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A ordem invisível por detrás do caos aparente: arquitetura do poder e


desfiliação social no contexto de desastre

Conference Paper · October 2017

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Norma Felicidade Lopes da Silva Valencio


Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, Brasil
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41o Encontro Anual da ANPOCS
GT6 - Conflitos e desastres ambientais: violação de direitos,
resistência e produção do conhecimento

A ordem invisível por detrás do caos aparente:


arquitetura do poder e desfiliação social no contexto de desastre

Norma Valencio1

1
Professora Sênior do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais
(PPGCAm) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Introdução

Quando um desastre ocorre, o termo caos é frequentemente empregado por aqueles que
vivenciaram ou o testemunharam o acontecimento. O conceito de caos, em sua acepção
teórica no âmbito das ciências matemáticas, diz respeito a uma sensibilidade às condições
iniciais de um sistema dinâmico, isto é, se refere a uma imprevisibilidade (Ding, Grebogi
and Yorke, 1997). Trata-se, assim, de um tipo de comportamento em um sistema
dinâmico o qual, através da aplicação de uma determinada força, pode ser controlado
(idem).

Quando passa a ser apropriado pelo senso comum em contexto de desastre, o uso do
termo caos deixa frequentemente de se referir a uma pequena perturbação nas condições
inicialmente dadas. Menciona-se, ao invés disso, a ocorrência de uma grande perturbação
inicial; porém, os seus efeitos seriam igualmente imprevisíveis e distintos daqueles
esperados por uma ordem social pré-estabelecida. Essa representação usual de caos é
frequentemente metafórica, isto é, os fundamentos matemáticos da construção teórica
sobre o caos não são realmente levados em conta. Mas, trata-se de uma metáfora potente
naquilo que indica uma turbulência imprevista, num certo nível, de uma ordem social
válida em termos de seus mecanismos convencionais de funcionamento. Um desastre
explicita a existência de processos sociais complexos, suscetíveis a variados graus de
perturbação e descontrole os quais, em parte se utilizando de elementos da ordem
antecedente e em parte refutando-os, procura configurar uma nova dinâmica de
funcionamento.

Em termos genéricos, é possível dizer que um desastre tem uma face visível de
dissolução da normalidade do mundo, mas cujo conteúdo efetivamente trágico reside no
quanto isso implica no desmoronamento de crenças na suficiência de ajustes paulatinos
frente aos desafios circunstanciais do desenrolar da vida social. Certezas acerca do bom
funcionamento da rotina de instituições e comunidades – no que concerne às formas
convencionais de sociabilidade pública e privada, à operacionalidade das normas e
procedimentos, à escala de prioridades nos afazeres e aos meios materiais que os
suportavam –, súbito esboroam-se diante condições extraordinariamente adversas. As
adversidades, que tomam a forma de inesperada perdas e danos coletivos, podem evoluir
de um modo mais desfavorável, tornando a crise crônica.
Os desastres catastróficos são caracterizados não apenas pela perda da integridade física
dos membros de uma dada coletividade (mortes, ferimentos e adoecimento inesperado) e
destruição/danificação dos bens que lhes são essenciais para a sua vida prática e universo
simbólico (Valencio, 2012), mas também pela incapacidade das autoridades fazerem
frente às ameaças que se apresentam (Quarantelli, 2006). Com o desmantelamento de
certas estruturas físicas do lugar e perda de meios essenciais (moradias; locais de
trabalho; estoques de alimentos; rebanho e plantações; veículos, pontes e estradas,
estabelecimentos escolares, de saúde, saneamento e energia e afins) assim como na
inviabilização de fluxos usuais que conectam os sujeitos (em termos virtuais ou
presenciais, indo da interrupção dos serviços de telecomunicação aos de transporte
público), as estratégias de prevenção e preparação revelam-se relativamente inócuas.
Mas, a dimensão trágica dos acontecimentos se amplia quando as providências
concernentes à reabilitação e recuperação de longo-termo também ficaram aquém do
esperado.

É nesse enquadramento processual que um sentido ambíguo de ordem e de desordem


socioambiental é suscitado ao embasar, em sua expressão sensível, um sem-número de
encadeamentos significativos entre componentes (sujeitos e ações) – os quais, até então,
eram vistos como relativamente desconexos entre si – mas que passam a participar da
desorganização e reorganização uns dos outros, em relações hierárquicas ou de mútua
dependência. Do mesmo modo em que, nos desastres, se fazem visíveis os emaranhados
sociais que, por incapacidades ou insuficiências, promovem a multidimensionalidade do
sofrimento social e a intensificação dos processos de desorganização das rotinas da vida
cotidiana, há também processos de (des)emaranhamento de fios que são problemáticos.
Isto é, podem engendrar tessituras num sentido organizativo não condizente com os
direitos de cidadania, não sendo uma nova ordem tão auspiciosa quanto, à primeira vista,
se possa supor devido à representação dominante sobre o caos instalado.

Sob uma perspectiva sociológica, passamos a refletir sobre certas características


sociopolíticas da ordem social que subjaz ao caos aparente que os desastres representam.
O automatismo da explicação detalhadamente fornecida pelos sujeitos dominantes acerca
dos eventos físicos (tais como chuvas fortes, furacões, terremotos, secas, colapsos de
barragens e afins) associados aos desastres tem encoberto a necessidade de compreensão
simultânea dos desastres em si. Ou seja, tem deliberadamente obscurecido aquilo que os
desastres, intrinsecamente, são: acontecimentos sociais trágicos (Quarantelli, 1998)
associados – porém, diferenciados – de eventos físicos de variadas naturezas. Quando as
representações sociais do acontecimento trágico são calcadas no desmantelamento de
coisas aparentemente sólidas, também se alude à guerra, e não se vai muito além. É um
cenário de guerra! se diz repetidas vezes, até que isso justifique a busca do inimigo que
abateu o localidade. Os eventos da natureza passam a cumprir esse papel (Gilbert, 1998;
Valencio, 2014) e ganham um sentido de agência: a chuva forte, o furacão, o terremoto,
os incêndios florestais. São esses os elementos principais de insegurança, cujo
monitoramento passa a ser prioridade de política pública, para que não ataquem
sorrateiramente de uma próxima vez. Esse sistema de sentidos, repetido continuamente, é
corroborado pelas cenas de heroísmo dos que se esgotam e se arriscam, em habilidades
físicas e no uso de técnicas especiais, para salvar o dia, que obnubilam os mecanismos
comunitários de ajuda mútua que confortam os sobreviventes (Thomaz, 2010) e que
apoiam os trabalhos dos operacionais em sua jornada de emergência (Valencio, Scopinho
e Lourenço, 2014).

Entretanto, a verificabilidade de um desastre não se reduz a dimensão dos danos


humanos e materiais que se relacionam quantitativamente aos escombros, dado o caráter
simbólico e psicossocial do sofrimento vivido. O acontecimento trágico também remete a
outros sentidos orientados precipuamente para responder a uma indagação que,
sociologicamente, seria essencial: como as coisas chegaram a esse ponto? Ou seja: qual
é o processo social que sujeita uma coletividade a tal vivência radical de destitições?

