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ESTADO DO MARANHÃO

SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA


POLÍCIA MILITAR DO MARANHÃO
DIRETORIA DE ENSINO
CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE PRAÇAS
Criado pela Lei Estadual nº 3.602, de 04/12/1974
Tel: (98) 3258.2128/2146 Fax: (98) 3245.1944 – End: BR 135, Km 2–Tirirical

DIREITO PENAL MILITAR

2018
APRESENTAÇÃO

Este trabalho representa um esforço coordenado dos integrantes do Centro de


Formação e Aperfeiçoamento de Praças – CFAP e objetiva fomentar a
produção de conhecimento, padronização de procedimentos operacionais e
proporcionar subsídios àqueles interessados em adquirir informações,
proporcionando também base teórica que deverá ser usada por todas as
Unidades Polos de Ensino da PMMA, por ocasião de Cursos de Formação ou
atualização, bem como poderá ser aprimorada e utilizada em outras atividades
de ensino que, com certeza, haverão de acontecer. Certamente, os
conhecimentos não foram exauridos e também não foi essa a nossa pretensão,
mas sim deixarmos nossa parcela de contribuição nesse contexto.

EQUIPE DE COORDENAÇÃO TÉCNICA:

COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: Ten.Cel QOPM Auceri Becker Martins (CMT


do CFAP) e Ten Cel QOPM Frederico Beltrão (Sub CMT do CFAP), Cap
QOPM Marco Aurélio Galvão Rodrigues (Chefe da Divisão de Ensino), Sgt PM
319/93 Ralph Miranda Melo (Auxiliar da Divisão de Ensino), Cb PM almicele Sá
do Nascimento (Auxiliar da STE) e Sd PM Walfran Sousa do Nascimento
(Auxiliar da STE).

Responsável pela edição e aprimoramento textual:


Ten Cel QOPM Auceri Becker Martins - Cmt. CFAP
MENSAGEM DO COMANDANTE

Caros alunos e alunas do Curso de Formação de Soldados da


Polícia Militar do Estado do Maranhão. Vocês foram selecionados entre muitos,
candidatos para uma carreira promissora e de ascensão, a qual tem como
meta a preservação da ordem pública e segurança interna do nosso Estado.
Parabéns pela vitoriosa caminhada feita até aqui. Foram ultrapassados os
desafios iniciais das entrevistas, dos exames e das avaliações para serem
considerados “aptos” a uma nova etapa desta seleta carreira.

São notórias as expectativas e perguntas, no entanto, venham com


o compromisso e disposição para um aprendizado constante que tem o objetivo
de ampliar seus conhecimentos e habilitá-los de maneira que possam atuar
como agentes de segurança de forma preventiva e/ou repressiva como força
de dissuasão em caso de perturbação da ordem, mantenedores da ordenação
pública e multiplicadores de uma polícia baseada na proximidade com a
comunidade.

A formação profissional é óbvia e exige de seus aprendizados


dedicação intelectual, moral, física, espiritual e muitas vezes abdicação de seus
familiares e amigos. Valorizem os sacrifícios que venham enfrentar e os limites
conquistados. Aprenderão a amar a verdade e respeitar acima de tudo e todos
à justiça, e assim promovê-la sempre a todo custo na busca de uma sociedade
mais justa e igualitária.

Temos a expectativa de que todos vocês concluam com êxito todas


as etapas neste processo de formação que ora se inicia. A sociedade
maranhense certamente anseia por novos agentes de segurança pública e
acredita numa pacificação social.

Sendo assim, em nome da Polícia Militar do Estado do Maranhão,


sejam bem vindos! E considerem-se neste momento impar de vossas vidas,
futuros Soldados da Polícia Militar.

Que o Senhor nosso Deus os proteja e vos abençoe!

CEL QOPM Jorge Allen Guerra Luongo


COMANDANTE GERAL DA POLÍCIA MILITAR DO MARANHÃO
PALAVRAS DO COMANDANTE DO CFAP

O incremento intelectual e técnico na qualidade do serviço dos profissionais em


segurança pública é filosofia de gestão do Centro de Formação e
Aperfeiçoamento de Praças da PMMA desde que travei meu primeiro contato
com o ensino nessa instituição.
O educador militar persegue o objetivo de satisfazer plenamente nosso cliente
e estabelece o conceito de “confiável” para um formando na prestação de
serviços. Alinhados com o discurso de aliança entre modernidade e tradições,
os profissionais desse Centro buscam ininterruptamente, identificar
oportunidades de melhoria a partir da experimentação e aprimoramento de
práticas, nunca indiferentes às possibilidades de inovação, preservando valores
éticos pautados em respeito ao cidadão e ao próprio policial militar.
Em um ano de profunda inquietação social e de eventos da magnitude de uma
eleição presidencial e de uma copa do mundo em nosso país, enfrentamos o
desafio de fazer segurança pública de qualidade. Vivemos essa nova ordem
mundial, sem fronteiras na informação, onde ideologias se inflamam e paixões
transbordam preceitos de respeito, civilidade e urbanidade. Momento em que a
preservação da paz social se faz imperativa, sob pena de sucumbirmos ante ao
caos, o crime e a anarquia.
É na preparação desse profissional que sustentará os alicerces da democracia
nas ruas e nas palavras que debruçamos nossos esforços, talentos e trabalho
incessante. Precisamos estar familiarizados com as frequentes exigências
desse mundo em ebulição social, moral e ideológica, perseguindo novos
instrumentos de aprimoramento e progresso na seara educacional.
Atentos aos acontecimentos do nosso tempo, estamos inaugurando uma nova
gama de ferramental pedagógico, comparável às mais modernas instituições
de ensino da contemporaneidade, ofertando o uso de uma plataforma virtual
extremamente prática, funcional e confiável para o processo educativo. Trata-
se da Plataforma Moodle, fruto do sonho e empenho dos comandantes que me
antecederam na gestão dessa Unidade Escola.
Estaremos disponibilizando esse sistema magnífico durante toda a extensão
dos cursos oferecidos pelo CFAP, com profissionais, oficiais e praças PMS,
gabaritados e treinados por tutores experientes oriundos das universidades
mais respeitáveis do Estado do Maranhão, sempre na busca da excelência na
prestação de nosso serviço aos matriculados no ensino a distância.
Dessa forma senhores e senhoras, com a alma cheia de vontade e o
semblante humilde, ciente de que estamos recém iniciando essa jornada, que
começamos a trabalhar no ideal proposto por este Centro de Formação, que é
a de aproximar o policial militar da comunidade ampliando seu espectro de
percepções e sensibilidades sem jamais descuidar do seu preparo técnico e
intelectual para a prestação de um serviço à altura das expectativas do nosso
povo.
Reitero o fraterno e sincero abraço de meus predecessores, certo que darei
continuidade à mesma trajetória e ao mesmo sonho comum.
Muito obrigado!

Ten Cel QOPM Auceri Becker Martins


Comandante do CFAP
INTRODUÇÃO

Direito Penal Militar é o conjunto de normas jurídicas que define as


infrações penais militares, mediante as quais o Estado proíbe determinadas ações
ou omissões, cominando sanções (penas e medidas de segurança) aos infratores.

É ramo do Direito Público e abrange o estudo do crime, da pena, da


medida de segurança e do delinquente no âmbito militar.

Conceitos Atinentes à disciplina

AUTORIDADE

No vernáculo, autoridade significa o direito legalmente estabelecido


de se fazer obedecer; o organismo que possui esse poder; designação
atribuída ao representante de um governo ou de determinado seguimento ou,
ainda, o direito que determina o poder para ordenar; poder exercido para
fazer com que (alguém) obedeça; a pessoa que tem esse direito. Logo, em
termos simples, é possível perceber que a autoridade possui autorização para
determinar ações, em nome próprio, representando um seguimento do
Governo.

POSTO
É o grau hierárquico do oficial, conferido por ato do Presidente da
República ou do Ministro de Força Singular e confirmado em Carta Patente. O
posto de Almirante somente será provido em tempo de guerra.

GRADUAÇÃO

É o grau hierárquico da praça, conferido pela autoridade militar


competente. Os Aspirantes-a-Oficial e os alunos de órgãos específicos de
formação de militares são denominados praças especiais. A precedência entre
militares da ativa do mesmo grau hierárquico, ou correspondente, é
assegurada pela antiguidade no posto ou graduação, salvo nos casos de
precedência funcional estabelecida em lei. A antiguidade em cada posto ou
graduação é contada a partir da data da assinatura do ato da respectiva
promoção, nomeação, declaração ou incorporação, salvo quando estiver
taxativamente fixada outra data.

SUPERIOR HIERÁRQUICO

Modelo de organização administrativa vertical, constituído por dois


ou mais órgãos e agentes com atribuições comuns, ligados por um
vínculo jurídico que confere ao superior poder de direção e impõe ao
subalterno o dever de obediência, e isto é uma forma de organizar um ente
público, ou seja, em escalonar os diversos orgãos que a integram de forma
piramidal de modo a que possam dirigir a atuação dos subalternos e estes
tenham de obedecer aos superiores.

A Hierarquia Administrativa pode ser Interna ou Externa. É interna quando


se fala em relacionamento entre órgãos e agentes ou entre agentes, destina-se
apenas a organizar internamente a pessoa coletiva e não possui efeitos
externos querendo isto dizer nas relações com os particulares. Já a Hierarquia
Externa é uma hierarquia de órgãos. Na Hierarquia Externa está em causa a
repartição de competências, cujo exercício se traduz na prática de atos
administrativos que se repercutem na esfera dos particulares, por isso se
afirma que a hierarquia externa é relacional.

Depois de definida a noção de Hierarquia e feita a distinção entre Interna e


Externa, e estando perante uma relação em que há um superior e um
subalterno, deve-se questionar quais são os poderes do superior hierárquico.

Os poderes de superior são basicamente três, mas acaba por enumerar


outros, mais discutidos por se integrarem ou não na competência dos
superiores hierárquicos. Os primeiros três poderes que são apontados são: o
poder de direção, o poder de supervisão e o poder disciplinar. Os outros são o
poder de Inspeção, o poder de decidir recursos, o poder de decidir conflitos de
competência e o poder de substituição.

1-O poder de direção caracteriza a essência da relação hierárquica


e consiste num poder de o superior dar ordens e instruções. Há que
distinguir as Ordens das Instruções. As Ordens são comandos individuais e
concretos, enquanto as Instruções são comandos gerais e abstratos. Tanto as
ordens como as Instruções podem ser verbais ou escritas, e só produzem
efeitos nas relações entre subalternos e superiores, elas carecem de efeitos
externos.

2-O poder de supervisão traduz-se na susceptibilidade de o superior revogar


ou suspender os actos administrativos praticados por subalternos, e pode
ser exercido de duas maneiras: por iniciativa do superior - avocação - ou por
recurso hierárquico interposto por interessado.

3-O poder de disciplinar consiste na faculdade de o superior punir o


subalterno com a aplicação de sanções previstas na lei devido a
infracções cometidas contra a disciplina da função pública.
4- O poder de inspeção consiste na fiscalização continua do
comportamento do subalterno. É um poder que cronologicamente segue-se
ao poder de direção e antecedente os poderes de supervisão e disciplinar.

5- O poder de decidir recursos que é a faculdade de o superior reapreciar


os casos decididos pelos subalternos, podendo confirmar ou revogar os
actos impugnados.

6-O poder de decidir conflitos de competência é a faculdade de o superior


declarar em caso de conflito entre subalternos seus a qual deles pertence a
competência conferida por lei. (artº42 e 43 do CPA)

7-O poder de substituição - a lei ou por delegação de poderes - concede ao


superior hierárquico poder de substituição dos actos do subalterno.
Os poderes de direção, supervisão, inspeção, o poder de decidir recursos, não
precisam de acolhimento expresso na lei, porque decorrem da natureza da
relação hierárquica.

DA ATIVIDADE E INATIVIDADE DO MILITAR

Como é sabido, duas são as situações em que o militar pode


encontrar-se: na ativa (em atividade) ou na inatividade.
Em breves palavras, o militar inativo, é aquele que está
na reserva (remunerada ou não remunerada) ou foi reformado.
Se o militar encontra-se, p. exemplo, em gozo de férias, usufruindo de licença-
médica ou de qualquer outro tipo, ele não perde a qualidade de militar
da ativa. Somente se passar para a reserva ou for reformado é que o militar
estará em situação de inatividade.
O militar reformado diferencia-se do militar da reserva por não poder, em
hipótese alguma, ser chamado à atividade, quer seja porque atingiu uma idade
limite, quer seja porque sofreu um acidente que o incapacitou para o serviço.
Todavia, o militar da reserva poderá ser chamado e voltar à atividade,
conforme atesta o artigo 12 do CPM, in verbis:

Art. 12: O militar da reserva ou reformado, empregado na administração militar,


equipara-se ao militar em situação de atividade para o efeito de aplicação da lei
penal militar.

Na PM é comum que ocorra essa situação de o militar inativo, por sua


especialidade ou algum outro motivo, ser chamado novamente à atividade, a
fim de que exerça, muitas das vezes, a mesma função que exercia quando
estava na ativa.
1 PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL MILITAR

1.1 Da Legalidade

Tem significado político e jurídico, no primeiro caso é garantia


constitucional dos direitos do homem e, no segundo, fixa o conteúdo das normas
incriminadoras, não permitindo que o ilícito penal seja estabelecido
genericamente, sem definição prévia da conduta punível: Art. 5º, XXXIX, da CF e
Art.1º do CP.

1.2 Da Anterioridade

Há necessidade por princípio de que haja lei anterior disciplinando a


conduta; a relação jurídica é definida pela lei vigente na data do fato. Art. 1º do
CP.

1.3 Da Irretroatividade (retroatividade da Lei benigna)

A lei não retroagirá, salvo para beneficiar o réu, é uma garantia


individual constitucional e quem deve atender o Judiciário e o Legislativo ao
cuidarem da tutela penal. Art. 5º, XL da CF.

1.4 Da Taxatividade

As leis que definem os crimes devem ser precisas de modo a delimitar


exatamente a conduta que objetivam punir, Não são aceitas leis vagas ou
imprecisas.

1.5 Da Reserva Legal

Somente lei pode determinar o que é crime, ou seja, somente a lei (lei
federal) pode definir crimes e cominar penas.
1.6 Da Especialidade

Neste caso a lei especial derroga a lei geral, ou seja, o Código Penal
manda aplicar as regras gerais do mesmo codex aos fatos indiscriminados por lei
especial se esta não dispuser de modo diverso. Art. 12 do CP.

1.7 Da intervenção Mínima

O Estado somente deve intervir nos casos de ataque graves aos bens
jurídicos importantes, deixando os demais à aplicação das sanções extra-penais
ou administrativas.

1.8 Da Proporcionalidade

Deve haver uma proporção, um equilíbrio entre a conduta delituosa do


agente e a sanção prevista para o tipo penal.

1.9 Da Humanidade

Deve haver uma responsabilidade social nas sanções penais, visando


sua reabilitação e reintegração a sociedade.

1.10 Da culpabilidade

Exige-se a presença do dolo ou da culpa na conduta do agente, sendo


indispensável que a pena seja imposta por sua própria ação e não por eventual
desvio de caráter.

1.11 Da Disciplina e Hierarquia

O que melhor expressa a diferença entre a disciplina dos servidores


civis a dos servidores militares, para Martins, é o rigorismo (1996: 24), que
deve não ser confundido com autoritarismo. O rigorismo é a rigidez no
cumprimento eficiente dos misteres militares. Não significa que a disciplina
deve ser utilizada como método de incutir temeridade na tropa. A disciplina
deve ser utilizada como uma forma de comando, visando corrigir o militar e
redireciona-lo nos mesmos objetivos da corporação, que é dar máxima
eficiência ao controle da violência e garantir a justiça, a dignidade da pessoa
humana e as liberdades individuais e coletivas. Como bem ressaltou Martins,
"só quando a autoridade disciplinar impõe a sanção administrativa com o
comedimento necessário, obedecendo o due process of law, e objetivando a
reeducação do subordinado é que os laços de disciplina se reforçam e a
credibilidade do comando aumenta." (1996: 33).

A interpretação dos princípios da hierarquia e da disciplina militares se


faz através de sua concretização, tendo em consideração a aceitação das
práticas disciplinares pelos militares comandados e as divisões funcionais entre
as instituições militares no Estado. Como ensina Diniz, "a interpretação
constitucional, portanto, não é subsunção, mas concretização", revelando que o
conteúdo da norma interpretada se dá através da interpretação. (2002: 261). A
disciplina militar somente é auferida quando é desencadeado o processo que
leva a sanção ou absolvição do militar infrator. Importante frisar que para
alcançar a disciplina, necessário que o procedimento administrativo obedeça
todos os trâmites legais, garantidos ao militar acusado seus direitos
constitucionais, inclusive de ser defendido por advogado e ter oportunidade de
produzir provas. Sem estas condições, a punição só contribui para a
indisciplina, para conspiração, para a revolta e o descrédito do comando.
Também devem ser consideradas as vivências dos militares de tal sorte que a
aplicação da punição tenha eficiência corretiva. Ou seja, é necessária que a
punição seja razoável e suficiente para a infração disciplinar cometida. Para
tanto, deve-se meditar sobre as funções que as diferentes instituições militares
exercem e consideradas suas vivências.

2 DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR

2.1 Crimes militares em tempo de paz

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

I – os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo


diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente,
salvo disposição especial;

II – os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com


igual definição na lei penal comum, quando praticados;

a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra


militar na mesma situação ou assemelhado;

b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar


sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou
assemelhado, ou civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em
comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito
à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil
(Redação da Lei nº 9.299, de 08 de agosto de 1996);

d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra


militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o


patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar;

f) revogada. (Vide Lei nº 9.299, de 08 de agosto de 1996);

III – os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por


civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os
compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos:

a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem


administrativa militar;

b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação


de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da
Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo;

c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão,


vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento
ou manobras;

d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra


militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de
vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou
judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a
determinação legal superior.

Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, quando


dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão da competência da justiça
comum. (incluído pela Lei nº 9.299, de 08 de agosto de 1996).
Critérios adotados

Expresso

- Ratione legis: são militares aqueles delitos que o legislador


ordinário assim conceitua . É o adotado pelo Código Penal Militar em
conseqüência do que preceitua os arts. 124 e 125, § 4º, da CF/88.

Não expressos

- Ratione materiae: exige que se verifique a dupla ocorrência da


qualidade militar -no ato e no agente.;

- Ratione loci: o doutrinador leva em consideração para classificar


como crime militar, o lugar do crime, bastando, portanto, que o delito ocorra em
lugar sob administração militar, para se Ter um crime militar ;

- Ratione temporis: indica que os delitos praticados em determinada


época, por exemplo, os ocorridos em período de guerra, independente de
comprometer ou não a preparação, eficiência ou as operações militares, ou de
qualquer outra forma, atentar contra a segurança externa do País ou expô-la a
perigo, são crimes militares, ou durante o período de manobras ou exercícios;

- Ratione personae: por seu turno, leva em conta a qualidade do


autor enquanto militar;

O CRIME MILITAR

Para saber se a conduta é crime militar ou não, se faz necessária


uma “dupla adequação”.

Em um primeiro momento devemos realizar a adequação da conduta


em um dos tipos penais previstos na Parte Especial do CPM.

Há condutas delituosas que embora sejam crimes e possam ser


praticadas em local militar, por militar e contra militar, não serão crimes
militares, como por exemplo: o crime de infanticídio, aborto, furto de coisa
comum etc., já que tais crimes não estão previstos no CPM, mas tão-somente
na Lei Penal Comum.

Encontrado na Parte Especial do CPM um tipo penal em que a


conduta venha a se adequar perfeitamente, será necessária uma segunda
adequação, agora no artigo 9º do CPM, que vai considerar uma conduta como
crime militar em tempo de paz.

I – os crimes de que trata este Código, quando definidos de


modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja
o agente, salvo disposição especial;

Há crimes que existem no CPM e no CP comum, com a mesma


rubrica, mas possuem o tipo diferente. Essa é a primeira parte do inciso I, do
artigo 9º, do CPM.

Falso testemunho ou falsa perícia

CPM

Art. 346. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como


testemunha, perito, tradutor ou intérprete, em inquérito policial, processo
administrativo ou judicial, militar.

CP

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como


testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral.

Falsidade ideológica

CPM

Art. 312. Omitir, em documento público ou particular, declaração que


dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa
da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, desde que o fato atente
contra a administração ou o serviço militar.

CP

Art. 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração que


dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa
da que devia ser escrita, com o fi m de prejudicar direito, criar obrigação ou
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.

I – os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo


diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o
agente, salvo disposição especial;

A 2ª parte do inciso I trata dos não previstos na lei comum. São os


crimes que somente existem no CPM, como por exemplo: deserção,
insubmissão, pederastia, ingresso de clandestino etc.

Tanto os crimes definidos de modo diverso na Lei Penal Comum,


quanto os crimes somente previstos no CPM, podem ser praticados por
qualquer pessoa.

É necessário atentar para a parte final do inciso I, quando utiliza a


expressão “salvo disposição especial”. Essa expressão deve ser entendida em
confronto com a expressão “qualquer que seja o agente”.

Esta expressão é na verdade alguma condição específica exigida do


agente para a caracterização do crime, como por exemplo: a Deserção, que
exige a condição de militar (artigo 187), omissão de eficiência da força, que
exige a condição de comandante (artigo 198) e a insubmissão, que exige a
condição de civil e convocado (artigo 183).

Quando a parte final do inciso I, do artigo 9º, refere-se “qualquer que


seja o agente, salvo disposição especial”, esta “disposição especial” está em
confronto e tratando da expressão “qualquer que seja o agente”.
A “disposição especial” é uma condição específica do agente para o
cometimento do crime prevista no tipo penal militar.

Para os crimes de igual definição no CPM e no CP comum, são


aplicáveis os incisos II e III, do artigo 9º.

II – os crimes previstos neste Código, embora também o sejam


com igual definição na lei penal comum, quando praticados:

O inciso II é voltado para o militar, pois todos os incisos referem-se


ao militar.

