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2008

Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de

Agricultura para
o Desenvolvimento

Visão Geral

Banco Mundial
Washington, DC
©2007 Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento / Banco Mundial

1818 H Street, N.W.


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produto do pessoal do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento / Banco
Mundial. As apurações, interpretações e conclusões expressas neste relatório não refletem
necessariamente a opinião dos Diretores Executivos do Banco Mundial nem dos governos
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Design da capa de Chris Lester, da Rock Creek Strategic Marketing, e Bill Pragluski, da
Critical Stages.

Fotocomposição: Precision Graphics.

Fotos da capa tiradas por funcionários do Banco Mundial, no sentido horário a partir do
canto superior esquerdo: termômetro do leite, Lillian Foo; debulha do trigo, Alexander
Rowland; vaca Holstein, Lillian Foo; feijão do supermercado, Lillian Foo; mulher andina
e bebê no mercado, Curt Carnemark/Banco Mundial, Biblioteca de Fotografias; planta de
algodão, Arne Hoel.

ISBN: 978-0-8213-7302-6
Conteúdo do
Relatório sobre o Desenvolvimento
Mundial de 2008
Visão Geral
Parte I
O que a agricultura pode fazer para
o desenvolvimento?
1 Crescimento e redução da pobreza nos três mundos
da agricultura
foco A: a diminuição da pobreza na zona rural tem sido um fator-chave na
redução agregada da pobreza

2 Desempenho, diversidade e incertezas da agricultura


foco B: biocombustíveis: a promessa e o risco

3 Domicílios rurais e seus caminhos para sair da pobreza


foco C: quais são os vínculos entre a produção agrícola
e a segurança alimentar?

Parte II
Quais são os instrumentos eficazes no uso
da agricultura para o desenvolvimento?
4 Reformando políticas de comércio, preço e subsídios
5 Como levar a agricultura até o mercado
foco D: agronegócios para o desenvolvimento

6 Apoio à competitividade dos pequenos proprietários


por meio de inovações institucionais
7 Inovação por intermédio da ciência e tecnologia
Foco E: como captar os benefícios dos organismos geneticamente modificados
para as pessoas de baixa renda

iii
iv RELATóRIO SOBRE O DESENvOLvIMENTO MUNDIAL DE 2008

8 Como tornar os sistemas agrícolas mais sustentáveis


do ponto de vista ambiental
Foco F: adaptação e atenuação da mudança climática na agricultura

9 Indo além da agricultura


foco G: educação e aptidões para o desenvolvimento rural
foco H: os vínculos de dois sentidos entre a agricultura e a saúde

Parte III
Qual é a melhor forma de implementar as agendas
da agricultura para o desenvolvimento?
10 Agendas nacionais emergentes para os três mundos
da agricultura
11 Fortalecimento da governança, do nível local até o global

Nota bibliográfica
Notas de fim
Referências
Indicadores selecionados
Índice
Prefácio

A agricultura é uma ferramenta de desenvolvimento vital para o cumprimento da Meta


de Desenvolvimento do Milênio que propõe reduzir pela metade até 2015 a proporção da
população que sofre com a extrema pobreza e a fome. Essa é a mensagem global do Relatório
sobre o Desenvolvimento Mundial (WDR) deste ano, o 30º da série. Três em cada quatro
pessoas de baixa renda nos países em desenvolvimento vivem na zona rural e a maioria
depende direta ou indiretamente da agricultura para a sua subsistência. Este Relatório
oferece orientação aos governos e à comunidade internacional sobre a concepção e a
implementação de agendas agrícolas para o desenvolvimento capazes de fazer a diferença
nas vidas de centenas de milhões de pessoas de baixa renda da zona rural.
O Relatório destaca dois importantes desafios regionais. Em grande parte da África
Subsaariana, a agricultura é uma opção de peso para promover o crescimento, superar
a pobreza e aumentar a segurança alimentar. O aumento da produtividade agrícola é
fundamental para estimular o crescimento em outras vertentes da economia. Mas o
crescimento acelerado requer um drástico aumento da produtividade da agricultura
de pequena escala associado ao apoio mais eficaz aos milhões de pessoas que enfrentam
dificuldades trabalhando como agricultores de subsistência. A recente melhora no
desempenho contém uma promessa e este Relatório identifica muitos sucessos emergentes
que podem ser ampliados.
Na Ásia, para superar a pobreza disseminada é necessário enfrentar as crescentes
disparidades de renda entre a zona rural e a urbana. As economias em rápida expansão da
Ásia continuam a abrigar na zona rural mais de 600 milhões de pessoas de baixa renda que
vivem em extrema pobreza e, apesar da maciça migração da zona rural para a urbana, a
pobreza ainda dominará a zona rural por várias décadas. Por esse motivo, o WDR focaliza-
se em maneiras de gerar empregos nas áreas rurais por meio da diversificação para uma
agricultura com mão-de-obra intensiva e de alto valor, vinculada a um dinâmico setor rural
e não-agrícola.
Em todas as regiões, com a crescente escassez de terra e de água, além das pressões adicionais
de um mundo em vias de globalização, o futuro da agricultura está intrinsecamente ligado
à melhor administração dos recursos naturais. Com os incentivos e investimentos corretos,
o espaço ambiental da agricultura pode ser atenuado e os serviços ambientais controlados
para proteger as bacias hidrográficas e a biodiversidade.
Hoje, a ampla expansão dos mercados interno e global; as inovações institucionais
nos mercados, finanças e ação coletiva; e as revoluções na biotecnologia e tecnologia da
informação oferecem oportunidades que estimulam o uso da agricultura na promoção do
desenvolvimento. Mas o aproveitamento dessas oportunidades exigirá o avanço da vontade
política com reformas que melhorem a governança da agricultura.
Finalmente, o sucesso dependerá também de uma ação conjunta da comunidade
internacional do desenvolvimento para enfrentar os desafios que estão por vir. Precisamos
equilibrar o campo de atuação no comércio internacional, fornecer bens públicos, tais como
tecnologias para alimentos tropicais básicos, ajudar os países em desenvolvimento a abordar
a mudança climática e a superar as pandemias que ameaçam a saúde dos vegetais, animais
e dos seres humanos. Está em risco a sobrevivência de 900 milhões de pessoas de baixa
renda da zona rural que também merecem participar dos benefícios de uma globalização
sustentável e inclusiva.

Robert B. Zoellick
Presidente
Banco Mundial
v
Agradecimentos

Este Relatório foi elaborado por uma equipe central liderada por Derek Byerlee e Alain de
Janvry da qual fizeram parte Elisabeth Sadoulet, Robert Townsend e Irina Klytchnikova.
A equipe contou com a assistência de Harold Alderman, Beatriz Avalos-Sartorio, Julio
Berdegué, Regina Birner, Lynn Brown, Michael Carter, Luc Christiaensen, Marie-Helene
Collion, Klaus Deininger, Peter Hazell, Karen Macours, Michael Morris, Paula Savanti e Dina
Umali-Deininger, todos os quais contribuíram com versões preliminares de partes deste
Relatório. A equipe também recebeu a ajuda de Noora Aberman, Jorge Aguero, Shahrooz
Badkoubei, Sarah Baird, Leandre Bassole, Benjamin Davis, Nango Dembele, Ashok Gulati,
Corinna Hawkes, Tidiane Kinda, Melissa Klink, Alex McCalla, Claudio Montenegro, Stefano
Pagiola, Eija Pehu, Catherine Ragasa, Antti Seelaff e John Staatz.
O trabalho foi realizado sob a orientação geral de François Bourguignon em cooperação
com a Rede de Desenvolvimento Sustentável. Bruce Ross-Larson foi o editor-chefe.
Recebemos amplo e excelente assessoramento de Kym Anderson, Hans Binswanger, Karen
Mcconnell Brooks, Mark Cackler, Manuel Chiriboga, Kevin Cleaver, Christopher Delgado,
Shantayanan Devarajan, Josue Dione, Gershon Feder, Alan Harold Gelb, Ravi Kanbur,
Jeffrey Lewis, Were Omamo, Keijiro Otsuka, Rajul Pandya-Lorch, Prabhu Pingali, Pierre
Rondot, Kostas Stamoulis, Erik Thorbecke, C. Peter Timmer, Joachim von Braun, o pessoal
do Departamento da Agricultura e Desenvolvimento Rural e da Rede de Desenvolvimento
Sustentável do Banco Mundial, Pessoal da RIMISP (Centro Latino-Americano de
Desenvolvimento Rural) e de muitas outras pessoas a quem a equipe é imensamente grata.
Inúmeras pessoas de dentro e fora do Banco Mundial forneceram comentários e contribuições
muito úteis. O Grupo de Dados sobre o Desenvolvimento contribuiu para os dados anexos
e foi responsável pelos Indicadores Selecionados de Desenvolvimento Mundial.
A equipe agradece também o generoso apoio do fundo fiduciário programático de
vários doadores, da Entidade de Desenvolvimento Internacional Canadense (CIDA),
Ford Foundation, Ministério das Relações Exteriores da França, Plataforma de Doadores
Globais para o Desenvolvimento Rural, Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento
Internacional, Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, InWEnt (Capacity
Building International), Ministério das Finanças do Japão, Programa Conhecimento para
a Mudança, Grupo Consultivo de Pesquisas Agrícolas Internacionais, Agência Sueca de
Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, Agência Suíça para o Desenvolvimento
e Cooperação, Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido, Agência
de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos e a William and Flora Hewlett
Foundation.
A equipe foi amplamente beneficiada por uma grande variedade de consultas. Reuniões
e workshops regionais foram realizados localmente e na Austrália, Canadá, França.
Alemanha, Índia, Itália, Japão, Quênia, Mali, Noruega, Suécia e no Reino Unido; os
debates para a versão preliminar do Relatório foram conduzidas on-line. A equipe deseja
agradecer aos participantes desses workshops, videoconferências e debates que incluíram
acadêmicos, pesquisadores, autoridades governamentais e funcionários de organizações
não-governamentais e do setor privado.
Rebecca Sugui trabalhou como executiva sênior do grupo; Ofelia Valladolid como
assistente de programa; e Jason Victor e Maria Hazel Macadangdang como assistentes de
equipe. Evangeline Santo Domingo exerceu a função de assistente de gestão de recursos.

vi
Visão Geral

Uma mulher africana curvada sob o sol, metade a pobreza e a fome do mundo até 2015;
arrancando ervas daninhas do sorgo em continuar a reduzir a pobreza e a fome durante
um campo árido com uma enxada e com muitas décadas. A agricultura por si só não
uma criança amarrada às suas costas –e será suficiente para reduzir substancialmente
uma vívida imagem da pobreza rural. Para a pobreza, porém já demonstrou ter uma
sua família numerosa e para milhões como eficiência única para a tarefa. Como o último
ela, a mísera generosidade da agricultura de Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial
subsistência representa a única possibilidade foi elaborado há 25 anos, é hora de colocar a
de sobrevivência. Mas outros, tanto mulheres agricultura novamente no centro da agenda do
como homens, adotaram opções diferentes desenvolvimento, levando em conta o contexto
para escapar da pobreza. Alguns pequenos amplamente diferente de oportunidades e
proprietários unem-se a organizações desafios que surgiu desde então.2
de produtores e fazem contratos com A agricultura opera em três mundos
exportadores e supermercados para vender diferentes: um baseado na agricultura, o
os vegetais que produzem graças a irrigação. segundo em transformação e o terceiro
Alguns trabalham como diaristas para urbanizado. E em cada um deles a agenda
agricultores maiores que cumprem assim as agrícola para o desenvolvimento difere na
economias de escala necessárias para suprir busca do crescimento sustentável e na redução
os modernos mercados de alimentos. Outros da pobreza.
ainda passam para a economia rural não- Nos países baseados na agricultura, que
agrícola, começando pequenas empresas para incluem a maior parte da África Subsaariana,
vender alimentos processados. a agricultura e as indústrias associadas a
Embora os mundos da agricultura ela são essenciais para o crescimento e para
sejam vastos, diversificados e em rápida reduzir a pobreza em massa e a insegurança
transformação, com políticas e investimentos alimentar. Utilizar a agricultura como base
de apoio adaptados ao nível local, nacional para o crescimento econômico nos países
e global, a agricultura atual oferece novas baseados na agricultura requer uma revolução
oportunidades para centenas de milhões da produtividade da agricultura de pequena
de pessoas de baixa renda das áreas rurais escala. Dadas a agricultura e as instituições
saírem da pobreza. Os caminhos para sair singulares da África Subsaariana, essa
da pobreza abertos para essas pessoas pela revolução terá de ser diferente da revolução
agricultura incluem a agricultura de pequena verde asiática. Como implementá-la após
escala e a criação de animais, o emprego tantos anos de sucesso limitado continua a
na “nova agricultura” de produtos de alto ser um grande desafio. As condições, porém,
valor, o empreendedorismo e os empregos na mudaram e há muitos sucessos locais e novas
economia rural não-agrícola emergente. oportunidades a serem aproveitadas.
No Século XXI, a agricultura continua Nos países em transformação – que
a ser um instrumento fundamental para o incluem a maioria do Sul e Leste da Ásia,
desenvolvimento sustentável e a redução da do Oriente Médio e da África do Norte – o
pobreza. Três em cada quatro pessoas de baixa rápido aumento das disparidades de renda
renda nos países em desenvolvimento vivem na entre a área rural e urbana e a contínua
zona rural – 2,1 bilhões vivem com menos de extrema pobreza rural são as principais fontes
US$ 2 por dia e 880 milhões com menos de US$ de tensões sociais e políticas. O problema
1 por dia – e a maioria depende da agricultura não pode ser substancialmente abordado
para sua subsistência.1 Considerando onde por meio da proteção agrícola que aumenta
estão e o que fazem melhor, é imperativo o preço dos alimentos (porque um grande
promover a agricultura para cumprir a Meta número de pessoas de baixa renda são
de Desenvolvimento do Milênio de cortar pela compradores líquidos de alimentos) nem por

