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Letícia R. Teixeira
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Sala de Leitura
Funções Inorgânicas
Funções Inorgânicas
1. Funções Químicas
As substâncias químicas são classificadas como inorgânicas e orgânicas. As inorgânicas são aquelas que
não possuem cadeias carbônicas e as orgânicas são as que possuem. As substâncias inorgânicas são
divididas em quatro grupos, ácidos, bases, sais e óxidos, chamados de “funções inorgânicas”. As
substâncias orgânicas são divididas em hidrocarbonetos, funções halogenadas, funções oxigenadas e
funções nitrogenadas e, do mesmo modo, os grupos são denominados “funções orgânicas” (Figura 1).
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Sabemos, por exemplo, que o metanol (CH3OH) e o etanol (CH3CH2OH) pertencem à função Álcool.
Estas substâncias possuem propriedades químicas semelhantes, como a formação de ácidos nas
reações de oxidação e a formação de gás carbônico, água e energia nas reações de combustão. As
Equações 1 e 2 mostram as reações de oxidação do metanol e do etanol, respectivamente:
Por outro lado, a parafina (C22H46) e o butano (CH3CH2CH2CH3) sofrem reação de combustão, mas não
são classificados como álcoois, uma vez que não sofrem reações de oxidação nas mesmas condições
que o metanol e o etanol. A parafina e o butano são classificados como Hidrocarbonetos. Veja as
classificações na Tabela 1 abaixo:
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Portanto, atenção! Para descobrir a função química a que pertence uma determinada substância, não
basta verificar um só tipo de reação química. É preciso verificar um conjunto de reações. No nosso
exemplo, duas reações foram suficientes para diferenciar hidrocarbonetos de álcoois.
Agora que conhecemos um dos procedimentos que os químicos utilizam para classificar as substâncias
em funções químicas, vamos apresentar duas funções inorgânicas muito importantes: os ácidos e as
bases.
As teorias de ácidos e bases que serão tratadas aqui datam do século XX: teoria de Arrhenius (1887),
Brönsted-Lowry (1923) e de Lewis (1923).
O cloreto de hidrogênio, HCl, por exemplo, a temperatura ambiente, é um gás. Quando dissolvido em
água, o HCl forma íons H+(aq) e Cl-(aq) (Equação 3) e é chamado de ácido clorídrico.
H2O
HCl(g) H+(aq) + Cl-(aq) (Equação 3)
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Mas, como será que ocorre a formação desses íons? Na molécula de HCl, os átomos de hidrogênio e de
cloro estão unidos por uma ligação covalente (H–Cl). Em solução aquosa, a ligação covalente é
rompida, com a consequente formação de íons H+(aq) e Cl-(aq). Esse processo é chamado de ionização.
Como a ionização do HCl leva à formação de íons H+(aq), ele é um ácido, segundo o conceito de
Arrhenius.
Já o hidróxido de sódio, NaOH, é um sólido iônico. Nele, a ligação não é entre átomos, mas entre os
íons Na+ e OH-. Ao contrário das moléculas de HCl que sofrem ionização em solução aquosa, os íons do
NaOH se dissociam. Observe o esquema abaixo:
ionização
compostos moleculares + água solução iônica
dissociação
compostos iônicos + água solução iônica
Como o OH- é um dos íons liberados na dissociação do NaOH, esse composto é uma base, segundo o
conceito de Arrhenius.
Uma consequência da teoria de Arrhenius é que podemos considerar que nem todos os ácidos e bases
são igualmente fortes, ou seja, nem todos se ionizam ou dissociam em água completamente, como
ocorre com o HCl e o NaOH, que são exemplos de ácido e base fortes.
O ácido acético (CH3COOH), presente no vinagre, e o ácido cítrico (H3C6H5O7), presente no limão, são
exemplos de ácidos fracos. Em solução aquosa, esses ácidos não se ionizam completamente. Sua
ionização leva a um equilíbrio químico, em que os íons estão presentes juntamente com os ácidos não
ionizados, conforme mostram as Equações 4 e 5:
O ácido acético e o ácido cítrico, assim como todos os outros ácidos que têm esse comportamento, são
chamados de ácidos fracos. Do mesmo modo, existem as bases fracas.
A acidez e a basicidade das soluções podem ser medidas utilizando-se a escala de pH. Esta escala está
relacionada com a concentração de íons hidrogênio, H+ ou H3O+, presentes na solução e varia de 0 a 14.
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Desse modo, soluções aquosas que apresentam pH menor que 7 são consideradas ácidas, e aquelas
que apresentam pH maior que 7 são básicas. Quanto mais ácida for uma solução, menor será o valor de
seu pH e, quanto mais básica, maior o seu pH. Soluções muito ácidas podem apresentar pH < 0 e
soluções muito básicas pH > 14. Observe na Figura 2 abaixo a escala de pH e o pH de algumas soluções:
Figura 2: A escala de pH
A teoria de Arrhenius, embora muito útil, apresenta algumas limitações. Uma delas é que se aplica
apenas a soluções aquosas.
