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DE RESISTÊNCIA"1
Ulrich Oslender
Departamento de Geografia da Universidade de Glasgow
Traduzido por Jaili Ivinai Buelvas Diaz, para o Núcleo de Estudos sobre Memória e
Conflitos Territoriais (COMTER), da Universidade Federal do Ceará do original publicado
em:
Embora o uso de metáforas espaciais nas ciências sociais seja abundante hoje, muitos
geógrafos deploram a redução analítica de conceitos como espaço e lugar em muitos
trabalhos a uma mera função ilustrativa. Ainda mais preocupante, o espaço é
frequentemente representado como estático e desprovido de conteúdo político, uma
tendência que continua a dar preferência a uma visão histórica sobre uma visão geográfica
na análise das mudanças sociais.
Neste artigo, argumentarei que o conceito de espaço é (e sempre foi) político e saturado
de uma complexa rede de relações de poder/saber que se expressam em paisagens
materiais e discursivas de dominação e resistência. Em particular, quero mostrar como os
três "momentos" identificados por Lefebvre (1991) na produção do espaço podem
contribuir para a conceituação de uma "espacialidade de resistência", uma abordagem
teórica aqui apresentada que procura conceituar as formas concretas e decisivas pelas
quais espaço e resistência interagem e impactam um sobre o outro.
Quero enfatizar que o presente texto deve ser entendido (e lido) acima de tudo como uma
contribuição teórica para os debates atuais dentro e fora da geografia cultural/política que
buscam conceituar as geografias específicas da resistência. Desse jeito, o material
empírico apresentado aqui - o movimento social das comunidades negras no Pacífico
colombiano - serve para ilustrar essas abordagens conceituais. O leitor interessado em
investigar mais profundamente no caso empírico utilizará as numerosas referências feitas
no texto. Também anuncio que o artigo nasceu no contexto da geografia anglo-saxônica
e, portanto, não considera propostas desenvolvidas pela academia espanhola. O texto visa
precisamente um feedback com acadêmicos, pesquisadores e ativistas espanhóis para
reunir duas tradições e tendências geográficas - espanhola e anglo-saxã - entre as quais,
como se sabe, não houve muitas trocas de conceitos e idéias.
A geógrafa inglesa Doreen Massey (1993:141) observa que "o 'espaço' está muito na moda
atualmente", referindo-se a um grande número de cientistas sociais que articulam sua
análise em termos espaciais 2 . No entanto, o que Massey e outros deploram é a falta de
uma compreensão analítica do conceito de espaço: “as metáforas geográficas da política
contemporânea devem contemplar concepções de espaço que reconheçam lugar, posição,
localização, etc., como criadas, como produzidas" (Bondi 1993: 99). Aliás, não se trata
apenas de reconhecer a forma construída desses conceitos, mas de mostrar como eles
foram construídos e sob quais estruturas políticas e relações de poder/saber 3 .
O espaço e o tempo estão necessariamente entrelaçados. Não é que não possamos fazer qualquer distinção
entre eles, mas que a distinção que fizermos precisa manter os dois em equilíbrio e fazê-lo dentro de um
forte conceito de tetradimensionalidade. (Massey 1993:152)
Esse aspecto também foi explicado na teoria da estruturação e nas interações complexas
e dialéticas entre estrutura e ação social (Giddens, 1984). Resumindo muito brevemente
e sobre o que importa para o nosso argumento, Giddens entende os sistemas sociais
como sistemas de interações entre estruturas e atividades localizadas de sujeitos
humanos, capazes e conhecedores. É importante, então, reconhecer que as estruturas
foram criadas por sujeitos humanos e, embora possam apresentar obstáculos na conduta
da vida social, elas também podem ser ajustadas, modificadas ou até mesmo derrotadas
pelos mesmos atores sociais. As práticas sociais podem então reproduzir ou resistir a
essas estruturas. Nesse sentido, podemos conceber os movimentos sociais a partir de
uma perspectiva estruturante, na medida em que a ação coletiva dos participantes de um
movimento desafia estruturas de dominação e/ou sujeição 5 .
Por ambíguas, diferentes e múltiplas que sejam, a todas as resistências têm em comum
serem atuadas e mediadas no espaço e no tempo. Embora tal afirmação possa parecer
óbvia, a implicação de tal abordagem é que ambos os conceitos são essencialmente
políticos no modo como as práticas sociais são inscritas e enquadradas neles.
