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PERDAS DE MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO DE

EDIFICAÇÕES: ESTUDO EM CANTEIROS DE OBRAS


NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Carlos T. Formoso
Professor do NORIE/UFRGS, Av. Osvaldo Aranha 99, 3º andar, Porto Alegre – RS, CEP 90035-190,
Email formoso@vortex.ufrgs.br

Margaret S. S. Jobim
Professora da UFSM, Rua Francisco Manoel 328, Santa Maria – SM, CEP 97015-260,
Email mssjobim@sm.conex.com.br

Adriano L. Costa
Mestrando e pesquisador do NORIE/UFRGS, Av. Osvaldo Aranha 99, 3º andar, Porto Alegre – RS,
CEP 90035-190, Email martini@vortex.ufrgs.br

Fabiana P. Rosa
Mestranda e pesquisadora do NORIE/UFRGS, Av. Osvaldo Aranha 99, 3º andar, Porto Alegre – RS,
CEP 90035-190, Email fabiana@vortex.ufrgs.br

RESUMO
O presente artigo apresenta os resultados de um estudo desenvolvido das cidades de
Santa Maria e Porto Alegre - RS, como parte de um projeto de pesquisa de âmbito
nacional, intitulado “Alternativas para a redução de desperdícios de materiais em
canteiros de obras”, que teve como objetivo principal levantar indicadores de perdas
de materiais de um conjunto de 18 materiais de construção em diversos estados do
país. São apresentados no artigo uma análise crítica do método de pesquisa
desenvolvido, uma análise geral dos dados coletados em 16 canteiros de obras no Rio
Grande do Sul, referentes a 8 materiais, assim como uma proposta de diretrizes para
o desenvolvimento de futuros estudos sobre perdas na construção civil.

1. INTRODUÇÃO
Em 1996 foi iniciado o Projeto de Pesquisa intitulado “Alternativas para a redução
dos desperdícios de materiais nos canteiros de obras”, através da concessão de
recursos por parte da FINEP - Programa Habitare a um grupo de sete instituições1. O
grupo foi posteriormente ampliado para quinze Universidades, em função da
participação do SEBRAE e do SENAI de alguns estados. A coordenação técnica da
pesquisa foi da Escola Politécnica da USP e a administrativa do ITQC (Instituto
Brasileiro de Tecnologia e Qualidade na Construção).
Este estudo teve um caráter inédito no país, pelo fato de que o mesmo método de
coleta de dados foi aplicado em cerca de setenta canteiros de obras de diferentes
regiões, através de um grande esforço que reuniu cerca de 130 pesquisadores de

1
USP, UFRGS, UFMG, UFC, UEFS, UFSCar e UFSM
Universidades e também profissionais vinculados a mais de 60 empresas do setor,
distribuídos em 12 Estados do país (Agopyan et al., 1998).
O método de pesquisa foi desenvolvido conjuntamente através de discussões
envolvendo pesquisadores das várias Universidades envolvidas, principalmente por
aqueles vinculados ao primeiro grupo de sete instituições, tomando como ponto de
partida os dois principais estudos previamente desenvolvidos no país, o de Pinto
(1989) e o de Soibelman (1993).
No Rio Grande do Sul, a pesquisa abrangeu dezesseis obras, situados em duas
cidades, Porto Alegre e Santa Maria. Em cada uma das cidades havia uma equipe de
pesquisadores, vinculadas à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e
à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). No conjunto, foram envolvidos dois
professores, dois mestrandos, dois engenheiros civis e 11 estagiários de engenharia
civil.

