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A Gesta Dei Francorum (“As Façanhas de Deus Por Meio dos Francos”) é uma
crônica da Primeira Cruzada, escrita em latim em torno de 1100-1101 por um
participante da épica empresa sagrada.
Aqueles que permaneceram vivos fugiram para a fortaleza, que os turcos logo
sitiaram, privando-os de água. Tal foi a aflição de nosso povo causada pela sede,
que sangrou seus cavalos e jumentos e bebeu o sangue; outros jogavam seus cintos
e lenços para dentro da cisterna e espremiam a água em suas bocas; alguns
urinavam nas mãos uns dos outros e bebiam; outros cavavam o chão úmido e
deitavam de costas e espalhavam terra sobre os seus peitos para aliviar a secura
excessiva da sede.
Movido diretamente pelo Espírito Santo, ordenou que a mais preciosa capa que
trazia consigo fosse cortada em pedaços, e logo fez com que dela se fizessem
cruzes. Então, a maioria dos cavaleiros engajados naquele cerco correu
ansiosamente até ele, de maneira que o Conde Rogério permaneceu praticamente
sozinho. Retornando à sua terra de origem, o cavaleiro de Taranto diligentemente
se preparou para empreender, com seriedade, a viagem ao Santo Sepulcro.
Finalmente, cruzou ele o mar com seu exército. Com ele estavam Tancredo, filho
de Marchisus, Ricardo dos Principados de Salerno e o Conde Rainulfo seu irmão,
Roberto de Ansa, Herman de Canas, Roberto do Vale Surda, Roberto, filho de
Tostanus, Hunfredo, filho de Raoul, Ricardo, filho de Rainulfo, o Conde de
Roscigno com seus irmãos, Boellus de Chartres, Albaredo de Cagnano e Hunfredo
do Monte Sedeúdo. Todos estes cruzaram o mar para prestarem serviço a
Boemundo e desembarcaram na região da Bulgária, onde encontraram uma grande
abundância de cereais, vinho e alimentos. Daí descendo para o vale do
Andronópoli, eles esperaram até que todos também tivessem cruzado o mar.
Partindo dali, caminhamos com grande abundância, de vila a vila, cidade a cidade,
fortaleza a fortaleza, até chegarmos a Castoria. Lá comemoramos solenemente o
Natal do Senhor. Ficamos lá por vários dias e procuramos um mercado, mas as
pessoas não estavam dispostas a nô-lo conceder porque temiam-nos muito,
pensando que não viemos como peregrinos, mas para devastar sua terra e matá-los.
Por isso, tomamos seu gado, cavalos, jumentos, e tudo que encontramos. Deixando
Castoria, entramos em Pelagonia, onde havia uma certa cidade de hereges
fortificada. Atacamo-la por todos os lados, e ela logo cedeu à nossa influência.
Então, ateamos fogo nela e queimamos o campo com seus habitantes, isto é, a
congregação dos hereges. Mais tarde, chegamos ao rio Vardar. E então o Senhor
Boemundo atravessou com seu povo, mas não com todos, pois o Conde de
Roscigno com seus irmãos ficaram para trás. Nisso, um exército do Imperador veio
e atacou o Conde com seus irmãos e todos que estavam com eles. Tancredo,
ouvindo isso, voltou e, arremessando-se para o rio nadou ao encalço dos outros, e
dois mil foram para o rio seguindo Tancredo.
O infeliz Imperador enviou um dos seus homens, a quem ele muito amava, e a
quem chamam Corpalatius, juntamente com nossos enviados, para nos conduzir
em segurança através de sua terra até que chegássemos a Constantinopla. E,
enquanto fazíamos uma pausa diante de suas cidades, mandou que os habitantes
nos oferecessem víveres, assim também como fizerem os de quem temos falado.
Na verdade, tinham eles um tão grande temor pelo mais valente exército do senhor
Boemundo, que não permitiram que nenhum de nós entrasse nas muralhas da
cidade. Nossos homens queriam atacar e tomar uma determinada cidade fortificada
porque estava cheia de todos os tipos de produtos. Mas o renomado Boemundo
recusou-se a dar permissão, não só por justiça para com a terra, mas também por
causa de seu juramento ao Imperador. Portanto, ao saber das notícias, ficou
enormemente irritado com Tancredo e todo o resto. Isso aconteceu ao entardecer.
Quando agora eles planejavam ir aonde quisessem, sob a força de seu juramento, o
Imperador colocou-os sob vigilância e deu ordem a seus turcópolos e patzínacos de
atacá-los e matá-los. Então, quando Balduíno, irmão do duque, soube disso,
colocou-se em uma emboscada e, em seguida, descobriu-os matando seu povo. Ele
os atacou com grande raiva e, com a ajuda de Deus, os derrotou. Capturando
sessenta deles, matou alguns e entregou o restante ao duque, seu irmão. Quando o
imperador soube disso, ficou extremamente zangado. Então o duque, vendo que o
Imperador ficou furioso, partiu com seus homens para fora e acampou fora da
cidade. Além disso, ao entardecer, o Imperador ordenou que suas forças atacassem
o duque e o povo de Cristo. O invicto duque e os cavaleiros de Cristo perseguiram-
nos, mataram sete deles, e afugentaram o resto até as portas da cidade. O duque,
retornando às suas tendas, permaneceu lá por cinco dias, até que tivesse chegado a
um acordo com o Imperador.
