João Grilo engana Severino com uma gaita mágica que
ressuscita mortos e Severino, crente que visitaria seu Padrinho Padre Cícero e depois voltaria, pede ao seu guarda que o mate. O subordinado vendo que seu chefe não voltava, mata João Grilo e foge. Todos se encontram no céu para o julgamento final e, após uma discussão acirrada com o Diabo, João Grilo consegue a presença de Nossa Senhora que sugere ao filho, Jesus Cristo, que envie Severino diretamente para o céu, pois ele não era responsável pelos seus atos, que envie o Padeiro, a Mulher do Padeiro, o padre e o bispo para o purgatório, pois na hora da morte todos perdoaram seus agressores, e que João Grilo volte para terra. Quando João Grilo volta, encontra Chicó e os dois conseguem fugir com Rosinha e seguem juntos seu caminho pelo sertão. I. O auto – de Gil Vicente a João Cabral Auto é uma designação genérica para textos poéticos (normalmente em redondilhas) criados para representações teatrais em fins da Idade Média. A maioria tem caráter religioso, embora a obra de Gil Vicente profana nos ofereça vários exemplos de temática e satírica- a farsa- sempre com preocupações moralizantes. Padre Anchieta: autos na catequização.
No Brasil, especialmente no Nordeste, ainda
encontramos textos notáveis que revelam influência medieval. Linguagem alcança sua forma final e definitiva. O autor não propõe nenhuma atitude de linguagem oral que seja regionalista. Busca encontrar uma expressão para todos as personagens: as diferenças nos registros da fala são estabelecidas pelos próprios atores. O texto serve de caminho para uma via oral de expressão. APROPRIAÇÃO E RENOVAÇÃO
Referências: O dinheiro [O enterro do cachorro] História do
cavalo que defecava dinheiro. O castigo da soberba. As proezas de João Grilo. III - A obra e sua estrutura. Escrito com base em romances e histórias nordestinas;
3 atos.
O autor concebe a peça como uma representação dentro
de outra representação; É bom deixar claro que seu teatro é mais aproximado dos espetáculos de circo e da tradição popular do que do teatro moderno. O cenário fica a critério do diretor: pode ser uma igreja, o céu, o inferno, etc... IV- Personagens Todas as personagens do Auto da Compadecida revelam dimensões alegóricas. A alegoria funciona como uma maneira de “materializar” aspectos morais, ideais ou ficcionais. Cabe salientar que parte das personagens não apresenta nomes próprios, são tipos. Mesmo as que são nomeadas, como o padre, funcionam como “figuras alegóricas”, por meio das quais são satirizadas e criticadas as diversas classes que compõem os estratos sociais. Personagem principal: João Grilo
Outras personagens: Chicó, Padre João,
Sacristão, Padeiro, Mulher do Padeiro, Bispo, Cangaceiro, o Encourado, Manuel, A Compadecida, Antônio Morais, Frade, Severino do Aracaju, Demônio.
Personagem de ligação: Palhaço
João Grilo:
É uma figura típica do nordestino sabido,
analfabeto e amarelo. Habituado a sobreviver e a viver a partir e expedientes, trabalha na padaria, vive em desconforto e a miséria é sua companheira. Sua fé nas artimanhas que cria, reflete, no fundo, uma forma de crença arraigada na proteção que recebe, embora sem saber, da Compadecida. É essa convicção que o salva. E ele recebe nova oportunidade de Manuel (Cristo), retornando à vida e à companhia de Chicó. É uma oportunidade inusitada de ressurreição e retorno à existência. Caberá a ele provar que essa oportunidade foi ou não bem aproveitada. A Compadecida
Funciona efetivamente como mediadora, plena de
misericórdia, intervindo a favor de quem nela crê, como o protagonista. O Auto da Compadecida prioriza, portanto, “a situação daqueles que se encontram em posição inferior na ordem social. Por isso o protagonista não se identifica com aqueles que detêm posições de mando”. Alinhada à ideologia dos folhetos de cordel, a peça focaliza “a sociedade do ponto de vista dos desprivilegiados” V – Enredo A presença de João Grilo em todas as situações é fundamental. A peça gira em torno dele, do ponto de vista estrutural.
