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IBAC

Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento


Disciplina: Terapia de Aceitação e Compromisso – ACT
Professora: Ana Karina C. R. de-Farias
Módulo 3 – 2/2017

Aluna: Ana Cláudia Leone Espíndola

Sobre o caso clínico de Laura (retirado de Silva & de-Farias, 2013)1.

a) Laura apresenta esquiva experiencial? Independente desse caso específico, defina esquiva
experiencial e aponte sua relevância para a ACT? (valor 4,0).
R: Sim.

Esquiva experiencial é a indisposição do individuo em entrar em contato com determinados eventos


privados (memórias, pensamentos, sentimentos) avaliados negativamente. Nesse caso, o individuo se
esquiva de todas as situações que podem ser contexto para a emergência desses eventos aversivos. O
problema dessas estratégias é que mesmo que elas sejam efetivas, elas criam outros problemas como
restringir a possibilidade de um indivíduo comportar-se de acordo com seus objetivos pessoais, ou limitar
sua capacidade de estar presente e discriminar contingências atuais. Tais comportamentos restringem o
repertório comportamental e, além de não cumprir as expectativas de redução da angústia, têm o efeito
de aumentar o sofrimento que a pessoa quer remover. Tirando do indivíduo que age de acordo com esse
plano, qualquer possibilidade real de escolher uma direção diferente. Quando a pessoa afasta-se das
contingências para evitar emoções, ela está “alimentando” esses sentimentos que gostaria de evitar. O
padrão de esquiva experiencial é reforçado negativamente pelo afastamento da emoção, ficando a
situação cada vez pior. No entanto, as emoções “negativas” não podem ser utilizadas como motivos para
deixar de viver a realidade. Quanto mais o cliente permanecer em situações insuportáveis, mais
oportunidades ele terá de aprender a comportar-se nessas situações de forma eficaz. Nesse sentido,
torna-se patológica, a tentativa de controlar determinados comportamentos privados haja visto que a
tentativa em si constitui o problema. Assim psicopatologias podem ser geradas em indivíduos que
recusam-se a experienciar seu próprio interior, que trata-se de uma das coisas mais destrutivas que o ser
humano pode fazer, pois gera um efeito alienante e a pessoa deixa de entrar em contato com a realidade.
Neste sentido, a terapia deve levar o cliente a retornar este contato e para isso, o terapeuta deve ter

1Silva, J. L. N. e & de-Farias, A. K. C. R. (2013). Análises Funcionais Molares Associadas à Terapia de Aceitação e Compromisso em
um Caso de Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, XV, 37-56.
consciência acerca da persistência do repertório de esquiva que pode não ser mais funcional no ambiente
atual do cliente.

A Terapia de Aceitacao e Compromisso – ACT mostra-se útil por ir além dos controles verbais. A ACT cria
novas contingências e não regras racionais, levando a outros operantes, extinguindo assim a esquiva
experiencial e ajudando os clientes a libertarem-se das armadilhas da linguagem humana. O cliente é
colocado em contato com sua dor, sua principal aliada para mudança. Habilitando-os a atuar sobre as
contingências presentes em suas vidas, que são sua únicas oportunidades de alterar o que gera
sofrimento.

b) O que é controle instrucional e qual é a sua relevância para a ACT? Ele está ou não presente no caso
de Laura? (valor 3,0).

