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1. Introdução
[...] estar atento para os afrontamentos políticos, às lutas pelo poder, às estratégias de
governo, de comando, os projetos de domínio e de conquista que ai foram
investidos, que fizeram parte de sua instalação e demarcação, que estabeleceram as
fronteiras e os limites que agora podem reivindicar como sendo naturais, ancestrais
divinos ou legítimos.
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Graduanda do Curso de História da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS.
Orientanda Voluntária PIBIC sob orientação do Prof. Dr. Jérri Roberto Marin.
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2. Os Discursos
O Estado de Mato Grosso do Sul foi criado por meio da Lei Complementar Nº 31, de
11 de outubro de 1977, que dividiu o Estado de Mato Grosso. O signatário era o presidente da
República Ernesto Geisel que sancionou a lei em pleno regime militar com o intuito de
garantir-se no poder. Historiadores como Amarilha e Bittar afirmam que o processo de
criação de Mato Grosso do Sul deu-se exclusivamente pela vontade pessoal e política do
presidente sem qualquer participação da população regional1.
Nesta data de criação, o chefe da nação proferiu um discurso para enaltecer o novo
Estado, justificar sua ação unilateral de criação de uma nova entidade federativa respaldado
em seu poder ditatorial e ditar diretrizes, agora com intuito de envolver todo o povo da nova
região, para segui-las, “[...] a partir de hoje teremos que iniciar uma longa tarefa, para, com
base nesse dispositivo legal, dar efetiva existência ao novo Estado” 2.
Geisel invoca o sentimento de pertencimento destes “novos cidadãos” que a partir de
uma lei passam a “existir”, pois fazem parte de uma “nova região" (BORDIEU, 2011, p.114).
Quanto à região e discurso Albuquerque Junior destaca - a região não é um dado prévio, um
recorte espacial naturalizado, “a-histórico”, com um referente identitário que existiria por si,
com um recorte político-administrativo e cultural. A região é construída por discursos, ações,
e por práticas não-discursivas que criam essas noções espaciais e são bases e dirigem projetos
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AMARILHA, Carlos Magno Mieres. Os intelectuais e o poder: História, Divisionismo e Identidade em Mato
Grosso do Sul.http://www.ufgd.edu.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=9. Acesso em 08 de
abr. de 2014.p.114 e BITTAR, Marisa. Sonho e Realidade: Vinte e um anos da Divisão de Mato Grosso.
Multitemas. Campo Grande. UCDB. 1999. p.107.
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O Discurso foi publicado por meio da imprensa local sob o título - NASCEU MATO GROSSO DO SUL, Uma
tarefa imensa: a construção de dois Estados, O discurso de Geisel, Jornal Correio do Estado, Campo Grande,
12 de out. 1977. p. 4.
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Ibid, p.4.
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O Discurso foi publicado por meio da imprensa local sob o título - NASCEU MATO GROSSO DO SUL, Uma
tarefa imensa: a construção de dois Estados, Para Rangel, uma estrela fulgurante, Jornal Correio do Estado,
Campo Grande, 12 de out. 1977. p. 4.
4
3. As Comemorações
A mídia, como fonte histórica, exige um olhar crítico, já que a imprensa não atua pura
e simplesmente como mera intermediadora dos fatos, embora assim se apresente, mas tende a
manipular o imaginário político-social de seus leitores. As notícias atuam como o principal
produto da imprensa e assumem o sentido de comunicar e não, necessariamente, o de
informar, ou seja, carregam tendências direcionadas, partidárias e superficiais. Quanto ao
jornal Correio do Estado do então Mato Grosso com sede em Campo Grande, capital do novo
Estado em relação à comemoração pela divisão, Bittar é enfática (BITTAR, 1997, p.238):
empresas da mídia e que buscam mesmo assim um apoio do leitor. A mídia impõe-se como
porta-voz de uma fala autorizada, obedecendo à ordem do discurso e, portanto, é preciso
atentar para a falsa idéia de pretensa neutralidade da imprensa, pois todo discurso é portador
de ideologias e com a imprensa não é diferente. Os meios de comunicação devem ser
compreendidos como difusores de ideologias a serviço dos interesses do grupo ao qual
pertencem.