1
2 RELATóRIO SOBRE O DESENvOLvIMENTO MUNDIAL DE 2008

meio de subsídios. Abordar as disparidades O empoderamento da sociedade civil,


de renda nos países em transformação requer especialmente das organizações produtoras,
um enfoque abrangente que adote múltiplos é essencial para melhorar a governança em
meios para sair da pobreza – passar para todos os níveis.
uma agricultura de alto valor, descentralizar Este Relatório aborda três questões
a atividade econômica não-agrícola para as principais:
áreas rurais e prestar assistência para ajudar
as pessoas a saírem da agricultura. Isso requer • O que a agricultura pode fazer para o
iniciativas de políticas inovadoras e um forte desenvolvimento? Em muitos países, a
compromisso político. Mas pode beneficiar agricultura serve de base para o crescimento
600 milhões de pessoas de baixa renda das e para a redução da pobreza, mas um maior
zonas rurais do mundo. número de países poderia beneficiar-se se
Nos países urbanizados – que incluem os governos e os doadores conseguissem
a maior parte da América Latina e grande reverter anos de negligência das políticas
parte da Europa e Ásia Central – a agricultura e remediar seu subinvestimento e erros de
poderá ajudar a reduzir o restante da pobreza investimento na agricultura.
rural se os pequenos agricultores se tornarem • Quais são os instrumentos eficazes a serem
fornecedores diretos dos modernos mercados usados na agricultura para o desenvolvi-
de alimentos, criando bons empregos na mento? As prioridades principais são
agricultura e na agroindústria e favorecendo aumentar os ativos dos domicílios de baixa
a criação de mercados para os serviços renda, tornar os pequenos agricultores – e
ambientais. a agricultura em geral – mais produtivos
Em conseqüência do aumento da escassez de e criar oportunidades na economia rural
recursos e do maior número de externalidades, não-agrícola a serem aproveitadas pelas
o desenvolvimento agrícola e a proteção pessoas pobres da zona rural.
ambiental tornaram-se mais estreitamente • Qual é a melhor forma de implementar
vinculadas. O vasto espaço ambiental da as agendas da agricultura para o
agricultura pode ser reduzido, os sistemas desenvolvimento? Formulando políticas
agrícolas podem ser menos vulneráveis à e processos de decisão que melhor se
mudança climática e a agricultura, voltada à adaptem às condições econômicas e sociais
prestação de serviços mais ambientais. A solução de cada país, mobilizando o apoio político e
não é reduzir o ritmo do desenvolvimento melhorando a governança da agricultura.
agrícola, mas procurar sistemas de produção
mais sustentáveis. O primeiro passo para isso é O que a agricultura pode fazer
conseguir os incentivos corretos reforçando os para o desenvolvimento?
direitos de propriedade e removendo subsídios
que incentivem a degradação dos recursos A agricultura dispõe de recursos que
naturais. É também imperativo adaptar a a tornam um instrumento único
agricultura à mudança climática, que atingirá para o desenvolvimento
mais duramente os agricultores de baixa A agricultura pode funcionar simultaneamente
renda – injustamente, pois não contribuíram com outros setores para produzir um
para suas causas. crescimento mais rápido, reduzir a pobreza e
Portanto, a agricultura oferece uma grande sustentar o meio ambiente. Neste Relatório a
promessa de crescimento, redução da pobreza agricultura compõe-se de cultivos, pecuária,
e serviços ambientais, mas a compreensão agrossilvicultura e aquacultura. Não inclui
dessa promessa requer também a mão visível silvicultura e pesca comercial, porque ambas
do Estado – proporcionando bens públicos requerem análises bastante diferentes. No
essenciais, melhoria do clima de investimento, entanto, as interações entre agricultura e
regulamentação da gestão de recursos naturais silvicultura são consideradas nas discussões de
e garantia de resultados sociais desejáveis. desmatamento, mudança climática e serviços
Para conseguir agendas agricolas para o ambientais.
desenvolvimento, a governança nos níveis
local, nacional e global precisa ser melhorada. A agricultura contribui para o desenvolvimento
O Estado precisará ter maior capacidade para de muitas formas. A agricultura contribui
coordenar todos os setores e formar parcerias para o desenvolvimento como atividade
com atores privados e da sociedade civil. econômica, como subsistência e como
Os atores globais precisam cumprir uma fornecedor de serviços ambientais, tornando
agenda complexa dentro de normas inter- o setor um instrumento singular para o
relacionadas e bens públicos internacionais. desenvolvimento.
Visão Geral 3

terra, “seguridade social financiada pela


• Como atividade econômica. A agricultura
agricultura” em casos de choques urbanos e
pode ser uma fonte de crescimento para
a economia nacional, um fornecedor de uma base para comunidades rurais viáveis.
oportunidades de investimento para o Dos 5,5 bilhões de habitantes do mundo
setor privado e um importante impulsor de em desenvolvimento, 3 bilhões vivem em
indústrias relacionadas com a agricultura e áreas rurais, quase metade da humanidade.
com a economia rural não-agrícola. Dois Desses habitantes da zona rural, cerca de
terços do valor agregado agrícola do mundo 2,5 bilhões vivem em domicílios envolvidos
são criados nos países em desenvolvimento. na agricultura e 1,5 bilhão em domicílios
Nos países baseados na agricultura, gera de pequenos agricultores.3
uma média de 29% do produto interno O recente declínio na taxa de
bruto (PIB) e emprega 65% da força pobreza de US$ 1 por dia nos países em
de trabalho. As indústrias e serviços desenvolvimento – de 28% em 1993 para
vinculados à agricultura nas cadeias de 22% em 2002 – foi devido principalmente
valor representam freqüentemente mais de à redução da pobreza rural (de 37% a
30% do PIB nos países em transformação 29%), ao passo que a taxa de pobreza
e urbanizados. urbana permaneceu quase constante (em
A produção agrícola é importante para 13%). Atribui-se mais de 80% do declínio
a segurança alimentar porque é a fonte na pobreza rural a melhores condições na
de renda da maioria das pessoas de baixa zona rural, e não à emigração das pessoas de
renda da zona rural. É especialmente baixa renda. Assim, contrário a percepções
crítica em mais de uma dezena de países da comuns, a migração para cidades não tem
África Subsaariana, com uma população sido o principal instrumento da redução da
combinada de cerca de 200 milhões de pobreza rural (e do mundo).
habitantes, com uma produção doméstica No entanto, o grande declínio do
altamente variável, uma comerciabilidade número de pessoas de baixa renda da
limitada para os alimentos básicos e zona rural (de 1,036 bilhão em 1993 para
restrições na disponibilidades de divisas 883 milhões em 2003) limita-se ao Leste
para o atendimento de suas necessidades Asiático e ao Pacífico (Figura 1). No Sul
alimentares por meio das importações. da Ásia e na África Subsaariana, o número
Esses países estão expostos a emergências de pessoas de baixa renda da zona rural
alimentares recorrentes e as incertezas da continuou a aumentar e provavelmente
ajuda alimentar. Para eles, o aumento e ultrapassará o número de pobres da zona
a estabilização da produção doméstica é urbana até 2040. Nessas regiões, uma alta
essencial para a segurança alimentar. prioridade é mobilizar a agricultura para a
redução da pobreza.
• Como subsistência. A agricultura é
uma fonte de sobrevivência para cerca • Como provedor de serviços ambientais. Ao
de 86% dos habitantes da zona rural. utilizar (e freqüentemente abusar) os
Proporciona emprego a 1,3 bilhão de recursos naturais, a agricultura pode criar
pequenos agricultores e trabalhadores sem- resultados ambientais bons e maus. Sem

Figura 1. O número de pessoas de baixa renda aumentou no Sul da Ásia e na África Subsaariana no período 1993-2002
(linha da pobreza: US$ 1 por dia).
Pobreza rural Pobreza urbana
Milhões de pessoas Milhões de pessoas
linha de pobreza abaixo de US$ 1 por dia linha de pobreza abaixo de US$ 1 por dia
500 500

400 1993 2002 400 1993 2002

300 300

200 200

100 100

0 0
África Sul da Ásia Leste Oriente Médio Europa e América África Sul da Ásia Leste Oriente Médio Europa e América
Subsaariana Asiático e Norte Ásia Latina Subsaariana Asiático e Norte Ásia Latina
e Pacífico da África Central e Caribe e Pacífico da África Central e Caribe
Fonte: Ravaillon, Chen e Sangraula 2007
4 relatório sobre o desenvolvimento mundial DE 2008

dúvida alguma, é o maior usuário da água, predominantemente rural (82% de todas


contribuindo para a escassez desse recurso. as pessoas de baixa renda). Esse grupo,
É um importante ator no esgotamento da tipificado pela China, Índia, Indonésia,
água subterrânea, na poluição agroquímica, Marrocos e Romênia, tem mais de 2,2
na exaustão do solo e na mudança climática bilhões de habitantes na zona rural.
global, sendo responsável por até 30% Noventa e oito por cento da população
das emissões de gases de estufa. Mas é rural no Sudeste asiático, 96% no Leste
também o maior provedor de serviços asiático e Pacífico e 92% no Oriente Médio
ambientais, geralmente não-reconhecidos e Norte da África pertencem ao grupo dos
e não-remunerados, seqüestrando o países em transformação.
carbono, gerenciando bacias hidrográficas
e preservando a biodiversidade. Com
• Países urbanizados – A agricultura
contribui ainda menos de forma direta
o aumento da escassez de recursos, para o crescimento econômico, 5% em
mudança climática e preocupação com média, e a pobreza é, em sua maior parte,
custos ambientais, não é uma opção urbana. Mesmo assim, as áreas rurais
simplesmente deixar a situação como está ainda abrigam 45% das pessoas de baixa
quanto à forma como a agricultura utiliza renda; a agroempresa, a indústria e os
os recursos naturais. É imperativo tornar serviços de alimentos são responsáveis por
os sistemas agrícolas das pessoas de baixa um terço do PIB. Fazem parte deste grupo
renda da zona rural menos vulneráveis à de 255 milhões de habitantes na zona
mudança climática. Gerenciar as conexões rural, a maioria dos países da América
entre agricultura, conservação de recursos Latina e do Caribe e muitos da Europa e
naturais e meio ambiente deve ser parte da Ásia Central. Oitenta e oito por cento
integrante do uso da agricultura para o das populações rurais de ambas as regiões
desenvolvimento. estão nos países urbanizados.
As contribuições da agricultura diferem nos três Os países seguem caminhos que podem
mundos rurais  A forma como a agricultura levá-los de um tipo de país a outro. Nos
funciona para o desenvolvimento varia entre últimos 20 anos, a China e a Índia passaram
os países, dependendo do modo como eles do grupo de países baseados na agricultura
se baseiam na agricultura como fonte de para o de países em transformação, enquanto
crescimento e instrumento para a redução da a Indonésia gravitou ao redor do grupo de
pobreza. A contribuição da agricultura para países urbanizados (Figura 2). Além disso, os
o crescimento e redução da pobreza pode ser países apresentaram acentuadas disparidades
vista mediante a classificação dos países de geográficas subnacionais – por exemplo,
acordo com a participação da agricultura no muitos países em transformação e urbanizados
crescimento agregado nos últimos 15 anos e têm regiões baseadas na agricultura (como
a proporção atual da pobreza total nas áreas Bihar na Índia e Chiapas no México).
rurais, utilizando uma linha de pobreza A classificação de regiões nos países de
de US$ 2 por dia (Figura 2, pg. 5). Esta acordo com seu potencial agrícola e acesso aos
perspectiva produz três tipos de países e três mercados mostra que 61% da população rural
mundos rurais distintos (Tabela 1, pg. 5): dos países em desenvolvimento vivem em
• Países baseados na agricultura – A áreas favorecidas – irrigadas, úmidas e semi-
agricultura é uma importante fonte de úmidas com pouco estresse de umidade e com
crescimento, representando, em média, acesso ao mercado de médio a bom (menos
32% do aumento do PIB – principalmente de cinco horas distantes de uma cidade com
porque a agricultura representa uma grande mercado de 5.000 ou mais habitantes). No
parcela do PIB – e a maioria das pessoas de entanto, dois terços da população rural da
baixa renda está nas áreas rurais (70%). África Subsaariana vivem em áreas menos
Esse grupo de países tem 417 milhões de favorecidas, definidas como áridas ou semi-
habitantes na zona rural, principalmente áridas ou com acesso precário ao mercado.
nos países da África Subsaariana. Oitenta Em cinco países com mapas de pobreza
e dois por cento da população dessa região detalhados, a taxa de pobreza é mais elevada
vivem em países baseados na agricultura. nas áreas menos favorecidas, mas a maioria
• Países em transformação – A agricultura das pessoas de baixa renda vive em áreas
não é mais uma fonte importante de favorecidas. Assim, a utilização da agricultura
crescimento econômico, contribuindo, para reduzir a pobreza requer não somente
em média, apenas 7% para o aumento investir em áreas menos favorecidas para
do PIB, mas a pobreza continua a ser combater a pobreza extrema, mas também
Visão Geral 5

Figura 2. Contribuição da agricultura para o crescimento e parcela rural da pobreza distinguem três tipos
de país: baseados na agricultura, em transformação e urbanizados.

Contribuição da agricultura para o crescimento, 1990-2005, %


80
Dados reais sobre a pobreza Países baseados
Dados previstos sobre a pobreza na agricultura
Dados sobre a pobreza ao longo do tempo
60

ÍNDIA
40 (1965–94)

20
CHINA
(1981–2001)

BRASIL INDONÉSIA
0 (1970–96) (1970–96)
Países em transformação

Países urbanizados
–20
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Pobres das zonas rurais/total de pobres, 2002
Fonte: Equipe do WDR 2008.
Nota: As setas indicam caminhos para o Brasil, China, Índia e Indonésia em períodos anteriores.

