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Antonio D. Figueiredo
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All content following this page was uploaded by Antonio D. Figueiredo on 12 February 2016.
Resumo
A carbonatação é um fenômeno que afeta a durabilidade do concreto armado e requer cuidado uma vez que
pode, num estado avançado, prejudicar a capacidade resistente da estrutura com a armadura
despassivada. Por essa razão, algumas normas preveem o uso de parâmetros empíricos para garantir a
durabilidade da estrutura onde se pode incluir o consumo mínimo de cimento. Modelos de previsão de
comportamento são uma ferramenta importante para a parametrização do comportamento do material em
termos de durabilidade e é necessário procurar aperfeiçoá-los continuamente. Assim, este trabalho visa
apresentar a avaliação metodológica de um estudo experimental sobre a evolução da carbonatação
acelerada em dois microconcretos com diferentes níveis de consumo de cimento Portland. Para o ensaio
de carbonatação acelerada foram moldados corpos de prova prismáticos com dimensões de
10cmx10cmx40cm que foram curados por 28 dias e depois secos em câmara climatizada com umidade
de 50% adotada como um dos parâmetros do ensaio de carbonatação. Após o preparo dos corpos
de prova realizou-se o ensaio de carbonatação acelerada em câmara de carbonatação e, após os
ensaios em várias idades, fez-se a avaliação das formas de medição das profundidades das frentes de
carbonatação utilizando paquímetro e os softwares ImageJ e Adobe Photoshop. Para a avaliação do
comportamento mecânico verificou-se a resistência à compressão em corpos de prova cilíndricos.
Percebeu-se que os dados das medições realizadas pelos softwares apresentam maior confiabilidade dos
resultados do que os resultados com o paquímetro. Quanto à resistência mecânica nota-se que os dois
traços apresentam comportamento esperado já que existe uma variação do teor de cimento em ambos os
casos.
Palavras-chave: carbonatação, microconcreto, durabilidade, metodologia
Abstract
The carbonation is a phenomenon that affects the durability of reinforced concrete and requires careful
attention as can, in an advanced state, undermine the structure capacity of reinforced concrete due to the
steel despassivation. For this reason, some recommended practices provide empirical parameters to ensure
the durability of the structure where it could be included the minimum cement consumption. Predictive
durability models are an important tool for the estimate the behavior of the material in terms of durability and it
is necessary to look for their continuous optimization. So this paper presents a methodological evaluation of
an experimental study on the evolution of accelerated carbonation in two microconcretes with different levels
of Portland cement consumption. For the carbonation accelerated test, prismatic specimens
(10cmx10cmx40cm) were molded and cured for 28 days. The specimens were storage in a chamber with
50% of relative humidity. After the preparation of the specimens, the accelerated carbonation test was carried
out in carbonation chamber. The specimens were removed for carbonation depth measurement at various
ages. The assessment of the depths measurement was made in different forms. The first method was using
manual determination by a caliper. The other two methods were based in image analysis using photos and
the softwares ImageJ and Adobe Photoshop. It was figured out that the data of the measurements obtained
by image analysis have greater reliability than the results obtained from the manual measurements
Keywords: carbonation, microconcrete, durability, methodology.
A penetração do CO2 nos poros do concreto desenvolve-se numa frente que avança com
uma velocidade quantificada pelo coeficiente de difusão do CO2. A velocidade com que a
frente de carbonatação avança depende da estrutura da rede de poros do material, bem
como das suas condições de umidade (BAKKER, 1988). O processo de carbonatação é um
processo lento, por isso é um consenso entre os pesquisadores que existe a necessidade
de utilização de ensaios acelerados, principalmente para obter resultados rápidos (SILVA et
al. 2009). O procedimento para o ensaio de carbonatação acelerada consiste em submeter
às amostras a um ambiente com controle de temperatura, umidade relativa e a uma
concentração de CO2 maior que a encontrada na atmosfera, geralmente dada pela
quantidade em volume de gás introduzida na câmara de carbonatação (PAULETTI, 2004).
Assim, é possível parametrizar comportamentos e produzir modelos que permitam estimar a
vida útil das estruturas de concreto armado (HELENE, 1983).