AMPLIAÇÃO DO CONCEITO DE CRIME MILITARA PARTIR DA


LEI 13.491/17

Antes da alteração, o art. 9, II, do Código Penal Militar previa o


seguinte:
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual
definição na lei penal comum, quando praticados:
Após a mencionada lei, passou a prever que:
II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal,
quando praticados: (Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017)
Nota-se, portanto, que houve uma ampliação dos crimes de natureza
militar, uma vez que qualquer crime existente no ordenamento jurídico
brasileiro poderá se tornar crime militar, a depender do preenchimento de uma
das condições previstas no inciso II do art. 9º do Código Penal Militar.
Antes, o inciso II era claro ao dizer que somente os crimes previstos
“neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal
comum” eram crimes militares.
Isto é, somente os crimes previstos no Código Penal Militar eram
crimes militares.
Com a alteração legislativa, a previsão é de que “os crimes previstos
neste Código” (Código Penal Militar) e os “previstos na legislação penal” (todas
as leis penais do país) também são crimes militares, quando preenchida uma
das hipóteses do inciso II do Código Penal Militar.
As hipóteses previstas no inciso II do art. 9º do Código Penal Militar
são, em síntese, os crimes cometidos entre militares; envolvendo militar em
lugar sujeito à administração militar contra civil; militar em serviço ou atuando
em razão da função, hipótese de maior incidência dos crimes militares; militar
em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar
sujeito à administração militar contra civil; militar durante o período de
manobras ou exercício contra civil; militar em situação de atividade, ou
assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem
administrativa militar.
Como exemplo, podemos citar: a) crime de disparo de arma de fogo
praticado por militar em serviço; b) crime de tortura praticado por policial militar
em serviço ou em razão da função: c) crime de abuso de autoridade praticado
por militar em serviço; d) assédio sexual; e) crime de possuir imagens de
crianças e adolescentes em situações pornográficas, quando os militares a
obtiverem em razão do serviço e tenham essas imagens não com a finalidade
de comunicarem a autoridade competente.

CONCEITO DE MILITAR

CPM

Art. 22. É considerado militar, para efeito da aplicação deste Código,


qualquer pessoa que, em tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às
forças armadas para nelas servir em posto, graduação, ou sujeição à disciplina
militar.

CF/88

Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros


Militares, instituições com base na hierarquia e disciplina, são militares dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

CF/88

Art. 142. [...]

[...]

§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares,


aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes
disposições:

[...]

Como militar, entende-se quem se encontra incorporado às Forças


Armadas, à Polícia Militar e ao Corpo de Bombeiros Militares, mesmo afastado
temporariamente do serviço ativo, por licença para tratamento de saúde,
licença especial, férias, licença para tratar de interesse particular, etc.
Enfim, o que interessa é o vínculo à instituição militar que
desaparece com a exclusão do serviço ativo, por transferência para a reserva
remunerada, por reforma, demissão ou outros previstos no Estatuto dos
Militares.

Militar, ou não, para a Justiça Militar Federal

- militar federal (incorporado às Forças Armadas): militar, para efeito


de aplicação da lei penal militar pela Justiça Militar Federal. Para esse fim,
somente ele, exclusivamente ele é considerado militar;

- militar federal na inatividade (na reserva ou reformado):


considerado civil para efeito de aplicação da lei penal militar pela Justiça Militar
Federal, ressalvados os crimes cometidos antes de passar para a inatividade;

- militar estadual (integrante da Polícia Militar e do Corpo de


Bombeiros Militares): considerado civil para efeito de aplicação da lei penal
militar pela Justiça Militar Federal;

- policial militar ou bombeiro militar na inatividade (na reserva ou


reformado): considerado civil para efeito de aplicação da lei penal militar pela
Justiça Militar Federal.

Militar, ou não, para a Justiça Militar Estadual

- militar estadual (integrante da Polícia Militar e do Corpo de


Bombeiros Militares): militar para efeito de aplicação da lei penal militar pela
Justiça Militar Estadual;

- militar estadual na inatividade (na reserva ou reformado):


considerado civil. Dessa forma, não estão sujeitos à Justiça Militar Estadual,
ressalvados os crimes cometidos quando se encontravam no serviço ativo.

a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra


militar na mesma situação ou assemelhado; (Ratione personae)

- Art. 22, CPM; Art. 42 e Art. 142, § 3º, ambos da CF/88.


b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar
sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou
assemelhado, ou civil; (Ratione loci)

Lugar sujeito à Administração Militar

É o espaço físico em que as forças militares realizam suas


atividades, como quartéis, aeronaves, embarcações, estabelecimentos de
ensino militar, campos de treinamento etc.

Não são considerados lugar sujeito à Administração Militar

- Residência fornecida a oficial ou praça das Forças Armadas,


Polícias Militares ou Corpo de Bombeiros Militares, como moradia. (Art. 5º, XI,
CF/88);

- Quartos alugados a militares em hotéis de trânsito (individual);

- Viaturas, embarcações e aeronaves de pequeno porte, botes,


helicópteros, motocicletas etc.

c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em


comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito
à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;
(Ratione materiae)

Crime militar em razão do dever jurídico de agir

É quando o policial militar, à paisana, e de folga, e com armamento


particular, comete o fato delituoso por ter se colocado em serviço, intervindo
numa situação de flagrância. (Art. 301, CP; Art. 243, CPPM).

Não é considerado crime militar em razão do dever jurídico de agir

- Policial Militar que comete o delito como Segurança Particular;

- Policial Militar que defende a sua vida.


d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra
militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; (Ratione temporis)

Período de manobras ou exercício

É o espaço temporal compreendido entre o aprontamento da tropa


até sua liberação.

e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o


patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar;

Patrimônio sob a Administração Militar

Abrange, além dos bens pertencentes à Força Militar, os de


propriedade de pessoas naturais e jurídicas que, por alguma razão, encontram-
se sob responsabilidade da Administração Militar.

Não é considerado patrimônio sob a Administração Militar

- Os bens de entidades civis, ainda que compostas por militares, por


exemplo, clubes, associações, cooperativas etc.)

Ordem administrativa militar

É a própria harmonia da instituição, abrangendo sua administração,


o decoro de seus integrantes etc. Atingem a organização, existência e
finalidade da instituição, bem como o prestígio moral da administração.

III – os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por


civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os
compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos:

O inciso III, do artigo 9º, são as hipóteses em que o militar da


reserva, reformado e civil, comete uma conduta tipificada no CPM, sendo ainda
necessário que haja adequação, também em uma das hipóteses das suas
alíneas.

2.2 CRIME PRÓPRIA E IMPROPRIAMENTE MILITAR

O critério de nosso ordenamento para definir o crime militar, a


exemplo da Itália e da Alemanha, é o ratione legis. Assim, são crimes militares
aqueles enumerados pela lei. Tal critério (legal), adotado desde a Constituição
de 1946, evidencia-se na atual Carta Magna pelo disposto nos arts. 124 e 125,
§ 4º.

Emenda Constitucional nº 45, de 08/12/2004.

Manteve, no âmbito estadual, a competência para julgar os crimes


acidentalmente (impropriamente) militares, ampliando sua competência para
apreciar ações impetradas contra atos disciplinares, próprios das instituições
militares.

Art. 18 do CPPM – Detenção (cautelar) do indiciado

“Independentemente de flagrante delito, o indiciado poderá ficar


detido, durante as investigações policiais, até 30 (trinta) dias, comunicando-se
a detenção à autoridade judiciária competente. Esse prazo poderá ser
prorrogado, por mais 20 (vinte) dias, pelo comandante da Região, Distrito Naval
ou Zona Aérea, mediante solicitação fundamentada do encarregado do
inquérito e por via hierárquica”.

Com o advento da Carta de 1988 tal dispositivo restou mitigado pelo


art. 5º, inciso LXI. Nesse sentido , a detenção própria do encarregado do
inquérito policial militar somente seria cabível nos crimes militares próprios.

Art. 64, II, do CP – Para efeito de reincidência

“Não se consideram os crimes militares próprios e políticos”.

Crimes próprios militares


Constituem infrações penais militares que somente podem ser
cometidas por militar em uma condição funcional específica, como a de
comandante (arts. 198, 201 etc).

2.2.1 Teoria clássica (Direito Romano) - Célio Lobão/Jorge


César de Assis

Crimes propriamente militares seriam os que só podem ser


cometidos por militares, pois consistem em violação de deveres que lhes são
próprios. Trata-se, pois, do crime funcional praticável somente pelo militar.
Assim, a deserção (art. 187), dormir em serviço (art. 203) etc.

Os crimes comuns em sua natureza, praticáveis por qualquer


pessoa, civil ou militar, são os chamados impropriamente militares. Por
exemplo: o homicídio de um militar praticado por outro militar, ambos em
situação de atividade (art. 9º, II, a, c/c o art. 205), ou a violência contra
sentinela (art. 158).

Exceção:

O crime de insubmissão (art. 183), considerado o único crime


propriamente militar que somente o civil pode cometer.

A incorporação do faltoso, portanto a qualidade de militar, é


condição de punibilidade ou de procedibilidade, nos termos do art. 464, § 2º, do
CPPM. Antes de adquirir a qualidade de militar, com sua inclusão nas Forças
Armadas, não cabe ação penal contra o insubmisso.

2.2.2 Visão da doutrina penal comum

Os crimes propriamente militares têm definição diversa da lei penal


comum ou nela não se encontram. Seriam crimes militares próprios, dessarte,
aqueles de que trata o inciso I do art. 9º do CPM; e impropriamente militares os
abrangidos pelo inciso II do mesmo dispositivo.
2.2.3 Teoria de Jorge Alberto Romeiro

Crime propriamente militar traduz-se por aquele cuja ação penal


somente pode ser proposta contra militar.

2.3 OS CRIMES MILITARES DOLOSOS CONTRA A VIDA DE


CIVIL

Ainda referente ao artigo 9º do CPM, é necessário tecer alguns


comentários sobre seu parágrafo único, acrescentado pela Lei nº 9.299/96.

Como se sabe, no Brasil a questão de policiais militares ligados a


grupos de extermínio não é um fenômeno de todo raro.

A sociedade brasileira (certamente por desconhecimento) acreditava


que o julgamento de policiais pela Justiça Militar era um privilégio de classe,
onde imperava o corporativismo. Diante do clamor social, surgiu a Lei nº 9.299,
de 7 de agosto de 1996, com o seguinte texto:

Art. 1º O art. 9° do Decreto-lei n° 1.001, de 21 de outubro de 1969 –


Código Penal Militar, passa a vigorar com as seguintes alterações:

Art. 9°

[...]

II –

[...]

c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em


comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito
à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;

[...]

f) revogada.

[...]
Parágrafo único. “Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos
contra a vida e cometidos contra civil, serão da competência da justiça
comum.”

Art. 2° O caput do art. 82 do Decreto-lei n° 1.002, de 21 de outubro


de 1969 – Código de Processo Penal Militar, passa a vigorar com a seguinte
redação, acrescido, ainda, do seguinte §2°, passando o atual parágrafo único a
§ 1°:

[...]

Art. 82. O foro militar é especial, e, exceto nos crimes dolosos contra
a vida praticados contra civil, a ele estão sujeitos, emtempo de paz:

[...]

§ 1°[...]

§ 2° “Nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, a


Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça
comum”.

Art. 3° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

A nova lei alterou a competência para processar e julgar os crimes


dolosos praticados por militares contra a vida de civil, ainda que na forma do
artigo 9º do CPM, sendo alterada também a competência constitucional para
processar e julgar os crimes militares da Justiça Militar da União para o tribunal
do júri.

Como dito, a intenção do legislador foi alterar a competência da


Justiça Militar dos Estados, porém modificou, também, a competência da
Justiça Militar da União.

No âmbito da Justiça Militar dos Estados, a EC 45/2004 alterou


constitucionalmente a competência. Eis o dispositivo em comento:
Art. 125 – Os Estados organizarão sua Justiça, observados os
princípios estabelecidos nesta Constituição.

§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os


militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais
contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando
a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do
posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Redação da EC nº
45 – 31/12/2004).

Embora resolvida a questão referente à Justiça Militar dos Estados,


no âmbito da União, a questão permanece, gerando perplexidade aos
profissionais que se dedicam ao estudo do Direito Penal Militar.

Tal ausência de sistematização, não só da legislação castrense, mas


também das reformas legislativas, demonstram o desconhecimento (para não
dizer o esquecimento) por parte do Poder Legislativo sobre a atividade militar, o
que resulta em uma legislação ultrapassada sobre certos aspectos (vide a Lei
dos Crimes Hediondos, inaplicáveis ao Direito Penal Militar).

Para alguns, a inconstitucionalidade da Lei reside na alteração da


competência para processar e julgar crimes militares dolosos contra a vida de
civil, praticados por militares, nas situações do artigo 9º do CPM, sem retirar o
caráter militar do delito, ou seja, o crime (que continua sendo militar) será
julgado pelo tribunal do júri.

3 DAS PENAS

3.1 Das Penas principais

Art. 55. As penas principais são:

a) morte;

b) reclusão;

c) detenção;
d) prisão;

e) impedimento;

f) suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função;

g) reforma.

Sobre as penas, por oportuno, merecem registro os comentários de


Ione de Souza Cruz e Claudio Amin Miguel:

As penas principais previstas no Código Penal Militar são as


seguintes: morte, reclusão, detenção, prisão, impedimento, suspensão do
exercício do posto, graduação, cargo ou função e reforma.

Impõe-se ressaltar que inexiste previsão expressa no CPM quanto à


aplicação de penas restritivas de direito em substituição às privativas de
liberdade, como dispõem os artigos 43 a 48 do CP. No entanto, alguns
entendem que tal substituição poderia ocorrer no caso de acusado civil, pois,
se existe uma legislação militar em razão da preservação dos princípios de
hierarquia e disciplina, o crime praticado por agente civil, em geral, não
afrontaria esses princípios de forma direta.

Acrescente-se que, se o agente vier a ser condenado à pena


superior

a dois anos, há de cumpri-la em estabelecimento prisional civil, e o


juiz da execução será o da Vara de Execuções Penais.

Não há qualquer divergência quanto à inaplicabilidade de pena de


multa. (Op. cit. p. 120/121).

[...]

Penas Acessórias, como indica o nome, são aquelas que dependem


da imposição de uma principal. Originam-se das antigas restrições de direito
impostas em conseqüência a uma condenação penal. Perante o direito
positivo, são consideradas efetivamente sanções penais, não devendo ser
confundidas com os efeitos da condenação (art. 109 do CPM), nem tampouco
podem configurar medidas de segurança.

O Código Penal de 1940 trazia a previsão de penas acessórias,


tendo sido estas abolidas por ocasião da reforma penal de 1984, quando foram
disciplinadas as penas restritivas de direitos. (Op.

cit. p. 193).

A Lei Castrense possui algumas particularidades sobre a matéria


que merecem relevo.

■ Pena de morte

A pena capital cominada tão-somente para crimes militares


praticados em tempo de guerra, deve ser executada por fuzilamento, de acordo
com o art. 56, atendido o contido no art. 57, que trata da sua comunicação.

Art. 56. A pena de morte é executada por fuzilamento.

Art.57.A sentença defi nitiva de condenação à morte é comunicada,


logo que passe em julgado, ao Presidente da República, e não pode ser
executada senão depois de sete dias após a comunicação.

Parágrafo único. Se a pena é imposta em zona de operações de


guerra, pode ser imediatamente executada, quando o exigir o interesse da
ordem e da disciplina militares.

Aparentemente não há nenhuma inconstitucionalidade na previsão


desta pena, tendo em vista o art. 5, XLVII da CF.

■ Mínimos e máximos genéricos

Art. 58. O mínimo da pena de reclusão é de um ano, e o máximo de


trinta anos; o mínimo da pena de detenção é de trinta dias, e o máximo de dez
anos.

As penas privativas de liberdade são as de reclusão, detenção e


prisão. De acordo com o art. 58, o mínimo da pena de reclusão é de 1 (um)
ano, com o máximo de 30 (trinta) anos. Já para a de detenção, aplica-se um
mínimo de 30 (trinta) dias e um máximo de 10 (dez) anos.

A pena de prisão conforme o art. 59 do CPM só existe na forma de


conversão.

■ Pena até dois anos imposta a militar

Art. 59 – A pena de reclusão ou de detenção até 2 (dois) anos,


aplicada a militar, é convertida em pena de prisão e cumprida, quando não
cabível a suspensão condicional: (Redação da Lei nº 6.544, de 30 de junho de
1978);

I – pelo oficial, em recinto de estabelecimento militar;

II – pela praça, em estabelecimento penal militar, onde ficará


separada de presos que estejam cumprindo pena disciplinar ou pena privativa
de liberdade por tempo superior a dois anos.

■ Separação de praças especiais e graduadas

Parágrafo único. Para efeito de separação, no cumprimento da


pena de prisão, atender-se-á, também, à condição das praças especiais e à
das graduadas, ou não; e, dentre as graduadas, à das que tenham graduação
especial.

■ Pena de impedimento

Art. 63. A pena de impedimento sujeita o condenado a permanecer


no recinto da unidade, sem prejuízo da instrução militar.

■ Pena de suspensão do exercício do posto, graduação, cargo


ou função

Art. 64. A pena de suspensão do exercício do posto, graduação,


cargo ou função consiste na agregação, no afastamento, no licenciamento ou
na disponibilidade do condenado, pelo tempo fixado na sentença, sem prejuízo
do seu comparecimento regular à sede do serviço. Não será contado como
tempo de serviço, para qualquer efeito, o do cumprimento da pena.

■ Caso de reserva, reforma ou aposentadoria

Parágrafo único. Se o condenado, quando proferida a sentença, já


estiver na reserva, ou reformado ou aposentado, a pena prevista neste artigo
será convertida em pena de detenção, de três meses a um ano.

■ Pena de reforma

Art. 65. A pena de reforma sujeita o condenado à situação de


inatividade, não podendo perceber mais de um vinte e cinco avos do soldo, por
ano de serviço, nem receber importância superior à do soldo.

A pena de impedimento sujeita o sentenciado a permanecer no


recinto da Unidade Militar, devendo o mesmo participar de toda a instrução
militar. É cominada apenas para o delito de insubmissão.

A pena de suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou


função, bem como a de reforma além de estarem no art. 55 são mencionadas
também nos arts. 64 e 65.

Novamente cabem as lições de Ione de Souza Cruz e Cláudio Amin


Miguel:

A suspensão tem, por óbvio, caráter temporário, e determina o


afastamento do oficial (detentor de posto) ou da praça (cabo, sargento e
suboficial/subtenente – detentores de graduação) mediante “agregação,
afastamento, licenciamento ou disponibilidade”,

termos esses definidos no Estatuto do Militares (Lei nº 6.880/80)


(Op. cit. p. 130).

[...] a reforma é uma das hipóteses de passagem do militar à


situação de inatividade. Como pena, é operada ex officio (art. 104, inciso IV), e
pode ser imposta a oficiais e praças, estas últimas com estabilidade
assegurada. De fato, a pena de reforma aplicada a uma praça não estável
haveria de constituir verdadeiro prêmio, uma vez que importaria uma
constituição de direito que possuía na atividade, antes da condenação.

Mesmo assim, o art. 65 impõe a redução do valor dos proventos a


serem auferidos em caso de condenação à pena de Reforma, a fim

de que não seja o sentenciado beneficiado com uma remuneração


integral. Contudo, há que se registrar que os militares são servidores públicos,
garantindo-se-lhes a Constituição Federal a irredutibilidade de vencimentos.
Decerto o militar pode ser condenado à pena de Reforma. A remuneração
cabível, porém, deverá ser calculada proporcionalmente ao seu tempo de
efetivo serviço, podendo-lhe ser vedado o recebimento de quantia superior
àquela que vinha percebendo na ativa.

Cumpre registrar que não se trata de pena pecuniária, e sim de


verdadeira segregação do infrator do convívio de seus pares. (Op. cit. p. 134).

Com relação às penas acessórias, cabe registrar que as previstas no


inciso I, II, III do art. 98 não foram recepcionadas pela Constituição da
República, segundo os preceitos do artigo 142 § 3º, inciso VI, tendo em vista
que este dispositivo constitucional determina:

Art. 142 [...]

§ 3º.[...]

Inciso VI da CF – o oficial só perderá o posto e a patente se for


julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal
militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em
tempo de guerra;

Nesse diapasão conclui-se que a pena de exclusão das forças


armadas só pode ser aplicada às praças.

Pontue-se ainda que a suspensão dos direitos políticos deve


respeitar o art. 15 da Constituição da República.
A perda da função pública está inserida no art. 103, devendo ser
observado ainda o artigo subseqüente. A suspensão do pátrio poder, da tutela
e da curatela no artigo 105 do CPM.

3.2 DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA

■ Pressupostos da suspensão

Art. 84 – A execução da pena privativa da liberdade, não superior a


2 (dois) anos, pode ser suspensa, por 2 (dois) anos a 6 (seis) anos, desde que:
(Redação da Lei nº 6.544, de 30 de junho de 1978).

I – o sentenciado não haja sofrido no País ou no estrangeiro,


condenação irrecorrível por outro crime a pena privativa da liberdade, salvo o
disposto no 1º do art. 71; (Redação da Lei nº 6.544, de 30 de junho de 1978).

II – os seus antecedentes e personalidade, os motivos e as


circunstâncias do crime, bem como sua conduta posterior, autorizem a
presunção de que não tornará a delinqüir. (Redação da Lei nº 6.544, de 30 de
junho de 1978).

■ Restrições

Parágrafo único. A suspensão não se estende às penas de


reforma, suspensão do exercício do posto, graduação ou função ou à pena
acessória, nem exclui a aplicação de medida de segurança não detentiva.

■ Condições
Art. 85. A sentença deve especificar as condições a que fica
subordinada a suspensão.

■ Revogação obrigatória da suspensão

Art. 86. A suspensão é revogada se, no curso do prazo, o


beneficiário:

I – é condenado, por sentença irrecorrível, na Justiça Militar ou na


comum, em razão de crime, ou de contravenção reveladora de má índole ou a
que tenha sido imposta pena privativa de liberdade;

II – não efetua, sem motivo justificado, a reparação do dano;

III – sendo militar, é punido por infração disciplinar considerada


grave.

■ Revogação facultativa

1º A suspensão pode ser também revogada, se o condenado deixa


de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença.

■ Prorrogação de prazo

2º Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés de decretá-


la, prorrogar o período de prova até o máximo, se este não foi o fixado.

3º Se o beneficiário está respondendo a processo que, no caso de


condenação, pode acarretar a revogação, considera-se prorrogado o prazo da
suspensão até o julgamento definitivo.

■ Extinção da pena

Art. 87. Se o prazo expira sem que tenha sido revogada a


suspensão, fica extinta a pena privativa de liberdade.