R: O controle instrucional ou regra pode ser compreendido como sendo a relação entre o comportamento
apresentado por uma pessoa (ouvinte) e um antecedente verbal (instrução) emitido por um falante, que
descreve ou implica uma contingência para o comportamento desse ouvinte. No comportamento
governado por regras, o indivíduo comporta-se sob o que descreve uma contingência; diferencia-se do
comportamento modelado pelas contingências, pois, neste caso, o indivíduo comporta-se de acordo com
as conseqüências de suas ações. As regras são úteis, mas podem induzir a uma rigidez comportamental,
ou seja, a uma diminuição da sensibilidade às contingências. Para os behavioristas a consciência é
sinônimo de autoconhecimento e a ACT busca aumentar a consciência das regras que controlam nossos
comportamentos, não para lutar contra elas, mas para enfraquecer seu controle. Não se trata de deixar
de seguir regras, mas de limitar seu seguimento a contextos em que possam ser úteis.
No caso de Laura estão presentes diversos controles instrucionais que foram reforçados pelo medo de
intenso de adoecer, morrer, ou perder a gestação. Laura formulava autorregras e as seguia fielmente,
tendo sido boa seguidora de regras a vida toda. Dentre suas regras e autorregras, estavam à necessidade
de estar sempre limpa, correta e perfeita, pois tinha obsessões de contaminação por contato,
acompanhadas de rituais de higienização, uso de banheiro, preparo de alimentos e troca de roupas, entre
outros. Todos estes cuidados haviam se intensificado com a situação atual do ambiente onde estava
inserida devido ao primeiro surto mundial da Influenza A-H1N1, com veiculação freqüente, nos meios de
comunicação de massa, de informações sobre mortes de crianças e gestantes, com fortes recomendações
de higienização das mãos e outros cuidados. Esse quadro provocou grave comprometimento global,
especialmente no contexto de trabalho, pois alem da cliente ser uma forte seguidora de regras, mantinha
um padrão de busca por controle em diversas situações, bem como dificuldades em estabelecer
relacionamentos de confiança.
c) Seguindo a proposta terapêutica da ACT, que estratégias poderiam ser usadas e com que
objetivos?(suas respostas a todas as questões devem permitir que a professora veja o quanto
aprendeu nas aulas, o quanto consegue elaborar/criar a partir do que lemos e discutimos (valor 3,0).

R: A ACT tenta fazer o sujeito mudar a forma de lidar com o mundo que o rodeia, envolvendo exatamente
o que o nome sonoro sugere: agir com compromisso. O problema é enfrentado de acordo com os
seguintes objetivos:

 Aceitação: passar a entender que coisas ruins acontecem na vida, mas evitar sofrer não as
torna mais fáceis. Deixar o sofrimento acontecer, é proporcionar oportunidade para que ele vá
embora. Em outras palavras, devemos desistir do controle sobre os eventos privados
aversivos. Sendo assim, Laura deve ser levada a aceitar que coisas ruins podem acontecer na
vida das pessoas, e que embora ela possa manter um determinado controle sobre as algumas
contingências, no caso os cuidados com limpeza e higiene relacionados a H1N1, não seria
possível ela manter controle total sobre a situação.
 Escolha: compreender que o que aconteceu já passou e não define completamente nosso
futuro. Ou seja, entender a nossa história de vida e a partir daí abrir espaço para a
aprendizagem de novos repertórios. Laura seria levada a optar por uma situação de vida mais
saudável , visto que todo esse controle poderia estar sendo mais adoecedor para ela e para a
criança.
 Ação: a partir da escolha e da aceitação, esclarecer que o futuro, que está a nossa frente, é o
que pode ser mudado de acordo com os nossos objetivos. Em suma, após definir o que
queremos mudar, o que resta é ir em frente e aprender a nos comportar de forma que a
mudança aconteça. Laura deveria começar a agir de forma que

