Descrição de uma Jacquerie (Revolta camponesa) - NOVO
Texto de Época: Narrativa sobre a Peste Negra do ano de 1337 - NOVO
A revolta dos camponeses franceses no ano do 1358. - NOVO As desordens sociais na Inglaterra outro 1380 e 1382. - NOVO A fome da França O pavor da peste As revoltas de Gand e de Paris Uma crônica sobre a miséria Amiraldo M. Gusmão Jr.Artigo: Leia a análise da Peste Negra - "A experiência do Apocalipse" - Descrição de uma Jacquerie (Revolta camponesa) "Logo depois da libertação do rei de Navarra, adveio uma grande e terrível tribulação em várias partes do reino de França, tal como no Beauvoisinm na Brie, e no Rio Marne, no Valois, na Loanois, na terra de Coucy e derredor de Soissons. Pois algumas gentes das vilas camponesas, sem chefe, juntaram-se no Beauvoisin; os primeiros mal chegavam a cem homens; e disseram que todos os nobres do reino de França, cavaleiros e escudeiros, envergonhavam e traíam o reino, e que muito bem fazia quem a todos destruísse. E disse cada um deles: “Diz bem! Diz bem! Abominado seja aquele por quem venha a retardar-se a destruição de todos os fidalgos!” Então se juntaram e depois se foram sem outro desígnio e sem qualquer armamento, afora bastões ferrados e cutelos, rumo á casa dum nobre que perto dali morava. Então quebraram a casa e mataram o cavaleiro, a dama e os filhos, pequenos e grandes, e queimaram a casa. Segundamente se foram para outro forte castelo e muito pior fizeram: pois pegaram o cavaleiro e o ataram a uma estaca bem e fortemente, e violaram a mulher e a filha, vários deles, a tudo presenciando o cavaleiro; depois mataram a mulher que estava grávida e prenhe de criança, e a sua filha, e todas as crianças, e depois o dito cavaleiro com grande martírio, e queimaram e abateram o castelo. Assim fizeram em vários castelos e boas casas. E tanto se multiplicaram que já eram seis mil; e por toda parte onde chegavam o seu número crescia: pois cada um de sua semelhança os seguia. Tanto que todo cavaleiro, damas ou escudeiros, suas mulheres e filhos, deles fugiam; e levavam as damas e as donzelas suas filhas para dez ou vinte léguas de distância, onde pudessem proteger-se; e deixavam as suas casas vagas e os seus haveres dentro; e aquela gente má reunida, sem chefe e sem armas, roubava e queimava tudo, e matava e forçava e violava todas as damas e donzelas sem piedade e sem mercê, tais como cães raivosos. Por certo nunca houvera entre cristãos e sarracenos violência tão insana quanto essa gente fazia, nem quem mais males fizesse e mais torpes feitos, e tais que criatura alguma deveria ousar pensar, visar nem olhar; e aquele que mais fazia era o mais prezado e o maior mestre entre eles. Eu não ousaria escrever nem contar os feitos horrendos e inconvenientes que faziam às damas. Mas entre outras desordenanças e torpes feitos, mataram um cavaleiro e o botaram num espeto, rodaram-no em cima do fogo e o assaram diante da dama e suas crianças. Depois de dez ou doze terem forçado e violado a dama, quiseram que dele comessem à força; e depois as mataram fazendo-as morrer de má morte. E haviam feito um rei entre eles que era, conforme se dizia, de Clermont em Beauvoisin, e o elegeram o pior dos maus; e a esse rei chamavam Jacques Banham-me. Essa gente mal queimou no país de Beauvoisin nas cercanias de Corbie e Amiens e Montdidier mais de sessenta boas casas e castelos fortes; e se Deus a isso não tivesse trazido remédio com a sua graça, a calamidade seria tão multiplicada que todas as comunidades teriam sido destruídas, a santa Igreja depois, e toda a gente rica, por todas as terras, pois a gente desse feitio fazia de igual modo no país de Brie e de Pertois. E tiveram todas as damas e as donzelas da terra e os cavaleiros e os escudeiros, que lhes escapar podiam, de fugir para Maux-en-Brie wn após o outro, com a roupa do corpo, como podiam: tanto a duquesa de Normandia e a duquesa de Orleans, e profusão de altas damas, como outras, se quisessem guardar-se de ser violadas e forçadas e depois mortas e assassinadas. De igual modo a gente desse feitio mantinha-se entre Paris e Noyon, e entre Paris e Soissons e Ham no Vermandois, e por toda a terra de Coucy. Aí estavam os grandes violadores e malfeitores; e pilharam, quer pela terra deCoucy, quer pelo Condado de Valois, quer pelo bispado de Laon, de Soissons e de Noyon, mais de cem castelos e boas casas de cavaleiros e escudeiros; e matavam e roubavam tudo quanto encontravam. Mas Deus pela sua graças trouxe a isso remédio pela que muito se lhe deve agradecer, como adiante ouvireis."