Não aplicação da suspensão condicional da pena

Art. 88. A suspensão condicional da pena não se aplica:


I – ao condenado por crime cometido em tempo de guerra;

II – em tempo de paz:

a) por crime contra a segurança nacional, de aliciação e incitamento,


de violência contra superior, oficial de dia, de serviço ou de quarto, sentinela,
vigia ou plantão, de desrespeito a superior, de insubordinação, ou de deserção;

b) pelos crimes previstos nos arts. 160, 161, 162, 235, 291 e seu
parágrafo único, ns. I a IV.

Segundo Damásio E. de Jesus:

Sursis quer dizer suspensão, derivando de surseoir, que significa


suspender. Permite que o condenado não se sujeite à execução de pena
privativa de liberdade de pequena duração.

Suponha-se que o agente seja condenado a três meses de detenção


pela prática de um crime de lesão corporal leve (CP, art. 129, caput). O juiz, na
sentença condenatória, desde que não seja caso de aplicação de pena
restritiva de direitos, reunidos os requisitos do instituto, concede ao réu o
sursis, dando os motivos da decisão (Lei de Execução Penal, art. 157). Na
sentença menciona as condições a que fi cará obrigado durante certo prazo
(Lei de execução Penal, art. 158). Notificado pessoalmente, o réu comparece à
audiência de advertência (ou admonitória). Na audiência o juiz lê ao réu a
sentença respectiva, advertindo-o das conseqüências de nova infração penal e
da transgressão das obrigações impostas (Lei de Execução Penal, art. 160).
Da data da audiência admonitória começa o período de prova, que varia de
dois a quatro anos (CP, art. 77, caput). Isso significa que o juiz, em vez de
determinar a execução da sanção imposta na sentença, concede a “suspensão
condicional da execução da pena” (sursis). O réu não inicia o cumprimento da
pena, ficando em liberdade condicional, por um período, chamado período de
prova, que varia de dois a quatro anos. Se o juiz marca o prazo de dois anos,
quer dizer que o condenado fi cará durante esse período em observação. Se
não praticar nova infração penal e cumprir as condições impostas pelo juiz,
este, ao final do período de prova, determinará a extinção da pena que se
encontrava com sua execução suspensa. Se durante o período de prova
houver revogação do sursis o condenado cumprirá a pena que se achava com
a execução suspensa.

O instituto, na reforma penal de 1984, não constitui mais incidente


da execução nem direito público subjetivo de liberdade do condenado. É
medida penal de natureza restritiva da liberdade de cunho repressivo e
preventivo. Não é um benefício.

O juiz não tem a faculdade de aplicar ou não o sursis: se presentes


os seus pressupostos a aplicação é obrigatória.

Existem dois sistemas em relação ao sursis:

• sistema anglo-americano (probation system);

• sistema belga-francês (europeu continental).

No Brasil, adotamos o 2º sistema, ou seja, o sistema belga-francês,


tanto no CP quanto no CPM.

Divergência interessante sobre os dois diplomas, provavelmente


levando-se em conta que a Justiça Militar é a guardiã da hierarquia e disciplina,
é o que prevê o art. 88 do CPM:

Art. 88: A suspensão condicional da pena não se aplica:

I – ao condenado por crime cometido em tempo de guerra;

II – em tempo de paz:

a) por crime contra a segurança nacional, de aliciação e incitamento,


de violência contra superior, oficial de dia, de serviço ou de quarto, sentinela,
vigia ou plantão, de desrespeito a superior, de insubordinação ou de deserção;

b) pelos crimes previstos nos art. 160, 161, 162, 235, 291 e seu
parágrafo único, ns I a IV.
Mais interessante ainda é o cotejo da Lei Adjetiva Castrense com o
artigo 617 do CPPM. Claramente nota-se que o delito de insubmissão que não
está previsto no art. 88 do CPM tem na Lei Adjetiva a sua menção. Resta a
questão: Pode o insubmisso ser beneficiado com o “sursis” ou não?

3.3 Do livramento condicional

■ Requisitos

Art. 89. O condenado a pena de reclusão ou de detenção por tempo


igual ou superior a dois anos pode ser liberado condicionalmente, desde que:

I – tenha cumprido:

a) metade da pena, se primário;

b) dois terços, se reincidente;

II – tenha reparado, salvo impossibilidade de fazê-lo, o dano


causado pelo crime;

III – sua boa conduta durante a execução da pena, sua adaptação


ao trabalho e às circunstâncias atinentes a sua personalidade, ao meio social e
à sua vida pregressa permitem supor que não voltará a delinqüir.

■ Penas em concurso de infrações

§ 1º No caso de condenação por infrações penais em concurso,


deve ter-se em conta a pena unificada.

■ Condenação de menor de 21 ou maior de 70 anos

§ 2º Se o condenado é primário e menor de vinte e um ou maior de


setenta anos, o tempo de cumprimento da pena pode ser reduzido a um terço.
Mais uma vez, se faz necessário mencionar da obra de Ione de
Souza Cruz e Claudio Amin Miguel:

Segundo a lição de Haroldo Caetano da Silva, livramento condicional


é a denominação dada ao benefício ou à concessão feita ao condenado, para
que fique livre da prisão a que estava sujeito, ainda antes do término da pena.
De fato, com o livramento condicional o condenado deixa de cumprir a pena
privativa de liberdade antes de seu termo final, constituindo, assim, uma
espécie de liberdade provisória concedida condicionalmente ao sentenciado.

O livramento condicional na Legislação Penal Comum tem natureza


jurídica de estágio final da execução da pena, enquanto na Legislação
Castrense ainda permanece com a natureza de incidente de execução. A
matéria foi tratada no CPM, em seu artigo 89 e seguintes, bem como no CPPM,
em seu artigo 618 e seguintes.

Observação curiosa deve ser aventada considerando a aplicação do


“sursis” e do livramento condicional na Legislação Castrense. Poderia o
condenado a uma pena aquém de dois anos, pela prática de um crime cujo
“sursis” é vedado, ser beneficiado com o livramento condicional, considerando
todos os requisitos e finalidades que norteiam a aplicação de uma sanção
privativa de liberdade?

4 DOS CRIMES CONTRA A AUTORIDADE OU DISCIPLINA MILITAR

4.1 Violência contra superior

Art. 157. Praticar violência contra superior:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.

Formas qualificadas

§1º Se o superior é comandante da unidade a que pertence o


agente, ou oficial general:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 9 (nove) anos.

§2º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de


1/3 (um terço).

§3º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da pena


da violência, a do crime contra a pessoa.

§4º Se da violência resulta morte:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

§5º A pena é aumentada da sexta parte, se o crime ocorre em


serviço.

A violência contra superior é crime propriamente militar por se tratar


de infração penal específica e funcional do ocupante de cargo militar. É crime
não previsto na lei penal comum (inc. I, 2ª parte, do art. 9º).

De acordo com Neto (1995, p. 125/126),

Violência em Direito Penal Militar quer dizer a violência física (vis


corporalis), consistente em tapas, empurrões, rasgar roupas, puxão de orelha,
pontapés e socos que podem ou não provocar lesões. Há necessidade de
contatos físicos diretos ou através de instrumentos, também físicos. Em regra é
a agressão sem a presença de lesão corporal. Poderíamos dizer que
corresponde a contravenção penal de ‘vias de fato’ (art. 21).

O conceito de superior vem descrito no artigo 24 do Código


Penal Militar, que dispõe:

CPM, Art. 24. O militar que, em virtude da função, exerce


autoridade sobre outro de igual posto ou graduação, considera-se superior,
para efeito da aplicação da lei penal militar.

O conceito de superior não decorre apenas da escala hierárquica,


como ocorre com o militar com o posto de capitão em relação ao primeiro-
tenente. Aqui, embora ambos tenham o mesmo posto, considera superior
aquele que, em virtude da função, exerce autoridade sobre outro de igual
posto ou graduação. Assim, aproveitando o mesmo exemplo anterior, se um
primeiro-tenente assume o comando de uma companhia, seu colega,
também primeiro-tenente, evidentemente mais moderno, servindo na mesma
companhia, praticará o delito em estudo se dolosamente desferir-lhe um
tapa ou empurrão.

4.2 Violência contra militar de serviço

Art. 158. Praticar violência contra oficial de dia, de serviço, ou de


quarto, ou contra sentinela, vigia ou plantão:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.

§1º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de


1/3 (um terço).

§2º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da


pena da violência, a do crime contra a pessoa.

§3º Se da violência, resulta morte:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

O suporte legal da classificação do delito como crime militar,


relaciona-se com a condição do agente. Sujeito ativo militar: inciso I, 2ª
parte, do art. 9º (crime não previsto na lei penal comum). Agente civil: inciso
III, caput e alínea a e d, 2ª parte, combinado com o inciso I, 2ª parte, do art.
9º (crime não previsto na lei penal comum, contra militar em serviço de
natureza militar e contra a ordem administrativa militar).

Oficial de dia, de serviço ou de quarto é o oficial, suboficial,


aspirante a oficial, que se encontra no efetivo exercício dessas funções,
conforme escala ou designação da autoridade militar competente. Sentinela
é o militar encarregado de guardar determinado local sob administração
militar ou fora dele, por determinação legal de autoridade militar competente,
com ou sem armamento, em posto fixo ou móvel, usando acessórios
indicativos da condição de militar em serviço. O vigia observa pessoas,
coisas ou ocorrência. O militar de plantão permanece na unidade à
disposição do superior, usando farda e petrechos próprios, pronto para
qualquer serviço externo ou interno.

4.3 Ausência de dolo no resultado

Art. 159. Quando da violência resulta morte ou lesão corporal e as


circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado nem assumiu o
risco de produzi-lo, a pena do crime contra a pessoa é diminuída de ½
(metade).

Trata-se de crime preterdoloso, ou seja, modalidade de crime


qualificado pelo resultado. O preterdolo apresenta dolo no antecedente e
culpa no conseqüente. Ex.: o agente desfere um soco no oficial de serviço
ou na sentinela por querer feri-los, sendo que a vítima vem a cair morrendo
ao bater a cabeça ao solo.

4.4 Desrespeito a superior

Art. 160. Desrespeitar superior diante de outro militar:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, se o fato não


constitui crime mais grave.

Desrespeito a comandante, oficial-general ou oficial de serviço

Parágrafo único. Se o fato é praticado contra o comandante da


unidade a que pertence o agente, oficial-general, oficial de dia, de serviço ou
de quarto, a pena é aumentada da ½ (metade).

O desrespeito a superior é crime propriamente militar por se tratar


de infração penal específica e funcional do ocupante de cargo militar. É
crime não previsto na lei penal comum (inc. I, 2ª parte, do art. 9º).

Desrespeitar significa faltar com consideração, com respeito, com


acatamento, pode manifestar-se através de gestos, atitudes e palavras. Um
gesto de desaprovação, de crítica, obsceno, pode considerar-se uma atitude
desrespeitosa. Uma palavra de crítica, de menosprezo, pode constituir-se,
conforme as circunstâncias, ofensa a autoridade do superior.

4.5 Recusa de obediência

Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sobre assunto ou


matéria de serviço, ou relativamente a dever imposto em lei, regulamento ou
instrução:

Pena - detenção, de 1(um) a 2 (dois) anos, se o fato não constitui


crime mais grave.

A recusa de obediência é crime propriamente militar por se tratar


de infração penal específica e funcional do ocupante de cargo militar. É
crime não previsto na lei penal comum (inc. I, 2ª parte, do art. 9º).

De acordo com Crysólito de Gusmão (1915 apud LOBÃO, 1999,


p.189), insubordinação consiste no “ato pelo qual o militar quebra os laços
de sujeição e obediência hierárquica e disciplinar, quer não obedecendo às
ordens emanadas, por qualquer meio, de seus superiores, quer ofendendo
física ou moralmente, por vias de fato ou ultrajes”.

A recusa consiste em manifestação de vontade que se exterioriza


sob as formas mais variadas, por meio de palavra, gesto, imobilidade, agir
de forma contrária à ordem recebida, mesmo simulando sua execução ou,
também, executando-a, deliberadamente, de maneira ineficaz.

A ordem é aquela relativa a serviço ou dever imposto em lei,


regulamento ou instrução. Pode ser escrita ou verbal, dada diretamente pelo
superior ou por interposta pessoa, sendo, no entanto, indispensável seu
conhecimento pelo subordinado.

Serviços são os atribuídos ao militar, no exercício de função de


seu cargo, compreendendo não só os de natureza militar, como também os
que, embora sem essa característica, são indispensáveis ao funcionamento
da instituição militar, como o preparo de refeições, limpeza das
dependências do aquartelamento ou do local onde se encontra estacionada
a unidade militar, manutenção de aparelhos, dos meios de transporte, do
fardamento, calçado, além de outros. Abrange os que se encontram
previstos em lei, regulamento, instrução e determinação do superior
hierárquico.

4.6 Violência contra inferior

Art. 175. Praticar violência contra inferior:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Resultado mais grave

Parágrafo único. Se da violência resulta lesão corporal ou morte é


também aplicada a pena do crime contra a pessoa, atendendo-se, quando
for o caso, ao disposto no art. 159.

A violência contra inferior é crime propriamente militar por se tratar


de infração penal específica e funcional do ocupante de cargo militar. É
crime não previsto na lei penal comum (inc. I, 2ª parte, do art. 9º).

Inferior hierárquico é o militar que se encontra sob a autoridade de


outro militar, em razão de posto, graduação ou função militar.

5 DOS CRIMES CONTRA O SERVIÇO MILITAR E O DEVER MILITAR

5.1 Deserção

Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que


serve, ou do lugar em que deve permanecer, por mais de 8 (oito) dias:

Pena - Detenção, de 6 (seis) meses a dois anos; se oficial, a pena


é agravada.

Deserção vem de desertio, que por sua vez deriva de deserere,


que significa abandonar, desamparar. Deserere exercitum ou simplesmente
deserere, significa desertar. Conseqüentemente, o agente do crime
denomina-se desertor. Na doutrina atual, distingue-se do emansor, que é o
ausente, ou seja aquele que excede o tempo de ausência sem consumar o
prazo correspondente ao delito de deserção. O Direito Romano distinguia o
desertor do emansor: o emansor ou ausente é aquele que regressa ao
campo depois de ter vagado muito tempo; desertor, é o que depois de ter
vagado muito tempo, vem reconduzido. Distinguiam-se, portanto, em que,
para um o regresso era voluntário, para outro forçado.

De acordo com Lobão (1999, p. 229),

Segundo o Código Penal Militar brasileiro, a deserção consiste no


fato de o militar ausentar-se, sem autorização, da unidade em que serve ou
do local onde deveria permanecer, por tempo superior a oito dias, ou,
estando legalmente ausente, deixa de apresentar-se, nesse mesmo prazo,
depois de cessado o motivo do afastamento e, ainda, não se faz presente no
momento da partida ou do deslocamento da unidade em que serve.

É crime de mera conduta e permanente, ensejando, por este


último motivo, a prisão do desertor em flagrante. É permanente porque a
consumação se prolonga no tempo e somente cessa quando o desertor se
apresenta ou é capturado. E é de mera conduta (ou de simples atividade)
porque se configura com a ausência pura e simples do militar, além do prazo
estabelecido em lei, sem necessidade que da sua ausência decorra qualquer
resultado naturalístico. A lei contenta-se com a simples ação (deserção) ou
omissão (insubmissão) do agente.

A deserção é crime propriamente militar por se tratar de infração


penal específica e funcional do ocupante de cargo militar. É crime não
previsto na lei penal comum (inc. I, 2ª parte, do art. 9º).

Como vem expresso na lei penal militar, o crime de deserção


somente se tipifica se o militar se ausenta da unidade em que serve ou do
lugar em que deve permanecer, por período superior a oito dias, período
esse denominado prazo de graça. Prazo de Graça, portanto, é o período de
oito dias da ausência do militar. Antes desse prazo não haverá desertor e
sim, o ausente, a quem são aplicadas as sanções disciplinares. (ASSIS,
2005, p. 343).
Para o Código Penal Militar brasileiro, a contagem do prazo de
graça inicia-se a zero hora do dia seguinte ao da verificação da ausência,
independente da hora em que o militar ausentou-se. O oitavo dia é contado
por inteiro, isto é, o prazo só se esgota às 24 horas do oitavo dia de
ausência. Por exemplo, se a ausência ocorre no dia 04, às 08 horas (ou 10,
17, ou outra hora qualquer), o prazo de graça inicia-se a zero hora do dia 05
e tem seu termo final às 24 horas do dia 12, consumando-se a deserção no
momento imediatamente após zero hora do dia 13.

5.2 Abandono de posto

Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o posto ou lugar de


serviço que lhe tenha sido designado, ou o serviço que lhe cumpria, antes de
terminá-lo:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

O abandono de posto é crime propriamente militar por se tratar de


infração penal específica e funcional do ocupante de cargo militar. É crime
não previsto na lei penal comum (inc. I, 2ª parte, do art. 9º).

De acordo com Lobão (1975 apud ASSIS, 2005, p.357), “trata-se


de crime de perigo, contentando-se a norma penal com a probabilidade de
dano ao estabelecimento ou aos serviços militares, decorrentes da ausência,
do militar, do posto ou lugar de serviço que lhe foram designados”.

O abandono de posto é delito instantâneo, consumando-se no


exato momento em que o militar se afasta do local onde deveria permanecer.

Posto é o local determinado onde o militar deve cumprir missão


específica, quase sempre de vigilância. Lugar de serviço, é um local mais ou
menos amplo que o posto, onde o militar deve permanecer no exercício de
qualquer função militar. Enquanto o posto, fixo ou móvel, tem limites mais
restritos, o lugar de serviço pode ser todo o estabelecimento militar, um
acampamento e até mesmo uma cidade ou uma região.

Consuma-se o abandono de posto, também, quando o militar,


após iniciar o serviço, abandona-o antes de seu término (abandono de
serviço).

5.3 Embriaguez em serviço

Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou apresentar-


se

embriagado para prestá-lo:

Pena – detenção, de seis meses a dois anos.

Constitui crime próprio, doloso, comissivo, admitindo a tentativa, por


ser possível, em tese, o fracionamento espacial e temporal da conduta.

O núcleo do tipo é embriagar-se, quer dizer embebedar-se, extasiar-


se. Ou seja, o agente, dolosamente, ingere bebida alcoólica durante o serviço
ou, ainda, apresenta-se em estado de embriaguez.

José da Silva Loureiro Neto faz um excelente estudo do delito em


comento, sendo sua obra facilmente encontrada nas livrarias e bibliotecas e
leitura obrigatória para quem pretende aprofundar-se no assunto.

Jorge César de Assis ensina que:

A punição da embriaguez em serviço é necessária porque tem como


conseqüência imediata, no mínimo, a falta de atenção e prejuízo ao
desempenho do serviço que o agente está realizando, já que não é crível
aceitar-se que a ingestão de álcool melhore o desempenho funcional da cada
um.

Essa falta de atenção pode evoluir até mesmo para a incapacidade


total para a continuação e realização do serviço, quando o agente

perde a coordenação motora, predomina a confusão psíquica,


apresentam-se perturbações sensoriais como a visão dupla, zumbido de
ouvido, ilusões (percepções erradas), palavra difícil e pastosa, inconveniência
de atitudes, chegando mesmo ao coma alcoólico nos casos mais graves.
O tipo penal era previsto no artigo 178 do CPM/1944.

Seguem os precedentes:

ACÓRDÃO

Num: 1982.01.043589-1 UF: DF Decisão: 14/06/1983

Proc: Apelfo – APELAÇÃO (FO) Cód. 40

Publicação

Data da Publicação: 18/08/1983 Vol: 00883-01 Veículo: DJ

EMENTA

CRIME MILITAR – EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO – ARTIGO 202 DO


CÓDIGO PENAL MILITAR – OCORRÊNCIA NA ESPÉCIE, DA DIRIMENTE
DO ART. 49 DO MESMO DIPLOMA, RECONHECIDA PELA SENTENÇA
ABSOLUTÓRIA DE PRIMEIRO GRAU – RÉU MENOR DE 21 ANOS A DATA
DO EVENTO – DESPROVIMENTO DO APELO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
MILITAR, OBJETIVANDO A

REFORMA DA SENTENÇA COM A CONDENAÇÃO DO APELADO


– DECISÃO UNÂNIME.

Ministro Relator

GUALTER GODINHO

Ministro Revisor JÚLIO DE SÁ BIERRENBACH

ACÓRDÃO

Num: 2000.01.048611-9 UF: BA Decisão: 25/06/2001


Proc: Apelfo – APELAÇÃO (FO) Cód. 40

Publicação

Data da Publicação: 27/08/2001 Vol: 05801-08 Veículo: DJ

EMENTA: Embriaguez em serviço. Autoria e materialidade


encontram-se amplamente comprovadas, não só pela confissão, mas, também,
pela prova testemunhal e o Exame Pericial, restando inconteste a
culpabilidade, pois de acordo com os autos, o apelante estava escalado para
serviço armado em Unidade Militar, no mesmo dia em que também prestaria
esclarecimentos em outra Investigação Policial Militar. Na noite anterior, ingeriu
bebida alcoólica, apresentando-se na OM com indícios de grande intoxicação,
sendo tal fato percebido por todos aqueles que estavam em sua volta,
demonstrando, aquela praça, dificuldades para se expressar corretamente
perante seus companheiros.

Negado provimento ao apelo da defesa, mantendo a sentença de


primeiro grau.

Decisão unânime

Ministro Relator

ANTONIO CARLOS DE NOGUEIRA

Ministro Revisor

CARLOS EDUARDO CEZAR DE ANDRADE

ACÓRDÃO

Num: 2005.01.049951-2 UF: MS Decisão: 02/02/2006

Proc: Apelfo – APELAÇÃO (FO) Cód. 40

Publicação

Data da Publicação: 20/04/2006 Vol: Veículo: DJ


EMENTA: EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO. PROVAS.

SUPLEMENTAÇÃO. LAUDO DE DOSAGEM ETÍLICA.

Militares que durante a execução de serviço de escala ingerem


grande quantidade de bebida alcoólica.

Condutas que denotam claramente estado de embriaguez.

Mesmo inexistindo laudo que comprove a dosagem etílica, a prova


testemunhal, conjugada com as condutas dos agentes, demonstrando que não
estavam os mesmos no pleno controle de suas ações, constitui meio de prova
suficiente para concluir que estavam efetivamente embriagados.

Recurso Ministerial provido.

Decisão majoritária.