Tabela 1. Características dos três tipos de país, 2005


Países
baseados na Países em Países
agricultura transformação urbanizados
População rural (milhões), 2005 417 2 220 255
Parcela da população rural (%), 2005 68 63 26
PIB per capita (US$ 2000) 379 1 068 3 489
Parcela da agricultura no PIB (%) 29 13 6
Aumento anual do PIB agrícola. 1993 – 2005 (%) 4,0 2,9 2,2
Aumento anual do PIB não-agrícola, 1993 – 2005 (%) 3,5 7,0 2,7
Número de pobres da zona rural (milhões) 2000a 170 583 32
Taxa de pobreza rural, 2002 (%)a 51 28 13
Fontes: Ravallion, Chen e Sangraula 2007; Banco Mundial 2006y.
Nota: A linha de pobreza é de US$ 1,08 por dia em 1993 paridade de poder de compra em dólares.

ter como alvo o grande número de pobres em na agricultura de subsistência, devido


áreas favorecidas. principalmente a baixas dotações de ativos
e contextos desfavoráveis. Consumindo a
A heterogeneidade define o mundo rural. A maior parte dos alimentos que produzem,
heterogeneidade econômica e social é uma participam dos mercados como compradores
característica que define as áreas rurais. de alimentos e vendedores da mão-de-
Grandes propriedades agrícolas comerciais obra. A afiliação nessas categorias é afetada
coexistem com pequenos proprietários. Essa não somente por posições nos ativos, mas
diversidade permeia também a população também pelo gênero, etnicidade e o estatutos
dos pequenos proprietários. Os pequenos social, uma vez que implicam competências
proprietários comerciais fornecem superávits diferentes para utilizar os mesmos ativos e
aos mercados de alimentos e compartilham recursos em resposta a oportunidades.
os benefícios da expansão de mercados para A heterogeneidade é encontrada no
a nova agricultura de atividades de alto mercado de trabalho rural, onde há muitos
valor. No entanto, muitos outros continuam empregos agrícolas de baixa qualificação e mal
6 RELATóRIO SOBRE O DESENvOLvIMENTO MUNDIAL DE 2008

remunerados, bem como um pequeno número liberalização do mercado) – foi acompanhado


de empregos de alta qualificação que oferecem de importantes reduções na pobreza rural.
aos trabalhadores um caminho para sair da Mais recentemente, em Gana, os domicílios
pobreza. É encontrada na economia não- rurais representavam uma grande parcela de
agrícola rural, onde a baixa produtividade e uma declínio acentuado da pobreza, induzido,
o emprego autônomo e assalariado coexistem em parte, pelo crescimento agrícola.
com o emprego em empresas dinâmicas. E é
encontrada nas conseqüências da migração, A agricultura pode ser o setor-líder do
que tira da pobreza algumas pessoas de baixa crescimento global nos países baseados na
renda, mas leva outras a favelas urbanas e à agricultura. A agricultura tem um histórico
continuação da pobreza. bem estabelecido como instrumento de
Essa heterogeneidade generalizada na redução da pobreza. Mas pode também ser o
agricultura e na sociedade rural tem profundas setor-líder de uma estratégia de crescimento
implicações para a política pública na utilização para os países baseados na agricultura? Além
da agricultura para o desenvolvimento. É do mero tamanho do setor, dois argumentos,
provável que uma reforma específica de aplicados aos países baseados na agricultura
política tenha ganhadores e perdedores. A da África Subsaariana, apóiam a opinião de
liberalização do comércio que aumenta o que pode.
preço dos alimentos prejudica os compradores O primeiro é que em muitos desses países
líquidos (o maior grupo de pessoas de baixa o alimento não é perfeitamente comerciável
renda da zona rural em países como a Bolívia devido aos altos custos de transação e à
e Bangladesh) e beneficia os vendedores predominância de alimentos básicos apenas
líquidos (o maior grupo de pobres da zona ligeiramente comerciados, tais como raízes,
rural como Camboja e vietnã). As políticas tubérculos e cereais locais. Assim, muitos
devem ser diferenciadas de acordo com a desses países devem, em grande parte, prover
situação e contexto dos domicílios, levando em a própria alimentação. A produtividade
conta de modo especial as normas de gênero agrícola determina o preço dos alimentos, o
predominantes. As políticas diferenciadas que, por sua vez, determina o custo salarial e
não são necessariamente formuladas para a competitividade dos setores comerciáveis.
favorecer um grupo sobre o outro, mas para Portanto, a produtividade dos alimentos
atender a todos os domicílios de forma mais básicos é fundamental para o crescimento.
custo-eficiente, adaptando as políticas às O segundo é que a vantagem
suas condições e necessidades, especialmente comparativa dos subsetores comerciáveis
para os mais pobres. Equilibrar a atenção aos por muitos anos ainda estará nas atividades
subsetores, regiões e domicílios favorecidos e principais (agricultura e mineração) e no
aos menos favorecidos é um dos mais difíceis agroprocessamento em virtude das dotações
dilemas da política que enfrentam os países de de recursos e do clima de investimento difícil
baixa renda com sérias restrições de recursos. para os fabricantes. A maioria das economias
depende de um portfólio diversificado de
A agricultura tem um sólido
histórico de desenvolvimento Figura 3. O aumento do PIB proveniente da
agricultura beneficia substancialmente mais
A agricultura tem poderes especiais na a metade mais pobre da população.
redução da pobreza. O crescimento agrícola Aumento de despesas provocado pelo crescimento
tem poderes especiais na redução da pobreza de 1% do PIB, %
em todos os tipos de país. As estimativas para 8
vários países demonstram que o crescimento Agricultura
do PIB proveniente da agricultura é pelo 6 Não-agrícola
menos duas vezes mais eficaz na redução da
pobreza do que o crescimento do PIB gerado 4
fora da agricultura (Figura 3). Na China,
estima-se que o crescimento agregado oriundo 2
da agricultura seja 3,5 vezes mais eficaz na
0
redução da pobreza do que o crescimento fora
da agricultura – e para a América Latina é
–2
2,7 vezes maior. O rápido crescimento agrícola Inferior 2 3 4 5 6 7 8 9 Superior
– na Índia, após inovações tecnológicas (a Decis de despesas
disseminação de espécies de alto rendimento) Fonte: Ligon e Sadoulet 2007.
e na China após inovações institucionais Nota: Baseado em dados de 42 países durante o período de
1981 – 2003. Os ganhos são significativamente diferentes para
(o sistema de responsabilidade familiar e a a metade inferior dos decis da despesa.
Visão Geral 7

exportações baseadas em produtos básicos o declínio da fertilidade do solo, oportunidades


não-processados e processados (inclusive o não-aproveitadas de diversificação da renda e
turismo) para gerar divisas. O crescimento migração criam dificuldades, ao passo que os
tanto dos setores não-comerciáveis como poderes da agricultura para o desenvolvimento
comerciáveis da agricultura também continuam inaproveitados. Atribui-se a
induz um crescimento forte em outros culpa a políticas que tributam excessivamente
setores da economia por meio de efeitos a agricultura e investem nela de forma
multiplicadores. insuficiente, refletindo uma economia de
Esta é a razão por que, por muitos anos, cunho político na qual predominam os
para a maioria das economias baseadas na interesses urbanos. Em comparação com
agricultura, a estratégia de crescimento países em transformação bem-sucedidos que
precisa fundamentar-se em fazer a agricultura ainda contam com uma alta participação
pôr-se em movimento. São abundantes os da agricultura no PIB, os países baseados
relatos de sucesso da agricultura como base na agricultura têm uma despesa pública
do crescimento no início do processo de muito baixa na agricultura como parcela de
desenvolvimento. O crescimento agrícola foi seu PIB agrícola (4% nos países baseados na
o precursor das revoluções industriais que se agricultura em 2004, em comparação com
espalharam no mundo de clima temperado 10% em 1980 nos países em transformação,
da Inglaterra em meados do século XvIII Figura 4). As pressões recorrentes das crises de
ou ao Japão no fim do século XIX. Mais alimentação também inclinam os orçamentos
recentemente, o rápido crescimento agrícola e as prioridades dos doadores em favor de
na China, Índia e vietnã foi o precursor provisão direta de alimentos em vez de
do surgimento da indústria. Tal como a investimentos no crescimento e obtenção da
pobreza, os poderes especiais da agricultura segurança alimentar por meio do aumento da
como base do crescimento inicial estão bem renda. Onde as mulheres constituem a maioria
estabelecidos. dos pequenos agricultores, a não-liberação de
seu pleno potencial na agricultura é um fator
A agr icultura , porém , tem sido que contribui para o baixo crescimento e
enormemente subutilizada para o insegurança alimentar.
desenvolvimento. Paralelamente a esses A subutilização da agricultura para o
sucessos, há inúmeros fracassos no uso da desenvolvimento não se limita aos países
agricultura para o desenvolvimento. Muitos baseados na agricultura. Nos países em
países baseados na agricultura ainda exibem transformação com rápido crescimento
crescimento agrícola per capita frágil e pouca nos setores não-agrícolas, a redistribuição
transformação estrutural (um declínio da da mão-de-obra fora da agricultura é
parcela da agricultura no PIB e um aumento tipicamente lenta, deixando nas áreas rurais
da parcela da indústria e dos serviços à medida um número elevado de pessoas de baixa renda
que aumenta o PIB per capita). O mesmo se e ampliando o hiato entre a renda rural e a
aplica a vastas áreas nos países de todos os urbana. A população agrícola requer subsídios
tipos. O rápido crescimento demográfico, a e proteção. No entanto, a débil capacidade
redução do tamanho da propriedade agrícola, fiscal de manter transferências de tamanho

Figura 4. A despesa pública na agricultura é a mais baixa nos países baseados na agricultura, ao passo
que a parcela da sua agricultura no PIB é a mais alta.
PIB agrícola/PIB Despesas públicas com agricultura/PIB agrícola
Percentual Percentual
35 35
30 29 29 1980 2000 30 1980 2000

25 24 25
20 20
16 17
15 14 15 12
10 10 11
10 10
5 5 4 4

0 0
Baseados Em transformação Urbanizados Baseados Em transformação Urbanizados
na agricultura na agricultura
Fonte: Fan, prestes a ser publicado.
8 RELATóRIO SOBRE O DESENvOLvIMENTO MUNDIAL DE 2008

suficiente para reduzir o hiato da renda e a Estado. A produção fica principalmente


contínua demanda urbana de alimentos a nas mãos dos pequenos agricultores, os
baixo preço criam um dilema de política.4 quais freqüentemente continuam a ser os
O custo de oportunidade dos subsídios (na produtores mais eficientes, especialmente
Índia três vezes os investimentos públicos na quando apoiados por suas organizações.
agricultura) é a redução dos bens públicos Mas quando essas organizações não podem
para o crescimento e dos serviços sociais nas captar economias de escala em produção e
áreas rurais. Aumentar a renda na agricultura marketing, a agricultura comercial de mão-
e na economia rural não-agrícola deve ser de-obra intensiva pode ser uma melhor forma
parte da solução. de produção e mercados de trabalho eficientes
e eqüitativos são o instrumento-chave para
Surgem novas oportunidades O mundo reduzir a pobreza rural. O setor privado
da agricultura mudou drasticamente impulsiona a organização das cadeias de valor
desde a publicação do “Relatório sobre o que levam o mercado aos pequenos agricultores
Desenvolvimento Mundial” de 1982 sobre a e às propriedades comerciais. O Estado, por
agricultura. Novos mercados dinâmicos, meio de uma capacidade melhorada e novas
inovações tecnológicas e institucionais de formas de governança, corrige as falhas
grande alcance e novas funções do Estado, do mercado, regula a concorrência e entra
do setor privado e da sociedade civil estrategicamente em parcerias público-
caracterizam o novo contexto da agricultura. privadas para promover a concorrência no
A nova agricultura emergente é liderada por setor agroempresarial e apóia uma inclusão
empresários privados em vastas cadeias de mais ampla dos pequenos agricultores e
valor que vinculam produtores e consumidores trabalhadores rurais. Nesta visão emergente,
e incluem muitos pequenos agricultores a agricultura assume um papel proeminente
empresários, apoiados por suas organizações. na agenda de desenvolvimento.
A agricultura de cultivos básicos e produtos
tradicionais de exportação também encontra Quais são os instrumentos
novos mercados ao se tornar mais diferenciada eficazes no uso da agricultura
a fim de atender às demandas em evolução
dos consumidores e de novos usuários (por para o desenvolvimento?
exemplo, biocombustíveis) e beneficia-se da A agricultura pode ser a fonte principal
integração regional dos mercados. Entretanto, de crescimento para os países baseados na
a agricultura enfrenta grandes incertezas, agricultura, além de poder reduzir a pobreza
difíceis de prever, e exige cautela na gestão do e melhorar o meio ambiente em todos os três
suprimento global de alimentos (Box 1). tipos de país, embora de formas diferentes.
Uma visão emergente da agricultura Isso requer melhorar a posição dos ativos
para o desenvolvimento redefine as funções das pessoas de baixa renda da zona rural,
dos produtores, do setor privado e do tornando a agricultura em pequena escala
mais competitiva e sustentável, diversificando
as fontes de renda para o mercado de trabalho
BOx 1. Qual o futuro do suprimento global e para a economia rural não-agrícola, bem
de alimentos? como facilitando a emigração bem-sucedida
A agricultura tem tido muito êxito em 2030. A isso se acrescenta a demanda da agricultura.
atender à demanda real de alimentos no explosiva de matéria-prima agrícola para
mundo. No entanto, mais de 800 milhões biocombustíveis, o que já elevou os preços Aumento do acesso aos ativos
de pessoas ainda sofrem de insegurança mundiais dos alimentos.
alimentar e a agricultura deixou uma O gerenciamento da resposta agregada Os ativos domiciliares são os principais
enorme marca ambiental. E o futuro é cada da agricultura à crescente demanda determinantes da capacidade de participar dos
vez mais incerto. exigirá uma boa política e investimentos mercados agrícolas, assegurar a sobrevivência
Modelos prevêem que os preços dos constantes, não simplesmente deixar
alimentos nos mercados globais poderão as coisas como estão. Reveste urgência da agricultura de subsistência, competir como
reverter sua tendência descendente de especial um investimento cada vez maior na empresários na economia rural não-agrícola
longo prazo, aumentando as incertezas a África Subsaariana, onde, segundo previsto, e encontrar emprego em ocupações de mão-
respeito da segurança alimentar global. A as importações de alimentos deverão mais
mudança climática, a degradação ambiental, do que dobrar até 2030 em um cenário de-obra qualificada. Três ativos centrais
o aumento da concorrência pela terra e que deixa as coisas como estão, o impacto são a terra, a água e o capital humano. No
água, preços mais altos da energia e dúvidas da mudança climática deverá ser grande entanto, os ativos das pessoas de baixa renda
sobre as taxas de futura adoção de novas com pouca capacidade para enfrentá-la e o
tecnologias representam desafios enormes progresso continua a ser lento em termos de
da zona rural são com freqüência espremidos
que tornam difíceis as previsões. aumento da disponibilidade alimentar per pelo crescimento demográfico, degradação
Para atender à demanda projetada, capita. ambiental, expropriação por parte de interesses
a produção de cereais terá de aumentar
quase 50% e a de carne 85% de 2000 a Fonte: Rosegrant e outros 2007. dominantes e tendenciosidades sociais em
políticas e na alocação dos bens públicos.
Visão Geral 9