Jean Froissart, Chroriques
(DUBY, op, cit, pp. 134-135) ________________________________________________________________________________ Texto de Época: Narrativa sobre a Peste Negra do ano de 1337 "Eis que, em outubro do ano 1347 da Encarnação do Senhor, no início do mês de outubro, 1ª indicação, muitos genoveses, em doze galeras, fugindo à cólera divina que se abatera sobre eles em razão de sua iniqüidade, acostaram no porto da cidade de Messina. Os genoveses transportavam consigo, impregnados em seus ossos, uma doença tal que quem quer que tivesse falado com um deles era atingido por essa enfermidade mortal; essa morte, morte imediata, era absolutamente impossível de se evitar. Eis os sintomas da morte para os genoveses e as pessoas de Messina que os freqüentavam. Em virtude de uma corrupção de seu hálito, todos os que conversavam, misturados uns aos outros, se infectavam um ao outro. O corpo parecia então quase totalmente sacudido, e como que deslocado pela dor. Dessa dor, desse abalo, dessa corrupção do hálito nascia na coxa ou no braço uma pústula com a forma de uma lentilha. Ela impregnava e penetrava tão completamente o corpo que a pessoa era acometida de violentas expectorações de sangue. As expectorações duravam três dias ininterruptos, e morria-se quaisquer que fossem os cuidados tomados. A morte não atingia somente aqueles que conversavam com estas pessoas, mas também todos os que compravam suas mercadorias, as tocavam ou delas se aproximavam. Compreendendo que essa morte súbita se abatera sobre eles por causa da chegado das galeras genovesas, os habitantes de Messina expulsaram-nos com toda pressa do porto daquela cidade, mas a dita enfermidade permaneceu na cidade supracitado e seguiu-se uma mortandade generalizada. As pessoas odiavam-se umas ás outras aponto de, se um filho fosse atingido pelo mal, o pai se recusar terminantemente a ficar do seu lado; e se ousasse aproximar-se dele, seria de tal modo atingido pelo mal que não haveria modo de escapar à morte: em três dias, entregava o espírito. E, das pessoas de sua casa, não era ele o único a morrer: os familiares da casa, os cachorros, os animais existentes na referida casa, todos seguiam o pai de família na morte. A dita mortalidade assumiu tal amplitude em Messina que eram numerosos os que pediam para confessar seus pecados aos padres e faziam seu testamento; mas os padres, os juizes e os notários recusavam-se a entrar nas casas, e, se um deles entrava mona residência para redigir um testamento ou um ato dessa natureza, nada podia fazer para evitar uma morte súbita. E, como os frades menores, os pregadores e os irmãos de outras ordens queriam penetrar na casa dos ditos doentes, receber a confissão de seus pecados e dar-lhes a absolvição, a mortalidade assassina, segundo a vontade da justiça divina, os infectava tão completamente que apenas alguns sobreviveram em suas celas. Que mais se pode dizer? Os cadáveres eram abandonados nas casas, e nenhum padre, nenhum filho, nenhum pai, nenhum parente ousava penetrar lá dentro: dava-se aos gatos-pingados um salário considerável para levar os referidos cadáveres aos seus túmulos. As casas dos defuntos ficavam escancaradas com todas as jóias, dinheiros e tesouros; se alguém quisesse entrar, ninguém impedia o acesso. (...) Os habitantes de Messina, diante desse golpe terrível e