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ESPAÇO, LUGAR E MOVIMENTOS SOCIAIS: PARA UMA "ESPACIALIDADE

DE RESISTÊNCIA"1

Ulrich Oslender
Departamento de Geografia da Universidade de Glasgow

Traduzido por Jaili Ivinai Buelvas Diaz, para o Núcleo de Estudos sobre Memória e
Conflitos Territoriais (COMTER), da Universidade Federal do Ceará do original publicado
em:

OSLENDER, U. Espacio, lugar y movimientos sociales: hacia una "espacialidad de


resistencia". Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales, Universidad
de Barcelona, vol. VI, núm. 115, 1 de junio de 2002. http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-
115.htm[ ISSN: 1138-9788]

Espaço, lugar e movimentos sociais: para uma "espacialidade da resistência"


(Resumo)

Embora o uso de metáforas espaciais nas ciências sociais seja abundante hoje, muitos
geógrafos deploram a redução analítica de conceitos como espaço e lugar em muitos
trabalhos a uma mera função ilustrativa. Ainda mais preocupante, o espaço é
frequentemente representado como estático e desprovido de conteúdo político, uma
tendência que continua a dar preferência a uma visão histórica sobre uma visão geográfica
na análise das mudanças sociais.

Neste artigo, argumentarei que o conceito de espaço é (e sempre foi) político e saturado
de uma complexa rede de relações de poder/saber que se expressam em paisagens
materiais e discursivas de dominação e resistência. Em particular, quero mostrar como os
três "momentos" identificados por Lefebvre (1991) na produção do espaço podem
contribuir para a conceituação de uma "espacialidade de resistência", uma abordagem
teórica aqui apresentada que procura conceituar as formas concretas e decisivas pelas
quais espaço e resistência interagem e impactam um sobre o outro.

Explorando também o conceito de lugar como desenvolvido por Agnew (1987),


proponho uma perspectiva de lugar sobre os movimentos sociais que situa as práticas
dos movimentos em um lugar específico e, ao mesmo tempo, dentro de um quadro mais
amplo da reestruturação global do capitalismo. Finalizo o artigo com algumas reflexões
sobre as implicações de uma perspectiva de lugar para a metodologia na investigação de
movimentos sociais. Essa análise é colocada no debate sobre a construção da etnicidade
nas comunidades negras do Pacífico colombiano e o surgimento de movimentos sociais
nessa região que articulam essas questões em novas formas de políticas culturais.

Quero enfatizar que o presente texto deve ser entendido (e lido) acima de tudo como uma
contribuição teórica para os debates atuais dentro e fora da geografia cultural/política que
buscam conceituar as geografias específicas da resistência. Desse jeito, o material
empírico apresentado aqui - o movimento social das comunidades negras no Pacífico
colombiano - serve para ilustrar essas abordagens conceituais. O leitor interessado em
investigar mais profundamente no caso empírico utilizará as numerosas referências feitas
no texto. Também anuncio que o artigo nasceu no contexto da geografia anglo-saxônica
e, portanto, não considera propostas desenvolvidas pela academia espanhola. O texto visa
precisamente um feedback com acadêmicos, pesquisadores e ativistas espanhóis para
reunir duas tradições e tendências geográficas - espanhola e anglo-saxã - entre as quais,
como se sabe, não houve muitas trocas de conceitos e idéias.

Palavras-chave: espaço, lugar, resistência, movimentos sociais, comunidades negras,


Pacífico colombiano, Espaço aquático

A geógrafa inglesa Doreen Massey (1993:141) observa que "o 'espaço' está muito na moda
atualmente", referindo-se a um grande número de cientistas sociais que articulam sua
análise em termos espaciais 2 . No entanto, o que Massey e outros deploram é a falta de
uma compreensão analítica do conceito de espaço: “as metáforas geográficas da política
contemporânea devem contemplar concepções de espaço que reconheçam lugar, posição,
localização, etc., como criadas, como produzidas" (Bondi 1993: 99). Aliás, não se trata
apenas de reconhecer a forma construída desses conceitos, mas de mostrar como eles
foram construídos e sob quais estruturas políticas e relações de poder/saber 3 .

Rompendo com o dualismo analítico entre o tempo e o espaço, entre a história e a


geografia, tão freqüentemente reproduzido de maneira acrítica, Massey propõe uma
"tetra-dimensionalidade do espaço e do tempo":

O espaço e o tempo estão necessariamente entrelaçados. Não é que não possamos fazer qualquer distinção
entre eles, mas que a distinção que fizermos precisa manter os dois em equilíbrio e fazê-lo dentro de um
forte conceito de tetradimensionalidade. (Massey 1993:152)

De certo modo, Massey parece evocar aqui as representações geométricas da "geografia


do tempo" de Hägerstrand (1973) 4 . No entanto, as inter-relações do espaço-tempo não
se limitam a um rígido fisicalismo gráfico de interações rotinizadas de atores sociais
dentro de uma estrutura conhecida de possíveis lugares e caminhos espaço-temporais. O
que importa aqui é a condição fluida e dinâmica dessa relação e as múltiplas maneiras
pelas quais o espaço e o tempo estão inscritos na conduta da vida social.

Esse aspecto também foi explicado na teoria da estruturação e nas interações complexas
e dialéticas entre estrutura e ação social (Giddens, 1984). Resumindo muito brevemente
e sobre o que importa para o nosso argumento, Giddens entende os sistemas sociais
como sistemas de interações entre estruturas e atividades localizadas de sujeitos
humanos, capazes e conhecedores. É importante, então, reconhecer que as estruturas
foram criadas por sujeitos humanos e, embora possam apresentar obstáculos na conduta
da vida social, elas também podem ser ajustadas, modificadas ou até mesmo derrotadas
pelos mesmos atores sociais. As práticas sociais podem então reproduzir ou resistir a
essas estruturas. Nesse sentido, podemos conceber os movimentos sociais a partir de
uma perspectiva estruturante, na medida em que a ação coletiva dos participantes de um
movimento desafia estruturas de dominação e/ou sujeição 5 .