Assim, cabe não só insistir em revelar aspectos da ordem por detrás do caos, mas ilustrar
conformações contemporâneas da arquitetura de poder correspondentes. O nosso
propósito é frisar que, no contexto de desastre, a ordem e a desordem, controle e
descontrole não são pares de opostos, que se excluem mutuamente, mas caminham
simultaneamente em continuidades e descontinuidades vinculadas a uma racionalidade
frequentemente opressiva.

Para levantar diferentes tipos de considerações sobre essa problemática social, que é
secundarizada nas discussões sobre desastres, elencamos inicialmente alguns casos
internacionais de desastres associados à passagem dos furacões Irma e Maria pelo Caribe
e EUA, em 2017; à explosão da nave Challenger, em 1986, e ao complexo nuclear de
Fukushima, em 2011. Terão um caráter ilustrativo inicial para, em seguida, nos
debruçaremos mais detidamente sobre o contexto brasileiro de naturalização dos
desastres a fim de trazermos à tona mais elementos sociopolíticos que permanecem nas
margens do debate público no assunto.

1. A natureza da crise por detrás de acidentes tecnológicos e desastres ditos


naturais

Em qualquer país do mundo, o ato de decretação de emergência significa não apenas o


reconhecimento da existência de uma crise (Quarantelli, 2005; Quarantelli, Lagadec,
Boin, 2007; Boin and ‘t Hart, 2007), mas uma mudança da ordem. As autoridades
competentes interpretam que certas circunstâncias adversas, as quais apresentem sérias
implicações sociais, não podem ser administradas senão sob um regime de exceção, que
daria respaldo legal para a fluidez de certas providências e práticas – vistas como
necessárias e prementes –, ao mesmo tempo em que permitiria a aplicação de medidas
prévias de constrangimento de comportamentos vistos como desviantes.

Desastres ditos naturais são um dos acontecimentos trágicos que suscitam a decretação
de emergência; é dizer, as autoridades reconhecem que estão em meio a uma crise. De
um lado, a crise se caracterizaria pela situação considerada surpreendentemente adversa.
De outro, o estado de exceção seria justificado para respaldar a urgência de medidas
oficiais de remediação dos efeitos negativos da perturbação inusitada sofrida. Por seu
turno, o enquadramento de certos desastres como acidentes tecnológicos define tanto a
natureza social2 do evento desencadeador de uma perturbação inesperada num sistema
organizacional quanto a restrição espacial delineada pelos sujeitos responsáveis (em
associação com autoridades locais de emergência), os quais entendem que os danos são
gerenciáveis no âmbito da planta do empreendimento. Entretanto, não raro, acidentes
tecnológicos têm efeitos que extravasam das plantas que os desencadearam e abalam as
rotinas ao derredor tanto extensiva quanto intensivamente. Há os que se desdobram em
verdadeiros dramas sociais, devido a repercussão e simbolismo das perdas havidas. E os
que se transformam em catástrofes devido os efeitos imprevistos, em escala e
abrangência, e que estão muito além do que o previsto nos planos de contingência os

2
Trata-se da natureza social da tecnologia, vista como relação social de trabalho da qual derivam produtos
e processos e estes contribuem para maximizar a acumulação através do trabalho.
quais, uma vez acionados, se mostraram inconsistentes e insuficientes frente a realidade
dos danos causados. O espraiamento do problema e seu eventual agravamento absorve,
em maior grau, as autoridades e órgãos de emergência. A declaração de emergência é
emitida para poder agilizar providências de reabilitação mais agilmente. Por fim, há a
construção de nexos entre desastres ditos naturais e os acidentes tecnológicos, isto é,
autoridades alegam que eventos excepcionais da natureza deflagram certos acidentes
tecnológicos – por exemplo, chuvas intensas levariam ao rompimento de barragens que,
por seu turno, desencadearia outros desastres secundários, num mix que dilui
responsabilidades acerca dos danos e perdas havidos.

Todavia, na medida em que os desastres se repitam, se espraiem geograficamente e se


agravem, se torna mais evidente tanto as regularidades socioespaciais que os produzem
quanto os fundamentos autoritários que embasam persistentemente o atendimento
público prestado nessas circunstâncias se revelam. Tendo sido incapaz de prevenir e
proteger adequadamente os grupos sociais mais suscetíveis, o Estado impõe-se
incisivamente naquilo que define tecnicamente como sendo ações de resposta e
recuperação; as quais, contudo, estão longe de coadunar-se com os anseios e demandas
dos que clamam por reparação. Os atores habilitados para agirem no cenário, bem como
o seu modus operandi, se ancoram correntemente num discurso ambíguo sobre um caos
instalado no contexto territorial de sua intervenção e, então, passam a agir como se
pudessem administrá-lo a partir da aplicação de sua noção particular de ordem social.

Essa ideia de que os desastres são excepcionalidades não previstas e que, uma vez
ocorridos, são manejáveis para aparatos técnicos que estão plenamente capacitados para
fazê-lo é uma construção representacional de um poder que tanto a realidade concreta
pode desmistificar quanto revelar seus intentos mais ocultos, conforme veremos nas
ilustrações abaixo.

2. O desastre: um monstro que nos assombra?

Em A ordem das coisas, Foucault (1973) assinalou que a necessidade de classificação das
espécies no reino animal dentro de uma ordem evolutiva linear imperou por certo tempo
na taxinomia, até o momento em que o caráter de relacionamento interespécies passou a
ser identificado como elemento relevante de evolução. A tarefa de nominação dos seres
vivos significava, em última instância, colocar ordem no mundo para se assegurar que
aquilo que nos rodeava eram razoavelmente identificáveis em relação à sua filiação e ao
comportamento correspondente; portanto, habitávamos um mundo seguro devido a este
repertório de conhecimento sobre o ambiente circundante. Daí a sensação de
intranquilidade diante o ser desconhecido – o monstro – na medida em que esse sinalize
que algo está entre nós sem ter sido devidamente esquadrinhado pelo conhecimento
científico que alicerça o controle sobre humano sobre o mundo.

Nos desastres ditos naturais, as explicações mais imediatamente difundidas sobre a cena
de devastação, o caos, são recorrentemente postas fora do escopo das relações sociais.
Tudo se dá como se a dilaceração das rotinas ocorresse à revelia do conjunto de sujeitos
que tem o poder de definir as funções e o modo de funcionamento do espaço. Assim, se
apela para a procura desse algo que fora da esfera do mundo social, o monstro, o qual,
embora seja celeremente identificado, nominado, classificado e mensurado por parcela da
comunidade científica (o furacão, o terremoto, as chuvas), parece ter se manifestado
como nunca antes, exigindo suporte de pesquisa para que se saiba ainda mais sobre ele a
fim de nos tranquilizar quando de sua próxima aparição. Isso coloca uma fissura no
conhecimento sobre desastres, pois se torna incomodativo (e recorrentemente rechaçado)
supor que o monstro deva ser procurado o espelho, através das entranhas das relações
sociais e modus operandi da cultura de segurança.