Em parte alguma a escassez de ativos é Subsídios direcionados para facilitar a reforma


maior do que na África Subsaariana, onde agrária baseada no mercado são usados no
o tamanho da propriedade agrícola em Brasil e na África do Sul e devem ser tiradas
muitas das áreas mais densamente habitadas lições dessas experiências pioneiras em
é insustentavelmente pequeno e continua a matéria de aplicação potencial mais ampla.
diminuir, a terra está severamente degradada,
o investimento na irrigação é insignificante Água.  O acesso aos recursos hídricos e à
e a saúde e educação precárias das pessoas irrigação é um determinante importante da
de baixa renda limitam a produtividade produtividade da terra e da estabilidade do
e o acesso a melhores opções. A pressão rendimento agrícola. A produtividade da terra
demográfica, juntamente com a redução do irrigada supera mais de duas vezes a da terra
tamanho da propriedade agrícola e a escassez molhada pela chuva. Na África Subsaariana
de recursos hídricos, também representa um somente 4% da área em produção é irrigada,
importante desafio em muitas partes da Ásia. em comparação com 39% no Sul da Ásia
O aumento dos ativos requer investimentos e 29% no Leste Asiático. Com a mudança
públicos significativos em irrigação, saúde climática levando ao aumento das incertezas
e educação. Em outros casos, é mais uma na agricultura alimentada pela chuva e o
questão de desenvolvimento institucional, tal escoamento glacial reduzido, o investimento
como a melhoria da segurança dos direitos de no armazenamento da água será cada vez
propriedade e a qualidade da gestão da terra. mais crítico. Apesar da escassez de recursos
Aumentar os ativos pode também implicar aquáticos e do aumento do custo de esquemas
ação afirmativa para nivelar oportunidades de irrigação de grande escala, há muitas
para os grupos desfavorecidos ou excluídos, oportunidades para melhorar a produtividade
tais como mulheres e minorias étnicas. renovando os esquemas atuais, bem como
expandindo os esquemas de pequena escala e
Terra.  Os mercados da terra, especialmente o armazenamento da água.
os mercados de aluguéis, podem aumentar
a produtividade, ajudar os domicílios a Educação.  Embora a terra e a água sejam
diversificar sua renda e facilitar a saída da ativos essenciais nas áreas rurais, a educação
agricultura. À medida que os agricultores é freqüentemente o bem mais valioso para
avançam em idade, à medida que as economias ajudar os habitantes das áreas rurais a buscar
se diversificam e à medida que a migração se oportunidades na nova agricultura, obter
acelera, são necessários mercados da terra trabalhos qualificados, abrir empresas na
em bom funcionamento para transferir a economia rural não-agrícola e migrar com
terra aos usuários mais produtivos e facilitar sucesso. Contudo, os níveis de educação nas
a participação no setor rural não-agrícola e áreas rurais tendem a ser desanimadores em
a emigração da agricultura. Mas em muitos todo o mundo: em média quatro anos para
países, direitos de propriedade inseguros, os homens adultos da zona rural e menos de
execução deficiente de contratos e restrições três anos para as mulheres adultas da zona
jurídicas estritas limitam o desempenho rural na África Subsaariana, Sul da Ásia e no
dos mercados da terra, criando grandes Oriente Médio e Norte da África. A melhoria
ineficiências na redistribuição tanto da da educação básica na zona rural tem sido
terra como da mão-de-obra e reforçando mais lenta do que nas áreas urbanas. Nos
desigualdades existentes no acesso à terra. As locais onde a demanda por educação está
redes de segurança e o acesso ao crédito são relativamente atrasada dentro dos domicílios
necessários para minimizar as vendas de terra rurais, é possível melhorá-la por intermédio
a qualquer preço quando os agricultores ficam do condicionamento das transferências de
expostos a choques. dinheiro (como em Bangladesh, Brasil e
A reforma agrária pode promover a México) à freqüência escolar. Entretanto,
entrada do pequeno proprietário no mercado, cada vez mais, é a qualidade do ensino rural
reduzir desigualdades na distribuição da que exige o maior avanço, com a educação
terra, aumentar a eficiência e ser organizada planejada principalmente para incluir o
de forma a reconhecer os direitos da mulher. treinamento vocacional que pode fornecer
A redistribuição de grandes propriedades competências técnicas e de negócios que sejam
subutilizadas para assentar pequenos úteis na nova agricultura e na economia rural
proprietários pode funcionar se for não-agrícola.
complementada por reformas destinadas a
assegurar a concorrência dos beneficiários – Saúde.  A disseminação de doenças e mortes
algo que tem sido difícil de conseguir. causadas pelo HIV/AIDS e pela malária pode
10 relatório sobre o desenvolvimento mundial DE 2008

reduzir significativamente a produtividade públicos. As recentes reformas melhoraram


agrícola e devastar as condições de subsistências. os incentivos de preços para os produtores
A maioria das pessoas afetadas pelo HIV agrícolas dos países em desenvolvimento,
trabalha na agricultura e existe uma tremenda reduzindo, sem eliminar, as tendências
oportunidade para a política agrícola melhorar históricas das políticas contra a agricultura.
sua resposta ao HIV apoiando os ajustes aos Entre 1980-84 e 2000-04 a tributação agrícola
choques de mão-de-obra e a transmissão de liquida caiu em média de 28% para 10% nos
conhecimento aos órfãos. Na zona rural do países baseados na agricultura, de 15% para
Zâmbia, a diminuição da população tem sido 4% nos países em transformação, e de uma
especialmente grave para os adultos jovens da proteção parcialmente negativa para uma
zona rural. Estima-se que 19% das pessoas proteção líquida de 9% nos países urbanizados.
que tinham entre 15 e 24 anos em 1990, a Contudo, um baixo nível de tributação
idade mais produtiva, tenham morrido no ano líquida oculta uma combinação de proteção
2000. Mas a agricultura ainda oferece ameaças de produtos importáveis e tributação de
à saúde das pessoas de baixa renda da área exportáveis (especialmente nos países baseados
rural. A irrigação pode aumentar a incidência na agricultura e países em transformação) que
de malária e estima-se que o envenenamento podem ser ambas elevadas (Figura 5, pg. 11).
por pesticidas seja a causa de 255.000 mortes Por conseguinte, ainda há muita oportunidade
por ano. As zoonoses, como a gripe aviária para ganhos de eficiência adicionais por
que decorre da proximidade entre seres meio de reformas nas políticas comerciais
humanos e animais, representam crescentes dos próprios países em desenvolvimento. A
ameaças à saúde das pessoas. Uma melhor liberalização das importações de alimentos
coordenação das agendas para a agricultura básicos também pode beneficiar as pessoas de
e a saúde pode produzir elevados benefícios baixa renda porque muitas vezes a maioria dos
para a produtividade e o bem-estar. pobres, inclusive os pequenos proprietários, é
comprador líquido de alimentos. Mas muitos
Tornar a agricultura dos pequenos vendedores líquidos de baixa renda (algumas
proprietários mais produtiva vezes o maior grupo deles) perderão e serão
e sustentável necessários programas talhados para as
circunstâncias específicas dos países a fim de
O aumento da produtividade, lucratividade e
facilitar a transição para novas realidades de
sustentabilidade da agricultura dos pequenos
mercado.
proprietários é o principal caminho para
Em contrapartida, tem havido um
sair da pobreza usando a agricultura para o
progresso relativamente pequeno na redução
desenvolvimento. O que será preciso? Uma
geral do apoio aos produtores nos países
ampla série de instrumentos de política, muitos
membros da Organização para a Cooperação
dos quais se aplicam de forma diferente aos
e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
pequenos proprietários comerciais e àqueles
O apoio aos produtores caiu de 37% do valor
que atuam na agricultura de subsistência,
bruto das receitas das propriedades agrícolas
pode ser usada para conseguir o seguinte:
em 1986-88 para 30% no período 2003-05.
• Melhorar os incentivos de preços e Houve uma mudança do apoio diretamente
aumentar a qualidade e a quantidade dos ligado aos preços dos produtos para outros
investimentos públicos (Capítulo 4) meios menos distorcedores, tais como
• Fazer com que os mercados funcionem transferências de dinheiro “dissociadas”
melhor (Capítulos 5 e 6) da produção, particularmente na União
Européia (UE). Mas essas transferências não
• Melhorar o acesso aos serviços financeiros
são neutras para a produção porque reduzem
e reduzir a exposição aos riscos que não
dispõem de seguro (Capítulo 6) a aversão ao risco (efeito riqueza), diminuem
a variabilidade na receita das propriedades
• Melhorar o desempenho das organizações
agrícolas (efeito segurança) e permitem aos
de produtores (Capítulo 6)
bancos conceder empréstimos a agricultores
• Promover a inovação por intermédio da o que, em outras condições, não aconteceria.
ciência e tecnologia (Capítulo 7) Os impactos estimados da liberalização
• Tornar a agricultura mais sustentável integral do comércio sobre o bem-estar
e provedora de serviços ambientais são relativamente grandes. Estima-se que
(Capítulo 8) removendo seu atual nível de proteção, os países
industriais produziriam ganhos anuais de
Melhorar os incentivos de preços e aumentar bem-estar para os países em desenvolvimento
a qualidade e a quantidade dos investimentos cinco vezes maiores que o atual fluxo anual
Visão Geral 11

Figura 5. Os países em desenvolvimento estão cobrando menos impostos dos produtos


agrícolas exportáveis
Exportáveis Importáveis
Taxa nominal de assistência, % Taxa nominal de assistência, %
30 30 26 23
1980–84 2000–04 1980–84 2000–04
20 20 14 13 11
10
10 10
2
0 0
–10 –10
–13 –14 –20
–20 –19
–30 –29 –30

–40 –40
–46
–50 –50
Baseados Em transformação Urbanizados Baseados Em transformação Urbanizados
na agricultura na agricultura
Fonte: Anderson, prestes a ser publicado.
Nota: A taxa nominal de assistência é uma medida dos preços da produção interna com relação aos preços na fronteira, o que
também leva em conta os subsídios aos insumos internos.

da ajuda à agricultura. Mas esse impacto é ser eficazes – como nas reformas da política
heterogêneo entre produtos e países. Com do arroz no Japão, as reformas do açúcar
a total liberalização do comércio, estima-se na UE e as reformas para alimentos básicos
que os preços internacionais dos produtos no México em 1990. A união das reformas
agrícolas básicos aumentem em média de agrícolas internas com um conjunto mais
5,5%, enquanto os preços do algodão deverão amplo de reformas de âmbito econômico
crescer de 21% e o das sementes oleaginosas pode aumentar a probabilidade de êxito, como
de 15%. Isso gera preocupação especial para ocorreu em muitos países em desenvolvimento
os países importadores de alimentos com nas décadas de 1980 e 1990, mas essas reformas
rigorosas limitações de divisas, como Burundi, continuam incompletas no que tange à
Ruanda e Níger. Os países de baixa renda que agricultura. As reformas de outros subsídios,
exportam algodão ou sementes oleaginosas, tais como energia elétrica gratuita para os
como Chade, Sudão, Burkina Fasso, Mali e agricultores indianos, continuam paralisadas
Benin, deverão beneficiar-se. Entre os maiores em negociações clientelistas com elevados
ganhadores em potencial estão o Brasil, a custos para a eficiência e o meio ambiente.
Tailândia e o vietnã. A resposta para melhores incentivos de
A Rodada de Doha de negociações preços depende de investimentos públicos na
comerciais precisa ser concluída com infra-estrutura de mercado, nas instituições
urgência, especialmente para eliminar e nos serviços de apoio. Mas a qualidade
distorções, tais como os subsídios dos EUA ao dos gastos públicos é muitas vezes baixa e
algodão, que são prejudiciais aos países mais precisa ser melhorada. Em alguns países, os
pobres. São necessárias políticas e programas subsídios não-estratégicos chegam à metade
complementares (inclusive ajuda ao comércio) do orçamento público para a agricultura.
para compensar os perdedores (programas de Para mobilizar o apoio político ao melhor
transferência) e facilitar os ajustes rápidos uso dos gastos públicos em agricultura, um
e igualitários por parte dos pequenos passo inicial é a maior divulgação pública e a
proprietários às vantagens comparativas transparência da alocação orçamentária e da
emergentes (investimentos em bens públicos análise dos impactos.
e reformas institucionais).
A economia política determinará o ritmo Fazer os mercados de produtos e de insumos
e a extensão de outras reformas no comércio, funcionarem melhor. Com importantes
preços e despesas públicas. A filiação à mudanças estruturais nos mercados agrícolas e
Organização Mundial do Comércio (OMC) a entrada de novos atores fortes, uma questão-
pode ajudar a acelerar a reforma e a mídia local chave para o desenvolvimento é o aumento da
pode divulgar os custos dos contribuintes e participação dos pequenos proprietários e a
incidência desigual de ganhos. Em alguns garantia dos impactos do crescimento agrícola
casos, a negociação de acordos e os esquemas que reduzem a pobreza. Há diferentes opções
de compensação para os perdedores podem em todo o espectro de mercados.
12 relatório sobre o desenvolvimento mundial DE 2008