Por ambíguas, diferentes e múltiplas que sejam, a todas as resistências têm em comum
serem atuadas e mediadas no espaço e no tempo. Embora tal afirmação possa parecer
óbvia, a implicação de tal abordagem é que ambos os conceitos são essencialmente
políticos no modo como as práticas sociais são inscritas e enquadradas neles.

Movimentos sociais e a política do espaço

Refletindo sobre a política do espaço, o sociólogo francês Henri Lefebvre afirma:

O espaço não é um objeto científico separado da ideologia ou da política; Sempre foi político e
estratégico. Se o espaço parece neutral e indiferente ao seu conteúdo, e portanto parece ser
puramente formal e o epítome da abstração racional, é precisamente porque já foi ocupado e usado,
e já foi o foco de processos passados cujos traços não são sempre evidentes na paisagem. O espaço
foi moldado e modelado por elementos históricos e naturais; mas isso tem sido um processo
político. O espaço é político e ideológico. É um produto literalmente cheio de ideologias. (Lefebvre
1976: 31)

Se também podemos considerar o político como "a dimensão do antagonismo inerente a


todas as sociedades humanas" (Mouffe, 1995: 262), verifica-se que existem conflitos no
uso do espaço. Ou, em outras palavras, o espaço é um local de constante interação e luta
entre dominação e resistência. Essas lutas são muitas vezes articuladas por movimentos
sociais, que foram identificados como espaços privilegiados para estudar processos de
mediação no campo da construção de democracias (Jelin, 1987). Várias teorias tentam
explicar as formações, manifestações e sucessos ou fracassos dos movimentos sociais.
As duas principais abordagens são a Teoria da Mobilização de Recursos (TMR) e a
Perspectiva da Identidade Coletiva (PIC) 6 . A TMR analisa, acima de tudo, os recursos,
objetivos, oportunidades, estratégias e organização dos movimentos sociais, e observa os
processos dos movimentos ao longo do tempo. Ela está particularmente interessada nas
interações entre os partidos políticos e os movimentos sociais, e analisa criticamente o
Estado como um instrumento de repressão 7. Algumas dessas abordagens foram
criticadas mais tarde, principalmente por causa de sua concepção do ator individual em
termos de um ser racional definido por seus objetivos. É aqui que os analistas que
propõem uma abordagem sobre PIC tentam ir além, enfatizando as múltiplas formas
pelas quais os atores sociais criam e formam suas identidades e articulam e defendem
suas solidariedades 8 . Nesta abordagem, os atores não são definidos por seus objetivos
imediatos, mas pelas relações sociais e as do poder dentro do qual estão localizados.
Suas identidades são dimensões culturais expressas como protesto social. Estas podem
assumir formas muito sutis, e uma ênfase particular foi colocada, por exemplo, no tom e
sentimento dos atores em seu potencial para conduzir eventos (Scott, 1990). Muita
atenção tem sido dada à linguagem e às vozes dos atores no processo de articulação dos
movimentos sociais. Como Melucci (1989) expressou: “O movimento é a mensagem."

No entanto, pouca atenção é dada pela TMR e a PIC às interações concretas entre o
espaço e os movimentos sociais e aos lugares específicos de onde um movimento surge.
Frequentemente a ênfase é colocada nas dimensões temporais da mudança social, como
faz Zirakzadeh (1997), por exemplo, ao conceituar a investigação dos movimentos
sociais em três "ondas", ou Melucci (1989) que considera os movimentos
contemporâneos em termos de "nômades do presente". Movimentos de diferentes partes
(e culturas) do planeta são analisados em seu contexto temporal, atribuindo-lhes objetivos
comuns que tipicamente articulam nossa época, uma abordagem particularmente forte
hoje "no final (ou no começo) do milênio" (Castells 1997). Isso significa que a maioria
das análises de movimentos sociais examina apenas brevemente, e como pouco mais do
que informações introdutórias, os lugares específicos dos quais um movimento surge,
antes de concentrar a análise "mais séria" nas estruturas do movimento, seus objetivos e
as maneiras pelas quais ele está inscrito nas mudanças mais amplas da história global.

Essas abordagens não espaciais foram recentemente criticadas em alguns documentos do


PIC que consideram identidades e lugares como intrinsecamente ligados (Escobar 2001,
Oslender 2001a, Routledge 1997). Para entender um movimento construído a partir da
identidade coletiva, temos que entender os lugares específicos em que a ação social do
movimento se desdobra e onde essas identidades são fisicamente construídas e
articuladas. Existem questões concretas que surgem das interações entre a ação social dos
movimentos sociais e o lugar: Como as particularidades de um lugar impactam as pessoas
que se organizam em um movimento social, e como elas atrapalham ou, pelo contrário,
facilitam a realização de ações coletivas? Em que medida a experiência de viver em um
determinado lugar e os sentimentos subjetivos gerados por essa experiência influenciam a
decisão do ator social de se envolver em um movimento social? Que papel as histórias
locais de um lugar desempenham na compreensão das maneiras pelas quais as pessoas
refletem sobre sua participação em um movimento social? Mas também, como explicam
as características objetivas mais amplas de um lugar, como a ordem macropolítica e
econômica, a organização e a articulação da resistência neste lugar? Quais são as
implicações de um ambiente particular nos processos organizacionais? Aqueles que
acreditam que encontram "respostas óbvias" a essas questões cometem o erro
previamente analisado de ver o espaço e o lugar como meros contextos nos quais um
determinado conflito se desenvolve. O que tento mostrar aqui é que espaço e lugar são
elementos constitutivos das formas específicas em que um dado conflito se desenvolve.
São precisamente estes impactos concretos do espaço e do lugar na formação e
organização dos movimentos sociais que tentamos teorizar com o conceito de
"espacialidade da resistência".

No caso dos movimentos sociais que se mobilizam em torno da defesa de suas


territorialidades, por exemplo, é o espaço físico e material o que está no centro de suas
atividades. No entanto, sua luta pela terra é ao mesmo tempo uma luta pelo espaço e suas
interpretações e representações. Como mostrarei abaixo, no caso do movimento social
das comunidades negras no Pacífico colombiano que é definido como uma organização
étnico-territorial, a luta pelo território está explicitamente ligada a uma reinterpretação do
espaço e seu significado para o atores locais. De fato, o "lugar" Pacífico colombiano se
torna o centro das lutas pelas representações do espaço.