O espaço não é um objeto científico separado da ideologia ou da política; Sempre foi político e
estratégico. Se o espaço parece neutral e indiferente ao seu conteúdo, e portanto parece ser
puramente formal e o epítome da abstração racional, é precisamente porque já foi ocupado e usado,
e já foi o foco de processos passados cujos traços não são sempre evidentes na paisagem. O espaço
foi moldado e modelado por elementos históricos e naturais; mas isso tem sido um processo
político. O espaço é político e ideológico. É um produto literalmente cheio de ideologias. (Lefebvre
1976: 31)
No entanto, pouca atenção é dada pela TMR e a PIC às interações concretas entre o
espaço e os movimentos sociais e aos lugares específicos de onde um movimento surge.
Frequentemente a ênfase é colocada nas dimensões temporais da mudança social, como
faz Zirakzadeh (1997), por exemplo, ao conceituar a investigação dos movimentos
sociais em três "ondas", ou Melucci (1989) que considera os movimentos
contemporâneos em termos de "nômades do presente". Movimentos de diferentes partes
(e culturas) do planeta são analisados em seu contexto temporal, atribuindo-lhes objetivos
comuns que tipicamente articulam nossa época, uma abordagem particularmente forte
hoje "no final (ou no começo) do milênio" (Castells 1997). Isso significa que a maioria
das análises de movimentos sociais examina apenas brevemente, e como pouco mais do
que informações introdutórias, os lugares específicos dos quais um movimento surge,
antes de concentrar a análise "mais séria" nas estruturas do movimento, seus objetivos e
as maneiras pelas quais ele está inscrito nas mudanças mais amplas da história global.
Assim, surgiu um "espaço abstrato" no qual "coisas, eventos e situações são sempre
substituídos por representações" (Lefebvre 1991: 311). Esse espaço abstrato é
precisamente "o espaço do capitalismo contemporâneo" (Gregory 1994: 360), no qual a
lei da troca de mercadorias como razão econômica dominante do capitalismo moderno
nos levou a uma crescente mercantilização da vida social 10 . No entanto, em vez de
constituir um espaço homogêneo e fechado, o espaço abstrato em si é um local de luta e
resistência em que as contradições sócio-políticas são articuladas (Lefebvre 1991: 365).
Lefebvre diz que essas contradições finalmente resultarão em um novo espaço, um
"espaço diferenciado", porque "na medida em que o espaço abstrato tende à
homogeneização, à eliminação das diferenças ou peculiaridades existentes, um novo
espaço só pode nascer se for para acentuar as diferenças". "(Lefebvre 1991: 52). Pode-se
argumentar que isso é precisamente o que estamos vendo hoje, uma proliferação de
espaços diferenciados como resultado das contradições do espaço abstrato. Políticas de
identidade que se mobilizam em torno de questões de classe, raça, etnia, gênero,
sexualidade etc. levaram a uma acentuação das diferenças e peculiaridades articuladas em
múltiplas resistências e desafios às representações dominantes do espaço. Assim, as
contradições do espaço abstrato levam a uma "busca de um espaço contrário" (Lefebvre
1991: 383), um espaço diferenciado, articulado nas multiplicidades da resistência como
política concreta do espaço 11 .
Lefebvre coloca essas resistências nos espaços de representação. Estes são os espaços
vividos que representam formas de conhecimento local e menos formal; são dinâmicos,
simbólicos e saturados de significados, construídos e modificados ao longo do tempo pelos
atores sociais 12 . Essas construções estão enraizadas na experiência e constituem um
repertório de articulações caracterizado por sua flexibilidade e capacidade de adaptação
sem serem arbitrárias:
Os espaços de representação não precisam obedecer a regras de coerência ou coesão. Cheios de elementos
imaginários e simbólicos, eles têm sua origem na história - na história da cidade e na história de cada
indivíduo que pertence a essa cidade. (Lefebvre 1991: 41)
Desde ela, estamos interessados em analisar os mecanismos concretos através dos quais procuramos
integrar a região do Pacífico na modernidade do país. Assim, buscamos uma etnografia das práticas desses
atores sociais que representam o avanço da modernidade no Litoral: planejadores de desenvolvimento,
capitalistas, biólogos e ecologistas, especialistas de todos os tipos e, por fim, ativistas de movimentos
sociais, como agentes de possíveis modernidades alternativas. (Escobar & Pedrosa 1996: 10, ênfase minha)
A prática social é aglutinada ao lugar "place-bound", a organização política requer organização do lugar.