Mercados de alimentos básicos.  A redução experiência bem-sucedida de Gana com o


dos custos das transações e dos riscos cacau. A melhoria da qualidade e o comércio
nos mercados de alimentos básicos pode eqüitativo podem abrir novas oportunidades
promover um crescimento mais rápido e para mercados mais lucrativos para alguns
beneficiar as pessoas de baixa renda. Além pequenos proprietários.
dos investimentos em infra-estrutura, as
inovações promissoras incluem as trocas de Mercados de alto valor.  Também é possível
produtos básicos, sistemas de informações aumentar a participação dos pequenos
do mercado baseados no rádio rural e nos proprietários nos mercados de alto valor, tanto
sistemas de mensagens rápidas, recebimentos no âmbito global quanto interno, inclusive na
dos depósitos e ferramentas de gestão baseadas revolução dos supermercados que ocorre em
no mercado. muitos países. Os mercados de alto valor para
Uma questão especialmente difícil nos consumo interno são os mercados agrícolas
mercados de alimentos é como manejar a que mais crescem na maioria dos países em
volatilidade dos preços dos alimentos básicos desenvolvimento, com uma expansão de 6-7%
politicamente sensíveis em países onde são ao ano impulsionada pelos produtos de origem
responsáveis por uma grande parcela dos animal e pela horticultura (Figura 6, pg. 13).
gastos dos consumidores. Se o alimento básico Frutas e vegetais, frescos e processados, peixe
for comercializável, o seguro por meio de e seus derivados, carne, frutas secas, temperos
contratos futuros transacionados em bolsa pode e floricultura são hoje responsáveis por 43%
algumas vezes gerenciar os riscos dos preços, das exportações agroalimentares dos países
como para os países ou os comerciantes do sul em desenvolvimento, no valor de cerca de
da África que usam a bolsa de mercadorias US$ 138 bilhões em 2004. À medida que as
da África do Sul. A gestão do risco pode rendas crescem, aumenta o domínio dos
também ser ampliada por meio de fronteiras supermercados nas vendas internas no varejo
mais abertas e pelo comércio privado, como de produtos agrícolas - chegando a 60% em
na gestão bem-sucedida da escassez de arroz alguns países da América Latina.
causada pela inundação em Bangladesh em Os impactos desse crescimento sobre a
1998. Mas a maioria dos alimentos básicos pobreza dependem de como a população
nos países baseados na agricultura é apenas rural participa dos mercados de alto valor,
parcialmente comercializável e muitos países quer diretamente, como produtores (como
sujeitos a choques climáticos freqüentes em Bangladesh) ou por intermédio do
administram as reservas públicas de grãos mercado de trabalho (como no Chile). O
de modo a reduzir a instabilidade dos preços aumento da participação dos pequenos
– com sucesso irregular. Os elevados riscos da proprietários necessita de infra-estrutura
volatilidade dos preços continuam tanto para de mercado, melhoria da capacidade técnica
os agricultores quanto para os consumidores dos agricultores, instrumentos de gestão
em muitos países baseados na agricultura e as do risco e de ação coletiva via organizações
redes de segurança eficazes continuarão a ser de produtores. A abordagem dos rigorosos
importantes até que as rendas aumentem ou o padrões sanitários e fitossanitários dos
desempenho do mercado melhore. mercados globais é um desafio ainda maior.
O bom desempenho depende de esforços
Exportações brutas tradicionais.  A longa conjuntos públicos e privados em política
tendência de queda nos preços do mercado (legislação de segurança alimentar), pesquisa
mundial de produtos de exportação tradicionais (avaliação do risco, melhores práticas), infra-
como café e algodão ameaça a subsistência estrutura (mecanismos de processamento das
de milhões de produtores. A redução dos exportações) e supervisão (fiscalização de
impostos e a maior liberalização dos mercados doenças).
de exportação aumentaram os rendimentos
em muitos ambientes. Mas esses mercados Mercados de insumos.  Especialmente no que
liberalizados exigem um novo papel para o diz respeito a sementes e fertilizantes, as falhas
governo, particularmente na regulamentação dos mercados continuam disseminadas na
de operações de comercialização justas e África Subsaariana devido aos elevados custos
eficientes. Nos países em que isso foi feito, a das transações, aos riscos e às economias de
produção e a qualidade melhoraram – como escala. Portanto, o baixo grau de utilização
no caso do algodão no Zâmbia, onde a de fertilizantes é uma das principais restrições
produção triplicou. É também extremamente ao aumento da produtividade agrícola na
importante aumentar a produtividade das África Subsaariana. O interesse renovado
exportações, conforme demonstra a recente nos subsídios aos fertilizantes precisa focar
Visão Geral 13

Figura 6. O consumo interno e as exportações de produtos de alto valor dos países em desenvolvimento
estão crescendo rapidamente.
Consumo interno Exportações
Índice, 1980 = 100 Índice, 1980 = 100
350 350
300 300
250 250
200 200
150 150
100 100
50 50
0 0
1980 1985 1990 1995 2000 2005 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Meat Horticultura Cereais Meat Horticultura Sementes


Exportações tradicionais oleaginosas

Fonte: http://faostat.fao.org, consultado em junho de 2007 e http://comtrade.un.org

as soluções sustentáveis para as falhas do por meio de programas públicos ou de bancos


mercado. As abordagens de “comércio estatais deixou grandes hiatos nos serviços
inteligente” para revitalizar os mercados de financeiros que, em grande parte, ainda não
insumos agrícolas incluem cupões específicos foram preenchidos apesar das numerosas
para permitir que os agricultores adquiram inovações institucionais.
insumos e estimular a procura nos mercados
privados, além de doações compatíveis para Financiamento rural. A revolução do
garantir as despesas de determinados custos microfinanciamento, que fornece acesso ao
iniciais de registro de distribuidores privados crédito sem garantia formal, abriu o acesso
para os mercados de insumos. a empréstimos para milhões de pessoas de
Como qualquer outro subsídio, os subsídios baixa renda, especialmente mulheres, mas
aos insumos devem ser usados com cautela não atingiu a maioria das atividades agrícolas,
porque têm elevados custos de oportunidade exceto nas atividades de grande volume
para os bens públicos produtivos e despesas de vendas, tais como pequenos animais e
sociais, além de criarem o risco de apropriação horticultura. Entretanto, a abrangência dos
política e irreversibilidade. Mas com o uso produtos financeiros disponíveis para as
criterioso dos subsídios, é possível garantir as pessoas de baixa renda da zona rural ampliou-
despesas dos riscos da adoção inicial de novas se para incluir poupança, transferências de
tecnologias e alcançar economias de escala dinheiro, serviços de seguros e opções de
nos mercados para reduzir os preços dos arrendamento. Com o surgimento das cadeias
insumos. Os subsídios precisam fazer parte de suprimento integradas e da agricultura
de uma estratégia abrangente para a melhoria por contrato, a intermediação financeira por
da produtividade e precisam ter opções de agentes interligados está se tornando mais
saída confiáveis. comum. As tecnologias da informação estão
reduzindo os custos das transações e tornando
Melhorar o acesso aos serviços financeiros os empréstimos menos dispendiosos nas áreas
e reduzir a exposição aos riscos não- rurais, por exemplo, com o uso de cartões de
assegurados. As restrições financeiras crédito agrícola para a compra de insumos ou
continuam muito disseminadas na agricultura, de telefones celulares para executar transações
são dispendiosas e distribuídas de forma bancárias. Os serviços de comunicação
desigual, limitando cruelmente a capacidade de crédito que cobrem as instituições de
de competir dos pequenos proprietários. As microfinanciamento e o plano inferior
restrições financeiras decorrem da falta de dos bancos comerciais também ajudam os
posse de bens que possam servir de garantia pequenos proprietários a se beneficiarem da
(racionamento da riqueza) e da relutância reputação que constroem como mutuários
em colocar os ativos em risco como garantia de microfinanciamento para ter acesso a
quando eles são vitais para a subsistência empréstimos maiores e mais comerciais.
(racionamento do risco). O encerramento das Muitas dessas inovações ainda estão no estágio
linhas de crédito especiais para a agricultura piloto e necessitam de avaliação e ampliação
14 relatório sobre o desenvolvimento mundial DE 2008

para fazer uma verdadeira diferença para a A Rede Indiana de Cooperativas de Laticínios
competitividade dos pequenos proprietários. tem 12,3 milhões de membros, muitos deles
sem terra e mulheres. Eles produzem 22% do
Gerenciamento do risco.  A exposição aos suprimento total de leite da Índia.
riscos não-segurados – em conseqüência Apesar dos muitos êxitos, a eficácia das
dos desastres naturais, choques à saúde, organizações de produtores é freqüentemente
alterações demográficas, volatilidade dos limitada por restrições legais, baixa capacidade
preços e alteração das políticas – tem elevados gerencial, apropriação por parte da elite,
custos para a eficiência e a prosperidade dos exclusão das pessoas de baixa renda e não-
domicílios rurais. Para gerenciar a exposição reconhecimento como parceiros integrais pelo
a esses riscos, os agricultores têm de renunciar Estado. Os doadores e os governos podem
a atividades com previsão de rendas mais auxiliar facilitando o direito de organização,
elevadas. A venda de ativos para sobreviver treinando líderes e empoderando os membros
aos choques pode ter altos custos no longo mais fracos, particularmente as mulheres
prazo porque a descapitalização (venda a e os jovens agricultores. No entanto, o
qualquer preço de terra e da pecuaria) cria fornecimento dessa assistência sem a criação
irreversibilidades ou retarda a recuperação da de dependência ainda é um desafio.
propriedade dos ativos agrícolas. Além disso,
a educação e a saúde dos filhos podem sofrer Promover a inovação por intermédio da
conseqüências de longo prazo quando as ciência e tecnologia.  Impulsionado pela
crianças são retiradas da escola em resposta aos rápida expansão do investimento privado em
choques ou são expostas a períodos precoces pesquisa e desenvolvimento (P&D), o hiato do
de desnutrição, acarretando transferências de conhecimento entre países industrializados e
pobreza entre gerações. países em desenvolvimento está se ampliando.
Apesar das inúmeras iniciativas, houve Somando-se o setor público com o privado, os
pouco progresso na redução dos riscos não- países em desenvolvimento investem apenas
segurados na agricultura de pequena escala. um nono do que os países industrializados
Os esquemas de seguro administrados pelo empregam em P&D para a agricultura como
Estado demonstraram ser muito ineficientes. parcela do PIB agrícola.
O seguro baseado em índices para o risco de Para reduzir esse hiato, é preciso que um
secas, que estão agora sendo ampliados por aumento significativo nos investimentos em
iniciativas privadas na Índia e em outros P&D esteja no topo da agenda das políticas.
países, pode reduzir os riscos para mutuários Muitos investimentos nacionais e internacionais
e mutuantes e destravar o financiamento em P&D tiveram saldo altamente positivo,
agrícola. No entanto, essas iniciativas com uma taxa média de retorno interno
provavelmente não atingirão uma massa de 43% nos 700 projetos de P&D avaliados
crítica a menos que exista algum elemento de nos países em desenvolvimento de todas as
subsídio para, no mínimo, cobrir os custos regiões. Mas os fracassos globais e nacionais
iniciais. de mercados e de governança resultam em
sério subinvestimento em P&D e nos sistemas
Melhorar o desempenho das organizações de de inovação em geral, particularmente nos
produtores.  A ação coletiva das organizações países baseados na agricultura. Embora tenha
de produtores pode reduzir os custos das triplicado na China e na Índia nos últimos 20
transações nos mercados, conseguir algum anos, o investimento em P&D agrícola cresceu
peso no mercado e ter maior representação nos apenas um quinto na África Subsaariana
fóruns de políticas nacionais e internacionais. (diminuindo em cerca da metade dos países).5
As organizações de produtores são essenciais Os países africanos têm uma desvantagem
para os pequenos proprietários alcançarem adicional pelo fato de a especificidade das suas
competitividade. Elas tiveram uma expansão características agroecológicas não permitir
significativamente rápida em número e filiação, que eles se beneficiem tanto quanto as outras
sempre procurando preencher a lacuna regiões das transferências internacionais de
deixada pela saída do Estado do comércio, do tecnologia. Além disso, a pequena dimensão
fornecimento de insumos e do crédito e do de muitos desses países os impede de alcançar
aproveitamento de aberturas democráticas economias de escala em P&D agrícola. Os
que permitem maior participação da baixos investimentos em P&D e as pequenas
sociedade civil na governança. Entre 1982 e transferências internacionais de tecnologia
2002 o percentual de vilas com organizações atuam em conjunto com a estagnação das
de produtores aumentou de 8% para 65% no produções de cereais na África Subsaariana,
Senegal e de 21% para 91% em Burkina Fasso. acarretando a ampliação do hiato de produção
Visão Geral 15

com relação ao resto do mundo (Figura 7). O cada local, seu desenvolvimento e sua adoção
aumento substancial nos investimentos e a requerem abordagens mais descentralizadas e
cooperação regional em P&D são urgentes participativas, associadas à ação coletiva por
para esses países. parte dos agricultores e comunidades.
O pequeno investimento é apenas parte Os avanços revolucionários da biotecnologia
do problema. Muitas organizações públicas oferecem benefícios potencialmente
de pesquisa enfrentam graves limitações amplos para os produtores de baixa renda e
de liderança, gestão e recursos financeiros consumidores também de baixa renda. Mas
que requerem atenção urgente. Mas os os atuais investimentos em biotecnologia,
mercados de valor mais elevado abrem novas concentrados no setor privado e orientados por
oportunidades para que o setor privado interesses comerciais, têm impacto reduzido
promova a inovação em toda a cadeia de valor. na produtividade dos pequenos proprietários
Para aproveitá-las, geralmente são necessárias e no mundo em desenvolvimento – exceção a
parcerias entre o setor privado, os agricultores isso é o algodão Bt na China e na Índia. O
e a sociedade civil no financiamento, baixo investimento público em biotecnologia
desenvolvimento e adaptação da inovação. e o progresso lento da regulamentação dos
Com a disponibilidade de uma gama mais possíveis riscos ambientais e à segurança
ampla de opções institucionais, é preciso alimentar restringem o desenvolvimento
avaliar melhor o que funciona bem e em quais de organismos geneticamente modificados
contextos. (OGMs) que poderiam ajudar as pessoas de
Outro desafio é reduzir os hiatos de baixa renda. Os possíveis benefícios dessas
renda e produtividade entre as regiões mais tecnologias serão perdidos, a menos que a
favorecidas e as menos favorecidas. Para comunidade internacional do desenvolvimento
estas últimas, são necessárias melhores aumente drasticamente seu apoio aos países
tecnologias de gerenciamento do solo, da interessados.
água e da pecuaria e de sistemas agrícolas
mais sustentáveis e mais flexíveis, que incluam Tornar a agricultura mais sustentável – e
variedades mais tolerantes a pragas, doenças e provedora de serviços ambientais. O espaço
seca. As abordagens que exploram processos ambiental da agricultura tem sido grande, mas
biológicos e ecológicos podem minimizar há muitas possibilidades de reduzi-lo. Desde a
o uso de insumos externos, especialmente Cúpula da Terra no Rio em 1992, aceita-se em
de produtos químicos para a agricultura. geral a tese de que a agenda da sustentabilidade
Entre os exemplos estão o plantio direto, ambiental é inseparável da agenda mais ampla
o pousio melhorado, a adubação verde, da agricultura para o desenvolvimento. E o
conservação do solo, e controle de pragas futuro da agricultura está intrinsecamente
mais baseado na biodiversidade e no controle vinculado à melhor administração da base de
biológico do que nos pesticidas. Como a recursos naturais da qual depende.
maioria dessas tecnologias é específica a A agricultura, tanto intensiva quanto
extensiva, enfrenta problemas ambientais –
Figura 7 Aumentou o hiato na produção de cereais
entre a África Subsaariana e as outras regiões.
mas de tipos diferentes. A intensificação
agrícola criou problemas ambientais com a
Produção, toneladas por hectare
6
redução da biodiversidade, má administração
da água de irrigação, poluição agroquímica,
5 além de custos para a saúde e mortes
decorrentes de envenenamento por pesticidas.
4 A revolução da pecuária tem seus próprios
custos, especialmente nas áreas de alta
3 densidade populacional, por meio da perda
de animais e da disseminação de doenças
2 como a gripe aviária. Muitas das áreas menos
favorecidas estão sujeitas ao desmatamento,
1 erosão do solo, desertificação e degradação
dos pastos e das bacias hidrográficas. No
0
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 planalto da África Oriental, a erosão do solo
pode acarretar prejuízos à produtividade
Países desenvolvidos Sul da Ásia da ordem de 2%-3% ao ano, além de criar
Leste Asiático e Pacífico África Subsaariana efeitos externos, como o assoreamento dos
América Latina e Caribe
reservatórios.
Fonte: http://faostat.fao.org, consultado em junho de 2007.
16 relatório sobre o desenvolvimento mundial DE 2008