Para evitar a corrosão devido à carbonatação dentro da vida de serviço, estruturas de
concreto são obrigadas a ter um cobrimento de concreto com espessura e resistência
suficiente contra a carbonatação (VISSER, 2013). Portanto, a parametrização deste
cobrimento tem direta relação com a vida útil da estrutura. Por se tratar de uma patologia
recorrente na construção civil, o aprimoramento dos estudos referentes a esse tema é
necessário. Com isso, no decorrer desse trabalho, será apresentado à avaliação
metodológica que possui o objetivo principal discutir as metodologias de mensuração da
profundidade de carbonatação acelerada de dois microconcretos com teores de cimento
distintos.
2. Materiais e métodos
Para a composição dos microconcretos utilizou-se os seguintes materiais: cimento Portland
de alta resistência inicial (CPV), dois fileres calcários, três tipos de areias com várias
composições granulométricas, aditivo superplastificante à base de policarboxilato de sódio
ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 2
(Melflux 2651, Basf). Para este estudo foram feitas duas formulações de microconcretos as
quais são mostradas na Tabela 1. Todas as porcentagens apresentadas na Tabela 1 são
calculadas em relação à massa total presente na formulação utilizada. A identificação de
Traço 10 e Traço 20 correspondem aos 10% e 20% de consumo de cimento
respectivamente.
3. Resultados e discussões
3.1 Resistência à compressão e abatimento
Para caracterização das misturas utilizadas no estudo, foram realizados ensaios de
determinação da resistência à compressão. Os ensaios foram realizados de acordo com a
ABNT NBR 7215:1996. A dimensão dos corpos de prova cilíndricos foram 10 cm de altura
por 5cm de diâmetro, sendo que os mesmos foram submetidos aos ensaios nas idades 7 e
21 dias, conforme a Figura 2.
80
Resistência à Compressão
70
60
50
(MPa)
40
Traço 10
30
20 Traço 20
10
0
7 21
Dias
Com o auxílio de uma planilha Excel, calculou-se o valor médio das arestas de cada
dimensão e estes foram multiplicados entre si para obtenção da área média da seção
carbonatada. Aproximando-a para um quadrado de lado L centrado, a profundidade
média foi obtida por (10cm – L)/2, como mostra a Figura 4.
Os resultados das medições dos traços estudados com o paquímetro das profundidades
médias em centímetro são apresentados na Tabela 4.
Tabela 4 – Profundidades Médias (cm) – Paquímetro
Teor de
Traço Cimento Dia 0 Dia 7 Dia 14 Dia 28 Dia 60
(%)
10.1 0,000 0,107 0,584 0,499 0,7873
10%
10.2 0,000 0,048 0,215 0,408 0,5821
20.1 0,000 0,000 0,000 0,201 0,028
20%
20.2 0,000 0,000 0,000 0,172 0,049
1) ImageJ
O software ImageJ é um programa desenvolvido por Wayne Rasband do Research
Services Branch, National Institute of Mental Health, Bethesda, Maryland é de domínio
público e muito utilizado em pesquisas científicas. Na Figura 6 tem-se a interface desse
software. O software ImageJ apresentou-se como uma importante ferramenta no
tratamento e análise quantitativa de imagens, oferecendo muitos recursos como parte
de seu pacote padrão e outros tantos como plugins e extensões do software que se
adaptam para cada tipo de uso. A documentação existente no site do software é de muita
ajuda ao usuário, pois explicam bem o uso do software (DIAS, 2008).
Figura 8 – Fotografia do corpo de prova que ilustra a aspersão de fenolftaleína com aspecto de névoa
devido à porosidade do concreto
Apesar de o uso do Grid ser de grande ajuda ao facilitar as medições definindo pontos e
auxiliando o operador com linhas horizontais e verticais, o método não é de uso
recomendável. O uso do Grid pode fazer com que os pontos selecionados não sejam o de
real interesse, ou seja, não sejam representativos da profundidade do processo de
carbonatação de está ocorrendo.
Outra maneira estuda nesse trabalho para a análise das imagens foi o Adobe Photoshop
que é um software caracterizado como editor de imagens bidimensionais desenvolvido
pela Adobe Systems. Ao contrário do software ImageJ, o Adobe Photoshop não possui o
Nesse item, para otimizar a compreensão dos resultados, realiza-se a comparação gráfica
dos métodos de medição da profundidade de carbonatação estudados nesse artigo.