Habituado a sobreviver e a viver a partir de expedientes,
trabalha na padaria, vive em desconforto e a miséria é sua companheira. Sua fé nas artimanhas que cria, reflete, no fundo, uma forma de crença arraigada na proteção que recebe, embora sem saber, da Compadecida. PERSONAGENS SITUAÇÃO PARTICIPAÇÃO DE JOÃO João Grilo, Chicó, A benção do cachorro da O cachorro pertence ao Major Pe. João mulher do padeiro Antônio Morais. João Grilo, Chicó, Chegada do Major O Pe. está maluco, benze Pe. João, Major Antônio Antônio todo mundo. João Grilo, Pe. João, O testamento do O cachorro enterrado em Mulher, Padeiro, Chicó, cachorro latim e tudo mais. Sacristão, Bispo Fonte: Padeiro e a Mulher João Grilo, Chicó, Mulher A Mulher lamenta a perda João arranja-lhe um gato que do cachorro descome dinheiro. João Grilo, Chicó, Bispo, O assalto do Cangaceiro A gaita que fecha o corpo e Padre, Sacristão, Mulher, ressuscita (bexiga). Todos Padeiro, Severino do morrem, exceto Chicó. Aracaju, Cangaceiro Demônio, Manuel, Ressurreição no Forçar o julgamento, ouvindo Palhaço, todas as picadeiro. os pecadores. personagens Julgamento pelo Diabo e por Manuel Todos (exceto Chicó), A Condenação Apelo à misericórdia da Compadecida dos pecadores Virgem Maria. “Espero que todos os presentes aproveitem os ensinamentos desta peça e reformem suas vidas, se bem que eu tenha certeza de que todos os que estão aqui são uns verdadeiros santos, praticamente da virtude, do amor a Deus e ao próximo, sem maldade, sem mesquinhez, incapazes de julgar e de falar mal dos outros, generosos, sem avareza, ótimos patrões, excelentes empregados, sóbrios, castos e pacientes. E basta, se bem que seja pouco.” A função cênica do Palhaço – porta voz do autor – é abrir e fechar o espetáculo. O Palhaço tem também a função de descrever, de forma antecipada e didática, o clima da peça, apresentar atores, assim como despertar a curiosidade da platéia sobre o desfecho e adverti-la para que mantenha distanciamento crítico e consciência crítica. No Auto da Compadecida, portanto, percebe-se uma função metateatral (metalinguística), exercida pelo Palhaço, que conduz o espetáculo à maneira circense: “Ele se dirige ao público, anunciando o que está por vir e fazendo comentários. Na sua qualidade, ele não se mistura à ação da peça. Aparece, sim, no prólogo do início de cada ato e no epílogo. Porém, em uma de suas intervenções torna-se também ator, ou melhor, curinga, pois participa da cena do enterro de João Grilo”. Os personagens simbolizam pecados (maiores ou menores), que recebem o direito ao julgamento, que gozam do livre-arbítrio e que são ou não condenados. Pela estrutura da peça, podemos notar que sua intenção clara e expressa é de natureza moral, e de moral católica; e que os componentes estruturais do texto revelam personagens que simbolizam pecados (maiores ou menores), que recebem o direito ao julgamento, que gozam do livre-arbítrio e que são ou não condenados. VII- Conclusão A criação artística, o teatro em particular, deve levar o povo, a cultura desse povo a ele mesmo. Daí o circo, seu picadeiro e a representação dentro da representação. Mais que representar a realidade regional e cultural de um povo, o que importa é criar um projeto que defina ideias e concepções universais (as da igreja, no caso) com o fim de conscientizar o público. Criar um texto teatral é, antes de tudo, criá-lo para uma encenação, daí a absoluta liberdade que o autor dá para qualquer modalidade de encenação. Ariano reescreve e recontextualiza gêneros medievais em produtos culturais populares nordestinos, questionando procedimentos de exclusão social, política e religiosa, por meio de personagens de extração popular. Com base na análise do filme O Auto da Compadecida, responda: 1- Ariano Suassuna espelhou-se nas obras de um importante autor humanista para a construção de suas peças. Quem é esse autor? 2- Qual tema abordado na peça de Ariano? 3- O que o autor pretende retratar ao humanizar personagens como Manuel e a Compadecida?