Muito sugestivamente, após a passagem do furacão Harvey pelo Texas, em agosto de


2017, uma jovem que procurava identificar os danos à fauna litorânea (especificamente,
aves) se deparou com uma criatura estranha numa das praias daquele estado americano e,
espantada, postou a foto da mesma nas redes sociais, demandando uma explicação sobre
o que seria aquele ser, indagando: “que diabos é isso?” (BBC Brasil, 2017). Apressou-se
em dizer que sabia que não se tratava de um monstro. Era uma criatura medonha, mas
estava morta. Aparentemente não possuía olhos, mas tinham, mas tinha dentes afiados,
como se a tarefa de comer outros seres (animais ou vegetais) não lhe exigisse o escrutínio
da visão; portanto, provavelmente um animal de água profundas. Em retorno ao seu
assombro, cientistas especularam tratar-se de um animal da ordem das enguias e moreias,
mas não fizeram afirmações mais categóricas sobre a sua identificação. Em seguida, um
cientista do Museu Smithsonian de História Natural disse que provavelmente se tratava
de uma enguia se nome Aplatophis chauliodus The Guardian, 2017). Todavia, ainda que
causasse mais alívio saber que, na praia, pairava uma criatura já enquadrada na
classificação do mundo animal, ainda era perturbador ver que um desastre tirava tudo do
lugar e punha diante os olhos um ser incomum.

Também fora do lugar foram postos milhões de moradores de Houston, numa evacuação
massiva que foi recomendada encorajada pelas autoridades governamentais estaduais
antes da chegada do referido furacão, ainda que algumas autoridades locais não a
endossassem, numa divergência de interpretação que aumentou o nível de incerteza do
cidadão comum (Wang, Wootson Jr and O’Keefe, 2017). A decretação de emergência
deflagrou uma reversão completa de prioridades dos sujeitos implicados. As famílias
dedicaram-se a proteger suas moradias com os meios que tinham, abasteceram veículos
(em filas intermináveis nos postos de combustível) e partiram em estradas que, logo,
ficaram abarrotadas e o trânsito não fluía. As que permaneceram em sua moradia,
fizeram compras adicionais de mantimentos para ter um estoque em caso de necessidade
(o que também se deu no enfrentamento de mais filas) e logo os itens mais procurados
escassearam nas prateleiras. Houve estresse coletivo decorrente das medidas preparativas
tomadas para resguardar a residência, muitas das quais foram rapidamente inundadas
com os seus membros ali dentro; da angústia da espera em abrigos provisórios, para os
quais as pessoas que não tiveram como deixar suas cidades foram orientados a
permanecer sem que a privacidade de cada família abrigada fosse ali resguardada; do
sofrimento relativo à verificação das perdas sofridas que, sobretudo aos mais pobres, é
sempre de mais difícil recomposição; do fluxo invertido em hospitais, com pacientes
sendo evacuados ao invés de recebidos. O desastre em Houston, como em Austin e em
outras localidades do Texas e da Louisiana, demonstrou o quanto os atendentes de
emergência não tinham capacidade de atuar amplamente na resposta (Moravec, 2017),
constatação que levou as pessoas a se socorrerem umas às outras com seus próprios
meios e de forma improvisada. A crença numa ordem está despreparada para lidar com
os complexos desafios desse tipo de situação, cujo evento não é um monstro, nem é
inesperado, posto que a região faz parte de uma rota de furacões que por ali passam de
maio a setembro.

Desastre também é um processo que diz respeito a um desencontro entre diversos


tempos, cujo desencaixe se torna fonte de angústias e insuficiências. Ademais, através de
nexos econômicos e sociais cada vez mais intensos na escala global, a perturbação que
parece concentrada num dado espaço local ou regional acaba incidindo no nível de
emprego, no processo de produção e distribuição, em curvas de preço de determinado
produto, como ainda nas rotinas de mobilidade urbana e aérea, além das rotinas
organizacionais em diferentes tipos de instituições, entre outros aspectos.

A passagem do Harvey, na categoria 4, provocou precipitações sem precedentes naquela


região em final de agosto de 2017, mas três meses antes o NOAA (2017) havia
prognosticado que a frequência e intensidade de furacões iria aumentar naquela
temporada de furacões. Esse tempo não se coadunava com o tempo necessário para
ajustar o sistema de drenagem. Todavia, também não se ajustaram o tempo da declaração
de estado de emergência – deflagrada diante a certeza de que o furacão iria passar por ali
-, que tornava mandatório a evacuação dos cidadãos, com o tempo necessário para que aa
comunidades resguardassem os seus bens e sua integridade de modo adequado e abrigar-
se com menos sobressaltos. Diques estiveram na iminência de romper em razão do
acelerado processo de elevação do nível de águas que tinham que conter e um apelo
mandatório para que as comunidades imediatamente à jusante fossem evacuadas.
Oitocentos voos foram cancelados e a indústria de refino de petróleo paralisou
preventivamente suas atividades, ambos com repercussão social e econômica em outras
partes do globo. No Brasil, houvesse recomposição de preço do gás de cozinha e da
gasolina dias após, justificada pela suspensão das atividades petrolíferas no Texas. Pouco
mais de 80 mortes foram diretamente creditadas a este desastre e mais de uma centena de
milhares de moradias foram danificadas ou destruídas. Além disso, dezenas que ficaram
inundadas, com os bens móveis destruídos ou danificados. A quantidade de resíduos foi
imensa. Em muitas localidades, a energia foi cortada e deixou de ser restaurado por dias a
fio, inviabilizando procedimentos de retorno as moradias e de reparação das mesmas. Em
meio às inundações e ao considerável calor, os idosos se mostraram particularmente
vulneráveis. Ficaram imersos na inundação dentro de casas de repouso, como daquela
chamada “La Vitta Bella” (Graham, 2017) sem que sua retirada preventiva tivesse sido
priorizada, providencia que foi tomada após viralizar nas redes sociais a foto dos idosos
sentados com a água acima da altura da cintura. Em outro episódio, na Flórida,
relacionado à passagem do furacão Irma, a demora do restabelecimento da energia
elétrica impediu que a temperatura ambiente pudesse ser devidamente controlada por
aparelhos de ventilação ou ar-condicionado em estabelecimento similar, o que levou à
morte de oito idosos (CBS News, 2017).