[...] Ao mesmo tempo, o lugar é mais do que a simples vida cotidiana vivida. É o "momento" em que o
concebido, o percebido e o vivido adquirem uma certa "coerência estruturada". (Merrifield 1993: 525)
Para desvendar o conceito de lugar no nível teórico, vou me referir a Agnew (1987) que,
como Entrikin (1991), enfatiza as qualidades objetivas e subjetivas do lugar sem cair em
um subjetivismo arbitrário. O conceito de lugar de Agnew é constituído por três
elementos: 1) localização, 2) localização e 3) sentido de lugar. No sentido mais geral, a
localidade refere-se aos quadros formais e informais em que as interações sociais
cotidianas são constituídas 13 . A localidade refere-se não apenas aos cenários físicos
nos quais a interação social ocorre, mas também implica que esses cenários e contextos
são especificamente usados rotineiramente pelos atores sociais em suas interações e
comunicações diárias. Dessa forma, certas localidades podem ser identificadas como
cenários físicos associados às interações típicas que tornam as coletividades como
sistemas sociais. Como mostrarei mais adiante, a localidade "típica" das comunidades
negras rurais no Pacífico colombiano é o "espaço aquático" como um cenário e um
contexto rotineiro no qual as formas de interação diária dessas comunidades são
desenvolvidas.
A localização pode ser definida como o espaço geográfico específico que inclui a
localidade afetada por processos econômicos e políticos que operam em escalas mais
amplas no âmbito regional, nacional e global. A localização enfatiza o impacto de uma
ordem macroeconômica e política em uma região e nas maneiras como ela está localizada,
por exemplo, em um processo de desenvolvimento desigual em nível global. O terceiro
elemento no conceito de lugar é o sentido de lugar, ou a "estrutura de sentimento" local,
para adotar a expressão de Raymond Williams (1977: 128-135). Ele tenta expressar a
orientação subjetiva que deriva de viver em um lugar particular, para o qual indivíduos e
comunidades desenvolvem sentimentos profundos de apego através de suas experiências e
memórias. O conceito de sentido de lugar tem sido central na geografia humanista e nas
propostas fenomenológicas que destacaram "o caráter dialógico da relação das pessoas
com um lugar" (Buttimer 1976: 284) e as formas poéticas nas quais as pessoas constroem
o espaço, lugar e tempo (Bachelard 1958). O sentido de lugar, então, expressa o sentido de
pertencimento a lugares particulares e insere uma forte orientação subjetiva ao próprio
conceito de lugar.
No entanto, seria errado ver os três componentes do lugar como separados. Ao contrário,
eles agem como momentos fluidos cujas interações se influenciam e se formam
mutuamente. É precisamente essa fluidez que dá ao conceito de lugar sua força analítica.
Um sentido de lugar particular molda as relações sociais e as interações da localidade (e
vice-versa), e ambos os elementos são influenciados pelas estruturas políticas e
econômicas mais amplas e pelas maneiras pelas quais elas são visivelmente expressas e
manifestadas na localização 14 . Central neste conceito de lugar é a ênfase nas
subjetividades e nas formas individuais e coletivas de percepção da vida social. Dentro da
pesquisa dos movimentos sociais, o interesse pelas subjetividades se expressa sobretudo
na perspectiva da identidade coletiva (PIC), que enfatiza a reprodução cultural e o
controle da historicidade (Touraine 1988) 15 . Os movimentos sociais devem ser
compreendidos em conjunto com as redes culturais submersas da vida cotidiana das quais
eles emergem (Melucci, 1989). E precisamente porque as identidades são específicas de
um lugar, devemos entendê-las como constituídas pelos três elementos da localidade,
localização e sentido do lugar. Para contextualizar o debate teórico conduzido até agora,
ilustrarei agora como, no caso do movimento social das comunidades negras na
Colômbia, certas formas e associações concretas de mobilização social podem ser
explicadas com uma perspectiva de lugar.