Desse modo, os químicos Johannes Nicolaus Bronsted (1879-1947) e Thomas Martin Lowry (1874-1936)
propuseram de forma independente uma nova teoria, mais abrangente, para explicar o
comportamento de ácidos e bases, conhecida como teoria de Bronsted-Lowry.
HA + B A- + BH+
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Nesta reação, o átomo de hidrogênio da espécie HA é transferido para a molécula B, formando BH+.
Portanto, segundo a teoria de Brönsted-Lowry, HA é um ácido porque transferiu um próton para B. Do
mesmo modo, nessa reação, B é uma base porque recebeu um próton de HA. A reação entre HA e B
leva à formação das espécies A- e BH+. Esta é uma reação reversível. Isso significa que os produtos da
reação também reagem entre si, regenerando os reagentes:
A- + BH+ HA + B
Assim, o átomo de hidrogênio de BH+ é transferido para A-. Portanto, BH+ é um ácido e A- é uma base,
segundo Brönsted-Lowry.
Desse modo, HA e A- formam um par ácido-base conjugado. Ou seja, HA é um ácido porque doa um
próton e transforma-se em A-. A- é uma base porque recebe um próton e transforma-se em HA. Do
mesmo modo, B e BH+ formam um segundo par ácido-base conjugado.
Mas, será que no equilíbrio as quantidades de HA, B, A- e BH+ serão as mesmas? Ou teremos uma maior
quantidade de reagentes ou produtos? Seria possível prever o sentido para o qual o equilíbrio estaria
deslocado? O equilíbrio estará deslocado no sentido da formação do ácido mais fraco e da base mais
fraca. Se HA e B forem o ácido e a base mais fracos, eles estarão presente em maior quantidade, e o
equilíbrio poderá ser representado da seguinte forma:
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A amônia, uma base fraca, reage com o ácido cítrico, um ácido fraco, conforme a Equação 6:
Neste caso, o equilíbrio estará deslocado para os produtos, uma vez que o ácido cítrico (H3C6H5O7) é um
ácido mais forte que o íon amônio (NH4+), e que a Amônia (NH3) é uma base mais forte que o íon citrato
(H2C6H5O7-).
É importante salientar que os conceitos de ácido e base, segundo Bronsted-Lowry, são relativos.
Observe as Equações abaixo:
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Na primeira reação a água doa um próton para a amônia, formando NH4+(aq) e OH-(aq), enquanto que,
na segunda, a água recebe um próton do ácido acético formando CH3COO-(aq) e H3O+(aq). Portanto,
fica claro que a água, segundo o conceito de Bronsted-Lowry, é um ácido na primeira reação e uma
base na segunda. Por isso, a água é denominada uma substância anfótera.
Para que uma substância anfótera possa agir como ácido, ele deve ser posta em contato com uma base
mais forte que a sua base e, para agir como base, reagir com um ácido mais forte que seu ácido.
Gilbert Newton Lewis (1875-1946), um químico americano, propôs uma teoria de ácidos em bases no
mesmo ano em que Bronsted e Lowry apresentaram a sua teoria. De acordo com Lewis, ácidos são
espécies capazes de receber pares de elétrons, e bases são espécies capazes de doar pares de elétrons.
Desse modo, uma reação ácido-base consiste na formação de uma ligação covalente coordenada mais
estável, como mostra a Figura 3.
H H
+
H N: + H+ N H
H H H
Trataremos agora das duas outras funções inorgânicas que citamos no início do texto: os sais e os
óxidos.
6. Os sais
A maioria das pessoas, quando ouve a palavra sal, pensa no sal de cozinha. Mas, se você disser a palavra
sal para um químico, ele provavelmente irá lhe perguntar de que sal você está falando. Pois, o sal de
cozinha (cloreto de sódio, NaCl) é apenas um exemplo dessa enorme classe de substâncias.
Sais são compostos iônicos que, em solução aquosa, se dissociam, formando pelo menos um cátion
diferente do hidrogênio, H+(aq), e um ânion diferente da hidroxila, OH-(aq), e do oxigênio, O2-(aq). Os
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sais podem ser obtidos através de reações de neutralização, que são as que ocorrem entre um ácido e
uma base e que têm como produto um sal e água.
A reação entre o ácido clorídrico, HCl, e o hidróxido de sódio, NaOH, por exemplo, forma o sal cloreto de
sódio, NaCl, e água (Equação 9).
O NaCl é formado pelo cátion Na+, vindo da base NaOH, e pelo anion Cl-, vindo do ácido HCl. Isso irá
acontecer em todos os casos, ou seja, o ácido sempre irá formar o ânion do sal e a base o cátion do sal.
Vejamos outro exemplo de sal, o sulfato de sódio, Na2SO4. Esse sal pode ser obtido através da reação
entre o hidróxido de sódio, NaOH, e o ácido sulfúrico, H2SO4 (Equação 10).