Ministro Relator

CARLOS ALBERTO MARQUES SOARES

Ministro Revisor

HENRIQUE MARINI E SOUZA

Ministro Relator para Acórdão

HENRIQUE MARINI E SOUZA

5.4 Dormir em serviço

Art. 203. Dormir o militar, quando em serviço, como oficial de quarto


ou de ronda, ou em situação equivalente, ou, não sendo oficial, em serviço de
sentinela, vigia, plantão às máquinas, ao leme, de ronda ou em qualquer
serviço de natureza semelhante:

Pena – detenção, de três meses a um ano.


Trata-se de crime próprio, de mera atividade, não admitindo
tentativa.

Sobre o delito do sono, temos a lição de João Vieira de Araújo:

Em um ponto ainda podemos notar a anomalia da lei militar em


relação á comum .

Assim seria certo escusado aquele que deixasse de cumprir um


dever, porque lhe impedisse certos estados patológicos, ou antes, fisiológicos
mesmos, como por exemplo, o sono.

Mas conforme o art. 212 do código militar francês, é punido com a


pena de 5 anos de prisão com trabalho o soldado que for encontrado dormindo,
estando de sentinela, diante do inimigo ou de rebeldes armados.

Outra é o excesso de atenção, que ora resulta de excitações


externas e por isso o silencio, a obscuridade, a imobilidade e uma posição
cômoda, coincidindo com a noite, produzem facilmente o sono.

Ora, si esses estados se podem produzir com muita facilidade em


uma campanha, juridicamente é o cumulo do absurdo e da irracionalidade
servirem de base á criminalidade, quando ao contrario poderiam suprimil-a no
caso em que impedissem o cumprimento do dever.

Não há pois anomalia mais estupenda. O código penal da Armada

(art. 133) pune no Maximo com a pena de 2 anos com prisão com
trabalho.

Macedo Soares criticou esse entendimento, com a seguinte


argumentação:

Improcede a critica porque a lei militar não pune o sono, mas o ato
de deixar-se a sentinela surpreender pelo sono, ou ser encontrado dormindo,
quando devia estar alerta. Há, portanto, uma inobservância do dever militar,
que, podendo ocasionar as mais funestas conseqüências, é punida em razão
das conseqüências do fato.
Chrysólito de Gusmão, por sua vez, criticou duramente a doutrina de
Macedo Soares, entendendo tratar-se de uma disposição desumana. Eis sua
lição:

Uma disposição incongruente e desumana tem o nosso Cód Pen.


Militar, quando determina, em seu artigo 133 que: “todo o individuo ao serviço
militar que, estando de quarto, vigia, sentinela, plantão, ao prumo, ás amarras, ,
ao governo de ronda fora do navio (ou praça de guerra, ou posto) ou em
qualquer serviço especial deixar-se surpreendeu pelo sono ou for encontrado
dormindo”.

Ora, o sono é um fenômeno de reação orgânica inevitável e fatal


contra o qual se não pode reagir senão até certos limites; seja o fenômeno do
sono a conseqüência de uma intoxicação produzida pela vigília no organismo,
ou seja pela fadiga dos neurônios ou células cerebrais que necessitam
imprescindivelmente de refazer as energias perdidas, como querem outros,
qualquer, enfim, que seja a Teoria que se adote das múltiplas que sobre tal
matéria se debatem, o certo é que o sono é uma reação orgânica defensiva
contra um estado anormal do organismo, produzido pela vigília.

Ora, quer na paz quer, principalmente na guerra, o sono no militar,


além de ser tão inevitável e fatal como em todo mundo, pode ser ainda
favorecido por circunstâncias especiais que o tornam mais dificil de evitar. Dizia
o Conde de Ambrugeac, em 1829, que: “de todas as faltas militares, não ha
nenhuma mais involuntária e, por conseguinte, mais escusável. Marchas
penosas, longas privações, o excesso de vigílias, um calor acabrunhante, um
frio rigoroso podem muita vez forçar o sono do melhor soldado”.

[...]

É, pois, uma disposição bárbara a do art. 133 do Cód. Mil 92.

Sem adentrar na discussão, parece que a punição não está atrelada


à potencial lesividade da conduta, mas às eventuais conseqüências desta, na
medida em que um militar que dorme, qualquer que seja o seu serviço, pode
colocar em risco a segurança de seu batalhão e a vida de muitos de seus
camaradas de armas.

Daí a elevação do sono ao quilate de crime, na medida em que um


militar que dorme durante seu serviço, pode gerar grave prejuízo à sua Força.
Principalmente hoje, que se tornam cada vez mais comuns investidas de
narcotraficantes aos quartéis das Forças Armadas, na tentativa de furtar ou
roubar armamentos e munições.

Sobre o tipo penal em comento, trazemos os seguintes precedentes:

ACÓRDÃO

Num: 2006.01.050168-1 UF: RJ Decisão: 15/08/2006

Proc: Apelfo – APELAÇÃO (FO) Cód. 40

Publicação

Data da Publicação: 04/10/2006 Vol: Veículo:

EMENTA

APELAÇÃO – DORMIR EM SERVIÇO – CONDENAÇÃO.

Recurso, objetivando a absolvição, sustentando a tese de ausência


de dolo para a tipificação do delito. Comprovado que o Apelante dormiu
durante seu quarto de hora, não cumprindo com as obrigações inerentes.
Prejudicado o serviço a que estava obrigado, colocando em risco a segurança
da tripulação e do Navio.

Segundo a doutrina: “... o militar nos serviços enumerados, de


grande relevância para a segurança de bens e de pessoas, tem o dever legal
de não se deixar surpreender pelo sono”.

Negado provimento ao recurso.

Decisão unânime.

Ministro Relator
MARCUS HERNDL

Ministro Revisor

CARLOS ALBERTO MARQUES SOARES

ACÓRDÃO

Num: 2000.01.048581-3 UF: RS Decisão: 19/06/2001

Proc: Apelfo – APELAÇÃO (FO) Cód. 40

Publicação

Data da Publicação: 19/09/2001 Vol: 06301-12 Veículo: DJ

6 DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

6.1 Desaparecimentos, consunção ou extravio:

Art. 265. Fazer desaparecer, consumir ou extraviar combustível,


armamento, munição, peças de equipamento de navio ou de aeronave ou de
engenho de guerra motomecanizado:

Pena – reclusão, até 3 (três) anos, se o fato não constitui crime


mais grave.

O desaparecimento, consunção ou extravio é crime


impropriamente militar. Os dispositivos legais classificatórios do delito militar
relacionam-se com o sujeito ativo. Agente militar: inciso I, 2ª parte, do art. 9º
(crime não previsto na lei penal comum). Agente civil: inciso III, a, 1ª parte,
c.c. o inciso I, 2ª parte, do art. 9º (crime não previsto na lei penal comum
contra o patrimônio sob administração militar).

Fazer desaparecer é perder, fazer com que não seja mais


encontrado, por exemplo, lançar o armamento ao mar, abrir a válvula do
depósito de gás ou de combustível, deixando escapar seu conteúdo, no todo
ou parcialmente.
Consumir é extinguir até nada mais restar do bem, embora essa
extinção limite-se a uma porção do todo, por exemplo, abastecer, com
combustível da unidade, o veículo particular ou o oficial para uso particular.

Extraviar importa em desviar, subtrair, independente da


quantidade do bem extraviado.

Segundo Macedo Soares:

“Extravio não constitui dano, nem destruição, embora cause


prejuízo à Nação. Extraviar armas, munições, etc., é desencaminhá-las,
perdê-las, dar-lhes destino diverso daquele para onde deviam ir, sem que
tenham sido afetadas, isto é, danificadas ou destruídas”.

6.2 Modalidades culposas

Art. 266. Se o crime dos arts. 262, 263, 264 e 265 é culposo, a
pena é de detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos; ou, se o agente é
oficial, suspensão do exercício do posto de 1 (um) a 3 (três) anos, ou
reforma; se resulta lesão corporal ou morte, aplica-se também a pena
cominada ao crime culposo contra a pessoa, podendo ainda, se o agente é
oficial, ser imposta pena de reforma.

7 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR

7.1 Desacato a superior

Art. 298. Desacatar superior, ofendendo-lhe a dignidade ou o


decoro, ou procurando deprimir-lhe a autoridade:

Pena - reclusão, até 4 (quatro) anos, se o fato não constitui crime


mais grave.

Agravação de pena

Parágrafo único. A pena é agravada, se o superior é oficial


general ou comandante da unidade a que pertence o agente.
O desacato a superior é crime propriamente militar por se tratar
de infração penal específica e funcional do ocupante de cargo militar. É
crime não previsto na lei penal comum (inc. I, 2ª parte, do art. 9º).

De acordo com Lobão (1975 apud ASSIS, 2005, p.560),

“No Direito Penal Brasileiro (Direito Penal Comum e Direito Penal


Militar), o desacato consiste na falta de acatamento, no menosprezo, no
ultraje, no insulto, na ofensa moral, praticados contra funcionário público,
civil ou militar, no exercício de função ou em razão de função”.

O desacato exterioriza-se por palavras, gestos, ameaças, vias de


fato, agressão, escritos, impressos, enfim, qualquer meio idôneo capaz de
ultrajar o superior. Pode efetivar-se por meio de fotografia, fita
cinematográfica ou de vídeo, desenho, etc, desde que exibidos ao superior,
pelo ofendido. O desacato a superior pode, ainda, assumir a forma de
violência, se revestida de caráter ultrajante.

O dolo consiste na vontade livre e consciente de proferir palavra


ou praticar ato injurioso e, o especial fim de agir está na finalidade de
desprestigiar a autoridade do superior hierárquico.

Teixeira (1946 apud ASSIS, 2005, p. 300/301), esclarece que,

Não havendo agressão física, mas tendo o ato ou a atitude por fim
ofender a dignidade ou deprimir a autoridade do superior, o crime é de
desacato.

Se a finalidade é de não obedecer à ordem em matéria de


serviço, o crime é de insubordinação.

Se, sem agressão ou sem intuito deprimente à autoridade ou da


dignidade, ou sem a desobediência à ordem, o militar falta o respeito devido
ao superior, em presença da tropa ou de subordinado do ofendido, verifica-
se o crime de desrespeito.
7.2 Desacato a militar

Art. 299. Desacatar militar no exercício de função de natureza


militar ou em razão dela:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, se o fato não


constitui outro crime.

O desacato a militar é crime impropriamente militar. Os


dispositivos legais classificatórios do delito militar relacionam-se com o
sujeito ativo. Agente militar: inciso II, 2ª parte, do art. 9º (crime com igual
definição na lei penal comum, contra a ordem administrativa militar). Agente
civil: alínea a, 2ª parte, do inciso III, combinado com o inciso II do art. 9º
(crime com igual definição na lei penal comum, contra a ordem
administrativa militar).

De acordo com Neto (1995, p. 217),

O dispositivo prevê duas hipóteses: na primeira, é necessário que


a ação ocorra quando o militar esteja no exercício da função (in officio),
praticando ato relativo ao ofício, isto é, aquele que compreende dentro de
suas atribuições funcionais ou regulamentares. Na segunda hipótese, o
desacato ocorre em virtude da função, não estando o militar no exercício da
atividade funcional (propter officium). Conseqüentemente, não há de se
cogitar o desacato se o militar é ofendido extra officium, como particular e as
ofensas não dizem respeito com sua atividade funcional.

7.3 Desobediência

Art. 301. Desobedecer à ordem legal de autoridade militar:

Pena – detenção, até 6 (seis) meses.

Desobedecer significa não atender, não aceitar a ordem legal de


autoridade militar.

Teixeira (1946 apud ASSIS, 2005, p. 566), esclarece quena


insubordinação, a recusa de obediência é contra a ordem do superior sobre
assunto ou matéria de serviço, ou relativamente a dever imposto em lei,
regulamento ou instrução. E faz parte do capítulo dos crimes contra a
autoridade militar. Já a desobediência é somente para casos de ordem
administrativa.

Lobão (1975 apud ASSIS, 2005, p. 566), esclarece que:

“Em princípio, o agente do crime de desobediência é o particular,


entretanto, pode ser também o militar, superior ou inferior hierárquico de
quem deu a ordem legal. Nessas hipóteses, o militar age como particular,
fora do exercício da função”.

Delmanto (1986 apud NETO, 1995, p. 219), ensina que, pune-se


a conduta de quem desobedece à ordem legal de funcionário público. É
necessário, pois, que: a) trata-se de “ordem”. Não basta que seja um pedido
ou solicitação, sendo mister a efetiva ordem para fazer ou deixar de fazer
alguma coisa. A ordem deve ser dirigida direta e expressamente ao agente,
exigindo-se que este tenha conhecimento inequívoco dela; b) seja ordem
“legal”, É indispensável a sua legalidade, substancial e formal. A ordem pode
até ser injusta, mas não pode ser ilegal; c) seja ordem de “funcionário
público”. É necessário a competência funcional deste para expedir ou
executar a ordem. Além disso, para a tipificação da desobediência é
indispensável que o destinatário da ordem tenha o dever jurídico de
obedecê-la, a obrigação de acatá-la.

8 ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA MILITAR

8.1 A Justiça Militar Estadual na Constituição Federal de 1988

O art. 125, § 3º, da CF/88, estabelece a possibilidade de a Lei


estadual criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar
Estadual, constituída, em primeiro grau, pelos Juízes de Direito e pelos
Conselhos de Justiça e, em segundo, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por
Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior
a vinte mil integrantes.
Apenas os Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do
Sul possuem Tribunal Militar Estadual de longa data, sendo que nos demais
Estados e Distrito Federal, a instância recursal é afeta ao Tribunal de
Justiça.

8.2 Da Auditoria e dos Conselhos de Justiça

A Lei 8.457/92 organiza a Justiça Militar da União, regulando o


funcionamento de seus serviços auxiliares.

Os arts. 1º e 2º da Lei em questão tratam, respectivamente, dos


órgãos da Justiça Militar e da divisão do território nacional para efeito da
administração da Justiça Militar.

A existência das instituições militares, sejam elas pertencentes às


Forças Armadas ou às Forças Auxiliares, é essencial para a manutenção do
Estado e para a preservação da segurança interna, no aspecto de ordem
pública, e nacional, na defesa da soberania do território, do espaço aéreo e do
mar territorial.

A Justiça Militar no Brasil encontra-se prevista e disciplinada na


Constituição Federal no art. 92, inciso VI, segundo o qual: “São órgãos do
Poder Judiciário: (...) VI - Os Tribunais e Juízes Militares”. Os juízes militares e
os Tribunais Militares são órgãos do Poder Judiciário; portanto, não se
encontram inseridos no contexto de Tribunais de Exceção. Afirmar que a
Justiça Castrense é uma Justiça de Exceção é desconhecer o sistema jurídico
brasileiro.

O art. 5º, XXXVII, da Constituição Federal (CF) veda expressamente


o julgamento do cidadão por Tribunal de Exceção, garantindo, assim, o
princípio do juiz natural. Por força do art. 60, §4º, da CF, os direitos e as
garantias fundamentais do cidadão não podem ser objeto de Emenda
Constitucional. Com base neste dispositivo, fica mais do que evidenciado que a
Justiça Castrense não é um Tribunal de Exceção, mas uma Corte com previsão
constitucional.
No sistema jurídico brasileiro, a Justiça Militar divide-se em Justiça
Militar Federal e Justiça Militar Estadual, sendo que a primeira julga, em regra,
os militares integrantes das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica),
quando estes violarem os dispositivos do Código Penal Militar (CPM), e a
segunda julga os integrantes das Forças Auxiliares (Polícias Militares e Corpos
de Bombeiros Militares).

A 1ª instância da Justiça Militar Federal é constituída pelos


Conselhos de Justiça, formados por um auditor militar, provido por concurso de
provas e títulos, e mais 4 (quatro) oficiais, cujos postos e patentes dependerão
do posto ou graduação do acusado. Os Conselhos de Justiça dividem-se em
Conselhos Especiais, destinados ao julgamento dos oficiais, e os Conselhos
Permanentes, destinados ao julgamento das praças (soldado, cabo, sargento,
subtenente e aspirante-a-oficial).

Devido à formação mista existente nos Conselhos de Justiça, ou


seja, formados por um juiz civil mais os juízes militares, estes são chamados de
escabinados. Os militares que integram os Conselhos atuam na Justiça Militar
por um período de três meses, ao término do qual novos oficiais são chamados
para compor a Corte Castrense. É importante observar que esses Conselhos
são presididos por um juiz militar que tenha a maior patente em relação aos
demais integrantes do órgão julgador, e a sede da Justiça Especializada em 1°
grau possui a denominação de Auditoria Militar.

A Justiça Militar é, pois, um órgão jurisdicional com previsão no


Texto Constitucional, possuindo os juízes auditores as mesmas garantias
asseguradas aos juízes integrantes da Justiça Comum e da Justiça Federal,
vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos, para que
possam, com fundamento na Lei e em sua livre convicção, proferir os seus
julgamentos, na busca da Justiça que deve ser o objetivo do Direito.
DIREITO PROCESSUAL MILITAR

A Constituição e o CPP. Fontes do CPPM

A Constituição e o Código de Processo Penal são fontes do Direito


Processual Penal Militar. Na Lei fundamental estão expressas normas a serem
observadas pela lei adjetiva castrense, tais como as relativas ao juiz natural ou
juiz legal, à vedação da prisão pela autoridade da policia judiciária militar, nos
crimes impropriamente militares, à ação penal privada subsidiaria da pública, à
titularidade exclusiva do MP, para propor a ação penal pública.

Dispõe o CPPM: “O processo penal militar reger-se-á pelas normas


contidas neste Código, assim em tempo de paz como em tempo de guerra,
salvo em legislação especial que lhe for estritamente aplicável”. Aplicam-se
subsidiariamente, as normas do CPPM aos processos regulados em leis
especiais (art. 1º, caput, e §2º). As leis especiais seriam as de segurança de
Estado.

Lei Processual Penal Militar. Interpretação

A lei processual penal militar deve ser interpretada no sentido literal de


suas expressões. Interpretação literal ou gramatical significa que as normas
são interpretadas em conformidade como o significado próprio das palavras,
ressalvando os termos técnicos que devem ser entendidos em sua acepção
especial, salvo se empregados em significado vulgar (art 2º, caput, do CPPM).
No entanto, é bom lembrar a advertência de Vico, mencionada por Carlos
Maximiliano; “quem só atende à letra da lei, não merece o nome de
jurisconsulto; é simples pragmático” (Hermenêutica, pág. 112).

É admitida interpretação extensiva, quando manifesto que a expressão


da lei é mais estrita, ou a interpretação restritiva, quando evidente que a
expressão da lei mais ampla do que sua intenção (art. 2º, §1º, do CPPM).

Tempo do Crime
Com base no art. 5º do CPM, “Considera-se praticado o crime no
momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o do resultado.”

Segundo ensina a doutrina clássica do direito penal crime é igual à ação


ou omissão mais resultado. Na condição de parte integrante do ilícito o
resultado poderá ocorrer logo após a ação ou omissão, ou poderá ser uma
conseqüência não imediata destas condutas. Existem alguns crimes que se
encontram previstos nas leis penais, comuns ou militares, que independem do
resultado, como exemplo, o crime de corrupção passiva, solicitar ou receber
vantagem indevida. O vigente Código Penal Militar estabeleceu que o tempo do
crime será o momento da ação ou omissão, mesmo que o resultado não ocorra
lodo após, como por exemplo, no caso do crime de homicídio, aonde a vitima
somente após um mês vem a falecer. Para efeitos penais considera-se como
praticado o crime no dia em que a vitima sofreu a cão ou omissão pretendida
pelo agente do ilícito.

Lugar do crime

O art. 6º do CPM expressa in verbis: “Considera-se praticado o fato, no


lugar em que se desenvolveu a atividade criminosa, no todo ou em parte, e
ainda que sob forma de participação, bem como onde se produziu ou deveria
produzir-se o resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se praticado no
lugar em que deveria realizar-se a ação omitida.

O CPM estabeleceu duas regras para determinar o lugar do crime. Segundo a


lei penal militar, inicialmente considerava-se como sendo o local do crime o
lugar em que se deu a atividade criminosa, no todo ou em parte, ainda que sob
a forma de participação.

A atividade criminosa deve ser entendida como sendo as ações


desenvolvidas pelos infratores no momento da ação, a qual poderá se exaurir
no todo, ou apenas em uma parte. A prática de um ilícito poderá ocorrer com a
atuação de um autor, ou mais de um autor, o denominado concurso de
agentes, onde existe o autor mais os co-autores, ou conforme denominação
utilizada na Justiça os co-réus. Além destes, ainda existe a figura do participe,
aquele que não participa do núcleo central do tipo, mas que contribui para a
prática do ilícito.

Neste caso, o CPM estabeleceu que deve ser observada a mesma regra
que é aplicada para os autores ou co-autores. Afinal, não poderia ser diferente,
pois o participe auxilia de forma direta ou mesmo indireta para pratica do ilícito,
e mesmo que fique sujeito a uma pena menor relativa aos atos que praticou,
deve ficar sujeito a mesma regra quanto ao lugar do crime e também quanto ao
tempo do crime. Além disso, o artigo ainda estabeleceu que o lugar do crime
também pudesse ser determinado levando-se em consideração a questão do
resultado, ou seja, o local onde se produziu ou deveria se produzir o resultado.

Na prática, verifica-se que a maioria dos crimes são praticados de forma


comissiva, sendo excepcional os ilícitos que são praticados de forma omissiva,
como por exemplo, a omissão de socorro. Apesar disto, o Código Penal Militar
não deixou de estabelecer de forma expressa a regra que deve ser observada
no tocante aos crimes omissivos

Competência

Jurisdição e competência

Ensina Pontes de Miranda que jurisdição pode ser entendida como a


atuação dos Juízes considerados como órgãos de um Estado, em relação a de
outros, isto é, competência jurisdicional supra estatalmente distribuída,
portanto, jurisdição brasileira, jurisdição argentina, jurisdição francesa, etc.
Tratando-se do âmbito interno, jurisdição é empregada para repartir a função
de julgar: jurisdição penal, jurisdição civil, de contencioso administrativo etc. (
Comentários ao Código de Processo Civil, t. II, pág.285).

Nessa linha de raciocínio, alguns autores distinguem jurisdição, de


competência, porque a primeira refere-se ao poder de julgar atribuído em
conjunto a determinada espécie de órgãos judiciários, enquanto que a ultima
determina esse poder dentre os Juízes e tribunais, nas suas relações
recíprocas.
Outros, no entanto, sustentam que todo juiz tem jurisdição, “desde que
sejam juízes ordinários regularmente investidos ’’, enquanto a competência
determina a extensão do poder de julgar, sem considerar a diversidade de
órgãos. Nesse sentido, a Constituição denomina conflito de competência, o
conflito entre órgãos diversos do poder judiciário (art.105, I , d).