O Imperador disse-lhe para cruzar o Estreito de São Jorge, e prometeu que teria
todo o tipo de víveres lá, assim como em Constantinopla, e de distribuir esmolas
aos pobres com as quais eles pudessem viver.
Com a mesma finalidade, vieram o duque Godofredo com seu irmão, e finalmente
o Conde de São Gil aproximou-se da cidade. Então, o Imperador, em ansiosa e
ardente fúria, estava excogitando algum modo pelo qual pudessem, hábil e
fraudulentamente, conquistar esses cavaleiros de Cristo. Mas a Graça Divina,
revelando seus planos, fez com que nem ele nem seus homens achassem tempo ou
lugar para lhes fazer mal. Por fim, todos os líderes nobres que estavam em
Constantinopla se reuniram. Temendo que fossem privados de seu país, eles
decidiram em seus conselhos e cálculos engenhosos, que nossos duques, condes,
ou todos os líderes deveriam prestar um juramento de fidelidade ao Imperador.
A Vitória em Nicéia
E assim o Duque Godofredo foi primeiro a Nicomédia, juntamente com Tancredo
e todo o resto, e lá estiveram por três dias. O duque, na verdade, vendo que não
havia estrada aberta pela qual ele poderia conduzir seu exército para a cidade de
Nicéia, pois um exército tão numeroso não poderia passar pelo caminho por onde
os outros haviam passado antes, enviou à frente três mil homens com machados e
espadas para cortar e abrir essa estrada, para que ficasse aberta até a cidade de
Nicéia. Eles cortaram essa estrada por uma montanha muito grande e estreita, e
fixaram cruzes de ferro e madeira ao longo do caminho para que os peregrinos
identificassem o caminho.
Atacamos a cidade com tanta coragem e ferocidade que chegamos a arruinar sua
própria muralha. Os turcos que estavam na cidade, horda de bárbaros que eram,
enviaram mensagens para outros que tinham vindo dar-lhes auxílio. Eis o que dizia
a mensagem: que eles poderiam aproximar-se da cidade com coragem e seguros, e
entrar pela porta do meio, pois desse lado ninguém iria se opor a eles ou molestá-
los. Este portão foi cercado naquele mesmo dia ‒ o sábado depois da Ascensão do
Senhor ‒ pelo Conde de São Gil e pelo Bispo de Poio.
O conde, aproximando-se por outro lado, foi protegido por poder divino, e com seu
poderosíssimo exército se glorificava por sua força terrestre. E assim ele encontrou
os turcos vindo aqui contra nós. Armados de todos os lados com o sinal da cruz,
ele correu em cima deles violentamente e venceu-os. Eles puseram-se em fuga e a
maioria deles foram mortos. Novamente eles voltaram, reforçados por outros,
alegres e exultantes, seguros do resultado da batalha, e trazendo consigo as cordas
com as quais nos levariam atados até Coraçone.
Foram designados homens para fazer a escavação, com besteiros e arqueiros para
defendê-los de todos os lados. Então, eles cavaram até as fundações da muralha e
assentaram vigas de madeira sob ela, e em seguida atearam fogo a ela. No entanto,
a noite tinha chegado, a torre já tinha caído no meio da noite, e porque era noite
não poderiam lutar com o inimigo.
De tal maneira foi sitiada por terra que ninguém se atrevia a entrar ou sair. Lá
todas as nossas forças foram reunidas em um só corpo, e quem poderia ter contado
um tão grande exército de Cristo? Penso que ninguém jamais viu ou verá
cavaleiros tão distintos! No entanto, havia um grande lago de um lado da cidade,
no qual os turcos enviavam seus navios para trazerem forragem, madeira, e muitas
outras coisas.
Estávamos empenhados naquele cerco há sete semanas e três dias. Muitos dos
nossos homens lá receberam o martírio, e, contentes e jubilosos, entregaram suas
almas felizes a Deus. Muitos dos pobres morreram de fome pelo Nome de Cristo, e
estes levaram triunfalmente para o Céu suas vestes do martírio clamando em uma
voz, “Vingai, Senhor, nosso sangue que foi derramado por Vós, que sois bendito e
digno de louvor por todo o sempre. Amém”. Enquanto isso, após a cidade ter-se
rendido e os turcos conduzidos a Constantinopla, o Imperador cada vez mais
alegre porque a cidade tinha sido entregue ao seu poder, ordenou que uma enorme
distribuição de esmolas fosse feita aos nossos pobres.
