), sendo consultado
pelo público leitor sempre que precisava de informações úteis. Assim sendo, pode-se traçar
um panorama da vida econômica de Pelotas a partir dessa publicidade, que abrangia de
vestuário à mobília para casa, de tratores e colheitadeiras aos motores elétricos e carros, de
alimentos e bebidas aos medicamentos e produtos veterinários.
Quanto ao ponto de vista gráfico da peça, esta apresenta dimensões de página aberta
29 x 21 cm, contendo em torno de 120 a 200 páginas, sendo toda impressa em processo de
tipografia com a presença de clichês fotográficos5. A encadernação não é a original, pois os
exemplares da Bibliotheca Pública Pelotense encontram-se sem a capa da época e
acondicionados em um formato maior de capa.
Segundo Gastaud e Silva (2010, p. 12), de 1913 a 1920 os volumes foram impressos
pelas Officinas Typográficas do Diário Popular; de 1921 a 1928, pela Tipografia Guarany e, até
1935, última edição, pelas Oficinas tipográficas da Livraria do Globo. A fundação foi do
alog adoà eà saudosoà o te eoà D .à á to ioà Go esà daà “il a,à Ig ioà ál esà Fe ei aà eà
Capitão Florentino Paradeda, este h à uitosà a osà j à seuà i oà di eto à eà p op iet io à
(PARADEDA, in: Almanach de Pelotas, 1928, p.72)
5
Os clichês usados em tipografia são placas de metal, sendo que nestes a imagem gravada é reduzida a
pontos. A junção e proximidade desses pontos dão a ilusão de claro e escuro, simulando tons contínuos.
Este anúncio divulga um produto que é base de qualquer indústria: o motor. Essa
informação confere que há demanda por este tipo de equipamento, sugerindo a presença de
fábricas na cidade. Entretanto, são anunciados motores a vapor em uma época onde a
eletricidade era vigente. Pode-se inferir que há uma predisposição para a industrialização, mas
que os meios necessários para que essa indústria se desenvolva, como o acesso à energia
elétrica, ainda são restritos.
Quanto à diagramação, como é de praxe na composição dos anúncios dos Almanachs,
o conteúdo está inserido em uma moldura retangular com bordas internas arredondadas e
com cantos preenchidos. Há grafismos acompanhando toda a borda da moldura.
O alinhamento é centralizado, com exceção das áreas onde estão situadas as imagens.
Estas merecem destaque, tanto pela presença quanto pela posição que ocupam. São gravuras
a traço, com rica representação dos motores. Tratam-se de ilustrações bastante detalhadas.
6
Serifa: pequeno traço ou prolongamento das hastes das letras. A presença ou não de serifas, bem como
seu formato, são formas de classificação de tipos.
7
Segundo Lupton (2006, p. 15) os tipos humanistas, desenvolvidos à época do renascimento, são
inspirados na letra da antiguidade clássica como as primeiras fontes romanas.
8
A família do tipo representa as variações do mesmo tipo quanto a peso, largura e inclinação.
Com relação à estrutura do anúncio, trata-se de uma diagramação típica com base
somente em tipos. Não há moldura. O alinhamento é centralizado e, para criar diferenciação
de pesos entre os textos, são utilizados tipos e tamanhos diferentes. Assim sendo, temos uma
mistura de tipografias sem serifa com serifados, geométrico9 com modulados, caixa alta e caixa
baixa; variando de uma linha para outra, repetindo-se em alguns momentos.
Percebe-se aí que os tipos se repetem nos anúncios analisados, o que sugere poucas
opções de famílias tipográficas à disposição do compositor. O que é marcante nesse anúncio é
a tentativa de se criar hierarquia de informação tendo como base somente a tipografia e o
traço pa aàp ee he àespaço,à o oà asàpala asà I dios àeà Di isa .
9
Com desenho inspirado em formas circulares.
Primeiras conclusões
REFERÊNCIAS
GASTAUD, Carla. SILVA, Fernanda Oliveira da. Dicionário de História de Pelotas. Beatriz Ana
Loner, Lorena Almeida Gill, Mario Osório Magalhães (organizadores). Pelotas: Ed. da Ufpel,
2010
LIMA, Paula Garcia. Estudo da memória e do conceito de design através das peças gráficas e
fotografias do Parque Souza Soares (Pelotas, 1900-1930). Dissertação (Mestrado em Memória
Social e Patrimônio Cultural) – Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2010.
LUPTON, Ellen. Pensar com Tipos. Tradução: André Stolarski. São Paulo: Cosac Naify, 2006.
PROWN, Jules David. The truth of material culture: history or fiction?. In: LUBAR, Steven;
KINGERY, David W. (orgs.). The history from things: essays on material culture. Washington:
Smithsonian Institution, 1993. p.1-19.