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EXTENSÃO E PLANEJAMENTO NA AGRICULTURA FAMILIAR DA REGIÃO DE

PRUDENTÓPOLIS – PR

Sandra ROZANSKI, sandra.rozanski@hotmail.com;


Gabriela BASILIO, gabi_basilio1988@hotmail.com;
Daniela Rita Deparis PIVATTO, drdppintinha@hotmail.com;
Valquiria Martins CARVALHO, valquiriamartins@msn.com;
Heloisa Godoi BERTAGNON, hgodoi@usp.br

Universidade Estadual do Centro-Oeste- UNICENTRO

RESUMO

A agricultura familiar surgiu como uma alternativa de produção, ocupando pequenas


extensões de terra, sendo a diversificação das atividades agropecuárias necessárias
para a permanência de muitas famílias no campo. Com o intuito de conhecer as
dificuldades do pequeno agricultor região atividades desenvolvidas em sua
propriedade para complementação de renda, para posteriormente desenvolver
formas de auxiliá-los, acompanhou-sepropriedades rurais na região de Prudentópolis
– PR, nas quais há produção leiteira, uva e derivados morango e derivados. Assim
aplicou-se questionário que abordava questões sociais, econômicas e zootécnicas,
complementado por observações diretas e registro fotográfico, avaliando o grau de
tecnologias adotadas, conforme o tipo de produção utilizada em cada propriedade
com a finalidade de realizar um diagnóstico das propriedades rurais. Após estudo
minucioso dos dados, foram escritos relatórios indicando pontos positivos e
negativos para que cada produtor pudesse investir em melhorias para sua
produção.A metodologia foi de suma importância no planejamento dos vários
modelos de produção encontrados nas propriedades, pois permitiu a troca de
conhecimento e de aprendizagem. Portanto, esta deve ser uma ferramenta a ser
usada na extensão rural e na assistência técnica, promovendo o desenvolvimento
local. Percebeu-se ainda que as famílias possuíram metas em comum: o aumento
da produção e minimização dos custos da atividade, com vistas à melhoria da
qualidade de vida.

Palavras – chave: Agricultura familiar; Diagnóstico; Extensão Rural.