A Batalha de Dorileia
No terceiro dia da marcha para Antioquia, os turcos fizeram um assalto violento a
Boemundo e seus companheiros. Os turcos começaram a gritar, a uivar e chorar
em voz alta incessantemente, fazendo um som infernal, não sei como, na sua
própria língua.
Quando Boemundo viu de longe os inúmeros turcos gritando e chorando num som
diabólico, imediatamente ordenou que todos os cavaleiros desmontassem e
armassem prontamente um forte. Antes, falou a todos os soldados: ‒ “Meus
senhores e os mais fortes dos soldados de Cristo! Uma difícil batalha está se
formando em torno de nós. Que todos avancem contra eles, corajosamente, e que a
infantaria monte este fortim com cuidado e rapidez“.
Quando tudo isso tinha se passado, os turcos já haviam nos cercado por todos os
lados. Eles nos atacaram, cortando, jogando e atirando flechas por toda parte, de
uma forma estranha. Embora mal pudéssemos contê-los, ou até mesmo suportar o
peso de um tal exército, no entanto, todos nós conseguimos manter nossas fileiras.
Nossas mulheres foram uma grande bênção para nós naquele dia, pois carregaram
água para nossos combatentes e confortaram os lutadores e defensores. O sábio
Boemundo imediatamente ordenou que os outros, ou seja, o Conde de São Gil, o
Duque Godofredo, Hugo de França, o Bispo de Poio, e todo o resto dos soldados
de Cristo se apressassem e marchassem rapidamente para o campo de batalha. Ele
disse: ‒ “Se eles querem lutar hoje, quem venham com força total”.
O Bispo de Poio aproximou-se por uma outra montanha e, assim, os turcos infiéis
ficaram cercados por todos os lados. (o Beato Bispo Ademar tinha, em outras
palavras, conduzido um grupo de cavaleiros franceses do sul através das
montanhas, ao redor e atrás das linhas turcas. O aparecimento súbito no campo do
Bispo e seus cavaleiros, que vieram por trás dos flancos turcos, pôs os turcos em
pânico e garantiu a vitória aos cruzados). Raimundo de São Gil também lutou no
lado esquerdo. À direita estavam o Duque Godofredo, o Conde de Flandres (um
valentíssimo cavaleiro) e Hugo de França, juntamente com muitos outros cujos
nomes desconheço. Logo que nossos cavaleiros chegaram, os turcos, árabes,
sarracenos, angolanos, e todas as tribos bárbaras rapidamente fugiram pelos
atalhos das montanhas e planícies. Os turcos, persas, paulicianos, sarracenos,
angolanos e outros pagãos eram 360.000, além dos árabes, cujos números só Deus
conhece.
Com velocidade extraordinária, fugiram para suas tendas, mas não puderam
permanecer lá por muito tempo. Mais uma vez fugiram e nós os seguimos,
matando-os um dia inteiro. Levamos muitos despojos: ouro, prata, cavalos, burros,
camelos, carneiros, gado, e muitas outras coisas que não conhecemos.
Se o Senhor não estivesse conosco na batalha e não tivesse nos enviado um outro
exército repentinamente, nenhum dos nossos homens teria escapado, pois a batalha
durou da terceira até a hora nona. Mas Deus Todo Poderoso é misericordioso e
bondoso. Ele não permitiu que Suas tropas perecessem, nem quis Ele entregá-las
nas mãos do inimigo; antes, Ele prontamente enviou-nos ajuda.
Dois dos nossos honrados cavaleiros foram mortos, a saber, Godofredo de Montes
Ásperos e Guilherme, o filho do marquês e irmão de Tancredo. Alguns outros
cavaleiros e soldados de infantaria, cujos nomes não sei, também foram mortos.
Falo a verdade, que ninguém pode negar. Que se tivessem sido sempre firmes na
Fé de Cristo e do Cristianismo, se tivessem querido confessar ao Deus Trino, e se
tivessem honestamente acreditado, de boa fé, que o Filho de Deus nasceu da
Virgem, que Ele sofreu e ressuscitou dos mortos e subiu ao Céu na presença dos
Seus discípulos, que Ele enviou o conforto perfeito do Espírito Santo, e que Ele
reina no Céu e na terra; se eles tivessem acreditado em tudo isso, teria sido
impossível encontrar um povo mais poderoso, mais corajoso, ou mais hábil na arte
da guerra. Pela graça de Deus, no entanto, nós os derrotamos. A batalha ocorreu no
dia primeiro de Julho.
O digno Conde de Flandres, portanto, cingido por todos os lados com a armadura
da Fé verdadeira e o sinal da cruz, que ele usava fielmente todos os dias, foi de
encontro a eles, juntamente com Boemundo, e nossos homens precipitaram-se
todos juntos sobre eles. Eles imediatamente puseram-se em fuga e às pressas
deram as costas; muitos deles foram mortos, e nossos homens levaram seus
cavalos e outros despojos. Mas outros, que tinham permanecido vivos, fugiram
rapidamente e partiram para a ira da perdição. Nós, porém, voltando com grande
alegria, louvamos a Deus e glorificamos a Deus Trino em Um, que vive e reina
agora e para sempre, amém.