A resposta não é diminuir o ritmo do naturais com benefícios não-agrícolas (tais


desenvolvimento agrícola, mas buscar sistemas como subsídios para a conservação do solo) são
de produção mais sustentáveis e melhorar o necessários nas áreas de agricultura intensiva
fornecimento de serviços ambientais pela e extensiva. Incentivos inadequados que
agricultura. Muitas inovações tecnológicas estimulam a exploração de recursos – como
e institucionais promissoras podem tornar a os subsídios a culturas com uso intensivo
agricultura mais sustentável com o mínimo de água que podem ocasionar o excesso de
de compensações envolvendo o crescimento bombeamento de água subterrânea – devem
e a redução da pobreza. As estratégias de ser reduzidos.
gerenciamento da água em áreas irrigadas As reformas são geralmente difíceis
devem aumentar a produtividade da água, do ponto de vista político. Uma melhor
atendendo às exigências de todos os usuários mensuração da água por meio de tecnologia
(inclusive o meio ambiente) e reduzir a (detecção remota), serviços de irrigação de
poluição da água e a exploração insustentável melhor qualidade e maior responsabilização
das águas subterrâneas. Essas estratégias dos usuários de água podem gerar apoio
dependem da remoção de incentivos ao político para reformas que, em outras
desperdício de água, devolvendo a gestão da condições, estariam estagnadas.
água a grupos de usuários locais, investindo Os pagamentos por serviços ambientais
em tecnologias melhores e regulamentando podem ajudar a superar os fracassos do
as externalidades de forma mais eficaz. A mercado no gerenciamento das externalidades
governança descentralizada na gestão da ambientais. A proteção de bacias hidrográficas
irrigação tem mais possibilidade de êxito se e de florestas cria serviços ambientais (água
os contextos legais definirem com clareza as potável limpa, fluxos de água estáveis para
funções e direitos dos grupos de usuários e sistemas de irrigação, seqüestro do carbono
se a capacidade dos grupos para gerenciar a e proteção da biodiversidade) pelos quais
irrigação coletivamente aumentar. os fornecedores devem ser compensados
Melhores tecnologias e melhores formas mediante pagamentos efetuados pelos
de gerenciar os modernos insumos agrícolas beneficiários desses serviços. O interesse vem
também podem tornar a agricultura aumentando, particularmente na América
alimentada pela chuva mais sustentável. Latina. Na Nicarágua, os pagamentos
Uma das maiores histórias de sucesso da proporcionaram uma redução na área de
agricultura das duas últimas décadas é o pastos degradados e safras anuais de mais de
plantio direto. Essa abordagem funcionou 50% em favor do silvipastoreio, metade dele
na agricultura comercial da América por agricultores de baixa renda. A certificação
Latina, entre os pequenos proprietários dos ambiental de produtos também permite aos
sistemas arroz-trigo do Sul da Ásia e em consumidores pagarem pela gestão ambiental
Gana. Nas regiões menos favorecidas, as sustentável, quando praticada nos termos
abordagens baseadas nas comunidades para do comércio solidário ou do café plantado à
o gerenciamento dos recursos naturais, tais sombra.
como o programa de gerenciamento das bacias
hidrográficas na Anatólia Oriental da Turquia, A urgência de lidar com a mudança
representam uma promessa significativa. climática.  As pessoas de baixa renda
Como demonstram os dados de pesquisa que dependem da agricultura são as mais
realizada em 20 países, a participação ativa vulneráveis à mudança climática. Os
das mulheres nas organizações comunitárias crescentes fracassos das safras e mortes de
aumenta a eficácia do gerenciamento dos animais já estão impondo elevados prejuízos
recursos naturais e a capacidade de solucionar econômicos e minando a segurança alimentar
conflitos. em algumas regiões da África Subsaariana e
A obtenção correta de incentivos é o serão muito mais graves com a continuação do
primeiro passo para o gerenciamento de aquecimento global. Secas mais freqüentes e
recursos sustentáveis. A adoção generalizada a crescente escassez de água podem devastar
de abordagens mais sustentáveis é geralmente grandes áreas dos trópicos e prejudicar a água
prejudicada pela determinação inadequada de irrigação e água potável em comunidades
de preços e políticas de subsídios e pelo inteiras que já são pobres e vulneráveis. A
não-gerenciamento das externalidades. O comunidade internacional deve ampliar
fortalecimento dos direitos de propriedade urgentemente o seu apoio para tornar os
(como nos parques de agrossilvicultura no sistemas agrícolas das pessoas de baixa
Níger) e o fornecimento de incentivos de renda “à prova do clima”, particularmente
longo prazo para o gerenciamento de recursos nos trópicos, nas regiões do Himalaia e nos
Visão Geral 17

Andes. Com base no princípio do poluidor Figura 8. A agricultura e o desmatamento contribuem fortemente para a emissão de gases
pagador, é responsabilidade dos países mais causadores do efeito estufa.
ricos compensar os pobres pelos custos de % do total de emissões de GHC
adaptação. Até agora, os compromissos globais 63%
com os fundos de adaptação existentes têm 60 Países desenvolvidos Países em desenvolvimento
sido totalmente inadequados.
A agricultura dos países em desenvolvimento 40
e o desmatamento também são importantes
fontes de emissão de gases do efeito estufa: 20 15%
11%
estima-se que contribuam com 22% e até 7% 4%
30% do total de emissões, mais da metade 0
proveniente do desmatamento provocado, em Energia Agricultura Desmatamento Processos Dejetos
grande parte, pela invasão agrícola (13 milhões (excluída a alteração industriais
de hectares desmatados por ano em todo o no uso da terra)
mundo) (Figura 8).6 Os esquemas de comércio Fonte: Equipe WDR 2008 fundamentada nos dados da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática,
de carbono – especialmente se sua cobertura www.unfccc.int.
for ampliada para fornecer financiamento custo. Mas são poucos os outros países em
destinado a evitar o desmatamento e o desenvolvimento que podem ser produtores
seqüestro do carbono do solo (por exemplo, eficientes com as tecnologias atuais. As
lavoura de conservação) – oferecem um decisões das políticas sobre biocombustíveis
importante potencial inexplorado para precisam também considerar sistemas de
reduzir as emissões da mudança do uso da regulamentação ou de certificação para
terra na agricultura. Alguns progressos atenuar o espaço ambiental potencialmente
nas práticas de gerenciamento da terra e do grande da produção de biocombustíveis. Um
gado (por exemplo, lavoura de conservação maior esforço nos investimentos públicos
e agrosilvicultura) são geralmente situações e privados em pesquisa é importante para
ganha-ganha: após os investimentos iniciais, desenvolver processos de produção mais
podem proporcionar sistemas agrícolas mais eficientes e sustentáveis baseados em matérias-
produtivos e sustentáveis. primas diferentes dos alimentos básicos.
Biocombustíveis – uma oportunidade Indo além da agricultura: uma
e um desafio. Novas e promissoras
oportunidades para atenuar a mudança economia rural dinâmica e as
climática e criar grandes mercados novos aptidões para participar dela
para a agricultura surgiram por meio da Criação de empregos nas áreas rurais. Com
produção de biocombustíveis, estimulada o rápido crescimento da população rural e a
pelos elevados custos da energia. Mas poucos lenta expansão dos empregos na agricultura,
dos atuais programas de biocombustíveis a criação de empregos nas áreas rurais é um
são economicamente viáveis, além de poder desafio imenso, que não é suficientemente
representar riscos sociais (elevação dos preços reconhecido. Entre 45% e 60% da força de
dos alimentos) e ambientais (desmatamento). trabalho das áreas rurais estão envolvidos no
Até o momento, a produção nos países mercado de trabalho agrícola e na economia
industrializados tem-se desenvolvido num não-agrícola da Ásia e América Latina. Apenas
contexto de altos impostos de proteção para na África Subsaariana o emprego autônomo
os biocombustíveis e com grandes subsídios. na agricultura ainda é de longe a atividade
Essas políticas prejudicam os países em dominante para a força de trabalho rural,
desenvolvimento que são, ou podem vir a ser, especialmente para as mulheres. Mas, com
produtores eficientes em novos e lucrativos as populações rurais em rápido crescimento
mercados de exportação. Os consumidores e a redução nos tamanhos das propriedades
de baixa renda também pagam preços mais agrícolas, o problema do emprego nas áreas
elevados pelos alimentos básicos na medida rurais também precisará ser abordado.
em que os preços aumentam no mercado O mercado de trabalho rural oferece
mundial diretamente, em conseqüência do possibilidades de emprego para a população
desvio dos grãos para os biocombustíveis, ou rural na nova agricultura e no setor rural
indiretamente, devido à retirada da terra da não-agrícola. Mas as oportunidades são
produção de alimentos. melhores para aqueles que possuem aptidões
O Brasil é o maior e mais eficiente produtor e as mulheres com níveis de educação mais
de biocombustíveis do mundo, com base na baixos estão em desvantagem. A migração
sua produção de cana-de-açúcar de baixo pode representar um nível de renda mais
18 RELATóRIO SOBRE O DESENvOLvIMENTO MUNDIAL DE 2008

elevado para os trabalhadores preparados e aos mais vulneráveis contra os choques.


competentes enquanto, para outros, pode ser Esses programas precisam ser organizados de
um simples deslocamento da pobreza para o modo a não prejudicar o mercado de trabalho
ambiente urbano. e a economia alimentar local não produzir
A prioridade da política é criar mais desestímulo ao trabalho para os beneficiários,
empregos, tanto na agricultura como na mas a ajudar “no momento certo” os mais
economia rural não-agrícola. Os ingredientes necessitados. Com a mudança de ênfase dos
básicos de uma economia rural não-agrícola são governos e dos programas dos doadores nas
uma agricultura em crescimento rápido e um duas últimas décadas para as transferências
bom clima de investimento. São fundamentais como instrumento de redução da pobreza
a criação de vínculo entre a economia local e e com a maior atenção dada à avaliação do
os mercados mais amplos por meio da redução impacto, muito se aprendeu sobre como
dos custos das transações, o investimento direcionar e calibrar melhor esses programas
em infra-estrutura e o fornecimento de para obter maior eficácia.
serviços profissionais e inteligência de
mercado. Aglomerados (clusters) baseados na Qual é a melhor forma de
agricultura – empresas em uma área geográfica implementar as agendas
coordenadas para competir no atendimento
a mercados dinâmicos – têm sido eficazes,
da agricultura para o
com experiências bem documentadas para desenvolvimento?
as exportações de produtos não-tradicionais A busca de uma agenda agricola para o
do vale do São Francisco, no Brasil, e para a desenvolvimento de um país implica a definição
produção de laticínios no Peru e Equador. do que fazer e como fazê-lo. O que fazer
O verdadeiro desafio é auxiliar a transição da requer uma estrutura política fundamentada
população rural para empregos com melhores no comportamento dos agentes – produtores
salários. São necessárias regulamentações da e suas organizações, setor privado nas cadeias
mão-de-obra que ajudem a incorporar uma de valor e do Estado. Como fazê-lo requer
parcela maior de trabalhadores rurais no governança eficaz para reunir apoio político
mercado formal e a eliminar a discriminação e capacidade de implementação, também
entre homens e mulheres. Educação, aptidões baseados no comportamento dos agentes – o
e empreendedorismo podem ser fomentados – Estado, a sociedade civil, o setor privado, os
com o fornecimento de incentivos aos pais doadores e as instituições globais.
para educarem melhor seus filhos, melhoria
da qualidade das escolas e fornecimento Definição de uma agenda da
de oportunidades em educação que sejam agricultura para o desenvolvimento
relevantes para os mercados de trabalho Abertura e ampliação dos caminhos para
emergentes. sair da pobreza. Os domicílios rurais
buscam pórtfolios de atividades agrícolas e
Fornecimento de redes de segurança. O não-agrícolas que lhes permitam beneficiar-
fornecimento de assistência social aos pobres se das diferentes aptidões de cada membro
crônicos e transitórios pode aumentar a e diversificar os riscos. Os caminhos para
eficiência e o bem-estar. Os ganhos de sair da pobreza podem ser via agricultura
eficiência decorrem da redução dos custos da de pequena escala, emprego assalariado na
gestão do risco e do risco de descapitalização agricultura, emprego autônomo ou assalariado
de ativos em resposta aos choques. Os ganhos na economia rural não-agrícola e êxodo das
de bem-estar resultam do apoio aos pobres áreas rurais – ou alguma combinação desses
crônicos com ajuda alimentar e transferências fatores. As diferenças de gênero no acesso
de dinheiro. No Brasil, África do Sul e na aos ativos e as restrições à mobilidade são
maioria dos países da Europa e Ásia Central, determinantes importantes na escolha dos
os fundos de pensão rurais sem contribuição caminhos disponíveis.
protegem os idosos, facilitam as transferências Uma agricultura mais eficaz no apoio ao
antecipadas de terra para as gerações mais crescimento sustentado e à redução da pobreza
jovens e aliviam aqueles que trabalham do começa com um clima sociopolítico favorável,
ônus financeiro de prestar apoio aos idosos. governança adequada e fundamentos
Ficou demonstrado que essas políticas têm macroeconômicos sólidos. Requer, então, a
efeitos derivados importantes sobre a saúde e definição de uma agenda para cada tipo de
a educação dos netos dos pensionistas. país baseada em uma combinação de quatro
As redes de segurança, tais como os objetivos políticos – que formam um losango
programas de obras públicas e a ajuda de políticas (Figura 9, pg. 19).
alimentícia ou transferência de dinheiro,
também têm função de seguro na proteção • Objetivo 1. Melhorar o acesso aos mercados
e estabelecer cadeias de valor eficientes
Visão Geral 19

