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RESUMO O LÚDICO NO
ATENDIMENTO DE
O artigo propõe discutir as ati-
vidades que a criança com de-
ficiência realiza durante o pro-
cesso de terapia ocupacional
vistas como produções singula-
CRIANÇAS COM
res de cultura e expressão da
subjetividade. Para tal, numa DEFICIÊNCIA: UMA
REFLEXÃO SOBRE A
investigação onde os campos da
subjetividade e do simbolismo
estão presentes, utilizou mate-
rial da experiência clínica com
crianças que têm deficiência
PRODUÇÃO CULTURAL
coletado da leitura de prontuá-
rios e dos registros das obser- NA INFÂNCIA1
vações vivenciadas pelo terapeu-
ta num diário de campo. Veri-
ficou-se a possibilidade de uma
reflexão sobre a consideração M arisa T akatori
Edda B omtempo
cultural das produções das
crianças, como favorecedoras
do seu reconhecimento e da sua F er nanda de S ouza D alti P ereira
participação ativa na realida-
de compartilhada. L uana W ang L in
Descritores: criança com L uciana O rui B ansi
deficiência; lúdico; brincar ;
cultura; terapia ocupacional. R icardo L opes C orreia
Introdução
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ciente para poder compreender uns fazer, apropria-se do que lhe é apre-
aos outros. Mas é preciso saber se há sentado pela cultura já presente, an-
abertura para essa compreensão e terior à sua existência como sujeito;
reconhecimento das diferenças ex- contudo, essas pessoas comuns, no
pressas nas ações e produções. seu dia-a-dia, fazem as coisas com
Na terapia ocupacional, referi- uma criatividade que dribla uma cul-
mo-nos a essas ações e produções tura que se propõe única e dá ori-
como atividades, instrumentos dos gens às formas próprias de fazer. Esse
procedimentos do terapeuta. As ati- autor nos faz ficar atentos, não aos
vidades são consideradas como a produtos culturais oferecidos numa
materialidade colocada em processo determinada sociedade, mas aos ges-
de transformação pelo sujeito: as tin- tos de seus usuários que operam so-
tas derramam-se sobre o papel; o bre aquilo já dado. O gesto, para esse
brinquedo manipulado vive pelos autor, é um ato produtor que leva às
movimentos que lhe são empresta- criações anônimas, diferentes manei-
dos; o ar se move ao ser soprado; os ras de fazer que compõem a cultura
fios colados sobre o papel transfor- na vida comum e cotidiana.
mam-se em nuvens; o espaço modi- Diante das várias circunstâncias
fica-se com o corpo que nele se experimentadas no cotidiano, a brin-
move, entre outros exemplos. Isso cadeira é uma delas, na qual a crian-
implica que, ao falarmos de ativida- ça interage com um cenário e ajuda
des, necessariamente estamos nos re- a construí-lo com sua participação
ferindo ao sujeito que se posiciona ativa. É uma atividade que se desta-
de modo singular diante do que a ca na infância com seu papel facili-
realidade externa lhe oferece em ter- tador do processo de socialização,
mos de material, espaço e tempo, e visto que permite à criança a apro-
que utiliza a seu modo. priação e o exercício dos códigos
Fazer atividades é fazer parte da culturais e sociais. Consideramos essa
produção cultural de um grupo so- apropriação um processo no qual a
cial. Tomamos neste trabalho a cul- criança assume uma postura ativa
tura em seu sentido de pluralidade, diante das coisas que lhe são apre-
como explica Certeau (1995), com- sentadas, conhecendo, explorando e
preendendo as atividades como ex- criando a partir do já existe. Assim
pressão e construção dessa cultura no como nos diz Bomtempo (2005), ao
cotidiano, que se mantém organiza- se referir ao brinquedo como um
do socialmente, mas não de modo pedaço de cultura colocado ao al-
monolítico, ao contrário, permite que cance da criança, um parceiro na
a criatividade dos membros do gru- brincadeira. O brinquedo, sendo
po social possa proliferar e expres- esse parceiro, não se trata de um
sar práticas singulares de sujeitos re- objeto que impõe a cultura, mas de
conhecidos pelos sistemas de referên- um objeto que está a serviço do
cias sociais vigentes. movimento que leva a criança à ação
Conforme Certeau (1995), o e à criação de sentidos nessa experi-
homem comum, através das artes de ência cultural.
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ABSTRACT
The present article proposes the discussion of the
activities which the disabled child performs along
the process of occupational therapy, viewed as uni-
que productions of culture and expression of sub-
jectivity. In order to achieve this, material from cli-
nical experience with disabled children was collec-
ted in a field diary from medical patient charts and
records of the observation experienced by the thera-
pist in an investigation where the aspects of subjec-
tivity and symbolism are present. It was verified,
then, the possibility of a reflection on the cultural
aspect of children’s productions as favoring their
acknowledgment as well as their participation in the
shared reality.
Index terms: disabled child; ludic; play; cultu-
re; occupational therapy.
RESUMEN
El artículo propone debatir las actividades que el
niño discapacitado realiza durante el proceso de te-
rapia ocupacional observadas como producciones sin-
gulares de cultura y de expresión de la subjetividad.
Para esto, en una investigación en dónde los campos
de la subjetividad y del simbolismo están presentes,
se ha utilizado el material de la experiencia clínica
con niños discapacitados que fueron colectados de la
lectura de los historiales médicos y de los registros de
las observaciones vivenciadas por el terapeuta en un
diario. Se ha verificado la posibilidad de una refle-
xión sobre la consideración cultural de las producci-
ones de los niños como fuentes favorables de su reco-
nocimiento y de su participación activa en una reali-
dad compartida.
Palabras clave: niños discapacitados; lúdico;
jugar; cultura; terapia ocupacional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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NOTAS
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