Uma quarta-feira descobriram que podiam resistir e nos atacar. Os mais iníquos
bárbaros saíram cautelosamente e, caindo violentamente em cima de nós, mataram
muitos dos nossos cavaleiros e soldados que estavam fora de sua guarda. Até
mesmo o Bispo de Poio, nesse dia amargo, perdeu seu senescal, que estava
portando seu estandarte. Não fosse um córrego que nos separava, eles teriam nos
atacado mais vezes e causado grande dano ao nosso povo.
Nessa altura, o célebre Boemundo, avançando com seu exército da terra dos
sarracenos, chegou à montanha de Tancredo, desejando saber se por acaso
encontraria qualquer coisa para levar consigo, porque eles estavam saqueando toda
a região. Alguns, na verdade, encontraram algo, mas outros foram embora de mãos
vazias. Então o sábio Boemundo, censurou-lhes, dizendo: ‒ “Oh, povo infeliz e
miserável! Oh, o mais vil de todos os Cristãos! Por que quereis ir embora tão
rapidamente? Apenas parai, parai até que estejamos todos reunidos, e não vagueis
como ovelhas sem pastor. Além disso, se o inimigo encontrá-los vagando, matar-
vos-ão, pois eles estão vigiando noite e dia para encontrá-los sozinhos, ou errando
em grupos sem um líder, e eles empenham-se diariamente para matá-los e levá-los
cativos”. Quando concluiu suas palavras, ele voltou para seu acampamento com
seus homens, mais de mãos vazias que cheias.
A Conquista de Antioquia
Não posso enumerar todas as coisas que fizemos antes da cidade ser tomada,
porque não há absolutamente ninguém nestas regiões, quer seja clérigo ou leigo,
que possa escrever ou relatar como as coisas aconteceram. Entretanto, vou dizer
um pouco. Havia um certo Emir da raça dos turcos, cujo nome era Pirus, que
tornou-se grande amigo (e espião) de Boemundo.
Através de um intercâmbio de mensageiros, Boemundo muitas vezes pressionava
este homem para recebê-lo dentro da cidade da forma mais amistosa possível e,
depois de prometer a ele o Cristianismo mais abertamente, mandou dizer que o
faria rico, com muitas honras. Pirus rendeu-se a essas palavras e promessas,
dizendo: ‒ “Guardo três torres, e prometo entregá-las gratuitamente a ele, e a
qualquer hora que ele deseje eu o receberei dentro delas”.
Eles terminantemente recusaram e repeliram, dizendo: ‒ “Esta cidade não deve ser
dada a ninguém, mas vamos possuí-la equitativamente, já que tivemos esforço
igual, então tenhamos recompensa idêntica com ela”. Boemundo, ao ouvir estas
palavras, riu um pouco para si mesmo e retirou-se imediatamente.
E assim foi feito. Nisso, Boemundo confiou seu plano ao Duque Godofredo e ao
Conde de Flandres, também ao Conde de São Gil e ao Bispo de Poio, dizendo: ‒
“A graça de Deus favorecendo, esta noite Antioquia nos será entregue”. Todas
estas questões foram finalmente acertadas; os cavaleiros se colocariam nos
planaltos e os soldados no pé da montanha.
E ele disse, “Micro francos echome ‒ Há poucos francos aqui! Onde está o
ferocíssimo Boemundo, aquele invicto cavaleiro?” Enquanto isso, um servo
Longobardo desceu novamente, e correu o mais rápido até Boemundo, dizendo: ‒
“Por que estais aqui, ilustre homem? Por que vieste para cá? Eis que já tomamos
três torres!”
Boemundo adiantou-se com o resto, e todos foram alegres até a escada. Assim,
quando aqueles que estavam nas torres viram isso, começaram a gritar com vozes
alegres: ‒ “Deus o quer!” Começamos a igualmente a gritar, agora os homens
começaram a subir lá em cima de modo espantoso. Então, eles chegaram ao topo e
correram apressadamente para as outras torres.
Aqueles com os quais eles se depararam ali foram logo postos à morte; e até
mesmo um irmão de Pirus foi morto. Entretanto, a escada pela qual tínhamos
subido quebrou acidentalmente, baixando então, entre nós, o maior desânimo e
tristeza. Contudo, embora a escada estivesse quebrada, havia ainda perto de nós
um portão que havia sido fechado do lado esquerdo e, por ser noite, tinha
permanecido despercebido por algumas pessoas.
Mas, pelo tato e indagando sobre ele, nós o encontramos, e todos correram para ele
e, depois de tê-lo arrombado, entramos por ele. Então, o barulho de uma multidão
incontável ressoou por toda a cidade.