O art. 85 do CPPM, corretamente, refere-se a competência do foro militar,


mesmo porque, competência, em sentido estrito, é do Juízo e não do Juiz. Na
linguagem usual, falamos em Juiz competente, Juiz prevento etc., embora se
trate de Juízo. Exemplificando: os juízes Tício e Caio, titulares da 9ª e 10ª CJM,
respectivamente, são igualmente para conhecer de determinada infração penal
militar. Tício, da 9ª CJM, antecipa-se e pratica ato anterior a caio, da 10 CJM,
tornando prevento o Juízo Militar da 9ª CJM. Posteriormente, os dois permutam
de Auditorias. Caio, até então incompetente, agora na titularidade da 9ª CJM,
passa a oficiar no feito, enquanto Ticio, que era competente, ao assumir a
titularidade da 10ª CJM, torna-se incompetente. Nesse sentido, Alcalá-Zamora,
para quem a competência “siempre hay que referir al órgano jurisdiccional,
nunca a los funcionários judiciales ’’( Derecho, pág. 302). Entretanto, poderá
haver competência ou incompetência do Juiz e não mais do Juízo, em
decorrência de suspeição ou de impedimento, que examinaremos ao tratarmos
desses fenômenos processuais penais.

Competência material e funcional

A competência material diz respeito a natureza do litígio, a natureza da


infração que constitui o objeto do processo. A competência material da Justiça
Militar, como um dos órgãos do Poder Judiciário, vem definida na Constituição,
segundo a qual compete a Justiça Militar, federal e estadual, processar e julgar
os crimes militares definidos em lei (arts.124 e 125, p 4). Lei ordinária inclui no
CPM a ressalva da competência do júri, nos crimes dolosos contra a vida,
cometidos por militar contra civil ( art.9º, p. ún., do COM). Posteriormente, a
ressalva da competência do Júri, no que se refere a Justiça Militar estadual, foi
alçada a nível constitucional, através da EC 45/2004 que alterou o art. 125, p.
4, da CF.
Inovação da EC 45/2004 consistiu na ampliação da competência da
Justiça castrense estadual, incluindo o processo e julgamento das “ações
judiciais contra atos disciplinares militares ’’ ( art. 125, p. 5 ). Seguindo essa
tendência, há o projeto de lei estendendo igual competência à Justiça Militar
Federal.

As normas que disciplinam a competência funcional, segundo Frederico


Marques, “tratam das atribuições dos órgãos judiciários que atuam no processo
’’ ( Tratado, vol. I, pág.290), portanto, dizem respeito as atribuições do Juiz,
para a prática de atos no mesmo processo. Ensina Tornaghi que, a “ rigor, toda
competência é funcional: é uma distribuição de funções entre os juízes
(Instituições, 2º vol., pág. 130).

A competência funcional pode ser por fases no processo, por grau de


jurisdição, por atos no mesmo processo ou pelo objeto do processo. Na
competência funcional por fases do processo, as atribuições são divididas entre
órgãos jurisdicionais do mesmo Juízo, conforme a fase em que se encontra o
feito. Na justiça federal, o juiz exerce atribuições na fase pré-processual,
determinando a realização de atos de instrução, como busca e apreensão,
decidindo sobre incidentes e decretando medidas preventivas e assecuratórias
até o momento em que recebe a denuncia. Após o recebimento da peça
acusatória, pratica atos de impulsão processual, como a citação do réu,
determinar a intimação de testemunhas e ofendido, além de outros. Durante a
instrução, exceto o interrogatórios do acusado, a acareação e a inquirição de
testemunhas, na sede da Auditoria, todos os demais atos da instrução criminal
poderão ser procedidos perante o juiz ( art.390, p. 5º, do COM). O juiz
funciona, singularmente, na fase recursal que se desenvolve no juízo a quo,
assim como, na fase de execução da sentença condenatória imposta ao
condenado, que não cumpre a pena em estabelecimento prisional, sujeito a
jurisdição ordinária (art.2º, p.ún., da Lei 7.210/1984). O Conselho exerce suas
atribuições na fase de instrução e julgamento do feito.

As atribuições do Juiz de Direito do Juízo Militar são as mesmas do Juiz


da Justiça Militar Federal, nos feitos da competência dos Conselhos de Justiça.
Nos processos de sua competência singular, o Juiz de Direito, obviamente,
realiza todos os atos de instrução e julgamento, atendendo as peculiaridades
do procedimento ordinário, ou comum, da lei processual penal castrense.

A competência por grau de jurisdição resulta de estrutura do poder


Judiciário brasileiro, com órgãos jurisdicionais de 1º e de 2º instancias de
instancia especial e extraordinária (STJ e STF). São órgãos de 1 º instancia da
Justiça Militar Federal , o Juiz-Auditor Corregedor, o Juiz-Auditor e os
Conselhos de Justiça. O Superior Tribunal Militar é o órgão de 2º instância
(conf. Arts .1º da LOJM, 7º da LC 35/1979 e 122 da CF). Os órgãos de 1º
instância da Justiça Militar Estadual são o Juiz de Direito do Juízo Militar, e os
Conselhos de Justiça. Os de 2º instância são os Tribunais de Justiça Militar nos
estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, e o Tribunal de
Justiça, nas demais unidades federais (arts. 18, p. ún., da LC 35/1979 e 125, p.
3º, da CF). A Lei Orgânica da Magistratura Nacional ( LC 35/1979), art.18, p.
ún. de 2 ºinstância da Justiça Militar do Estado, entretanto, ainda não foi
instalado.

Quadro comparativo entre a Justiça Militar da União e Justiça Militar


Estadual

JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL


Competência criminal: crimes
Competência criminal: crimes militares.
militares.
Não tem competência para o
É dotada de competência para o processo e
processo e julgamento de ações
julgamento de ações judiciais contra atos
judiciais contra atos disciplinares
disciplinares militares.
militares.
Acusado: pode processar e Acusado: pode processar e julgar somente
julgar tanto civis quanto militares. os militares dos Estados
Competência ratione materiae ( crimes
Competência ratione materiae ( militares + ações judiciais contra atos
crimes militares ). disciplinares militares ) e ratione personae
(militares dos Estados ).
Órgão Jurisdicional: Conselhos Órgãos Jurisdicionais: a) juiz de direito do
Especial e Permanente de juízo militar – julga, singularmente, os
Justiça – todos os crimes são crimes militares cometidos contra civis e as
julgados por um Conselho. ações judiciais contra atos disciplinares
militares; b) Conselhos Especial e
Permanente de Justiça – julgam os demais
crimes militares.
Presidência dos Conselhos de
Justiça: oficial de posto mais
Presidência dos Conselhos de Justiça: Juiz
elevado, ou de maior
de Direito do Juízo Militar.
antiguidade, no caso de
igualdade de posto.
2º instância: exercida pelo Tribunal de
Justiça Militar nos Estados de Minas Gerais,
2º instância: exercida pelo
São Paulo e Rio Grande do Sul; pelo
Supremo Tribunal Militar.
Tribunal de Justiça do Estado , nos demais
estados da Federação.

2. CONCEITOS BÁSICOS
DIREITO

Tendo o direito nascido com o próprio homem como necessário


instrumento regulador1 das relações humanas em sociedade na busca da
prosperidade e do bem comum. MIRANDA (1997 P. 01) sintetiza-nos Direito
como sendo “o complexo de normas reguladoras da conduta humana,
possuindo força coativa”.

Acima mesmo das leis criadas pelo homem, existe um direito que lhe
serve de modelo, cuja origem pode ser Divina - segundo o conceito teológico –
ou inerente à simples situação de se ser uma pessoa, um ser humano,
resistindo ao cometimento de injustiças contra semelhante ou contra si mesmo
– concepção grega. Por mais nobre que possa parecer a concepção da idéia
inovadora na lei, sempre será o homem o centro do direito. Em sua defesa ele
foi concebido. Observe a legislação de proteção ambiental: foi concebida

1“O Direito é condição primeira de toda cultura e nisso reside a dignidade da jurisprudência”
– Miguel Reale. (MIRANDA, 1997. Pg. 1).
depois que o homem se conscientizou que ele – homem – é apenas uma
engrenagem de um imensurável ecossistema global. O homem sabe que, ao
proteger o meio ambiente e a biodiversidade está protegendo a si próprio.
Quando necessário for, criar-se-ão legislações interplanetárias e até
intergalácticas, mas sempre com o objetivo de auto-proteção do ser humano.

DIREITO NATURAL

É a manifestação instintiva por justiça que permite a todo ser humano


distinguir o certo do errado.

DIREITO POSITIVO E OBJETIVO

Direito Positivo é o direito que depende da vontade humana, direito


concreto, criado pelo homem em decorrência dos valores sociais. O direito
positivo representa-se ou materializa-se no Direito Objetivo, através das
normas jurídicas.

O Direito Objetivo é o conjunto de regras sociais e vigentes num


determinado momento, numa determinada comunidade, para reger as relações
dos indivíduos. Tais regras são impostas coativamente pelo Estado, exigindo a
obediência de todos (MIRANDA, 1997. Pg. 2).

DIREITO PÚBLICO

É o direito em que predomina o interesse do Estado como poder


soberano, nas suas relações com os outros Estados ou com particulares.
Pertencem ao direito público: o direito administrativo, o direito constitucional, o
direito penal, o processual civil e penal, o internacional público, direito tributário,
direito do trabalho e o direito aeronáutico2 (SOIBELMAN, 1996, pg. 130).

DIREITO PRIVADO

Materializa-se no conjunto de normas que regulam as relações dos


indivíduos particularmente considerados, dos direitos e obrigações de uns para

2 Não é unanimidade doutrinária o direito do trabalho e o direito aeronáutico


(SOIBELMAN,1996. Pg. 130)
com os outros. Compreende o direito civil, o direito comercial e o direito
internacional privado (SOIBELMAN,1996. Pg. 129).

DIREITO PENAL ESPECIAL E COMUM

O Direito Penal Brasileiro está, doutrinariamente dividido em especial


e comum. Entende-se por especial aquele que somente se aplica por meio de
órgãos especiais constitucionalmente previstos. O comum não demanda
jurisdição própria, realizando-se pela justiça comum (LOBÃO apud Damásio de
Jesus, 1999. Pg. 33). O Direito Penal Militar é, portanto, especial, conforme se
verifica nos Artigos 122 a 124 da Constituição Federal, que prevêem os órgãos
da Justiça Militar e lhes atribui competência para processar e julgar os crimes
militares definidos em lei (previstos no Decreto-Lei 1001, de 21 de outubro de
1969 - Código Penal Militar, recepcionado pela Constituição).

DIREITO PENAL COMUM

Conjunto de normas jurídicas de combate às infrações penais


(crimes ou contravenções), aplicando penas e medidas de segurança aos seus
autores. É, portanto, o estudo do aspecto jurídico do crime, como bem nos
esclareceu SOIBELMAN (1996, pg. 128). O Direito Penal define, portanto, as
condutas ativas, passivas e omissivas que a sociedade3 definiu como não
permitidas, aplicando a cada uma a respectiva sanção como garantia do
respeito a seu cumprimento. Observe o exemplo: Art. 121 do Código Penal –
Matar alguém. Pena: reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. Observamos que o
artigo da lei visa proteger o bem mais caro e precioso a um ser humano – a
vida; define com clareza a conduta proibida e explicita a sanção que será
aplicada àqueles membros da sociedade que, à respectiva lei, estão
subordinados. Assim, o Direito Penal – quer comum ou militar – define as
condutas criminosas, visando preveni-las e reprimi-las. É o direito que trata dos
crimes e das penas.

DIREITO PENAL MILITAR

3
Através de seus representantes eleitos em processo democrático.
Disciplina disciplinadora de normas que objetivam o estudo das
infrações da lei penal militar e das penas a serem aplicadas
(SOIBELMAN,1996. Pg. 128). Tem por igual objetivo a proteção das
instituições militares, suas tradições e objetivos institucionais. Todo militar e
Policial Militar que ingressa voluntariamente nas respectivas corporações está
sujeito ao Código Penal Militar que define, à semelhança do Código Penal, as
condutas ativas, passivas e omissivas não permitidas, aplicando, de igual modo
a respectiva sanção.

DIREITO PROCESSUAL PENAL (COMUM OU MILITAR)

Disciplina normativa que reúne o conjunto de normas que regulam o


direito de punir do Estado, complementando o Direito Penal. Se traduz na
definição de competências e procedimentos que obrigatoriamente devem ser
cumpridos para a aplicação das sanções previstas em lei. Enfim, regula o
procedimento das ações perante o Poder Judiciário. O Código de Processo
Penal se constitui o instrumento legal de execução do direito e poder de punir,
pertencente ao Estado-soberano. O sistema processual compreende duas
situações:

O Processo – conjunto de atos dirigidos à composição ou litígio de


interesses;

Procedimento – o modo de se praticar os atos do processo, não


sendo privativo do processo. Existem procedimentos variados, notadamente na
área da administração pública.

LEI

Miranda (1997, pg. 06) apud Clóvis Bevilácqua, simplifica: "‘lei é uma
regra geral que, emanando de autoridade competente, é imposta coativamente
à obediência de todos’. É a regra de conduta obrigatória e geral, originada do
poder competente e provida de sanção”. Observe que a lei não faz distinção, é
genérica, dirige-se a todos os membros da coletividade de forma geral. O poder
competente para editá-las é o Legislativo. No entanto, nas situações previstas
nos artigos 62 e 68 da Constituição Federal, o Presidente da República pode,
em casos excepcionais, ditados pela urgência, editar medidas provisórias com
força de lei, e leis delegadas4.

DOLO

Caracteriza-se pela intenção de se cometer um fato contrário à Lei


com conhecimento de sua ilicitude. Na palavra intenção inclui-se a
representação (previsão antecipada do resultado) e a vontade (querer o
resultado). É um ato voluntário na causa e nos efeitos (SOIBELMAN, 1999. Pg
136)

CULPA

Caracteriza-se por ser ato voluntário na causa e involuntário nos


efeitos, ou seja, esse ato voluntário do agente produz um resultado não
pretendido nem previsto por ele, mas que era previsível. Manifesta-se no
Direito Penal através da imprudência, negligência ou imperícia (SOIBELMAN,
1999. Pg. 104).

A imprudência caracteriza-se pela falta de precaução, falta de


moderação, quando o agente arrisca-se em uma ação perigosa. Já a
negligência seria a falta de atenção, falta de cuidado, inobservância dos
deveres. Já a imperícia consiste no agente ignorar os conhecimentos práticos,
de aptidão para o que vai fazer, o agente está despreparado teórica e
praticamente para uma ação em que se arrisca praticar.

Observe que tanto o Direito Penal Militar como o Direito Processual


Penal Militar são ramos do Direito Positivo Nacional Público.

3. CRIME MILITAR

3.1 CONCEITO DE CRIME MILITAR


“Crime é a infração a que a lei comina pena de reclusão ou
detenção. Isolada, alternativa ou cumulativamente com a pena de multa.”
(SOIBELMAN, 1996, P. 99). Este é o conceito que tradicionalmente se
confere a crime, mas, na opinião deste instrutor, perante o Direito Penal
Militar e Processual Penal Militar, mostra-se incompleto. Isto é de fácil
comprovação. Analisemos: concordamos que crime é infração, mas quanto à
parte que prevê apenas "pena de reclusão ou detenção. Isolada, alternativa
ou cumulativamente com a pena de multa", aí discordamos. Existe previsão
na Legislação Penal Militar de penas outras aplicáveis a crimes além da
reclusão, detenção e multas - como a pena de morte, por exemplo. Então,
realmente precisamos encontrar um conceito de crime que preencha com
precisão todas as exigências para o pleno entendimento de crime.

Conceituaremos crime como sendo todo fato, toda ação e omissão


típica, antijurídica, culpável e punível. Precisamos agora apenas de um
aprofundamento nos conceitos diferenciadores da tipicidade, antijuridicidade,
culpabilidade e da punibilidade5. Abordaremos também como fator
esclarecedor à culpabilidade, conforme entendimento mais moderno relativo a
crime.

3.1.1 TIPICIDADE - Significa que só há delito quando houver correspondência


entre a conduta do agente e a conduta descrita na lei. Cada crime descrito na
lei constitui um tipo. (SOIBELMAN. 1996, p. 352). Reporta-nos à lembrança o
art. 1º do Código Penal Militar: "Não há crime sem lei anterior que o defina nem
há pena sem prévia cominação legal". (Princípio da Reserva Legal).

3.1.2 ANTIJURIDICIDADE – Característica de ser contrário ao direito.


Acompanhando o desenvolvimento dado por SOIBELMAN (1996, P. 33)
verificamos tratar-se da violação da lei penal a contradição entre o fato e a
norma, o injusto, o ilícito jurídico penal. Para que uma conduta seja
considerada delituosa, não basta que se tenha realizado na prática de acordo
com a descrição que a lei faz do tipo. É preciso ainda que esta conduta, além
de ser típica, seja ilícita. Assim, se, por exemplo, um indivíduo apunhala o outro

5
Veremos mais adiante que quando a culpabilidade se extingue, encerra-se processo, cumprimento de
pena, etc. (Veja extinção de punibilidade).
lhe causando a morte, fez tudo aquilo que o tipo previsto na lei exige para que
haja um homicídio, mas, se o agente prova que agiu justificadamente, por
legitima defesa, estado de necessidade, etc., não há crime. Houve o fato
descrito pelo tipo, mas não houve a ilicitude. Distingue-se uma antijuridicidade
formal e outra material e objetiva e outra subjetiva.

● Formal é a contradição entre o fato e a norma.

● Material é todo o ato que ponha em risco as condições de vida


da sociedade toda conduta anti-social, feita sem direito.

● Objetiva é a que se limita a verificar a contrariedade entre o fato


realizado pelo individuo e a norma penal, ou seja, se o fato é
ilícito ou antijurídico, independentemente da culpabilidade do
autor. Apresenta o perigo de confundir antijuridicidade com
culpabilidade.

● Subjetiva sustenta não haver fato antijurídico onde não existe


dolo ou culpa. Para esta o ato de um inimputável é ilícito, mas
não punível.

MIRANDA (1997, pg. 35 e 38) resume a antijuridicidade à condição


do fato típico não ter a seu favor nenhuma justificativa, como o estado de
necessidade ou a legítima defesa.

Assim sendo, poderíamos resumir antijuridicidade como sendo a


contradição entre o fato e a norma, não contemplada por nenhuma justificativa
legal.

3.1.3 CULPABIL1DADE - Ainda SOIBELMAN (1996, P. 105) defende que se


trata do elemento subjetivo que liga o fato ao seu autor, o vinculo psíquico,
manifestando-se pelo dolo e pela culpa6.
3.1.4 PUNIBILIDADE – Todo ato punível. Todo ato que recai sob uma pena.
Ato de aplicar uma pena. Condição ou qualidade de punível. Direito de punir do
Estado. (SOIBELMAN, 1999. Pg. 299).

4. EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE

Convém uma abordagem às situações de Extinção da Punibilidade.


Esta expressão tem uma aplicação muito ampla. Em virtude dela cessa a ação
penal, o cumprimento da pena ou seus efeitos penais. Assim, a extinção da
punibilidade pode fazer com que a ação penal ainda não iniciada, não se inicie
nunca, cesse, caso esteja pendente, ou perca toda eficácia caso esteja
finalizada. Quanto à pena, fica sem ser executada caso ainda não se tenha
iniciado o seu cumprimento, fica interrompida se já em fase de execução, ficam
seus efeitos extintos caso já tenha sido cumprida integralmente. Tomemos para
exemplificar o caso de anistia: se quando ela sobrevém a ação ainda não foi
iniciada, não se inicia mais; se já foi proposta, fica extinta; se já terminou, a
condenação não conta para efeito de reincidência. Se o anistiado ainda não
havia iniciado o cumprimento da pena, não inicia mais; se estava cumprindo a
pena, é libertado; se já havia cumprido integralmente a pena, não será
considerado reincidente quando de outra condenação posterior. Extinção da
punibilidade refere-se tanto à ação como à condenação. Em outras causas de
extinção de punibilidade, varia a extensão em que é atingida a ação ou a
condenação.

É o desaparecimento do direito de punir do Estado, pela


ocorrência dos seguintes fatos (apenas os em negrito foram previstos na
Legislação Penal Militar no Art. 123 do CPM): morte do agente; anistia,
graça7 ou indulto; retroatividade da lei que não mais considera o fato
como criminoso; prescrição8, decadência9 ou perempção10; renúncia ao
direito de queixa ou pelo perdão aceito nos crimes de ação privada; pela
reabilitação; pela retratação do agente, nos casos em que a lei permite; pelo
casamento do agente com a ofendida nos crimes contra os costumes; pelo
ressarcimento do dano no peculato culposo. (SOIBELMAN, 1999. Pg. 161)

5. EXCLUDENTE DE CRIMINALIDADE

O Art. 42 do CPM prevê as situações de não existência de crime


quando o agente pratica o fato:

I - em estado de necessidade;

II - em legítima defesa;

III - em estrito cumprimento do dever legal;

IV - em exercício regular de direito.

Parágrafo único. Não há igualmente crime quando o comandante de


navio, aeronave ou praça de guerra, na iminência de perigo ou grave
calamidade, compele os subalternos, por meios violentos, a executar serviços e
manobras urgentes, para salvar a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, o
terror, a desordem, a rendição, a revolta ou o saque.

5.1 ESTADO DE NECESSIDADE, COMO EXCLUDENTE DO CRIME

Art. 43. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para


preservar direito seu ou alheio, de perigo certo e atual, que não provocou, nem
podia de outro modo evitar, desde que o mal causado, por sua natureza e
importância, seja consideravelmente inferior ao mal evitado, e o agente não
seja legalmente obrigado a arrostar o perigo.

No estado de necessidade, o mal foi praticado manifesta-se


necessário para preservar direito seu ou alheio de perigo certo e atual, não
provocado ou evitável. Considera-se que o mal causado, pela sua natureza e
importância, seja consideravelmente inferior ao mal evitado. Se o agente tinha
a obrigação legal de enfrentar o perigo, não pode alegar estado de
necessidade. Devemos destacar que para que seja possível e exigível o
enfrentamento, a autoridade deve estar capacitada tecnicamente e com o apoio
material e logístico que lhe possibilite tal enfrentamento. A lei não exige
suicidas. Nossos heróis abatidos em combate, nas ações em que se
envolveram, vislumbraram a possibilidade de vitória e foram buscá-la. Enfrentar
o perigo deve pressupor a inteligência da autoridade, mas o sacrifício heróico
da própria vida é um dever ao qual os militares não podem se eximir, mas sim
se orgulhar. Em geral diz-se estado de necessidade o sacrifício de um bem
para salvar um outro de maior valor. Quando um policial se sacrifica em
serviço, na realidade ele demonstra da forma mais nobre o grandioso valor que
a sociedade tem.