Na passagem dos furacões Irma e Maria, os governos da França, Reino Unido e Holanda
foram criticados pela insuficiência de apoio a seus territórios ultramarinos caribenhos.
Nem houve apoio para as medidas preparativas antes da passagem do furacão Irma (que
ficou entre categoria 5 e 4 no Caribe) e, após esse, o apoio recuperativo foi claramente
insuficiente, levando os moradores locais a se sentirem abandonados, inclusive, na
iminência da chegada de outros furacões fortes. Nas suas próprias palavras, a falta de um
socorro condizente para a população local expressou que a mesma era considerada, pelas
autoridades do além-mar, como cidadãos de segunda classe (Boyle, Henderson and
Graham, 2017). Água e comida foram recebidos homeopaticamente através de militares
que desembarcaram em aeronaves dias após o Irma e nenhuma medida de reconstrução
tinha sido anunciada, sobrando apenas abrigos improvisados como recurso de moradia
por um tempo indefinido. Esse contexto de insegurança e incerteza era mais grave ainda
devido a existência de uma enormidade de detritos, correspondente à destruição da quase
totalidade das edificações locais, os quais não tinham ainda sido manejados e recebido
uma destinação final segura. Com a passagem de um novo furacão, denominado Maria
(que ficou entre categoria 4 e 3 no Caribe), poucos dias após, os moradores locais que
viram suas casas e demais estabelecimentos virarem detritos, agora viam os detritos
virarem verdadeiros mísseis que, com a força dos ventos atingiam o pouco que havia
restado, elevando o nível de apreensão coletiva. Com a composição majoritária do povo
dessas localidades caribenhas é constituída por negros, também ficou a impressão que
esse abandono social tem um aspecto de racismo ambiental.

Até mesmo o Centro Espacial Johnson (JSC), da NASA, em Houston, permaneceu


fechado durante a passagem do furacão Harvey, mantendo apenas o pessoal essencial
para as operações atinentes à Estação Espacial Internacional. A diretora do JSC
considerou que o essencial era que os funcionários estivessem em segurança e cuidassem
de suas famílias e vizinhos naquelas circunstâncias (NASA, 2017a). Sem considerar a
existência ou teor de um plano de contingência que eventualmente transferisse as
operações de suporte para outro centro espacial, o fato é que a relação social que coloca
pessoas no espaço parte do princípio de que há total certezas sobre as condições de
controle técnico das missões, mas tanto o ambiente construído onde se dá o controle em
terra firme quanto aquele que se eleva do chão, como fruto do primeiro, podem estar
sujeitos e injunções que modificam as rotinas ou os resultados esperados.

Cerca de duas semanas após a passagem do furacão Harvey pelo Texas, foi a vez do
furacão Irma passar pela Flórida, com categoria 4, próximo às instalações do Centro
Espacial Kennedy, também da NASA e suas instalações sofreram alguns danos
(destelhamento, intrusão de água e problemas no sistema de resfriamento),
permanecendo fechado por alguns dias. Esses danos não foram vistos como graves, mas
algo menor frente às melhorias realizadas pelo centro devido a adoção de novos padrões
de segurança desde a passagem, em outubro de 2016, do furacão Mattew. Os modelos
teriam permitido traçar o impacto na Flórida com uma semana de antecedência, o que fez
com que os funcionários colocassem equipamentos e itens de escritório a salvo, e um
rodízio de equipe, durante a tempestade e logo após, fosse organizado para que, em
algum momento, todos estivessem perto de suas famílias; mas, as instalações tiveram que
sofrer reparos imprevistos, de qualquer forma (Heiney, 2017b).

Esse ajustamento às injunções ambientais foi celebrado pela alta cúpula da NASA como
sendo uma demonstração inequívoca de resiliência de suas equipes, que não negaram a
existência de riscos acima de sua capacidade circunstancial de controle, mas tentaram se
adaptar às circunstâncias e minimizar as perdas. Mas, essa maleabilidade nem sempre
esteve presente na história institucional, como ficou claro no caso do acidente
envolvendo o ônibus espacial Challenger, que explodiu durante seu lançamento em 1986,
matando todos os sete membros da equipe espacial, incluindo a primeira professora no
espaço, Sharon Christa McAulifee. Quando essa professora foi escolhida, entre milhares
de candidatos civis, para a missão, esse processo significava para o cidadão comum
americano que a confiança na técnica era tão alta que qualquer pessoa poderia entrar
nesse tipo de missão sem a necessidade de ter uma carreira dedicada à sua preparação
para tão exclusiva oportunidade. Porém, após o acidente, a opinião pública alterou-se
radicalmente, e a questão que se colocava era: "como poderia a NASA ter colocado um
civil nesta situação perigosa?". O simbolismo de ter agregado uma pessoa ordinária na
missão, como um apelo para reforçar a popularização e legitimação dessas caríssimas
missões especiais, reverteu-se em seu oposto, que era a de ter tirado a vida gratuitamente
de uma professora de High School que, dedicada ao ensino de História, conduziria alguns
experimentos no espaço (Challenger Center, 2017). Uma comissão presidencial foi
formada chamada a investigar esta tragédia simbólica, com a equipe composta por altos
administradores dos setores governamentais envolvidos, ex-astronautas famosos e um
avaliador externo, o físico eminente Richard Feynman - que era o único membro
autônomo da estrutura, e, portanto, capaz de analisar criticamente os procedimentos de
gestão desde uma perspectiva externa. Uma das primeiras descobertas relatadas pela
equipe foi a inexistência de opções de fuga para a tripulação, que provavelmente não
morreu devido à explosão, mas ao impacto no oceano após a queda (Rogers Comission,
1986). Era um problema facilmente evitável, mas desconsiderado. As estatísticas sobre
os riscos de falhas explosivas foram subestimadas pelos engenheiros, o que motivou
Feynman (1986) a indagar, em seu apêndice pessoal no relatório presidencial, que a fé na
gerência da maquinaria envolvida na missão implicava em que a ausência de falhas
observáveis em situações semelhantes servia de base para que não fossem buscadas em
situações novas; assim, suscetibilidades passariam desapercebidas aos invés de passarem
por uma tentativa séria de identificação e remediação. O apêndice da Feynman continua
revelando outra série de erros de gerenciamento, começando pelo setor de design do
motor e passando pelos administradores de análise de custo-benefício, encarregados de
definir o cronograma de lançamento das missões de transporte. Ou, mais
apropriadamente, devido a decisões superiores baseadas em contratos não razoáveis, os
riscos no nível inferior foram deliberadamente escolhidos para ser ignorados, até o ponto
de serem ignorados. Isso, segundo Feynman, teria tirado o realismo das decisões sobre
horários de voos, cumpridos por questões administrativas mais do que por rigor técnico.
O apêndice de Feynman é a única parte do relatório que aponta questões críticas sobre a
estrutura do poder institucional como causa fundamental desse acidente que, embora
parecesse adstrito à tripulação da Challenger, repercutiu em todo a sociedade americana e
se revelou um desastre do qual a administração institucional e do país tinham que dar
explicações públicas. Isso levantou questões não apenas sobre quão equivocadas
poderiam ser as análises técnicas, devido ao ambiente decisório ao qual estavam
submetidas, mas também sobre o nível de responsabilidade pública das instituições
quando ocorre um desastre.