Boemundo não deu nenhum descanso a seus homens, mas ordenou que seu
estandarte fosse levado até a frente do castelo em uma colina. Na verdade, todos
juntos gritavam na cidade. Além disso, quando ao amanhecer, aqueles que se
encontravam nas tendas ouviram o violentíssimo brado ressoando pela cidade,
saíram correndo às pressas e viram o estandarte de Boemundo em cima do monte,
e com rapidez todos correram precipitadamente e entraram na cidade.
Tudo isso ocorreu no terceiro dia do mês de Junho, no quinto dia da semana, no
terceiro dia antes das Nonas de Junho. Todas as praças da cidade já estavam
repletas de cadáveres, de modo que ninguém podia suportá-la devido o mau odor.
Só se conseguia andar nas ruas da cidade passando por cima dos corpos dos
mortos.
Os Chefes Muçulmanos Contra-Atacam
Algum tempo antes, Cassiano, Emir de Antioquia, tinha enviado uma mensagem
para Curbara, chefe do Sultão da Pérsia, enquanto ele ainda estava na Coraçone,
para vir ajudá-lo enquanto ainda havia tempo, porque um poderosíssimo exército
de francos tinha sitiado Antioquia.
Os angolanos eram três mil, e não temiam lanças, setas, nem qualquer tipo de
armas, porque eles e todos os seus cavalos eram equipados com ferro ao redor, e
em batalha eles se recusaram a carregar qualquer armamento, exceto espadas.
Todos estes vieram ao cerco de Antioquia para dispersar o agrupamento de
francos.
Então Curbara começou a rir, dizendo diante de todos que estavam naquele
encontro: ‒ “Estas são as guerreiras e brilhantes armas que os cristãos trouxeram
contra nós na Ásia, com as quais eles esperam e contam expulsar-nos para além
dos limites da Coraçone e apagar nossos nomes para além dos rios da Amazônia,
eles que tocaram nossos parentes da Romênia e da cidade real de Antioquia, que é
a famosa capital de toda a Síria!”
Então, este homem saiu e jurou que tudo era muitíssimo verdadeiro, uma vez que
Santo André lhe havia aparecido duas vezes numa visão, e lhe tinha dito:
‒ “Levantai-vos e ide dizer ao povo de Deus que não tenha medo, mas confie
firmemente com todo o coração no Deus único e verdadeiro e eles serão vitoriosos
em toda parte. Dentro de cinco dias o Senhor lhes mandará um tal sinal que eles
ficarão felizes e alegres, e se quiserem lutar, deixai-os ir imediatamente para a
batalha, todos juntos, e todos os seus inimigos serão derrotados, e ninguém poderá
lhes opor”.
Então, quando souberam que seus inimigos seriam derrotados por eles, começaram
logo a recobrar ânimo e a se encorajar, dizendo: ‒ “Levantai-vos, e sêde corajosos
e atentos, pois o Senhor dos Exércitos virá ao nosso auxílio na próxima batalha, e
será o maior refúgio para Seu povo, que Ele contempla padecendo na dor”. Assim,
ao ouvir as declarações do homem que relatou para nós a revelação de Cristo
através das palavras do apóstolo, pressurosos fomos imediatamente ao local que
ele tinha indicado, na igreja de São Pedro.
Então Curbara, após ouvir a advertência de sua mãe, respondeu com voz irada: ‒
”Que é isso, mãe, que estás me dizendo? Acho que estás louca, ou cheia de fúrias.
Pois tenho comigo mais emires do que o número de cristãos, de condição maior ou
menor”. Sua mãe respondeu-lhe: ‒ “Ó filho dulcíssimo, os Cristãos não podem
lutar com suas forças, pois sei que eles não são capazes de prevalecer contra você,
mas o Deus deles está lutando por eles diariamente e está olhando por eles e
defendendo-os com a Sua proteção dia e noite, como um pastor cuida de seu
rebanho.
Ele não permite que sejam feridos ou perturbados por qualquer povo, e quem quer
que pretenda pôr-se em seu caminho, este mesmo Deus deles coloca igualmente a
derrota, assim como Ele disse pela boca do profeta Davi: ‘Dispersai as pessoas que
se deleitam nas guerras’, e em outro lugar: ‘Despejai a Vossa ira sobre as nações
que não Vos conhecem e, contra os reinos que não invocam o Teu Nome. Antes de
estarem prontos para começar a batalha, seu Deus, todo poderoso e potente na
batalha, juntamente com os Seus santos, já conquistou todos os seus inimigos. Até
quando Ele prevalecerá contra você, que são Seus inimigos, e que estão se
preparando para resistir a eles com todo o seu valor?! Este, além disso, querido,
conhece em verdade: estes. os Cristãos, chamados “filhos de Cristo” e pela boca
dos profetas “filhos adotivos e da promessa”, segundo o apóstolo são os herdeiros
de Cristo a quem Ele já deu a herança prometida, dizendo através dos profetas: “do
nascente ao poente será o vosso limite e ninguém poderá resistir diante de vós.