2. ANÁLISE CRÍTICA DO MÉTODO DE PESQUISA


Um dos elementos fundamentais do método de pesquisa adotado no estudo de
Soibelman foi o monitoramento da utilização dos diferentes materiais por um
determinado período na obra, e não durante toda a etapa de produção. Este período é
definido através de dois momentos, denominados vistoria inicial (Vi) e vistoria final
(Vf). Estas vistorias consistem no levantamento de estoques e de serviços executados
até aquele momento. Esta estratégia foi também utilizada na presente pesquisa, cujo
trabalho de coleta de dados envolveu um conjunto de sete séries de planilhas, cujo
conteúdo é apresentado em mais detalhe por Paliari & Souza (1998): (a) Série 1 -
Características das empresas e das obras; (b) Série 2 - Quantificação dos estoques
dos materiais analisados; (c) Série 3 - Quantificação dos serviços executados; (d)
Série 4 - Controle de entrada e saída de materiais no canteiro; (e) Séries 5 e 6 -
Avaliação qualitativa dos processos de produção; e (f) Série 7 - Indicadores globais e
parciais de perdas de materiais. A coleta dos dados ficou ao encargo do grupo de
pesquisadores, com exceção da Série 4, cujo preenchimento era de responsabilidade
das empresas. Ao contrário do estudo de Soibelman (1993), não foi possível aos
pesquisadores monitorar as obras continuamente, mas apenas fazer observações
discretas em momentos pré-definidos.
A análise dos dados caracterizou-se pelo rigorismo. Os dados eram rejeitados sempre
que havia suspeitas quanto a distorções significativas nos resultados encontrados. De
fato, houve uma incidência relativamente grande de rejeição dos dados coletados, em
função de dois principais fatores. Primeiramente, pode-se destacar o fato de que este
tipo de monitoramento é extremamente complexo por serem muitas as variáveis a
serem observadas. A complexidade tende a aumentar bastante em obras nas quais
existem muitas mudanças de prazos e, principalmente, na natureza dos serviços, em
função de alterações de projeto e de especificação ao longo da etapa de produção.
Além disto, o estudo não teve o caráter de intervenção, não existindo qualquer tipo
de treinamento ou mudança de procedimentos para o gerenciamento de materiais nas
empresas participantes. Por esta razão, aquelas que possuíam menor nível de
organização não tiveram condições de aplicar adequadamente a série de planilhas 4,
nas quais eram registradas as entradas e saídas de materiais.
É importante salientar que o método não foi desenvolvido para ser incorporado pelas
empresas no seu controle de perdas, embora possa ser adaptado no futuro para esta
finalidade. Por ter sido desenvolvido com a finalidade exclusiva de ser utilizado
nesta pesquisa, o método é bastante trabalhoso e os resultados levam um tempo
relativamente longo para serem obtidos. Assim, existe a necessidade de continuar o
esforço de desenvolver ferramentas para o controle de perdas, com um caráter pró-
ativo, que permitam o controle efetivo das obras monitoradas. Neste sentido, o
método necessita ser simplificado, de forma a introduzir ferramentas de controle nas
empresas e permitir uma retro-alimentação num período de tempo relativamente
curto - por exemplo, ciclos de coleta e análise de dados quinzenais ou mensais.
Neste sentido as séries de planilhas 5 e 6, têm um grande potencial de contribuição a
métodos de controle mais expeditos. Como resultado da aplicação destas séries de
planilhas, pode-se caracterizar qualitativamente o patamar tecnológico no qual a
empresa se encontra nos seus diferentes processos de produção. Além de sua função
no diagnóstico, esta planilha tem uma função pró-ativa. Através de avaliações
qualitativas, aplicadas rapidamente em uma obra, é possível fazer benchmarking dos
diferentes serviços, ou seja, comparar o que é executado na obra, com aquilo que é
considerado como uma boa prática do setor. Assim, estas planilhas, além de
possibilitarem uma avaliação relativamente rápida de cada processo, servem também
de orientação para as diferentes empresas quanto às boas práticas do setor. Apesar de
terem contribuído para a identificação das causas das perdas, elas ainda têm um
caráter incipiente, havendo necessidade de futuros estudos que ajustem as mesmas
para uma utilização efetiva por parte das empresas.