A ilustração final é o caso do acidente nuclear da usina de Fukushima Daiichi, no Japão,


em 2011. Houve uma subestimação dos técnicos sobre os efeitos de um tsunami na usina
e os planos de contingência foram insuficientes, levando a uma série de erros nas
medidas de descontaminação ambiental na área de influência. Enquanto as autoridades e
os principais meios de comunicação social insistiam constantemente na eficiência técnica
japonesa para lidar com a situação, um jornalista do The Guardian questionou a maneira
lenta e amadora de adotar as medidas, que não alcançaram o progresso esperado seis anos
após o acidente. Esta investigação jornalística de McCurry (2017) enfatizou a
ineficiência da solução técnica e sua incompreensão da extensão dos danos. Quanto ao
cronograma de descontaminação, estava claramente ocorrendo uma ilusão por parte do
governo e dos lobbies nucleares. A incapacidade técnica em desenvolver um robô em
condições plenas para fazer uma avaliação completa dentro dos reatores é um exemplo
disso. O robô Scorpion não funcionou a contento. Outro exemplo foi a incapacidade de
conter toneladas de água contaminada, que ainda estão vazando nas águas subterrâneas,
apesar da insistente transmissão de mensagens públicas de que tudo está sob controle.
McCurry considera isso não como ingenuidade, mas como um movimento deliberado
para produzir uma confiança pública internacional para manter as aparências de um
ambiente seguro em vista dos Jogos Olímpicos de Verão 2020, que serão no Japão. Do
ponto de vista do lobby nuclear, o interesse é permitir o reinício dos reatores o mais
rápido possível, para recuperar as perdas financeiras. Em reportagem investigativa
anterior, McCurry (2016) verificou que o ex-primeiro-ministro Koizumi já não acreditava
nas declarações públicas de segurança ambiental e ele considerou o seu sucessor (Abe)
inteligente o suficiente para perceber a gravidade da situação, apesar de considerar que o
mesmo tinha se rendido à interesses do lobby pro-nuclear.

3. Desastres no Brasil: padrões de poder em meio ao caos

No Brasil, a construção interpretativa de desastres ditos naturais encontrou terreno fértil,


uma vez que isso se presta ao escamotear das injustiças ambientais e se coaduna com a
mentalidade higienista das elites políticas e econômicas, nas diferentes escalas
geográficas e de poder em que essas atuam no controle da riqueza e do território. A
sistemática ocorrência de desastres – ou, ainda, o processo social regular que os deflagra
– tem favorecido o delineamento e a consolidação de uma nova arquitetura de poder na
qual se entrelaçam atores do meio político institucional, técnicos atuantes em
emergências, cientistas, organizações de ajuda humanitária, ongs e afins. Isso constitui
redes de poder orientadas para produzir e difundir um tipo de pensamento normativo
simplificador sobre a redução de riscos de desastres (RDD), compatível com orientações
multilaterais singelas que se baseiam em estratégias harmoniosas de coesão social,
negando a existência de conflitos sociais. Esse raciocínio de que a prevenção dos
desastres está ao alcance de todos, sendo apenas uma questão de vontade própria e de
mobilização popular, é disseminado em treinamentos, capacitações, seminários e condiz
com a aceitação condutas autoritárias. Isto é, naturaliza a subserviência civil a um
enquadramento do problema e a soluções que não partem das comunidades vulneráveis
ou afetadas, mas as ajustam a uma ordem de relações nas quais a atuação militar está
continuamente presente e de forma destacada.

Os campos de conhecimento acionados para embasar a compreensão dos desastres na


vertente teórica dos hazards – e que, portanto, passam a legitimados como portadores da
verdade sobre o tema – são os da meteorologia, climatologia, geologia e hidrologia,
principalmente, embora a geografia física e humana também tenha contribuição crescente
e mesmo as ciências sociais estão implicadas (Valencio, 2015). Por seu turno, a mídia,
longe de se esforçar em produzir uma ponderação crítica acerca da ambiguidade do
argumento da excepcionalidade do acontecimento, posto que o mesmo seja utilizado ad
nauseam, se ajusta a esse discurso e o amplifica (Valencio e Valencio, 2017). Com isso,
colabora na simplificação dos processos sociais e deixa de suscitar uma maior reflexão da
opinião pública sobre o assunto (Valencio e Valencio, in press).

Essa articulação entre Estado (autoridades políticas e o meio técnico atuante em


emergências), ciência (os campos disciplinares predominantes e sua adesão à teoria dos
hazards) e mídia tem embasado a orientação de políticas públicas no tema dos desastres;
isto é, indica qual é o escopo das incertezas/desafios que ainda pairam no assunto assim
como para que e para quem os recursos públicos devam ser direcionados dentro de seu
esquema classificatório do problema (Valencio, 2015). A perspectiva tecnocêntrica que
lastreia a cultura de segurança, com centralidade no argumento da excepcionalidade dos
eventos da natureza, não economiza críticas às comunidades afetadas – com um nítido
viés de classe. Essas são acusadas de ignorantes por não terem a capacidade de suportar
materialmente os imprevistos eventos da natureza. É como se as mesmas tivessem que ter
a capacidade de previsão ou optado por adotar deliberadamente um comportamento de
risco, sendo elas, portanto, passíveis de culpa pelas dolorosas consequências advindas
(Cardoso, 2006; Valencio, 2010). Essa mescla relativamente incoerente entre
excepcionalidade e previsibilidade mascara o nexo de grande parte dos desastres com a
dinâmica de injustiça ambiental, isto é, com as formas específicas de acumulação
privada, de dinâmica do mercado de terras e de apropriação concentrada de recursos
públicos que redundam em territórios suscetíveis para comunidades empobrecidas. Essas
se sentem sujeitas a ver seu lugar precário insistentemente desmantelado e suas rotinas
descontinuadas até que a total falta de opção, dentro do já restrito leque de alternativas,
as façam desaparecer de vista. É a dinâmica de injustiça ambiental que desencadeia os
processos de vulnerabilização (Acselrad, 2006), antecedentes que são das tragédias e que
as anunciam.

Aquelas que, na perspectiva assistencialista de outrora, eram vistos como moradores de


“áreas carentes” passam, agora, a ser foco de uma remoção preventiva, por estarem em
áreas de risco – no mais das vezes, uma alegação higienista para uma mera expulsão –,
como ainda ficam previamente avisados que serão considerados responsáveis por
quaisquer danos físicos que venham a sofrer devido a sua conduta pessoal irresponsável
por morar em tal ambiente precário e resistir em ali permanecer (Valencio, 2012). As
injustiças sociais históricas que resultam naquela situação opressiva não são postas em
questão, uma vez que se reduz o problema à vontade consciente do morador, que teria
fabricado, por si mesmo, as condições de risco em que se encontra, assim como
selecionado opções de percepção de mundo não condizentes com a orientação seletiva de
percepção de risco do meio atuante em emergência. É dizer, a abordagem convencional
das forças institucionalizadas que atuam nas emergências desacopla as circunstâncias
específicas da complexidade do processo social que as geram, de modo que os que ficam
na faceta escura do progresso econômico passam a ser focalizados por mecanismos de
dominação social ainda mais contundentes em sua desumanização.