Quem pode contradizer ou opor-se a estas palavras? Certamente, se você
empreender esta batalha contra eles, será tua a maior perda e desgraça, e você
perderá muitos de seus cavaleiros fiéis e todos os despojos que você tem consigo, e
fugirá com inexcedível temor. No entanto, você não morrerá agora nesta batalha,
mas, neste ano, porque com raiva súbita, Deus não julga imediatamente aquele que
O ofendeu, mas quando Ele quer, pune com manifesta vingança, e por isso temo
que Ele exigirá de você uma pena amarga. Você não morrerá agora, eu digo, mas
perecerá apesar de todos os seus bens presentes”.
Então sua mãe respondeu-lhe com tristeza: ‒ “Filho querido, eis que há mais de
cem anos foi encontrado no nosso livro e nos volumes dos Gentios que o exército
Cristão viria contra nós, nos conquistaria em todos os lugares e dominaria sobre os
pagãos, e que o nosso povo estaria sujeito a eles em todos os lugares. Mas não sei
se estas coisas estão para acontecer agora ou no futuro. Miserável mulher que sou,
segui-o desde Aleppo, cidade belíssima, na qual, contemplando e fazendo criativas
rimas, eu olhava para as estrelas do céu e sabiamente examinava os planetas e os
doze signos, ou multitudes infindáveis.
Em todas essas achei que o exército cristão venceria em toda parte, e por isso estou
muito triste e temo enormemente ficar sem você”. Curbara disse-lhe: ‒ “Querida
mãe, explique-me todas as coisas credíveis que estão em meu coração”.
Respondendo a isto, ela disse: ‒ “Isto, querido, farei livremente, se eu souber as
coisas que são desconhecidas para você”. Ele disse a ela: ‒ ”Não são Boemundo e
Tancredo deuses dos francos, e eles não os libertam de seus inimigos? Não
comeram estes homens, em uma refeição, duas mil novilhas e quatro mil porcos?”
Sua mãe respondeu: ‒ ”Querido filho, Boemundo e Tancredo são mortais, como
todo o resto, mas o seu Deus os ama muito acima de todos os outros e lhes dá mais
coragem na luta que aos demais. Pois (é) o seu Deus, Onipotente é o Seu nome,
que fez o céu e a terra e estabeleceu o mar e tudo que neles há, cuja morada está
preparada no Céu para toda a eternidade, cujo poder é temido em todo lugar “. Seu
filho disse: ‒ “Ainda que seja assim, não vou deixar de travar batalha contra eles”.
Então, quando sua mãe soube que ele de forma alguma cederia ao seu conselho,
voltou, muito triste, para Aleppo, carregando consigo todos os presentes que podia
levar. Mas no terceiro dia Curbara armou-se com a maioria dos turcos com ele, e
foi em direção à cidade do lado em que se localizava a fortaleza.
Então Curbara, chefe do exército do Sultão da Pérsia, com todos os outros, cheio
de arrogância, respondeu em linguagem feroz: ‒ “Vosso Deus e vosso
cristianismo, não procuramos e nem desejamos, mas absolutamente rejeitamos a
vós e a eles. Agora, chegamos aqui porque muito nos admirava que os príncipes e
nobres que vós mencionais chamem esta terra deles, a terra que tiramos de um
povo efeminado. Agora, quereis saber o que estamos lhe dizendo? Portanto,
voltem logo e informem os seus senhores que se desejarem tornar-se turcos, em
tudo, e quiserem negar o Deus que vós adorais de cabeça baixa, e desprezar suas
leis, nós lhes daremos isso e mais terras, castelos e cidades suficientes.
Além disso, por outro lado, faremos com que mais nenhum de vós sejais soldado
de infantaria, mas serão todos cavaleiros, como somos e sempre os teremos em alta
estima. Caso contrário, saibam que todos serão punidos de morte, ou serão levados
acorrentados para Coraçone, para servir a nós e a nossos filhos em cativeiro
perpétuo”.
Nossos mensageiros rapidamente voltaram, relatando tudo o que essa raça
crudelíssima havia respondido. Dizia-se que Herlwin conhecia ambas as línguas, e
ter sido o intérprete de Pedro, o Eremita. Enquanto isso, nosso exército, ameaçado
de ambos os lados, não sabia o que fazer, pois de um lado eram perseguidos pela
fome torturante, e de outro eram constrangidos pelo medo dos turcos.
Depois que Curbara viu as fileiras dos francos, tão bem formadas, saindo uma após
a outra, disse: ‒ “Deixem-nas sair, para que melhor possamos tê-las em nosso
poder!” Mas depois que saíram da cidade e Curbara viu o enorme exército dos
francos, ele foi muitíssimo assustado. Imediatamente enviou um recado para o seu
emir, que era encarregado de tudo, que se via uma luz queimando na frente do
exército (que emanava da Santa Lança), e que deveria mandar soar as trombetas
para que ele recuasse, sabendo que os turcos haviam perdido a batalha. Curbara
começou imediatamente a se retirar pouco a pouco em direção à montanha, e os
nossos homens seguiram-lhes pouco a pouco.