Nesse aspecto, o trabalho de Lefebvre (1991) sobre a produção do espaço fornece um


importante quadro teórico dentro do qual podemos tentar abordar esse projeto de
espacialização das resistências. 9 Lefebvre identifica três "momentos" interconectados na
produção do espaço: 1) práticas espaciais;
2) representações do espaço; e 3) espaços de representação. As práticas espaciais
referem-se às maneiras pelas quais geramos, usamos e percebemos o espaço. Por um
lado, realizaram os processos de mercantilização e burocratização da vida cotidiana, um
fenômeno sintomático e constitutivo da modernidade com o qual se colonizou um
"espaço concreto" antigo e historicamente sedimentado, argumento também apresentado
por Habermas (1987), que se refere a esses processos como "colonização do mundo-
vida". Por outro lado, essas práticas espaciais estão associadas às experiências da vida
cotidiana e às memórias coletivas de modos de vida diferentes, mais pessoais e íntimos.
É por isso que eles também têm potencial para resistir à colonização dos espaços
concretos.

As representações do espaço referem-se aos espaços concebidos e derivados de uma


lógica particular e do conhecimento técnico e racional, "um espaço conceituado, o espaço
de cientistas, urbanistas, tecnocratas e engenheiros sociais" (Lefebvre 1991: 38). Esse
conhecimento está ligado às instituições do poder dominante e às representações
normalizadas geradas por uma "lógica da visualização" hegemônica. Eles são
representados como "espaços legíveis", como mapas, estatísticas etc. Eles produzem
visões e representações normalizadas presentes nas estruturas estatais, na economia e na
sociedade civil. Essa legibilidade realmente produz uma simplificação do espaço, como
se fosse uma superfície transparente. Desta forma, é produzida uma visão normalizada
particular que ignora lutas, ambiguidades e outras formas de ver, perceber e imaginar o
mundo. Isso não significa que estas relações sejam necessárias. De fato, existem
múltiplas formas de desafios e reapropriações do espaço pelos atores sociais. No entanto,
o que torna essa conceituação de representações de espaço muito importante hoje em dia,
é a crescente importância das formas dominantes dessa lógica de visualização e das
relações de poder/saber que se reproduzem e são reproduzidas por ela. O uso crescente de
tecnologias da informação e novas formas de modelar dinamicamente a vida social, como
os sistemas de informação geográfica (SIG), são outro indicador do crescente domínio
das representações do espaço. Seu efeito é de abstração e descorporalização do espaço,
sempre apoiado por argumentos científicos e apelos a uma representação "verdadeira".

Assim, surgiu um "espaço abstrato" no qual "coisas, eventos e situações são sempre
substituídos por representações" (Lefebvre 1991: 311). Esse espaço abstrato é
precisamente "o espaço do capitalismo contemporâneo" (Gregory 1994: 360), no qual a
lei da troca de mercadorias como razão econômica dominante do capitalismo moderno
nos levou a uma crescente mercantilização da vida social 10 . No entanto, em vez de
constituir um espaço homogêneo e fechado, o espaço abstrato em si é um local de luta e
resistência em que as contradições sócio-políticas são articuladas (Lefebvre 1991: 365).
Lefebvre diz que essas contradições finalmente resultarão em um novo espaço, um
"espaço diferenciado", porque "na medida em que o espaço abstrato tende à
homogeneização, à eliminação das diferenças ou peculiaridades existentes, um novo
espaço só pode nascer se for para acentuar as diferenças". "(Lefebvre 1991: 52). Pode-se
argumentar que isso é precisamente o que estamos vendo hoje, uma proliferação de
espaços diferenciados como resultado das contradições do espaço abstrato. Políticas de
identidade que se mobilizam em torno de questões de classe, raça, etnia, gênero,
sexualidade etc. levaram a uma acentuação das diferenças e peculiaridades articuladas em
múltiplas resistências e desafios às representações dominantes do espaço. Assim, as
contradições do espaço abstrato levam a uma "busca de um espaço contrário" (Lefebvre
1991: 383), um espaço diferenciado, articulado nas multiplicidades da resistência como
política concreta do espaço 11 .

Lefebvre coloca essas resistências nos espaços de representação. Estes são os espaços
vividos que representam formas de conhecimento local e menos formal; são dinâmicos,
simbólicos e saturados de significados, construídos e modificados ao longo do tempo pelos
atores sociais 12 . Essas construções estão enraizadas na experiência e constituem um
repertório de articulações caracterizado por sua flexibilidade e capacidade de adaptação
sem serem arbitrárias:

Os espaços de representação não precisam obedecer a regras de coerência ou coesão. Cheios de elementos
imaginários e simbólicos, eles têm sua origem na história - na história da cidade e na história de cada
indivíduo que pertence a essa cidade. (Lefebvre 1991: 41)

Esses espaços de representação não são homogêneos nem autônomos. Eles se


desenvolvem constantemente em uma relação dialética com as representações
dominantes do espaço que intervêm, penetram e tendem a colonizar o mundo-vida do
espaço de representação. O espaço de representação é então também o espaço dominado
do qual a imaginação procura apropriar-se. É ao mesmo tempo sujeito à dominação e
fonte de resistência, o cenário então das relações entre dominação e resistência; pois
assim como a dominação não pode existir sem resistência, a resistência precisa de
dominação para agir e adquirir significado (Sharp et al. 2000).