Podemos mencionar outros exemplos como o de um avião estar


caindo e dois ou mais passageiros disputarem um único pára-quedas; após um
naufrágio, duas pessoas disputarem um pedaço de tábua que só dá para
sustentar uma delas; faminto às portas da morte que furta alimento para comer,
etc.

5.2 LEGÍTIMA DEFESA

Art. 44. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente


dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito
seu ou de outrem.

Excesso culposo

Art. 45. O agente que, em qualquer dos casos de exclusão de crime,


excede culposamente os limites da necessidade, responde pelo fato, se este é
punível, a título de culpa.

Excesso escusável

Parágrafo único. Não é punível o excesso quando resulta de escusável


surpresa ou perturbação de ânimo, em face da situação.
SOIBELMAN (1996. Pg.157) define-o como um excesso justificável e
não culposo. Tal excesso resultaria do medo, surpresa ou perturbação de
ânimo em face da situação concreta que o agente enfrenta.

Excesso doloso

Art. 46. O juiz pode atenuar a pena ainda quando punível o fato por
excesso doloso.

Caracteriza-se pelo excesso cometido pelo agente que, embora


estando em situação de necessidade, vai além do suficiente para neutralizar a
agressão a que está sendo vítima ou justificar a sua conduta, querendo ou
assumindo o risco do resultado.

Elementos não constitutivos do crime

Art. 47. Deixam de ser elementos constitutivos do crime:

I - a qualidade de superior ou a de inferior, quando não conhecida do


agente;

II - a qualidade de superior ou a de inferior, a de oficial de dia, de serviço


ou de quarto, ou a de sentinela, vigia, ou plantão, quando a ação é praticada
em repulsa a agressão.

5.3 CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL

Não há crime quando o agente pratica o fato no estrito cumprimento


do dever legal. Ex: sentinela que abate invasor de aquartelamento; pelotão de
fuzilamento que executa condenado à pena de morte; policial que invade
domicílio, causando dano no imóvel para dar cumprimento a ordem judicial.

Observe que o dever que o agente cumpre pode ser imposto por
qualquer norma legal e não apenas por leis de natureza penal. Para a doutrina
finalista, é necessário, ainda, um requisito subjetivo (conhecimento de que age
no cumprimento do dever). Então, lembre-se: para você argüir estrito
cumprimento do dever legal, deve ter a plena consciência, a certeza de que a
conduta tem previsão legal.

O agente, na verdade, simplesmente cumpre uma norma que obriga


a sua ação, necessariamente aquela ação não pode ser considerada
antijurídica. Digamos o seguinte: quando um policial executa uma prisão legal,
não se poderia ao mesmo tempo considerar que ele estava agindo de maneira
antijurídica. Muito pelo contrário, ele está fazendo exatamente o que o Direito
ordena que ele faça. Portanto, ele tem o dever legal de agir. Nesses casos em
que ele tem o dever legal de agir a sua conduta está desde já justificada. Qual
é a lógica disso? Não teria nenhum motivo, nenhum fundamento, impor uma
determinada obrigação, um determinado dever a uma pessoa num momento e
no outro punir aquela conduta. Portanto, se considera que ele prendendo uma
pessoa (cerceando sua liberdade) realiza uma conduta típica, prevista, mas
essa conduta típica não tem antijuridicidade, ela está justificada.

O dever não pode ultrapassar o que a lei determina e limita. O


policial pode reter uma pessoa depois de ela ter praticado um crime, ou
achando que ela praticou um crime, mas ele não pode, por exemplo, causar
lesões corporais nessa pessoa. Se a pessoa reagir, vai agir em defesa de um
direito (integridade física) que foi ilegalmente violado pelo policial11.

5.4 EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO

Não há crime quando o agente pratica o fato no exercício regular de


direito, como o médico, praticando uma intervenção cirúrgica, na violência
desportiva do boxe, na divulgação que a imprensa faz de informações
particulares, exercício do pátrio poder, por exemplo, desde que respeitadas as
regras e limites da lei. Importante observar que a ação deve estar regularizada
e, portanto, autorizada por autoridade competente. A legislação ampara o que
se chamaria "atuar dentro do risco permitido". Vejamos mais exemplos:

O professor Júlio Fabbrini Mirabete destaca no Manual de Direito


Penal que: “não há crime quando ocorre o fato no exercício regular de direito”

11
O excesso configura abuso de autoridade, se não resultar crime mais grave.
(art.23,inc.III, segunda parte). Segundo o autor, qualquer pessoa pode exercitar
um direito subjetivo ou faculdade prevista em qualquer legislação com
competência sobre o assunto. Referindo-se em defesa da utilização de
ofendículos12, cercas eletrificadas e aparelhos predispostos visíveis para
defesa da propriedade (arame farpado, caco de vidros em muros), excluindo os
“meios mecânicos” ocultos (eletrificação de fios, de maçanetas de portas) que
não cumpram exigências legais, garante o autor que a lei, ao garantir a
inviolabilidade do domicílio (art. 150 CP), confere juridicidade a quem instala
cercas eletrificadas em seu imóvel. As cercas eletrificadas de proteção a muros
são artefatos para proteção de patrimônio particular, empregados sob tutela
prática do “exercício regular de direito”, e configurando-se como instrumento
legal. A utilização de cerca eletrificada não se enquadra como abuso de direito,
nem incide em ato ilegal, estando seus usuários abrigados para exercer
livremente os direitos de proteção à propriedade. Se a lei me garante o
exercício de um direito, paralelamente, me garante respaldo a determinadas
ações para proteção a este direito que ela mesma me garantiu.

Outra situação que se poderia invocar este excludente de ilicitude


voltando-nos para os crimes ambientais, seria a de exercício regular de direito
materializado na autorização, conferida por autoridade administrativa, para o
funcionamento de entidade empresarial cujo mister implique na prática de
condutas que atentem contra o meio ambiente (indústria química, por
exemplo.). Não se pode aceitar o cometimento de uma agressão ambiental,
sob o pálio singelo de que "o Estado autorizou", respeitados os limites de
poluição permitidos pelo Estado. O Estado estabelece os limites para o uso e
os protege com o exercício regular de direito, punindo apenas os abusos.

Um exemplo bastante útil é o do morador que, à noite, não permite a


entrada do executor de mandado de prisão judicial. Só é cabível a utilização da
força para entrar na casa durante o dia. À noite, guardam-se todas as saídas e
deve-se esperar o amanhecer. O morador, que não permitiu a entrada do
executor, está resguardado pela proteção constitucional à inviolabilidade do
domicílio, está no exercício de direito regular, por isso não cometeu crime. Mas,

12
Ofendículos - são os meios colocados na casa com o objetivo de dar segurança à instalação.
se durante o dia, não entregar o réu, poderá ser responsabilizado
criminalmente, com base nos arts. 329, 330, 331 e 34813 do Código Penal e
será conduzido à presença da autoridade policial.

O ordenamento não poderia por um lado reconhecer um direito a


uma pessoa e de outro punir aquela pessoa considerando antijurídico aquele
comportamento. Como é que se teria de um lado uma norma que assegura um
direito e de outro uma norma que diz que o exercício desse direito é
antijurídico? Para evitar esse conflito, se diz que a pessoa, quando age em
exercício regular do direito, não age antijuridicamente, mesmo que haja
adequação típica, ou seja, que a sua conduta se enquadre em uma
determinada prescrição legal.

6. FLAGRANTE DELITO

Situação em que uma pessoa pode ser presa independente de


mandado de autoridade competente. É uma característica do delito, é o delito
que está sendo cometido, praticado, é o ilícito patente, irrecusável, insofismável
que permite a prisão do seu autor, sem mandado, por ser considerado “a
certeza visual do crime”. Esta prisão do autor é chamada a prisão em flagrante.
O CPPM no art. 243 é claro: “Qualquer pessoa poderá e os militares deverão

13
Resistência
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a
funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 2 (dois) anos.
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à
violência.
Desobediência
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, e multa.
Desacato
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.
Favorecimento pessoal
Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é
cominada pena de reclusão:
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa.
§ 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão:
Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa.
§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do
criminoso, fica isento de pena.
prender quem for insubmisso ou desertor, ou seja encontrado em flagrante
delito”. São as seguintes as situações em que se pode considerar alguém em
flagrante delito, conforme o Art. 302 do Código de Processo Penal e o Art. 244
do CPPM:

I – Está cometendo a infração penal;

II - Acaba de cometê-la;

III – É perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por


qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser o autor da infração;

IV – É encontrado, logo depois, com instrumentos, com armas,


objetos ou papéis que façam presumir ser ele o autor da infração.

6.1 Tipos de Flagrante

A prisão em flagrante é uma prisão provisória que se subdivide em


três circunstâncias ou tipos:

 Flagrante próprio – quando o agente está cometendo a infração


ou acaba de cometê-la. É o caso do agente surpreendido
cometendo o homicídio, ou visto saindo da cena do crime
carregando o corpo da vítima, com a faca suja de sangue na cinta
(art. 302, I e II do CPP e art. 244, letras a e b do CPPM);

 Flagrante impróprio – também chamado de quase-flagrante,


ocorre quando o agente é perseguido logo após o ilícito, em
situação que faça presumir ser ele o autor da infração (art. 302, III
do CPP e art. 244, letra c do CPPM); Entende-se que logo após
significa o tempo necessário para a comunicação do crime, uma
rápida investigação sobre autoria e a imediata perseguição.
Embora a lei não indique a duração do logo após, a melhor
doutrina considera que o estado de flagrância continua enquanto
continuar a perseguição (RT 639/390);
 Flagrante presumido – é aquele em que o agente é encontrado
logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que
façam presumir ser ele o autor da infração (art. 302, IV do CPP e
art. 244, letra d do CPPM). O tempo contido na expressão logo
depois também não é delimitado pela lei. No entanto, exige-se
que o "encontro se dê em ato sucessivo ao delito".

Quando o crime for permanente, como o seqüestro ou a deserção, o


agente estará em flagrante delito enquanto não cessar a permanência.

Não se admite respaldo para o flagrante preparado14. "Não há crime


quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível sua
consumação" (Súmula 145 do STF). Este não se confunde com o flagrante
esperado, onde a polícia apenas aguarda e observa a atuação do agente, sem
ocorrer indução ou provocação ao crime.

6.2 Requisitos de um Flagrante

O importante é a autoridade observar se todos os requisitos exigidos


para um auto de prisão em flagrante delito estão cristalinos nos autos. São os
seguintes esses requisitos:

1. Autoria conhecida;

2. Autor preso;

3. Certeza da tipicidade;

4. Inexistência de excludente de ilicitude;

5. Fundamento da prisão preventiva.

14
Aquele em que o policial induz o autor à ação, estimulando-o com artifícios.
Inexistindo um desses requisitos a autoridade deve instaurar portaria
de inquérito comum ou militar (SANTOS, 2003. Pg. 135).

6.3 Impossibilidade de Prisão e Autuação do Flagrante

De forma geral, qualquer pessoa pode ser presa e autuada em


flagrante. A legislação, porém permitiu algumas exceções, a saber:

1.ª Classe – Não Podem ser Autuados

 Os diplomatas estrangeiros, em decorrência de tratados e


convenções internacionais;

 O Presidente da República – art. 86, § 3.º da Constituição


Federal;

 Os menores de dezoito anos que são inimputáveis – art. 106 e


107 do Estatuto da Criança e do Adolescente;

 Quem atropela e presta pronto e integral socorro à vítima de


trânsito, nos casos de acidente de trânsito em que resulte vítima –
art. 301 da Lei n.º 9.503, de 23.09.97 – CTB; § único do Art. 281
do CPM;

 Autor de fato considerado crime de menor potencial ofensivo


quando, após lavratura do termo circunstanciado, for
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o
compromisso de a ele comparecer – art. 69, § único da Lei
9.099/95 – Juizados Especiais Criminais;

 Autor do crime de autoria desconhecida que procede a


apresentação espontânea. 15

2.ª Classe - Podem ser autuados em flagrante delito apenas nos crimes
inafiançáveis:
 Os membros do Congresso Nacional16 – art. 53, § 2.º da
Constituição Federal17;

 Os Deputados Estaduais18 - art. 27, § 1.º da CF, combinado com


o art. 6.3.1 A Imunidade na Relação Diplomática e na Relação
Consular

O Decreto Federal n.º 56.435, de 08/06/1965, que regula a


Convenção de Viena no tocante às Relações Diplomáticas, determina:

“Artigo 29 - A pessoa do agente diplomático é inviolável.


Não poderá ser objeto de nenhuma forma de detenção ou
prisão. O Estado acreditado trata-lo-á com o devido
respeito e adotará todas as medidas adequadas para
impedir qualquer ofensa à sua pessoa, liberdade ou
dignidade.

Artigo 30 - A residência particular do agente diplomático


goza da mesma inviolabilidade e proteção que os locais
da missão.

Seus documentos, sua correspondência e, sob reserva do


disposto no parágrafo 3 do artigo 31, seus bens gozarão
igualmente de inviolabilidade.”.

O Art. 5.º do mesmo Decreto confirma o poder de


representatividade do Chefe da Missão ou qualquer membro do pessoal
diplomático da Missão podem representar o Estado acreditante perante uma
organização internacional, o que não acontece com os Cônsules.

São autoridades com Imunidade Diplomática:


1) Embaixadores;

2) Chefes de estado (Presidente e Primeiro-Ministro);

3) Familiares deste – n.º 1 do art 37 do Decreto Federal n.º


56.435;

4) Pessoal administrativo e técnico com as respectivas famílias,


desde que sejam estrangeiros - n.º 2 do art. 37 do Decreto Federal n.º
56.435;

5) Servidores domésticos, quando no exercício da função;

A imunidade atinge também a residência particular, oficial e bens


patrimoniais.

As autoridades mencionadas de 1 a 5 não podem ser presas em


flagrante delito em hipótese alguma, nem serem conduzidas a
estabelecimentos penais. Cabe apenas à autoridade policial verificar a
identificação do Diplomata e cessar o crime, não deixando que o Diplomata
continue praticando o ato delituoso. Após a identificação, arrolar
testemunhas, escoltá-lo, se necessário, e apresentar Relatório
Circunstanciado na OPM e BO na delegacia.

Cônsules não gozam de imunidade diplomática (possuem apenas


imunidade consular, que não é absoluta, é apenas relativa19), pois estes não
representam os países a que servem diplomaticamente, eles apenas tratam
de eventos comerciais internacionais. Para Manoel Jorge e Silva Neto, no
artigo “Imunidade de Jurisdição e Imunidade de Execução”, publicado na
Revista Jurídica Consulex n. 126, de 15/04/2002, é correto “o tratamento
em separado da imunidade dos corpos diplomáticos e consulares,
fundamentalmente porque o diplomata acreditado representa o Estado de
origem junto às autoridades locais, ao passo que o cônsul tem a atribuição
de cuidar de interesses privados dos seus compatriotas. Assim, enquanto a
imunidade penal é de caráter ilimitado no caso de eventual infração

19
Alcança apenas os atos realizados no exercício das funções consulares.
cometida pelo embaixador ou qualquer outro membro de sua família, o
mesmo não deve ser concluído no que concerne ao cônsul, visto que o
princípio da extraterritorialidade alcança apenas os atos de ofício, o que
significa concluir, de outro modo: os crimes comuns serão processados e
punidos com amparo na lei penal do Estado”.

No particular, prevalecem os critérios definidos pelas Convenções


de Viena de 1961 sobre Relações Diplomáticas e a de 1967 sobre Relações
Consulares.20.

A legislação também prevê a situação de necessidade do uso de


força para ser efetivada a condução. Observemos o que nos diz o Art. 234 e
seus parágrafos no CPPM:

“Emprego de força

Art. 234. O emprego de força só é permitido quando


indispensável, no caso de desobediência, resistência ou
tentativa de fuga. Se houver resistência da parte de
terceiros, poderão ser usados os meios necessários para
vencê-la ou para defesa do executor e auxiliares seus,
inclusive a prisão do ofensor. De tudo se lavrará auto
subscrito pelo executor e por duas testemunhas.

Emprego de algemas

1º O emprego de algemas deve ser evitado, desde


que não haja perigo de fuga ou de agressão da parte do
preso, e de modo algum será permitido, nos presos a que
se refere o art. 242.

Uso de armas

2º O recurso ao uso de armas só se justifica quando


absolutamente necessário para vencer a resistência ou
proteger a incolumidade do executor da prisão ou a de
auxiliar seu.

CPP, art. 292 - Se houver...resistência à prisão em


flagrante ou à determinada por autoridade competente, o
executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos
meios necessários para defender-se ou para vencer a
resistência”.

A Lei de Execuções Penais (Lei n.º 7.210, de 11 de julho de 1.984)


em seu art. 199 prevê que o uso de algemas será regulamentado por
decreto federal. Infelizmente, tal regulamentação ainda não foi materializada.
Na falta desta regulamentação federal, procuraremos subsídio no Decreto
estadual de São Paulo, de n.º 19.903, de 30/10/1950, que regulamenta o uso
da algema naquele Estado. Estudemos o Decreto:

“art. 1º — O emprego de algemas far-se-á na Polícia do


Estado, de regra, nas seguintes diligências:

1º — Condução à presença da autoridade dos


delinqüentes detidos em flagrante, em virtude de
pronúncia ou nos demais casos previstos em lei, desde
que ofereçam resistência ou tentem a fuga.

2º — Condução à presença da autoridade dos ébrios,


viciosos e turbulentos, recolhidos na prática de infração e
que devam ser postos em custódia, nos termos do
Regulamento Policial do Estado, desde que o seu estado
externo de exaltação torne indispensável o emprego
de força.

3º — Transporte, de uma para outra dependência, ou


remoção, de um para outro presídio, dos presos que, pela
sua conhecida periculosidade, possam tentar a fuga,
durante diligência, ou a tenham tentado, ou oferecido
resistência quando de sua detenção.”(Grifo Nosso).
Acompanhemos a íntegra da Lei:

"Lei nº 11.113, de 13 de Maio de 2005

Dá nova redação ao caput e ao § 3º do art. 304 do


Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de
Processo Penal

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu


sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º. O caput e o § 3º do art. 304 do Decreto-Lei nº


3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo
Penal, passam a vigorar com a seguinte redação:

'Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente,


ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, sua
assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de
entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das
testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do
acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo,
após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a
autoridade, afinal, o auto.

§ 3º Quando o acusado se recusar a assinar, não souber


ou não puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será
assinado por duas testemunhas, que tenham ouvido sua
leitura na presença deste.' (NR)

Art. 2º. (VETADO).

Brasília, 13 de maio de 2005; 184º da Independência e


117º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA"


Infelizmente, no âmbito do Direito Processual Penal Militar, esta
novidade não possa ser ainda praticada, pois permanece ileso o Art. 245 do
CPPM que determina:

"Art. 245. Apresentado o preso ao comandante ou ao


oficial de dia, de serviço ou de quarto, ou autoridade
correspondente, ou à autoridade judiciária, será, por
qualquer deles, ouvido o condutor e as testemunhas que o
acompanharem, bem como inquirido o indiciado sobre a
imputação que lhe é feita, e especialmente sobre o lugar e
hora em que o fato aconteceu, lavrando-se de tudo auto,
que será por todos assinado. (Grifo nosso)"

A falta de testemunhas não impede a feitura do auto de prisão,


que deverá ser assinado por pelo menos duas pessoas que tenham
presenciado a apresentação do preso. Caso o preso se recuse assinar, não
souber ou não quiser fazê-lo, duas testemunhas que tenham presenciado a
leitura do termo, na presença do indiciado, do condutor e das testemunhas
do fato delituoso, podem fazê-lo, conforme o § 2.º e 3.º do art. 245 do CPPM
(BRASIL, 1997. Pg. 224).

Importante frisar que a autoridade só expedirá a nota de culpa se


estiver convencida da existência da infração penal. Caso contrário, relaxará
a prisão, remetendo os autos para a autoridade judiciária competente – Juiz
Auditor.

Havendo necessidade de diligências de busca e apreensão de


instrumentos de crime ou qualquer outra diligência, mediante fundadas
suspeitas decorrentes das respostas oferecidas no auto, deve a autoridade
determinar o recolhimento à prisão do preso, procedendo, se for o caso,
exame de corpo de delito. Neste caso, informará a autoridade judiciária que
usufruirá do prazo de até cinco dias para, após a conclusão das diligências,
efetuar a remessa (art. 246 e 251 do CPPM - BRASIL, 1997. Pg. 225, 226).
A Constituição Federal não exige que o preso, por ocasião da
lavratura do auto flagrancial, seja assistido por advogados ou familiares. O
artigo 5º, inciso LXIII, da Carta Magna, assegura-lhe o direito de se comunicar
com pessoa da família ou com advogado para dar ciência do fato. A
incomunicabilidade das testemunhas refere-se ao relacionamento entre elas,
ou seja, inquiridas em separado, não se deve permitir que a sucessora assista
ao ou ouça o depoimento da antecessora, o que, acontecendo, poderia influir
no que a sucessora teria a declarar. O acesso aos autos antes de iniciada a
audiência não pode ser impedido, devendo constar no termo sua leitura ou
conhecimento da forma que for necessária, não implicando em se afirmar que
isso resultará em falta com a verdade por parte da testemunha. (TRF – 3ª R –
5ª T. Crim. – HC nº 9603047975-6 – Rel. Juiz André Nabarrete – DJ 05.02.97 –
pág. 5367).

Uma vez efetuada a prisão esta deve ser de imediato comunicada à


autoridade judiciária, com a declaração do local onde o preso ou presa se
encontra, conforme impera o art. 222 do CPPM, combinado com o Art. Art. 535
- Lavrado o auto de prisão em flagrante ou, no caso de processo iniciado em
virtude de portaria expedida pela autoridade policial, inquirida a última
testemunha, serão os autos remetidos ao juiz competente, no prazo de 2 (dois)
dias.