Finalmente a formação dos turcos foi quebrada, uma parte do exército foi para o
mar e o resto parou ali, esperando fechar os nossos homens entre si. Quando
nossos homens viram isso, fizeram o mesmo. Uma sétima fileira foi formada lá, a
partir das fileiras do Duque Godofredo e do Conde da Normandia, e em sua cabeça
estava Reinaldo. Eles enviaram esta fileira de encontro aos turcos que estavam
vindo por mar.
Neste instante (Santo, Santo, Santo, sois vós Senhor Deus dos Exércitos!), saíram
também de cima das montanhas inúmeros exércitos com cavalos brancos, cujos
estandartes eram também brancos. E assim, quando nossos líderes viram este
exército, reconheceram a ajuda de Cristo, cujos líderes eram São Jorge, São
Demétrio e São Maurício.
Deve-se acreditar nisso porque muitos de nossos homens viram isso. Entretanto,
quando os turcos, que estavam estacionados no lado em direção ao mar, vendo que
não podiam agüentar mais, atearam fogo à vegetação de modo que, ao ver isso,
aqueles que estavam nas tendas fugiriam. Estes, pegaram todos seus despojos
preciosos e fugiram. Mas nossos homens combateram ainda um tempo onde se
encontrava o maior exército dos turcos, ou seja, na região das tendas.
Os turcos e os persas, por sua vez, bradaram. Então, invocamos o Deus vivo e
verdadeiro e os atacamos, e em nome de Jesus Cristo e do Santo Sepulcro
começamos a batalha, e, com a ajuda de Deus, os matamos. Mas os turcos,
apavorados, começaram a fugir e nossos homens os seguiram até suas tendas.
Então, quando o emir, que estava guardando a cidadela, viu que Curbara e todo o
resto havia fugido do campo diante do exército dos francos, ficou muito assustado.
Imediatamente e com grande pressa procurou os estandartes dos francos. Assim, o
Conde de São Gil, que estava estacionado diante da cidadela, ordenou que seu
estandarte fosse levado até ele. O emir pegou-o e colocou-o cuidadosamente sobre
a torre. Os Longobardos que estavam lá disseram imediatamente: ‒ “Este não é o
estandarte de Boemundo!” Então o emir perguntou e disse: ‒ “De quem é?” Eles
responderam: “Pertence ao Conde de São Gil”. Nisto o emir foi e tomou o
estandarte e devolveu-o para o Conde. Mas naquela hora o venerável Boemundo
veio e deu-lhe seu estandarte. Ele recebeu-o com grande alegria e entrou em um
acordo com Boemundo ‒ de que os pagãos que desejassem abraçar o Cristianismo
poderiam ficar com ele, e que ele deveria permitir que aqueles que desejassem ir
embora que partissem a salvo e sem serem molestados.
Ele concordou com tudo o que o emir pediu e logo enviou os seus servos para a
cidadela. Poucos dias depois disto, o emir foi batizado com aqueles de seus
homens, que preferiram reconhecer a Cristo. Mas aqueles que desejaram aderir às
suas próprias leis, o senhor Boemundo mandou que fossem conduzidos para a terra
dos sarracenos.
Esta batalha foi travada no quarto dia antes das calendas de Julho, na vigília dos
apóstolos Pedro e Paulo, no reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Quem é a
honra e glória para todo o sempre. Amém. E depois que nossos inimigos haviam
sido completamente conquistados, demos graças a Deus Trino e Uno, o Altíssimo.
Finalmente, o Rei de Trípoli fez um acordo com os chefes, e ele logo devolveu-lhe
mais de trezentos peregrinos que haviam sido capturados lá e deu quinze mil
besantes e quinze cavalos de grande valor; ele também nos deu um grande
suprimento de cavalos, jumentos e de todos os bens, ficando assim, todo o exército
de Cristo, muito enriquecido.
Mas ele fez um acordo com eles que se ganhassem a guerra para a qual o Emir da
Babilônia estava se preparando contra eles, e pudessem tomar Jerusalém, ele se
tornaria cristão e reconheceria a sua terra como (um dom) deles. E dessa forma
ficou resolvido. Deixamos a cidade no segundo dia da semana, no mês de Maio e,
passando por uma estrada estreita e difícil durante todo o dia e noite, chegamos a
uma fortaleza cujo nome era Batrum.
Então, chegamos a uma cidade perto do mar chamada Biblos, na qual sofremos
grande sede e, exaustos, chegamos a um rio chamado Abraão.