As figuras 13 e 14 tratam dos corpos de prova do Traço 10 estudado, enquanto as figuras
15 e 16 demonstram os valores do Traço 20.
Cada uma das figuras contêm as profundidades médias obtidas nos diferentes ensaios (0,
7, 14, 28 e 60 dias) com os métodos supracitados em uma mesma imagem para efeitos de
comparação.
1
0,9
0,8
PROFUNDIDADE (CM)
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
0 10 20 30 40 50 60 70
IDADE
Figura 13 – Medições da profundidade de carbonatação corpo de prova 1.1 com os 4 métodos analisados
0,7
0,6
PROFUNDIDADE (CM)
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
0 10 20 30 40 50 60 70
Figura 14 – Medições da profundidade de carbonatação corpo de prova 1.2 com os 4 métodos analisados
0,25
PROFUNDIDADE (CM)
0,2
0,15
0,1
0,05
0
0 10 20 30 40 50 60 70
IDADE (DIAS)
Figura 15 – Medições da profundidade de carbonatação corpo de prova 2.1 com os 4 métodos analisados
0,35
0,3
0,25
0,2
0,15
0,1
0,05
0
0 10 20 30 40 50 60 70
IDADE (DIAS)
Figura 16 - Medições da profundidade de carbonatação corpo de prova 2.2 com os 4 métodos analisados
No que se refere ao Traço 10, percebe-se que houve uma variação maior da profundidade
de carbonatação, o que facilitou a condição de mensuração da profundidade carbonatada.
Ou seja, é clara a tendência paralela de aumento da profundidade de carbonatação com o
tempo independentemente do método de medida utilizado para isso. Com a exceção de um
ponto espúrio (mensuração com paquímetro para 14 dias de idade no corpo de prova 10.1
do Traço 10) os resultados foram bem próximos e sem diferença significativa. A dispersão
ficou um pouco maior para o corpos de prova 10.2 deste mesmo traço e as profundidades
obtidas pelo Photoshop ligeiramente acima das demais. Uma possível explicação para isso
é o fato do Photoshop conseguir delimitar com maior precisão as singularidades da linha
que delimita a profundidade carbonatada (Figura 17). No entanto, este mesmo método
apresentou valores abaixo da média para o corpo de prova 10.1, compensando a média
obtida. Assim, ao se avaliar o conjunto dos dois corpos de prova, as tendências ficam
praticamente coincidentes. Com isso, pode ter havido um ligeiro aumento da média
considerando que o corpo de prova apresentou maior variabilidade da forma da fronteira da
área carbonatada.
Para o caso do Traço 20, nitidamente a profundidade de carbonatação foi muito baixa,
inferior a 0,2 mm, o que gerou maior imprecisão para todas as formas de medida. No
entanto, apesar de uma exceção, os valores ficaram muito próximos e, por essa razão,
podem ser considerados como equivalentes. Assim, a conclusão sobre a escolha da forma
de medida acaba recaindo pelos aspectos ligados á sua aplicabilidade.
4. Conclusões
A determinação da profundidade de carbonatação é algo imprescindível para a produção
de modelos de previsão de vida útil de estruturas de concreto armado e pode ser feita por
distintas maneiras. Os métodos aqui utilizados se mostraram equivalentes quanto ao
resultado final obtido, uma vez que, as variações entre os valores medidos foi muito baixa.
Assim, a escolha do método deve estar focada nas condições de aplicação do mesmo.
Neste sentido, a análise de imagem digitalizada acaba por conferir uma grande agilidade
no processo e elimina o fator de erro do operador típico do uso do paquímetro. Além
disso, a imagem fica registrada e é sempre possível checar o que aconteceu ao contrário
do paquímetro que, uma vez feita errada, tem-se um resultado perdido.
A escolha de um método de análise de imagem em relação ao outro irá depender da
praticidade do mesmo, bem como de sua acessibilidade, dado que não foi encontrada
diferença significativa nos resultados.
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq – pelas bolsas
de Mestrado e de Iniciação Científica concedidas aos autores desse artigo.
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