3. PRINCIPAIS RESULTADOS DO ESTUDO NO RIO GRANDE DO SUL

3.1. Caracterização das empresas e das obras


As onze empresas envolvidas no estudo, cinco de Porto Alegre e seis de Santa Maria,
eram todas de pequeno porte, sendo que todas elas tinham como característica
comum terem participado de parcerias com universidades em estudos anteriores.
Todas elas eram empresas construtoras-incorporadoras, envolvidas na construção de
empreendimentos imobiliários comerciais e, principalmente, residenciais. Duas delas
também atuavam em obras para terceiros, tais como construção e reformas de prédios
públicos e edificações industriais. De uma forma geral, todas elas tinham experiência
prévia no desenvolvimento de programas da qualidade, sendo que todas elas haviam
participado por algum tipo de treinamento promovido pelo SEBRAE/RS.
Com relação às dezesseis obras estudadas, quinze eram incorporações imobiliárias
(doze edifícios residenciais, um comercial e dois mistos) e a outra consistia de uma
moradia estudantil contratada pela UFSM. O número de pavimentos variou de 4 a 19
- incluindo os sub-solos) e a área total entre 1062,00 e 11400,00 m2. A tecnologia
empregada foi predominantemente convencional – isto é, estrutura de concreto
armado moldado no local, paredes de blocos cerâmicos furados e revestimento de
argamassa. Apenas em algumas delas havia uma coordenação modular incipiente,
envolvendo estrutura e alvenaria e, mais raramente, instalações.

3.2. Análise geral dos dados


No Quadro 1, estão apresentados os resultados gerais do levantamento realizado nas
16 obras do Rio Grande do Sul. Para fins de comparação, são também apresentados a
mediana, os valores mínimos e máximos encontrados no mesmo levantamento, a
nível nacional, assim como os dados médios do estudo de Soibelman (1993). A
mediana foi adotada como medida de tendência central dos índices de perdas nas
diferentes obras, uma vez que esta tem como vantagem o abrandamento da influência
de valores extremos.
Em linhas gerais, tanto a nível nacional quanto nas obras do Rio Grande do Sul, os
índices variam bastante, para um mesmo material em diferentes obras, e também
dentro de uma mesma obra para os diferentes materiais. Esta conclusão, já apontada
no estudo de Soibelman (1993), é de grande relevância para os esforços de melhoria
na indústria da construção, pois indica que elevados índices de perdas de materiais
não são inerentes a todas as empresas do setor. Ao contrário, em algumas obras os
índices de perdas para determinados materiais atingem níveis relativamente baixos,
da ordem de 3 a 5%, enquanto que em outras obras as perdas atingem níveis bastante
elevados, em alguns casos superando 100%. Esta grande discrepância de
desempenho confirma que uma elevada parcela destas perdas são evitáveis.
O presente estudo também confirmou uma outra conclusão do estudo de Soibelman
(1993), a de que os índices médios são bastante superiores àqueles normalmente
considerados pelas empresas em seus orçamentos. Isto é evidenciado ao se comparar
os valores médios (ou medianos) com aqueles usualmente empregados pelas
empresas em seus orçamentos. Com relação às principais causas das perdas, este
estudo recém concluído respaldou algumas conclusões que também haviam sido
apontadas em estudos anteriores, tais como:
(a) Não são tomadas algumas medidas relativamente simples de prevenção nas obras
pesquisadas, indicando que existe uma falta de preocupação com as perdas de
materiais em algumas empresas. Algumas das obras pesquisadas não tinham o
devido cuidado com o gerenciamento de materiais, principalmente no que se refere à
armazenagem e o manuseio dos mesmos nos canteiros de obras. Este aparente
descaso é provocado principalmente pela falta de conhecimento por parte das
empresas sobre o seu próprio desempenho.
(b) Diversas medidas de prevenção necessárias para reduzir as perdas para patamares
mais baixos podem ser obtidas sem necessariamente fazer grandes investimentos em
novas tecnologias. Muitas perdas originaram-se fora dos canteiros de obras, nas
etapas que antecedem a produção, principalmente devido a problemas de caráter
gerencial, tais como projetos inadequados, falta de planejamento ou deficiências no
processo de suprimentos.
(d) De uma forma geral, o estudo comprovou que a gerência tem mais
responsabilidade pelas perdas que os operários. Observou-se que a elevada
incidência de perdas de materiais é provocada principalmente por deficiências no
gerenciamento do empreendimento e da obra. De uma forma geral, as perdas de
materiais ocorreram como resultado de uma combinação de fatores, e não de
incidentes isolados, conclusão esta também constatada por Soibelman (1993).
Uma das questões importantes a serem esclarecidas quanto aos resultados deste
estudo é a representatividade dos dados apresentados no Quadro 3. Apesar do grande
número de obras analisadas, a nível nacional, conseguiu-se uma amostra de dados
relativamente grande apenas para alguns materiais, tais como cimento, blocos de
vedação, concreto usinado e aço. Para outros materiais, a amostra obtida é pequena,
como é o caso de condutores elétricos, eletrodutos, tintas e revestimento têxtil.
Quadro 1. Indicadores gerais de perdas de materiais1 (%)