Evidentemente, os três momentos identificados por Lefebvre na produção do espaço


precisam ser considerados interconectados e interdependentes. Existe uma relação
dialética entre o percebido, o concebido e o vivido, que não podem ser considerados
como elementos independentes, uma relação que Escobar (1995) parece levar em conta
em seu chamado a uma "antropologia da modernidade".
Aplicando este conceito para o caso da costa colombiana do Pacífico, Escobar e Pedrosa
escrevem:

Desde ela, estamos interessados em analisar os mecanismos concretos através dos quais procuramos
integrar a região do Pacífico na modernidade do país. Assim, buscamos uma etnografia das práticas desses
atores sociais que representam o avanço da modernidade no Litoral: planejadores de desenvolvimento,
capitalistas, biólogos e ecologistas, especialistas de todos os tipos e, por fim, ativistas de movimentos
sociais, como agentes de possíveis modernidades alternativas. (Escobar & Pedrosa 1996: 10, ênfase minha)

Essas possíveis "modernidades alternativas" seriam produto da busca de um contra-espaço,


fruto da relação dialética entre representações de espaço e espaços de representação, como
mencionado anteriormente, em que os movimentos sociais tentam articular as necessidades
do mundo-vida diante das representações dominantes de seu espaço. E essas modernidades
alternativas precisam ser pensadas a partir de um lugar específico ao qual e de quem as
pessoas estão constantemente se referindo e desde o qual a mobilização se organiza em
defesa do lugar:

A prática social é aglutinada ao lugar "place-bound", a organização política requer organização do lugar.
[...] Ao mesmo tempo, o lugar é mais do que a simples vida cotidiana vivida. É o "momento" em que o
concebido, o percebido e o vivido adquirem uma certa "coerência estruturada". (Merrifield 1993: 525)

Assim, o lugar contextualiza e enraíza as conceptualizações lefebvrianas (o concebido,


percebido, vivido). Uma perspectiva de lugar sobre os movimentos sociais, como
proposta neste artigo, não é apenas uma aproximação necessária às expressões de
resistência no nível empírico, mas também tem que ser desenvolvida no nível teórico
através da conceituação e enraizamento às teorias dos movimentos sociais no conceito de
lugar.

Movimentos sociais desde uma perspectiva de lugar

Para desvendar o conceito de lugar no nível teórico, vou me referir a Agnew (1987) que,
como Entrikin (1991), enfatiza as qualidades objetivas e subjetivas do lugar sem cair em
um subjetivismo arbitrário. O conceito de lugar de Agnew é constituído por três
elementos: 1) localização, 2) localização e 3) sentido de lugar. No sentido mais geral, a
localidade refere-se aos quadros formais e informais em que as interações sociais
cotidianas são constituídas 13 . A localidade refere-se não apenas aos cenários físicos
nos quais a interação social ocorre, mas também implica que esses cenários e contextos
são especificamente usados rotineiramente pelos atores sociais em suas interações e
comunicações diárias. Dessa forma, certas localidades podem ser identificadas como
cenários físicos associados às interações típicas que tornam as coletividades como
sistemas sociais. Como mostrarei mais adiante, a localidade "típica" das comunidades
negras rurais no Pacífico colombiano é o "espaço aquático" como um cenário e um
contexto rotineiro no qual as formas de interação diária dessas comunidades são
desenvolvidas.

A localização pode ser definida como o espaço geográfico específico que inclui a
localidade afetada por processos econômicos e políticos que operam em escalas mais
amplas no âmbito regional, nacional e global. A localização enfatiza o impacto de uma
ordem macroeconômica e política em uma região e nas maneiras como ela está localizada,
por exemplo, em um processo de desenvolvimento desigual em nível global. O terceiro
elemento no conceito de lugar é o sentido de lugar, ou a "estrutura de sentimento" local,
para adotar a expressão de Raymond Williams (1977: 128-135). Ele tenta expressar a
orientação subjetiva que deriva de viver em um lugar particular, para o qual indivíduos e
comunidades desenvolvem sentimentos profundos de apego através de suas experiências e
memórias. O conceito de sentido de lugar tem sido central na geografia humanista e nas
propostas fenomenológicas que destacaram "o caráter dialógico da relação das pessoas
com um lugar" (Buttimer 1976: 284) e as formas poéticas nas quais as pessoas constroem
o espaço, lugar e tempo (Bachelard 1958). O sentido de lugar, então, expressa o sentido de
pertencimento a lugares particulares e insere uma forte orientação subjetiva ao próprio
conceito de lugar.

No entanto, seria errado ver os três componentes do lugar como separados. Ao contrário,
eles agem como momentos fluidos cujas interações se influenciam e se formam
mutuamente. É precisamente essa fluidez que dá ao conceito de lugar sua força analítica.
Um sentido de lugar particular molda as relações sociais e as interações da localidade (e
vice-versa), e ambos os elementos são influenciados pelas estruturas políticas e
econômicas mais amplas e pelas maneiras pelas quais elas são visivelmente expressas e
manifestadas na localização 14 . Central neste conceito de lugar é a ênfase nas
subjetividades e nas formas individuais e coletivas de percepção da vida social. Dentro da
pesquisa dos movimentos sociais, o interesse pelas subjetividades se expressa sobretudo
na perspectiva da identidade coletiva (PIC), que enfatiza a reprodução cultural e o
controle da historicidade (Touraine 1988) 15 . Os movimentos sociais devem ser
compreendidos em conjunto com as redes culturais submersas da vida cotidiana das quais
eles emergem (Melucci, 1989). E precisamente porque as identidades são específicas de
um lugar, devemos entendê-las como constituídas pelos três elementos da localidade,
localização e sentido do lugar. Para contextualizar o debate teórico conduzido até agora,
ilustrarei agora como, no caso do movimento social das comunidades negras na
Colômbia, certas formas e associações concretas de mobilização social podem ser
explicadas com uma perspectiva de lugar.

Espaço e lugar no Pacífico colombiano

A localização do Pacífico colombiano se refere à área geográfica e às múltiplas maneiras


pelas quais fatores econômicos, políticos e sociais são inscritos na paisagem. A costa
colombiana do Pacífico estende-se desde a fronteira com o Panamá até o Equador por
cerca de 1.300 quilômetros e da faixa costeira entre 80 e 160 quilômetros até o sopé da
cordilheira ocidental dos Andes. Uma área de cerca de 10 milhões de hectares coberta
por floresta tropical, é caracterizada por níveis muito altos de precipitação e
biodiversidade exuberante. A floresta é penetrada por uma rede extensa e labiríntica de
rios que serpenteiam desde as encostas da Cordilheira ocidental até o Oceano Pacífico. A
região é hoje povoada por cerca de 1,31 milhão de habitantes, 4% da população total da
Colômbia (DNP, 1998). Destas, 90% são afro-colombianos, cerca de 5% pertencem a
diversos grupos étnicos de indígenas, e cerca de 5% são mestiços do centro do país 16. Os
negros do país são descendentes de escravos que foram sequestrados da África para
trabalhar nas minas de ouro do Pacífico colombiano, bem como nas grandes fazendas do
país (Del Castillo, 1982, Sharp, 1976).