Quando for um policial militar a ser autuado por autoridade policial


civil, esta só poderá retê-lo na delegacia ou no local onde se materializar o
flagrante, pelo tempo necessário para feitura do mesmo, sob pena de
responder pela não observância ao art. 74 do Estatuto dos Militares, que obriga
a autoridade policial a fazer a entrega do militar à autoridade militar mais
próxima:

“ART. 74 - Somente em caso de flagrante delito o militar


poderá ser preso por autoridade policial, ficando esta
obrigada a entregá-lo imediatamente à autoridade militar
mais próxima, só podendo retê-lo, na delegacia ou posto
policial, durante o tempo necessário à lavratura do
flagrante.
§ 1º - Cabe à autoridade militar competente a iniciativa de
responsabilizar a autoridade policial que não cumprir ao
disposto neste artigo e a que maltratar ou consentir que
seja maltratado qualquer preso militar ou não lhe der o
tratamento devido ao seu posto ou graduação.

§ 2º - Se, durante o processo e julgamento no foro civil,


houver perigo de vida para qualquer preso militar, a
autoridade militar competente, mediante requisição da
autoridade judiciária, mandará guardar os pretórios ou
tribunais por força federal. (LEI 6880 DE 09/12/1980)”

O Estatuto da PMMA concorda plenamente com o texto do Estatuto


Federal:

“Art. 100 – O policial-militar só poderá ser preso por


autoridade policial em caso flagrante delito.

§ 1º - Quando se der o caso previsto neste artigo, o militar


só poderá ser detido na delegacia ou posto policial
durante o tempo necessário à lavratura do flagrante,
imediatamente apresentado à autoridade militar mais
próxima.

§ 2º - Cabe ao Comandante-Geral da Polícia Militar a


iniciativa de responsabilizar autoridade policial que não
cumprir o disposto neste artigo ou que maltratar ou
consentir que seja maltratado qualquer preso policial-
militar ou que não lhe der o tratamento devido ao seu
posto ou graduação.

§ 3º - Se durante o processo em julgamento no foro


comum houver perigo de vida para qualquer preso
policial-militar, o Comandante da OPM da área
providenciará os entendimentos com autoridade judiciária,
visando guardar o fórum por força policial-militar, a fim de
assegurar ação de justiça e preservar a vida do preso.”

7. CRIMES MILITARES PRÓPRIOS E IMPRÓPRIOS

Para o Direito Penal Militar os crimes militares podem ser própria e


impropriamente militares. Passemos a analise destes conceitos:

Crimes propriamente militares são aqueles que violam os


deveres funcionais da profissão de soldado. São crimes militares em razão
da lei, cabendo ao comandante determinar a apuração baseada no art. 7°, do
CPPM. No caso específico das unidades da Policia Militar do Maranhão, a
competência advém da letra h) do art. 7°: ”Art. 7° A polícia judiciária militar é
exercida nos termos do art. 8°21 pelas seguintes autoridades, conforme as
respectivas circunscrições: (...) h) pelos comandantes de forças, unidades ou
navios".

O crime propriamente militar é o tipificado no art. 9°, inciso 1. do


Decreto-Lei n° 1.001/69. Os crimes de que trata o Código Penal Militar,
"quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos,
qualquer que seja o agente, salvo disposição especial". Ou seja, todos os
crimes, independentemente do agente ou do local onde foram praticados, que
tenham por sede de sua tipificação apenas o Código Penal Militar ou que sejam
tipificados no CPM e na lei penal comum -Código Penal ou lei extravagante,
porém de modo diverso, são crimes militares.

Impropriamente militares os que se definem pela condição militar do


agente, pela espécie militar do fato, pela natureza militar do local ou pela
anormalidade do tempo em que é praticado. São crimes mistos, comuns
pela sua natureza, ou militares em sua objetividade, e podendo ser
praticados por militares e civis (SOIBELMAN, 1996, p. 101). Os
impropriamente militares são os praticados por policiais militares ou
bombeiros militares, mas previstos na lei penal comum, como furto, roubo,
estelionato, etc...

21
Determina a competência da Polícia Judiciária Militar
O crime impropriamente militar, tipificado nos incisos II e III do art.
9° do CPM, é aquele que, embora previsto de maneira idêntica, tanto no
Código Penal Militar, como na lei penal comum, é praticado, respectivamente,
por militar em atividade, presentes determinadas condições (ex: contra outro
militar, em lugar sujeito à administração militar, durante período de manobra
etc...), ou por militar da reserva, ou reformado, ou civil, contra as instituições
militares, também presentes condições específicas (contra patrimônio sob
administração militar, em lugar sujeito a administração militar contra militar
etc.).

Tal análise merece um aparte, pois, segundo o art. 6° do CPPM,


que trata da aplicação à Justiça Militar Estadual, temos que “Obedecerão às
normas processuais previstas neste Código, no que forem aplicáveis, salvo
quanto á organização da justiça, aos recursos e à execução da sentença, os
processos da Justiça Militar Estadual, nos crimes previstos na Lei Penal Militar
a que responderem os oficiais e praças das Polícias e dos Corpos de
Bombeiros Militares”.

O Art. 36022 Código Penal determina o respaldo legal quanto a sua


aplicação ressalvando os crimes militares da incidência daquele Código. Como
resumo, pode afirmar que o crime militar para a Justiça Estadual é aquele
praticado por militar, nesta qualidade. Tal delito comporta duas espécies: crime
militar em tempo de paz (Art. 9° DL 1.001-CPM, de 21.10.1969) e crime militar
em tempo de guerra (Art. 10° do DL 1.001-CPM, de 21.10.1969). O crime pode
ser, também, próprio ou impróprio. O crime militar próprio acha-se catalogado
no CPM (DL 1.001, supra); o crime militar impróprio é aquele tipificado,
também, na lei penal comum, desde que cometido nos termos dos Arts. 9°, II 23,
e 10°, III24, do DL 1.001. A CF determina, no Art. 124, caput25, que compete à

22
Art. 360 - Ressalvada a legislação especial sobre os (...) crimes militares, revogam-se as
disposições e contrário.
23
Art. 9° - Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: (...) II - os crimes previstos neste
Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados...(por
militar ou assemelhado)
24
Art. 10 -Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra: III -os crimes previstos neste Código,
embora também o sejam com igual definição na lei penal comum ou especial, quando praticado,
quaisquer que seja o agente: a) em território nacional, ou estrangeiro, militarmente ocupado: b) em
qualquer lugar, se comprometem ou podem comprometer a preparação, a eficiência ou as operações
militares ou, ou de qualquer outra forma, atentam contra a segurança interna do País ou podem expô-la
ao perigo.
Justiça Militar processar e julgar os crimes militares definidos em lei - os do
próprio DL 1.001 (CPM).

Das definições apresentadas, é importante para o nosso estudo o fato de só


serão crimes militares: os tipificados exclusivamente no Código Penal
Militar os tipificados de forma diversa no CPM e nas leis penais
comuns; ou os tipificados de forma idêntica no Código Penal Militar e
nas leis penais comuns, desde que praticados sob determinadas
condições.

Crime Militar CPM Lei Comum Comentário


Próprio X
Forma
Impróprio X X
Diversa
Mesma
Impróprio X X
Forma

8. COMPETÊNCIA DA POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR

As atribuições da Polícia Judiciária Militar são similares às da


Polícia Judiciária Civil. Atua, por determinação constitucional, na apuração das
infrações penais militares.

Existe uma linha absurda que defende a idéia de que seria o


delegado a única autoridade policial para efeito de apuração criminal,
desconhecendo que a própria Constituição Federal preconiza no § 4.º do Art.
14426. Isto esclarecido, passemos ao Art. Art. 8º que define as competências da
Polícia judiciária militar:

a) apurar os crimes militares, bem como os que, por lei especial, estão sujeitos
à jurisdição militar, e sua autoria;

b) prestar aos órgãos e juízes da Justiça Militar e aos membros do Ministério


Público as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos,
bem como realizar as diligências que por eles lhe forem requisitadas;

25
Art. 124 – À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Parágrafo
Único. A Lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar.
26
§ 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a
competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as
militares. (BRASIL, 1999. Pg. 69).
c) cumprir os mandados de prisão expedidos pela Justiça Militar;

d) representar a autoridades judiciárias militares acerca da prisão preventiva e


da insanidade mental do indiciado;

e) cumprir as determinações da Justiça Militar relativas aos presos sob sua


guarda e responsabilidade, bem como as demais prescrições deste Código,
nesse sentido;

f) solicitar das autoridades civis as informações e medidas que julgar úteis à


elucidação das infrações penais, que esteja a seu cargo;

g) requisitar da polícia civil e das repartições técnicas civis as pesquisas e


exames necessários ao complemento e subsídio de inquérito policial militar;

h) atender, com observância dos regulamentos militares, a pedido de


apresentação de militar ou funcionário de repartição militar à autoridade civil
competente, desde que legal e fundamentado o pedido.

No caso específico da Polícia Militar do Maranhão, a competência


para o exercício da Polícia Judiciária Militar advém do Art. 7º do CPPM que
prevê: "A polícia judiciária militar é exercida nos termos do art. 8º (vistas no §
anterior), pelas seguintes autoridades, conforme as respectivas jurisdições: ...
h) pelos comandantes de forças, unidades ou navios. Portanto, cada
comandante de unidade é competente para o exercício da Polícia Judiciária
Militar, podendo, "Obedecidas as normas regulamentares de jurisdição27,
hierarquia e comando, as atribuições enumeradas neste artigo poderão ser
delegadas a oficiais da ativa, para fins especificados e por tempo limitado 28",

como é normalmente feito através das Portarias de Designação de


Encarregado de Inquérito Policial Militar (IPM).

O IPM é o instrumento formal de investigação, peça informativa,


compreendendo o conjunto de diligências realizadas pela autoridade para

27
A jurisdição da Polícia Judiciária Militar no Estado do Maranhão pertence à Auditoria da Justiça Militar
Estadual. A PMMA possui circunscrição, pois, jurisdição é privativa do Poder Judiciário.
28
§ 1.º do Art. 7.º do CPPM.
apuração de fato e descoberta de autoria. Sua principal finalidade é servir de
base para a ação penal a ser promovida pelo Ministério Público Militar.

O IPM não é processo29, tendo caráter inquisitivo, constituindo-se em


simples procedimento administrativo informativo.

O Sargento da Polícia Militar do Maranhão desempenha


normalmente as atribuições de auxiliar do Oficial Encarregado do Inquérito
policial Militar (IPM). Tal atribuição é prevista no CPPM, como lemos:

ESCRIVÃO DO INQUÉRITO

11. A designação de escrivão para o inquérito caberá ao respectivo


encarregado, se não tiver sido feita pela autoridade que lhe deu delegação
para aquele fim, recaindo em segundo ou primeiro-tenente, se o indiciado for
oficial, e em sargento, subtenente ou suboficial, nos demais casos.

INDICIADO ESCRIVÃO
Oficial 1.º ou 2.º Ten
Praças Especiais ou não e Civis30 Sargento ou Subtenente

O IPM tem prazo para ser concluído determinado pelo Art. 20 do CPPM,
dependendo de o indiciado31 estar preso ou solto:
INDICIADO PRAZO
Preso 20 dias
Solto 40 dias, prorrogável por mais 20 dias.

Havendo diligências a concluir ou a executar após o máximo do


prazo e da prorrogação - quando convier, não existirá mais prorrogação. Todos
os laudos de perícias, documentos ou exames ainda necessários, serão
posteriormente remetidos ao juiz para juntada ao processo. O Encarregado, no
seu relatório, mencionará, se possível, o lugar onde se encontram as
testemunhas que deixaram de ser ouvidas, por qualquer impedimento.

Concluídas as diligências, elaborará o Encarregado minucioso


relatório (art. 22 do CPPM) e encaminhará os autos do IPM para a autoridade

29
Processo só se inicia com a aceitação da denúncia pelo juiz competente.
30
Lembre-se: civis não respondem por prática de crime militar perante a Justiça Militar Estadual.
31
Pessoa que responde ao IPM, por haverem indícios contra si de prática de crime militar.
que lhe houver delegado a atribuição para que esta solucione o IPM. Se a
autoridade delegante não for o Comandante-Geral, o IPM e a Solução deste
devem ser encaminhados para esta autoridade para que ocorra a
Homologação da Solução e encaminhamento para a Justiça Militar Estadual.
Tal providência garante ao titular do mais alto cargo da Polícia Judiciária Militar
Estadual – o Comandante-Geral – do pleno conhecimento e controle dos autos
policiais judiciários militares encaminhados para a JME. Todos os IPMs devem
ser encaminhados para a JME, considerando que a autoridade militar não tem
competência para determinar o seu arquivamento 32, mesmo concluindo pela
inexistência de crime ou de inimputabilidade do indiciado. (art. 24 do CPPM).

COMPROMISSO DO ESCRIVÃO - O escrivão prestará compromisso


de manter o sigilo do inquérito e de cumprir fielmente as determinações deste
Código, no exercício da função.

TESTEMUNHAS - As testemunhas e o indiciado, exceto caso de


urgência inadiável, que constará da respectiva assentada, devem ser ouvidos
durante o dia, em período que medeie entre as sete e as dezoito horas.

ASSENTADA - O escrivão lavrará assentada do dia e hora do início


das inquirições ou depoimentos; e, da mesma forma, do seu encerramento ou
interrupções, no final daquele período.

NUMERAÇÃO E FORMATAÇÃO DAS PÁGINAS - Todas as peças


do inquérito serão, por ordem cronológica, reunidas num só processado e
datilografadas ou digitadas, em espaço dois (para datilografia), ou espaço
duplo (para os oriundos de formatação em programa de texto), com as folhas
numeradas e rubricadas, pelo escrivão.

CONCLUSÃO – É o ato que precede toda e qualquer manifestação


do Encarregado do IPM. A cada providência determinada ou realização de
diligência necessária para a apuração do fato, deve ser ordenado ao Escrivão a
feitura da respectiva conclusão dos autos.

32
O Ministério Público Militar também não tem competência para arquivar um IPM, podendo apenas
solicitar tal providencia para o Juiz Auditor (§ 2.º do Art. 25 do CPPM).
DESPACHO – Neste documento devem estar contidas as
determinações, recomendações, instruções, ordens, etc.. É de estrita
competência do Encarregado do IPM, sendo flexível e variado, conforme forem
necessárias as diligências.

RECEBIMENTO – Documento em que o Escrivão deve assinalar o


dia em que os autos retornaram do Encarregado do IPM. Normalmente, os
autos retornam com as determinações do Encarregado materializadas em
Despachos.

CERTIDÃO – Aqui o escrivão assinala o cumprimento das ordens


emanadas do Encarregado do IPM. Pode o Escrivão, quando necessário
detalhar os atos que praticou e justificar aqueles que deixou de cumprir.

JUNTADA – Termo lavrado pelo Escrivão para cada documento junto


(ofícios, e demais papéis), a que precederá despacho do encarregado do
inquérito, o escrivão lavrará o respectivo termo, mencionando a data.

9. CRIME MILITAR E TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR

Iniciemos a abordagem considerando o art. 5° inciso L XI da


Constituição de 1988: "ninguém será preso senão em flagrante delito ou por
ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, salvo nos
casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em
lei"(Grifo nosso). (BRASIL, 1999. Pg. 9).

Transgressão para SOIBELMAN (1996, p. 355) significa


"contravenção, falta, violação de lei, regulamento, contrato, dever jurídico".
Abordando transgressão disciplinar militar esclarece-se como sendo "toda ação
ou omissão contrária ao dever militar e, como tal, classificada nos termos do
presente regulamento. Distingue-se do crime militar que é a ofensa mais grave
a esse mesmo dever, segundo o preceituado na legislação penal militar" (grito
nosso).

O poder disciplinar só atinge as infrações administrativas com


relação ao serviço, normas internas relativas à hierarquia e disciplina, tendo,
portanto, finalidade ordinária interna. Já a pena criminal tem função social
realizada através do Poder Judiciário.

Na ocorrência simultânea de transgressão disciplinar e crime


(concurso de ambas) quando forem da mesma natureza deve-se aplicar
apenas a pena relativa ao crime.

Consideremos ainda os aspectos material, de origem e


jurisdicional.

● MATERIAL -A materialidade do crime é sempre mais grave,


ensejando grau de antijuridicidade;

● ORIGEM -Crime decorre de LEI e transgressão disciplinar de um


DECRETO REGULAMENTAR33;

● JURISDICIONAL -O crime é de competência judicial


(jurisdição34) e transgressão disciplinar é de competência
administrativa (circunscrição).

10. DOS TRIBUNAIS E JUÍZES MILITARES

A competência da Justiça Militar, Federal e dos Estados, está


definida na Constituição Federal, artigos 124 e 125, § 4°, respectivamente.

Compete à Justiça Militar Federal "processar e julgar os crimes


militares definidos em lei", Ou seja, compete-lhe julgar aqueles crimes definidos
como militares, nos termos do art, 9° do CPM, e tão-somente esses crimes,
praticados por servidores militares federais ou por civis contra militar federal
ou em local sob a administração militar federal, Já à Justiça Militar

33
DECRETO N° 90.608, DE 04 de dezembro de 1984. Aprova o Regulamento Disciplinar do Exército (R-
4).
34
Em sentido técnico processual, só o Poder Judiciário é que tem jurisdição, ou seja, o poder de julgar,
de dizer do direito entre as partes, sem estar subordinado a nenhum outro poder. (SOIBELMAN, 1999, P.
209).
Estadual compete "processar e julgar os policiais militares e bombeiros
militares nos crimes militares definidos em lei".

JUSTICA MIL. FEDERAL JUSTICA MIL EST JUSTICA COMUM


MILITARES FEDERAIS MILIT ESTADUAIS
Contra Mil. Federal Contra Mil. Estadual
CIVIL CIVIL Em local Mil.
Em local Mil. Federal
Estadual

Existe a situação de militares que desempenham funções policiais


civis. Como ficaria a questão de competência para a apuração da
responsabilidade penal? Observemos o que dita a Súmula do STF n.º 297:
“Oficiais e praças das milícias dos estados no exercício de função policial civil
não são considerados militares para efeitos penais, sendo competente a justiça
comum para julgar os crimes cometidos por ou contra eles”.

A Súmula n.º 298 do STF também esclarece sobre a submissão


de civis à Justiá Militar em tempo de paz: “O legislador ordinário só pode
sujeitar civis à Justiça Militar, em tempo de paz, nos crimes contra a segurança
externa do país ou às instituições militares”.

Havendo cometido o crime no exercício funcional, e, após esse


cometimento, vir o autor a deixar de ser militar, ainda assim responderá
perante o juízo militar. Observe a Súmula n.º 394 do STF: “Cometido o crime
durante o exercício funcional, prevalece a competência especial por
prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados
após a cessação daquele exercício”.

A Justiça Estadual tem competência residual, ou seja, compete-lhe


processar e julgar as causas que não sejam da competência do Supremo
Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, da Justiça Federal ou da
Justiça Especializada (Trabalhista, Eleitoral e Militar).

Em sua grande sabedoria o STF, através da Súmula n.º 555,


vislumbrou a possibilidade de conflitos de competência envolvendo a justiça
comum e a militar, estabelecendo o seguinte: “É competente o Tribunal de
Justiça para julgar conflito de jurisdição entre juiz de direito do estado e a
justiça militar local”.

10.1 DOS TRIBUNAIS E JUÍZES DOS ESTADOS

Vejamos o que o Texto Constitucional Federal prescreve sobre a


Justiça Militar:

Seção VIII

Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os


princípios estabelecidos nesta Constituição.

§ 1° -A competência dos tribunais será definida na Constituição do


Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de
Justiça.

§ 2° Cabe aos Estados a instituição de representação de


inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em
face da Constituição Estadual, vedada à atribuição da legitimação para agir a
um único órgão.

§ 3°. A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de


Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau, pelos
Conselhos de Justiça em segundo, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por
Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo da polícia militar
seja superior a vinte mil integrantes.

§ 4° -Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os


policiais militares e bombeiros militares nos crimes militares, definidos em
lei, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da
patente dos oficiais e da graduação das praças.

A Justiça Militar do Estado do Maranhão é constituída em


primeira instância pelo Conselho de Justiça e, em segundo, pelo Tribunal de
Justiça, cabendo-lhe processar e julgar os policiais militares e bombeiros
militares, nos crimes definidos em Lei (Constituição do Estado do Maranhão,
arts, 85 a 87). Referindo-se aos Tribunais Militares da esfera federal,
consideramos de primeira instância as auditorias das três Forças: Marinha,
Exército e Aeronáutica. A segunda instância é o Superior Tribunal Militar
(SOIBELMAN, 1996, P. 357).

JUSTIÇA MILITAR DO ESTADO DO MARAHÃO


COMPETÊNCIA 1ª INSTANCIA 2ª INSTÂNCIA
Julgar os Policiais Militares e
Conselho de Justiça Tribunal de Justiça
Bombeiros Militares

10.2 LEI N° 8.457, DE 4 DE SETEMBRO DE 1992

Esta lei organiza a Justiça Militar da União e regula o funcionamento de seus


Serviços Auxiliares.

Observe-se que o § único do art. 58 do Estatuto da Polícia Militar


do Maranhão (Lei n° 6.513, de 10.11.1995) determina que "Aplica-se aos
crimes militares estaduais, no que couber, as disposições estabelecidas no
CPM, CPPM e Lei de Organização Judiciária Militar e Lei de Organização
Judiciária do Estado".

10.2.1. ESTRUTURA DA JUSTIÇA MILITAR

Da União

Art. 1° São órgãos da Justiça Militar:

I – o superior Tribunal Militar;

II – a Auditoria de Correição;

III – os Conselhos de Justiça;

IV – os Juízes-Auditores e os Juízes-Auditores Substitutos.

Das Circunscrições Judiciárias Militares

Art. 2° Para efeito de administração da Justiça Militar em tempo de


paz, o território nacional divide-se em doze Circunscrições Judiciárias Militares,
h) a 8ª - Estados do Pará, Amapá e Maranhão.
Da Composição

Art. 3° O Superior Tribunal Militar, com sede na Capital Federal


e jurisdição em todo território nacional, compõe-se de quinze ministros
vitalícios, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a
indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha,
quatro dentre oficiais-generais do Exército e três oficiais-generais da
Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira e cinco dentre
civis.

§ 1° Os Ministros civis são escolhidos pelo Presidente da


República, dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e
cinco anos de idade, sendo:

a) três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta


ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional;

b) dois por escolha paritária, dentre Juízes-Auditores e


membros do Ministério Público da Justiça Militar.

§ 2° Os Ministros militares permanecem na ativa, em quadros especiais da


Marinha, Exército e Aeronáutica.