INTRODUÇÃO
A agricultura no Brasil detém aproximadamente cinco milhões e meio
de agricultores. Deste total, cerca de quatro milhões e meio (80%), são agricultores
familiares, que muitas vezes desempenham seu trabalho com o mínimo de capital,
tecnologia e geralmente com pouco conhecimento formal (CAMPOLIN, 2004). No
Brasil, a agricultura familiar surgiu como forma de produção alternativa durante o
período colonial, ocupando pequenas extensões de terra, cujos produtos oriundos
da atividade eram destinados ao auto consumo (CAMARGO e MATTOS, 2007).
A realidade atual mostra que os diferentes tipos de produtores
familiares conseguiram implantar em suas unidades produtivas, atividades
diversificadas, o que lhes têm garantido a permanência na zona rural, apesar de
muitas destas terem baixa remuneração (WAGNER et al., 2004).
Prudentópolis, cidade localizada na região sudeste do Paraná, é considerada zona
rural, apresentado um dos mais baixos índices demográficos humanos (IDH) do
Paraná, tendo como principal atividade agrícola o cultivo de fumo, milho e feijão, no
entanto, algumas propriedades estão buscando alternativas,desenvolvidas
basicamente pelas pessoas da família.(Silva, 2003)
O sistema de produção de leite é praticado em todo o território brasileiro, sendo
Paraná o segundo maior produtor, com 2.704 bilhões de litros, onde a média de
produção (1.954 litros/vaca) é superior à nacional (1.231 litros/vaca) (EMBRAPA
GADO DE LEITE, 2008), mas considerada baixa, em função do grande número de
vacas ordenhadas (, 2008). qualidade do leite in naturaé influenciada por fatores
zootécnicos associados ao manejo, alimentação, potencial genético dos rebanhos e
fatores relacionados à obtenção e armazenagem do leite.
Ainda muitos produtores de leite identificam-se como tradicionais, onde a atividade
leiteira não é a principal dentro da propriedade, portanto não sendo qualificada.
Quanto á tecnologia empregada vê-se que as instalações e equipamentos, quando
existem, são precários, os animais não são adaptados e a alimentação não é
balanceada (WAGNER et al., 2004).entanto, dentre estes se destacam o produtor
em transição,o qual possui uma produtividade entre o tradicional e o moderno, neste
caso, mesmo sendo deficiente, há aquisição de equipamentos adequados e
construções específicas para a atividade, e os animais, embora na sua maioria
sejam mestiços, já estão sendo melhorados geneticamente(WAGNER et al., 2004).
Outra atividade das pequenas propriedades é a produção de uva,
sendo explorada de forma artesanal, com mão–de–obra familiar, onde a área média
para a atividade fica em torno de dois hectares (ha). De acordo com KUBN (2003)
50% dessa produção é destinada ao processamento (vinhos, sucos, destilados),
sendo que possui uma alta rentabilidade por unidade de área. A importância
socioeconômica da produção de uva no Paraná gira em torno de 9,75% do total
plantada no Brasil, predominando as cultivares Niágara, Rosada e Itália (KUBN,
2003).
A produção de morango no Brasil é mais uma alternativa de renda
explorada em propriedades de base familiar nos estados do Sul e Sudeste, sendo a
produtividade média no Paraná de 25,2 t/ha. A produção é destinada ao consumo in
naturae para industrialização (DIAS, et al., 2007). A renda auferida pela família é
utilizada para a melhoria social, aquisição de insumos e melhoria da habitação.
Alguns produtores procuram organizar-se em cooperativas ou
associações, cujo objetivo é facilitar a comercialização do produto. No entanto, ainda
há um limitado apoio aos produtores rurais, sendo que a pesquisa e a assistência
técnica estão muito aquém das demandas dos produtores. O crédito agrícola, ainda
é limitado, possuindo taxas de juros altíssimas. Por tudo isso, segundo KUBN
(2003), á uma limitação á modernização da produção.
O objetivo do presente trabalho éconhecer as dificuldades do
pequeno agricultor região de Prudentópolis-PR e as atividades desenvolvidas em
sua propriedade para complementação de renda, e com isso desenvolver formas de
auxiliá-los.

METODOLOGIA
A metodologia utilizada no presente projeto de pesquisa teve como
base a pesquisa e extensão participativa. A pesquisa foi realizada em três fases:
diagnóstico, preparação e execução e ao final dos encontros foram realizadas
avaliações e discussões sobre a necessidade de continuidade dos trabalhos. É
importante ressaltar que foi incentivada a participação familiar para garantir o
sucesso do trabalho.
As visitas ás três propriedade foram realizadas em outubro de 2008 na região de

