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Atualização

Apresento aqui algumas situações que nos ajudaram a atualizar a mensagem para
hoje e perceber que leitura é feita da perícope que nos propusemos a pesquisar:
Numa tarde chuvosa descendo de ônibus pela Avenida Celso Garcia, em uma
Igreja havia uma pregação um pouco mais alta que as outras, e a curiosidade me levou ao
local. Cheguei e sentei e abri a minha bíblia. Até aqui tudo estava normal, os evangélicos
continuaram a louvar com seus cantos e a falarem alto. Mas então um dos membros se
aproximou e me cumprimentou e perguntou se eu conhecia a palavra, não sei dizer se
observou que eu estava com a bíblia aberta em Neemias 1,1-11. Percebendo ou não, a
resposta foi positiva e eu perguntei que textos liam. Não tenho lembrança do trecho, mas
disse que estava lendo Neemias e que gostava do texto. Não sei quanto tempo a conversa
durou, contudo quando me dei conta só estavam na igreja o pastor, o irmão que me
cumprimentou e umas duas ou três irmãs e o pastor se aproximou e sentou no banco e
assim que parei de falar aproveitou e disse: “Neemias 1 e um texto muito bom para se
falar aos irmãos”. Logo quis saber por que? Daí o pastor explanou por cerca de meia hora
mais ou menos a questão de se cumprir a vontade de Deus a partir da lei que no caso dele
era o pagamento do dízimo, frequência na Igreja e vida reta e que a partir desses quesitos
o irmão teria uma vida abençoada. Ao terminar de falar eu perguntei ao pastor: “E como
ficam aqueles irmãos que estando dentro dos quesitos que o senhor citou permanecem em
uma situação de pobreza, doença e falta do necessário à subsistência? A reposta que me
era esperada não foi de assustar e é a visão de uma leitura a partir da teologia da
retribuição: “Se as pessoas estão em tal situação é porque alguma coisa na vida delas está
errada, algum pecado não está perdoado”. E ainda completou: “Pode ser que os pais
tenham pecado”. Quis argumentar citando que muitos profetas e a literatura sapiencial
aponta para o outro lado, mas a resposta foi que a interpretação que estava fazendo não
era iluminada pela mão de Deus.
Num outro dia resolvi visitar uma igreja católica numa paroquia X e cheguei cedo,
pois eu conhecia o padre e pedi que o mesmo abordasse no encontro do grupo de oração
sobre Neemias 1, 1-11. Ele concordou e buscou a bíblia. Durante o encontro rezou,
acompanhou a intercessão e em um momento parou e leu o trecho que havia sido
combinado. A reflexão foi mais ou menos a seguinte: “Assim como o povo liderado por
Neemias. Nós estamos em pleno processo de reconstrução, onde o Senhor nos convoca a
olhar para nós mesmos e identificar as brechas que poderão nos tornar vulneráveis ao
pecado. Estas brechas são tudo aquilo que vivemos e praticamos e que nos afastam da
vontade de Deus para a nossa vida e para o nosso ministério. Por isso, o Senhor deseja
nos reconstruir, reparando estas brechas para nos devolver a capacidade de lutar e mais
ainda, de vencer as batalhas espirituais que no dia-a-dia precisamos travar. Neste grande
chamado de reconstrução somos convidados a meditar sobre o livro de Neemias, porque
este livro narra uma vitoriosa história de reconstrução do povo de Deus que estava em
completa desolação: “Os que escaparam, disseram-me eles, os que voltaram do cativeiro,
estão lá na província, numa grande miséria e numa situação humilhante; os muros de
Jerusalém estão em ruínas e suas portas foram incendiadas”. (Ne. 1,3). Então, Neemias
sentou-se e chorou diante do Senhor, pois sabia que tudo aquilo era devido ao pecado dos
seus pais, que não ouviram a Palavra de Deus e não se arrependeram.
Quando a nossa espiritualidade se torna casual, inconstante e sem disciplina,
ficamos em situação semelhante à do povo de Israel no tempo de Neemias. Ficamos
também em completa miséria e até em situação humilhante, pois perdemos o ânimo para
lutar contra o pecado em nossas vidas e, consequentemente, perdemos o ardor missionário
que é tão necessário para levarmos em frente e com vitórias a evangelização em nossos
Grupos de Oração. ” Foi mais ou menos estas as palavras que o padre dirigiu à
comunidade e o pensamento era esse: onde estão as querelas sociais a serem resolvidas.
Que pecado é esse que o padre tanto fala. Ao final da reunião do grupo perguntei qual
tipo de pecado que o mesmo queria evidenciar e a resposta: “pecado e pecado, é algo que
você faz e o afasta de Deus. ” Indo mais além dessa resposta coloquei que a literatura
sapiencial aponta que a causa do pecado era justamente fazer de Deus uma marionete e
manipular a noção de pecado. Ao contrario o padre apontou que pecado que Neemias
apontou está presente hoje e a causa é deixar de servir a Deus para servir outros deuses.
A última pergunta foi sobre a situação do pobre e daquele que por algum motivo não
consegue fazer a “vontade de Deus” por alguma razão. A resposta foi simples: o pobre
ou é pobre porque foi explorado ou é porque não sacode o lombo e não luta e que não
existe impossibilidade de fazer a vontade de Deus. ”
O que estes dois fatos nos ensinam? De fato, o Deus querido pelos profetas como
Miqueias, Oseias e tantos outros que congregaram pelo povo ainda está longe de ser
atingido e que se faz necessário ressuscitar a voz profética que tantas vezes salvou vidas
no passado. O que falta é uma oração que gere vida a partir do olhar do outro. Em Neemias
a formação da identidade judaica de fato foi danosa, mas ajuda a enxergarmos que existem
propostas melhores e que de fato falam de Deus.

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