Para o acesso de auditores ao Superior Tribunal Militar só concorrem


os de segunda entrância (Súmula n.º 09 do STF).

ÓRGÃO COMPOSIÇÃO FUNCIONAMENTO


03 OF GEN MB VITALÍCIO. Processa e julga
MILITAR

04 OF GEN EB originariamente: os oficiais generais da


SUPERIOR 03 GEN FAB forças armadas, nos crimes militares
10
15 MINISTROS

TRIBUNAL definidos em lei; a revisão dos


03 ADVOGADOS
VITALÍCIOS

MILITAR processos findos na Justiça Militar e


02 J.A. OU MP
outras competências estabelecidas no
CIVIS
05

Art. 6° da Lei 8.457.


AUDITORIA 01 JUIZ-AUDITOR CORREGEDOR, Verifica abusos e irregularidades nas
01 DIRETOR DE SECRETARIA E Auditorias.
AUXILIAR

DE
CORREIÇÃO
O Conselho Especial e Permanente
01 JUIZ-AUDITOR, 01 - JUIZ- funcionarão nas sedes das auditorias,
AUDITOR-SUBSTITUTO35 01 salvo caso especial por motivo relevante
AUDITORIAS DIRETOR DE SECRETARIA, 02 de ordem pública ou de interesse da
OFICIAL DE JUSTIÇA E AUXILIAR. justiça e pelo tempo indispensável.
O Conselho Especial é constituído para
cada processo e dissolvido após
conclusão de seus trabalhos, reunindo-
se novamente, se sobreviver nulidade do
CONSELHO 01 JUIZ-AUDITOR E 04 MILITARES processo ou do julgamento, ou diligência
ESPECIAL determinada pela instância superior.
DE JUSTIÇA Processa e julga oficial, exceto oficiais-
generais, nos delitos previstos na
legislação penal militar.
CONSELHO 01 JUIZ-AUDITOR, 01 OFICIAL O Conselho Permanente, uma vez
PERMANENTE SUPERIOR, QUE SERÁ O constituído, funcionará três meses
DE JUSTIÇA PRESIDENTE, E 03 OFICIAIS DE consecutivos, coincidindo com os
POSTO ATÉ CAPITÃO-TENENTE trimestres do ano civil, podendo o prazo
OU CAPITÃO. de sua jurisdição ser prorrogado nos
prazos previstos em lei.
Processa e julga acusados que não
sejam oficiais.

Da Composição das Auditorias


Art. 15. Cada Auditoria tem um Juiz-Auditor, um Juiz-Auditor
Substituto, um Diretor de Secretaria, dois Oficiais de Justiça Avaliadores e
demais auxiliares, conforme quadro previsto em lei.

Da Composição dos Conselhos

35
A Lei Complementar n° 16, de 15.12.1992 (organiza a Justiça Militar do Estado do Maranhão)
determina a composição da Auditoria Militar do Maranhão com um Juiz Auditor -Titular, um juiz de
direito Auxiliar, um Promotor de Justiça, um Defensor Público, um Escrivão, um Técnico de Serviços
Judiciários, dois Oficiais de Justiça e demais servidores administrativos.
Art. 16. São duas as espécies de Conselhos de Justiça:

a) Conselho Especial de Justiça, constituído pelo Juiz-Auditor e


quatro Juízes militares, sob a presidência. dentre estes, de um oficial-
general ou oficial superior, de posto mais elevado que os dos demais juizes,
ou de maior antiguidade, no caso de igualdade;

b) Conselho Permanente de Justiça, constituído pelo Juiz-


Auditor, por um oficial superior, que será o presidente, e três oficiais de
posto até capitão-tenente ou capitão.

Art. 17. Os Conselhos Especial e Permanente funcionarão na


sede das Auditorias, salvo casos especiais por motivo relevante de ordem
pública ou de interesse da Justiça e pelo tempo indispensável, mediante
deliberação do Superior Tribunal Militar.

Art. 18. Os juízes militares dos Conselhos Especial e


Permanente são sorteados dentre oficiais da (PMMA), em serviço ativo na
sede da Auditoria, recorrendo-se a oficiais fora deste local, porém no âmbito da
jurisdição da Auditoria, quando insuficientes os da sede.

Art. 23. Os juizes militares que integrarem os Conselhos


Especiais serão de posto superior no do acusado, ou do mesmo posto e de
maior antiguidade.

§ 1° O Conselho Especial é constituído para cada processo e dissolvido


após conclusão dos seus trabalhos, reunindo-se, novamente, se sobrevier
nulidade do processo ou do julgamento, ou diligência determinada pela
instância superior.

§ 2° No caso de pluralidade de agentes, servirá de base à


constituição do Conselho Especial a patente do acusado de maior posto.

§ 3° Se a acusação abranger oficial e praça ou civil, responderão


todos perante o mesmo conselho, ainda que excluído do processo o oficial.
§ 4° No caso de impedimento de algum dos juízes, será sorteado
outro para substituí-lo, observado o disposto no parágrafo único do art. 21
desta lei.

Art. 24. O Conselho Permanente, uma vez constituído, funcionará


durante três meses consecutivos, coincidindo com os trimestres do ano civil,
podendo o prazo de sua jurisdição ser prorrogado nos casos previstos em lei.

Art 25, § 2° Na sessão de julgamento são obrigatórios a presença


e voto de todos os Juízes.

Art. 26. Os juízes militares dos Conselhos Especial e Permanente


ficarão dispensados do serviço em suas organizações, nos dias de sessão.

SEÇÃO III

Da Competência dos Conselhos de Justiça

Art. 27. Compete aos conselhos:

I- Especial de Justiça, processar e julgar oficiais (...) nos delitos


previstos na legislação penal militar;

II -Permanente de Justiça, processar e julgar acusados que não


sejam oficiais, nos delitos de que trata o inciso anterior, excetuado o disposto
no art. 6°, inciso I. alínea b, desta lei (competências originárias do STM).

SEÇÃO IV

Da Competência dos Presidentes dos Conselhos de Justiça

Art. 29. Compete aos Presidentes dos Conselhos Especial e


Permanente de Justiça:

I -abrir as sessões, presidi-las, apurar e proclamar as decisões do


conselho;

II -mandar proceder à leitura da ata da sessão anterior;


III -nomear defensor ao acusado que não o tiver e curador ao revel
ou incapaz;

IV -manter a regularidade dos trabalhos da sessão, mandando


retirar do recinto as pessoas que portarem armas ou perturbarem a ordem,
autuando-as no caso de flagrante delito;

V -conceder a palavra ao representante do Ministério Público


Militar, ou assistente, e ao defensor, pelo tempo previsto em lei, podendo
cassá-la após advertência, no caso de linguagem desrespeitosa;

VI resolver questões de ordem suscitadas pelas partes ou


submetê-las à decisão do conselho, ouvido o Ministério Público;

VII mandar consignar em ata incidente ocorrido no curso da


sessão.

SEÇÃO V

Da Competência do Juiz-Auditor

Art. 30. Compete ao Juiz-Auditor:

l -decidir sobre recebimento de denúncia, pedido de arquivamento,


de devolução de inquérito e representação;

II -relaxar, quando ilegal, em despacho fundamentado, a prisão


que lhe for comunicada por autoridade encarregada de investigações policiais;

III -manter ou relaxar prisão em flagrante, decretar, revogar e


restabelecer a prisão preventiva de indiciado, mediante despacho
fundamentado em qualquer caso;

IV -requisitar de autoridades civis e militares as providências


necessárias ao andamento do feito e esclarecimento do fato;

V -determinar a realização de exames, perícias, diligências e


nomear peritos;
VI -formular ao réu, ofendido ou testemunha, suas perguntas e as
requeridas pelos demais juízes, bem como as requeridas pelas partes para
serem respondidas por ofendido ou testemunha;

VII -relatar os processos nos Conselhos de Justiça e redigir, no


prazo de oito dias, as sentenças e decisões;

VIII -proceder ao sorteio dos conselhos, observado o disposto nos


arts. 20 e 21 desta lei;

IX -expedir alvará de soltura e mandados;

X -decidir sobre o recebimento de recursos interpostos;

XI -executar as sentenças, inclusive as proferidas em processo


originário do Superior Tribunal Militar, na hipótese prevista no § 3º do art. 9°
desta lei;

XII -renovar, de seis em seis meses, diligências junto às


autoridades competentes, para captura de condenado;

XIII -comunicar, à autoridade a que estiver subordinado o acusado,


as decisões a ele relativas;

XIV -decidir sobre livramento condicional;

XV -revogar o beneficio da suspensão condicional da pena;

XVI. remeter à Corregedoria da Justiça Militar, no prazo de dez


dias, os autos de inquéritos arquivados e processos julgados, quando não
interpostos recursos;

XVII -encaminhar relatório ao Presidente do Tribunal, até o dia


trinta de janeiro, dos trabalhos da Auditoria, relativos ao ano anterior;

XVIII -instaurar procedimento administrativo quando tiver ciência


de irregularidade praticada por servidor que lhe é subordinado;
XIX -aplicar penas disciplinares aos servidores que lhe são
subordinados;

XX. dar posse, conceder licenças, férias e salário-família aos


servidores da Auditoria;

XXI. autorizar, na forma da lei, o pagamento de auxílio-funeral de


magistrado e dos servidores lotados na Auditoria;

XXII -distribuir alternadamente, entre si e o Juiz-Auditor Substituto


e, quando houver, o Substituto de Auditor estável, os efeitos aforados na
Auditoria, obedecida a ordem de entrada;

XXIII -cumprir as normas legais relativas às gestões administrativa,


financeira e orçamentária e ao controle de material;

XXI V -praticar os demais atos que lhe forem atribuídos em lei.

Parágrafo único - Compete ao Juiz-Auditor Substituto praticar


todos os atos enumerados neste artigo, com exceção dos atos previstos nos
incisos VIII, XVII, XVIII, XIX, XX, XXI, XXII e XXIII, que lhes são deferidos
somente durante as férias e impedimentos do Juiz-Auditor. (Redação dada pela
Lei n° 8.719, de 19/10/93)

11. AÇÃO

Os Arts. 29 e 34 do CPPM concedem o direito da ação pública ao


Ministério Público, como representante da lei e fiscal da sua execução, e o de
defesa pelo acusado, cabendo ao juiz exercer o poder de jurisdição, em nome
do Estado.

A ação penal pode ser pública incondicionada, exercida pelo


Ministério Público; pública condicionada, exercida também pelo Ministério
Público, mas só mediante representação do ofendido ou requisição do Ministro
da Justiça; privada exclusiva, exercida por queixa, pelo ofendido ou seu
representante legal, ou por sucessor relacionado no art. 100, § 4.º, do Código
Penal; privada subsidiária, exercida por queixa, pelo ofendido, no caso de o
Ministério Público não oferecer denúncia no prazo legal (art. 29 do CPP); e
privada personalíssima, que só pode ser exercida pelo próprio interessado,
mediante queixa, e não por algum dos seus sucessores, como, por exemplo,
no crime de adultério (FÜHRER, 1997. Pg. 23) (art. 240 do CP).36

Incondicionada

Pública Representação do
ofendido

condicionada

ESPÉCIES DE Requisição do Ministro da


Justiça

AÇÃO PENAL

Exclusiva

Privada Subsidiária

Personalíssima

As ações da esfera Processual Penal Militar são sempre públicas37,


conforme preconizou Luís Antonio da Gama e Silva – Ministro da Justiça que
assinou as exposições de motivos do CPM: "Dentro do quadro da Ação penal
foi mantido o seu caráter estritamente público, incondicionado, exceção feita
para os crimes militares contra a segurança do País, no qual há a condição

36
Os crimes de lesões corporais leves e lesões culposas eram de ação pública incondicionada, passando
agora, porém, a depender de representação, nos termos da Lei 9.099/95, art. 88. (BRASIL, 1999. Pg.
649)
37
CPM – Art. 121 e CPPM - Art. 29. A ação penal é pública e somente pode ser promovida por denúncia
do Ministério Público Militar. (BRASIL, 1996. Pg. 47 e 173)
prévia da requisição do Comandante da Força Interessado 38". (BRASIL, 1997.
Pg. 15 – Tópico 12 da Exposição de Motivos). Observe a gravura:

Incondicionada – Ministério Público

ESPÉCIES DE

AÇÃO PENAL

MILITAR Militar ou Requisição


do Ministro

PÚBLICA Assemelhado da
Defesa

Condicionada Art.

136 a 141 do CPM Requisição


do Ministro

Civil (Art. 141)39 da Justiça

12. PROCESSO X PROCEDIMENTO

Chama-se processo o conjunto de atos que são dirigidos para a


composição de um litígio, de um conflito de interesses, objetivando:

 a justa aplicação da punição;

38
CPM - Art. 31 e CPPM Art. 122. Nos crimes previstos nos arts. 136 a 141 (segurança do país) do
Código Penal Militar, a ação penal; quando o agente for militar ou assemelhado, depende de requisição,
que será feita ao procurador-geral da Justiça Militar, pelo Ministério a que o agente estiver subordinado;
no caso do art. 141 do mesmo Código, quando o agente for civil e não houver co-autor militar, a
requisição será do Ministério da Justiça.
39
Art. 141. Entrar em entendimento com país estrangeiro, ou organização nele existente, para gerar
conflito ou divergência de caráter internacional entre o Brasil e qualquer outro país, ou para lhes
perturbar as relações diplomáticas:
Pena - reclusão, de quatro a oito anos.
Resultado mais grave
1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas:
Pena - reclusão, de seis a dezoito anos.
2º Se resulta guerra:
Pena - reclusão, de dez a vinte e quatro anos.
 A paz social;

 A defesa dos interesses jurídicos;

 A convivência harmônica das pessoas no território da nação.

A Processo diz-se ser o exercício da jurisdição, em relação a uma


lide posta em juízo. Já Procedimento afirma-se o modo pelo qual o processo
anda, a parte visível do processo.

Considerando a Justiça Militar ser especial e para dirimirmos


possíveis dúvidas, vamos nos aprofundar um pouco no CPP, donde extraímos
a existência de procedimentos que podem ser comuns e especiais,
enriquecendo o entendimento do assunto.

PROCEDIMENTOS COMUNS – são os que constituem regra geral,


aplicáveis sempre que não houver disposição em contrário. São comuns o
procedimento ordinário e o procedimento sumário.

O procedimento ordinário aplica-se nos crimes apenados com


reclusão (arts. 394 – 405 e 498 – 502 do CPP).

O procedimento sumário aplica-se nos crimes de detenção e nas


contravenções (art. 359 do CPP).

Procedimentos especiais são os que no todo ou em parte se afastam


do procedimento comum, mesmo que a diversidade se refira a um só ato.

PROCEDIMENTOS COMUNS
PROCEDIMENTO ORDINÁRIO PROCEDIMENTO SUMÁRIO
Crimes de detenção
Crimes de reclusão
Contravenções penais
Arts. 394-405 e 498-502 do CPP
Art. 539 do CPP art. 129, I da CF
PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
PREVISTO NO CPP PREVISTO EM OUTRAS LEIS
Crimes: Crimes:
Dolosos contra a vida (júri)
Abuso de autoridade – L 4.898/65
Art. 406-497
Economia popular – L 1.521/51
Responsa. Func. Públicos
Arts. 513-518 Tóxicos – L 6.368/76

Falimentares De imprensa – L 5.250/67

Arts. 503-512 Falimentares – DL 7.661/45

Calúnia, injúria, difamação Etc.

Arts. 519-523

Propriedade material

Arts. 524-530

Observe que para o CPP o procedimento do júri é comum e o


procedimento sumário é especial.
Vamos entender melhor o que é processo: o processo tem um
conteúdo formal, ao qual chamamos procedimento e um conteúdo material
chamado lide. Antigamente os processualistas identificavam processo como
ação judicial e procedimento. Processo era o modo de tratar as causas em
juízo, a forma de fazer valer os direitos em juízo. Hoje já existe uma distinção
entre processo e procedimento: processo é um conjunto de atos que são
dirigidos para a composição de um litígio, de um conflito de interesses;
procedimento é o modo de se praticar os atos do processo, a marcha dos
atos processuais. O procedimento é a forma dos atos processuais e não é
privativo do processo, pois na área da administração pública existem
procedimentos os mais variados, mas não existe processo, por que a
administração pública não tem por finalidade compor conflitos de interesses
(não existe a lide – o conteúdo material). O processo é instrumento de que se
vale o Estado para exercer a função jurisdicional, privativa do Poder judiciário.
A administração pública exige do particular que se conduza na conformidade
da lei, mas não declara qual a vontade da lei que num litígio deve substituir à
vontade dos particulares. O conceito de processo é finalístico: o processo tem
sempre por finalidade obter uma decisão que imponha solução a um
litígio, que resolva um conflito de interesses. Nas questões legislativas do
Estado também se encontram apenas procedimentos, mas não processos. Há
vários tipos de procedimento para um só processo e tipos diferentes de
processo com o mesmo procedimento. O processo é uma relação jurídica
que se forma entre as partes e o juiz (SOIBELMAN,1996. Pg. 291).
Procedimento é a série de atos que impulsionam o processo. Não se confunde
com este, que é a relação jurídica que se estabelece entre as partes e o juiz: a
relação jurídica processual.

Para a maioria dos autores – e este instrutor concorda com eles - só


existe processo na esfera jurisdicional, havendo apenas procedimentos na área
da administração pública ou legislativa do Estado. Atente para o exemplo: a
Polícia Militar do Maranhão utiliza-se de processos para efetuar suas compras
diretas, para licitar, etc.. Na realidade, tudo isto é mero procedimento
administrativo, quando analisado sob o foco do direito.

13. DENÚNCIA

Como sabemos o processo só se inicia com o recebimento da


denúncia40 que deve conter a descrição dos fatos, a imputação de autoria, a
classificação do crime e o rol das testemunhas. Determina o Art. 32 do CPPM
que uma vez apresentada a denúncia, o Ministério Público não poderá desistir
da ação penal. Já o Art. 30 determina ser obrigatória a apresentação da
denúncia quando houver a prova de fato que, em tese, constitua crime e
indícios de autoria. Portanto, a apresentação de uma denúncia não é
facultativa, mas sim obrigatória.

Denúncia é a peça inaugural da ação penal pública, ou seja, a


petição inicial da ação penal promovida pelo Ministério Público que objetiva que
se dê início ao procedimento de apuração da responsabilidade criminal e
aplique-se justamente a pena prevista em lei. É materializada em um
requerimento encaminhado ao Juiz Auditor com a exposição do fato, da autoria
e dos elementos de convicção que embasam a pretensão punitiva.

O Art. 77 do CPPM determina o que uma denúncia deve conter:

 a designação do juiz a que se dirigir;

40
CPPM - Art. 35. O processo inicia-se com o recebimento da denúncia pelo juiz, efetiva-se com a
citação do acusado e extingue-se no momento em que a sentença definitiva se torna irrecorrível, quer
resolva o mérito, quer não.
 o nome, idade, profissão e residência do acusado, ou esclarecimentos
pelos quais possa ser qualificado;

 o tempo e o lugar do crime;

 a qualificação do ofendido e a designação da pessoa jurídica ou


instituição prejudicada ou atingida, sempre que possível;

 a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias;

 as razões de convicção ou presunção da delinqüência;

 a classificação do crime;

 o rol das testemunhas, em número não superior a seis, com a indicação


da sua profissão e residência; e o das informantes com a mesma
indicação.

O Ministério Público é o titular da ação penal pública, mas, segundo


o Art. 33. do CPPM, qualquer pessoa, no exercício do direito de representação,
poderá provocar a iniciativa do Ministério Publico, dando-lhe informações sobre
fato que constitua crime militar e sua autoria, e indicando-lhe os elementos de
convicção. As informações, se escritas, deverão estar devidamente
autenticadas; se verbais, serão tomadas por termo perante o juiz, a pedido do
órgão do Ministério Público, e na presença deste. Uma vez consideradas
procedentes pelo Ministério Público, este se dirigirá à autoridade policial militar
para que esta proceda às diligências necessárias ao esclarecimento do fato,
instaurando inquérito, se houver motivo para esse fim. Tal prerrogativa por
necessidade de informações não se limita apenas à fase pré-processual. O Art.
80 do CPPM garante ao Ministério Público, mesmo no curso do processo, na
ocorrência de necessidade de maiores esclarecimentos, de documentos
complementares ou de novos elementos de convicção, direito de requisitá-los,
diretamente, de qualquer autoridade militar ou civil, em condições de fornecê-
los, ou de requerer ao juiz que os requisite.

Prazos para o oferecimento da denúncia – Observando o Art. 79 do


CPPM, a denúncia deverá ser oferecida, se o acusado estiver preso, dentro de
cinco dias, contados a partir da data do recebimento dos autos para aquele; e,
dentro do prazo de quinze dias, se o acusado estiver solto. O auditor deverá
manifestar-se sobre a denúncia, dentro do prazo de quinze dias.

O prazo para o oferecimento da denúncia poderá, por despacho do


juiz, ser prorrogado ao dobro; ou ao triplo, em caso excepcional e se o acusado
não estiver preso.

Se o Ministério Público não oferecer a denúncia dentro deste último


prazo, ficará sujeito à pena disciplinar que no caso couber, sem prejuízo da
responsabilidade penal em que incorrer, competindo ao juiz providenciar no
sentido de ser a denúncia oferecida pelo substituto legal, dirigindo-se, para este
fim, ao procurador-geral, que, na falta ou impedimento do substituto, designará
outro procurador.

O Juiz pode recusar o recebimento da denúncia, dentro dos limites


preconizados pelo Art. 78 do CPPM, desde que a denúncia:

 Não obedeça às exigências do Art. 77 do CPPM41 no sentido


de conter:

 a) a designação do juiz a que se dirigir;

 b) o nome, idade, profissão e residência do acusado, ou


esclarecimentos pelos quais possa ser qualificado;

 c) o tempo e o lugar do crime;

 d) a qualificação do ofendido e a designação da pessoa


jurídica ou instituição prejudicada ou atingida, sempre
que possível;

 e) a exposição do fato criminoso, com todas as suas


circunstâncias;

 f) as razões de convicção ou presunção da delinqüência;


 g) a classificação do crime;

 h) o rol das testemunhas, em número não superior a seis,


com a indicação da sua profissão e residência; e o das
informantes42 com a mesma indicação. 43

 b) narre fato que não constitua evidentemente crime da


competência da Justiça Militar;

 c) se refira a fato cuja punibilidade já esteja extinta;

 d) se refira a fato de manifesta incompetência do juiz ou seja


ilegítimo o acusador44.

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