A situação sócio-política do Pacífico colombiano foi analisada em termos de


marginalização do "litoral recôndito" (Yacup 1934) devido à dificuldade de acesso do
centro do país e às políticas estatais de abandono da região. Essas políticas começaram a
mudar na década de 1980 com a formulação de um plano central de desenvolvimento
(DNP, 1983), baseado na construção de uma infraestrutura, alguns serviços sociais e
programas de desenvolvimento agrícola de pequena escala. Como resultado da aceitação
de um modelo econômico neoliberal e da conseqüente política de "abertura", em 1992 foi
inaugurado um plano de desenvolvimento mais ambicioso, o Plano do Pacífico (DNP
1992), que ainda vigora hoje com financiamento significativo do Banco Mundial. Mais
recentemente, foi lançado o Projeto Biopacífico, que reflete os novos interesses do
capitalismo global na conservação da quase lendária biodiversidade do Pacífico
colombiano (GEF / PNUD 1993, Biopacific Project 1998), especialmente com vistas aos
recursos naturais e seu potencial uso farmacêutico (Escobar 1997).

Estas representações do espaço do Pacífico colombiano em termos de seu potencial para o


desenvolvimento do resto do país foram produzidas fora da região, e muito pouco foram
levadas em conta as necessidades da população na costa do Pacífico e seus espaços de
representação. Não surpreendentemente, muitos dos projetos estatais atraíram a resistência
das comunidades locais.
Esta resistência começou a se organizar desde a segunda metade da década de 1980,
primeiro em algumas áreas como lutas camponesas pelo acesso e controle de suas terras,
17 e depois com uma legislação geralmente favorável a partir da nova constituição
colombiana de 1991 como organizações "étnico-territoriais" que defendem seus direitos
a uma diferença cultural diretamente ligada ao controle sobre seus territórios. A nova
constituição de 1991 declarou a nação colombiana como multicultural e multiétnica,
reconhecendo pela primeira vez as populações negras como um grupo étnico. O artigo
transitório 55 (AT-55) deu lugar à Lei 70, ratificada em agosto de 1993, que concede
direitos territoriais coletivos a comunidades negras que ocupam terras baldias nas áreas
ribeirinhas rurais dos rios da Orla do Pacífico. Claro que isso não foi um simples ato
filantrópico por parte do governo. Em vez disso, as comunidades rurais negras da costa
do Pacífico são consideradas juntamente com as comunidades indígenas desta região
como os "guardiões" das florestas tropicais, responsáveis pela proteção do meio
ambiente e da já lendária "megabiodiversidade" da costa do Pacífico18. Uma crescente
consciência de identidade política, organizada e coordenada por movimentos sociais que
criaram e ampliaram esses novos espaços políticos nas negociações com o governo, está
surgindo na região. Eles articulam seus espaços de representação, ricos em simbolismos,
significados e conhecimentos locais, e desafiam as representações do espaço dominantes,
que produziram o Pacífico como um espaço homogêneo legível através de uma lógica de
visualização hegemônica, expressa materialmente e discursivamente na implementação
dos vários projetos de desenvolvimento para a região. Os movimentos sociais resistem a
essa homogeneização do Pacífico como um espaço abstrato de mercadorias, criando um
espaço diferencial que eles defendem cultural e politicamente. A localização do Pacífico
colombiano é, então, uma de geografias, economias e políticas que mudam
frequentemente, refletindo ao mesmo tempo os processos globais da reestruturação do
capitalismo, bem como as resistências a nível local. Essas resistências não são mais
apenas respostas a conflitos locais de especulação territorial e apropriação de recursos
naturais por grandes empresas, mas agora também a decisões do governo nacional de
abrir a região para novas relações globais e defini-la em novos espaços de representação
seguindo modelos globais de "desenvolvimento sustentável" e "preservação da
biodiversidade". Para explorar as expressões concretas dessas resistências e o impacto
constitutivo que espaço e lugar têm sobre elas, voltamo-nos agora para as inter-relações
sociais que agem na região, conceituadas no conceito de localidade.

Central para entender o conceito de localidade no Pacífico colombiano é a noção do


"espaço aquático" (Oslender 2001a). Com esse termo, refiro-me às formas específicas
pelas quais elementos "aquáticos", como altos níveis de chuva, impactos das marés, redes
labirínticas de rios e manguezais, e inundações frequentes, entre outros, influenciaram
fortemente as formas de vida cotidiana. Essas formas são visíveis, por exemplo, na
construção de casas rurais em pilhas de madeira para evitar a inundação da moradia. Por
outro lado, o ciclo das marés tem um impacto considerável em quase todas as
manifestações da vida diária. Com uma variação no nível da água de até 4,5 metros, a
maré alta facilita a navegação subindo os rios nos “potrillos”, o meio de transporte
tradicional, e é o recurso essencial nos estuários para qualquer barco, uma vez que as
canas são secadas na maré baixa e, nela, nem os barcos pequenos podem passar.
O rio é também o espaço social de interação diária onde as pessoas vêm tomar banho, as
mulheres lavam roupas e as crianças brincam. Estas atividades são de natureza quase
ritual e são acompanhadas de risos, jogos e o famoso “bochinche”, as fofocas que fazem
rir a uns e desesperam aos outros. Este cenário, mesmo de expressão diária, é mais
evidente nos dias de mercado, quando navios grandes e pequenos chegam de perto e de
longe ao mercado, não apenas para comprar produtos, mas também para trocar
informações e "contar histórias". O mercado é, especialmente para os habitantes de
comunidades mais remotas e afastadas, frequentemente a única fonte de informação e
meio de comunicação. Mais importante do que no estrito sentido prático, o rio torna-se o
espaço social per se das interações humanas cotidianas e a referência simbólica da
identidade das pessoas e dos grupos que se instalaram em suas ribeiras. O rio também
atravessa a imaginação das comunidades negras e se ve refletido nas múltiplas formas
discursivas nas quais eles se referem ao seu ambiente e seu mundo, adquirindo assim um
papel central nos processos de identificação coletiva (Oslender 1999, Restrepo 1996).
Como o geógrafo norte-americano Robert West já observou em 1957:

