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O que é a leitura imanente?

Em um sentido prático, embora não se esgote nesse, é um método de estudo e pesquisa


que visa desenvolver e aperfeiçoar a leitura, a escrita, a compreensão dos mais variados
textos de uma forma totalmente diferente dos métodos tradicionais adotados nas escolas
e nas universidades. A leitura imanente consiste em dar a essas etapas um caráter que
transcende aquela visão pragmática que a universidade a partir de seus currículos impõe,
isto é, como meras obrigações: “ler textos só porque vai ter prova” “estudar para passar
de período” “pesquisar porque preciso cumprir as etapas do TCC para garantir meu
diploma”. A leitura imanente permite mostrar que essas etapas hoje são encaradas assim,
porque vivemos em um mundo que tudo gira em torno do capital, do dinheiro e o que
importa, portanto, é ter o diploma, título de mestre e doutor para ter um emprego e no
final do mês poder ganhar o salário. E, portanto, formar apenas profissionais e não
estudantes pesquisadores autônomos. Caracterizando, uma verdadeira “formação
mercantil”, isto é, voltada apenas para o mercado de trabalho. Nunca se perguntou porque
temos uma matéria chamada de “Profissão Docente”? Embora se tenha um discurso todo
pomposo por traz da justificativa dessa matéria, na verdade, essa constitui uma
reafirmação, legitimação, subjugação do docente ao ideal da profissão, apenas. Não
entende que eles podem ir além das salas de aulas, isto é, serem pesquisadores e
produtores de conhecimento, os entende, portanto, como meros transmissores de
conhecimento (e isso se revela no próprio currículo de licenciatura, já parou para pensar
quantas matérias na grade são voltadas para pesquisa?). De todo modo, essa visão acima
é totalmente diferente dos estoicos, epicuristas, socráticos que encaravam a leitura, o
estudo, a pesquisa como sendo etapas fundamentais da vida pois nos permitem nos
desenvolvermos enquanto pessoa, conhecer o mundo e nos mesmos, desenvolver nossa
própria posição política. Encara-las assim permite quebrar, hoje, aquele paradigma que
só se aprende em sala de aula, a famosa “pedagogia bancaria” que define que o professor
é o sujeito e o aluno apenas objeto, ou seja, o primeiro passa o conhecimento e o outro
recebe, como se assim realmente acontecesse. Através da leitura imanente podemos
romper com tais discursos, simplesmente pelo fato de estudarmos para nós mesmo e não
para os outros, reconhecer que embora estejamos num mundo rodeado e influenciado pelo
capital podemos, sim, escarar a leitura, o estudo, a pesquisa como modo de vida, de ser,
de encontrarmos nossa própria posição política, de desenvolver em nós o “governo de si”
como dizia Foucault e a nossa “autonomia intelectual” a qual diz para você que a obtenção
de conhecimento vai muito além do professor, da sala de aula, da universidade. Que
devemos ser protagonistas, ator do desenvolvimento da nossa capacidade intelectual,
assim como os gregos o faziam (ou você acha que os gregos, bem como os intelectuais
clássicos de nossa história aprendiam em sala de aula, com o professor passando e pronto?
Não, eles adquiriram esse conhecimento a partir da leitura, do estudo, da pesquisa, a partir
do próprio livro e não da voz de outrem). E é justamente nessa lógica de sermos atores
do nosso próprio processo de apreensão de conhecimento que caminha cada etapa da
leitura imanente, as quais irei explicar detalhadamente se baseando nas palavras de Ciro,
principalmente, mostrando a função de cada etapa nesse desenvolvendo do aluno-
pesquisador em busca da “autonomia intelectual” e o “governo de si”.
1° Etapa: Dialogo critico:
Aqui iremos conversar com o autor, dialogar com o texto a partir de nossas inquietações
internas (criticar radicalmente o texto ao passo que o lemos). Vamos transformar o autor
em interlocutor de nossos pensamentos, como se estivessem em um tribunal de júri onde
ao passado que lemos colocamos suas afirmações em xeque, comparamos essas com as
nossas e o mundo de conhecimento que existe ao nosso redor. Esse ato permite tirar as
máscaras de autoridades que são dadas a diversos autores, os clássicos, a exemplo, são
colocados em um pedestal como sendo os que não podem ser contestados, questionados
como se fossem o dono da verdade absoluta. Reconhecemos, claro, suas contribuições.
Porém, quando não nós apoiamos nele para poder dar continuidade e talvez refutar alguns
autores, isso limita bastante nossa ciência ao passo que nos resume a meros reprodutores
de conhecimento. Temos que ter nosso papel também no desenvolvimento da ciência e
de nos mesmos enquanto pesquisadores intelectuais, e isso se dará a partir do momento
que rompermos esse discurso de autoridade que são dados aos autores e passá-los a
encará-los como seres como nos que ora acertamos e ora erramos e não como figuras
divinas incontestáveis. Para assim, podermos nos desenvolver enquanto intelectuais e em
consequência a ciência.

2° Etapa: Mapa das unidades significativas


Consiste em ler o texto com o objetivo de captar suas unidades significativas, ou seja, as
bases, as colunas que o mantem: as categorias, os conceitos, as ideias do autor. Pois as
argumentações de todo autor são baseadas nessas, e a partir do momento que as captamos
podemos interpretar com mais precisão os argumentos dos autores e, por consequência,
uma compreensão mais aprofundada dos textos.

3° Etapa: Diário etnográfico


É uma etapa fundamental pois quando lemos, estudamos, e pesquisamos surgem nesse
processo inquietações, sentimentos, a mente vaga, aqueles pensamentos dispersos que
muitas das vezes não têm nada a ver com o que estamos fazendo. E que embora sejam
tratados como sem importância e muita das vezes ignorados, esses, por sua vez, têm muito
a dizer acerca da nossa existência enquanto pesquisador naquele momento. Desse modo,
anotamos tudo isso para refletirmos e poder acompanhar de forma objetiva, escrita nosso
desenvolvimento continuo enquanto pesquisadores e escultores da nossa própria vida
enquanto intelectuais responsáveis por nossa formação.

4° Etapa: Interpretação compreensiva


É a etapa mais densa, porém mais fácil se desenvolvemos as outras etapas com excelência.
Pois essa etapa é nada mais que o produto das etapas anteriores, consistindo numa
dissertação com introdução, desenvolvimento e conclusão acerca não só do que lemos
mais do que compreendemos do texto. Levando em consideração todas aquelas
inquietações iniciais, o diálogo com o autor, as comparações com o seu conhecimento e
de outros autores. É o momento da nossa realização enquanto pesquisador intelectual
critico expor nossa escrita, nossas inquietações sob um viés cientifico e nossas
descobertas que decorreram desse processo. Deve ser feita com extremo cuidado
atentando-se as palavras, as frases, pontuações com vistas a passar ao leitor com precisão
tudo aquilo que sentimos ao ler o texto e que queremos mostrar. É onde clareamos aquilo
que estava obscuro no texto a partir de nossas palavras, e que isso, nos provocara a querer
conhecer mais sobre aquilo que analisamos, consistindo em processo continuo e infinito
de busca de conhecimento. Pois como dizia Sócrates: “Só sei que nada sei e o fato de
saber disso me põe em superioridade sobre aqueles que acham que sabem” Pois é, quando
mais sabemos mais sabemos que não sabemos. E para termos essa estima, esse apreço
pelo conhecimento tal qual os sábios ensinamentos socráticos nos mostram, a leitura
imanente é um proveitoso e prazeroso caminho.

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