Então nossos cavaleiros foram à frente e abriram caminho para nós, e chegamos a
uma cidade à beira-mar chamada Beirute, e daí fomos para outra cidade chamada
Sidom, daí para uma outra chamada Tiro e de Tiro para a cidade de Acre. Mas de
Acre, chegamos a um lugar fortificado cujo nome era Haifa e, então, chegamos
perto de Cesaréia. Lá foi celebrada a Festa de Pentecostes no terceiro dia de Maio.
Então chegamos a Ramla, que os sarracenos haviam esvaziado de medo dos
francos. Perto dali ficava a famosa igreja onde repousava o precioso corpo de São
Jorge, desde que lá, pelo Nome de Cristo, ele alegremente recebera o martírio de
pagãos traiçoeiros.
Lá nossos chefes realizaram um concílio para escolher um bispo que deveria ser
encarregado deste lugar e erigir uma igreja. Deram-lhe dízimos e enriqueceram-no
com ouro e prata, com cavalos e outros animais, para que pusesse viver mais
devota e honradamente c
om aqueles que estavam com ele. Ele ficou lá com alegria.
A Conquista de Jerusalém
Finalmente, nossos chefes decidiram sitiar a cidade com máquinas de cerco, para
que pudéssemos entrar e adorar o Salvador no Santo Sepulcro. Eles construíram
torres de madeira e muitas outras máquinas de cerco. O Duque Godofredo fez uma
torre de madeira e outros dispositivos de cerco, e o Conde Raimundo fez o mesmo,
embora fosse necessário trazer madeira de uma distância considerável. No entanto,
quando os sarracenos viram nossos homens envolvidos neste trabalho, reforçaram
enormemente as fortificações da cidade e aumentaram a altura das torres pequenas
durante a noite.
Enquanto tudo isso acontecia, nossa reserva de água era tão limitada que ninguém
podia comprar água suficiente por um denário para satisfazer ou saciar sua sede.
Dia e noite, no quarto e quinto dias da semana, fizemos um determinado ataque à
cidade de todos os lados. No entanto, antes de fazermos este assalto à cidade, os
bispos e padres convenceram a todos, exortando e pregando, para honrar o Senhor
marchando em torno de Jerusalém três vezes em uma grande procissão, e se
preparar para a batalha através da oração, do jejum e esmolas.
Logo no início do sexto dia da semana, mais uma vez atacamos a cidade de todos
os lados, mas como o ataque foi mal sucedido, ficamos todos aturdidos e
temerosos. No entanto, quando se aproximou a hora em que Nosso Senhor Jesus
Cristo se dignou a sofrer na cruz por nós, nossos cavaleiros começaram a lutar
bravamente em uma das torres, ou seja, o grupo com o Duque Godofredo e seu
irmão, o Conde Eustácio.
Foram necessários três dias e três noites de trabalho para enchê-lo, e quando
finalmente a vala ficou cheia, moveram a torre até a muralha, mas os homens que
defendiam essa parte da muralha lutaram desesperadamente com pedras e fogo.
Quando o Conde soube que os francos já estavam na cidade, disse aos seus
homens: ‒ “Por que tardais? Eis que os francos estão agora mesmo dentro da
cidade”. O emir que comandava a Torre de São David entregou-se ao Conde e
abriu o portão no qual os peregrinos sempre costumavam pagar o tributo. Mas
desta vez os peregrinos entraram na cidade, perseguindo e matando os sarracenos
até o Templo de Salomão, onde o inimigo se reunira em maior número. A batalha
durou o dia todo de tal forma que o Templo estava coberto de sangue. Quando os
pagãos haviam sido derrotados, nossos homens prenderam um grande número,
tanto homens quanto mulheres, quer matando-os ou mantendo-os em cativeiro,
como licitamente desejassem.
Ordenaram também que todos os sarracenos mortos fossem lançados fora por
causa do odor fétido, pois a cidade toda estava cheia de corpos; e assim os
sarracenos que sobreviveram arrastaram os mortos até os portões de saída e
arranjaram-nos em pilhas como se fossem casas. Ninguém jamais ouviu nem viu
um tal morticínio de pagãos, pois formaram-se piras funerárias com eles como
pirâmides, e só Deus sabe o número deles. Mas Raimundo fez com que o emir e os
outros que com ele estavam fossem conduzidos até Ascalão, íntegros e ilesos. No
entanto, no oitavo dia após a tomada da cidade, escolheram Godofredo como
Defensor do Santo Sepulcro (primeiramente como Rei de Jerusalém, porém este se
recusou a ser coroado de ouro na cidade onde Nosso Senhor foi coroado de
espinhos), para lutar contra os pagãos, espalhar a fé e proteger os cristãos e seus
reinos no oriente. No dia de São Pedro da Vincula eles também escolheram como
patriarca um homem muito sábio e honrado de nome Arnolfo.
A Cidade Santa foi conquistada pelos soldados cristãos de Deus no dia quinze de
Julho, o sexto dia da semana no ano do Senhor de 1099.