Figura 9 Os quatro objetivos políticos da agenda da agricultura para o desenvolvimento


• Objetivo 2. Aumentar a competitividade
formam um losango de políticas.
dos pequenos proprietários e facilitar a
entrada no mercado Precondições
Princípios macroeconômicos
• Objetivo 3. Melhorar a sobrevivência na
Governança
agricultura de subsistência e em ocupações Contexto sociopolítico
rurais que requerem poucas aptidões
• Objetivo 4. Aumentar o emprego na 1
Melhorar o acesso
agricultura e na economia rural não-
Procura por ao mercado; Procura por
agrícola, além de aprimorar as aptidões produtos agrícolas estabelecer cadeias produtos agrícolas
de valor eficientes e não-agrícolas
Ao usar a agricultura para o
desenvolvimento, um país deve formular uma
agenda com as seguintes características: 2 4
Aumentar Caminhos para Aumentar o emprego na
• Precondições estabelecidas. Sem a competitividade dos sair da pobreza agricultura e a
paz social, governança adequada e pequenos proprietários; Agricultura, economia rural
fundamentos macroeconômicos sólidos, facilitar a entrada Efeitos sobre mão-de-obra, Efeitos sobre não-agrícola;
poucos elementos de uma agenda agrícola no mercado o rendimento migração o rendimento aprimorar as aptidões
podem ser implementados com eficácia.
Essa premissa básica quase nunca
esteve presente nos países baseados na 3
Transição Melhorar a sobrevivência Transição
agricultura até meados da década de 1990, para o mercado na agricultura de para o mercado
particularmente na África Subsaariana. subsistência e nas
ocupações rurais
• Abrangente. A agenda combina os quatro de baixo risco
objetivos do losango de políticas de acordo
com o contexto do país e com base nos Fonte: Equipe do WDR 2008.
indicadores que ajudam a monitorar e
avaliar o progresso no sentido de alcançar
o objetivo de cada política.
massa da pobreza e da segurança alimentar.
• Diferenciada. As agendas diferem segundo Isso representa um enorme desafio para os
o tipo de país, refletindo as diferenças de
prioridades e condições estruturais entre os governos e para a comunidade internacional,
três mundos agrícolas. As agendas devem mas não existe outras alternativas para atingir
ser ainda ajustadas às especificidades dos sucesso e existem agora novas oportunidades
países por meio de estratégias agrícolas que oferecem uma base para otimismo.
nacionais com ampla participação dos Quando as condições macroeconômicas e
grupos interessados. os preços dos produtos básicos melhoraram
na África Subsaariana a partir de meados
• Sustentável. As agendas devem ser da década de 1990 (Figura 10, pg. 20), o
ambientalmente sustentáveis, tanto para crescimento agrícola registrou aceleração de
reduzir a área ambiental da agricultura 2,3% ao ano na década de 1980 para 3,8%
como para sustentar o futuro crescimento entre 2001 e 2005. Onde havia crescimento, a
agrícola. pobreza na zona rural começou a cair – mas o
• Viável. Para serem implementadas e rápido aumento da população está absorvendo
terem impacto significativo, as políticas e grande parte desse ganho, reduzindo o
os programas devem atender às condições crescimento agrícola per capita para 1,5%.
de viabilidade política, capacidade Já é possível obter crescimento e redução da
administrativa e viabilidade financeira. pobreza mais rápidos, mas serão necessários
compromissos, aptidões e recursos.
Países baseados na agricultura: como A diversidade de condições locais na África
conseguir o crescimento e a segurança Subsaariana produz uma grande variedade de
alimentar. Os países da África Subsaariana sistemas agrícolas e a dependência de muitos
respondem por mais de 80% da população tipos de alimentos básicos, o que sugere um
rural dos países baseados na agricultura. caminho para o aumento da produtividade
Para eles, com limitações de capacidade bastante diferente daquele da Ásia.7 Embora
para comercializar alimentos e de vantagem dificulte o desenvolvimento de novas
comparativa nos subsetores primários, o tecnologias, a diversidade oferece uma ampla
aumento da produtividade agrícola deve ser gama de oportunidades para a inovação.
a base do crescimento econômico nacional, A dependência da oportunidade e
bem como o instrumento para a redução em da quantidade das chuvas aumenta a
20 RELATóRIO SOBRE O DESENvOLvIMENTO MUNDIAL DE 2008

Figura 10. O crescimento agrícola na África Subsaariana aumentou com a melhoria das condições
macroeconômicas.
Classificação macroeconômica Taxa de crescimento da agricultura, % por ano
10 6

5
8
4
6 3

4 2

1
2 1984–95
0 1995–2005
0 –1
1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 –0.2 0 0.2 0.4 0.6
Alteração média anual na classificação macroeconômica
Fonte: Equipe WDR 2008 fundamentada em dados do Guia Internacional do Risco dos Países, http://www.icrgonline.com.
Nota: A classificação macroeconômica é a média da classificação do saldo orçamentário, classificação da inflação e estabilidade da
taxa de câmbio. Cada ponto representa um país.

vulnerabilidade aos choques climáticos e o papel sempre dominante das mulheres


limita a capacidade para utilizar tecnologias agricultoras, dos agroprocessadores e dos
conhecidas para melhorar a colheita. Mas o comerciantes nos mercados locais.
potencial inexplorado para armazenar água O contexto Subsaariano sugere quatro
e utilizá-la com mais eficiência é imenso. Os características distintas de uma agenda da
pequenos países sem saída para o mar não política para o desenvolvimento. Primeiro,
conseguem, por si só, alcançar economias uma abordagem multissetorial deve
de escala nos mercados de produtos e em compreender as sinergias entre tecnologias
pesquisa e treinamento, o que torna a (sementes, fertilizante, raças de animais),
integração regional importante. A baixa gerenciamento sustentável da água e do solo,
densidade demográfica, que aumenta o custo serviços institucionais (serviços de extensão,
da prestação de serviços de infra-estrutura e a seguro, financeiros) e desenvolvimento do
perda de recursos humanos por causa do HIv/ capital humano (educação, saúde) – todos
AIDS, impõe restrições adicionais. vinculados ao desenvolvimento do mercado.
A agenda para a África Subsaariana é a Segundo, as ações para o desenvolvimento
intensificação do crescimento por meio do agrícola devem ser descentralizadas para
aumento da competitividade dos pequenos se ajustarem às condições locais. Incluem
proprietários em áreas de potencial médio abordagens conduzidas pela comunidade nas
e elevado, onde os retornos do investimento quais as mulheres, que representam a maioria
são maiores garantindo, ao mesmo tempo, dos agricultores da região, desempenham
a sobrevivência e a segurança alimentar dos papel de liderança. Terceiro, as agendas devem
agricultores de subsistência. A movimentação ser coordenadas entre os países para fornecer
da agricultura requer a melhoria do acesso um mercado amplo e alcançar economias de
aos mercados e o desenvolvimento de escala em serviços como P&D. Quarto, para
modernas cadeias de mercado. Requer manter o crescimento as agendas devem dar
uma revolução da produtividade baseada prioridade à conservação dos recursos naturais
nos pequenos proprietários e centrada nos e à adaptação à mudança climática.
alimentos básicos, mas que também inclua Essa agenda exigirá estabilidade
exportações tradicionais e não-tradicionais. macroeconômica, políticas para melhorar os
São necessários investimentos de longo incentivos aos produtores e favorecer comércio,
prazo no gerenciamento da água e do solo a além de um aumento drástico do investimento
fim de aumentar a flexibilidade dos sistemas público – especialmente em infra-estrutura,
agrícolas, especialmente para as pessoas que estradas e comunicações para melhorar o
trabalham na agricultura de subsistência acesso ao mercado e em P&D para abordar os
em ambientes remotos e arriscados. E diferentes cultivos e agroecologias da África,
exige o aproveitamento do crescimento conforme proposto na Nova Parceria para o
agrícola para ativar a economia rural não- Desenvolvimento da África.
agrícola, produzindo bens e serviços não- O recente aumento repentino do
comercializáveis. A agenda deve reconhecer crescimento da agricultura subsaariana foi o
Visão Geral 21

resultado da melhoria nos incentivos de preços o lucro das atividades não-agrícolas aumenta,
provenientes das reformas macroeconômicas as pressões para tratar as disparidades de renda
e setoriais e dos preços mais elevados de entre as regiões urbana e rural por meio de
produtos básicos. Como muitos países subsídios concorreria para as despesas fiscais,
obtiveram os ganhos fáceis das reformas de a um elevado custo de oportunidade para os
preços, o crescimento no futuro terá que se bens públicos e as necessidades básicas rurais.
basear mais no aumento da produtividade. Por outro lado, tratar essas disparidades por
A maior disposição dos governos, do setor meio da proteção à importação elevaria os
privado e dos doadores para investir na custos dos alimentos para as grandes massas
agricultura subsaariana abre uma janela de de consumidores de baixa renda que são
oportunidade que não se deve perder. compradores líquidos de alimentos.
Por causa das pressões demográficas e das
Países em transformação: redução das restrições de terras, a agenda para os países em
disparidades de renda entre as zonas rural e transformação deve mobilizar em conjunto
urbana e a pobreza das áreas rurais. Nos todos os caminhos para sair da pobreza:
países em transformação, com 2,2 bilhões atividade agrícola, emprego na agricultura
de habitantes nas zonas rurais, dos quais e na economia rural não-agrícola, além da
600 milhões de baixa renda, os setores não- migração. As perspectivas são boas para
agrícolas tiveram o crescimento mais rápido do promover os rendimentos rurais e evitar a
mundo. O foco principal da agricultura para armadilha da proteção por meio de subsídios,
o desenvolvimento é reduzir as disparidades se a vontade política puder ser obtida. Os
de renda entre as zonas rural e urbana e, ao mercados em rápida expansão de produtos
mesmo tempo, evitar as armadilhas do subsídio de alto valor – especialmente hortaliças,
e da proteção, desafios pouco abordados até o aves, peixe e laticínios – oferecem uma
momento (Figura 11). Com uma crescente oportunidade para diversificar os sistemas
atenção política na ampliação das disparidades agrícolas e desenvolver um setor de agricultura
de renda, existem fortes pressões para se usar em pequena escala competitivo e com mão-
melhor as potencialidades da agricultura para de-obra intensiva. Os mercados de exportação
o desenvolvimento.8 de produtos não-tradicionais também são
Nesses países, a agricultura está quase acessíveis porque os países em transformação
exclusivamente nas mãos dos pequenos têm uma vantagem comparativa em atividades
proprietários. As contínuas pressões com mão-de-obra e gerenciamento intensivos.
demográficas implicam a rápida redução Muitos países têm níveis de pobreza elevados
dos tamanhos das propriedades agrícolas, em regiões menos favorecidas que requerem
que se tornam tão diminutas que podem melhor infra-estrutura e tecnologias adaptadas
comprometer a sobrevivência se não houver a essas regiões.
disponibilidade de oportunidades externas Para fazer frente ao desemprego rural,
de renda. A concorrência relacionada ao um objetivo complementar da política é a
acesso à água está acirrada, com a crescente promoção de um setor rural não-agrícola
procura das zonas urbanas e a deterioração da dinâmico em cidades secundárias, vinculado
qualidade da água distribuída. À medida que tanto à agricultura como à economia urbana.

Figura 11. A disparidade de renda entre as zonas rural e urbana aumentou na maioria dos países em
transformação.
Razão entre as rendas medianas rural e urbana
4

Ano inicial Ano final


3

0
Guatemala Tailândia Camboja China Vietnã Indonésia Bangladesh Índia Paquistão
1989-2002 1990-2002 1997-2004 1985-2001 1992-2001 1993-2002 1991-2000 1989-1999 1999-2001
Fonte: Equipe WDR 2008, fundamentada em pesquisas representativas sobre domicílios.
22 relatório sobre o desenvolvimento mundial DE 2008