Os desastres vêm se tornando um objeto de crescente interesse nas ciências sociais


brasileira (Mattedi e Butzke, 2001; Siena, 2014a; Valencio, 2012, 2015; Milanez e
Losekann, 2016; Zhouri et al, 2016; Carmo, 2014; e outros) na medida em que a mera
descrição oficial da faceta visível dos acontecimentos trágicos – isto é, a menção à
grande monta dos danos e perdas coletivos (humanos, materiais e ambientais) havidos
num curto recorte cronológico (o dia do desastre) e adstritos a um território limitado (o
cenário) – não tem sido suficientemente esclarecedora sobre as razões profundas que
deflagram uma súbita decomposição de lugares e a extensão do sofrimento social
decorrente. Esse esforço de reflexão, embora ainda esparso, tem se aproximado de
diferentes aspectos do debate internacional no assunto (Lavell, 1993; Das, 1995;
Quarantelli, 2005; Tierney et al, 2006; Bullard, 2006; García-Acosta, 2014; Boin e
t’Hart, 2007), naquilo que conflui com a preocupação em identificar o quanto as
autoridades não estão predispostas a elucidar elementos sociais substantivos da tragédia,
mas esse diálogo ainda está num estágio incipiente e nem todo cientista social está
disposto a fazê-lo, sobretudo quando descobre o caminho fácil de prestígio através da
adesão ao pensamento dominante.

Se os desastres podem ser vistos como um tipo de desordem, no Brasil essa desordem é
repetitiva ou, ambiguamente, é uma anormalidade rotineira. É possível vislumbrar,
através dos sucessivos estados de exceção, que a exceção se torna uma nova ordem, que
impõem um novo modo de funcionamento da burocracia estatal e das suas relações com
o meio social sob sua jurisdição. A gestão da precariedade em que se encontram os
grupos sociais afetados – em nome de quem a emergência foi declarada – mescla
assistencialismo no seu estado mais puro e submissão social dos atendidos, que nada
podem reclamar em relação ao que lhe é ofertado para remediar as perdas havidas. Não
se pode reclamar do valor do auxílio-moradia (quando o recebem) ou das condições
precárias do abrigo provisório (que chegar a perdurar por meses ou anos a fio), do
colchão em que dormem, da alimentação padronizada, das roupas usadas que lhes são
entregues, da falta de privacidade, da intranquilidade derivada da falta de solução
permanente, da solução de moradia que revela novos riscos sociais e pessoais (Valencio,
2012; Siena, 2014b). A decretação de situação de emergência (SE) ou de estado de
calamidade pública (ECP) tem evoluído no país como uma regularidade que nenhum dos
governos democráticos da última década consegue contornar (Gráfico 1). Há patamares
crescentes de abrangência espacial dos desastres na escala nacional, pois em relação ao
conjunto de municípios brasileiros, os percentuais de decretação municipal de
emergência evoluíram de forma preocupante: de uma média de 20% a 40% de
abrangência anual nos governos Lula, pulou-se para médias anuais de 40% a quase 70%
na maior parte dos anos dos governos Dilma (no ano de 2011, a média ficou em 20%,
mas as catástrofes foram maiores). E os dados relativos à Era Temer não apontam num
sentido de reversão dessa dinâmica. As formas de enfrentamento adotadas acabam sendo
meras contemporizações de caráter assistencialista (auxílios-moradias, cestas básicas,
colchões) e obras emergenciais de recuperação que, ao ampliarem os negócios do
desastre, tornam esses negócios parte da rede de interesses em que a situação se repita e,
ainda, desejam manter o poder os mesmos grupos técnicos com os quais se aliam para ter
seus préstimos contratados, sem licitação, quando a emergência for decretada novamente.
Assim, há uma falta de transparência social sobre como esses negócios são
movimentados, inclusive acerca dos critérios de distribuição de aluguel-social, a partir da
produção de informação técnica e das relações estabelecidas entre os ofertantes de
produtos e serviços e os gestores de emergências.

Gráfico 1: Evolução das portarias de reconhecimento dos decretos municipais de situação de emergência
(SE) e estado de calamidade pública no Brasil, período de 2003-2016, em valores absolutos e em
percentual (em relação ao total de municípios). Fonte: Secretaria Nacional de Proteção e Defesa
Civil/Ministério da Integração Nacional. Sistematizado pela autora.

No período analisado, o mecanismo discursivo que adjetiva os desastres como naturais


foi considerado como um dos mais importantes recursos na construção de uma
arquitetura de poder nesse tema. A aderência automática das autoridades governamentais
e dos técnicos atuantes em emergências a essa adjetivação teve menos relação com seu
ajustamento a uma posição no debate (dentro da teoria dos hazards) do que com o
interesse de atendimento a um triplo propósito socialmente preocupante. O primeiro, o de
tornar desimportante qualquer análise dos acontecimentos que revele a dinâmica de poder
por detrás da crise, afastando assim as contribuições de cientistas sociais. O segundo, o
de orientar as prioridades de políticas públicas em redução de risco de desastres (RRD),
incluso em ciência e tecnologia, por um approach consoante ao binômio tecnicismo-
militarismo, o qual faz uso instrumental de apelos em torno parte social do problema. O
terceiro, o de permitir que as forças operantes nesse binômio se sintam legitimadas para
interagir com os grupos sociais afetados nos desastres a partir de procedimentos que
abertamente solapam a dignidade e os direitos essenciais destes, dando maior nitidez ao
processo de desfiliação social radical que corrói as bases da cidadania.

Ilustrativamente, numa análise que problematiza o discurso midiático sobre desastres no