Prudentópolis (S 250 12’ 46’’; W 500 58’52’’) localizada no sudeste, onde as


principais atividades agrícolas são o cultivo de fumo, milho e feijão, cuja base é a
agricultura familiar as quais mantém sua típica característica de diversidade na
produção.
Os diagnósticos foram feitos em uma propriedade de produção
leiteira, outra de produção de uva e derivados (vinho, vinheto) e uma propriedade de
produção de morango e derivados (licor).Todas selecionadas pelo convênio entre
Produterra (Empresa Junior) da Universidade Estadual do Centro-Oeste –
Guarapuava - PR e Cresol com sede em Guarapuava – PR, cujo objetivo éatender
pequenas propriedades com carência de informação na área de produção, manejo
sanitário, tratamento de doenças de rebanho e em culturas agrícolas, pastagem,
adubação e correção de solos, escoamento da produção e principalmente
gerenciamento.
São notórias as dificuldades para a condução da atividade, desde a
pouca disponibilidade de área, passando pelo uso de produtos tóxicos, até o manejo
incorreto das pastagens destinadas aos animais, que tem resultado na baixa
eficiência da produção.
Esses dados foram obtidos com o auxilio de um questionário
elaborado pela empresa que abordava questões sociais, econômicas e zootécnicas,
complementado por observações diretas e registro fotográfico das atividades
agropecuárias por alunos da agronomia e medicina veterinária da UNICENTRO,
participantes da empresa junior. Avaliou-se o grau de tecnologias adotadas,
constituindo um diferencial para a adoção de boas práticas eprodução auto-
sustentável, conforme o tipo de produção utilizada em cada propriedade. Os dados
obtidos foram apresentados para professores e demais alunos da empresa, que
juntos decidiram elaborar um relatório de cada propriedade.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os depoimentos das famílias são reveladores e ao mesmo tempo
indicadores, ressaltam a importância da necessidade do técnico/pesquisador ter
uma melhor convivência com as famílias envolvidas e um bom entendimento de sua
realidade.
De acordo com o diagnóstico, verificou-se uma preferência das
famílias em trabalhar com a produção de leite, uva e morango que são as principais
fontes de renda das propriedades visitadas, contradizendo a cultura tradicional da
região que é a produção de fumo, milho e feijão.
O produtor de leite visitado pode ser classificado como do tipo em Transição, o que
segundo WAGNER et al.(2004), é aquele que tem investido na atividade nos últimos
dez anos, principalmente na ção de equipamentos adequados, e no melhoramento
genético do rebanho, além de ser produtor que está começando a utilizar as práticas
de controle sanitário.
A atividade leiteira é realizadaextensivamente, com precário manejo dos
animais alimentados compastos degradados, dado ao processo erosivo do solo e
grande presença de ervas daninha. Acondições de armazenamento e fornecimento
dos alimentos aos animais eram inadequadas, considerando-se a presença de
umidade e mofos, possível indicativo de presença de micotoxinas, principalmente
encontradas na ração. Segundo LALA (2005) um levantamento realizado em 1992
nos Estados Unidos mostrou prejuízos em torno de cinco milhões de dólares na
produção leiteira daquele ano devido à micotoxinas, alem das perdas reprodutivas.
Vários procedimentos são recomendados para a produção de
leite, que são incluídos nos manuais de “boas práticas de produção”. O que segundo
BRITO et al. (2004), muitos são adotados de forma inadequada ou são ignorados,
podendo resultar em risco para a saúde do consumidor, isso foi observado na
propriedade do produtor de leite que devido a sujidade na ordenha resulta em um
produto de má qualidade.
O produtor de morango, dentre os três visitados foi o mais
tecnificado, que possuia mais informações sobre a atividade que estava
desenvolvendo e que recebia assistência técnica. Possuia uma boa área, onde
aplicava corretamente todas as etapas (análise e correção de solo, levantamento de
canteiros, irrigação, aquisição de mudas de boa qualidade, entre outras) para uma
produção eficiente, a qual de acordo com DIAS et al. (2007), resulta em uma alta
rentabilidade devido a aceitação da fruta pelo consumidor e pela diversidade de
opções de comercialização e processamento do morango.
Na região eles também possuíam uma associação de produtores de
morango, onde a sede localizava-se na propriedade deste produtor. Todos entregam
a produção para ele que armazena em uma câmara resfriadora até serem
comercializados, principalmente exportados para o estado de São Paulo onde era
beneficiado, comprovando o que diz MADAIL et al.(2003 apud et al., 2007) que a
quase totalidade da produção nacional é dirigida ao mercado interno, mesmo que
nos últimos anos, tenham havido exportação em pequena escala para Argentina e
Chile.
Da mesma maneira que o produtor de morango encontrou no associativismo uma
alternativa para agregar valor ao seu produto, o produtor de uva visitado também
buscou formar uma associação com outros viticultores da região para armazenar,
beneficiar e comercializar o produto industrializado (vinho, suco, vinheto) e em
menor escala a fruta in natura.De acordo com MELLO (2003), pouco mais de 50%
da produção de uva nacional é destinada ao processamento, devido ao fato da
viticultura ser uma atividade econômica recente no Brasil. Mesmo assim ele
encontra dificuldades relacionadas à infra-estrutura na propriedade, e pouco
conhecimento sobre a cultura. Para tornar a atividade rentável é preciso investir em
tecnologia de produção, tanto na matéria prima quanto no beneficiamento (MELLO,
2003).
Avaliando-se as três propriedades, nota-se que a assistência técnica é de suma
importância para os pequenos agricultores, pois a principal dificuldade deles é a falta
de informação, sendo notório que as propriedades que possuem esse auxilio
apresentam melhor desenvolvimento e produtividade, conforme observado no
produtor de morango.
Com base em todas essas informações, decidiu-se em uma das reuniões da
empresa Junior que a melhor forma de ajudar esses agricultores seria levar
informações até eles, em forma de palestras e treinamentos que os auxiliassem e
conseqüentemente melhorassem sua produção.