inacreditável, resolveram fugir da cidade em vez de ali morrer, e proibiu-se a quem quer que fosse não apenas entrar na cidade, mas sequer aproximar-se dela. Fora das cidades, eles estabeleceram para suas famílias abrigos em várias localidades e nas vinhas. Alguns, e eram os mais numerosos, alcançaram a cidade de Catánia na esperança de que a bem-aventurada Ágata, a virgem de Catánia, os livrasse dessa enfermidade. (...) Os habitantes de Messina dispersaram-se então por toda a ilha da Sicília, e quando chegaram à cidade de Siracusa o mal atingiu tão fortemente os siracusianos que matou muitos deles, um número imenso. A cidade de Sciacca, a cidade de Trapani e a cidade de Agrigento foram tão atingidas como Messina por essa mesma peste, particularmente Trapani, que ficou como que viúva de sua população. Que dizer de Catdnia, hoje desaparecida da memória das gentes? A peste que se espalhou por essa cidade era tão forte que não somente pústulas, chamadas antrazes, mas também tumores se formavam nas diferentes partes do corpo, ora no peito, ora nas pernas, ora nos braços, ora na região da garganta. Esses tumores eram como amêndoas a princípio, e sua for,nação era acompanhada de uma forte sensação de frio. Eles fatigavam e esgotavam de tal modo o organismo que a vítima não tinha forças para ficar de pé e ia para a cama febril, abatido e angustiado. Depois esses tumores cresciam até ficar do tamanho de uma noz, de um ovo de galinha ou de gansa. Eram muito dolorosos. A corrupção dos humores que eles acarretavam no organismo fazia a vítima cuspir sangue. Esses escarros, vindos do pulmão infectado até a garganta, corrompiam o organismo. Com o organismo corrompido e os humores ressequidos, morria-se. A doença durava três dias; no quarto dia, os doentes eram libertados das preocupações humanas. Os habitantes de Catânia, percebendo que o mal era tão fulminante, apenas sentiam uma dor de cabeça ou um arrepio, tratavam de ir confessar ao padre e de redigir seu testamento. Pois, segundo a opinião geral, todos esses seriam acolhidos sem discussão nas moradas divinas." (Michel dc Piazza. Histdria Secula ab anno 1337 ad annum 1361. In.~ DUBY, op. cit., pp. 118-9.)
A revolta dos camponeses franceses no ano do 1358.
“Nestes tempos, os nobres, em menosprezo aos camponeses e aos humildes, os designavam pelo termo de Jacques Bonhomme (.4. Mas oh dor! Muitos destes que neste momento se divertiam foram vitimas em seguida. Com efeito, nenhum nobre ousava mostrar-se fora do castelo forte; pois, se os camponeses percebessem, ou bem ele seria massacrado ou não escaparia sem sérios insultos. Os camponeses adquiriram tanta força que poderíamos avaliá-los em mais de cinco mil, procurando os nobres desejosos de os suprimir com nas mulheres e crianças. Mas essa empreitada monstruosa não durou multo tempo: parou por si própria, não foi Deus quem lhe pôs fim (..) Pois aqueles que se lançaram nesta empreitada por amor à justiça e porque seus senhores, longe de os defenderem, os oprimiam, desceram a atos vis e abomináveis: àqueles que os tributavam eles revidaram com violência contra as nobres damas, massacrando as criancinhas nobres Inocentes.” (VENETTE. J. De. Chonique latine de Guilheume de Nangis. In: Gothier, L. e Troux, A., orgs. Le Moyen Age. Liège, H. Dessain, 1961, p. 258)
As desordens sociais na Inglaterra outro 1380 e 1382.