O Na2SO4 é formado pelo cátion Na+, vindo da base NaOH, e pelo ânion SO42-, vindo do ácido H2SO4.
Existe uma infinidade de sais conhecidos pelo homem. Alguns são produzidos artificialmente, em
reações de neutralização. Outros, como o cloreto de sódio, são obtidos de fontes naturais, ou seja, já se
encontram disponíveis na natureza.
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7. Os Óxidos
Óxidos são compostos binários, ou seja, formados por dois elementos distintos, dos quais o mais
eletronegativo é o oxigênio. Apenas o elemento flúor é mais eletronegativo que o oxigênio. Assim,
qualquer outro elemento, com a exceção do flúor, reage com oxigênio formando óxidos.
Dizer que qualquer elemento reage com o oxigênio não é exagero. Como o oxigênio é muito reativo, é
difícil encontrar um elemento que não seja capaz de reagir com ele. Desse modo, esta classe de
compostos engloba um número muito grande de substâncias.
Óxidos são compostos binários, ou seja, formados por dois elementos distintos, dos quais o mais
eletronegativo é o oxigênio. Apenas o elemento flúor é mais eletronegativo que o oxigênio. Assim,
qualquer outro elemento, com a exceção do flúor, reage com oxigênio formando óxidos.
Dizer que qualquer elemento reage com o oxigênio não é exagero. Como o oxigênio é muito reativo, é
difícil encontrar um elemento que não seja capaz de reagir com ele. Desse modo, esta classe de
compostos engloba um número muito grande de substâncias.
Óxido de lítio (Li2O), óxido de sódio (Na2O), óxido de potássio (K2O), óxido de rubídio (Rb2O), óxido de
césio (Cs2O) e óxido de francio (Fr2O) são formados com elementos do grupo 1A da tabela periódica.
Óxido de berilo (BeO), óxido de magnésio (MgO), óxido de cálcio (CaO), óxido de estrôncio (SrO), óxido
de bário (BaO) e óxido de radio (RaO) são formados com elementos do grupo 2A. Sabemos que o
número de oxidação dos elementos do grupo 1A é +1 e do grupo 2A é +2. Já o número de oxidação
do oxigênio nos óxidos é -2. Por isso, o oxigênio combina-se com os elementos do grupo 1A da tabela
periódica formando óxidos do tipo ‘E2O’ e com elementos do grupo 2A formando ‘EO’.
Os elementos do grupo 3A da tabela periódica têm número de oxidação +3. Desse modo, temos o
óxido de boro (B2O3), o óxido de alumínio (Al2O3), o óxido de gálio (Ga2O3) e o óxido de índio (In2O3).
Os óxidos são, portanto, substâncias do tipo ExOy, em que x é o número de oxidação do oxigênio e y é
o número de oxidação do elemento que está combinado com ele.
Na coluna 4A, as coisas começam a ficar um pouco diferentes, pois os elementos podem apresentar
mais de um número de oxidação. O carbono, por exemplo, pode combinar-se com o oxigênio formando
dois compostos bastante conhecidos: o monóxido de carbono (CO) e o dióxido de carbono (CO2), nos
quais o seu número de oxidação é +2 e +4, respectivamente. O enxofre, que pertence ao grupo 6A da
tabela periódica, combina-se com o oxigênio formando o trióxido de enxofre (SO3) e o dióxido de
enxofre (SO2), nos quais o seu número de oxidação é +6 e +4, respectivamente.
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Como esta classe de compostos é muito grande, suas propriedades também podem variar muito. Por
isso, os óxidos são divididos em quatro grupos, de acordo com seu comportamento em solução aquosa.
São eles: óxidos ácidos, óxidos básicos, óxidos neutros e óxidos anfóteros.
Óxidos ácidos. Quando dissolvidos em água, formam ácidos. Vejamos alguns exemplos:
Óxidos anfóteros. Comportam-se como base na presença de ácidos e como ácidos na presença de
bases.
8. Considerações Finais
Agora que conhecemos um pouco mais sobre cada uma das funções inorgânicas, vamos resumir alguns
pontos importantes.
Vimos que as substâncias químicas são classificadas em categorias chamadas funções químicas, de
acordo com suas propriedades e com suas reações com outras substâncias.
As funções inorgânicas são: ácidos, bases, sais e óxidos. Os ácidos reagem com as bases formando sal
e água. Esta reação é denominada reação de neutralização. Alguns óxidos reagem com água
formando ácidos ou bases. Há também óxidos que se comportam como ácidos na presença de base e
como base na presença de ácidos.
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Essas quatro classes de compostos englobam um número muito grande de substâncias que estão
presentes em nosso dia a dia. Elas estão em todos os lugares... Na medicina, nos alimentos, no corpo
humano, na limpeza da nossa casa, poluindo o ambiente... Por todo lado existem reações envolvendo
ácidos, bases, sais e óxidos.
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