Brasil, Portella (2017) focalizou o caso relacionado ao rompimento da barragem de
rejeitos da empresa Samarco, deflagrado em novembro de 2015, em Minas Gerais, para
identificar a insistência da imprensa brasileira em utilizar argumentos que remetiam a um
evento natural como causa, num apelo sensacionalista que é mais usual do que o esforço
investigativo na medida em que se orienta para capturar um público flutuante, que
procura por notícias bombásticas. A mídia buscou por eventos de microssismos, que
teriam tornado as obras civis suscetíveis, tornando o empreendedor uma vítima dessa
fatalidade. O efeito prático dessa linha de argumento, intencional ou não, seria
amortecer, no imaginário social, a responsabilidade empresarial pelo acidente. O autor
prossegue, argumentando que esse desastre emblemático revela as deficiências do
processo de licenciamento ambiental e de normas de segurança em diferentes etapas do
processo. Isso deveria desmantelar o argumento em torno da imprevisibilidade do
acontecimento trágico, assim como aquele que atribui a forças exógenas, as da natureza,
uma causa primeira da tragédia; no entanto, a busca argumentativa pelo evento natural
deflagrador do desastre prossegue de modo a transformar em algo natural a produção de
uma barragem, desvinculando-a de seu nexo sócio-histórico (Portella, 2017). As ações
imediatas do poder executivo federal também foram na direção de naturalizar as causas
do acidente e buscar um vilão na natureza, inimputável juridicamente (Valencio, 2016).
Ao extravasar, da planta do empreendimento, milhões de metros cúbicos de rejeitos de
minério, que alcançaram o principal manancial hídrico da região, o rio Doce – do ponto
de Mariana e adentrando ao oceano Atlântico, muito além da sua foz no Espírito Santo –,
esse acidente tecnológico se tornou a maior catástrofe do país em termos dos danos
socioambientais provocados assim como em relação à extensão geográfica dos mesmos e
extensão temporal para recomposição do ecossistema afetado.
Uma vez que a naturalização dos desastres se estabelece como um construto discursivo
tecnocientífico e midiático dominante, e os eventos pareçam incontroláveis devido ao
argumento de que são sempre excepcionais, há uma perda de compreensão da tessitura
socioeconômica e sociopolítica que produz a cadeia de fragilizações espaciais. Isso
resulta em impotência dos grupos mais debilitados. Assim, subsumidos tanto a uma
resposta emergencial caracterizadamente militarista – com nas ações de resgates
extraordinárias, a montagem de acampamentos padronizados, na imposição de regras
padronizadas para o comportamento e rotinas das famílias abrigadas, entre outros –,
quanto ao assistencialismo que os torna dependentes do provimento dos mínimos vitais
(Valencio, 2012; Siena, 2014b). Quando as instituições públicas de assistência social se
deparam com a situação excepcional, olvidando sua articulação com a arquitetura de
poder naturalizada, frequentemente compartilham providências com forças militares e
organizações humanitárias, acionadas para desenhar uma nova dinâmica dentro do
contexto de maximização da precariedade resultante. Quando as organizações
humanitárias assumem essa tarefa, suas visões do problema e modelos próprios de
organização se impõem para organizar demandas e rotinas locais, enfraquecendo e
desmobilizando as redes locais (Portella, 2017), o que cria uma lógica de
captação/doação, assim como de transferência de recursos financeiros, que se baseia na
manutenção do grupo afetado de sua condição de dependente, inviabilizando a
emancipação do mesmo e a legitimidade de seus recursos de voz para requererem
providências em seus próprios termos.

Por fim, mas não menos importante, dentre as muitas armadilhas do conhecimento
científico sobre desastres que são postas no caminho das comunidades afetadas e das
autoridades públicas locais que se defrontam com essa situação, destaca-se a confusão
deliberada entre localidade da ocorrência do desastre e competências de pesquisa para
tratar do assunto. Tudo se passa como se a proximidade geográfica entre a área do
desastre e dadas instituições de pesquisa equivalesse mecanicamente à maior capacidade
científica destas para desvendar o problema e apontar recomendações. Amiúde, logo em
seguida a um desastre de grande repercussão midiática, as autoridades
(municipais/estaduais) convocam grupos de pesquisa das instituições em sua
circunscrição para que se debrucem sobre o caso, garantindo recursos extraordinários
para viabilização de atividades de pesquisa e extensão tal. Por seu turno, esses grupos se
apresentam como um elenco de especialistas no assunto, produzindo uma performance de
domínio científico no assunto ao qual, muitas vezes, estão apenas tateando com base no
senso comum, sem ter uma compreensão mínima do debate e das disputas teóricas
envolvidas. Dessa ânsia por influenciar o jogo político, resulta não apenas um
desacumulo do conhecimento sobre o tema dos desastres, uma vez que há um eterno
recomeçar interpretativo de um ponto muito primário de entendimento (que desconsidera
o que já foi publicado no assunto relativo ao aspecto examinado), mas preocupantes
retrocessos interpretativos no que concerne aos apontamentos críticos sobre o problema.
Os horizontes possíveis de enfrentamento social dos desastres que essas redes de poder
oferecem se reduzem ao mero ajustamento das comunidades a processos participativos
condizentes com objetivos e ditames tecnocêntricos. A participação social se torna um
mecanismo de subalternidade a uma racionalidade outra que solapa a sua emancipação
social. Há um autêntico círculo vicioso. A captura de sentidos mais imediatos e
palatáveis para grupos científicos emergentes, que precisam justificar o apoio recebido
das autoridades, será o da explicação dominante; esta reforça e converge com o
pensamento autoritário e assistencialista das forças atuantes em emergências. Firma-se,
assim, um pacto que dificilmente será rompido e que se nutre da continuidade de
anormalidades normais, da continuidade do caos, ao invés de desvelá-lo em sua raiz
como uma ordem injusta. Quanto mais ocorram as emergências, mais esses especialistas
são acionados e se legitimam. Uma vez que se vê nos desastres uma cascata interminável
de dinheiro, que jorra mesmo quando recursos para outras políticas públicas são
contingenciados, esse inchamento artificial da comunidade de especialistas faz uso
instrumental do sofrimento humano para retroalimentar verdades bem estabelecidas nessa
sociedade de desiguais e sequer se preocupam em coadunar-se com um efetivo avanço do
conhecimento no tema, já que as noções de pares e de debate – que forja as novas
questões de pesquisa e interpretações –, são substituídas por alianças que saqueiam as
esperanças e horizontes dos milhões de sujeitos em desamparo.

Quanto mais marginalizadas as ciências socais estiverem daqueles se apresentam como


especialistas em desastres, mas esses se sentirão à vontade para produzir e disseminar
interpretações socialmente reducionistas que aviltam os afetados e se desviam dos
fundamentos políticos e econômicos do problema. Por outro lado, não basta ser cientista
social para compreender automaticamente tudo o que está em jogo. É preciso que os
desastres sejam um objeto contínuo e central de sua dedicação de pesquisa para que haja
condições de examinar minuciosamente as lógicas e o campo subjacentes ao problema.
Se cientistas sociais participam dessas redes de poder, seu papel no jogo, não raro, tem se
reduzido a disseminar conhecimento que reforça a visão tecnocêntrica dominante, além
de ocupar posições de avaliação científica que permita anonimamente retaliar seus pares
que adotam um pensamento crítico na questão e eliminá-los da cena de confronto de
ideias (Valencio, 2015). Em termos práticos, a contribuição do Ministério Público para
desvendar as regularidades do caos, desatando os nós da rede de poder no tema dos
desastres – que envolve técnicos, cientistas, negócios e autoridades – daria maior clareza
ao conjunto da sociedade sobre a ordem por detrás do caos aparente. Em termos
sociológicos, isso daria subsídios a um novo patamar de debate público, pois o rumo das
discussões poderia, finalmente, sair do círculo vicioso que encurralou a esperança de
cidadania.

À guisa de conclusão: do desastre rotineiro à iminência de um caos maior

Diferentes sujeitos representam os desastres como sendo um caos. No geral, isso se


refere ao testemunho ou experiência relacionada a uma súbita e involuntária desordem
dos arranjos sociais, materiais e espaciais do cotidiano. A tarefa emergencial e
recuperativa parece ser a de colocar tudo no lugar novamente, embora muitas vezes isso
seja impraticável, porque vidas foram perdidas, bens de valor simbólico desapareceram,
territórios mudaram a sua feição, recursos econômicos correntes ou extraordinários para
provimento material reconstrutivo não estão disponíveis aos grupos afetados e assim por
diante. O afã de retorno da ordem pode ser considerado como um aspecto da segurança
ontológica (Giddens, 1997), mas nada retorna ao que já foi.