“Esta gente malvada (...). começou a se sublevar, porque eles diriam que sofriam uma grande servidão e que, no começo do mundo, não haviam existido servos e que ninguém o poderia ser, se não traísse seu senhor, como Lúcifer fizera com Deus. Mas eles não tinham este destino, pois não eram nem anjos nem espíritos, mas homens feitos à semelhança dos seus senhores, sendo considerados como bestas, cuja condição não desejavam e não poderiam mais sofrer; eles desejavam ser todos iguais e, se trabalhassem ou fizessem qualquer trabalho para seus senhores, desejavam receber o salário. Nesta loucura eles têm, no tempo presente, impulsionado um padre exaltado da Inglaterra, do condado de Kent, que se chama John Ball.” (FROISSART, j. Chronique. In: GOTHIER, L. e Troux, A. orgs. Le Moyen…, p. 290 – 291) ________________________________________________________________________________ A fome da França "No ano de 1437, o trigo e os cereais ficaram tão caros, no reino da França e noutros reinos da cristandade, que aquilo que antes custava um soldo era vendido por quatro soldos ou mais. Durante esta carestia, houve uma fome tão grande e tão generalizada que grande multidão de pobres morreu por indigência. Era muito doloroso e triste vé-los morrer de fome e caírem aos bandos sobre as estrumeiras (montes de lixo) nas cidades. Algumas cidades os expulsavam de seu território; outras os recebiam e socorriam por bastante tempo, de acordo com suas possibilidades, cumprindo as obras de misericórdia. Esta crise durou até o ano de 1439. " (Europa - Baixa Idade Média - Século XV) ________________________________________________________________________________ O pavor da peste "Assim que apareciam as feridas no corpo de um doente, ele era abandonado por todos. O pai deixava o filho, o filho abandonava o pai. E ninguém se espantava com isto, porque bastava aparecer a primeira vitima numa casa, para que as outras pessoas começassem a morrer, cada uma por sua vez. Assim, por falta de cuidados, morreram muitos que podiam ter sido salvos. Outros, apenas atingidos, foram considerados condenados, levados à sepultura e enterrados, antes mesmo que dessem o último suspiro. " (Europa - Baixa Idade Média - 1347 - 1350) _______________________________________________________________________________ As revoltas de Gand e de Paris "Em 1381, o povo de Gand revoltou-se contra seu senhor, o conde de Flandres. Marcharam em grande número para Bruges, tomaram a cidade, depuseram o conde, roubaram e mataram todos os seus oficiais e procederam da mesma maneira em relação a todas as outras cidades flamengas que caíram nas suas mãos. A insurreição de Paris começou quando um oficial tentou cobrar uma taxa sobre frutas e verduras, que um vendedor estava vendendo. Quando o vendedor começou a gritar “Abaixo a gabela!”, toda a população se ergueu, correu para as casas dos cobradores de impostos, roubou os e assassinou- os. Em seguida, atacaram uma torre, onde havia armas. Depois de armados, os populares precipitaram-se em todas as direções, para roubar as casas dos representantes do rei e, em muitos casos, matá-los." (Europa - Baixa Idade Média - Século XIV) ________________________________________________________________________________ Uma crônica sobre a miséria "Reinava a mais completa miséria por toda a parte, principalmente entre os camponeses. Eles eram sobrecarregados de sofrimentos pelos senhores, que lhes tiravam até o alimento necessário para a sobrevivência. E se por acaso deixavam com o camponês alguma criação, ainda cobravam uma taxa por cabeça: 10 dinheiros por 1 boi, 4 ou 5 por uma ovelha... Apesar de toda esta exploração, raramente os senhores se preocupavam em proteger os camponeses contra incursões e ataques inimigos. " (Europa - Final da Baixa Idade Média )