Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
37
Paolo Grossi
38
Um fato marca essa trajetória de consolidação do poder político real e a limitação ao seu
abuso: a Magna Carta Libertatum, de 1215, que a aristocracia feudal impôs ao Rei João
Sem Terra. Foi o primeiro documento a limitar o exercício do poder real e consolidar que o
poder político é derivado da lei e ninguém, inclusive o monarca, encontra-se acima do
Direito. Desse modo, consolidou no direito feudal a regra de que o rei é obrigado a
respeitar e a obedecer ao Direito (AIETA, 2006, p. 8-9; FERREIRA FILHO, 2012).
39
Tal processo de construção de uma teoria política e jurídica de poder estatal tem seu ápice
na Revolução Francesa, iniciada em 1789.
40
A guerra dos cem anos, que envolveu Inglaterra e França, acabou por criar entre os
combatentes laços de identidade nacional que suplantavam as divisões feudais
(TOUCHARD, 1970b, p. 129-130).
41
A unificação do território espanhol se deu pelas lideranças dos reis católicos de Castela e
Aragão, que o consolidaram no processo de expulsão dos árabes de Granada (STRECK,
MORAIS, 2006; CAPELLA, 2002).
73
42
Gilissen (1995, p. 128-131) apresenta outra classificação: Alta Idade Média (séc. VI a XII)
e Baixa Idade Média (séc. XII a XVIII).
43
Esse papel da Igreja fez com que o conceito de direito fosse fixa-
do com base na ética cristã, cristalizada no Direito canônico, que ao
contrário da maioria dos outros ordenamentos que coexistiriam nesse
período (Alta Idade Média), era um direito escrito e não oral
(WIEACKER, 2004, p. 17-18 e 69-70).
Os resultados dessas mudanças/transformações sociais que o te-
cido social sofreu implicaram em alterações no plano jurídico, político e
econômico da Europa Ocidental.
No aspecto jurídico, o surgimento de um direito medieval, de ca-
ráter pluralista e eivado de muitas particularidades (GROSSI, 2010;
WOLKMER, 1997), havendo a convivência de ordens jurídicas diver-
sas, tais como: o direito comum temporal, o direito canônico e os direi-
tos próprios (tanto emanados de ordens religiosas, como das relações
bárbaros eram os povos que viviam fora das fronteiras de seu Império (DALLARI, 2009,
p. 68).
75
2004, p. 15-22).
Com o advento da Baixa Idade Média, tem-se a coexistência den-
tro desse modelo pluralista jurídico e político, de quatro matrizes jurídi-
cas principais: a) uma formulação jurídica oriunda dos povos germanos;
b) o Direito canônico; c) o Direito feudal; d) o processo de recuperação
e renascimento do Direito romano (WIEACKER, 2004).
Destaca Wieacker (2004, p. 27-28) que os povos germânicos não
tiveram repulsa às tradições romanas que haviam encontrado quando da
ocupação do território Europeu do antigo Império Romano, mas assimi-
laram a sua escrita e língua, bem como os princípios religiosos da Igreja
Católica Romana. Suas leis não se caracterizavam como leis no sentido
moderno do termo ou equivalente ao sentido dado pelos romanos. Na
realidade, configuram-se scrito
e-
le que era o detentor da autoridade (GILISSEN, 1995, p. 172).
Entretanto, essa concepção de direito era muito rudimentar, o que
possibilitou que nesse vácuo legislativo e, por consequência, político e
jurídico, a Igreja Católica ocupasse esse espaço, na qua
espiritual de longe mais importante; era, ao mesmo tempo, a mais coe-
Império Romano- í-
do pelo Papa Leão III), no século IX, e da tentativa posterior dos Impe-
radores em terem o controle do poder temporal, a Igreja conseguiu man-
ter até o final da Idade Média o controle do poder temporal e do ecle-
siástico, sendo que a sua supremacia deixará de existir somente com o
advento do Estado Moderno (TOUCHARD, 1970b, p. 33; DALLARI,
2009, p. 67).