Materiais básicos Estrutura e alvenaria Instalações Revestimentos


Areia Cimento Arga-
Materiais Concreto Blocos e Placas Revestim.
Aço Tubos
massa Usinado Tijolos Cerâmicas Têxtil
BR001 - 27 - - 36 - 7 -
BR006 - - - - - - 16 -
BR014 - - - - - - - 14
BR020 - - - - 16 - - -
BR022 - 110 - - - 36 27 -
BR035 28 43 - - 16 - - -
BR045 - 43 - - - - 6 -
Dados das BR050 - - - - - - 3 -
obras do BR051 - - 7 - - - - -
RS (1997) BR056 - 248 12 - 8 - - -
BR071 - - 7 - 32 - 9 -
BR080 - 6 - - 48 - - -
BR084 - - - - - 56 - -
BR087 - 62 3 11 20 - - -
BR090 - - 22 12 - - - -
BR095 - - 7 16 - - - -
Dados de Mediana 44 56 116 9 116 13 15 14 14
obras de todo Mínimo 7 6 26 2 26 3 8 2 -
país Máximo 311 638 205 23 205 48 56 50 -
(Agopyan et No de ob-
28 44 2 35 2 37 7 18 1
al., 1998) servações
Média de cinco obras no RS
46 84 91 13 19 282 - - -
(Soibelman, 1993)
1
Os índices de perdas estão expressos pela diferença, em termos percentuais, entre a quantidade de material adquirida pela empresa e a quantidade teoricamente
necessária, medida no projeto. Este foi o conceito de perdas adotado no presente trabalho, assim como nos de Pinto (1989) e Soibelman (1993).
2
Os dados neste estudo referem-se apenas a blocos cerâmicos. Os tijolos foram analisados separadamente por terem sido utilizados principalmente no encunhamento.
Com relação ao primeiro grupo de materiais, apesar da amostra relativamente grande de
dados, não se pode afirmar que as médias e medianas representam medidas de tendência
central do setor como um todo. Em função de alguns fatores, a amostra de obras possui
distorções. Em primeiro lugar, as empresas que se dispuseram a participar do estudo
foram, tipicamente, empresas engajadas em programas de melhorias, que tiveram
interesse em fazer parcerias com Universidades, abrindo as portas dos seus canteiros de
obras aos pesquisadores. Este foi o caso de todas as empresas que participaram do
estudo no Rio Grande do Sul. Além disto, conforme foi apontado anteriormente, muitos
dos dados coletados tiveram que ser rejeitados, em função de dúvidas quanto à
confiabilidade dos mesmos. Este fato ocorreu, na maioria dos casos, nas obras das
empresas que eram menos organizadas entre as várias envolvidas.
Esta distorção é evidenciada pela curva de freqüência dos índices de perdas. Estas
tendem a ter uma forma assimétrica (Agopyan et al., 1998), na qual existe um grande
número de empresas com percentuais de perdas de blocos cerâmicos relativamente
baixos e um pequeno número com índices relativamente elevados. Existe a necessidade
de se realizar um estudo estatístico mais aprofundado para verificar se a distribuição dos
dados para o universo de obras é simétrica ou não. Entretanto, a assimetria encontrada,
em parte, pode ser justificada pela distorção da amostra.