A China levou a indústria até as cidades rurais, agricultores de subsistência continuará a ser
diversificando as rendas na zona rural, uma imperativo por muitos anos.
abordagem que poderia ser imitada em outros
países em transformação. Em todos os países Implementação de uma agenda da
em transformação, a transferência de mão-de- agricultura para o desenvolvimento
obra para os setores dinâmicos da economia Há dois desafios à implementação da agenda da
precisa ser acelerada por investimentos agricultura para o desenvolvimento. Um deles
maciços em aptidões para esta geração e a é o gerenciamento da economia política para
próxima. As mudanças significativas que esta que as políticas agrícolas superem as tendências
reestruturação encerra devem ser asseguradas históricas de subinvestimento e erros de
por programas eficazes de redes de segurança investimento. O outro é o fortalecimento da
de modo a permitir que as famílias assumam governança para a implementação de políticas
riscos ao passarem para as suas melhores agrícolas, particularmente nos países baseados
opções. O êxito da solução do problema da na agricultura e países em transformação
disparidade nos países em transformação onde a governança recebe classificações ruins
pode proporcionar uma significativa melhora (Figura 12, pg. 23).
da pobreza mundial. A pouca atenção dada a esses dois desafios
para a economia política e a governança
Países urbanizados: ligação dos pequenos foi um importante motivo pelo qual várias
proprietários com os modernos mercados recomendações-chave do “Relatório sobre o
de alimentos e fornecimento de bons Desenvolvimento Mundial” para a agricultura
empregos.  A meta maior é aproveitar a rápida não foram totalmente implementadas,
expansão dos modernos mercados internos particularmente aquelas sobre a liberalização
de alimentos e a explosão dos subsetores do comércio, maiores investimentos em infra-
agrícolas para reduzir drasticamente a estrutura e P&D na África e melhor prestação
pobreza rural restante, obstinadamente de serviços de saúde e educação para as
elevada. Os países urbanizados, com 32 populações rurais.
milhões de pessoas de baixa renda nas zonas
rurais – que representam 39% de todos os O futuro promete ser mais promissor para
seus pobres – estão passando pela revolução uma agricultura para o desenvolvimento.  As
dos supermercados no mercado varejista de perspectivas são mais favoráveis hoje do que
alimentos. Para os pequenos proprietários, em 1982. A tendência anti-agricultura das
a competitividade no abastecimento dos políticas macroeconômicas foi reduzida
supermercados é um grande desafio que exige graças às reformas econômicas mais amplas.
o cumprimento de padrões rígidos e o alcance A agricultura deverá beneficiar-se de outras
de economia de escala na entrega. Para isso, reformas gerais de governança que estão
são fundamentais organizações de produtores agora em destaque na agenda, tais como
eficazes.9 A incontrolável desigualdade de descentralização e reformas na gestão do setor
terras na América Latina também restringe a público. Mas as reformas específicas sobre o uso
participação dos pequenos proprietários. da agricultura para o desenvolvimento ainda
A melhoria do acesso dos pequenos não foram amplamente implementadas.
proprietários aos ativos, especialmente à Existem também evidências de que a
terra, e o aumento da sua participação em economia política está mudando de maneira
sociedades desiguais pode elevar o tamanho favorável à agricultura e ao desenvolvimento
e a competitividade do setor de pequenos rural. Tanto as organizações rurais da
proprietários. Além da agricultura, estão sociedade civil quanto o setor privado nas
sendo adotadas abordagens territoriais cadeias de valor da agricultura são mais
para promover o emprego local mediante a fortes do que eram em 1982. O setor privado
interligação entre agricultura e agroindústria de agronegócios tornou-se mais vibrante,
rural e essas experiências precisam ser mais especialmente nos países em transformação
bem compreendidas para uma aplicação mais e urbanizados. Novos atores fortes entraram
ampla. O crescimento agrícola é especialmente nas cadeias de valor da agricultura e têm
importante para melhorar o bem-estar em interesse econômico em um setor agrícola
bolsões de pobreza geográficos com bom dinâmico e próspero, além de influenciar os
potencial agrícola. Para as regiões sem esse assuntos políticos. Embora somente essas
potencial, a transição de saída da agricultura condições melhores não garantam o uso
e o fornecimento de serviços ambientais mais bem-sucedido da agricultura para o
oferecem perspectivas melhores. Mas o apoio desenvolvimento – os pequenos proprietários
ao componente agrícola de sobrevivência dos devem ser ouvidos em assuntos políticos e os
Visão Geral 23

Figura 12. Países baseados na agricultura e países em transformação recebem classificações


baixas em governança.
Classificação da governança
2,0

1,5

1,0

0,5

–0,5

–1,0
Opinião e Estabilidade Eficácia Qualidade das Regime de direito Controle
responsabilização política governamental regulamentações da corrupção

Países baseados na agricultura Países urbanizados


Países em transformação Países desenvolvidos

Fonte: Kaufmann, Kraay e Mastruzzi 2006.

formuladores de políticas e doadores devem melhorar a governança. As organizações de


aproveitar as novas oportunidades. produtores podem dar expressão política
aos pequenos proprietários e responsabilizar
Novas funções para o Estado. As falhas do os formuladores de políticas e os órgãos
mercado são generalizadas, especialmente nos implementadores por meio da participação
países baseados na agricultura, e existe uma na formulação de políticas agrícolas,
necessidade para a política pública de garantir monitoramento do orçamento e participação
resultados sociais desejáveis. O Estado tem na implementação da política. No Senegal,
uma função no desenvolvimento do mercado o Conseil National de Concertation et de
– o fornecimento de bens públicos essenciais, Coopération des Ruraux, uma organização
a melhoria do clima de investimento para o que protege as organizações de produtores,
setor privado – e um melhor gerenciamento atua no desenvolvimento e implementação
dos recursos naturais com o lançamento de estratégias e políticas agrícolas nacionais.
de incentivos e atribuição de direitos de A liberdade de associação, imprensa
propriedade. livre e investimento no capital social das
É preciso com urgência reforçar a organizações rurais, inclusive organizações
capacidade do Estado em suas novas funções de mulheres, são importantes para essas
de coordenação entre os setores e parceria estratégias do lado da procura de melhoria da
com o setor privado e a sociedade civil para governança.
a implementação das agendas agricolas para
o desenvolvimento. Na maioria dos países, Uma combinação de serviços centralizados e
os ministérios da agricultura necessitam de descentralizados. Por aproximar o governo
reformas de grande alcance para redefinir das populações rurais, a descentralização
suas funções e desenvolver novas capacidades. tem o potencial para lidar com os aspectos
Novos modelos estão começando a surgir. localizados e heterogêneos da agricultura,
Uganda foi a pioneira na contratação de especialmente por extensão. Mas nem
serviços externos de auditoria em agricultura, todos os serviços agrícolas devem ser
dando às organizações de produtores voz ativa descentralizados, pois alguns como a pesquisa
na concessão de contratos. científica e a fiscalização de doenças animais
têm importantes economias de escala. As
Fortalecimento da sociedade civil e da instituições descentralizadas precisam
democracia . O “terceiro setor” – abordar a apropriação por parte da elite e a
comunidades, organizações de produtores exclusão social que geralmente prevalecem
e de outros grupos interessados, além de nas sociedades agrárias. Na Índia, a reserva de
organizações não-governamentais (ONGs) assentos para mulheres nos conselhos locais
– podem melhorar a representação das ajudou a direcionar melhor os investimentos
pessoas pobres da zona rural e, ao fazê-lo, públicos para as necessidades específicas de
24 relatório sobre o desenvolvimento mundial DE 2008

gênero. Em outros lugares, a corrupção foi mundo e atenuação e adaptação à mudança


reduzida pelos sistemas de monitoramento climática.
de base, auditorias do governo com resultados Com seu pouco foco setorial, as instituições
divulgados pela mídia e uso de tecnologias da globais criadas para a agricultura no Século
informação e da comunicação para manter XX, apesar de suas muitas realizações, estão
registros e compartilhar informações. mal preparadas para abordar as atuais agendas
O desenvolvimento conduzido pela comu- inter-relacionadas e multissetoriais. São
nidade (DCC) pode explorar o potencial das necessárias reformas institucionais e inovações
comunidades rurais – seu conhecimento local, para facilitar uma maior coordenação entre os
criatividade e capital social. A descentraliza- órgãos internacionais e com os novos atores
ção e o DCC geralmente contribuem para a da arena global, inclusive a sociedade civil, o
agenda da agricultura para o desenvolvimento setor de negócios e a filantropia.
de forma seqüencial, focando primeiro nos A implementação da agenda global exige
serviços básicos e os bens públicos e parti- uma combinação de disposições institucio-
cipando das atividades geradoras de renda nais. Instituições especializadas, tais como
depois que as necessidades mais básicas tive- o Grupo Consultivo em Pesquisas Agrícolas
rem sido atendidas. O desenvolvimento terri- Internacionais, a Organização das Nações
torial pode ajudar a gerenciar projetos econô- Unidas para Agricultura e Alimentação e o
micos com uma escala mais ampla do que a Fundo Internacional de Desenvolvimento
abordagem DCC. Agrícola podem fornecer apoio e compro-
misso de longo prazo melhorando sua efici-
Melhoria da eficácia dos doadores.  Nos países ência e a coordenação entre os órgãos. Redes
baseados na agricultura, os doadores são intersetoriais, específicas para cada questão,
extraordinariamente influentes. Em 24 países podem reagir rapidamente a emergências
subsaarianos, as contribuições dos doadores como o controle da gripe aviária e aproveitar
representam no mínimo 28% dos gastos com oportunidades emergentes, como a biofortifi-
desenvolvimento agrícola – e mais de 80% cação por meio de sementes melhoradas com
em alguns países. As estratégias agrícolas nutrientes. Em outros casos, a incorporação
comandadas pelo país e as estratégias mais de prioridades globais – tais como a adaptação
amplas de redução da pobreza oferecem uma à mudança climática – à maior ajuda dos doa-
estrutura para os doadores alinharem sua dores à agricultura poderá funcionar melhor.
ajuda ao setor agrícola e entre elas, usando O cumprimento da agenda internacional não
os sistemas de despesas públicas e aquisições é apenas uma questão de interesse próprio,
como mecanismos para a implementação de que se estende de forma abrangente em um
programas. No nível regional, o Programa mundo global, mas é também uma questão de
Amplo de Desenvolvimento Agrícola Africano equidade e justiça entre os mundos desenvol-
fornece as prioridades para a coordenação vido e em desenvolvimento e entre a atual e a
dos investimentos dos doadores. Embora futura geração.
esses esforços nacionais e regionais forneçam
os contextos institucionais para o apoio E agora? A caminho da
dos doadores à agricultura, o progresso na implementação
implementação tem sido lento. Se o mundo estiver comprometido com
a redução da pobreza e com o alcance
Reforma das instituições globais.  A agenda do crescimento sustentável, as forças da
da agricultura para o desenvolvimento não agricultura para o desenvolvimento devem ser
pode ser executada sem mais e melhores liberadas. Mas não existem fórmulas mágicas.
compromissos. E as principais tarefas globais O uso da agricultura para o desenvolvimento
do Século XXI – acabar com a fome e a é um processo complexo. Requer consultas
pobreza, sustentar o meio ambiente, fornecer abrangentes no âmbito dos países para
segurança e gerenciar a saúde mundial – não adaptar as agendas e definir as estratégias
serão realizadas sem a agricultura. A agenda para a implementação Requer também fazer
global para a agricultura tem múltiplas com que a agricultura trabalhe em harmonia
dimensões: definição de regras justas para o com outros setores e com atores no nível
comércio internacional, acordo sobre padrões local, nacional e global. Exige a formulação de
para os produtos e direitos de propriedade capacidade para os pequenos proprietários e
intelectual, fornecimento de novas tecnologias suas organizações, para o agronegócio privado
favorecendo as pessoas de baixa renda, evitar e o Estado. Exige  instituições para ajudar
externalidades negativas como doenças de a agricultura a servir ao desenvolvimento
animais, conservação da biodiversidade do e tecnologias para o uso sustentável dos
Visão Geral 25

recursos naturais. E exige a mobilização do e abordar a agenda ambiental em outros luga-


apoio político, das diferentes habilidades e de res. As melhores oportunidades e a maior
recursos. disposição que existe hoje para investir na
Cresce entre os governos e os doadores o agricultura geram o otimismo de que as agen-
reconhecimento de que a agricultura deve das da agricultura para o desenvolvimento
ser um elemento de destaque na agenda do possam avançar. A janela de oportunidade
desenvolvimento, seja para proporcionar que isso oferece não deve ser perdida, pois o
crescimento nos países baseados na agricul- sucesso fornecerá ótimos frutos para as Metas
tura ou para reduzir a pobreza na zona rural de Desenvolvimento do Milênio e além.

Notas Ligon, Ethan e Elisabeth Sadoulet. 2007. Estimating the Effects


1. As últimas cifras mundiais da pobreza na zona Rural são of Aggregate Agricultural Growth on the Distribution of
para 2002. Expenditures. Documento básico preparado para o Relatório
2. Banco Mundial 1982. sobre o Desenvolvimento do Milênio 2008.
3. Em grande parte do mundo em desenvolvimento os Pardey, Philip G., Nienke M. Beintema, Steven Dehmer
pequenos proprietários são definidos como aqueles que e Stanley Wood. 2006. Agricultural Research:
administram uma propriedade agrícola de 2 hectares, ou menos. A Growing Global Divide? Food Policy Report 17.
4. Hayami 2005. Washington, DC: International Food Policy Research
5. Pardey e outros 2006. Institute.
6. A melhor estimativa da contribuição das emissões Ravallion, Martin, Shaohua Chen e Prem Sangraula. 2007.
causadas pela mudança no uso da terra (principalmente pelo “New Evidence on the Urbanization of Global Poverty.”
desmatamento) é de 20%, com uma variação provável entre 10% Documento básico preparado para o Relatório sobre o
e 30% (Watson e outros, 2000). Desenvolvimento do Milênio 2008.
7. Staatz e Dembele 2007.
Reardon, Thomas e Julio A. Berdegué. 2006. “The Retail-Led
8. vyas 2007.
Transformation of Agrifood Systems and Its Implications
9. Reardon e Berdegué 2006.
for Development Policies.” Documento básico preparado
para o Relatório sobre o Desenvolvimento do Milênio 2008.
Referências Rosegrant, Mark W., Siwa Msangi, Timothy Sulser e Claudia
Anderson, Kym, ed. Forthcoming. Distortions to Agricultural Ringler. 2007. “Future Scenarios for Agriculture: Plausible
Incentives: A Global Perspective. London e Washington, DC: Futures to 2030 and Key Trends in Agricultural Growth.”
Palgrave Macmillan e Banco Mundial. Documento básico preparado para o Relatório sobre
Banco Mundial. 1982. World Development Report 1982: Agriculture o Desenvolvimento do Milênio 2008.
and Economic Development. New York: Oxford University Press. Staatz, John e Niama Nango Dembele. 2007. “Agriculture
———. 2006. World Development Indicators. Washington, DC: for Development in Sub-Saharan Africa.” Documento
Banco Mundial. básico preparado para o Relatório sobre o Desenvolvimento
Fan, Shenggen, ed. No prelo. Public Expenditures, Growth, and do Milênio 2008.
Poverty in Developing Countries: Issues, Methods and Findings. vyas, vijay Shanker. 2007. “Marginalized Sections
Baltimore: Johns Hopkins University Press. of Indian Agriculture: The Forgotten Millions.” Institute
Hayami, Yujiro. 2005. An Emerging Agriculture Problem in High- of Development Studies, Jaipur, Rajasthan, Índia.
Performing Asian Economies. Trabalho apresentado na 5a Watson, Robert T., Ian R. Noble, Bert Bolin,
Conferência da Sociedade Asiática de Agrônomos (Discurso do N. H. Ravindranath, David J. verardo e David J. Dokken.
Presidente), Zahedan, Irã, 29 de agosto. 2000. IPCC Special Report on Land Use, Land-Use Change
Kaufmann, Daniel, Aart Kraay e Massimo Mastruzzi. 2006. and Forestry. Genebra: Painel Intergovernamental sobre
Governance Matters V: Aggregate and Individual Governance Mudança Climática (IPCC). Disponível on-line em
Indicators for 1996–2005. Washington, DC: Banco Mundial. http://www.grida.no/climate/ipcc/land_use/index.htm.
Visão Geral 27

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