Porém, quanto mais um desastre se revele como uma crise crônica, mais evidente se
torna, para aqueles que o vivenciam, que seu sofrimento não se deve apenas àquele
momento súbito de deflagração da desordem, que se eterniza na memória, mas à própria
ordem (econômica, social, ambiental) estabelecida. Ordem social que resulte em
desordens nas rotinas – sistematicamente, a dos grupos mais desfiliados socialmente –
não é propriamente um caos, como assim a situação de desastre é reportada comumente.
São processos sociais que necessitam ser descortinados. Mas, as redes de poder que
atuam nos desastres não estão dispostas a isso, a começar pelas instituições de
emergência, mais preocupadas em reforçar sua visão militarista de ordem e adequar o
meio social à mesma.

Longe de ser uma excepcionalidade, os desastres são uma parte constitutiva e cada vez
mais presente na vida social contemporânea de inúmeros países, incluso o Brasil. A sua
manifestação não deriva apenas dos efeitos socioambientais deletérios de um progresso
material disseminado e sem freios, como enfatizou Beck (1992), mas também da
composição política e técnica anacrônica que embasa decisões que suscetibilizam os
lugares e corroem o ambiente democrático, mesmo quando afirma que estão a protegê-
los.

De um lado, a estratégia de massificação da ideia de que esteja havendo controle e


monitoramento técnico competente de ameaças naturais, que pairam acima das cabeças
ou abaixo dos pés, incute um sentimento de impotência social naqueles que acreditam
não poder deter o caos. A visão do caos é incrementada por um sem-número de notícias
bombásticas que, respaldadas em certo embasamento cientifico, dizem que vários
ordenamentos espaciais estão por um triz, inclusive nas grandes cidades, o que aumenta o
ambiente de intranquilidade social, uma vez que se antevê a necessidade de um
reordenamento territorial que não será pacífico, se dará por disputas e confrontos.

De outro, a atual conjuntura de apuração de atos de corrupção praticados, no nível federal


e estadual, por membros do Poder Legislativo e do primeiro escalão do Poder Executivo
– através de um esforço conjunto do Ministério Público e da Polícia Federal em
diferentes operações, com empenho correspondente do Poder Judiciário para analisar e
dar andamento aos processos correspondentes – não tem sido visto por membros do alto
escalão das Forças Armadas como um indicador de bom funcionamento do Estado
democrático de direito. Ao contrário disso. Ao invés de interpretarem esse dinâmica
social como um esforço que resguarda e fortalece as instituições públicas – com reflexo
em outros níveis e ambiente de governo bem como na conduta empresarial –, essa
conjuntura é aludida como sendo um contexto de instabilidade política crônica e
disseminada, na qual as referidas instituições civis estariam perdendo progressivamente a
capacidade de cumprir a sua missão.
Em circunstâncias nas quais suas vozes são amplificadas pela mídia, militares acionam
um discurso sobre a iminência de um caos, o qual se baseia numa interpretação
constitucional enviesada – que passa a admitir a quebra de hierarquia frente a autoridade
suprema da Presidência da República – para justificar uma possível intervenção militar
(Folhapress, 2017; Filhos e Netos por Memória, Verdade e Justiça, 2017). Ademais, ao
se vislumbrar uma desordem total, o caos, diante o atual quadro de crises nas instituições
públicas, aponta-se para uma impossibilidade ética da sociedade civil para conduzir o
aparato do Estado. Esse argumento dissocia as Forças Armadas dessas graves
circunstâncias políticas. Porém, membros da ativa e da reserva das Força Armadas não
estão infensos à prática de atos de corrupção e a suas instituições precisam enfrentar
esses mesmos demônios. Isso pode ser ilustrado por ocorrências de quebra de confiança
em operações cooperativas sigilosas de segurança pública na capital fluminense, com um
soldado do Exército preso sob a acusação de vazar informações e alertar traficantes que
seriam abordados nas mesmas (Haidar, 2017), e de prisão e condenação do ex-presidente
da Eletronuclear no âmbito das operações Radiotividade e Pripyat (desdobramentos da
Lava Jato), um vice-almirante, o qual estava envolvido num esquema de cobrança de
propina de empreitas nas obras da usina nuclear Angra 3, num uso abusivo do cargo de
diretor-presidente (Castro, 2016; Otávio e Castro, 2016; Castro, 2017).

Nunca é demais repetir que, particularmente no contexto brasileiro, a elevação do


patamar dos desastres indica, em última instância, um fracasso do compromisso do
Estado para com a proteção de uma parcela crescente da sociedade civil. Se há um
marcador de classe social bem visível na configuração espacial das chamadas áreas de
risco, onde as emergências se repetem à exaustão pela insuficiências de políticas públicas
pertinentes (moradia, saneamento e demais infraestruturas), também é ali que a ordem
autoritária – com intervenções e interdições abruptas, na culpabilização e estigmatização
das comunidades por sua desproteção social, na expulsão das mesmas de seus lugares
sem lhes oferecer nenhuma opção melhor de segurança territorial – se respalda em
excessivas tecnicalidades para rechaçar a legitimidade das suas vozes de resistência
social. Essa ordem é tributária da racionalidade militar, que domina as instituições civis
que atuam nas emergências, a começar pela defesa civil, cuja função de coordenação, nos
três níveis (municipal, estadual e nacional) do Sistema Nacional de Proteção e Defesa
Civil (SINPDEC), está nas mãos de quadros da ativa ou da reserva de policiais militares,
bombeiros militares e Forças Armadas (Valencio, 2009). Cada vez mais, o apoio das
Forças Armadas tem sido requerido por autoridades civis para lidar com essa
(ambiguamente) anormalidade rotineira, que são os desastres, para que seus quadros
ajudem a colocar as coisas nos trilhos, isto é, colaborem num ajustamento compulsório
daqueles que tudo perdem nessas tragédias e se submetam definitivamente com a vida
exposta. A representação do desastre como um cenário de guerra (Valencio, 2014), que a
mídia também amplifica, também ajuda a normalizar os novos sentidos da vida social dos
afetados, assediados por um sem-número de instituições que lhes comandam e sem um
horizonte de autonomia. Quanto mais os desastres sejam incrementados, mais esse caos
torna justificável que a racionalidade que dê direção às soluções deixe de ser civil. Para
tanto, os aparatos técnicos e científicos organizados para explicar os desastres na
perspectiva da teoria dos hazards foram previamente financiados nos últimos anos e já
estão plenamente sintonizados com a racionalidade militar, com as quais colaboram sem
críticas. Focaliza-se preponderantemente o monitoramento de eventos da natureza e a
representação do território nacional como uma imensa colcha de área de risco, o que
respalda a disseminação de uma educação alienada sobre a redução de riscos de
desastres; isto é, não se problematiza os obstáculos ao empoderamento social ao mesmo
tempo em que se recomenda a plena obediência a comandos externos diante os perigos,
que são infinitos.

Agradecimentos
A autora agradece o Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais
(PPGCam), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), pelo apoio concedido para
a inscrição e apresentação oral desse trabalho no presente Encontro da Anpocs.

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