As pessoas de um determinado rio são consideradas como uma comunidade. [...] Os negros... falam de
"nosso rio", ou mencionam, por exemplo, que "somos do rio Guapi", ou "somos guapiseños" sic,
indicando sua ligação social a um rio específico. (West 1957: 88)
A lógica do rio, que juntamente com o espaço aquático constitui a localidade no Pacífico
colombiano, foi então o fator espacial orientador na constituição de conselhos
comunitários ao longo das orlas hidrográficas. Esses conselhos comunitários atuam como
a principal autoridade territorial nas áreas rurais do Pacífico colombiano que, guiadas
pelos Planos de Manejo desenvolvidos pelas mesmas comunidades com a assistência de
instituições governamentais e ONGs, decidem entre outros sobre o uso e a exploração
dos recursos naturais em seu território. Estas são, pelo menos em teoria, mudanças
radicais nas formas de apropriação territorial, uma vez que as empresas com interesse em
aproveitar os ricos recursos naturais da região - como ouro, madeira e potencial agrícola -
são agora forçadas a negociar diretamente com as comunidades rurais, e o Estado não
pode mais simplesmente emitir concessões a essas empresas, ignorando assim as
comunidades, como era o caso antes da Lei 70 de 1993 19. Por outro lado, é importante
enfatizar que esses processos não seguem simplesmente um modelo "ideal" de
apropriação territorial coletiva das comunidades negras na região. Pelo contrário, nem o
Estado colombiano nem as grandes empresas respeitam essa legislação como deveria ser
esperado. O Estado incluso tem sido apontado de não apoiar suficientemente as
comunidades negras neste difícil e longo processo. Uma perspectiva de lugar sobre esses
processos espaciais de organização política nos atenta para outras formas de criação de
conselhos comunitários que não seguiram a lógica do rio, revelando, por exemplo, como
em muitos desses casos a constituição de conselhos comunitários tem sido mediada por
interesses e atores do capital externo e do governo central (Oslender 2001b), um fato que
frequentemente tem um impacto negativo na mobilização local a longo prazo. Essa
abordagem nos permite diferenciar entre as diferentes experiências organizacionais
dentro das comunidades negras, porque é claro que não é um grupo social homogêneo,
mas um grupo com uma gama de interesses nos quais não influencia apenas a etnia senão
também categorias como classe, gênero e afiliação à política partidária.
Outro fator que não posso discutir em detalhes aqui, mas que está se tornando mais
urgente a cada dia, é o recente aumento do conflito armado no Pacífico colombiano,
região que até poucos anos atrás era descrita como um "refúgio de paz" e onde hoje
vários grupos guerrilheiros, paramilitares e o exército colombiano se engajam em uma
guerra suja em que os camponeses se encontram indefesos entre as diferentes partes.
Como um resultado imediato, os níveis de deslocamento forçado das áreas rurais para as
cidades dispararam, uma catástrofe humana cujas vítimas foram mais de dois milhões de
pessoas deslocadas na Colômbia (Rojas Rodríguez 2001).
Conclusões
Notas
1 Algumas das ideias apresentadas aqui foram publicadas em um artigo anterior em Restrepo,
E. & Uribe M.V. (orgs) (2000), Antropologías transeúntes, Bogotá: ICANH, pp.191-221. No
entanto, este texto foi substancialmente revisado em sua parte conceitual e o material empírico
foi elaborado consideravelmente.
2 Em particular, Massey examina o tratamento do conceito de espaço em Laclau (1990) e em
Jameson (1991). Embora ambos os autores tenham uma visão diferente do espaço, eles
concordam com um tratamento apolítico desse conceito.
3 Com a anotação "poder / saber" neste artigo, refiro-me à conceituação de Foucault (1980)
nesses termos, que considera que o poder e o saber ocorrem de forma tão intrinsecamente
interligada que um não ocorre sem o outro.
4 A geografia do tempo (time-geography) enfatiza na continuidade e nos vinculos de
fato, algumas resistências reforçam as estruturas existentes de dominação e sujeição, como por
exemplo no caso de campanhas antiaborto nos EUA que efetivamente tentam restringir os
direitos das mulheres sobre seus corpos, reificando assim a subordinação estrutural das
mulheres na sociedade. Outro exemplo são os contras na Nicarágua, que, apoiados pelos EUA,
lutaram contra o governo revolucionário socialista dos sandinistas, que estava apenas tentando
romper as cadeias do subdesenvolvimento estrutural nas mãos de intervenções e dominação
estrangeira no país. É importante, então, levar em conta a possível natureza reacionária de
algumas resistências.
6 Para nossa análise, um breve resumo das principais ideias é suficiente. Entretanto, veja por
exemplo Cohen (1985), Foweraker (1995) e Zirakzadeh (1997), para uma análise comparativa
das várias abordagens dentro da TMR e PIC.
7 Ver, por exemplo, McCarthy e Zald (1977), Olson (1965) e Tilly (1978).
8 Ver, por exemplo, Castells (1997), Laclau e Mouffe (1985), Melucci (1989) e Touraine
(1988).
9 Vale a pena notar que desde a publicação de seu trabalho seminal em inglês em 1991,
Lefebvre despertou um crescente interesse na geografia anglo-saxônica - ver, por exemplo, os
trabalhos de Gregory (1994), Harvey (1996) e Merrifield (1993). - enquanto sua influência na
geografia francesa diminuiu.