As pessoas de um determinado rio são consideradas como uma comunidade. [...] Os negros... falam de
"nosso rio", ou mencionam, por exemplo, que "somos do rio Guapi", ou "somos guapiseños" sic,
indicando sua ligação social a um rio específico. (West 1957: 88)

A identificação ribeirinha e o espaço aquático estão assim profundamente inscritos no


sentido de lugar no Pacífico colombiano e construíram o que chamei de "estrutura
aquática de sentimento" (Oslender, 2001a).

Essas relações sociais espacializadas de comunidades negras rurais ao longo de rios e


orlas fluviais desempenham agora um papel importante nos novos contextos políticos de
organização e mobilização. De fato, pode-se afirmar que o espaço aquático constitui uma
das pré-condições espaciais para a organização política no Pacífico colombiano. Sem
querer entrar em detalhes nesses complexos processos políticos, podemos afirmar que a
grande maioria das comunidades negras se organizou em conselhos comunitários, uma
associação política comunitária introduzida pela Lei 70, ao longo das orlas hidrográficas,
refletindo assim as referências culturais especificas e identitárias da localidade no
Pacífico colombiano. Esta associação organizacional-espacial nasceu seguindo a "lógica
do rio" que é a entidade central da vida social nas comunidades rurais negras, como
afirma a organização de base "Proceso de Comunidades Negras" (PCN):

Na lógica do rio, as propriedades do uso do território são determinadas pela localização: na


parte alta do rio a ênfase é colocada na produção de mineração artesanal, atividades de
caça e coleta são realizadas na floresta de montanha, para a parte do meio a ênfase é na
produção agrícola e o corte seletivo de árvores de madeira, também são desenvolvidas
atividades de caça e colheita na floresta como apoio; em direção à parte baixa, a ênfase é
na pesca e coleta de conchas, moluscos e caranguejos compartilhadas com a atividade
agrícola. Entre todas as partes há uma relação contínua do acima com o abaixo e vice-
versa e do ambiente com ambos, caracterizado por uma mobilidade que segue o curso
natural do rio e da natureza, cuja dinâmica fortalece e possibilita as relações de parentesco
e troca de produtos, sendo nessa dinâmica a unidade produtiva a família dispersa ao longo
do rio. (PCN 1999: 1)

A lógica do rio, que juntamente com o espaço aquático constitui a localidade no Pacífico
colombiano, foi então o fator espacial orientador na constituição de conselhos
comunitários ao longo das orlas hidrográficas. Esses conselhos comunitários atuam como
a principal autoridade territorial nas áreas rurais do Pacífico colombiano que, guiadas
pelos Planos de Manejo desenvolvidos pelas mesmas comunidades com a assistência de
instituições governamentais e ONGs, decidem entre outros sobre o uso e a exploração
dos recursos naturais em seu território. Estas são, pelo menos em teoria, mudanças
radicais nas formas de apropriação territorial, uma vez que as empresas com interesse em
aproveitar os ricos recursos naturais da região - como ouro, madeira e potencial agrícola -
são agora forçadas a negociar diretamente com as comunidades rurais, e o Estado não
pode mais simplesmente emitir concessões a essas empresas, ignorando assim as
comunidades, como era o caso antes da Lei 70 de 1993 19. Por outro lado, é importante
enfatizar que esses processos não seguem simplesmente um modelo "ideal" de
apropriação territorial coletiva das comunidades negras na região. Pelo contrário, nem o
Estado colombiano nem as grandes empresas respeitam essa legislação como deveria ser
esperado. O Estado incluso tem sido apontado de não apoiar suficientemente as
comunidades negras neste difícil e longo processo. Uma perspectiva de lugar sobre esses
processos espaciais de organização política nos atenta para outras formas de criação de
conselhos comunitários que não seguiram a lógica do rio, revelando, por exemplo, como
em muitos desses casos a constituição de conselhos comunitários tem sido mediada por
interesses e atores do capital externo e do governo central (Oslender 2001b), um fato que
frequentemente tem um impacto negativo na mobilização local a longo prazo. Essa
abordagem nos permite diferenciar entre as diferentes experiências organizacionais
dentro das comunidades negras, porque é claro que não é um grupo social homogêneo,
mas um grupo com uma gama de interesses nos quais não influencia apenas a etnia senão
também categorias como classe, gênero e afiliação à política partidária.

Outro fator que não posso discutir em detalhes aqui, mas que está se tornando mais
urgente a cada dia, é o recente aumento do conflito armado no Pacífico colombiano,
região que até poucos anos atrás era descrita como um "refúgio de paz" e onde hoje
vários grupos guerrilheiros, paramilitares e o exército colombiano se engajam em uma
guerra suja em que os camponeses se encontram indefesos entre as diferentes partes.
Como um resultado imediato, os níveis de deslocamento forçado das áreas rurais para as
cidades dispararam, uma catástrofe humana cujas vítimas foram mais de dois milhões de
pessoas deslocadas na Colômbia (Rojas Rodríguez 2001).

Trata-se, então, da questão do conceito de "espacialidade da resistência" aqui proposta


para considerar de forma abrangente e consciente os fatores espaciais objetivos e os
subjetivos na análise dos movimentos sociais. A perspectiva de lugar busca ressaltar o
lugar como elemento constituinte das formas concretas nas quais os movimentos sociais
evoluem e pretende ir além de muitas análises que se concentram - como no caso do
movimento negro na Colômbia - frequentemente nos discursos políticos ao nível regional
e nacional dos líderes afro-colombianos.