Como a ACT tem a sua base empírica assentada na chamada Teoria dos Quadros Relacionais que analisa
basicamente as relações arbitrárias que emergem entre os estímulos no decorrer das nossas experiências
ampliando nossa forma de se comportar frente a contingências que a princípio não tinham relação direta.
Isso é muito importante para que possamos reagir efetivamente ao mundo, mas pode criar problemas ao
ampliar também a potencialidade de contingências aversivas.
Laura sempre teve padrão comportamental de limpeza, higiene e perfeição, apresentando um medo
intenso de adoecer, morrer, perder a gestação e obsessões de contaminação por contato devido ao surto
de H1N1 que acontecia na época. Ela mantinha rituais de higienização constantes não só no trabalho, mas
em casa e em diversos ambientes onde o risco não era eminente. Mas outros estímulos podem evocar o
medo a depender da experiência desta com eles dificultando o cumprimento das responsabilidades da
cliente no ambiente do trabalho, tendo em vista que para manter o padrão de higienização poderiam ser
necessárias várias interrupções nas atividades laborais ou mesmo faltas ao serviço. Para a ACT, um padrão
de esquiva como este, que se inicia baseado em algo normal – afinal, a fuga/esquiva por vezes são úteis,
como para livrar de situações potencialmente perigosas – passa a ser um repertório problemático, que
leva os clientes à clínica de Psicologia. Além de evitar se expor às contingências, uma pessoa pode mesmo
passar a evitar pensar no problema ou em coisas relacionadas a ele, e aí surge uma nova dificuldade:
evitar pensar em algo é muito difícil. Ao pensar em evitar determinado assunto, você já está pensando
nele. “Não vou pensar no meu medo de morrer ou perder o bebê” é justamente pensar no medo de
morrer ou perder o bebê.
Após definir o problema da cliente em terapia, a terapeuta ACT deve levar a cliente a analisar as tentativas
frustradas de resolver o problema, comumente por meio de metáforas e exercícios. As metáforas são
uma característica marcante da ACT e são úteis, pois por serem menos diretas, não são vistas pelo cliente
apenas como um conjunto de regras a seguir e então o levam à reflexão. Uma outra vantagem das
metáforas é que elas evitam racionalizações sobre o problema e, como a ACT é calcada num modelo que
lida essencialmente com a linguagem, esse afastamento abre espaço para que a cliente ressignifique sua
experiência de vida, sem construir “desculpas” cada vez mais elaboradas para justificar a forma como age.
A identificação das tentativas malsucedidas de resolver o problema que levou a cliente à terapia deve
desencadear a chamada desesperança criativa, que é o reconhecimento por parte da cliente de que tudo
o que ela vem fazendo não deu certo, então, é hora de mudar as estratégias. NO caso de Laura não existe
informações para que se use essa estratégia. Um outro objetivo no início da terapia é a
chamada desfusão, que é levar a cliente a encarar a linguagem de uma forma menos concreta – algo
muito útil para aqueles que encaram regras sobre o problema de maneira muito rígida, ou que se
identificam essencialmente com seus pensamentos (que são, enfim, feitos de palavras) sobre si e sobre o
mundo. Caso de Laura que sempre teve seus comportamentos mantidos por regras rígidas.
Outra técnica que deve ser usada é o mindfulness, termo central na ACT. O conceito se refere ao contato
com o momento presente. A prática do mindfulness tem a ver com estar sensível ao que se vive agora,
não se prendendo aos acontecimentos passados nem às expectativas futuras, e portanto estando mais
sensível às contingências que vigoram, bem como aos seus próprios pensamentos, sentimentos e
emoções – saindo do “piloto automático”. A prática do mindfulness envolve, comumente, exercícios de
meditação dentro e fora da clínica. Estratégias de aceitação e técnicas de mindfulness ajudam a
enfraquecer o impacto das experiências sob a pele, libertando o cliente de padrões limitantes e
permitindo uma vida mais flexível, mais agradável e com mais significado. Nesse aspecto Laura seria
levada a realizar atividades de atenção plena onde pudesse sentir as boas sensações da gestação através
de técnicas de respiração e relaxamento e assim viver o momento presente da gestação que não voltará
após o parto. Por fim, o terapeuta ACT deve estar sempre atento ao processo de terapia e aos seus
próprios sentimentos, pensamentos e valores para conduzir um trabalho bem-sucedido sem perder
ótimas oportunidades surgidas no ambiente terapêutico.

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