10 <Pode se adicionar que o espaço abstrato também tem sido a lógica dominante de
organização e representação espacial nos sistemas e regímenes do socialismo e o comunismo.
11 Veja também Massey (1999), que argumenta que "multiplicidade" é uma característica
fundamental para entender o conceito de espacialidade.
12 Da mesma forma, a importância dos espaços de vida para abordar o conceito de lugar tem
sido destacada nas abordagens fenomenológicas da geografia humanista que enfatizam o
comportamento e as percepções e experiências dos atores sociais (Buttimer, 1976, Ley &
Samuels 1978). Tuan 1975). Conforme explicado por David Ley (1977: 509): “O lugar deve
ser entendido em relação ..., constituído ao mesmo tempo da objetividade do mapa e da
subjetividade da experiência".
13 O termo de localidade ("locale") foi originalmente proposto por Giddens (1984) em seu
desenvolvimento da teoria de estruturação.
14 Pred & Watts (1992), por exemplo, insistem nas múltiplas maneiras pelas quais as culturas
locais processam, modelam, modificam e influenciam as condições e ações do capital global e
da modernidade. E o argumento de Peet & Watts (1996) de
“ecologias da libertação" enfatiza a importância das construções locais da ecologia e dos
"imaginários ambientais" como importantes locais de resistência.
15 Touraine (1988: 8) referiu-se às experiências culturais específicas dos atores sociais em
termos de "historicidade", "um conjunto de modelos culturais que orientam a prática social".
Os atores assumem a tarefa coletiva de autoprodução cultural, considerada como um conjunto
complexo de ações que a sociedade exerce sobre si mesma. Assim, na definição de Touraine
(1988, p. 68), um movimento social é "a ação, tanto culturalmente orientada quanto
socialmente conflituosa, de uma classe definida por sua posição de dominação ou dependência
na forma de apropriação de sua historicidade, dos modelos culturais de investimento,
conhecimento e moralidade para os quais o movimento social é orientado ”. Ou, em outras
palavras, dentro de um movimento social, as pessoas assumem, ou tentam assumir, o controle
sobre sua historicidade.
16 Os dados raciais que uso aqui para a região do Pacífico colombiano são cálculos
geralmente aceitos. Não há informação racial confiável nos dados demográficos da
Colômbia. No entanto, é comum hoje administrar o valor de 26% para
a população Afro na Colômbia.
17 Essas organizações eram particularmente fortes no departamento de Chocó, onde
receberam apoio importante da Igreja Católica. Elas incluíam, por exemplo, a Associação
Integral de Camponeses do Rio Atrato (Acia), formada em 1987 e até hoje a mais forte e
visível organização camponesa de negros do país.
18 Essa tendência de empoderar grupos étnicos que convivem com ecossistemas frágeis,
como as florestas tropicais, conferindo direitos coletivos às suas terras e, ao mesmo tempo,
responsabilidades pela proteção do meio ambiente, como prescreve a Lei 70, é uma tendência
mundial (O'Connor 1993). No mesmo contexto, Escobar (1996: 48) refere-se a "duas lógicas
do capital ecológico". Por um lado, existem "formas pós-modernas de capitalização da
natureza", expressas na fase ecológica do desenvolvimento sustentável e conservação da
natureza e da biodiversidade para garantir seu uso e exploração no futuro. Por outro lado,
ainda existem formas "modernas" de exploração da natureza, como a mineração em grande
escala e a indústria madeireira no Pacífico colombiano. É importante notar que ambas as
formas de capitalização da natureza coexistem no Pacífico colombiano no mesmo espaço
geográfico e ao mesmo tempo.
Como mencionado no início do artigo, este texto trata de uma abordagem teórica da
"espacialidade da resistência" que é ilustrada com o exemplo da resistência das comunidades
negras no Pacífico colombiano. Para informações mais detalhadas sobre o caso específico,
ver, por exemplo, Escobar (1997), Escobar & Pedrosa (1996), Grueso et al. (1998), Oslender
(2001b), Pardo (2002).
20Veja o conceito de conscientização desenvolvido por Paulo Freire (1971), com o que
denomina os processos pelos quais uma consciência é coletivamente gerada dentro de um
grupo oprimido sobre as condições de submissão e opressão nas quais seu cotidiano é
inscrito, motivando assim os grupos oprimidos a agir contra essas estruturas políticas e
econômicas injustas.
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Ficha bibliográfica:
OSLENDER, U
.Espacio, lugar y movimientos sociales: hacia una "espacialidad de resistencia". Scripta
Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales, Universidad de Barcelona, vol.
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