3.3. Análise específica por material


Cimento - o cimento foi utilizado nos serviços de execução de alvenaria de blocos
cerâmicos, revestimentos de argamassa (internos e externos) e contrapisos. Assim como
no estudo de Soibelman (1993), as principais causas de perdas de cimento foram o
excesso de espessura de revestimentos de argamassa, do contrapiso e de juntas de
alvenaria e a falta de controle na confecção de traços de argamassa. Tais fatores foram
responsáveis por índices de perdas de cimento relativamente altos, como foi o caso da
obra BR056, na qual o excesso de espessura das juntas de alvenaria superou a 130%.
Estes problemas eram originados principalmente pela ocorrência de desvios dimen-
sionais nas estruturas de concreto armado, pela irregularidade dimensional dos blocos e
tijolos e pela falta de compatibilidade entre as dimensões da alvenaria e a estrutura.
Com relação à produção de argamassas, observou-se que os traços especificados não
eram cumpridos em algumas obras que possuiam quadros com informações sobre os
mesmos, o que indica a necessidade de preparar melhor os recursos humanos no aspecto
de formação técnica e motivação. Além disso, em muitas das obras estudadas foi
constatada a utilização de equipamentos inadequados para a dosagem e transporte de
argamassas. Foram também observados problemas com a estocagem dos materiais em
algumas obras, tais como pilhas de sacos de cimento excessivamente altas e localização
inadequada de estoques, provocando movimentações e esforços desnecessários por parte
dos trabalhadores.
Areia - as perdas de areia também estão fortemente relacionadas ao excesso de
espessura de juntas de alvenaria, de revestimentos argamassados e de contrapisos, já
discutido na seção anterior. O controle de utilização da areia tende a ser bastante difícil,
tanto que em apenas uma das 16 obras foi possível controlar de forma eficaz o consumo
da mesma. Com freqüência observou-se problemas de más condições de estocagem, que
também pode ser apontada como uma das principais causas das perdas, tais como: falta
de contenção lateral, inexistência de proteção contra ventos e chuvas, mescla entre
diferentes materiais e contaminação com solo orgânico por não haver um contrapiso
adequado.
Concreto usinado - pelo seu elevado custo unitário, o concreto pré-misturado
apresentou alguns índices de perdas surpreendentemente altos, apesar de ser o material
com índices mais baixos, a nível nacional, entre todos os materiais pesquisados. Assim
como no estudo de Soibelman (1993), os elevados índices de perdas estão relacionados
principalmente à falta de controle dimensional de alguns elementos, tais como vigas,
lajes e cortinas de concreto armado. O caso das lajes é particularmente mais grave pelo
elevado volume de concreto envolvido e pelo fato de que uma pequena diferença de
espessura tem um grande impacto no volume total. Foi o caso da obra BR056, na qual o
excesso de espessura de lajes superou a 14%. No caso das cortinas, existe o problema
referente ao fato de que apenas uma das faces do concreto tem contato com a fôrma
enquanto que a outra fica em contato com o solo. Nas obras que apresentaram perdas
mais elevadas (BR056 e BR090), havia cortinas de concreto.
Aço - para este material a coleta de dados foi prejudicada pela dificuldade de controle
físico na obra, havendo elevada perda de dados. No caso de algumas empresas com
central de armaduras, a coleta tornou-se inviável pelo fato da central fornecer as
ferragens simultaneamente a várias obras, impossibilitando a identificação do material
na obra a ser estudada. Na análise dos dados obtidos, constatou-se que as bitolas maiores
tiveram perdas mais elevadas, possivelmente pelo fato destas peças normalmente terem
maior comprimento. Houve, ainda, alguma substituição de bitolas, o que provocou o
índice de perdas negativo para algumas delas.
Blocos e tijolos - a inexistência de controle qualitativo e quantitativo no recebimento, os
meios de transporte inadequados (carrinho de mão, “giricas”), o elevado número de
deslocamentos, os problemas relacionados à estocagem do material (pilhas
ultrapassando 3,0 m e mistura de diferentes blocos numa mesma pilha), a falta de