Tal poder jurídico e político era reforçado com o poder que ela
possuía de
78
Dess a-
da peça, o poder econômico, o político, o militar, o jurídico e o ideoló-
esse sen-
ados e
44
As Cruzadas ocorreram entre os séculos XI a XIV. Iniciadas pelo Papa Urbano II, tinham o
objetivo (pelo menos na justificativa religiosa) de libertar a Terra Santa (Jerusalém) dos
infiéis (turcos) (TOUCHARD, 1970b).
81
45
Para fins deste estudo, será feita apenas uma breve análise das escolas dos Glosadores e
dos Pós-Glosadores (Comentadores ou Consiliadores).
83
xoferrato] (1324-
], havendo o confron-
to entre a lei e os fatos, aquela deve se adequar a estes. Ademais, de sua
construção do conceito de príncipe em si mesmo (sibi princeps), defen-
deu a autonomia interna das cidades italianas em legislar e decidir os
seus interesses políticos, sem a interferência, seja do Imperador, seja do
Papa. Esse poder interno deve ser realizado por intermédio de seus cida-
dãos, que têm a jurisdição da cidade em seu poder, podendo delegar aos
governantes e magistrados para que o exerçam em seu nome
(SKINNER, 1996, p. 30-33 e 82-83).
Realizaram uma evolução no método aplicado pelos glosadores,
procurando interpretar os textos do Direito romano em seu conjunto, e
por meio desse procedimento extrair princípios aplicáveis aos problemas
e às necessidades concretas (WIEACKER, 2004, p. 79-80; GILISSEN,
1995, p. 346; HESPANHA, 2005, P. 209-220). Com esse
comentadores caminharam cada vez mais para uma actividade de con-
sulta, de cuja experiência resultou em geral uma impregnação e aperfei-
çoamento cien etos
da modernidade europeia (WIEACKER, 2004, p. 80).
Desse modo, não existem dúvidas de que o Medievo não convi-
veu com uma única concepção jurídica (monismo), como irá ocorrer
com o surgimento do discurso moderno e do Estado Moderno. O Direito
Medieval era pluralista, comportando os costumes e tradições de uso lo-
cal, de cada feudo e reino, sem uma sistematização ou uma legislação
ordenadora única (WOLKMER, 1997).
Na mesma linha, afirma Grossi (2007a, p. 26) que o Direito me-
dieval, que era
p.
47). Para ele, deve haver a unificação do governo sob uma autoridade
suprema, que, entretanto, não seria recomendável que recaísse sob a fi-
gura de um único indivíduo. Legitimou um poder sem a interferência
eclesiástica e a possibilidade da revolta do povo contra as arbitrarieda-
des cometidas por um príncipe tirânico, que pode inclusive revogar os
poderes que conferiu ao Príncipe (SKINNER, 1996; SOUZA, 1991, p.
24-25; SOUZA, BERTELLONI, PIAIA, 1997; PÁDUA, 1997; PÁDUA,
1991, p. 81-82).
Segundo Châtelet, Duhamel e Pisier-Kouchner (2000, p. 35),
Marsílio de Pádua começa a ruir a muralha do poder jurídico e político
do papa quando
46
Gibelinos eram os partidários do rei, que disputavam no território alemão e italiano o
poder político com os guelfos, partidários do papa (VIEIRA, 2010, p. 25).
88
47
Foi uma renovação religiosa que veio a ocorrer na Europa durante o século XVI, tendo por
48
O nominalismo constituiu-se em uma concepção filosófica surgida na escolástica francis-
cana dos séculos XI-XII e a que seu ápice no século XIV. Entre os seus principais expoen-
tes destacam-se: Duns Scotto [Escoto] (1266-1308) e Guilherme de Ockham
(ABBAGNANO, 2012b; TOUCHARD, 1970b; HESPANHA, 2005; VILLEY, 2005).
91
49
Esse é o entendimento de Bobbio (1985).
50
Segundo Burdeau
verdadeira obsessão entre os teóricos práticos. Toda a obra de Maquiavel, principalmente,
pode ser considerada uma coletânea de máximas e de receitas destinadas a garantir a
estabilidade da au