Conclusões

Neste artigo, tentei demonstrar a necessidade de analisar os conceitos de "espaço" e


"lugar" na investigação dos movimentos sociais como terrenos concretos em que
múltiplas relações de poder se manifestam em formas específicas de dominação e
resistência. O espaço não é simplesmente o domínio do estado que administra, ordena e
controla (representações do espaço), mas a interação sempre dinâmica e fluida entre o
local e o global, o individual e o coletivo, o privado e o público, e entre resistência e
dominação. No espaço, então, há também o potencial para desafiar e subverter o poder
dominante, e é por isso que é uma parte essencial de uma política de resistência como
articulada, por exemplo, pelos movimentos sociais. Uma perspectiva de lugar nesses
processos examinando as interações entre localidade, localização e sentido de lugar
facilita uma visão mais integral dos processos organizacionais e leva a sério as vozes dos
atores sociais:

Uma sensibilidade diante de lugares particulares de resistência implica o reconhecimento da


intencionalidade dos sujeitos históricos, a natureza subjetiva das percepções, imaginações e experiências
em contextos espaciais dinâmicos, e como os espaços são transformados em lugares cheios de
significados culturais, memória e identidade. (Routledge 1996: 520)

Estas abordagens parecem particularmente importantes, dado que hoje existe um


interesse crescente nas análises comparativas dos movimentos sociais, que muitas vezes
parecem estar mais interessados em mostrar como resistências específicas estão
relacionadas aos processos de globalização do que nos processos organizacionais
próprios e muito específicos de um movimento particular. Castells (1997: 68-109), por
exemplo, compara os casos da rebelião zapatista em Chiapas, no México, com o
movimento de milícias nos EUA e com o Aum Shinrikyo no Japão, para mostrar que o
adversário comum é a globalização e a nova ordem mundial. Em outra análise
comparativa que carece de sensibilidade espacial, Zirakzadeh (1997) compara os Verdes
da Alemanha Ocidental, o movimento Solidariedade na Polônia e o Sendero Luminoso
do Peru. Embora tais análises possam ou não explicar os movimentos sociais
contemporâneos no contexto global, eles nos dizem pouco sobre os agenciamentos
múltiplos dos movimentos referentes a seus lugares e espaços e sobre procedimentos
complexos no campo da vida cotidiana. Temos que nos perguntar se isso não nos diz
mais sobre atitude, metodologia e formas de fazer pesquisa do que sobre as realidades da
vida social. Pesquisadores cuja preocupação é o comprometimento crítico (Routledge
1996) ou pesquisa-ação participativa (Fals Borda 1987) enfatizam a importância de uma
relação de interesse mútuo entre o pesquisador e os participantes dos movimentos sociais.

Ao estimular dessa forma processos de "concientização" (Freire 1971) diante de situações


de dominação, exploração e/ou sujeição20, o pesquisador pode contribuir ativamente para
a construção de um espaço diferenciado e para os processos de busca de um contra-
espaço como foi imaginado por Lefebvre (1991). Embora não pareça muito na moda hoje
em dia numa academia cada vez mais administrada pela lógica capitalista-mercantilista
da produção de conhecimento, acho que devemos nos perguntar criticamente por que e
para quem fazemos pesquisa. É hora de reviver os valores da geografia radical (Peet
1977, Blunt & Wills 2000) e não se esconder atrás de pretextos falsos de "objetividade
científica", pretensão ilusória dada a natureza política e desigual de todas as relações
sociais. Concordo com Slater (1985: 21) que há uma "necessidade de fazer mais
pesquisas - não simplesmente por razões científicas, mas também como um braço na luta
por uma transformação social verdadeiramente democrática". Uma perspectiva de lugar
nos movimentos sociais também quer abrir caminho para um compromisso crítico do
pesquisador com os movimentos, uma vez que levar a sério as articulações cotidianas da
vida social abre um espaço de diálogo entre o pesquisador e os atores sociais. Em que
medida é permitido estimular processos de conscientização nesses contextos depende da
política de posicionamento do pesquisador diante dos movimentos. Embora eu não possa
elaborar mais aqui, a perspectiva de lugar também abrange algumas abordagens
metodológicas críticas com as quais o pesquisador é convidado a fazer perguntas sobre
sua posição e seu lugar nos processos de pesquisa.

Notas

1 Algumas das ideias apresentadas aqui foram publicadas em um artigo anterior em Restrepo,
E. & Uribe M.V. (orgs) (2000), Antropologías transeúntes, Bogotá: ICANH, pp.191-221. No
entanto, este texto foi substancialmente revisado em sua parte conceitual e o material empírico
foi elaborado consideravelmente.
2 Em particular, Massey examina o tratamento do conceito de espaço em Laclau (1990) e em

Jameson (1991). Embora ambos os autores tenham uma visão diferente do espaço, eles
concordam com um tratamento apolítico desse conceito.
3 Com a anotação "poder / saber" neste artigo, refiro-me à conceituação de Foucault (1980)

nesses termos, que considera que o poder e o saber ocorrem de forma tão intrinsecamente
interligada que um não ocorre sem o outro.
4 A geografia do tempo (time-geography) enfatiza na continuidade e nos vinculos de

sequências de eventos que acontecem em situações enquadradas no espaço e no tempo. O


geógrafo sueco Torsten Hägerstrand (1973) desenvolveu um modelo de anotação gráfica de
redes sociais no espaço e no tempo que tenta registrar movimentos e encontros no espaço
social. Este modelo assume que o espaço e o tempo funcionam como recursos de projetos
individuais afetados pela existência de obstáculos. Esses obstáculos são concebidos como
possíveis caminhos do espaço-tempo, passando por estações acessíveis dentro de uma estrutura
maior de domínios que restringem as ações humanas. É precisamente essa ênfase nos
obstáculos que foram criticados por terem herdado demais das teorias do estruturalismo e por
diminuir a importância da ação social nesses processos. No entanto, outros explicaram a
ligação entre a geografia do tempo e a teoria da estruturação e, em particular, como as
representações gráficas do modelo de Hägerstrand nos mostram a lógica material da
estruturação (Pred 1981).
5 Deve-se notar aqui que nem todas as resistências são classificadas como "progressivas". De