modulação de projeto e de padronização das dimensões dos blocos e tijolos e as
variações dimensionais, entre outras, podem ser apontadas como causas de elevados
índices de perdas em algumas obras. Nas obras de pior desempenho, normalmente havia
uma combinação destas situações.
Tubulações hidro-sanitárias - o controle deste material mostrou-se extremamente
difícil, especialmente quando o serviço era executado por sub-empreiteiros. Além de
problemas de estocagem (material exposto às intempéries e mescla de tubos de bitolas
diferentes), percebeu-se que a falta de projeto de alvenaria nas obras estudadas ocasiona
a indefinição na execução dos rasgos e a definição dos percursos das tubulações de
forma improvisada, resultando em perdas do material. Outro tipo de perda detectado foi
a substituição de bitolas menores por bitolas maiores.
Placas cerâmicas - as perdas de placas cerâmicas nas obras estudadas podem ser
atribuídas principalmente ao excesso de recortes, que é conseqüência da falta de
modulação de projeto, da pouca integração entre os projetos arquitetônico e estrutural, e
da incompatibilidade dimensional entre as placas e os compartimentos.
Revestimentos têxteis - A principal causa detectada para as perdas observadas na obra
BR014, a única estudada, foi o corte das peças.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De uma forma geral, pode-se afirmar que a realização da pesquisa trouxe algumas
contribuições importantes para o estudo das perdas na construção e para o esforço de
melhoria de qualidade e produtividade do setor: (a) aumentou a disponibilidade de dados
sobre perdas e consumos de alguns materiais; (b) confirmou, pela maior
representatividade dos dados, algumas das conclusões apontadas em estudos anteriores
quanto às causas das perdas; (c) mesmo para aqueles materiais para os quais não se
conseguiu dados para um grande número de obras, o estudo permitiu avanços no
conhecimento qualitativo sobre as causas das perdas; (d) formou-se uma rede de
universidades que poderão dar continuidade a estudos desta natureza; e (e) contribuiu-se
para a melhor qualificação de um número expressivo de profissionais, vinculados tanto a
Universidades como também a empresas de construção.
Finalmente, o estudo apontou para a necessidade de uma série de ações que necessitam
ser realizadas para dar continuidade ao esforço de desenvolvimento de estudos nesta
área: (a) desenvolver ferramentas para controle de perdas, de caráter pró-ativo, que
possam ser incorporadas no gerenciamento operacional das empresas; (b) processar e
analisar em mais detalhe a ampla gama de dados disponíveis, procurando principalmente
identificar e hierarquizar as principais causas e medidas de prevenção; (c) gerenciar
aspectos motivacionais da prevenção das perdas, enfocando principalmente a questão da
aprendizagem organizacional, que efetivamente possibilitará a incorporação de novas
práticas gerenciais e o engajamento das empresas em um processo de melhoria contínua;
e (d) investigar outros tipos de perdas existentes nos canteiros de obra, principalmente
aquelas vinculadas ao emprego ineficaz de mão de obra em atividades que não agregam
valor.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGOPYAN, V.; SOUZA, U.E.L.; PALIARI, J.C. & ANDRADE, A.C. Alternativas
para a redução dos desperdícios de materiais nos canteiros de obras. Relatório
Parcial. São Paulo, PCC, Universidade de São Paulo, 1998.
PALIARI, J.C. SOUZA, U.E.L. Metodologia de coleta e análise de dados sobre
consumo de materiais nos canteiros de obra. In: SILVA, D.A. et al. Encontro
Nacional em Tecnologia do Ambiente Construído, 7º, Florianópolis, 27 a 30 de abril
de 1998. Qualidade no processo construtivo. Florianópolis, NPC/UFSC, 1998.
V.2, pp.333-342
PINTO, T.P. Perda de materiais em processos construtivos tradicionais. São Carlos,
UFSCAR, Departamento de Engenharia Civil, 1989. 33p.
SOIBELMAN, L. As perdas de materiais na construção de edificações: sua
incidência e seu controle. Porto Alegre, UFRGS, Curso de Pós-graduação em
Engenharia Civil, 1993. Dissertação de mestrado

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