Pierre Nora, por sua vez, ao refletir sobre as comemorações constatou que existia uma
obsessão comemorativa que se manifestava na transformação de todas as datas históricas em
eventos comemorativos. As sociedades contemporâneas, em sua dinâmica, estão em constante
ruptura com o passado, daí a busca pela memória tornou-se uma necessidade compulsiva
(NORA, 1993, p.13). As comemorações são eventos de grandes potenciais simbólicos quando
o Estado, as instituições e a sociedade civil repensam o passado e o presente e elaboram
projetos para o futuro. Ou seja, os festejos cívicos tinham pretensões comemorativas e
pedagógicas, pois criaria o sul-mato-grossense que sente orgulho de nascer e pertencer ao
Estado. Por assim dizer, era necessário transformar os mato-grossenses em sul-mato-
grossenses, pois a identidade se constitui a partir da existência de um “outro” ou da alteridade.
4. Os Sul-mato-grossenses
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Paulo Roberto Cimó Queiroz afirma – “[...] abriu-se um espaço para a construção às pressas de um discurso
“histórico” simplesmente capaz de dar conta do fato, já consumado, da criação do novo Estado”, grifos do autor.
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“No pós-divisão, [...] o que se coloca é a tarefa de construir uma identidade ad hoc-algo claramente acessório,
não-essencial [...] esforços pela criação de uma “identidade sul-mato-grossense”, aspectos essencialmente
retóricos, destinados sobretudo a adornar vazios discursos de autocelebração das elites locais, velhas e novas”,
grifos do autor.
6
sobre questões culturais, preocupou-se especialmente com a criação dos símbolos regionais,
assim que assume o governo do Estado, como por exemplo, a criação do hino oficial que já
traria em seu texto elementos históricos, mais tarde aprofundados, divulgados, disseminados e
forjados pelos homens de letras de Mato Grosso do Sul, mas que desde início já embalaria a
subjetivação das pessoas quanto aos heróis nele evocados, a tradição, a memória, a origem, as
belezas naturais, as qualidades historiográficas pertencentes a toda a população
(AMARILHA, 2006, P.164-177).
Contudo, a ideia de homogeneidade, seja em relação ao sentimento de pertencimento
que esses discursos geram nas pessoas, seja em relação à adesão das mesmas a esses
discursos, são construções artificiais que escamoteiam as diferenças, as divergências, os
conflitos, com intenção única de construir uma unidade, procedimento contínuo e progressivo
de adestramento dos sujeitos, é um jogo de forças, uma característica dos discursos e práticas
que pretendem elaborar o regional de maneira a encobrir o complexo (ALBUQUERQUE
JÚNIOR, 2008, P. 61-62),
Pode-se dizer que a identidade regional passa por uma construção cultural de práticas
e vivências em um jogo que envolve subjetividades, uma série de elementos que constroem a
subjetivação individual ou coletiva, acabam por permear e induzir a emoções, sentimentos e
sentidos. Todavia, a subjetivação é conduzida pelo poder-saber daqueles que a influencia, pois
criam e ditam as regras adequando as pessoas aos seus devidos espaços, por meio de um
discurso sobre o verdadeiro e o certo, que constituem o existir do sujeito que adere a tal
discurso. A política da verdade é um dos mecanismos de poder e produz seus efeitos de saber
7
pelas lutas, pelos choques, os combates e as táticas e estratégias de poder que são os
elementos dessas lutas (FOUCAULT, 2006, p.449-472).
5. Considerações Finais
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Marisa Bittar trata dessa questão enfatizando depoimentos dos políticos envolvidos na época da divisão de Mato
Grosso, e para maiores explanações pode-se consultar - BITTAR, Marisa. Sonho e Realidade: Vinte e um anos
da Divisão de Mato Grosso. Multitemas. Campo Grande. UCDB. 1999. p.106-107.
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Discursos, símbolos e ícones, são estratégias de poder utilizados com intuito de forjar
uma identidade regional sul-mato-grossense, criar uma comunidade imaginada, um
companheirismo entre a população do novo Estado. Tecer uma essência comum, onde todos
se viam como homogêneos, possibilitava aglutinar os interesses individuais e as divergências
políticas em princípios coletivos e gerais, forjar sentimentos patrióticos de responsabilidade
política para com os demais membros da comunidade regional.
Referências Bibliográficas
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do conceito de região. In: Fronteiras, Dourados, MS, v.10, n.17, p.55-64, jan./jun. 2008.
AMARILHA, Carlos Magno Mieres. Os intelectuais e o poder: História, Divisionismo e
Identidade em Mato Grosso do Sul. Disponível em:
http://www.ufgd.edu.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=9. Acesso em
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divisionismo no Sul de Mato Grosso. Campo Grande: Ed. UFMS, 2009. 2 v.
BITTAR, Marisa. Mato Grosso do Sul: do estado sonhado ao estado construído (1892-1997)
2v. Tese (Doutorado em História) – FFLCH/USP, São Paulo, 1997.
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