fato, algumas resistências reforçam as estruturas existentes de dominação e sujeição, como por
exemplo no caso de campanhas antiaborto nos EUA que efetivamente tentam restringir os
direitos das mulheres sobre seus corpos, reificando assim a subordinação estrutural das
mulheres na sociedade. Outro exemplo são os contras na Nicarágua, que, apoiados pelos EUA,
lutaram contra o governo revolucionário socialista dos sandinistas, que estava apenas tentando
romper as cadeias do subdesenvolvimento estrutural nas mãos de intervenções e dominação
estrangeira no país. É importante, então, levar em conta a possível natureza reacionária de
algumas resistências.
6 Para nossa análise, um breve resumo das principais ideias é suficiente. Entretanto, veja por

exemplo Cohen (1985), Foweraker (1995) e Zirakzadeh (1997), para uma análise comparativa
das várias abordagens dentro da TMR e PIC.
7 Ver, por exemplo, McCarthy e Zald (1977), Olson (1965) e Tilly (1978).
8 Ver, por exemplo, Castells (1997), Laclau e Mouffe (1985), Melucci (1989) e Touraine
(1988).
9 Vale a pena notar que desde a publicação de seu trabalho seminal em inglês em 1991,
Lefebvre despertou um crescente interesse na geografia anglo-saxônica - ver, por exemplo, os
trabalhos de Gregory (1994), Harvey (1996) e Merrifield (1993). - enquanto sua influência na
geografia francesa diminuiu.
10 <Pode se adicionar que o espaço abstrato também tem sido a lógica dominante de
organização e representação espacial nos sistemas e regímenes do socialismo e o comunismo.
11 Veja também Massey (1999), que argumenta que "multiplicidade" é uma característica
fundamental para entender o conceito de espacialidade.
12 Da mesma forma, a importância dos espaços de vida para abordar o conceito de lugar tem
sido destacada nas abordagens fenomenológicas da geografia humanista que enfatizam o
comportamento e as percepções e experiências dos atores sociais (Buttimer, 1976, Ley &
Samuels 1978). Tuan 1975). Conforme explicado por David Ley (1977: 509): “O lugar deve
ser entendido em relação ..., constituído ao mesmo tempo da objetividade do mapa e da
subjetividade da experiência".
13 O termo de localidade ("locale") foi originalmente proposto por Giddens (1984) em seu
desenvolvimento da teoria de estruturação.
14 Pred & Watts (1992), por exemplo, insistem nas múltiplas maneiras pelas quais as culturas
locais processam, modelam, modificam e influenciam as condições e ações do capital global e
da modernidade. E o argumento de Peet & Watts (1996) de
“ecologias da libertação" enfatiza a importância das construções locais da ecologia e dos
"imaginários ambientais" como importantes locais de resistência.
15 Touraine (1988: 8) referiu-se às experiências culturais específicas dos atores sociais em
termos de "historicidade", "um conjunto de modelos culturais que orientam a prática social".
Os atores assumem a tarefa coletiva de autoprodução cultural, considerada como um conjunto
complexo de ações que a sociedade exerce sobre si mesma. Assim, na definição de Touraine
(1988, p. 68), um movimento social é "a ação, tanto culturalmente orientada quanto
socialmente conflituosa, de uma classe definida por sua posição de dominação ou dependência
na forma de apropriação de sua historicidade, dos modelos culturais de investimento,
conhecimento e moralidade para os quais o movimento social é orientado ”. Ou, em outras
palavras, dentro de um movimento social, as pessoas assumem, ou tentam assumir, o controle
sobre sua historicidade.
16 Os dados raciais que uso aqui para a região do Pacífico colombiano são cálculos
geralmente aceitos. Não há informação racial confiável nos dados demográficos da
Colômbia. No entanto, é comum hoje administrar o valor de 26% para
a população Afro na Colômbia.
17 Essas organizações eram particularmente fortes no departamento de Chocó, onde

receberam apoio importante da Igreja Católica. Elas incluíam, por exemplo, a Associação
Integral de Camponeses do Rio Atrato (Acia), formada em 1987 e até hoje a mais forte e
visível organização camponesa de negros do país.
18 Essa tendência de empoderar grupos étnicos que convivem com ecossistemas frágeis,

como as florestas tropicais, conferindo direitos coletivos às suas terras e, ao mesmo tempo,
responsabilidades pela proteção do meio ambiente, como prescreve a Lei 70, é uma tendência
mundial (O'Connor 1993). No mesmo contexto, Escobar (1996: 48) refere-se a "duas lógicas
do capital ecológico". Por um lado, existem "formas pós-modernas de capitalização da
natureza", expressas na fase ecológica do desenvolvimento sustentável e conservação da
natureza e da biodiversidade para garantir seu uso e exploração no futuro. Por outro lado,
ainda existem formas "modernas" de exploração da natureza, como a mineração em grande
escala e a indústria madeireira no Pacífico colombiano. É importante notar que ambas as
formas de capitalização da natureza coexistem no Pacífico colombiano no mesmo espaço
geográfico e ao mesmo tempo.
Como mencionado no início do artigo, este texto trata de uma abordagem teórica da
"espacialidade da resistência" que é ilustrada com o exemplo da resistência das comunidades
negras no Pacífico colombiano. Para informações mais detalhadas sobre o caso específico,
ver, por exemplo, Escobar (1997), Escobar & Pedrosa (1996), Grueso et al. (1998), Oslender
(2001b), Pardo (2002).
20Veja o conceito de conscientização desenvolvido por Paulo Freire (1971), com o que
denomina os processos pelos quais uma consciência é coletivamente gerada dentro de um
grupo oprimido sobre as condições de submissão e opressão nas quais seu cotidiano é
inscrito, motivando assim os grupos oprimidos a agir contra essas estruturas políticas e
econômicas injustas.

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© Copyright Ulrich Oslender, 2002


© Copyright Scripta Nova, 2002

Ficha bibliográfica:

OSLENDER, U
.Espacio, lugar y movimientos sociales: hacia una "espacialidad de resistencia". Scripta
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