CONCLUSÃO
A metodologia de diagnóstico foi de suma importância no planejamento dos
vários modelos de produção encontrados nestas três propriedades, uma vez que se
permitiu a troca de conhecimento e de aprendizagem. Portanto, esta deve ser uma
ferramenta a ser usada na extensão rural e na assistência técnica, promovendo o
desenvolvimento local.
Uma das maiores dificuldades encontradas pelos produtores é a falta de
assistência técnica, seguida de informações, crédito e mercado. Percebeu-se ainda
que as famílias possuem metas em comum: o aumento da produção e minimização
dos custos da atividade, com vistas à melhoria da qualidade de vida. Com base em
todas as informações colhidas foi proposta a elaboração de um planejamento
participativo para cada tipo de produção, visando melhorar a qualidade de vida do
produtor através de profissionalismo das atividades agropecuárias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRITO, J. R. F. et al. Adoção de boas práticas agropecuárias em propriedades


leiteiras da Região Sudeste do Brasil como um passo para a produção de leite
seguro. Acta Scientiae Veterinariae. 32: 125-131, 2004.
CAMARGO, M. F.; MATTOS, J. L. Planejamento participativo da produção de leite
no Assentamento Curral de Pedra em Montevidéu do Norte – GO. Rev. Bras. de
Agroecologia, V. 2, N. 2, 2007.
CAMPOLIN A. I. Abordagens qualitativas em agricultura familiar. Brasília:
EMBRAPA, 2005. (Documento 80).
DIAS, M. S. C. et al. Produção de morangos em regiões não tradicionais. Informe
Agropecuário. Belo Horizonte, v. 28, n. 236, p.24-36, 2007.
KUBN, G. B. Uvas para processamento. Produção. Embrapa Uva e Vinho. Brasília:
Embrapa Informação Tecnológica, 2003.
LALA, T. Micotoxinas interferem na produção animal. Disponível em:
https://www.cooxupe.com.br/folha/novembro05/pag17.htm. Acesso em 09/11/2008.
Leite em números. Disponível em: http://www.cnpgl.embrapa.br/. Acesso em
07/11/2008.
MELLO, L. M. R. Análise Socioeconômica da Vitivinicultura. Embrapa Uva e Vinho.
Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2003.
OLIVEIRA, R. Brasil pode liderar mercado de leite? Disponível em:
http://www.parana-online.com.br/editoria/economia/news/310967/. Acesso em
05/11/2008.
SILVA, RCPA. Pecuária paranaense em foco, informe técnico SEAB, DERAL e DCA,
2003 site: www.seab.pr.gov.br/arquivos/file/aspectos/aspectosdapecuaria14003pdf;
acessado em 16/06/2008

WAGNER, S. A. et al. Padrão tecnológico em unidades de produção familiar de leite


no Rio Grande do Sulcom diferentes tipologias. Ciência Rural, Santa Maria, v.34, n.
5, p.1579-1584, 2004.

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